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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6526-4 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 2 6 4 Código Logístico 58861 O controle social propõe conduzir todos a colaborarem com o que é estabelecido para o melhor convívio. Nessa busca por harmonia social, ao longo dos anos, foram estabelecidos códigos e normas para orientar costumes, contudo esse esforço não bastou para que as comunidades formadas se respeitassem. Surgiu então a necessidade de estabelecer instituições, entre elas o próprio Estado, para fazer valer as normas legais. Nesta obra, como o maior e mais poderoso agente de controle social, o Estado é foco de reflexão em sua relação com as instituições que o promovem e as temáticas envolvidas com a Segurança Pública, como as Políticas Públicas e as teorias da criminologia. Família, religião e escola são igualmente abordadas como instituições que interferem no comportamento das pessoas. Controle social e segurança propõe temáticas importantes àqueles interessados no estudo do Estado, de seus órgãos de controle social e da participação da comunidade no estabelecimento de uma sociedade mais justa e fraterna. CONTROLE SOCIAL E SEGURANÇA MARCELO TREVISAN KARPINSKI Controle social e segurança IESDE 2019 Marcelo Trevisan Karpinski © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Alex_Alekseev/Daniel Tadevosyan/Andy Gin/Random Moments Photo/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ K28c Karpinski, Marcelo Trevisan Controle social e segurança / Marcelo Trevisan Karpinski. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 140 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6526-4 1. Segurança pública - Brasil. 2. Controle social - Brasil. I. Título. 19-60860 CDD: 363.10981 CDU: 351.78(81) Marcelo Trevisan Karpinski Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Administração Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Especialista em Administração com ênfase em Segurança Pública pela Faculdade Educacional Araucária (Facear). Especialista em Políticas Públicas pela Faculdade São Braz. Graduado em Direito pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Bacharel em Segurança Pública pela Academia Policial Militar do Guatupê, Escola Superior de Segurança Pública da Polícia Militar do Estado do Paraná (APMG/Esusep/PMPR). Instrutor dos cursos de formação de oficiais e demais cursos de formação, atualização e aperfeiçoamento da Academia Policial Militar do Guatupê. Instrutor da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) e do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd). Oficial da Polícia Militar do Estado do Paraná. Membro da Academia de Letras dos Militares Estaduais do Paraná (Almepar – Patrono Capitão PM João Alves da Rosa Filho), ocupante da cadeira n. 14 “Coronel PM José Scheleder”. Palestrante de temas que envolvem Segurança Pública e privada. Sumário Apresentação 7 1 Controle social 9 1.1 Controle social: conceitos e evolução histórica 9 1.2 Instituições de controle social 14 1.3 Estado: instituição de controle social 18 1.4 Monopólio da violência legitimada 28 2 Segurança Pública 33 2.1 Concepções de Segurança Pública 33 2.2 Desenho e funcionamento constitucional da Segurança Pública 36 2.3 Avanços institucionais da Segurança Pública no Brasil 38 3 Política e planos de segurança 55 3.1 Introdução às Políticas Públicas 55 3.2 Políticas para a redução da violência 64 3.3 Políticas e Planos de Segurança Pública 67 4 Prisão e política penitenciária 81 4.1 Criminologias do consenso e do conflito 81 4.2 Justiça Restaurativa 88 4.3 Justiça Restaurativa aplicada aos adolescentes em conflito com a lei 102 5 Prevenção do crime e policiamento comunitário 117 5.1 Polícia e policiamento 117 5.2 Participação da comunidade 121 5.3 Avaliação de políticas em Segurança Pública 126 Gabarito 135 Apresentação O controle social é exercido na sociedade de maneira a conduzir todos a colaborarem com o que é estabelecido para o melhor convívio. A conformidade, conceito a ser estudado nesta obra, é o comportamento esperado em relação às regras que se impõem, enquanto o comportamento de desvio se torna passível de reprimendas. Neste contexto de busca por harmonia social, os seres humanos ao longo dos tempos estabeleceram códigos e normas para orientar costumes, contudo isso não bastou para que as comunidades formadas se respeitassem. Surge então a necessidade de estabelecer instituições, entre elas o próprio Estado, para fazer valer as normas legais. Veremos que o Estado, como o maior e mais poderoso agente de controle social, em sua atuação, se vale da violência física legitimada, conceito que o caracteriza e o torna detentor do monopólio da força. Essa força é delegada aos órgãos de Segurança Pública, que também são alvos de nosso estudo nesta obra por fazerem parte do controle da sociedade. Família, religião e escola são igualmente abordadas em sua relação direta no controle social como instituições que interferem no comportamento das pessoas. Com características próprias, essas instituições atuam de diversas maneiras e são complementares, cada qual com sua importância. Nesse sentido, esta obra está estruturada em cinco capítulos, que partem, no Capítulo 1, da definição de controle social, sua evolução histórica e as instituições que o promovem. Em seguida, no Capítulo 2, apresentamos a Segurança Pública e sua atuação em prol da sociedade. O terceiro capítulo aborda as Políticas Públicas, mais precisamente aquelas que tangem o universo da Segurança. O Capítulo 4 apresenta a criminologia, seus conceitos e teorias. E, por fim, o Capítulo 5 encerra trata de polícia e policiamento, com especial destaque à participação da comunidade nas questões que envolvem a Segurança Pública. Controle social e segurança propõe temáticas que acrescentam muita informação àqueles interessados pelo estudo do Estado, de seus órgãos de controle social e da participação da comunidade no estabelecimento de uma sociedade mais justa e fraterna. Boa leitura! 1 Controle social Na vida em sociedade, espera-se que todos colaborem mutuamente para que o convívio, necessário e obrigatório, seja agradável. Inclusive, as causas primeiras que levaram o ser humano a se agrupar com pares foram, entre outras, a necessidade de afeto, segurança e troca de valores, sejam de ordem material, moral ou de vínculo com a comunidade que se estabelecia, a fim de garantir sua sobrevivência. Toda forma de organização social, contudo, demanda normas a serem seguidas. Imaginemos, por exemplo, o convívio em condomínios residenciais. Cada condômino deve obedecer às regras de boa vizinhança, como retirar o lixo e depositá-lo de maneira adequada; evitar que seus animais de estimação permaneçam ou sujem áreas comuns; guiar seus veículos pelas garagens em velocidade compatível; respeitar os horários para barulhos etc. Pode parecer exagero, mas a vida em comunidade requer, antes, respeito e educação, de modo que a desejada paz social possa ir se estabelecendo. Assim, com a necessidade de organização social, tudo começou. O processo civilizatório foi se instalando e criamos entes, órgãos e ferramentas de controle para administrar as relações nos seus diferentes contextos. Na busca do equilíbrio entre as necessidades individuais e compartilhadas surge o controle social, objeto de reflexão deste capítulo. 1.1 Controle social: conceitos e evolução histórica Para viver em comunidade, a colaboração mútua é um pré-requisito. Há uma expectativa em relação ao comportamento alheio, oriunda de um conjunto de normas previamenteestabelecido, sobre o qual se espera uma atitude cooperativa. Por meio das normas, todos sabem o que esperar uns dos outros. Entretanto, quando não há colaboração por parte de alguns indivíduos do grupo, causando o rompimento das normativas, uma reprimenda ou sanção é requerida, de modo a impedir que problemas relativos a essa atitude se repitam ou agravem. Práticas punitivas, nesse sentido, são aplicadas para desencorajar aqueles dispostos a burlar as regras sociais. Se as normas são quebradas, pode-se interpretar que houve uma traição ao sistema, carecendo de responsabilização para manter o controle social. Aproveitando os ensinamentos de Lakatos e Marconi (1999), vamos imaginar, por exemplo, um grupo de criminosos. Dentro desse grupo, as práticas criminosas são aceitas e consideradas em conformidade com suas normas; porém, essas mesmas práticas são julgadas desvios ou disfunções por aqueles cujos padrões comuns são outros. Dessa forma, chegamos a dois conceitos importantes: conformidade e desvio. Lakatos e Marconi (1999, p. 226-227, grifos nossos) assim definem: Controle social e segurança10 Conformidade seria a ação orientada para uma norma (ou normas) especial, compreendida dentro dos limites de comportamento por ela permitido ou delimitado. Dessa maneira, dois fatores são importantes na conceituação de conformidade: os limites de comportamento permitido e determinadas normas que, consciente ou inconscientemente, são partes da motivação da pessoa. [...] Por sua vez, o comportamento de desvio é conceituado não apenas como um comportamento que infringe uma norma por acaso, mas também como um comportamento que infringe determinada norma para a qual a pessoa está orientada naquele momento, o comportamento em desvio consiste, pois, em infração motivada. Esses conceitos buscam integrar o processo de socialização, que se trata da interiorização (ou não) das normas, dos elementos culturais e sociais por um indivíduo. A seguir, o Quadro 1 apresenta as principais causas da conformidade para melhor ilustrá-la. Quadro 1 – Causas da conformidade Socialização