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1113 - Estado e Políticas Sociais

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Núcleo de Educação a Distância
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
ESTADO 
E 
POLÍTICAS SOCIAIS
SEMESTRE 4
	
Créditos e Copyright
MARCONDES, Luciana Nogueirol Lobo.
Estado e Políticas Sociais. Luciana Nogueirol Lobo Marcondes. Santos: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2015 (Material didático. Curso de Tecnologia em Gestão Pública).
Modo de acesso: www.unimes.br
1. Ensino a distância. 2. Tecnologia em Gestão Pública. 3. Estado e Políticas Sociais.
CDD 350				ID 1113
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
FACULDADE DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, COMERCIAIS, CONTÁBEIS E ECONÔMICAS
PLANO DE ENSINO
CURSO:  Tecnologia em Gestão Pública
COMPONENTE CURRICULAR: Estado e Políticas Sociais*
SEMESTRE: 4º
CARGA HORÁRIA: 80 horas
(*) Disciplina que contempla a transversalidade.
	
EMENTA:
Estado, mercado, emergência, sistemas de proteção social. Teorias, modelos, análise de políticas sociais. Desenvolvimento, cidadania, formatos institucionais, sistemas de proteção social. Efeitos: segmentação setorial, fragmentação organizacional, serviços sociais. Inovações institucionais, gestão de políticas sociais: descentralização, subsidiariedade, intersetorialidade, controle público.
 
OBJETIVO GERAL:
Contribuir para a qualificação dos alunos do curso de Gestão Pública, mediante a apresentação de conceitos e criação de uma análise crítica acerca do processo de desenvolvimento social e das contribuições advindas de políticas sociais na sociedade brasileira.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
UNIDADE I - ESTADO
Estudar a origem do Estado e sua formação, bem como seus elementos. Tratar da questão da soberania do Estado na atualidade e seus limites. Analisar a democracia e os conceitos de representatividade, inclusive das minorias.
UNIDADE II - POLÍTICAS SOCIAIS
Estudar o sistema brasileiro de proteção social, a partir da evolução histórica até o "Welfare State". Modelos de políticas sociais e a função do Estado em sua formação e execução. Avaliar em que medidas as políticas sociais podem ser utilizadas como mecanismos de redução de desigualdades e de proteção contra situações de vulnerabilidade. A unidade irá abordar de que forma as políticas sociais devem se compatibilizar com um sistema capitalista e com as peculiaridades da realidade brasileira.
UNIDADE III - GESTÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE
Estudar de que forma a sociedade civil pode participar das políticas sociais, criando-as, fiscalizando-as e/ou propondo que o Estado as crie. Descentralização das políticas sociais. Privatização e princípio da subsidiariedade.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: 
· O Estado e sua origem 
· Teorias de formação do Estado 
· Elementos constitutivos do Estado – povo, nação e população 
· Território e Estado 
· Soberania
· Estado e democracia * cidadania
· Federalismo
· O histórico da proteção social no mundo: da Antigudade ao absolutismo monárquico 
· O histórico da proteção social no mundo: as marcas das grandes revoluções 
· O Estado Social de Direito e o Welfare State 
· Políticas Sociais e o Welfare State (Estado de bem Estar) * cidadania 
· Direitos Humanos e Direitos Sociais 
· Políticas Públicas e Políticas Sociais
· A questão social no Brasil 
· O que é Política Social? 
· Sistemas de proteção social * cidadania
· Princípios da Seguridade Social 
· Modelos de Políticas Sociais * cidadania
· Política social e o Capitalismo * cidadania
· Estado e Política Social * cidadania
· As Políticas sociais e a Desigualdade *Direitos Humanos
· Segmentação Setorial Das Políticas Sociais *Direitos Humanos
· Fragmentação Organizacional das Políticas Sociais 
· Políticas públicas de modelo setorial 
· Diferentes abordagens da cultura organizacional *Direitos Humanos
· O Papel do Estado nas Inovações Institucionais *Direitos Humanos
· Gestão de Políticas Sociais *Direitos Humanos
· Gestão Pública e a Intersetorialidade 
· Intersetorialidade nas Políticas de Desenvolvimento Urbano e Social 
· Política Social e a Descentralização *Direitos Humanos
· Princípio da Subsidiariedade *Direitos Humanos
 (*) Conteúdos que contemplam a transversalidade.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado. Barueri, SP: Manole, 2010. (Pearson-19-02-19)
DIAS, Reinaldo. Política Social. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. (Pearson-19-02-19)
KAUCHAKJE, Samira. Gestão pública de serviços sociais. Curitiba: InterSaberes, 2012. (Pearson-19-02-19)
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
CHICARINO, Tathiana S. Teorias Políticas, Estado e Sociedade. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014. (Pearson-19-02-19)
LOBATO, Lenaura V.C. Políticas sociais e modelos de bem-estar social: fragilidades do caso brasileiro. Saúde em Debate, 2016, v. 40. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-11042016000500087&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 19 fev. 2019.
MALLMANN, Loivo José. Estado e políticas sociais no Brasil: avanços e retrocessos. Curitiba: InterSaberes, 2017. (Pearson-19-02-19)
SOUZA, Daniele G.; LIMA, Sílvia Maria A. Políticas sociais setoriais e os desafios para o Serviço Social. Curitiba: InterSaberes, 2017. (Pearson-19-02-19)
WEFFORT, Francisco. C. (org.) Os clássicos da política, 1. 14 ed. São Paulo: Ática, 2006. (Pearson-19-02-19) 
METODOLOGIA:
A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas, envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo ensino/aprendizagem.
 
AVALIAÇÃO:
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente.
