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História da América Independente - Livro-Texto Unidade III

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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
Unidade III
Vamos agora apresentar alguns aspectos dos processos de consolidação de Estados nacionais 
americanos buscando entender de que maneira o processo ocorreu. Assim, nosso olhar privilegiará 
alguns casos significativos do processo geral em que disputas geraram guerras – civis ou entre Estados. 
Além disso, as mais diversas regiões passaram por rearranjos territoriais ao longo do século XIX. A 
expansão do capital – com o avanço da industrialização e desse desdobramento imperialista – também 
ganhou força na segunda metade do século XIX, bem como as discussões sobre a manutenção da mão 
de obra servil. A emergência dos Estados Unidos como nação hegemônica continental e suas influências, 
mesmo mais regionais, deve ser pensada em termos de interferências sobre a realidade dos mais diversos 
países americanos. Em particular, a independência cubana está diretamente ligada a esse processo.
7 O SÉCULO E A DIFÍCIL CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Os Estados Unidos da América foram, sem dúvida alguma, uma referência fundamental para os demais 
países americanos, quer seja como um exemplo republicano a ser seguido desde sua independência, 
quer como potência continental que pouco a pouco se firmou, assumindo a liderança que antes cabia 
aos europeus, principalmente, aos ingleses.
Nos anos iniciais do século XIX, com a Doutrina Monroe (1823), ficou clara a preocupação com sua 
influência continental. Entretanto, podemos indicar que isso não foi gratuito – os ingleses tentaram 
reconquistar os Estados Unidos em 1812, naquilo que seria uma segunda guerra da independência – e 
isso exigia um posicionamento continental quanto às chances europeias de recolonização.
Se a guerra, como todas as guerras, trouxe preocupações de ordem econômica, 
provocou entretanto outras consequências menos amargas. Uma delas 
– é o próprio Albert Gallatin, Secretário do Tesouro, quem conta: a guerra 
renovou e restaurou o sentimento e o caráter nacionais nascidos na Guerra 
da Independência, mas que declinavam dia a dia. O povo tem agora objetivos 
mais amplos, aos quais se ligam o seu brio e as suas opiniões políticas. São mais 
americanos; sentem e agem mais como nação; e espero que a permanência da 
União se tenha assim firmado (TAPAJÓS, 1974, p. 226).
7.1 EUA – Aspectos da expansão territorial
Quando pensamos nos Estados Unidos do século XIX, é fundamental ter clareza de que a imagem 
de nação progressista e pacificada internamente foi construída no decorrer do século XIX, pois – assim 
como nos demais países americanos – a política era repleta de reviravoltas e grupos majoritários 
atacando minoritários. Nos Estados Unidos, isso deu origem ao spoil system, que funcionava afastando 
dos cargos administrativos os membros derrotados. O partido que começou essa prática de construção 
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Unidade III
de hegemonia foi o Partido Democrata, que tinha disputas de interesses com os republicanos.
Externamente, os Estados Unidos se organizava com vistas a não se envolver gratuitamente em 
conflitos ou disputas europeias. Assim, relativamente pacificado internamente, o país passou a se 
desenvolver economicamente. Além disso, abrindo sua fronteira agrícola, permitiu um incremento da 
imigração muito importante:
“A população que, em 1790 era de 3.900.000 habitantes, passou para 7.200.000 em 1810. No ano de 
1870, alcançava 40 milhões” (ARRUDA, 2004, p. 248).
A expansão territorial também era muito significativa, uma vez que, originalmente, habitantes da 
faixa leste ou atlântica empreenderam a conquista do oeste selvagem ou foram comprando áreas que 
faziam a conformação territorial do país.
Em 1803, por 15 milhões de dólares, os Estados Unidos compraram de 
Napoleão Bonaparte a Luisiana; por 5 milhões, em 1819, adquiriram da 
Espanha a Flórida. Em 1845, depois de ter‑se declarado independente do 
México, o Texas uniu‑se aos norte‑americanos; em 1846, encerrado o litígio 
com a Inglaterra, foi anexado o Óregon. Finalmente, em 1848, depois da 
guerra que travaram contra o México por disputa de fronteira, os Estados 
Unidos anexaram os territórios de Nevada, Califórnia, Utah, Arizona e Novo 
México. O país ficou com uma superfície de 7.800.000 km²; de 23 estados 
em 1820, passou a ter 33 em 1860; a população nesse período aumentou 
de 9.600.000 para 31.300.000 habitantes. Esse aumento da população 
deveu‑se muito à imigração: de 1830 a 1860 entraram nos Estados Unidos 
4.600.000 imigrantes, do quais 16% eram ingleses, 39% irlandeses e 30% 
alemães (ARRUDA, 2004, p. 248).
Em termos pontuais e espaciais, se na Independência, em 1776, eram 13 os estados, até o final 
do século XVIII, ainda se somaram Vermont (1791), Kentucky (1792) e Tennessee (1796). No século 
XIX, somaram‑se Ohio (1803), Indiana (1816), Mississippi (1817), Illinois (1818), Alabama (1819), Maine 
(1820) e Missouri (1821). Como se pode observar, o crescimento era rápido. Na década de 1830, Arkansas 
e Michigan. Um dos pontos fundamentais nessa expansão foi a questão do Texas, separado do México 
por vontade própria em 1833 – com um governo republicano autônomo e depois incorporado aos 
Estados Unidos em 1845, gerando a guerra com o México, que deu aos Estados Unidos a Califórnia, 
Nevada, Utah, Colorado, Novo México e Arizona – fazendo o país crescer do Atlântico ao Pacífico.
Ao que tudo indica, o processo foi acelerado, e a sociedade, mesmo gozando dessa expansão, tinha 
seus impactos. Terras do vizinho México foram conquistadas e incorporadas, mas mais agressivas eram 
as relações com os povos nativos. À medida que o país crescia, a economia e a industrialização mais 
especificamente sofriam um grande impacto.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
As 13 colônias independentes em 1776
Território cedido por:
Grã‑Bretanha
França
Espanha
México
Rússia
Figura 33 – Expansão territorial dos Estados Unidos
O país, que crescia aceleradamente, firme em sua crença de que isso fosse o seu Destino Manifesto 
(produto da vontade providencial), passava a enfrentar discussões internas de grande relevância como 
uma maior ou menor participação da União no dia a dia dos Estados. Evidentemente, tratava‑se de uma 
discussão entre centralização e descentralização. Contudo, a questão que mais dividia a jovem e pujante 
nação era o problema da manutenção ou abolição da escravidão. Na década de 1850, o quadro geral era 
complexo – o que nos faz recordar o Brasil, que nesse momento precisou fazer a proibição do tráfico 
atlântico de escravos com a Lei Eusébio de Queirós, de 1850.
Mas voltemos aos Estados Unidos. Em 1850, havia um debate sobre a União dever ou não fazer a abolição. 
Henry Clay conseguiu firmar entre os Estados um documento conhecido como Compromisso Clay.
O Compromisso de 1850 fora uma última tentativa desesperada para salvar 
a União sem abordar de frente nem experimentar revolver o problema da 
escravatura. Aos olhos de Henry Clay a União importava mais que tudo, e 
esse será também, quando explodir a crise, o ponto de vista de Lincoln, Clay, 
pois, para que a escravatura não ameaçasse a União, esforçava‑se por evitar 
que a União ameaçasse a escravatura. Daí o espírito de conciliação que o 
persuadia de tentar resolver, uma vez mais, o grande problema nacional, 
protelando‑lhe a solução (TAPAJÓS, 1974, p. 235).
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Era a segunda tentativa de resolver o problema, já que, em 1820, um acordo chamado Acordo do 
Mississipi permitiu a escravidão abaixo do paralelo 36º40’, mas, com a entrada da Califórnia não escravista 
na União, as discussões ganharam força novamente, sendo, portanto, preciso o Compromisso Clay.
A divisão mais evidente estava em torno de abolicionistas e escravocratas, que cresciam rapidamente 
– sendo mais de 2 mil associações favoráveis à causa. Politicamente, os abolicionistas estavam 
representados em um forte partido que foi fundado em 1854, o Partido Republicano.
 Saiba mais
Recomendamos a leitura do romance publicado nos Estados 
Unidos nesse momento de crise, em 1852, por Harriet Beecher Stowe, 
chamado A Cabana do Pai Tomás. De cunho abolicionista, alcançou um 
estrondoso sucesso; só no primeiro ano de publicação, foram vendidos 
mais de trezentos exemplares.
STOWE, H. B. A cabana do pai Tomás. São Paulo: Madras, 2004.
7.1.1 EUA – Lincoln e a Secessão
A situação política e social dos Estados Unidos era extremamente tensa, principalmente a 
partir da segunda metade do século XIX. Ao lado do problema da escravidão, havia também a 
discrepância em termos de desenvolvimento econômico entre as diversas regiões do país, sendo 
mais acentuadas as diferenças entre o norte e o sul. O norte acelerava sua industrialização, mas 
o sul era evidentemente agrário e escravista, com uma forte economia algodoeira que, em 1860, 
significava algo como 57% das exportações do país. Necessitando manter suas exportações, 
esses estados agrários queriam tarifas alfandegárias reduzidas facilitando os fluxos comerciais, 
e o norte, para conseguir se industrializar sem sofrer em demasia com a concorrência, era 
abertamente protecionista.