Processo que propicia a interiorização das normas sociais, as quais se integram na estrutura da personalidade. Isolamento Processo por meio do qual a pessoa se adapta às diversas normas e valores em conflito, e aos diferentes momentos e lugares, de tal maneira que a ação apropriada para uma determinada ocasião permanece restrita a ela. Hierarquia Além do fator tempo e lugar, as normas e valores, integrantes de um sistema sociocultural, encontram-se classificados por ordem de precedência. Essa hierarquia permite uma escolha mais adequada, em ocasiões para as quais mais de uma norma pode ser aplicada no mesmo momento e no mesmo lugar. Controle social Quando conhecido, o controle social pode funcionar através da antecipação, pois a pessoa socializada é capaz de prever as consequências de seu comportamento desviado se ferir as expectativas dos demais. Ideologia A ideologia pode reforçar a conformidade de seus membros quando dá um apoio “intelectual” às normas, por meio de uma visão do papel e do lugar do grupo na sociedade (quando as ideologias contestam a validez desse papel, podem dar origem a desvios, no sentido revolucionário). Interesses adquiridos As normas sociais definem não só as obrigações, como também os direitos. Dessa maneira, as possíveis sanções para a conformidade dos membros às normas sociais, que protegem certas vantagens desfrutadas por seus membros, as transformam em vantagens legitimadas, originando a convicção no apoio dado às normas. A expressão interesses adquiridos é, ainda, desprovida de conotações valorativas quando empregada nesse contexto. Fonte: Adaptado de Johnson citado por Lakatos; Marconi, 1999, p. 227. Do Quadro 1, extraímos as principais causas da conformidade que conduzem o indivíduo a manter o comportamento permitido e considerado adequado. Assumindo que o oposto da conformidade é o comportamento de desvio, o Quadro 2, a seguir, indica suas principais causas: Controle social 11 Quadro 2 – Causas dos desvios Socialização falha ou carente O termo falha é avaliatório e seu emprego representa o ponto de vista dos que aceitam as normas em questão. Sanções fracas Se as sanções positivas e negativas, referentes à conformidade e ao desvio, são fracas, perdem muito de seu poder de orientação ou de determinação do comportamento. Cumprimento medíocre das sanções Se as sanções são adequadamente fortes, mas sua aplicação é frequente, sendo poucas as pessoas encarregadas de sua execução, a validade da norma enfraquece. Facilidade de racionalização A racionalização é o processo pelo qual a pessoa que interiorizou as normas sociais justifica seu comportamento em desvio, reconciliando-o com sua autoimagem de pessoa digna de confiança e seguidora das normas sociais. Alcance indefinido da norma Muitas vezes, o alcance ou o limite de uma norma não é claramente definido. Dessa maneira, o comportamento que alguns consideram desviado pode ser defendido pela pessoa como sendo, na realidade, mais legítimo do que o esperado; teríamos, como exemplo, o comportamento dos radicais ou fanáticos. Sigilo das infrações O não descobrimento do comportamento em desvio e, em consequência, o não emprego imediato do controle social tendem a fortalecer a atitude criada por esse desvio. Execução injusta ou corrupta da lei Quando as pessoas encarregadas da manutenção e aplicação da lei não as fazem de maneira justa e equitativa ou quando são, até certo ponto, coniventes com o comportamento desviado de determinados elementos, acabam contribuindo para solapar o respeito pela lei por parte da população. Legitimação subcultural do desvio Através da aprovação do comportamento, desviado ou não conformado, por seus companheiros, o indivíduo é encorajado no desvio das normas da sociedade maior, assim como ocorre em uma quadrilha de ladrões: o que se considera comportamento desviado na sociedade maior é conformidade para o grupo particular. Sentimentos de lealdade para com os grupos em desvio A solidariedade e a cooperação existentes no interior do grupo exercem pressão sobre o indivíduo, a fim de que mantenha sua lealdade, mesmo que não mais aprove ou deseje persistir no comportamento desviado. Fonte: Adaptado de Johnson citado por Lakatos; Marconi, 1999, p. 228-229. Do Quadro 2, extraímos os fatores motivadores dos desvios que conduzem o indivíduo a comportamentos disfuncionais em relação ao grupo com o qual se relaciona. As normas, entretanto, modelam o comportamento das pessoas enquanto o receio da sanção e punição exerce a pressão sobre os indivíduos, a fim de que se mantenham em conformidade com o estabelecido. Os grupos que formam a base social – destacando-se entre eles o Estado, a Igreja, as organizações profissionais, a família, o clube, o bando ou a quadrilha (os pares desviantes que sustentam suas próprias normas), a comunidade e as relações sociais em geral (MACLAVER; PAGE apud LAKATOS; MARCONI, 1999) – contam com sanções e devidas reprimendas em caso de desvio de comportamento. Essas ocorrem segundo o código de normas desses grupos. Controle social e segurança12 A seguir, a Figura 1 ilustra esse exemplo com os elementos citados. Figura 1 – Grupos, códigos e sanções I – Associações constituídas em grande escala II – Associações constituídas em pequena escala III – A comunidade IV – As relações sociais em geral Grupos (base social) Códigos Sanções específicas O Estado A família A comunidade As relações sociais em geral A Igreja O clube As organizações profissionais O bando (gangue) ou a quadrilha a. Código Penal b. Código Civil Código familiar O costume, a moda, as convenções, a etiqueta O código moral (individualizado) Código religioso Normas e regulamentos Códigos profissionais Códigos dos marginais Constrangimento físico por meio de: a. Multa, prisão, morte. b. Indenização de prejuízos ou restituição. Castigodado pelos pais, exclusão da herança (deserdação), perda da preferência. Ostracismo social, perda da reputação, o ridículo. O sentimento de culpabilidade ou degradação. Excomunhão, penitência, perda de prerrogativas, temor à cólera da divindade. Perda da condição de membro, de privilégios. Expulsão (perda da condição de membro), perda do direito de exercer a profissão (com ajuda do código legal). Morte e outras formas de violência. Fonte: Maclaver; Page apud Lakatos; Marconi, 1999, p. 145. As sanções referem-se às penas ou recompensas pela violação ou execução, respectivamente, de uma norma. Desse modo, sanções podem ser positivas quando o indivíduo recebe a aprovação da comunidade onde vive, elogios e premiações; ou negativas, como o Quadro 3 descreve, resumindo- se à exposição do indivíduo a perdas que vão desde o prestígio social e bens materiais até a vida. Nesse sentido, o Quadro 3, a seguir, traz um rol de sanções negativas e suas definições: Controle social 13 Quadro 3 – Sanções negativas Constrangimento físico Violência ou ameaça de violência física. Legalmente, só ao Estado cabe o uso da força, por meio de seu ordenamento jurídico e das organizações, tais como: exército, polícia, tribunais, penitenciárias. A força é exclusivamente para a proteção da sociedade, governo e castigo dos desvios. São exemplos de sanções físicas: prisão, residência vigiada, tortura (ilegal), trabalhos forçados e pena de morte. Sanção econômica Resume-se a perdas econômicas. De modo legítimo, o meio para aplicar tal sanção é o sistema jurídico, a partir de multas, indenização de prejuízos causados, restituição em caso de apropriação indébita, etc. O Estado, clubes e associações profissionais, no caso de impedimento do exercício da profissão, trazem como resultado os prejuízos econômicos, entre outros. Sanção religiosa Refere-se à relação com deuses e espíritos e com a vida após a morte. Baseia-se na aceitação, na crença e no poder do líder religioso. Certos comportamentos são considerados agradáveis aos deuses, enquanto outros não. Quando há o desagrado aos deuses, as sanções podem ser diversas: penitências, excomunhão, perdas dos méritos, ameaça de condenação eterna, reencarnação em uma forma inferior, e assim por diante. Sanção especificamente social São as mais diversas. Amigos, família e comunidades pequenas aplicam, principalmente, as sanções sociais. Variam para cada caso concreto, desde a rejeição até o afastamento e expulsão do grupo – quanto menor o grupo, mais se sente a sanção. O falatório e a fofoca são sanções poderosas; zombaria e olhar de censura também são sanções comuns em pequenos grupos. Nos meios urbanos maiores, essas práticas informais não surtem efeito, sendo necessários outros meios de controle social. Fonte: Adaptado de Lakatos; Marconi, 1999, p. 234-235. O fato de o comportamento adequado ou inadequado receber sanções está diretamente ligado ao tema central deste capítulo: o controle social. Aprofundemos, então, esse conceito. A expressão controle social tem origem na sociologia, designando o conjunto de mecanismos de intervenção, o qual é usado por cada grupo como forma de garantir a conformidade do comportamento dos indivíduos a seus padrões, princípios morais e regras, também correspondendo à própria sociedade em que está inserido (BREUNIG; SOUZA, 2018). Para o filósofo político Norberto Bobbio (apud MARQUES, 2019), há dois tipos de controle social: 1. Controle externo: intervenções diretas acionadas quando os indivíduos não seguem o padrão social estabelecido, deixando-os sujeitos às sanções e punições que garantem o restabelecimento da ordem. O descumprimento das leis gera sanções, por exemplo, que percorrem pagamento de multas, incidência de processos judiciais cíveis, administrativos ou criminais e, até mesmo, a prisão – envolvendo polícia, legitimada pelo Estado para o uso da força, para fazer