Sumário
AULA 01_O Estado e a sua origem	10
AULA 02_Teorias de formação do Estado	15
AULA 03_Elementos constitutivos do Estado - povo nação e população	20
AULA 04_Território e Estado	24
AULA 05_Soberania	28
AULA 06_Estado e Democracia	32
AULA 07_Federalismo	36
AULA 08_O histórico da proteção social no mundo: da antiguidade ao absolutismo monárquico	41
AULA 09_O histórico da proteção social no mundo: As marcas das grandes revoluções	47
AULA 10: O Estado social de Direito e o Welfare State	52
AULA 11 – Políticas Sociais e o Welfare State (Estado de bem Estar)	54
AULA 12_Direitos humanos e direitos sociais	59
AULA 13_Políticas Públicas e Políticas Sociais	62
AULA 14_A questão social no Brasil	66
AULA 15_O que é Política Social?	69
AULA 16_Sistemas de Proteção Social	74
AULA 17_PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL	80
AULA 18_Modelos de Políticas Sociais	86
AULA 19_Política social e o Capitalismo	89
AULA 20_Estado e Política Social	92
AULA 21_As Políticas Sociais e a Desigualdade	95
AULA 22: Segmentação Setorial Das Políticas Sociais	99
AULA 23_Fragmentação Organizacional das Políticas Sociais	102
AULA 24: Políticas Públicas de Modelo Setorial	106
AULA 25_Diferentes abordagens da cultura organizacional	110
AULA 26: O Papel do Estado nas Inovações Institucionais	115
AULA 27: Gestão de Políticas Sociais	119
AULA 28_Gestão Pública e a Intersetorialidade	124
AULA 29_Intersetorialidade nas Politicas de Desenvolvimento Urbano e Social	128
AULA 30: Política Social e a Descentralização	132
AULA 31_Principio da Subsidiariedade	137
AULA 32_Controle Público	141
Referências:	145
AULA 01_O Estado e a sua origem
Caro aluno, é muito bom tê-lo por aqui.  Vamos iniciar nossa viagem pelas politicas sociais e, para tanto, conto com a sua companhia. Na verdade, cabe esclarecer, que nossa matéria se refere ao Estado e as políticas sociais.
Primeiramente iniciaremospelo conceito de Estado que nos dará base para a compreensão da necessidade de existência das políticas sociais.
A palavra “Estado” tem origem no latim, “Status” = estar firme. Esta surgiu pela primeira vez significando “situação permanente de convivência” e ligada à sociedade política, no livro “O Príncipe” de Maquiavel de 1513.
Na Grécia, onde o Estado não ultrapassava os limites da cidade, utilizava-se o termo polis = cidade, origem da palavra política = arte ou ciência de governar a cidade.  Já os romanos utilizavam civitas e respublica, com o mesmo sentido.
Os romanos utilizavam a expressão “status reipublicae”, para designar a situação, a ordem permanente da coisa pública, dos negócios do Estado” e, por desuso do termo “reipublicae”, os escritores medievais empregavam “Status”, como o sentido político da palavra.
Posteriormente, em documentos públicos, o termo Estado fazia referência às três grandes classes que formavam a população dos países europeus, isto é, a nobreza, o clero e o povo, ou seja, todos sendo designados apenas por Estado.
Em sua evolução histórica, a palavra Estado aparece sempre ligada a ideia de independência, controle e organização, como, por exemplo, na Espanha, até o século XVIII, se utilizava a denominação Estado para grandes propriedades rurais de domínio particular, onde seus proprietários tinham poder jurisdicional ou como na Itália (Stato), França (État), Inglaterra (State) e Alemanha (Staat), durante os séculos XVI e XVII, onde a expressão era utilizada sempre ligada a uma cidade independente.
São Tomás de Aquino e a doutrina de Santo Agostinho pregavam que o Estado, assim como tudo foi criado por DEUS, ou seja, o Estado não se originava do homem, da sociedade e da ordem social, mas sim de uma figura maior que organizou o homem, transformando-o de homem-natural à homem-social.
Na verdade, independentemente de sua evolução histórica, no que tange ao efetivo aparecimento do Estado, existem inúmeras teorias, que podem ser deduzidas em três posições doutrinárias:
a) Para alguns autores, o Estado, como a sociedade, sempre existiu, haja vista que desde o início da existência do homem este se acha integrado em uma sociedade organizada dotada de poder e autoridade que determinava o comportamento de todo o grupo. Os autores Eduard Meyer e Wilhelm Koppers adotam essa posição afirmando que o Estado é um elemento universal na organização humana. Segundo Meyer, o Estado seria o principio organizador e unificador em toda a organização social da humanidade, considerando-o, por isso, onipresente na sociedade humana.[1]
b) Outros autores, por seu turno, admitem que a sociedade humana existiu sem o Estado por um certo tempo e depois, por motivos diversos, este foi constituído para atender as necessidades ou as conveniências dos grupos sociais. Conforme esses autores, que representam a grande maioria, não houve concomitância na formação do Estado em diferentes lugares, uma vez que este foi aparecendo de acordo com as condições concretas de cada lugar.[2]
c) Uma terceira ordem de autores, por fim, admitem como Estado a sociedade política dotada de certas características muito bem definidas. Segundo Karl Schmidt, o Estado não é um conceito geral válido para todos os tempos, mas sim um conceito histórico concreto, que surge quando nasce a ideia e a prática da soberania, o que ocorreu no século XVII. Balladore Pallieri, também possui esse ponto de vista e, inclusive, indica “a data oficial em que o mundo ocidental se apresenta organizado em Estados é a de 1648, ano que foi assinado a paz de Westfália”. Ataliba Nogueira é um dos autores brasileiros que são adeptos a esse entendimento.[3]          
Para Thomas Hobbes, em Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, [4] houve a necessidade de se criar o Estado para controlar e reprimir o homem o qual vivia em estado de natureza. O Estado seria, na visão de Hobbes, o único capaz de entregar a paz, e para tanto o homem deveria ser supervisionado pelo Ente Estatal legitimado por um contrato social.