Como se vê, um mesmo país dividido em termos de economia, questões de tarifas aduaneiras e sobre 
a própria natureza do regime interno de trabalho – ou seja – a continuidade ou não do escravismo – 
teria dificuldades enormes em evitar uma ruptura radical. O temor da separação rondava todos: ora a 
situação ficava mais tensa, ora as crises se amenizavam; de qualquer modo, os dois lados percebiam as 
dificuldades e a gravidade da situação.
Conflitos individuais eram noticiados com certa frequência na grande imprensa, que ganhava forças 
das cidades que cresciam em ritmo acelerado. A tensão era grande, e os democratas conseguiram eleger 
James Buchanan presidente entre 1856 e 1860, mas a campanha dos republicanos favoráveis à abolição 
havia sido bastante importante.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
Um aspecto pontual pode ser usado para medir a situação: o caso, na época famoso, chamado de 
“Caso Dred Scott”:
Foi o seguinte: um médico do Missouri, Dr. Emerson, tinha um escravo 
chamado Dred Scott. Um dia, porém (1834), o cirurgião teve de ir residir 
em Illinois, “Estado livre”, e levou Scott para ajudá‑lo no serviço. Passou 
depois a Minnesota, onde também era proibida a escravidão. Alguns anos 
depois, voltou ao Missouri. Um dia, Dr. Emerson açoitou o negro. Este se 
revoltou e apelou para a Justiça, alegando que não era mais escravo, pois 
ganhara a liberdade quando vivera naqueles “Estados livres”. A Corte de St. 
Louis deu‑lhe ganho de causa, mas houve apelação à Suprema Corte do 
Missouri e depois à dos Estados Unidos. Dred Scott foi vencido: não tinha 
o direito de intentar a questão, pois não era cidadão, mas “uma coisa” e, 
assim sendo, equiparado a um revólver ou a uma bolsa, poderia ser levado 
pelo proprietário para qualquer parte da União sem consequência alguma 
(TAPAJÓS, 1974, p. 240).
Os abolicionistas foram profundamente frustrados no caso Dred Scott, mas a discussão pelo país 
só aumentava. Por ocasião da sucessão presidencial, as disputas voltaram a ganhar força. O partido 
mais poderoso na União era o democrata, representante dos sulistas escravocratas, mas, em razão de 
dissensões internas, não conseguira a coesão necessária para a eleição do presidente da república, o que 
resultou na vitória de Abraham Lincoln, republicano, em novembro de 1860.
Figura 34 – A questão do escravismo foi responsável pelo aumento da tensão entre o norte e o sul
Lincoln, para muitos, encarnava um ideal de americano, uma vez que nascera num estado sulista 
e escravista – o Kentucky –; filho de um carpinteiro, estudara em escola pública, era religioso, 
trabalhara em diversas atividades sempre vivendo em condições muito rigorosas e estudara direito 
por correspondência (já existia o ensino a distância nos séculos XIX e XX, mas claro que de maneira 
epistolar, por cartas). Além disso, advogou e foi eleito representante de Illinois, ocasião em que 
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Unidade III
pôde publicamente debater com Stephen Douglas sobre o caso Dred Scott e como nos conta 
Tapajós (1974):
De um lance, Lincoln conquistou sua reputação: soube encurralar seu 
adversário em tais declarações de opinião quanto ao processo Dred Scott 
e outras questões conexas que se tornou impossível ao sul fazê‑lo seu 
candidato para a próxima eleição presidencial (TAPAJÓS, 1974, p. 240).
Quando aceitou a indicação do Partido Republicano para disputar a presidência da república, 
Lincoln fez um pronunciamento que entrou para a história como “O Discurso da Casa Dividida”, no 
qual afirmou que:
Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Acredito que este 
governo não pode suportar para sempre ser meio escravo e meio livre. Não 
espero que a União seja dissolvida — não espero que a casa caia — mas 
realmente espero que não haja mais divisão. Ela se tornará totalmente uma 
coisa ou totalmente a outra. Ou os adversários da escravidão vão […] colocá‑la 
onde a opinião pública enferrujará na crença de que ela está a caminho da 
extinção; ou seus defensores a impulsionarão até que ela se torne legal em 
todos os estados, antigos e novos — do norte e do sul (DEPARTAMENTO DE 
ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2008, p . 24).
Eleito o presidente, antes mesmo de sua posse marcada para março de 1861, eclodiu a Guerra 
Civil Norte‑americana, aqui no Brasil frequentemente denominada Guerra de Secessão. Em 20 de 
dezembro de 1860, a Carolina do Sul se declarou separada da União, sendo seguida por Geórgia, 
Alabama, Flórida, Mississipi, Louisiana e Texas. Era a Secessão! E a União não poderia, de maneira 
alguma, contemporizar. Aos separatistas ainda se somaram Virgínia, Arkansas e Carolina do Norte, o 
que agravava ainda mais a situação.
Em fevereiro de 1861, os representantes dos dissidentes se reuniram e determinaram a criação de 
uma nova república, os Estados Confederados da América, sob a presidência de Jefferson Davis, sendo 
seu vice‑presidente Hamilton Stephens. A capital da nova república era Richmond.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
Estados da União
Estados Confederados
Imagem: Mapa dos EUA – Guerra Civil / Guerra de Secesão
1 – Oregon 13 – Pensilvânia 1 – Texas
2 – Califórnia 14 – Massachusetts 2 – Lousiana
3 – Área indígena 15 – Nova Iorque 3 – Arkansas
4 – Kansas 16 – Vermont 4 – Mississippi
5 – Wisconsin 17 – New Hampshire 5 – Alabama
6 – Michigan 18 – Maine 6 – Tennessee
7 – Missouri 19 – Rhode Island 7 – Geórgia
8 – lllinois 20 – Connecticut 8 – Carolina do Sul
9 – Indiana 21 – New Jersey 9 – Carolina do Norte
10 – Kentucky 22– Delaware 10 – Virgínia
11 – Ohio 23 – Maryland 11 – Flórida
12 – Virgínia Ocidental 
Figura 35 – EUA: União versus Confederados
Os primeiros atritos entre os Confederados e os Estados Unidos se deram em 12 de abril e em 15 de 
abril. Lincoln declarou guerra contra os rebeldes sulistas. Apesar de o norte ser uma potência industrial 
e de possuir uma população maior, as dificuldades foram significativas. O sul foi defendido por Robert 
E. Lee ou general Lee e ganhou confiança quando os nortistas, em sua primeira investida contra sua 
capital, em 1861, foram batidos pelo general Thomas Jackson.
O norte, percebendo as enormes dificuldades em travar uma guerra territorial contra os bem‑preparados 
sulistas, decidiu bloquear os portos sulistas, o que contribuiu fundamentalmente para a inversão da guerra 
e para algumas das vitórias do norte. Lincoln trocou o comando de seus exércitos, substituindo o general 
George B. McClellan – que seria seu oponente na disputa presidencial em 1864, vencida novamente por 
Lincoln. O novo comandante do Exército da União era o general de combate Ulysses S. Grant, auxiliado por 
William Sherman (que posteriormente emprestaria seu nome a uma classe de tanques de guerra).
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O esforço naval do norte começou a dar resultados e, em busca de maior apoio, num gesto 
abolicionista, fez uma Proclamação de Emancipação em janeiro de 1863. Entretanto, apesar dos sucessos 
do norte, o poder sulista ainda não havia sido realmente abalado. O ponto mais alto de toda a guerra foi 
a Batalha de Gettysburg, iniciada em 1º de julho de 1863. Ela durou três dias e marcou a virada decisiva 
na Guerra Civil pois, uma vez derrotado, o general Lee rumou para o sul para proteger a capital, e os 
nortistas empreenderam uma campanha agressiva, na qual Sherman e Lee obtiveram diversas vitórias.
Figura 36 – Guerra Civil dos EUA: destaque para as tropas confederadas e sua bandeira característica
Em 9 de abril de 1865, os comandantes militares da União e dos Confederados, Ulysses Grant e 
Robert Lee, se encontram em Appomatox para a rendição sulista, encerrando a guerra.
Acabava‑se de celebrar em Washington a festa da vitória. A capital nacional 
estava cheia de visitantes vindos para assistir à grande parada das tropas; 
as casas estavam embandeiradas. Durante dois dias o exército do Potomac, 
com o general Meade em pessoa à sua frente, e o exército do general 
Sherman desfilaram em colunas cerradas em volta do Capitólio e diante 
do estrado erguido para o presidente e seus ministros na entrada da Casa 
Branca. Por todo o país o povo se entregava aos júbilos. Em 14 de abril, o 
presidente Lincoln foi passar a noite no teatro Ford com sua mulher e alguns 
amigos. Um jovem alucinado, um ator chamado John Wilkes Booth, entrou 
tranquilamente no camarote e lhe disparou por detrás um tiro de pistola 
na cabeça. Depois saltou para a cena gritando: “Sic Semper Tyrannis!” “Que 
aconteça sempre assim aos tiranos!”. Tendo‑se uma das esporas embaraçado 
nas dobras da bandeira que decorava a frente do camarote, ele caiu e 
quebrou uma perna. Apesar do acidente, logrou, tão grande era a confusão, 
escapar por uma porta da cena. Mas foi encontrado por soldados e fuzilado 
numa garagem. O crime fazia parte de uma conspiração e, na mesma noite, 
o secretário de Estado, William Seward, foi atacado em sua casa e atingido 
por uma punhalada. Mas a ferida não foi mortal. Os detalhes da conspiração 
foram esclarecidos, quatro dos cúmplices do assassinato foram enforcados, 
os outros condenados à prisão perpétua (TAPAJÓS, 1974, p. 243).