os indivíduos se sujeitarem aos ditames das leis. 2. Controle interno: forma de controle que faz parte da consciência dos indivíduos, envolvendo regras e normas interiorizadas que se tornam parte da identidade. Suas ações são, portanto, reguladas de acordo com o que foi previamente estabelecido pelas instituições sociais das quais é membro. Diz-se que tal controle opera-se pelo processo de socialização, de início na infância com a família, escola e religião, levando o indivíduo ao controle de seu próprio comportamento, com base nas determinações aprendidas no grupo e incutidas em seu modo de agir correta ou incorretamente, bem ou mal. Controle social e segurança14 Nesse contexto, o controle social se mostra presente tanto nas manifestações do Estado sobre a sociedade quanto nas relações com outras instituições sociais, às quais os indivíduos estão sujeitos ao longo de suas vidas – família, religião, trabalho. Ainda, outro viés conferido ao conceito de controle social tem relação com sua aplicação no campo político. O controle exercido pela sociedade sobre as instituições políticas é a forma de exercer a democracia participativa. Para exemplificar, podemos ver, na Constituição Federal Brasileira (BRASIL, 1988), o artigo 74, parágrafo 2º: “Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União”. O artigo 31, parágrafo 3º, também dispõe: “As contas dos municípios ficarão, durante 60 dias, anualmente à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade nos termos da lei”. Ainda, a população interessada pode criar conselhos para exercer o controle e a fiscalização sobre os serviços públicos prestados pelo ente estatal, como educação, saúde, infraestrutura ou segurança pública. Diante desses conceitos, vamos conhecer, na sequência, as principais instituições que se somam à definição e que podem regular o exercício do controle social sobre o indivíduo. 1.2 Instituições de controle social As instituições sociais correspondem a grupos em que os indivíduos estão arbitrariamente inseridos ou se inserem por vontade própria durante a vida, e que influenciam em seu comportamento e posicionamento social. Para facilitar o entendimento, cabe ressaltar a opinião de Charon (2004, p. 121): Uma instituição [social] é uma tradição importantíssima da sociedade – um tipo de ação, interação, papel ou organização relevantes. Ela é muito valorizada – considerada muito importante para a maioria de nós –, e nos sentimos na obrigação de defendê-la, até mesmo de lutar por ela. Ela representa o que todos nós somos. É também uma verdade importante para nós, já que a maioria a considera a única maneira de atuar nesta sociedade. Ainda, segundo Fichter (apud LAKATOS; MARCONI, 1999, p. 168), instituição social é conceituada como “uma estrutura relativamente permanente de padrões, papéis e relações que os indivíduos realizam segundo determinadas formas sancionadas e unificadas, com objetivo de satisfazer necessidades sociais básicas”. Instituições sociais compõem-se, assim, de grupos formados por indivíduos que têm interesses comuns e se sujeitam às mesmas regras pré-definidas. Elas surgem para atender às necessidades dos indivíduos organizados em grupos e, também, para manter um controle social das atividades de quem nelas está inserido. Para tanto, as instituições sociais têm características que devem ser observadas no momento de sua constituição, conforme ensinam Lakatos e Marconi (1999): • Finalidade, função ou meta: satisfação das necessidades sociais. • Conteúdo relativamente permanente: padrões, papéis e relações entre indivíduos da mesma cultura. Controle social 15 • Estrutura: há coesão entre componentes, em virtude das combinações estruturais de padrões de comportamento; há, também, uma hierarquia-autoridade e subordinação. • Estrutura unificada: cada instituição, apesar de não poder ser completamente separada dasdemais, funciona como uma unidade. • Valores: têm normas que regulam a conduta e a atitude dos indivíduos. Vemos, então, que a instituição social cumpre a função de organizar a sociedade com base em uma estrutura repleta de padrões de comportamento delimitados por norma, valores e finalidades (LAKATOS; MARCONI, 1999). Ela corresponde, portanto, às práticas ou formas de controle social espalhadas por toda coletividade, as quais visam educar sujeitos capazes de viver em sociedade. Para o sociólogo Émile Durkheim, as instituições sociais têm um papel pedagógico, pois ensinam a ser parte da sociedade, cumprindo o papel de socialização. As características e o funcionamento das instituições sociais se relacionam com a construção de um padrão de conduta aos indivíduos que fazem parte da sociedade. Portanto, em uma definição geral, as instituições sociais são um conjunto de regras e procedimentos reconhecidos e sancionados pela sociedade e, para sedimentar nosso entendimento, consideramos como as principais instituições sociais a família, a religião, a educação e o Estado. Passemos a analisá-las, então, separadamente. 1.2.1 Família Para Lakatos e Marconi (1999, p. 171), “a família, em geral, é considerada o fundamento básico e universal das sociedades, por se encontrar em todos os agrupamentos humanos, embora variem as estruturas e o funcionamento”. É ela o primeiro grupo social em que o indivíduo está inserido. Desde o nascimento, a família é a primeira organização social a interferir diretamente no seu comportamento. As regras e ensinamentos sociais, morais e de convivência de uma família já existiam e se faziam obrigatórias mesmo antes de o indivíduo nascer, de modo que ele deverá se adequar a esses preceitos. Devido à sua importância, a família é objeto de proteção pelos Estados em seus ordenamentos jurídicos. A título de exemplo, podemos citar a Constituição Federal Brasileira (BRASIL, 1988) que, em seu artigo 226, disciplina: “A família, base das sociedades, tem especial proteção do Estado”. Nos incisos desse artigo, está disposto o entendimento constitucional sobre a configuração da entidade familiar, assim como o casamento civil ou religioso que, inclusive, possui efeito civil segundo a lei; a união estável entre o homem e a mulher; ou, ainda, a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. No entanto, com a evolução da sociedade, outras configurações familiares já são permitidas pela jurisprudência e ordenamento infraconstitucional. Verifica-se que, na família, as funções principais estabelecidas são de reprodução, para perpetuação da espécie humana; econômica, a fim de assegurar os meios de sobrevivência do grupo; e educacional, na transmissão de valores e padrões culturais da sociedade em que a criança está inserida. A família colabora com o conceito e efetividade do controle social, uma vez que o modo como o exerce é internalizado na consciência do indivíduo e, com isso, passa a moldar sua Controle social e segurança16 convicção do que é certo ou errado, normal ou anormal. Por meio de modelos de comportamento de afeto, amor, lealdade e respeito, a família educa para uma convivência social de qualidade frente à diversidade. 1.2.2 Religião A religião, quando seguida por seus cuidadores e familiares, também é uma das primeiras instituições sociais na qual o indivíduo se insere. Contudo, progressivamente, ele poderá exercer seu livre-arbítrio e, dessa forma, decidir se irá continuar na mesma religião inculturada, procurar outra que melhor corresponda à sua fé ou, até mesmo, não seguir religião alguma – nessa última hipótese, deixa de pertencer a essa instituição social. Encontrada de muitas formas em todas as épocas e sociedades, a religião está associada a crenças que dizem respeito ao sobrenatural, à veneração e ao temor a entidades; por isso, exerce uma forma de controle social sobre os indivíduos também por meio do medo e da culpa, além de seus ensinamentos e dogmas. Segundo Lakatos e Marconi (1999, p. 181), “a instituição religiosa seria o meio pelo qual o homem se ajusta a seu ambiente sobrenatural”, isto é, qualquer coisa em cuja existência acredita. Organizando-se para corresponder a esse ambiente, sujeita-se aos doutrinamentos da religião que orienta sua fé. Nesse mesmo entendimento, Durkheim (apud LAKATOS; MARCONI 1999, p. 181) define religião como “um sistema unificado de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, isto é, a coisas colocadas à parte e proibidas – crenças e práticas que unem numa comunidade moral única todos os que as adotam”. Desse modo, a religião se mostra como um processo de socialização do indivíduo, o qual interioriza a maneira de pensar, de sentir e agir, isto é, o modelo cultural próprio desse grupo no qual se integra. Assim, a religião transmite normas, valores e comportamentos necessários para sua construção e seu bom funcionamento como organismo social. Na religião, as finalidades são transcendentais, como a salvação, ou gerais, como a busca por uma vida próspera. As atitudes dos participantes são subjetivas, despertando sentimentos de temor respeitoso e de reverência em relação ao que é santo. Por meio da religião, procura-se a atuação do mundo sobrenatural, habitado por seres sensíveis aos desejos e sofrimentos humanos. Atitudes como a vingança – exercício direto das próprias razões –, entre outras similares, são contrárias à maioria dos mandamentos das religiões como um todo, de modo a não serem recompensadas. Portanto, a religião atua como forma de controle social, uma vez que transmite ensinamentos que orientam os comportamentos, direcionando-os especialmente ao bem-viver social. Tomando por base atitudes de subordinação, cooperação, temor e obediência, o individuo que da religião faz parte deve portar-se de modo a dignificar sua vida e repassar a seus iguais os ensinamentos aprendidos nesse grupo. Controle social 17 1.2.3 Educação As instituições sociais educacionais são organizações específicas voltadas para a tarefa de socializar o indivíduo, transmitindo-lhe conhecimentos, normas, valores, ideias, ideologias, procedimentos e tradições na formação de sua bagagem cultural. Conforme Durkheim (apud LAKATOS; MARCONI, 1999, p. 221), a educação: é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, em seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine. Tomando como base os ensinamentos de Lenhard (apud LAKATOS; MARCONI, 1999), vemos na educação uma ação intencional que tem por objeto suscitar e desenvolver certo número de estados físicos, intelectuais e morais. Esses são predeterminados pela sociedade para o amadurecimento do educando. A educação é um processo social e global que ocorre em toda a sociedade, abrindo os horizontes para a compreensão da vida em si. O efeito da educação, visto como um todo, é o de aumentar a rapidez com que as diferentes mudanças, tanto tecnológicas quanto materiais, se expandem na sociedade. As instituições educacionais visam a modelos de atitude e comportamentos de ensino, aprendizagem, cooperação e respeito. Assim, contribuem para o controle social. 