Assim, se pode entender que o Estado é o aglomerado de pessoas, unidas através do contrato social visando, necessariamente, o bem comum. Neste mesmo diapasão tem-se o pensamento de Immanuel Kant:
“O ato pela qual um povo se constitui num Estado é o contrato original. A se expressar rigorosamente, o contrato original é somente a ideia desse ato, com referência ao qual exclusivamente podemos pensar na legitimidade de um Estado. De acordo com o contrato original, todos (omnes et singuli) no seio de um povo renunciam à sua liberdade externa para reassumi-la imediatamente como membros de uma coisa pública, ou seja, de um povo considerado como um Estado (universi). E não se pode dizer: o ser humano num Estado sacrificou uma parte de sua liberdade externa inata a favor de um fim, mas, ao contrário, que ele renunciou inteiramente à sua liberdade selvagem e sem lei para se ver com sua liberdade toda não reduzida numa dependência às leis, ou seja, numa condição jurídica, uma vez que esta dependência surge de sua própria vontade legisladora”.[5]
 Ainda quanto ao Estado cabe colocar o pensamento contraposto de John Locke: “Os homens são por sua natureza livres, iguais e independentes, e por isso ninguém pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao poder político de outrem sem dar seu consentimento. O único modo legítimo pelo qual alguém abre mão de sua liberdade natural e assume os laços da sociedade civil consiste no acordo com outras pessoas para se juntar e unir-se em comunidade, para viverem com segurança, conforto e paz umas com as outras, com a garantia de gozar de suas posses, e de maior proteção contra quem não faça parte dela”.[6]
É de se consignar que o Estado não é reconhecido apenas em decorrência do seu poder, mas sim devido aos seus elementos constitutivos, tais como povo, território e a soberania. Salienta-se que a ausência de qualquer um desses elementos descaracteriza a formação do Estado.
Posteriormente iremos decorrer sobre cada um desses elementos.
[1] “EDUARDO MEYER expõe seu pensamento a respeito deste assunto em sua História da Antiguidade, publicada entre 1921 e 1925. A sustentação dessa tese por WILHELM KOPPERS é mais recente, constando de seu trabalho L’Origine de L’État, apresentado ao VI Congresso Internacional de Ciências Antropológicas, realizado em Paris, no ano de 1960 citado na  obra Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado/Dalmo de Abreu Dallari. – 30. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. p. 60.
[2] Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado/Dalmo de Abreu Dallari. – 30. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. p. 60.
[3] GIORGIO BALLADORE PALLIERI, A Doutrina do Estado, vol. I, p. 16 citado na obra Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado/Dalmo de Abreu Dallari. – 30. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. p. 61
[4]  São Paulo: Martin Claret, 2003, p. 143. Grifos do original
[5] KANT. Immanuel. A Fundamentação da Metafísica dos Costumes. A Doutrina Universal do Direito, p. 158.
[6] LOCKE, John. Segundo Tradado sobre o Governo Civil e Outros Escritos. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 76.
 Curiosidade!!
 A paz de Westfália foi consubstanciada em dois tratados, assinados nas cidades westfalianas de Munster e Onsbruck. Por esses tratados, ratificados em 1648, foram fixados os limites territoriais resultantes das guerras religiosas, a Guerras dos Trinta Anos, movida pela França e seus aliados contra a Alemanha.
Não deixe de aprofundar seus conhecimentos sobre o tema através dos sites
http://www.mundoeducacao.com/historiageral/a-guerra-dos-trinta-anos.htm
http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6742&revista_caderno=9
“O Estado é uma sociedade politicamente organizada porque é uma comunidade constituída por uma ordem coercitiva”.[1]
Até nosso próximo encontro.
Conto com você na próxima aula!!
[1] KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. Tradução: Luis Carlos Borges. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 273AULA 02_Teorias de formação do Estado
Caro aluno, vamos aproveitar esse momento para analisarmos as principais teorias relativas à formação do Estado. Assim, entre diversas teorias de formação do Estado, existem duas principais: a de formação natural e a contratualista.
A teoria de formação natural ou espontânea do Estado afirma que este se formou naturalmente, e não por um ato voluntário.
As causas determinantes da origem do Estado, que não se coadunam com as teorias contratualistas, podem ser agrupadas da seguinte forma:
1. Na Origem familiar ou patriarcal: de acordo com Robert Filmer, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado; [1]
2. Na Origem em ato de força, de violência ou de conquista: essas teorias sustentam que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhes submeter um grupo mais fraco, nascendo o Estado dessa conjunção de dominantes e dominados. Franz Oppenheimer afirma que o Estado foi criado para regular as relações entre vencedores e vencidos, acrescenta que essa denominação teve por finalidade a exploração econômica do grupo vencido pelo vencedor.[2]
Segue abaixo, um exemplo de origem do Estado em ato de força, descrito por Miguel Elias Reclus:
Um atrevido, homem de ideias de punhos, descobre um rochedo que domina um desfiladeiro entre dois vales férteis; aí se instala a se fortifica. Assalta os transeuntes, assassinando alguns e roubando o maior número. 
Possui a força: tem, portanto, o Direito.
Os viajantes, temendo a rapinagem, ficam em casa ou fazem uma volta. 
O bandido então reflete que morrerá de fome, se não fizer um pacto. Proclama que os viajantes lhe reconheçam o direito sobre a estrada pública e lhe paguem pedágio, podendo depois um segundo herói, achando bom o negócio, esgarrancha-se no rochedo fronteiriço. Ele também mata e saqueia, estabelece “seus direitos”. Diminui assim as rendas do colega, que franze o cenho e resmunga na sua furna, mas considera que o recém-vindo tem fortes punhos. Resigna-se ao que não poderia impedir; entra em combinação. 
Os viageiros pagavam um, terão agora que pagar dois: todos precisam viver! 
Aparece um terceiro salteador, que se instala numa curva da estrada. Os dois veteranos compreendem que abrirão falência se forem pedir três soldos aos passantes, que, só tendo dois para dar, ficarão em casa, em vez de arriscar suas pessoas e bens.
Arremessam-se sobre o intruso, que desancado e machucado, foge campo fora. Depois, reclamam dos viajores dois vinténs suplementares, em remuneração pelo trabalho de expulsar o espoliador e pelo cuidado em não deixar que ele volte. Os dois peraltas, mais ricos e poderosos do que antes, intitulam-se agora “Senhores dos Desfiladeiros”, “Protetores das Estradas Nacionais”, “Defensores da Indústria”, títulos que o povo ingênuo repete com prazer, pois agrada-lhe ser onerado sob o pretexto de ser protegido. Assim – admirai o engenho humano! – o bandido se regulariza, se desenvolve e se transforma em ordem pública. A instituição do roubo, que não é o que o vulgo pensa, fez nascer à polícia. (AZAMBUJA, 2002, p. 103-104)
3. Origem em causa econômicas ou patrimoniais: sob a influência de Platão, o Estado se formou com o aproveitamento dos benefícios da divisão do trabalho, com a integração de diferentes atividades profissionais. Dentro dessa linha de raciocínio, Heller afirma que a posse da terra gerou o poder e a propriedade criando Estado> Nesse sentido, Preuss aduziu que a característica fundamental do Estado é a soberania territorial.[3]
Dentre todas as teorias que admitem a formação do Estado por motivos e econômicos, a de maior aceitação é a de Marx e Engels. Engles em sua obra “A Origem da Família, da propriedade e do Estado”, afirma “o Estado é antes um produto da sociedade, quando ele chega a determinado grau de desenvolvimento”. (AZAMBUJA, 2002, p. 97).