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
Apesar de um pouco extensa e dramática, optamos por trazer a narrativa do assassinato de Lincoln 
com a intenção de recolocar a discussão a respeito do personagem histórico, assim como fizemos 
anteriormente com Simón Bolívar, San Martín e outros. Existe, em torno de Lincoln, uma aura, e a 
mitificação distancia, como nos outros casos, a figura histórica do homem.
 Saiba mais
Quando tratamos da construção da imagem de Bolívar, mencionamos 
que um dos livros sobre o Libertador tinha sido publicado sob os auspícios 
do próprio governo da Venezuela. Agora, indicamos um outro livro, na 
versão digital, produzido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos 
da América:
DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. 
Abraham Lincoln: um legado de liberdade. 2008. Disponível em: <http://
photos.state.gov/libraries/america/475/pdf/0812_AbrahamLincoln_A_
Legacy_Of_Freedom_Portuguese_digital.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2015.
Enfatizamos que a produção gráfica do livro é extremamente benfeita, preocupada com imagens de 
época e valorizando o lado humano de Lincoln.
Alguns capítulos possuem títulos bastante elucidativos, tais como:
• “O que Abraham Lincoln significa para os americanos hoje”;
• “Alicerces da grandeza: Abraham Lincoln até 1854”;
• “Lincoln, o diplomata”;
• “Lincoln, o emancipador”;
• “As palavras que comoveram uma nação”.
Fica claro o programa absolutamente contemporâneo de firmar uma determinada imagem de 
Lincoln e, ao ler a apresentação, honestamente, o texto esclarece essa intenção:
O ano de 2009 marca o 200º aniversário do nascimento de Abraham Lincoln, 
o presidente americano quase sempre considerado o maior dos líderes 
deste país. A reverência dos americanos por Lincoln teve início com sua 
morte trágica por assassinato em 1865, ao fim de uma guerra civil brutal 
na qual 623 mil homens morreram, a União passou por seu maior teste 
e a escravidão foi banida. E seu lugar sagrado na iconografia dos Estados 
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Unidos permanece. Mais de 14 mil livros sobre Lincoln foram publicados 
até hoje. O acadêmico contemporâneo Douglas L. Wilson chama Lincoln de 
o “mais notório e aclamado de todos os americanos”. Por que acrescentar 
mais um volume à montanha de obras sobre Lincoln? Porque acreditamos 
que Lincoln personifica ideais americanos fundamentais que se estendem 
da fundação desta nação até os dias de hoje. Entre os americanos que têm 
essa visão do nosso 16º presidente está o 44º presidente, Barack Obama. 
Escrevendo em 2005, como recém‑eleito senador americano, Obama 
declarou que era difícil imaginar um cenário menos provável do que a sua 
própria ascensão — “exceto, talvez, aquele que permitiu que uma criança 
nascida no interior do Kentucky com menos de um ano de educação formal 
se tornasse o maior cidadão de Illinois e o maior presidente da nossa nação”. 
Na biografia de Lincoln, continuou Obama, a maneira “como ele saiu da 
pobreza, seu domínio absoluto da linguagem e da lei, sua capacidade para 
superar perdas pessoais e se manter determinado diante de repetidas 
perdas [...] lembrou‑me um elemento fundamental mais abrangente da vida 
americana — a crença inabalável de que podemos constantemente nos rever 
para atingir nossos maiores sonhos”. Ao reunir historiadores de renome e 
pedir a eles que avaliassem Lincoln de diferentes ângulos, esperamos ajudar 
as pessoas do mundo todo a entender as origens da grandeza do homem, 
bem como seu lugar no coração dos americanos. Este volume, portanto, 
apresenta um tipo de retrato pontilhado de Lincoln (DEPARTAMENTO DE 
ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 2008, p. 2).
Dessa maneira, fica exposta a importância do líder nacional como a figura que consagraria os valores 
que são os mais importantes ao país, aessência da própria nação. Uma vez consolidada como conjunto, 
teria, no século XIX, a força necessária para avançar e cumprir seus desígnios como nação e também 
como portadora de valores que são ao mesmo tempo norte‑americanos e universais. Esse é o discurso 
que permite situar a figura de Lincoln, tragicamente assassinado em abril de 1865, mas responsável, a 
partir de então, pelo avanço, numa era de progresso e esplendor, do país que em parte é obra sua.
 Saiba mais
A filmografia sobre esse importante período da história norte‑americana 
é muito extensa. Indicamos aqui alguns filmes essenciais não apenas para 
entender o olhar norte‑americano sobre si mesmo e seus valores, mas 
também para pensar o século XIX:
...E O VENTO levou. Dir. Victor Fleming. EUA: Selznick International 
Pictures, 1940. 238 minutos.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
AMISTAD. Dir. Steven Spielberg. EUA: DreamWorks SKG, 1998. 155 minutos.
ANJOS assassinos. Dir. Ronald F. Maxwell. EUA: Tristar Pictures, 1993. 
254 minutos.
DOZE anos de escravidão. Dir. Steve McQueen. EUA; Reino Unido: 
Regency Enterprises, 2013. 134 minutos.
LINCOLN. Dir. Steven Spielberg. EUA: DreamWorks SKG, 2012. 90 minutos.
TEMPO de glória. Dir. Edward Zwick. EUA: Tristar Pictures, 1989. 122 minutos.
7.2 México – Da independência às lutas internas
Na história da América Latina, o caso mexicano pode nos fornecer aspectos importantes para entender 
a política, a sociedade, os conflitos e os Estados se estruturando no século XIX. Espaço de conflitos 
étnicos absolutamente fundamentais – o que desembocou em disputas pelas terras de agricultura – o 
México até os dias atuais apresenta a questão de como uma imensa população indígena é marginalizada 
em sua sociedade, e no século XIX esse processo foi extremamente conflituoso.
O México, mesmo pertencendo à porção norte do continente, é um país latino e indígena, além 
de ter sua história em diversos momentos relacionada diretamente aos acontecimentos ao norte, dos 
Estados Unidos.
Figura 37 – México atual: principais cidades
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Unidade III
Realizada a independência mexicana, não foi possível obter paz interna, pois os apoiadores do 
governo, de forma geral, eram o clero e o Exército. Agustín de Iturbide foi Coroado imperador como 
Agustín I. Diante da enorme crise econômica que o recém‑emancipado país enfrentava, alguns setores 
começaram a enxergar no imperador a responsabilidade pela situação. O descontentamento chegou a 
tal ponto que antigos aliados o abandonaram e parte do Exército se transformou em oposição armada, 
com um levante liderado pelo general Antonio López de Santa Anna, um antigo apoiador seu.
O povo encontrava‑se numa condição de piora significativa do seu modo de vida, pois, com as 
recorrentes emissões de papel‑moeda, perdia poder de compra. A revolta recebeu, assim, apoio popular 
e em dezembro de 1822 começou uma revolta contra o governo do imperador Iturbide. Em 1823, 
pouco tempo depois, suas forças foram derrotadas e, mesmo tendo convocado novamente o Congresso 
Nacional, já não era possível manter‑se no poder. Assim, foi necessário abdicar, o que ocorreu em março 
de 1823. Logo depois, em maio do mesmo ano, o imperador partiu para o exílio na Itália.
Figura 38 – Agustín de Iturbide entrando na cidade do México em 1821
O governo mexicano passou por diversos momentos no século XIX. A independência, consubstanciada 
no Plano de Iguala, de 1821, estabelecia o rompimento com a antiga metrópole e a criação de um país que 
atualmente se estenderia sobre territórios norte‑americanos como a Califórnia e o Texas, por exemplo, 
e em direção à América Central. Devemos ressaltar que o processo que resultou na independência não 
foi conduzido o tempo todo pelas elites criollas do antigo Vice‑Reino de Nova Espanha, ao contrário, os 
primeiros movimentos tiveram origem popular sob a condução de Hidalgo e Morellos e envolveram as 
massas subalternas de indígenas explorados pelo latifundiários e pelos donos de minas.
Em 16 de fevereiro de 1810, alguns dias antes da chegada do novo vice‑rei 
Francisco Xavier Venegas, Miguel Hidalgo iniciou uma insurreição em Dolores 
que se estendeu com rapidez para outras intendências. O objetivo do padre, 
como reconheceu perante as autoridades que o julgaram meses depois, era 
fazer a independência do reino, ou seja, tirar os gachupins de seus empregos 
e cargos públicos para dá‑los aos crioulos e, muito importante, preservar 
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
a América dos perigos aos quais estava exposta pela união com a Europa 
(PAMPLONA, 2008, p. 151).
No México, era muito presente no momento da independência a questão de entregar a região para 
quem não fosse o francês opressor da Europa e, como filho da Revolução, inimigo da religião católica. 
Esse fervor religioso foi um elemento muito importante para acelerar as lutas por emancipação, mas 
a população mais pobre reunida passaria a fazer reivindicações sociais, e o centro das discussões era a 
questão da terra.
Em fevereiro de 1821, Agustín de Iturbide, um jovem coronel que combatia os 
rebeldes desde 1810, promulgou um Plano de Independência no qual prometia 
a defesa da religião e dos privilégios eclesiásticos como um dos pontos mais 
importantes do seu programa político. Nos meses seguintes, conseguiu o 
apoio de diferentes grupos políticos, entre os quais se encontravam também 
pessoas com posições liberais (PAMPLONA, 2008, p. 164).