1.2.4 Estado O Estado é, também, uma instituição social de organização política que exerce o controle social fixando regras de convivência a seus membros, com base na autoridade superior que lhe é dada. Essas regras se referem ao caráter exterior da vida social e não aos comportamentos internalizados pelo indivíduo em sua consciência, os quais ocorrem nas demais instituições sociais que estudamos – família, religião e educação. Conforme ensina Azambuja (1969, p. 4), Todas as demais sociedades têm a organização e a atividade reguladas pelo Estado, que pode suprimi-las ou favorecê-las. Nenhuma delas tem poder direto sobre oindivíduo e só conseguem dele o cumprimento das obrigações assumidas se o Estado as reconhecer, e unicamente esta dispõe legitimamente da força para tornar efetiva a obediência. Por certo, essas sociedades dispõem de meios de coação sobre o indivíduo, mas são meios indiretos. Se ele não cumprir as normas da Igreja a que pertence, fica sujeito a certas consequências de natureza moral, se dela se retira, pode sofrer com a perda da estima de certas pessoas, pode sofrer excomunhão e anátemas. Mas nenhuma outra coação efetiva e direta o atinge. Com o Estado é diferente. Eu não posso furtar às suas decisões senão a preço de uma penalidade. Não posso em nenhum caso importante me subtrair a sua jurisdição. Ele é a fonte última das decisões no meio normal da minha existência, e isso dá à sua vontade uma importância, para mim maior que a dos outros grupos. O Estado pode decidir esmagar-me de impostos, pode Controle social e segurança18 opor-se à prática de minha religião, pode obrigar-me a sacrificar a vida em uma guerra que eu considere moralmente injusta, pode negar-me os meios de cultura intelectual, sem os quais, no mundo moderno, não conseguirei desenvolver minha personalidade. O Estado aparece, assim, aos indivíduos e sociedades, como um poder de mando, como governo e dominação. O aspecto coativo e a generalidade é o que distingue as normas por ele editadas; suas decisões obrigam a todos os que habitam o seu território. Como bem ensina Azambuja (1969), as regras e normas do Estado alcançam e se sujeitam a todos os indivíduos que dele fazem parte. Mesmo se sairmos de um Estado para fugir de seu ordenamento, inevitavelmente entraremos em outro Estado, o qual também terá as suas normas cogentes. Embora essas normas possam ser diferentes, pois cada povo tem sua própria legislação, serão inevitavelmente de cumprimento obrigatório. 1.3 Estado: instituição de controle social O Estado se mostra como a maior e mais contundente forma de controle social. Suas normas e regras geram sanções de caráter exterior ao indivíduo, com o poder de serem coercitivamente aplicadas, seja por meio da coação civil e administrativa ou seja pelo uso legítimo da força, característica dada somente ao Estado. Dessa forma, segundo Azambuja (1969, p. 2), podemos entender que o Estado: é uma sociedade, pois se constitui essencialmente de um grupo de indivíduos unidos e organizados permanentemente para realizar um objetivo comum. E se denomina sociedade política, porque, tendo sua organização determinada por normas de Direito positivo, é hierarquizada na forma de governantes e governados e tem uma finalidade própria, o bem comum. Assim, o Estado é compreendido como uma instituição política baseada no ordenamento jurídico, do qual retira fundamento para legitimar sua força coercitiva e tornar efetiva a obediência dos indivíduos aos seus ditames. O Estado pode ser conceituado como uma organização político-jurídica de uma sociedade, para a realização do bem ou interesse público, com governo próprio e independente, território determinado, soberania e povo. Esses são elementos essenciais que formam o Estado Moderno; no entanto, seu conceito não é imutável, visto que sua configuração se adapta continuamente ao tempo e ao espaço conforme a evolução das sociedades – assim como ocorreu com o Estado Antigo, o Estado Medieval e o Estado Contemporâneo, os quais evoluíram e deram lugar para a formação do atual Estado Moderno. Nesses termos, Dallari (1981, p.104) define Estado como: a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território. Nesse conceito se acham presentes todos os elementos que compõem o Estado, e só esses elementos. A noção de poder está implícita na de soberania, que, no entanto, é referida como característica da própria ordem jurídica. A politicidade do Estado é afirmada na referência expressa ao bem comum, como a vinculação deste a um certo povo e, finalmente, a territorialidade, limitadora da ação jurídica e política do Estado, está presente na menção a determinado território. Controle social 19 Desse modo, vamos estudar, a seguir, os elementos essenciais que formam um Estado (sem os quais ele não existiria), assim como a sua finalidade, seus tipos e sua formação em governos. Esse estudo se valida na importância do entendimento pleno do tema para que os conceitos não se confundam com os chamados elementos do Estado que, por sua vez, podem ser confundidos com o próprio Estado. 1.3.1 Elementos do Estado O primeiro elemento é o povo. Subjetivo do conceito de Estado, o elemento povo é necessário para sua constituição e existência. Nesse contexto, convém distinguir população de nação e povo, pois não correspondem à mesma coisa. População se refere ao conjunto de pessoas que, numérica, demográfica ou economicamente, vivam no território do Estado ou nele estejam, ainda que temporariamente. Não é exigido vínculo jurídico especial dessas pessoas para com o Estado, a fim de que se incluam em sua população; portanto, não são formadores da vontade do Estado. Nação também não se firma na existência de vínculos jurídicos e não se confunde com o Estado sendo, portanto, “uma expressão usada para indicar origem comum, ou comunidade de nascimento, [que] não perdeu total significado, indicando, segundo Miguel Reale, uma comunhão formada por laços históricos e culturais e assentada sobre um sistema de relações de ordem objetiva” (DALLARI, 1981, p. 85). O conceito de povo está ligado a um vínculo jurídico, conforme ensina Dallari (1981, p. 88): Deve-se compreender como povo o conjunto dos indivíduos que, através de um momento jurídico, se unem para constituir o Estado, estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, participando da formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano. Essa participação e este exercício podem ser subordinados, por motivos de ordem prática, ao atendimento de certas condições objetivas, que assegurem a plena aptidão do indivíduo. Todos os que se integram no Estado, através da vinculação jurídica permanente, fixada no momento jurídico da unificação e da constituição do Estado, adquirem a condição de cidadãos, podendo-se, assim, conceituar o povo como o conjunto dos cidadãos do Estado. Dessa forma, o indivíduo, que no momento mesmo de seu nascimento atende aos requisitos fixados pelo Estado para considerar- se integrado nele, é, desde logo, cidadão. Mas o Estado pode estabelecer determinadas condições objetivas, cujo atendimento é pressuposto para que o cidadão adquira o direito de participar da formação da vontade do Estado e do exercício da soberania. O segundo elemento essencial do Estado é o território, que se constitui no limite físico do poder jurídico do Estado. É a porção na Terra ocupada por um Estado, onde este exerce sua jurisdição e faz uso de seus recursos materiais. No que concerne à natureza da relação jurídica entre o território e o Estado, não se configura como de propriedade, pois o território é um elemento integrante do Estado, assim como os demais elementos. Desse modo, Azambuja (1969, p. 46) entende que: Controle social e segurança20 O Estado exerce o poder sobre seu território e sobre as pessoas que nele se encontrem, sejam elas nacionais ou estrangeiras. As leis de cada Estado são obrigatórias em relação a todos os indivíduos que estão em seu território. Mas quando se procura definir a natureza jurídica da relação que possa existir entre o Estado e o território, acumulam-se as divergências dos autores. […] A maioria dos escritores propende a ver na relação entre Estado e território, não um domínio, um direito de propriedade, e sim um vínculo de natureza diversa, um imperium, como diziam os romanos, que se exerce diretamente sobre as pessoas e, através delas, sobre o território. O terceiro elemento essencial do Estado é a soberania, isto é, o poder