Engles, na mesma obra também afirmou: “Como o Estado surgiu da necessidade de pôr fim à luta de classes, mas surgiu também no meio da luta de classes, normalmente o Estado é a classe dominante economicamente mais poderosa, que por seu intermédio se converte também em classe politicamente mais forte e adquire novos meios para submeter e explorar a classe oprimida”[4]
4.  Origem do Estado no desenvolvimento interno: Tendo como principal representante Robert Lowie, esta teoria entende que “o Estado seria um germe, uma potencialidade em todas as sociedades humanas, as quais prescindem dele quando se mantém simples e pouco desenvolvidas”. Assim, o Estado surgia diante da complexidade das sociedades, inexistindo fatores externos a esta. Logo, não se levava em consideração os interesses individuais ou dos grupos para o surgimento do Estado, mas sim o próprio desenvolvimento espontâneo da sociedade.[5]
As teorias de formação contratual dos Estados divergem entre si quanto às causas dessa formação, possuindo em comum o posicionamento que o Estado nasceu pela vontade dos homens. A teoria contratualista aparece no livro “Leviatã” de autoria de Thomas Hobbes.
Conforme Darcy Azembuja explica em sua obra, no que tange ao posicionamento de Thomas Hobbes: “(...) quis construir uma doutrina do poder político que tonrasse esse independente e superior às dissidências religiosas. Parte da antiga convicção de que o homem, em épocas primitivas vivia fora da sociedade, em estado de natureza. Sendo todos os homens iguais e essencialmente egoístas, tendo todos os mesmos direitos naturais e não existindo nenhuma autoridade ou lei, o estado de natureza foi uma época de anarquia e violência, em que o indivíduo levava uma vida “solitária, sórdida e brutal”, pois nenhum era tão forte que não temesse os outros, nem tão fraco que não fossem perigosos aos demais (...)” [6]
Dentro de seu entendimento, Hobbes afirmou que mesmo que o homem tenha tendências ruins, por ser racional, busca meios para superar o estado de natureza e estabelecer o contrato social, que assim que celebrado que será mútua transferência de direito. Segundo Hobbes, o titular dos Estados seria o soberano.
Locke em “Segundo Tratado de Governo Civil” e Montesquieu “Do Espírito e das Leis”, reagiram às ideias de Hobbes, tomando o primeiro posição contratualista para explicar a origem da sociedade e quanto ao segundo, embora não mencione o contrato em sua obra, afirmou que há leis naturais que levam o homem a viver em sociedade.
Rousseau, na obra “O contrato social”, evidencia a vontade, e não a natureza humana, como fundamento da sociedade.
Observando o entendimento dos três principais escritores desta teoria, chega-se a conclusão que os três “partem do estado de natureza (condição anterior ao Estado), que pela mediação do contrato social realiza passagem para o estado civil”. [7]
Como pode ser observado, entre tantas teorias de formação e origem delas, não é possível colocar apenas uma determinante plenamente correta. Restando claro que, há apenas um ponto em comum em todas elas, isto é o reconhecimento do Estado como um verdadeiro “Estado”.
“Num Estado, isto é, numa sociedade onde há leis, a liberdade só pode consistir em poder fazer-se o que se deve querer e em não estar obrigado a fazer o que não se deve querer.”  Montesquieu
Estou te esperando no nosso próximo encontro. Espero que  esteja gostando tanto quanto eu.
[1] Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado/Dalmo de Abreu Dallari. – 30. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. p. 62.
[2] FRANZ OPPENHEIMER, The State, pag. 6 citado na obra de Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado/Dalmo de Abreu Dallari. – 30. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. p. 62
[3] Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado/Dalmo de Abreu Dallari. – 30. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. p.63
[4] F. Engels. Origenes de La família, de la propriedad privada y Del Estado, B. Aires, 1924, p. 196 citado na obra AZAMBUJA, Darcy, Teoria geral do Estado/ Darcy Azmbuja. – 42. Ed. – São Paulo: Globo, 2001, p.102
[5] Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado/Dalmo de Abreu Dallari. – 30. Ed. – São Paulo: Saraiva,2011. p. 63
[6] AZAMBUJA, Darcy, Teoria geral do Estado/ Darcy Azmbuja. – 42. Ed. – São Paulo: Globo, 2001, p.58 e 59.
[7] Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado/Dalmo de Abreu Dallari. – 30. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. p.14
AULA 03_Elementos constitutivos do Estado - povo nação e população
Vamos aproveitar esse momento para analisar os elementos constitutivos do Estado, lembrando que a ausência de qualquer um deles inibe a existência do resultado. Vamos lá!!
A partir do momento que um Estado existe, há nele elementos essenciais e determinantes para que seja reconhecido efetivamente como tal. Logo, são elementos constitutivos do Estado o povo, o território e a soberania.
Diante disso, passaremos agora a analisar esses elementos, a fim de conceitua-los e diferenciá-los uns dos outros.
 População , povo e nação
Cabe esclarecer, de plano, que população não ostenta o mesmo significação de povo, sendo apenas este último um dos elementos do Estado. A população possui um significado econômico que abarca o conjunto de pessoas situadas no mesmo território.
Vale dizer que, o termo população está relacionado a quantidade de habitantes de um país, sejam nacionais ou estrangeiros.
Em virtude de tal conceito estar relaciono inclusive a quantidade de habitantes de um país, o limite numérico para a população chegou a ser motivo de discussão entre grandes filósofos.