Essa proclamação, o já referido Plano de Iguala, possibilitou a Iturbide assegurar garantias às elites 
proprietárias, aos religiosos e aos militares – haja vista sua inequívoca condição de militar. Desse 
modo, esses setores se alinharam na busca de assegurar o poder político de um novo país, mas sem a 
possibilidade de subversão da ordem social e das relações que envolviam a propriedade e o acesso à 
terra. Dessa maneira, podemos considerar que os criollos, com enorme receio das possibilidades que a 
independência abria, procuraram assumir o controle do processo de ruptura e emancipação:
No século XIX ocorreram várias revoltas indígenas de grandes proporções 
em países latino‑americanos. Algumas tiveram larga repercussão, pelo vulto 
das lutas travadas entre indígenas e tropas governamentais. A Guerra de 
Castas, ocorrida em Yucatán, no México, estendeu‑se de 1847 a 1901. Os 
políticos criollos haviam armado os índios no curso da luta de facções que 
se opunham entre si. Imprudentemente, lhes haviam prometido a abolição 
dos impostos e a distribuição de terras. Promessa não cumprida, índios em 
armas, o que se segue é lógico [...] (SANTOS, 1985, p. 17).
O fim de Iturbide, no entanto, foi marcado por aspectos dramáticos, pois o Congresso Nacional não 
aceitou sua abdicação: por isso, caso retornasse ao país, seria executado. 
Aconselhado, entretanto, por amigos, a voltar ao México, acreditando que 
retornaria ao poder, e não sabendo que estava condenado à morte caso voltasse, 
sem armas, sem soldados e até sem propósitos firmados de conspiração, 
desembarcou num ponto solitário de Tamaulipas. Traído pelo general Carza, que 
o reconheceu, foi preso, julgado e condenado à morte por fuzilamento na vila 
de Padilha, em 19 de julho de 1824 (TAPAJÓS, 1974, p. 270).
O evento, cujo desfecho foi um pouco diferente da abdicação do imperador do Brasil, Pedro I, em 
1831, acabou levando à transformação do México em uma república, e,para tal, o Congresso Nacional 
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Unidade III
deveria convocar uma Assembleia Constituinte, como de fato ocorreu. As disputas políticas entre 
centralização e descentralização, entre unitários e federalistas, também estavam presentes, assim como 
na Argentina, na Venezuela, no Chile e mesmo no Brasil. A questão envolvia maior grau de centralização, 
como era desejo dos unitários, ou maior autonomia local, como defendiam os liberais – que sofriam 
influência direta dos Estados Unidos. Ainda segundo Tapajós (1974, p. 270), venceram os liberais, e a 
Constituição definia 19 estados e 5 territórios com os clássicos três poderes republicanos – Executivo, 
Legislativo e Judiciário; o catolicismo foi escolhido como religião oficial. Das disputas políticas entre 
liberais e conservadores, nasciam alguns dos atritos que arrastariam o México para uma guerra civil de 
grandes proporções: a Guerra da Reforma.
Antes dessa conflagração, um importante período de busca de estabelecimento da paz interna 
controlando os ímpetos dos poderes locais (caudilhos) foi a subida ao poder de Lopes de Santa Anna 
depois de grandes instabilidades.
Era um indivíduo incompetente e corrupto, desprovido de princípios, 
indiferente aos melhores interesses de seu país, escrevem uns [...] aventureiro 
sem gênio, mas não sem coragem, que os escrúpulos da legalidade não 
atingiam nunca e que passava de uma a outra opinião, a ponto de o 
chamarem camaleão [...] dizem outros (TAPAJÓS, 1974, p. 273).
Santa Anna, acreditando que o governo de Gómez Farias era muito reformista, em 1834 rebelou‑se 
contra o poder central com uma proclamação em Cuernavaca defendendo o fortalecimento da União e 
sendo, portanto, ferrenho defensor de um Estado centralizado. Com a Constituição de 1836, os Estados 
foram abolidos, e o governo definia os governadores dos departamentos.
 Lembrete
O mesmo movimento de centralização e descentralização gerou 
conflitos na região platina e no Brasil, provocando, inclusive, rompimento 
na unidade do Estado imperial. Referimo‑nos ao episódio da Farroupilha, 
entre 1835 e 1845.
7.2.1 O México e as perdas territoriais para os Estados Unidos
O país que começa a ser construído com a emancipação tem suas peculiaridades, pois, em 
alguns pontos, territórios são muito pouco povoados, de densidade muito pequena. Dessa forma, 
o próprio governo foi franqueando a possibilidade de colonos estrangeiros – notadamente do 
país vizinho – se instalarem no país. Esse foi o caso do então mexicano Texas. Essa região ganhou 
importância econômica principalmente a partir da década de 1830, com a criação de gado bovino 
e o desenvolvimento de um tipo social importantíssimo no imaginário norte‑americano, o cowboy. 
Quando se imagina a figura dos cowboys, junto vem a forte presença indígena e do Exército 
norte‑americano (principalmente após a Guerra Civil).
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
Desde a chegada dos primeiros colonizadores espanhóis, as regiões do Texas e da Califórnia foram 
alvo de missões franciscanas e jesuíticas para a catequese dos nativos, mas no século XVIII já haviam 
perdido sua força junto aos índios.
Diante do movimento centralizador de um Estado mexicano povoado de muitos estrangeiros 
e que vinha enriquecendo com as criações de gado, o povo de origem estadunidense que vivia no 
Texas decidiu não aceitar a imposição de López de Santa Anna. O Texas, considerando ilegítima e 
ilegal essa centralização, decidiu‑se pelo rompimento da fidelidade ao poder central. Tapajós (1974, p. 
273) menciona que Cotterrill, num livro intitulado A Short History of the Americas, teria escrito: “um 
resultado imediato das ‘Sete Pragas’ foi a revolta do Texas, que havia sido ocupado por imigrantes saídos 
dos Estados Unidos”. Vale ressaltar que as “Sete Pragas” são uma alusão direta à Constituição Mexicana 
de 1836, pois ela possuía Las Siete Leyes Constitucionales.
Um dos momentos considerados mais importantes de fratura do Estado nacional mexicano e de 
construção do Estado norte‑americano foi a questão da região do Texas. Até a década de 1830, o 
estado pertencia ao Estado de Coahuila, mas com a abolição do federalismo na constituição centralista 
os colonos de origem norte‑americana se rebelaram contra o poder central e deram publicidade a isso 
com sua Proclamação de Independência. Na sequência, apresentaremos alguns trechos um pouco mais 
extensos extraídos da referida proclamação com o intuito de propor um exercício de compreensão de 
texto, tentando extrair das partes selecionadas os significados mais gerais. Sugerimos a você que na 
leitura tome nota dos pontos principais para poder analisar como são produzidos discursos políticos. 
Assim, no documento, afirma‑se:
Quando um governo cessou de proteger a vida, a liberdade e a propriedade 
do povo, do qual derivam seus legítimos poderes, e de promover a felicidade 
deste povo, motivo pelo qual foi instituído; e longe de ser uma garantia a 
favor de seus direitos inestimáveis e inalienáveis, torne‑se um instrumento 
nas mãos de governantes perversos para a opressão deste povo. Quando 
a Constituição Federal republicana de seu país, a qual estes mesmos 
governantes juraram defender, já não tem existência substancial, e a 
completa natureza de seu governo foi transformada, pelo uso da força, sem 
o consentimento do povo, de uma república federativa restrita, composta de 
estados soberanos, em um despotismo militar centralizado e sólido, no qual 
são negligenciados todos os interesses que não digam respeito ao Exército 
e ao clero, ambos eternos inimigos da liberdade civil, asseclas do poder 
sempre de prontidão e habituais instrumentos dos tiranos. [...] Quando, 
em consequência de tais atos de malevolência e sequestro por parte do 
governo, a anarquia prevalece, e a sociedade civil desmembra‑se em seus 
elementos originais, em tal crise, a primeira lei da natureza, o direito de 
autopreservação, o direito inerente e inalienável do povo de apelar aos 
primeiros princípios e tomar suas questões políticas em suas próprias mãos 
em casos extremos, impõe‑se como um direito voltado para si mesmo e um 
dever sagrado para com a posteridade, de abolir tal governo, e criar outro 
em seu lugar, planejado para salvá‑lo de perigos iminentes, e assegurar seu 
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bem‑estar e felicidade. [...] Porém, é um inevitável passo que ora damos para 
cortar nossa ligação política com o povo mexicano e assumir uma atitude 
independente entre as nações da Terra (ARMITAGE, 2011, p. 173).
Até esse momento, a apresentação tem um sentido moral, uma justificativa de que o rompimento 
anunciado pode ser visto como justo e, mais do que isso, necessário. Continuemos:
[...] O governo mexicano, mediante suas leis de colonização, convidou e 
induziu a população anglo‑americana do Texas a colonizar seus territórios 
sob a crença empenhada em uma constituição escrita de que esta mesma 
população continuaria a desfrutar da liberdade constitucional e do governo 
republicano ao qual estava habituada em sua terra natal, os Estados Unidos da 
América. [...] foram eles cruelmente decepcionados, visto que a nação mexicana 
concordou com as recentes mudanças feitas no governo pelo general Antonio 
López de Santa Anna, que, tendo derrocado a Constituição de seu país, agora 
nos oferece a cruel alternativa de abandonar nossas casas, adquiridas por 
meio de tantas privações, ou nos submetermosà mais intolerável de todas as 
tiranias: o despotismo conjunto da espada e do clero. [...] Dissolveu, pela força 
das armas, o Congresso Estadual de Coahuila e do Texas, e obrigou nossos 
representantes a fugir da sede do governo com o intuito de preservar a própria 
vida, privando‑os, assim, do fundamental direito político de representação. 