estatal supremo, dotado de coação irresistível em relação aos indivíduose grupos que formam sua população, também independente em relação ao governo de outros Estados. Sobre a soberania, Azambuja (1969, p. 49, grifos do original) diz: há sociedades que possuem um território, um governo e, no entanto, não são Estados. Um município, por exemplo, tem território, população, governo, e não é um Estado, do mesmo modo que as províncias em que se dividem certos países. O poder próprio do Estado apresenta um caráter de evidente supremacia sobre os indivíduos e as sociedades de indivíduos que formam sua população, e, além disso, é independente dos demais Estados. A esse poder peculiar ao Estado, a essa potestade, os escritores clássicos denominavam summa potestas ou soberania. O conceito de soberania tem vários entendimentos de doutrinadores e varia conforme a evolução no tempo. Dessa forma, vamos nos apegar à concepção política de soberania dada por Reale (apud DALLARI, 1981), que a afirma superior às demais por compreender e integrar os conceitos social, jurídico e político de poder. Para o autor, portanto, soberania é “o poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência” (REALE apud DALLARI, 1981, p. 71). Logo, a soberania mostra-se como monopólio da regulamentação da força dentro de suas fronteiras, cabendo somente ao Estado a autoridade, ou seja, poder legítimo, para regulamentar o uso da força: manipulação física, aprisionamento ou execução dos indivíduos. No entanto, deve ser exercida com finalidade de buscar o bem comum, em conformidade com os fins éticos de convivência. Esse poder, a soberania, tem características que todos os estudiosos reconhecem (DALLARI, 1981), conforme demonstrado no quadro a seguir. Controle social 21 Quadro 4 – Características da soberania Característica Definição Una Só existe uma soberania por Estado, não cabendo a convivência de mais de um poder superior no mesmo Estado. Indivisível Aplica-se à universalidade dos fatos ocorridos no Estado. Não se refere à divisão de poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), que são distribuições de funções estatais. Inalienável Sem ela, haverá o desaparecimento de quem a detém. Imprescritível Jamais seria verdadeiramente superior se tivesse prazo de validade. É permanente e só desaparece se forçada por vontade superior. Originária Por nascer com o Estado e por ser um atributo inseparável deste. Exclusiva Só ao Estado pertence. Incondicionada Os limites são postos pelo próprio Estado. Coativa No seu desempenho, o Estado não só ordena, mas também dispõe de meios para fazer cumprir suas ordens coativamente. Vontade comandante Superior a todas as demais vontades que se encontrem no território submetido a ela. Fonte: Adaptado de Dallari, 1981, p. 71. Por fim, o titular da soberania é o povo, elemento subjetivo do conceito de Estado. Somente o elemento humano é capaz de vontade e ação. Porém, esse poder é exercido pelo Estado, que é a expressão jurídica do povo. 1.3.2 Finalidade do Estado Vimos a conceituação de Estado, seus elementos essenciais, de modo que ainda falta saber qual é a finalidade do Estado. Desse modo, questionemos: por que ele existe? o Estado, como sociedade política, tem um fim geral, constituindo-se em meio para que os indivíduos e as demais sociedades possam atingir seus respectivos fins particulares. Assim, pois, pode-se concluir que o fim do Estado é o bem comum, entendido este como o conceituou o Papa João XXIII, ou seja, o conjunto de todas as condições de vida social, que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana. […] O Estado busca o bem comum de um certo povo, situado em determinado território. Assim, pois, o desenvolvimento integral da personalidade dos integrantes desse povo é que deve ser o seu objetivo, o que determina uma concepção particular de bem comum para cada Estado, em função das peculiaridades de cada povo. (DALLARI, 1981, p. 94, grifos nossos) A busca pelo bem comum ou pelo interesse público é a finalidade de todo e qualquer Estado, uma vez que são criados para favorecer ao seu povo a realização de uma vida melhor ou seu aperfeiçoamento físico, moral e intelectual. Não se trata de um bem individual ou da realização de aspirações pessoais, mas sim do bem público de todos os sujeitos que compõem o Estado, sem beneficiar ninguém em particular. Controle social e segurança22 Deve-se entender o bem comum, público, como um conjunto de condições indispensáveis para que todos os membros do Estado, no limite do possível, atinjam livremente a satisfação de suas necessidades legítimas. Essas necessidades não são imutáveis, variam no tempo e em relação a cada Estado. Aquilo que os brasileiros entendem por necessidade não terá a mesma significação, por exemplo, para os sauditas, os russos, os americanos. Assim, para Azambuja (1969, p. 123), o bem público: É obra da inteligência, critério e descortino, de arte política, a sua realização pelos governantes. E não depende exclusivamente dos governantes, senão também dos governados. Todo o indivíduo tem o dever de cooperar para a sua realização, cumprindo obrigações e deveres para com o Estado e a pátria. Essas obrigações e deveres não podem ficar ao arbítrio nem dos particulares nem das autoridades, mas devem ser a expressão da consciência social, e definidos claramente e juridicamente, através do que se denomina Direito Individual e Direito Social. Aqueles são obrigações negativas do Estado, o que ele não pode fazer, para não perturbar o aperfeiçoamento do indivíduo; estes, são obrigações positivas, tanto para o Estado como para os indivíduos: é o que o Estado deve fazer para que o indivíduo coopere eficazmente na realização do bem público. Para a realização do bem público, o Estado deverá criar condições para que o indivíduo viva em harmonia e solidariedade com os demais, desenvolvendo suas aptidões físicas, morais e intelectuais. Assim, segurança e progresso seriam o fim do bem público, de modo que o “Estado terá, portanto, como objetivo satisfazer a necessidade de segurança protegendo os direitos dos associados; satisfazer a necessidades de progresso auxiliando os cidadãos a se aperfeiçoarem” (AZAMBUJA, 1969, p. 127). Nesse contexto, vale conhecer a dupla função do Estado, descrita na figura a seguir. Figura 2 – Dupla finalidade do Estado Estado Função da justiça de que é guardião: custus legis; missão de tutelar. 1º) Proteção Função de utilidade pública, sua missão civilizadora. 2º) Assistência Fonte: Adaptado de Azambuja, 1969, p. 127. Ainda, torna-se interessante citar o posicionamento de Lakatos e Marconi (1999) quanto à finalidade do Estado, presente no quadro a seguir. Controle social 23 Quadro 5 – Finalidade do Estado Finalidade Definição Garantir a soberania Direito de manter seu próprio governo, elaborar suas próprias leis e administrar os negócios públicos sem interferência de outros Estados; manter a ordem interna e a segurança externa, a integridade territorial e o poder de decisão. Ao Estado, em virtude de sua autoridade e poder supremo, cabe o monopólio legítimo da força. Manter a ordem Estado diferencia-se das demais instituições por ser o único que se encontra investido de poder coercitivo, proibindo uma série de atos ou obrigando os cidadãos a agirem de uma ou de outra maneira, por meio das leis ou da força física. A coerção tem como objetivo propiciar um ambiente de ordem, preservando os direitos individuais ou coletivos. As leis estabelecem, portanto, o que deve ou não ser feito, além do que pode ser feito, e prescrevem as punições por sua violação. O Estado é, pois, a instituição autorizada a decretar, impor, administrar e interpretar as leis na sociedade moderna. Promover o bem-estar social Seria o mesmo conceito de bem público. Sua promoção pelo Estado ocorre por meio da realização da segurança e do progresso. Fonte: Adaptado de Lakatos; Marconi, 1999,p.191. Dessa forma, vimos que a finalidade do Estado está na garantia e promoção do bem comum. Para realizar esse intento, ele deve usar de sua autoridade e poder soberano dentro de uma ordem jurídica predeterminada pelos indivíduos que o compõem. 1.3.3 Governo e formas de governo Um dos elementos essenciais para a formação do Estado, a soberania – ou melhor, o poder ou a autoridade – nos leva ao entendimento de governo e suas formas. Desse modo, de acordo com Azambuja (1969, p. 204): O poder ou autoridade, que se denomina também governo, tem sido realmente a base das classificações antigas e modernas. As diversas formas de governo, o modo pelo qual o poder se organiza e se exerce, permite agrupar os Estados em seu modo de ser substancial, determinando a situação jurídica e social dos indivíduos em relação à autoridade. As formas de governo são formas de vida do Estado, revelam o caráter coletivo do seu elemento humano, representam a reação psicológica da sociedade às diversas e complexas influências de natureza moral, intelectual, geográfica, econômica e política através da história. O governo é visto, então, como a forma com a qual se exerce o poder ou a autoridade em um Estado, influenciando diretamente na vida dos indivíduos que o compõem. As formas de governo são, na prática, modalidades de organização do poder político do Estado. Nos Estados Modernos, as formas de governo mais comuns são a monarquia e a república, as quais explicamos a seguir: • Monarquia: forma de governo em que o poder está centralizado em um indivíduo, sendo este a mais elevada representação da vontade jurídica do Estado, independente de outras vontades. Há a figura do rei/soberano, que herda o poder e o mantém até a morte. Diz-se a Controle social e segurança24 monarquia como sistema político em