Por exemplo, Aristóteles entendia que, para ser bem governado, o Estado não poderia ter mais de dez mil habitantes, não sendo incluídos nesse número os escravos. Já Platão fixou número certo de habitantes 5040 homens livres.
Rousseau, visando o governo ideal e direto, estimava dez mil o número dos habitantes que convinha ao Estado possuir.
Fato de fácil constatação é a impossibilidade de fixar  número de habitantes de um Estado. Na Grécia Antiga eram comuns pequenos Estados, porém existiam grandes impérios como a Pércia e a China.
Atualmente, a maioria dos Estados possui uma grande população com centenas de milhões de habitantes.
A população de um Estado varia sob a influência de diversos fatores e circunstâncias, dede o simples crescimento vegetativo à anexação ou desmembramento. O Brasil, pelo aumento natural e pela imigração, passou, em um século, de cinco para noventa milhões de habitantes. Espanha e Portugal, com a emancipação de suas colônias da América, perderam mais de metade da população.[1]
De acordo com Darcy Azambuja, “Grande ou pequena, no entanto, a população do Estado não é a simples justaposição de indivíduos. Estes pertencem a várias associações, como a família, os grupos profissionais, etc. Foram um todo orgânico, têm os seus interesses e as suas atividades enquadradas dentro da sociedade de naturezas diversas, não se encontram isolados, singularizados diante do Estado. Individuo e sociedade são termos de um binômio indestrutível, não é possível conceber um sem o outro”. [2]
Por outro lado, em um conceito simples, povo, como elemento do Estado que é, funda-se no conjunto de indivíduos que, através de um momento jurídico, se unem para construir um Estado, estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, adquirindo a condição de cidadão de direito e obrigações.[3] Ou seja, o povo é caracterizado pelo conjunto de pessoas que se unem com intuito organizacional e fiscalizador.
Na definição de Darcy Azambuja, “Povo é a população do Estado, considerada sob aspecto puramente jurídico, é o grupo humano encarado na sua integração numa ordem estatal determinada, é o conjunto de indivíduos sujeitos às mesmas leis, são súditos, os cidadãos de um mesmo Estado. Neste sentido, o elemento humano do Estado é sempre um povo, ainda que formado por diversas raças, com interesses, ideias e aspirações diferentes. Nem sempre, porém, o elemento humano do Estado é uma nação.”[4](grifo nosso)
Nação tem origem no latim nascere, que faz referência a um conjunto de pessoas da mesma origem racial. Segundo Gerard J. Mangone, “... como comunidade histórica e cultural, independentemente de autonomia política ou soberania estatal.”[5]
Conforme se extrai da obra “Lições Práticas de Teoria Geral do Estado” o conceito de nação surgiu entre a concepção unitária de povo até a afirmação de Estado, buscando levar a burguesia ao poder político. O desejo era de que o governo do Estado fosse o próprio Estado, e, em decorrência disso surgiu a ideia emocional de nação. Salienta-se que a queda da monarquia e a investidura em outros territórios foram justificadas pelo desejo de nação. [6]
Na prudente visão de Darcy Azambuja: “Nação é um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem comum, pelos interesses comuns e, principalmente, por ideais e aspirações comuns. Povo é uma entidade jurídica; nação é uma entidade moral no sentido rigoroso da palavra. Nação é muita coisa mais do que povo, é uma comunidade de consciências, unidas por um sentimento complexo, indefinível e poderosíssimo: o patriotismo”[7]
Uma nação se forma através de um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem, interesses, aspirações e ideias comuns. Nação é mais que povo, pois são unidos pelo sentimento de patriotismo.
A reunião dos traços morais, que são uma fisionomia a cada nação, denomina-se nacionalidade e o amor às mesmas tradições, simpatia recíproca e personalidade coletiva, denomina-se patriotismo.
A partir do momento que uma população é dividida em interesses econômicos ou morais, sejam esses interesses ligados à religião, raça, entre outros, ela é apenas um povo, não uma nação. Na definição de Bluntschli: “O Estado é a nação politicamente organizada”.
Nas palavras de Rui Barbosa: “Pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo: é o céu, o solo,  o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade”.
Na próxima aula trataremos de um dos elementos do Estado, ou seja, o território. Conto com você!
[1] AZAMBUJA, Darcy, Teoria geral do Estado/ Darcy Azmbuja. – 42. Ed. – São Paulo: Globo, 2001, p.18.
[2] AZAMBUJA, Darcy, Teoria geral do Estado/ Darcy Azmbuja. – 42. Ed. – São Paulo: Globo, 2001, p.18 e 19.
[3] Souza Júnior, Paulo Roberto de. Lições práticas de teoria geral do Estado/ Paulo Roberto de Souza Junior, Regina Célia Vianna Esper. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.p. 23.
[4] AZAMBUJA, Darcy, Teoria geral do Estado/ Darcy Azmbuja. – 42. Ed. – São Paulo: Globo, 2001, p. 19.
[5] Reis Friede. Questões de Teoria Geral do Estado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1994, p.5. - citado na obra Souza Júnior, Paulo Roberto de. Lições práticas de teoria geral do Estado/ Paulo Roberto de Souza Junior, Regina Célia Vianna Esper. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p.24.
[6] Souza Júnior, Paulo Roberto de. Lições práticas de teoria geral do Estado/ Paulo Roberto de Souza Junior, Regina Célia Vianna Esper. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.
[7] Teoria geral do estado. 36 ed. São Paulo: Globo, 1997, p. 19.
AULA 04_Território e Estado
Vamos analisar nessa aula o significado de território e suas consequências sociais. Iniciaremos como uma ideia filosófica sobre o tema.                                 
Para Hans Kelsen território é a base física do âmbito geográfico da nação, onde ocorre a validade de sua ordem jurídica. Este se divide em território político (metropolitano e colonial) e comercial (artificiais e naturais), definição idêntica às fronteiras.[1]  
Território é o país no sentido exato e restrito da palavra, sendo um dos elementos formadores do Estado, porém, cabe ressaltar que este não se confundindo com povo ou nação, definições vistas anteriormente.
Só para ressaltar as diferenças.