[...] Invadiu nosso país tanto por mar quanto por terra, com a intenção de 
devastar nosso território e nos expulsar de nossas casas; e conta agora com 
o avanço de um grande exército mercenário, para efetuar contra nós uma 
guerra de extermínio (ARMITAGE, 2011, p. 173).
Na sequência, foi construída e reforçada a ideia de que o governo mexicano é injusto e mentiroso, 
faltando com o que havia sido acordado, o que liberaria a população do Texas de seus vínculos federais 
e justificaria ainda mais seus atos. Concluindo o texto:
[...] Nós, por conseguinte, os delegados do povo do Texas, com plenos poderes 
e em solene assembleia reunidos, apelando a um mundo cândido a favor das 
necessidades de nossa condição, por meio desta, decidimos e declaramos que 
nosso vínculo político com a nação mexicana terminou para sempre, e que o 
povo do Texas agora constitui uma república livre, soberana e independente, 
e acha‑se inteiramente investido de todos os direitos e atributos que 
verdadeiramente pertencem às nações independentes; e, conscientes da 
retidão de nossas intenções, intrépida e seguramente submetemos a questão 
à decisão do Supremo Árbitro do destino das nações. Declaração Unânime de 
Independência elaborada pelos Delegados do Povo do Texas. 2 de março de 
1836 (ARMITAGE, 2011, p. 173).
No final, o resgate da legitimidade está na menção de serem os delegados do povo e de que, nessa 
condição, constituem uma república livre, soberana e independente.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
O governo estabelecia‑se, pela declaração, em uma república – a estrela solitária em sua bandeira – mas o 
governo de López de Santa Anna não aceitou a ruptura e despachou para a região uma grande força militar, 
que acabou derrotada pelos texanos. A relativa paz ocorreu por nove anos, sem que novas expedições fossem 
enviadas para tentar a reconquista; contudo, em 1845, o Texas decidiu pedir sua entrada na União, ou seja, 
participar dos Estados Unidos da América, o que culminou num novo ataque do México à região.
No entanto, desta feita não se tratava mais de um conflito interno dos mexicanos com uma região 
rebelde: o governo norte‑americano despachou seus soldados para o combate, e a intensidade dos 
conflitos foi tamanha que as tropas norte‑americanas chegaram a entrar na capital mexicana, uma parte 
significativa do norte do país foi ocupada pelos invasores e o México perdeu o Novo México, parte da 
Califórnia, de Sonora, de Couahuila (com isso o Texas) e Tamaulipas. A paz com indenização aos colonos 
norte‑americanos foi firmada pelo Tratado de Guadalupe‑Hidalgo, e assim parece que se justifica, ao 
menos em parte, a dramática frase: “Pobre México, tão longe de Deus e tão próximo dos Estados Unidos”.
 Observação
Comumente a frase é atribuída ao presidente populista Lázaro Cárdenas, 
mas, ao que tudo indica, trata‑se de uma fala de Porfirio Díaz.
 Saiba mais
Como forma de perceber melhor a construção do imaginário 
norte‑americano da ocupação dessas diversas regiões a que estamos nos 
referindo, bem como das guerras advindas desse movimento, conflitos 
esses entre norte americanos, indígenas e mexicanos, indicamos os filmes:
A LENDA do Zorro. Dir. Martin Campbell. EUA: Columbia Pictures 
Corporation, 2005. 129 minutos.
A MÁSCARA do Zorro. Dir. Martin Campbell. EUA: Tristar Pictures, 1998. 
136 minutos.
DANÇA com lobos. Dir. Kevin Costner. EUA; Reino Unido: Tig Productions, 
1990. 181 minutos.
O ÁLAMO. Dir. John Lee Hancock. EUA: Touchstone Pictures, 2004. 137 
minutos.
UM HOMEM chamado cavalo. Dir. Elliot Silverstein. EUA: Cinema Center 
Films, 1970. 114 minutos.
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O processo de crescimento territorial dos Estados Unidos foi tão traumático para o México em razão 
dessas perdas territoriais que um presidente da república, Porfirio Díaz, teria afirmado: “Pobre México, 
tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. Deixando um pouco de lado o apelo dramático da 
referência aos enfrentamentos entre México e Estados Unidos, pode‑se perceber o quanto durou na 
sociedade mexicana o impacto das perdas territoriais.
 Observação
A ideia de populismo é bastante controvertida em razão do uso inadequado 
que tem sido feito por grandes veículos de imprensa latino‑americanos: 
mediante a adoção de medidas populares frequentemente se faz a 
acusação, equivocada, de populismo, o que é um grande erro histórico, o 
anacronismo.
Exemplo de aplicação
Recentemente, muitas histórias clássicas da literatura tanto brasileira quando universal vêm sendo 
transformadas em HQs, com grande sucesso de público e excelente qualidade gráfica.
Faça a leitura de Zorro buscando observar de que maneira os mexicanos são retratados sob uma 
ótica produzida pelos Estados Unidos. Para isso, você pode consultar as fontes que indicamos a seguir:
MILLER, F.; LEE, J. Zorro. São Paulo: Metal Pesado, 1994.
WAGNER, M. Zorro. Dynamite Entertainment, 2011.
A Corrida do Ouro rumo à Califórnia também foi um processo gerador de perdas territoriais enormes 
para o México. A partir da descoberta de ouro na região de Coloma, na Califórnia, por John Marshall, 
em 1848, teve início uma primeira corrida do ouro, entre 1848 e 1849, que provocaria um intenso 
povoamento da costa do Pacífico.
Data de 1836 a derrota do Exército mexicano sob o comando do presidente López de Santa Anna 
e a proclamação de independência do Texas, formando a República Independente do Texas que seria, 
posteriormente agregada aos Estados Unidos em 1845. O não reconhecimento inicial, pelo governo 
mexicano, da independência e a entrada do Texas para a nação norte‑americana provocaram uma 
guerra entre Estados Unidos e México entre 1846 e 1848, encerrada com a derrota mexicana e o 
reconhecimento da perda do Texas. Além de ser obrigado a ceder Novo México, Califórnia, Colorado, 
Nevada, Utah e Arizona, o país ainda teve de pagar 15 milhões de dólares em indenizações.
Os Estados Unidos, dessa maneira, construíam uma continuidade territorial desde o Atlântico até o 
Pacífico, e isso seria de importância fundamental na consolidação de seu modelo capitalista.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
Figura 39 – Territórios perdidos pelo México
Mesmo derrotado em sua volta à presidência da república, no esforço de conter o separatismo texano, 
o presidente López de Santa Anna voltou ao poder em 1853. O exemplo dele para a história mexicana 
pode ser interpretado como a atuação daqueles grandes caudilhos de origem espanhola que existiam na 
América do Sul. A república sofria com o separatismo e com revoltas de populações excluídas de origem 
indígena que eram duramente reprimidas pelo governo central. Diante do movimento de centralização 
cada vez maior, outra rebelião liberal irrompeu, e Santa Anna deixou o poder em 1853.
A entrada do Texas na União (1845), a partilha do Oregon com a 
Grã‑Bretanha (1846) e o tratado de Guadalupe‑Hidalgo com a Espanha 
(1848) introduziram um novo oeste no domínio americano e o consagraram 
desde então como o velho oeste. Este é o último oeste, aquele a quemilhares de filmes, romances populares, canções e tradições habituaram o 
homem do século XX (FOHLEN, 1989, p. 11).
Essa constante oscilação dos poderes políticos fazem‑nos lembrar um pêndulo que num momento vai 
num sentido mas, instantes depois, chega a seu limite e se volta para o sentido contrário. O país foi levado 
para o conservadorismo centralista, porém isso não facilitou a situação interna e, ao contrário, além de 
revoltas entre populações miseráveis, provocou o aumento do descontentamento de setores progressistas 
mais identificados com o liberalismo. Assim, é possível perceber que energias eram dissipadas nesses 
esforços e que em muitos momentos as alternativas desembocavam em conflitos armados, o que parecia 
ser, no século XIX, sempre uma alternativa muito plausível na política de diversos países americanos.
7.2.2 México, Benito Juárez e as Leis da Reforma
Com a queda dos conservadores, os liberais retornaram agressivos e querendo mudanças substanciais 
– que seriam formuladas em uma nova Constituição Federal. Nos manuais didáticos e livros de História, 
é mais comum a referência ao conjunto de mudanças como Leis da Reforma. Elas foram formuladas 
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pelos liberais em seu Plano de Ayutla que desejavam abertamente combater aquilo que percebiam como 
privilégios eclesiásticos e militares absurdos e infundados para serem mantidos em uma república que 
se queria moderna e liberal. No entanto, vale lembrar que qualquer ataque aos privilégios estabelecidos, 
quer fossem recentes ou de longa data, provocava reações que iam desde o descontentamento com o 
governo até conflitos abertos e irrupções de guerras civis. O governo central, sob controle dos liberais, 
afiançava as mudanças e defendia essa posição. O próprio presidente da república, o general Juan 
Álvarez, permitia que seus ministros buscassem mudanças.