que o cargo de chefe do Poder Executivo é vitalício, hereditário e irresponsável. • República: sistema político em que o cargo de chefe do Poder Executivo é temporário, eletivo e responsável. Ainda, nesse sistema, há a existência dos três poderes constitucionais, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, que exercem funções independentes e harmônicas entre si. Em relação às formas de governo podemos encontrar, ainda, a sua divisão em modalidades de organização do poder político, destacadas no quadro a seguir: Quadro 6 – Modalidades de organização do poder político Quanto à origem do poder Governos democráticos ou populares O poder emana do povo, que governa direta ou indiretamente. Por meio de seus representantes, manifestam sua vontade através do voto. É o governo do povo e para o povo. Governos de dominação Juridicamente, o poder não pertence ao povo, que não tem o direito de dirigi-lo. Os governantes não são representantes do povo; governam por direito próprio, são autocratas. Como exemplo, citamos o governo exercido por uma entidade sobrenatural, como nas teocracias; ou, ainda, o governo exercido por um indivíduo que o teria conquistado, adquirido ou recebido de uma divindade. Quanto à organização, ou seja, quanto ao modo pelo qual os governantes se investem ou são designados para o poder Governos de fato Quando o poder foi tomado à força, por uma revolução ou golpe de Estado, a assunção ao poder se deu por meios ilegais, contrários às normas impostas por uma Constituição do Estado. Governos de direito O governante assume o cargo e as responsabilidades conforme prescreve a Constituição do Estado, dentro da legalidade e seguindo as normas impostas para tal ato. Esse tipo de governo pode ser por hereditariedade, como acontece nas monarquias, ou por eleição, como se dá nas democracias. Quanto ao exercício do poder Governos absolutos São aqueles que não obedecem às normas jurídicas previamente determinadas, seja a Constituição do Estado ou qualquer lei. Governos constitucionais Tiram seu fundamento do exercício do poder das normas constitucionais do Estado e das leis estabelecidas. Fonte: Adaptado de Azambuja, 1969, p. 209-210. Como vimos, o poder, quando dito político, organiza-se de acordo com a origem, sendo exercido por governos democráticos ou de dominação, governos de fato ou de direito e governos absolutos ou constitucionais. Controle social 25 1.3.4 Tipos de Estado Nesta subseção vamos verificar que, no que se refere à divisão do poder, os Estados podem ser de dois tipos: exercido apenas por um órgão central, tipo simples/unitário, ou exercido por uma divisão interna de órgãos, tipo composto. Vejamos a seguir: Figura 3 – Tipos de Estado Simples ou unitário É aquele que não divide internamente o seu poder; possui uma organização política única, concentrada em um governo e poder. Há subdivisão interna, apenas de caráter administrativo, em comunas, departamentos e províncias – são tidas por delegações do órgão central que as controlam e fiscalizam. Em todo território só há um governo estatal, que dirige a vida política e administrativa. Exemplos: Uruguai, Itália e França. Composto Federação ou Estado Federal Confederação de Estado São divisíveis em partes internas que recebem o nome de Estados, unidos entre si por um vínculo de sociedade da seguinte forma: Estado formado pela união de vários Estados, que perdem a soberania em favor da União Federal, a qual representa a todos no direito internacional como sendo um Estado unitário. A Federação é detentora da soberania externa e interna. A representação política é exercida simultaneamente e harmonicamente sobre o mesmo território. Exemplo: Estados Unidos da América e Brasil. União permanente e contratual de Estados independentes, com os objetivos de defender o território da confederação, assegurar a paz interior, entre outros. Cada Estado mantém sua soberania externa e autonomia interna. Há uma liderança unificada, que pode ter suas decisões discordadas pela confederação e, ainda, há o direito de secessão, ou seja, rompimento do pacto e separação. Fonte: Adaptado de Lakatos; Marconi, 1999, p. 195. Com base nessas informações, percebemos que o poder pode ser uno, exercido completamente por um governo central, ou pode ser dividido em entes, denominados Estados, que detêm autonomia interna, mas, mesmo assim, são sujeitos à soberania do ente central – no caso do Brasil, a União. 1.3.5 Separação dos Poderes Ao falarmos do Estado, vimos que seu poder ou autoridade é manifestado por meio do governo, que organiza o poder político. Nesse contexto, o poder político do Estado, que é uno, indivisível e indelegável, é exercido por órgãos do governo e manifestado por meio de funções Controle social e segurança26 distintas, e extremamente importantes. Elas têm a finalidade de distinguir os poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário, de modo que esses poderes não se concentrem apenas em um único representante, evitando governos absolutos. Estamos falando, de acordo com Dallari (1981), da Teoria da Separação dos Poderes que, por meio dos ensinamentos de Motesquieu, se incorporou ao constitucionalismo e foi concebida para assegurar a liberdade dos indivíduos. Assim, as funções exercidas pelos poderes separados são: Quadro 7 – Divisão dos Poderes segundo Motesquieu Divisão dos Poderes Exercido Legislativa Poder Legislativo, por meio da Câmara de Deputados, Senado, Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais e outros. Consiste na edição de regras gerais, abstratas, impessoais e inovadoras da ordem jurídica, denominadas leis. Executiva Poder Executivo, através de Presidentes, 1º Ministro, Governadores, Prefeitos. Segundo Silva (2001, p. 112), “a função executiva resolve problemas concretos e individualizados, de acordo com as leis; não se limita à simples execução das leis, como às vezes se diz; comporta prerrogativas, e nela entram todos os atos e fatos jurídicos que não tenham caráter geral e impessoal; por isso, é cabível dizer que a função executiva se distingue em função de governo, com atribuições políticas,colegislativas e de decisão, e função administrativa, com suas três missões básicas: intervenção, fomento e serviço público”. Judiciária Poder Judiciário, por meio dos tribunais judiciais. No Brasil, temos o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os tribunais especializados de acordo com a matéria que lhe é afeta, chamados de Tribunais Superiores, e os tribunais de justiça nos estados membros. Sua função corresponde a plicar o direito aos casos concretos, a fim de dirimir conflitos de interesses. Fonte: Adaptado de Dallari, 1981, p. 191. Para entendermos em que se fundamenta essa divisão de poderes, vejamos o ensinamento de Silva (2001, p. 113): A divisão de poderes fundamenta-se, pois, em dois elementos: (a) especialização funcional, significando que cada órgão é especializado no exercício de uma função; assim, às assembleias (Congresso, Câmaras, Parlamentos) se atribui a função legislativa; ao Executivo, a função executiva; ao Judiciário, a função jurisdicional; (b) independência orgânica, significando que, além da especialização funcional, é necessário que cada órgão seja efetivamente independente dos outros, o que postula ausência de meios de subordinação. Trata-se, pois, como se vê, de uma forma de organização jurídica das manifestações do Poder. Vimos, então, que na concepção de Estado o governo é a forma de exercício do poder e que esse poder, para uma melhor organização jurídica de sua manifestação, é dividido entre os órgãos que compõem esse mesmo governo e que exercem as funções legislativa, executiva e jurisdicional. Controle social 27 1.3.6 Estado Democrático de Direito Considerado um dos fundamentos da República, o Estado Democrático de Direito consta no caput do artigo 1º da Constituição Federal Brasileira (BRASIL, 1988): “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito”. Desse importante artigo da Magna Constituição retiramos que, no Brasil, temos um Estado Federalista, Republicano, Presidencialista e Democrático. O conceito de Estado Democrático de Direito consta, também, em Constituições de outros países, como Portugal, França e Itália. Sobre isso, ensina Coelho (2009, p. 171): entende-se como Estado Democrático de Direito a organização política em que o poder emana do povo, que o exerce diretamente ou por meio de representantes, escolhidos em eleições livres e periódicas. Mediantes sufrágio universal e voto direto e secreto, para o exercício de mandatos periódicos, como proclama, entre outras, a Constituição brasileira. Mais ainda, já agora no plano das relações concretas entre o Poder e o indivíduo, considera-se democrático aquele Estado de Direito que se empenha em assegurar aos seus cidadãos o exercício efetivo não somente dos direitos civis e políticos, mas também e sobretudo dos direitos econômicos, sociais e culturais, sem os quais de nada valeria a solene proclamação daqueles direitos. Ainda, complementando o referido conceito, Silva (2001, p. 125) alerta que: O princípio da legalidade é também um princípio basilar do Estado Democrático de Direito. É da essência do seu conceito subordinar-se à Constituição e fundar- se na legalidade democrática. Sujeitar-se, como todo Estado de Direito, ao império da lei, mas da lei que realize o princípio da igualdade e da justiça não pela sua generalidade, mas pela busca da igualização das condições dos socialmente desiguais. Deve, pois, ser destacada a relevância da lei no Estado Democrático de Direito, não apenas quanto ao seu conceito formal de ato jurídico existente, mas também à sua função de regulamentação fundamental, produzida segundo um