Podemos definir território como sendo o espaço geográfico apropriado e delimitado por relações de soberania e poder. Este, em alguns casos, possui fronteiras fixas e muito bem delimitadas (a exemplo do território brasileiro); entretanto, em outros, seus limites não são muito claros (como o territóriodelimitado por algum grupo terrorista).
Já nação constitui a união entre um mesmo povo unido pela cultura, práticas sociais, idiomas, entre outros motivos. Desta forma, uma nação nem sempre equivale a um Estado, ou a um país ou, até mesmo, a um território, havendo, assim, nação território e sem uma soberania territorial constituída.
A Espanha é um exemplo clássico de Estado com um grande número de nações vivendo em seu território, pois existem os espanhóis, os catalães. Estes últimos são vistos como uma nação sem um Estado soberano e, portanto, sem um território político definido. Ainda entro da Espanha existem os bascos, navarros e alguns outros. Salienta-se a maior parte dessas nações reivindica, inclusive, a criação de seus Estados independentes, com a delimitação de seus respectivos territórios, algo que ainda não foi conseguido.
Analisa a diferença acima colocada, voltaremos ao significado de território propriamente dito. Assim, Paulo Bonavides apresenta quatro concepções de território:[2]
a) Território patrimônio – poder do Estado como proprietário de um imóvel;
b) Território objeto – poder do Estado como relação de domínio;
c) Território espaço – extensão da soberania do Estado;
d) Território competência – território que abrange a validade da ordem jurídica.
No que tange a extensão do território sobre o mar, existem diversos tratados internacionais, porém o atualmente vigente estabelece em 12 milhas tal porção do território de cada Estado, conforme lei 8.617/93:
Art. 1º O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil.
Parágrafo único. Nos locais em que a costa apresente recorte profundos e reentrâncias ou em que exista uma franja de ilhas ao longo da costa na sua proximidade imediata, será adotado o método das linhas de base retas, ligando pontos apropriados, para o traçado da linha de base, a partir da qual será medida a extensão do mar territorial.
Art. 2º A soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo.
O espaço aéreo como extensão é um problema de difícil solução, sendo aprovado pela ONU, em 1966, o tratado de Espaço Exterior.
Obviamente, não é possível falar do território de um Estado, sem falar das fronteiras.
As fronteiras dos Estados não são formadas por linhas naturais ou artificiais, mas sim por zonas que servem para definir forças econômicas, políticas, morais e militares dos povos limítrofes.
Não como meios de separação, mas sim como forma de interpenetração de culturas, interesses e objetivos diferentes.
Salienta-se que há uma distinção clássica entre as fronteiras, as artificiais e as naturais. As fronteiras naturais, embora sejam as mais raras, são formadas por rios, montanhas, lagos e outros acidentes geográficos. Já as fronteiras artificiais as assinaladas por marcos divisórios, haja vista a ausência de pontos de referências formados por acidentes geográficos.
Existe também outra distinção de fronteiras, sendo essa mais científica e expressiva, dividindo as fronteiras em esboçadas, vivas e mortas.
As fronteiras esboçadas são as encontradas em territórios pouco civilizados, não sendo essas definitivas, podendo ser modificadas, desaparecerem ou se acentuarem. Sendo essas pertencentes às terras novas, ainda não constituídas em Estado.
As fronteiras vivas são as que possuem contato intenso com o povo limítrofe, com interesses definidos e forças divergentes, em concorrência, oposição surda ou em guerra. Essas fronteiras são encontradas em países Europeus e em alguns da América, que ainda possuem controvérsias a serem resolvidas.
Vale dizer que, as fronteiras não são imutáveis, contudo, representam um limite atual. 
As fronteiras mortas são formadas pelos limites antigos, onde não pairam dúvidas ou onde não existem choques de interesses, por diversas razões, ou porque perdem as forças, ou porque sua expansão se encaminha para outros pontos ou porque pacificamente evoluem e seus quadros geográficos bastam às suas necessidades.
Em todo o território o Estado exerce sua soberania, inclusive sobre as pessoas que nele se encontram, sejam elas nacionais ou estrangeiras, sendo válido e obrigatório para todos os indivíduos localizadas no território, as leis que definem o Estado.
E por enquanto é só!! Na próxima aula vamos estudar temas extremamente importantes, como a soberania e a democracia. Ressalta-se que tais pontos são muito relevantes para a obtenção das policias sociais.
[1] Hans Kelsen. Teoria General del Estado. México: Ed. Nacional, 1950, p. 181 – citado na obra Souza Júnior, Paulo Roberto de. Lições práticas de teoria geral do Estado/ Paulo Roberto de Souza Junior, Regina Célia Vianna Esper. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p.25.
16 Paulo Bonavides. Ciência Política. Rio de Janeiro: FGV, 1967, ps. 50-58 - citado na obra Souza Júnior, Paulo Roberto de. Lições práticas de teoria geral do Estado/ Paulo Roberto de Souza Junior, Regina Célia Vianna Esper. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p.25.
AULA 05_Soberania
Caro aluno, vamos aproveitar esse momento para analisar um ponto indispensável para a realização das politicas sociais, ou seja, a soberania.  Para tanto, antes de adentrar no tema propriamente dito vale a pena pensar sobre a frase do renomado filosofo abaixo consignada.
“A democracia... é uma constituição agradável, anárquica e variada, distribuidora de igualdade indiferentemente a iguais e a desiguais”. (Platão)               
Feito isso, vamos iniciar o tema desta aula propriamente dito. Assim, segundo Miguel Reale, soberania é, na verdade, o poder de se organizar juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência. [1]
O entendimento a respeito do conceito de soberania é fundamental para se entender a formação de um Estado, até porque não como se falar em Estado soberano se não houver supremacia total e absoluta de sua soberania.
Foi a partir da Revolução Francesa, que o conceito de soberania começou a ser concebido. Na época do Absolutismo, conceituava-se soberania, como um poder exclusivo, inquestionável e ilimitado do monarca, embasado do efetivo poder da igreja. Aos poucos, contudo, o monarca foi se tornando independente do poder papal e se definindo efetivamente absoluto.
Assim, o monarca instaurou uma série de medidas, tais como a criação das forças militares, a criação de leis abarcando todo o território, inclusive com normas tributárias, a fim de manter o governo e a Administração, dentre outras.