O nome mais famoso desse processo de tentativa de mudanças no México foi um bacharel de direito 
que mais tarde seria Ministro da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos. De origem humilde e indígena, 
ele se chamava Benito Juárez, e sobre ele seriam contadas diversas lendas no México para explicar 
seu anticlericalismo. O Congresso mexicano aprovou a secularização dos bens da Igreja Católica e o 
confisco e a venda de suas terras – que eram, segundo apresentado por Tapajós (1974), quase metade 
das terras do país. Naturalmente, diversos e conflitantes interesses estavam em jogo, e um movimento 
tão agressivo para promover mudanças não aconteceria sem causar reações.
 Saiba mais
Para ilustrar esse conturbado momento histórico mexicano de ascensão 
de Benito Juárez, indicamos o filme:
JUÁREZ. Dir. William Dieterle. EUA: Warner Bros., 1939. 125 minutos.
Sobre as mudanças apresentadas com a Constituição de 1857 no México, Tapajós (1974, p. 276) 
indica a leitura de Victor Tapié, com o livro Histoire de l’Amérique Latine au XIXe. Siécle:
De inspiração democrática, proclamava os direitos do homem, proibia 
tribunais de exceção, reservava com exclusividade às cortes militares o 
conhecimento das causas do exército, assegurava a liberdade de imprensa, 
a soberania popular, a supressão da escravidão, o direito de petição contra o 
governo, a inviolabilidade da correspondência. A república tomava a forma 
federal: o presidente eleito por quatro anos e devendo ser substituído, no 
caso de deixar o mandato, pelo presidente da Corte Suprema; Congresso de 
duas câmaras: um Senado eleito por oito anos pelos Estados, uma Câmara 
eleita por sufrágio universal por dois anos; Corte Suprema, cujos juízes eram 
eleitos por seis anos em sufrágio indireto (TAPAJÓS, 1974, p. 276).
Os confrontos para o estabelecimento da lei aconteceram entre o próprio presidente Ignacio 
Comonfort – ex‑ministro de Estado, do governo Álvarez – contra seu vice‑presidente Benito Juárez. 
Os esforços de Juárez, que derrotou o oponente e tornou‑se presidente da república, esbarraram na 
resistência conservadora clerical e militarista. Esses choques explodiram na Guerra da Reforma – que 
tanto debilitou o país, apesar da vitória de Juárez no conflito.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
Figura 40 – Arco homenageando Benito Juárez, na Cidade do México
Desde o momento das independências na América Latina estamos enfatizando mais especificamente 
a questão das conexões que existiam no mundo ocidental atlântico, pois o que ocorria na Europa 
tinha reflexos ou mesmo profundas consequências em solo americano. Foi assim quando falamos 
do desenvolvimento do iluminismo e dos ideais burgueses e das invasões europeias promovidas por 
Napoleão, que, no caso da Península Ibérica, agiu como catalisador dos movimentos de emancipação.
O problema de intervenções externas na política e na economia mexicanas ao longo do século XIX, 
no entanto, não se restringiu às ações dos Estados Unidos. Além dos norte‑americanos, outros povos 
também interferiram na região.
O interesse norte‑americano e europeu na América Latina levou esta a 
sofrer frequentes intervenções armadas a pretexto de cobrar dívidas não 
resgatadas. É o caso da tentativa imperialista de Napoleão III que pretendeu 
criar um Império no México (1862), para isso iniciando a conquista do país 
e impondo o governo do Príncipe Maximiliano de Habsburgo; esta aventura 
terminou com a expulsão dos invasores, o fuzilamento de Maximiliano e a 
consolidação da autoridade presidencial de Benito Juárez (1858‑1872). A 
Espanha não havia se conformado com a perda de suas antigas colônias e 
exigiu o pagamento de indenização ao Peru; mas este, aliado ao Chile e à 
Bolívia, resistiu às pretensões espanholas em uma guerra que se estendeu 
de 1866 a 1868.
Contra as intromissões estrangeiras, a América não podia contar com muita 
proteção exterior. Se a marinha britânica fora anteriormente uma garantia 
da independência dos países latino‑americanos, já não podia ser considerada 
como tal depois que a própria Inglaterra começou a efetuar bloqueios navais 
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e a anexar territórios. Do mesmo modo, quaisquer garantias que a Doutrina 
Monroe tivesse inicialmente dado a impressão de oferecer à América Latina 
foram anuladas pela atitude dos Estados Unidos, incorporando territórios 
mexicanos e estendendo sua cobiça a outras áreas latino‑americanas 
(DOZER apud AQUINO, 1995, p. 194).
Podemos considerar que a Doutrina Monroe dos Estados Unidos (1823) foi um ponto muito 
importante nas relações exteriores da América Independente, mas à medida que esse mesmo país se 
expandia territorialmente e, após a Guerra Civil, buscava se consolidar internamente, sua política em 
relação aos vizinhos americanos começava a se transformar.
Já no final do século XIX, a maior parte das regiões americanas já era independente politicamente de 
suas antigas metrópoles, no entanto no Caribe ainda existiam territórios controlados pela Espanha, como 
Cuba e Porto Rico. Os Estados Unidos, visando proteger seus interesses econômicos na região caribenha, 
tornou‑se intervencionista. Um dos grandes exemplos desse processo foi a imposição de um conjunto 
de medidas que permitiam aos Estados Unidos intervir na ilha de Cuba, mesmo após sua independência 
da Espanha em 1898, caso seus interesses econômicos fossem afetados. Essa medida, conhecida e 
anotada nos manuais de História como Emenda Platt, vigorou até 1934, sendo um importante fator de 
instabilidade e demonstração dos interessesnorte‑americanos colocados acima da soberania dos países 
que se tornavam independentes, e esse processo não parou por aí.
Os Estados Unidos, para se desenvolverem industrialmente, enfrentavam o problema do meio 
geográfico. As grandes distâncias impunham meios de transporte e caminhos muito mais modernos 
e dinâmicos que os tradicionais, e assim, o continente, em sua parte norte, foi cortado por estradas 
de ferro de leste a oeste. Uma alternativa aos caminhos de ferro eram os barcos a vapor – na época 
simplesmente vapores. Para que esse meio pudesse ser explorado de forma favorável, impunha‑se a 
necessidade de construção de um canal interoceânico comunicando o Atlântico ao Pacífico. A obra 
que possibilitaria essa ligação havia sido iniciada em 1881 por uma empresa francesa. Assim, depois 
de promover a separação do Panamá e da Colômbia, os Estados Unidos receberam a concessão da 
exploração do Canal do Panamá.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE
Pressões dos EUA
Áreas de influência dos EUA
Figura 41 – As intenções imperialistas dos EUA
Zona do Canal
Rodovia
Ferrovia
Figura 42 – Canal do Panamá: região
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Figura 43 – Canal do Panamá: eclusas e sistema do canal
 Observação
O Canal do Panamá é um sistema de barragens e comportas que permite 
aos navios ganhar as alturas do istmo. A rigor, não é um canal, pois as 
águas do Pacífico e do Atlântico não se comunicam.
7.2.3 O México e o porfiriato: modernização econômica e crise social
As Guerras da Reforma desgastaram sobremaneira o país, e isso acabou facilitando a ascensão 
ao poder de um militar que havia ganhado destaque nas lutas contra a presença francesa. A 
chegada ao poder aconteceu por meio de um golpe militar que derrubou o presidente Sebastián 
Lerdo de Tejada, em 1876. Foi então que Porfirio Díaz assumiu e estabeleceu uma ditadura – o 
porfiriato – que durou até 1911.
O último quartel do século XIX, que coincidiu com o início do porfiriato, conforme, indicamos, foi 
um momento de grande modernização econômica com substanciais transformações no capitalismo, 
que entrava em sua segunda fase industrial. O México também passou por mudanças. Vale lembrar 
que a presença dos Estados Unidos era um fator que deixava bastante presente o fantasma de novas 
invasões e perda de terras. Assim, o governo de Díaz passou a empreender um programa que, ao menos 
economicamente, seria modernizador do país.
Figura 44 – Porfirio Díaz, durante o seu longo governo, foi o grande responsável pela modernização do México. 
Sob a prosperidade, contudo, escondiam‑se a miséria e a opressão que vitimavam o campesinato
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As exportações para os Estados Unidos eram crescentes, e o governo alterou as leis de exploração 
do subsolo nacional para franquear aos Estados Unidos a possibilidade de exploração mineral. De 
acordo com as observações de Prado e Pellegrino (2014, p. 102), os transportes passaram por uma 
intensa modernização, pois de 640 km de ferrovias em 1876, passou‑se para 19.280 km em 1910. 
Nesse momento, o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos o levava a ser protecionista em 
alguns casos, e, por consequência, ficava muito cara a entrada de certos produtos mexicanos no país, 
incentivando, assim, a produção interna.
Em 1900, a população mexicana atingia 13.508.000 habitantes, com uma 
parcela mínima de estrangeiros, aproximadamente 60 mil. De maneira geral, 
a economia mexicana teve um notável crescimento durante o porfiriato, 
especialmente os setores voltados para o comércio externo. O incremento 
do comércio externo indicava claramente essa tendência: entre 1892/1893 e 
1910/1911, as exportações se elevaram em mais de três vezes. Mas a pobreza 
da maior parte da população era grande e a insatisfação social mostrava‑se 
palpável. Os operários foram protagonistas de muitas greves, na primeira 
metade do século [...] foram duramente reprimidas pelo governo de Porfirio 
Díaz (PRADO; PELLEGRINO, 2014, p. 103).