procedimento constitucional qualificado. A lei é efetivamente o ato oficial de maior realce na vida política. Ato de decisão política por excelência, é por meio dela, em quanto emanada da atuação da vontade popular, que o poder estatal propicia ao viver social modos predeterminados de conduta, de maneira que os membros da sociedade saibam, de antemão, como guiar-se na realização de seus interesses. Assim, de modo sucinto, o Estado Democrático de Direito configura-se pelo poder exercido pelo povo e para o povo, em que o Estado, assim como seu povo, se sujeita aos imperativos das leis. Contudo, a ele é permitido fazer somente aquilo que a lei permite expressamente, enquanto ao povo é permitido fazer aquilo que a lei não proíbe, partindo-se do entendimento sobre o princípio da autonomia da vontade. Controle social e segurança28 1.4 Monopólio da violência legitimada Os estudos desenvolvidos por Max Weber1 são de grande interesse para o entendimento do controle social, uma vez que se voltam ao Estado Moderno. Por essa razão, da obra de Weber (2011), intitulada Ciência e política: duas vocações, vamos abordar o texto “A política como vocação”, que é resultado de uma conferência proferida pelo autor e que nos levará ao ponto que desejamos, ou seja, à reflexão sobre Estado versus violência. Para clarificar nosso entendimento, vamos destacar elementos do texto de Weber (2011). O primeiro deles refere-se à definição de política: “Que entendemos por política?”. O cientista aponta ser um conceito amplo, que abrange todas as espécies de atividades, como: • Política de um banco. • Política de descontos. • Política de um sindicato durante uma greve. • Política escolar de uma comunidade urbana e de uma comunidade rural. Analisando a abrangência do significado de política, o autor apresenta uma definição sintética: “Entenderemos por política apenas a direção do agrupamento político hoje denominado ‘Estado’ ou a influência que se exerce em tal sentido” (WEBER, 2011, p. 66). Compreendemos, nessa definição, que política significa a liderança ou, ainda, a influência sobre a liderança de um Estado. Weber (2011) vincula a ideia de política ao Estado e, com isso, conclui-se que não há, no conceito weberiano, como separar ambos. Nesse viés, em qual aspecto o conceito de agrupamento político se confunde com o de Estado? O autor questiona novamente: “O que é um Estado?”. Eis o ponto central da obra de Weber, quando ele define Estado da seguinte forma: “o Estado não se deixa definir a não ser pelo específico meio que lhe é peculiar, tal como é peculiar a todo outro agrupamento político, ou seja, o uso da coação física” (WEBER, 2011, p. 66, grifo do original). Da leitura, depreendemos que a violência não é a única ferramenta de que se vale o Estado, porém é a principal delas e o uso dessa força está vinculada ao próprio processo civilizatório. Caso o Estado não estivesse estabelecido, para Weber (2011), teríamos a anarquia. Alertava o autor, já na sua época, que a relação entre Estado e violência é íntima. Sobre isso, podemos extrair a seguinte informação de seu intelecto: devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humano que, dentro dos limites de determinado território – a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado – reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. (WEBER, 2011, p. 67, grifos do original) 1 Max Weber nasceu em Erfurt, Turíngia, Alemanha, em 21 de abril de 1864. Estudou Direito, História, Economia e Filosofia. Serviu o exército por um ano. Aprendeu espanhol e italiano. Foi advogado, mas se dedicou posteriormente à carreira acadêmica. Entre seus escritos está a obra A Ética Protestante e o Espírito Capitalista (1905). Seus trabalhos foram fundamentais para a Sociologia. Controle social 29 Concordamos com o autor que não podemos admitir que outro grupo político, que não seja o Estado, use de força. É admitido, então, que apenas o Estado, em nome de seu povo, se consolida como o único a ter o “direito” de usar da violência, quando legitimada. Nessa senda, vamos somando a nosso entendimento que política, como vimos, é a liderança e a influência sobre a liderança do Estado, conceitos que se relacionam à ideia de poder.Portanto, quem exerce a política, exerce influência, decisão e poder. Assim, o Estado estabelece uma relação de dominação, fundada na violência física considerada legítima; Weber (2011) conclui que o Estado só pode existir se os dominados se submeterem à autoridade. Para que haja a legitimidade da autoridade, Weber (2011) nos apresenta três fundamentos, explorados no quadro a seguir: Quadro 8 – Fundamentos que legitimam a autoridade Fundamento Definição Poder tradicional A autoridade do “passado eterno”, dos costumes santificados pela validez imemorial e pelo hábito, enraizado dos homens, de respeitá-los. O patriarca, ou o senhor das terras, é um exemplo. Poder carismático Autoridade que se funda nos dons pessoais e extraordinários de um indivíduo (carisma) – devoção e confiança estritamente pessoais depositadas em alguém que se singulariza por qualidades prodigiosas, por heroísmo ou por outras habilidades exemplares que dele fazem o chefe. Por exemplo: o profeta, o guerreiro, o demagogo político. Poder da legalidade Autoridade que se impõe pela legalidade, em razão da crença de um estatuto legal e de uma competência positiva, fundada em regras racionalmente estabelecidas; ou, em outros termos, a autoridade fundada na obediência, que reconhece obrigações conformes ao estatuto estabelecido. Por exemplo: o servidor do Estado. Fonte: Adaptado de Weber, 2011, p. 68. Torna-se dispensável dizer que a obediência pode ocorrer por várias motivações, entre elas o medo – seja de forças “mágicas” ou das autoridades que exercem a política –, a influência e a esperança de recompensa. Weber (2011, p. 69), sobre isso, afirma: “Seja como for, cada vez que se propõe interrogação acerca dos fundamentos que ‘legitimam’ a obediência, encontram-se, sempre e sem qualquer contestação, essas três formas, ‘puras’ que acabamos de indicar”. A questão que ainda se mantém relevante, nesse contexto, é: como o Estado exerce essa violência legítima a que estamos nos referindo até agora? A resposta soa simples: por meio de seus órgãos de segurança pública, legitimados pelo Estado para tal mister. Desse modo, nunca vamos admitir que o transgressor use a força, pois o entendimento será de que o marginal o estará fazendo de maneira ilegal, por óbvio, e também sem a aceitação (legitimação social), ocorrendo a intimidação do indivíduo por meio da força ilegítima – aí teremos a violência pura, e não força. Controle social e segurança30 Por outro lado, o cidadão reconhece no policial a legalidade e a legitimidade para fazer cumprir a legislação dentro dos seus limites. Isso porque o policial pode e deve usar a força proporcional para conter qualquer ameaça à Ordem Pública, assim como à segurança individual e coletiva dos cidadãos. Com base nessa reflexão inicial podemos verificar que o Estado, detentor do monopólio, por meio da força física legitimada, como preferimos chamar, é responsável inclusive pelo processo civilizatório. No próximo capítulo, vamos abordar os órgãos, que, mais do que autorizados pelo Estado, são obrigados por ofício a fazer uso da força física legítima para salvaguardar vidas. Considerações finais Com base no que estudamos, podemos perceber que todas as atividades humanas estão condicionadas a certo controle, caracterizado pela presença de alguma instituição que nos molda e direciona. Família, religião, escola e a mais poderosa instituição, o Estado, fazem parte de nosso cotidiano. Mesmo que possamos nos imaginar livres do controle social, vamos concluir que isso é impossível. Ao sairmos de um Estado, estaremos sujeitos às normas de outro. Quanto às demais instituições, podemos também deixá-las e buscar outras, mas vamos ter de nos adaptar de qualquer modo; inclusive, estaremos sujeitos às regras da natureza, se o isolamento for a escolha. Assim, verificamos que somos guiados a nos subordinar, de alguma maneira, se quisermos fazer parte de uma sociedade. No processo civilizatório, e para este também, transferimos parte de nossos direitos e de nossa força ao Estado, detentor de força e, se necessário, de violência, para fazer valer a vontade da coletividade. Nossa força transferida ao ente estatal pode e será usada para garantir direitos e impor vontades, desde que legitimada pela maioria dos cidadãos por intermédio dos órgãos constitucionalmente previstos, conforme veremos nos próximos capítulos. Ampliando seus conhecimentos • MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Florença: LCC Publicações Eletrônicas. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_ obra=24134. Acesso em: 22 out. 2019. Para ampliar ainda mais seu conhecimento em relação ao controle social, sugerimos a leitura de O Príncipe (1532). O autor Nicolau Maquiavel, filósofo, historiador, poeta, músico e diplomata, é o fundador da ciência política moderna por ter escrito sobre Estado e Governo. • ROUSSEAU, J-J. Do contrato social. Edição eletrônica de Ridendo Castigat Mores. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm. do?select_action=&co_obra=2244. Acesso em: 22 out. 2019. O livro Do contrato social (1762) tornou-se conhecido como a “Bíblia da Revolução Francesa”, pois discorre sobre pacto social, soberania, Estado, formas de governo e temas correlatos. Controle social 31 Atividades 1. Defina as expressões: a) Conformidade. b) Desvio. 2. Defina controle social. 3. De acordo com Lakatos e Marconi (1999), quais são as características das instituições sociais que devem ser observadas no momento de sua constituição? 