Contudo, no decorrer da história esse poder soberano, para se manter, devia fazer exigências de forma igualitária a todos os súditos. Chegando-se, assim, a ideia de soberania atual.
Cabe colocar que no direito internacional a soberania refere-se ao direito que o Estado possui para exercer seus poderes, pois o principal objetivo do poder de um Estado está em manter a ordem, a defesa e promover o bem-estar à população.
De acordo com Fleiner-Gerster, vide: “É soberano aquele que edita leis conforme regras prescritas, das quais o povo aprova o caráter vinculante” (Fleiner-Gerster, 2006, p. 242).[2]
A soberania sob a ótica do Estado Brasileiro está expressa no artigo 1º, inciso I e parágrafo único da nossa Constituição Federal, vide:
 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...)
I - a soberania;
(...)
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
 
O Professor Pedro Lenza[3] explica de forma pontual e detalhada o verdadeiro significado de soberania, com base na nossa Constituição Federal:
“A ideia de que todo Estado deva possuir uma constituiçãoe de que esta deva conste limitações ao poder autoritário e regras de prevalência dos direitos fundamentais desenvolveu-se no sentido da consagração de um Estado Democrático de Direito (art.1º, caput, da CF/88), e, portanto, de soberania popular. Assim, de forma expressa, o parágrafo único do art. 1º da CF/88 concretiza que “todo o poder emana do povo, que exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Vale dizer, mencionado artigo distingue titularidade de exercício de poder. O titular do poder é o povo. Como regra, o exercício desse poder, cujo titular, repita-se, é o povo, dá-se através dos representantes do povo, que, como veremos ao tratar de poder legislativo, são os deputados Federais (âmbito federal), os Deputados Estaduais (âmbito estadual), os Deputados Distritais (âmbito da DF), os Vereadores (âmbito municipal) e os Deputados Territoriais (âmbito de eventuais Territórios Federais, que venham a ser criados). Lembramos, desde já, que os Senadores da República  Federativa do Brasil representam os Estados-membros e os Distrito Federal.(...) Além de desemprenhar o poder de maneira indireta (democracia representativa), por intermédio de seus representantes, o povo também  realiza diretamente (democracia direta), concretizando a soberania popular, que, segundo o art. 1º da Lei n. 9.709, de 18.11.1998 (que regulamentou o art. 14, I, II e III, da CF/88), “é exercida por sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, nos termos desta Lei e das normas constitucionais pertinentes, mediante: plebiscito, referendo e iniciativa popular. Podemos falar, então, que a CF/88 consagra a ideia de democracia semidireta ou participativa, verdadeiro sistema híbrido (...)” (grifo nosso)
Nesta citação das palavras do Professor Pedro Lenza, chegamos a conclusão que, no que tange ao Brasil, não se pode falar em soberania sem falarmos em democracia.
Mas então, o que é democracia?
Pois bem, iremos responder esse questionamento na próxima aula. Desta forma, estou te esperando no nosso próximo encontro, pois não há que se falar em politica social sem a presença da democracia.
[1] Miguel Reale. Teoria do Direito e do Estado. 2ª Ed. São Paulo: Martins, 1960, p. 127 - citado na obra Souza Júnior, Paulo Roberto de. Lições práticas de teoria geral do Estado/ Paulo Roberto de Souza Junior, Regina Célia Vianna Esper. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p.27
[2] http://jus.com.br/artigos/25812/soberania-e-democracia-profunda
[3] LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado/ Pedro Lenza – 15. ed. ver. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2011.
AULA 06_Estado e Democracia
Caro aluno, vamos finalizar nosso primeiro capítulo tratando sobre o ponto nerval para a efetivação das politicas sociais, isto é, a democracia, posto que sem ela não há como instituir,  de forma efetiva e real, politicas sociais verdadeiras e concretas. Dito isso, vamos adentrar nesse  intrigante tema.
 A palavra democracia tem origem no grego demokratía que é composta por demos (que significa povo) e kratos (que significa poder). Neste sistema político, o poder é exercido pelo povo.[1]
A democracia clássica se originou inicialmente na Inglaterra do século XVII, de forma vitoriosa com ideias políticas e civis contra o abslutismo (Regime Feudal na Idade Média e Monarquia Absoluta), possuindo características como: o poder político pertence ao povo, denominado de soberania popular. Na soberania popular o poder político é exercido por órgãos diferentes, autônomos e independentes, conforme consta da teoria da divisão de poderes. Nesta as prerrogativas dos governantes são limitadas explicitamente pela Constituição e os direitos individuais são declarados e assegurados.
Teoria da divisão dos poderes? O que é isso?
Esta é também chamada de teoria da separação dos poderes.
A teoria da Separação dos Poderes, apresentada Montesquieu[2], prevê a autonomia dos Poderes como um pressuposto de validade para o Estado Democrático. A ideia de que o poder deve ser controlado pelo próprio poder pressupõem que as atitudes dos atores envolvidos nas decisões sejam interligadas, com uma clara divisão nas competências de cada um deles, e uma interdependência que garanta uma gestão compartilhada e homogênea.
Dessa forma, as ações do Executivo, Legislativo e do Judiciário devem ser, em tese, autônomas e complementares, tendo cada um uma função principal e outras secundárias.
Por definição, Democracia “é um regime de governo que pode existir também, no sistema republicano, ou no sistema monárquico, onde há a indicação do primeiro ministro que realmente governa. A democracia tem princípios que protegem a liberdade humana e baseia-se no governo da maioria, associado aos direitos individuais e das minorias”.[3]
Conforme o entendimento de Darcy Azambuja: “Em primeiro lugar, a democracia não é concebida como devendo ser essencialmente política, é reclamada a intervenção do Estado em matéria econômica, pois não poderia haver liberdade política sem segurança econômica. Ao lado dos direito individuais, a democracia deve assegurar os direitos sociais; não somente defender o direito do homem à vida e à liberdade, mas também à saúde, à educação, ao trabalho, e daí, nos Estado modernos, a abundante legislação social”.[4]
Segundo Paulo Bonavides, a soberania popular, ou seja, a democracia pode ser exercida por meio de três modelos: democracia participativa ou direta, representativa ou indireta e a semidireta.[5]
Na democracia direta o povo participa diretamente da vida política do Estado exercendo os poderes governamentais, fazendo leis, administrando e julgando. É, pois, aquela em que o povo exerce de modo imediato e direto as funções públicas[6]. Sendo este modelo de democracia impossível de existir na atualidade, em virtude do número de habitantes dos Estados.