Dessa forma, o crescimento e o progresso material do país tinham consequências sociais 
muito intensas e potencialmente explosivas. Esse foi o caso dos camponeses, que foram cada vez 
mais marginalizados nesse processo de crescimento econômico. Desde 1856, a forma tradicional 
indígena de propriedade coletiva da terra estava proibida, o que, naquele momento, era visto 
por muitos políticos liberais como um inequívoco avanço rumo à modernização do país. Os 
camponeses foram assim atacados nos seus fundamentos de sobrevivência; suas comunidades 
seculares e tradicionais foram desestruturadas, e muitos homens e mulheres foram obrigados a 
aceitar a condição de trabalhadores assalariados em fazendas que pouco antes pertenciam às 
suas comunidades tradicionais.
Esse quadro geral complicado foi agravado pelo porfiriato com sua Lei dos Baldios – lei de colonização 
de terras consideradas devolutas do Estado e que na prática facilitou a concentração ainda maior 
de terras nas mãos de poucos proprietários. De que maneira isso acontecia? Empresas agrimensoras 
demarcavam extensas áreas e podiam se apropriar de terras consideradas baldias ou devolutas.
Entre 1890 e 1906, foram delimitados 16.800.000 hectares, cabendo a maior 
parte a essas companhias. Assim, um dos sócios da companhia adquiriu 7 
milhões de hectares em Chihuahua; um segundo, 2 milhões de hectares 
em Oaxaca; outros dois, 2 milhões de hectares em Durango; e, finalmente, 
quatro sócios, 11,5 milhões de hectares na Baixa Califórnia. Desse modo, oito 
pessoas transformaram‑se em proprietárias de 22,5 milhões de hectares. Em 
1906, essas companhias foram dissolvidas, porém já haviam sido demarcados 
49 milhões de hectares, uma quarta parte do território mexicano (PRADO; 
PELLEGRINO, 2014, p. 105).
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Para enfatizar o progresso material do período, alguns autores destacam que a economia cresceu 
cerca 8% ao ano, taxa média, e que foi permitida a entrada de investimentos e empresas dos Estados 
Unidos, Grã‑Bretanha, França e Alemanha. Williamson (2009, p. 279) chega mesmo a afirmar que foi 
estabelecida uma pax porfiriana, agradando sobremaneira empresas estrangeiras que passaram a se 
instalar no país. Contudo, apesar desse crescimento econômico e material muito significativo, a política 
não se modernizava tanto assim, pois:
A repressão de greves e revoltas camponesas, bem como o controle da imprensa, 
encarregavam‑se da oposição política. As instituições democráticas da 
república não tardaram a ser manipuladas por práticas típicas do caudilhismo: 
eleições fraudulentas baniram os opositores do congresso e em 1888 esse 
organismo concordou em emendar a constituição de modo a permitir que 
Don Porfirio (que por duas vezes tentara chegar ao poder reivindicando o 
princípio da não reeleição) cedesse aos desejos do povo e aceitasse a eleição 
para a presidência a cada seis anos (WILLIAMSON, 2009, p. 280).
Dessa maneira, a modernização econômica e a exclusão crescentes eram muito presentes na ditadura 
de Porfirio Díaz. O porfiriato foi marcado pelo exercício da autoridade pessoal de um único homem 
que, apesar de promover um determinado modelo de crescimento econômico, não deixava de ser uma 
ditadura. O legado desse períodohistórico foi tão penoso para a sociedade mexicana em geral que, no 
início do século XX, eclodiu ali uma de suas mais significativas revoluções: a Revolução Mexicana, que 
era, justamente, contrária ao mundo estabelecido pelo porfiriato.
No México, a revolução iniciada em 1910 tem sido considerada principalmente uma 
revolução agrária devido à forte e decisiva participação de trabalhadores rurais de várias 
categorias, muitos dos quais índios e mestiços. Os desenvolvimentos dessa revolução 
contaram com as forças camponesas lideradas por Emiliano Zapata, ao sul, e Francisco Villa, 
ao norte. Para os zapatistas, a revolução era inseparável da luta pela terra, principalmente 
a reconquista da terra perdida ao longo do século XIX, pela atuação das companhias de 
demarcação e colonização.
O Plano de Ayala, de 25 de novembro de 1911, estabeleceu a expropriação de fazendeiros, 
científicos (porfiristas) e caciques, ou seja, beneficiários da atuação das companhias de 
demarcação e colonização; estabeleceu que as terras e águas que tivessem sido usurpadas 
dos camponeses, à sombra da justiça venal, seriam restituídas aos seus proprietários originais; 
que os camponeses manteriam essa posse com as armas nas mãos, prevenidos contra 
a reação dos opressores fazendeiros, científicos ou caciques. O lema “Terra e Liberdade”, 
surgido em 1916, era zapatista.
Foi muito forte a presença do campesinato na revolução mexicana. Em 1914, Zapata 
e Villa tomaram a cidade do México e ocuparam o Palácio do Governo. Entretanto, não 
estavam organizados para assegurar o poder. Nem o zapatismo – que poderia ser mais 
organizado, [mais bem‑definido] com relação aos seus objetivos – nem esse movimento 
estava em condições de firmar‑se no poder. Se é verdade que Zapata e Villa chefiavam 
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poderosas forças armadas camponesas, também é verdade que não dispunham de uma 
proposta política para oferecer à nação, à sociedade nacional, às diversas classes e correntes 
da revolução. Retiraram‑se. Pouco a pouco, foram sendo batidos. Em 1919, Zapata foi 
assassinado, depois de ter sido traído em uma emboscada preparada a mando do governo 
de Venustiano Carranza (1914‑1920). 
Fonte: Santos (1985, p. 19).
Exemplo de aplicação
Sugerimos uma pesquisa para comparar a questão da terra no século XIX e no início do século XXI 
e de que maneira a questão da exclusão popular do acesso à terra aparece na grande mídia. Além desse 
aspecto, podem ser discutidos a globalização e seus efeitos por meio do estudo do movimento zapatista. 
Você consegue encontrar notícias, histórias, manifestos e vídeos a respeito dos zapatistas?
8 IMPERIALISMOS NAS AMÉRICAS
Vale lembrar que, quando falamos de imperialismo na América Latina, o mais adequado seria falar 
“imperialismos”, pois não foram apenas os Estados Unidos que procederam dessa maneira. Verdade seja 
dita: eles promoveram diversas intervenções e golpes ao longo dos século XIX e XX, mas não foram 
solitários nessas práticas.
Entre 1830 e 1890, em muitas ocasiões, as potências europeias 
intervieram diretamente no hemisfério com graus diversos de força 
militar. Algumas dessas intervenções tiveram o objetivo de preservar sua 
influência mediante uma ajuda amigável aos países latino‑americanos 
em suas rivalidades com vizinhos hostis e de proteger seus próprios 
conterrâneos quando não eram bem‑tratados pelos governos nos países 
em que viviam. Esses elementos se combinaram nas várias intervenções 
britânicas e francesas no Prata entre 1836 e 1850, duas das quais – 
o bloqueio francês de Buenos Aires em 1836 e o bloqueio conjunto 
britânico‑francês em 1845 – duraram mais de dois anos e meio. A 
principal causa dessas intervenções foi o ditador argentino Juan Manuel 
de Rosas, que se mostrou hostil tanto aos interesses estrangeiros quanto 
aos Estados vizinhos do Uruguai e do Brasil (BETHELL, 2009, p. 609).
Note‑se que na citação ocorre certa inversão lógica, posto que os ditos responsáveis pelas intervenções 
são aqueles que as sofrem. A Argentina, em razão de seu ditador, no século XIX, não respeitava franceses 
e ingleses, mas não podemos deixar de lembrar que os europeus – ao menos em termos econômicos, mas, 
em certos casos, políticos e sociais também – agiam como se algumas áreas do globo lhes pertencessem 
(e não estamos nos referindo às colônias), o que, necessariamente, provocava sérios atritos.
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Para nos aproximarmos novamente da história do Brasil, uma vez que a citação toca no assunto 
das relações internacionais do império, o Brasil considerava a região platina parte de sua esfera de 
influências e por isso promovia intervenções tanto na Argentina quando no Uruguai. Os motivos 
alegados quase sempre eram a defesa de interesses econômicos e a busca de pacificação da instável 
região constantemente sacudida por lutas entre caudilhos que às vezes ultrapassavam a fronteira e 
atingiam estâncias no atual Rio Grande do Sul. Sem falar, é claro, do maior conflito em que o Império 
do Brasil se envolveu, que foi a Guerra do Paraguai.
8.1 A consolidação do Brasil como Estado Nacional e o choque de 
imperialismos na América do Sul
Assim como os demais países americanos, o Brasil passou por momentos complicados na construção 
de seu Estado Nacional, estando, por vezes, sob risco de fragmentação e destruição da unidade 
arduamente conquistada. Enquanto os vizinhos se digladiavam internamente, o Brasil também passava 
por uma série de revoltas de extrema gravidade. Vale lembrar que, no Primeiro Reinado, a Confederação 
do Equador, em 1824, chegou a separar‑se e a constituir‑se como uma república, representando ameaça 
bem concreta à unidade do império.