4. O ponto central da Max Weber, em A política como vocação (2011), refere-se ao monopólio do uso da violência legítima. Discorra sobre esse monopólio. 5. Defina Estado segundo Azambuja (1969). 6. No Estado Moderno, quais são as duas formas de governo mais comuns? Defina-as. Referências AZAMBUJA, D. Teoria Geral do Estado. 5. ed. Porto Alegre: Globo, 1969. BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 23 out. 2019. BREUNIG, A. E.; SOUZA, V. Sociologia do crime e da violência. Curitiba: InterSaberes, 2018. CHARON, J. M. Sociologia. São Paulo: Saraiva, 2004. COELHO, I. M. Fundamentos do Estado de Direito. In: MENDES, G. F.; COELHO, I. M.; BRANCO, P. G. G. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. DALLARI, D. de A. Elementos de teoria geral do Estado. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1981. DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. Lisboa: Presença, 2004. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Sociologia geral. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1999. MAQUIAVEL, N. O príncipe: com notas de Napoleão Bonaparte. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. MARQUES, V. B. dos R. Controle social: entenda este conceito fundamental da Sociologia. Blog do ENEM. Disponível em: https://blogdoenem.com.br/controle-social-sociologia/. Acesso em: 22 out. 2019. MONTESQUIEU, C-L. de S. O espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 1996. SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros Editores, 2001. WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. 18. ed. São Paulo: Cultrix, 2011. 2 Segurança Pública As informações que acessamos por meios formais ou informais de comunicação têm grande influência sobre nossas percepções. Por essa razão, opiniões a respeito da Segurança Pública podem não corresponder à realidade devido à disposição de informações sensacionalistas ou tendenciosas para o consumo imediato, especialmente em canais não oficiais como as redes sociais. Neste capítulo, apresentamos dados de cunho histórico, legislativo e outros que envolvem a Segurança Pública de modo geral. Objetiva-se, com isso, favorecer uma interpretação adequada da relação entre a Segurança Pública e o comportamento humano. Assim, fica o convite para você continuar conosco nessa jornada, que apenas começa nesta obra,mas não tem fim. 2.1 Concepções de Segurança Pública Para compreender e ampliar a percepção de um conceito, é importante o contato com diferentes concepções a respeito dele. Esse é um dos pontos de nosso interesse, ou seja, perceber melhor a Segurança Pública e sua importância para a qualidade de nossas vidas. Quando nos propomos a estudá-la, temos de saber que a Segurança Pública envolve várias áreas do conhecimento, visitando as ciências humanas e exatas. Os caminhos a percorrer nos estudos que envolvem a segurança das pessoas vão muito além do senso comum ou do que se apresenta na mídia e em bancos acadêmicos. Ao pensar em segurança, o que está sendo considerado é a preservação da vida, da integridade física, do patrimônio e, ainda mais, dos valores relativos ao Estado, à pátria e à nação. A segurança não apenas está relacionada a tantos direitos importantes no debate nacional, como educação, saúde, meio ambiente, transporte e habitação, mas também se faz meio para a garantia deles. Portanto, a segurança é primordial para o exercício pleno da cidadania. O Estado, na condição de soberano, tem a missão de proteger e garantir atendimento às necessidades básicas dos cidadãos. Deve, inclusive, proteger a si próprio, tendo em vista que um Estado fraco certamente cederia a investidas gananciosas. Por isso, para garantir sua soberania e o interesse do povo, o Estado toma o monopólio da violência física legítima, isto é, pautada na lei, e a transfere para seus órgãos, os quais assumem o poder/dever de defender a União e seus Estados-membros, que compõem a Federação Brasileira. Nesse sentido, vamos discorrer um pouco sobre as instituições nacionais – forças militares e civis – responsáveis pela proteção da soberania nacional, que também atuam em prol da preservação da paz e da ordem pública, bem como de suas ferramentas de defesa. Controle social e segurança34 2.1.1 Forças Armadas do Brasil: Marinha A mais antiga de nossas três Forças Armadas é a Marinha do Brasil1. Ela teve participação em importantes momentos de proteção à soberania brasileira, inclusive na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando, mesmo em situação material precária devido ao abandono por parte dos governos, cumpriu a sua missão com esmero. Atualmente, a força marítima brasileira mantém a qualidade do poder naval em tempo de paz, representando elemento dissuasor, respaldado na ação política do governo no campo das relações internacionais na defesa da pátria. 2.1.2 Forças Armadas do Brasil: Exército Brasileiro O Exército Brasileiro2 é responsável, externamente, pela defesa do país em operações terrestres e, internamente, pela garantia da lei, da ordem e dos poderes constitucionais. Enquadrado no Ministério da Defesa, ao lado da Marinha e da Força Aérea, o Exército Brasileiro está constantemente se preparando para situações de conflito ou guerra, atuando na defesa das fronteiras e em outras missões, como as de cunho assistencial e de pesquisas. A história do Exército Brasileiro começa, mais precisamente, com a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822. Entretanto, mobilizações de brasileiros para guerras existem desde a colonização do país, sendo a data de 19 de abril de 1648, na primeira Batalha de Guararapes, considerada a origem do Exército Brasileiro. Muitos são os feitos do Exército Brasileiro, contudo, para nosso estudo, basta dizer que a Força Terrestre se confunde com o próprio Brasil. 2.1.3 Forças Armadas do Brasil: Força Aérea Brasileira O Ministério da Aeronáutica foi criado em 20 de janeiro de 1941, pelo Decreto-Lei n. 2.961 (BRASIL, 1941a). Para as denominadas Forças Aéreas Nacionais3, transferiu militares, servidores civis, aviões e instalações da Marinha, do Exército e do Ministério da Aviação e Obras Públicas. Ainda em 1941, o então presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto-Lei n. 3.302 (BRASIL, 1941b), que criou a denominada Força Aérea Brasileira (FAB) e lhe atribuiu individualidade. A Força Aérea Brasileira participou de combates na Segunda Guerra Mundial e já foi reconhecida pela tecnologia desenvolvida e por ter um dos melhores controles de tráfego aéreo. Na década de sua criação e nas que a sucederam, a aviação no Brasil destacou-se nacional e internacionalmente. 1 Para saber mais a respeito da história da Marinha do Brasil, sugere-se a seguinte leitura: BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. História naval. Disponível em: https://www.marinha.mil.br/content/historia-naval. Acesso em: 18 out. 2019. 2 Para saber mais a respeito da história do Exército Brasileiro, sugere-se a seguinte leitura: BRASIL. Portal Brasileiro de Dados Abertos. Exército Brasileiro – EB. Disponível em: http://dados.gov.br/organization/about/exercito-brasileiro- eb. Acesso em: 18 out. 2019. 3 Para saber mais a respeito da história da Força Aérea Brasileira, sugere-se a seguinte leitura: ELIAS, J. Homenagem. In: BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Disponível em: http://www.fab.mil.br/ministerio/. Acesso em: 18 out. 2019. Segurança Pública 35 2.1.4 Forças Policiais Militares e Civis Para a defesa interna do Brasil, principalmente no que concerne ao combate à violência e ao crime, à defesa social e à proteção das instituições, na organização estatal, contamos com o sistema de Segurança Pública. Nele, há órgãos formados por forças policiais militares e civis. Dos órgãos mais conhecidos, vamos descrever, a seguir, alguns pontos importantes e seus objetivos, de acordo com a Constituição Federal em seu artigo 144 (BRASIL, 1988): • Polícia Federal: originou-se no Decreto-Lei n. 6.378, de 28 de março de 1944 (BRASIL, 1944), que transformou a Polícia Civil do Distrito Federal4 no Departamento Federal de Segurança Pública. A Polícia Federal é composta pelos seguintes cargos: delegado (dirigente da Instituição), perito criminal, escrivão, papiloscopista e agente. Entre seus objetivos, encontramos: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. (BRASIL, 1988) • Polícia Rodoviária Federal: criada pelo Decreto n. 18.323, de 24 de julho de 1928 (BRASIL, 1928), foi chamada de Polícia das Estradas. A Polícia Rodoviária Federal é composta pelos cargos policial rodoviário federal e agente administrativo. Seu objetivo é realizar o “patrulhamento ostensivo das rodovias federais” (BRASIL, 1988). • Polícia Ferroviária Federal: originada pelo Decreto n. 641, de 26 de junho de 1852 (BRASIL, 1852), sua primeira designação foi Polícia do Caminho do Ferro. Existem cerca de 26 mil quilômetros de trilhos e mil policiais ferroviários em todo o país (FOUREAUX, 2019), que devem cumprir o objetivo de realizar o “patrulhamento ostensivo das ferrovias federais” (BRASIL, 1988). • Polícias Civis: não há uma lei orgânica da Polícia Civil, contudo, a previsão inicial de seu quadro básico descreve os seguintes cargos: delegado, perito e agente. Às Polícias Civis, “ressalvada a competência da União, [são incumbidas] as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares” (BRASIL, 1988). • Polícias Militares: são militares dos estados, do Distrito Federal e dos territórios (BRASIL, 1988). A Polícia Militar basicamente é composta pelos seguintes cargos: soldado, cabo, sargento, subtenente, aspirante a oficial, tenente, capitão, major, tenente-coronel e coronel. Seu objetivo é “a polícia ostensiva e a preservação da ordem