Durante o Período Regencial, de 1831 até 1840, foram diversas as revoltas e ameaças. A Farroupilha, 
por exemplo, chegou a formar uma república por dez anos. No Segundo Reinado, ao menos em seu início, 
as revoltas ainda não haviam sido “pacificadas”. Portanto, atribuir a instabilidade às repúblicas platinas e a 
estabilidade ao império brasileiro é um considerável equívoco, que suspeitamos não ser fruto de ingenuidade, 
e sim parte da propaganda da monarquia sobre si mesma, para se colocar como mais segura, mais estável 
e, portanto, como garantia contra as revoluções que se desenvolviam nos vizinhos republicanos.
Se na América Espanhola as disputas mais intensas se davam entre liberais e conservadores, entre 
projetos de descentralização e de centralização política, no Brasil a realidade não estava tão distante 
disso. Coroar o herdeiro do trono em 1840, antecipando sua maioridade – naquilo que foi chamado de 
Golpe da Maioridade – dá a medida dos riscos que o império corria. Também no Brasil havia certa tensão 
entre centralização e descentralização, ou seja, entre conservadores e liberais.
8.1.1 Brasil – Estruturação política
No Brasil, os anos de 1840 e 1850 são considerados como os da consolidação do Estado nacional, politicamente 
falando. E por que isso? Porque em 1847 o sistema político foi organizado com o que se convencionou chamar 
de Parlamentarismo às Avessas, no qual, ao contrário do modelo clássico inglês, quem determinava as escolhas 
para comandar o gabinete ministerial era o próprio imperador, no uso do Poder Moderador.
A questão do Poder Moderador foi trabalhada na historiografia, que tem no trabalho de Ilmar Mattos 
uma importante referência:
Poder Moderador escolhia o Presidente do Conselho de Ministros e era ele quem 
se encarregava de formar o ministério e o gabinete escolhido e comandava as 
eleições para a Câmara dosDeputados, caso fosse necessário. Resumindo, o 
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imperador poderia dissolver a Câmara dos Deputados, interferindo no quadro 
político[,] e o ministério por ele definido comandava a política e[,] assim, se 
o presidente fosse liberal, pediam os conservadores a força política naquele 
momento. O que ocorria na prática era certa alternância entre os grupos, 
contemplando assim os dois lados[,] sendo o gabinete ora liberal, ora conservador.
Considerando que as figuras políticas mais relevantes do império tinham 
quase que a mesma origem social, pouco ou quase nada divergiam em 
termos de dia a dia na política pois tanto os ideais mais centralizadores, ou 
menos, estavam submetidos ao poder imperial, pactuando com o mesmo 
para poder se transformar em ministério. A organização do edifício político 
era feita de cima para baixo, lembrando que colaboraram com a centralização 
ainda o fato de o Senado ser vitalício e que era o imperador quem definia 
o nome em uma lista tríplice e que o Conselho de Estado era um órgão 
consultivo estruturado justamente para fortalecer o centro político. A frase 
que melhor sintetiza as práticas políticas e seus arranjos pode ser, conforme 
aponta Mattos (1991) em seu livro clássico O Tempo Saquarema, “Era 
comum ouvir‑se dizer, em meados do século passado [trata‑se do século 
XIX], não haver nada tão parecido com um saquarema como um luzia no 
poder” (MATTOS, 1991, p. 115).
Explicando os termos, saquaremas são os conservadores políticos. O que na América espanhola seriam 
os unitaristas e os luzias, no Brasil seriam os liberais, ou seja, os federalistas, o que esquematicamente 
seria representado assim:
Exaltados
Progressistas
Partido
Liberal
Moderados Restauradores
Regressistas
Partido
Conservador
Figura 45 – Divisão dos grupos políticos no Segundo Reinado
O fundamental é perceber que no Brasil também foi complicada a fase de consolidação e que, ao 
final do processo, a tendência centralista/conservadora, prevaleceu, sendo estruturada em um momento 
chamado Era da Conciliação ou Gabinete da Conciliação, por ter representantes dos liberais e dos 
conservadores. Nas palavras do próprio ministro Carneiro Leão, articulista dessa política:
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[...] à conciliação. É verdade que esta palavra resumia toda a situação, e não 
era senão o eco mais ou menos remoto do pensamento de todos os homens 
da política; era o fato palpitante, a fase saliente da época (José de Alencar) 
(FERRAZ, 2010).
Se em termos de política interna o Império se organizava de forma bastante sofisticada, em sua 
política externa a situação era mais complexa, pois as pressões contra o tráfico negreiro por parte 
dos ingleses só aumentavam. Além disso, o protecionismo econômico tentado pelo império com a 
Tarifa Alves Branco provocava atritos com os súditos de sua majestade. Não era privilégio dos vizinhos 
platinos sofrer constantes pressões dos ingleses na defesa de seus interesses. O Brasil não sofreu os 
longos períodos de bloqueios navais que os vizinhos sofreram e não foi invadido como o México, por 
exemplo, mas precisava negociar constantemente com os interesses ingleses, cada vez mais presentes 
no hemisfério ocidental.
8.1.2 Brasil – Guerra do Paraguai
No início da década de 1860, a situação platina se agravava. A década anterior já havia sido 
extremamente tensa, com interferências do Brasil na região, inclusive para auxiliar caudilhos platinos 
em suas guerras regionais, pois o governo do Rio de Janeiro tomava partido, no Uruguai, dos Colorados, 
chefiados por Rivera, contra os Blancos (grupo dos grande pecuaristas) de Oribe.
Na Argentina, as constantes disputas entre os caudilhos provocavam no Brasil 
um sentimento de que era dever do país pacificar a região. Quando assumiu 
a chefia dos colorados, Juan Manuel de Rosas, caudilho de Buenos Aires, fez 
alianças com outros caudilhos, como Estanislao López, Juan Bautista Bustos 
e Juan Facundo Quiroga. Em meio às constantes crises e divisões, Rosas 
chega ao poder em Buenos Aires, se converte em um ditador com poderes 
especiais e passa a sofrer oposição de um grupo conhecido como “A Jovem 
Argentina”, com simpatizantes espalhados em Montevidéu, Brasil, Peru e 
Chile, sendo eles Estéban Echeverria, Domingo Sarmiento, Bartolomé Mitre 
e Vicente Fidel López (TAPAJÓS, 1974, p. 346).
Para marcar a violência que caracterizou esse governo, num evidente esforço de demonização dos 
caudilhos e de federalismo:
A história da faixa colorada é muito curiosa. A princípio foi uma divisa 
dos entusiastas; depois foi mandada usar por todos para provar‑se 
a uniformidade de opinião. Todos desejavam obedecer, mas se 
esqueciam quando mudavam de roupa. A polícia vinha em auxílio dos 
desmemoriados. Distribuíam‑se mazorqueiros pelas ruas, e, sobretudo, 
pelas portas dos templos, e após a saída das senhoras eram distribuídas 
chicotadas sem misericórdia. Faltava muito ainda que organizar. Trazia 
alguém a faixa malposta?... Vergastadas! Era unitário? Não a usava? – À 
degola, por contumaz!
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Não paravam aí nem a solicitude do governo, nem a educação pública. 
Não bastava ser “federal”, nem usar a faixa; era preciso ostentar, 
também, o retrato do Ilustre Restaurador sobre o coração, em sinal de 
amor intenso, e o letreiro: “Morram os selvagens imundos unitários” 
(TAPAJÓS, 1974, p. 347).
As instabilidades platinas, como foi ressaltado, envolviam, muitas vezes, o Brasil. O império 
frequentemente enviava tropas para fazer valer seus interesses na região.
Para Rodrigues, por outro lado, “a política de intervenção armada ou 
diplomática foi um instrumento da política do equilíbrio” cujo objetivo era 
“preservar nossas fronteiras, a vida e a propriedade – especialmente o gado – 
de nossos patrícios”. Luiz Alberto Moniz Bandeira viu o intervencionismo como 
instrumento das ambições de grande potência do Império. “No curso da década 
de 1850, o [Império do Brasil] impôs aos países daquela região um sistema 
de alianças e de acordos, que visavam não ao equilíbrio das forças, mas à 
consolidação de sua hegemonia, em substituição à de França e Grã‑Bretanha.” 
José Luiz Werneck da Silva acrescenta que, com o intervencionismo, “o Império 
Brasileiro revelava a sua face ‘expansionista’, de ‘vilões da história, a qual nem 
sempre gostamos de assumir’ (BARRIO, 2011, p. 15).
Um olhar tão crítico e bem‑estruturado como o de Barrio contribui para a compreensão dos interesses 
em disputa na região platina, para além de ser um olhar apenas brasileiro da questão.
[...] acrescenta que a chamada política externa de 1850 não se baseava 
apenas em realismo e pragmatismo. Havia, também, uma perspectiva épica e 
idealista no discurso então vigente, que contrapunha a Civilização brasileira 
à Barbárie platina e ressaltava a “dimensão civilizadora” da política imperial. 
Um bom exemplo disso são as cartas ao amigo ausente, de José Maria da 
Silva Paranhos, futuro Visconde do Rio Branco, então jovem articulista do 
Jornal do Comércio: a nossa questão com Oribe, tenente do ditador de 
Buenos Aires, é uma questão de segurança para o presente e para todo o 
sempre; e uma questão de progresso e civilização para nossos vizinhos, para 
a humanidade em geral. Que brasileiro, sem estar possuído de um fanatismo 
que me custa a compreender seja possível, se atreverá a contrariar

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