Na democracia indireta ou representativa, o poder do povo é exercido de forma imediata por seus representantes eleitos, aos quais são delegadas as funções do governo.
Na democracia semidireta, a qual é consagrada pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1º, parágrafo único e art. 14, incisos I, II e II, foram integrados institutos de participação direta do povo nas funções do governo, vide:
“Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.”
No regime semidireto, nas palavras de Paulo Bonavides "constitucionalismo democrático da Idade Contemporânea, mais intimamente ligado às inspirações da doutrina da soberania popular, elegeu alguns instrumentos de participação, que dão ao povo, conservadas embora em parte, as formas representativas, a palavra final relativa a todo o ato governativo" [7]
Dentro destes conceitos, denota-se que tanto o povo quanto a população fazem parte da soberania de um Estado, dentro de seu território que por meio de seu poder, manifestado diretamente pelo governo, órgão diretor e aparelho de mando exercido pelo Estado, utiliza-se das políticas públicas e sociais para cumprir o exato objetivo do poder do Estado, isto é, manter a ordem social, a defesa das divisas e promover o bem-estar social.
Segue, nas palavras de Montesquieu, em sua obra “O espírito das leis” de 1748, citação que, embora seja datada do século XVIII, encaixa-se perfeitamente na atualidade, vide:
“O povo é admirável para escolher aqueles a quem deve confiar parte de sua autoridade (...) Mas saberá ele conduzir um assunto, conhecer os lugares, ocasiões e momentos mais favoráveis para resolvê-lo? Não: não saberá.” 
 Mas, diante do todo o já narrado, afinal, o que são políticas sociais?
Vamos analisar esse conceito nas próximas aulas e conto com a sua companhia.  
No mais, que tal pensar um pouco mais analisando a frase de Einstein sobre o Estado:
“A maior missão do Estado é, para mim, a de proteger o indivíduo e de lhe fornecer a oportunidade de manifestar a sua personalidade criadora”.
[1] http://www.significados.com.br/democracia/[2] MONTESQUIEU, Barão de.  Do Espírito das Leis. São Paulo: Martin Claret, 2007.
[3] http://www.significados.com.br/democracia/
[4] AZAMBUJA, Darcy, Teoria geral do Estado/ Darcy Azmbuja. – 42. Ed. – São Paulo: Globo, 2001, p.219 e 220.
[5] Um estudo histórico sobre a Democracia está em BONAVIDES, Paulo. Política e Constituição: os caminhos da democracia. Rio de Janeiro: Forense, 1985. p. 501-514.(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_74/artigos/MariaElizabeth_rev74.htm#14)
[6] GÁRCIA-Pelayo, Manuel. Derecho constitucional comparado. Madri: Alianza, 1984. p.183 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_74/artigos/MariaElizabeth_rev74.htm#14)
[7] (16) BONAVIDES, Paulo. Ciência política, op. cit., p. 339-340.(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_74/artigos/MariaElizabeth_rev74.htm#14)
AULA 07_Federalismo
Federalismo é uma FORMA DE ESTADO. Forma de Estado, como já vimos, é a forma pela qual se distribui o poder político pelo território. Neste sentido, o Estado pode assumir, basicamente, duas formas distintas: unitarismo e federalismo. 
Nos Estados Unitários, o poder é centralizado em uma única esfera de poder central, que se impõe sobre todo o território. Há, neste caso, um governo único, que é competente para exercer poder sobre todo o território sem qualquer limitação e que se coloca como o centro das decisões e funções políticas. Não existe, nesta forma de Estado, a subdivisão territorial naquilo que conhecemos como estados-membros – Há uma única esfera de soberania.
Este era o modelo costumeiramente utilizado no início da formação dos Estados, já que o contingente populacional e o tamanho dos territórios não demandavam a subdivisão interna do poder.
O Federalismo, por sua vez, se contrapõe a esta ideia de centralização. Nele, há uma subdivisão do território em diversos entes federados, que possuem autonomia para decidir e agir nas esferas político-administrativas, assim como possuem poder para se auto organizar e legislar sobre questões que envolvam o seu espaço e a sua competência.
O Estado Federal é formado, portanto, por diversas coletividades políticas que são autônomas do ponto de vista legislativo, organizacional, administrativo e de governo. Estes entes se unem em um Estado Federal sem perder esta autonomia.
Neste modelo de Estado, existe mais de uma esfera de soberania. No Brasil, por exemplo, temos 3 esferas de soberania: União (esfera nacional), estados (esfera regional) e municípios (esfera local).
O poder, no estado Federado, é pulverizado entre as entidades que o compõem. Há uma nítida descentralização política e repartição de competências: cada ente federativo tem funções próprias e se responsabiliza pela sua execução.
Muito embora sejam autônomos, os entes federativos não podem se separar do grupo – não há direito de secessão, ou seja, um estado membro, por exemplo, não pode querer constituir-se como um Estado. O Estado de Santa Catarina, por exemplo, não pode se separar do Brasil e formar um novo Estado. Qualquer tentativa de secessão justifica intervenção para garantia da manutenção e da ordem no sistema federal.
No Brasil, o poder político permaneceu centralizado (unitário) até a Constituição de 1824, que dividiu o Estado brasileiro em províncias e criou certa descentralização política – necessária pelo tamanho do nosso território. A partir deste ano, estas províncias passaram a ter a possibilidade de eleger suas próprias Assembleias Legislativas, dando a cada uma delas certa autonomia para se autorregulamentarem.
Ainda assim, considera-se que nosso federalismo foi instituído em 1889, com a proclamação da República – o que só foi consolidado pela Constituição de 1891. 
ATENÇÃO! Aqui, vale a pena fazermos uma pequena observação. República não é uma forma de Estado, mas de GOVERNO. As formas de governo são os modelos pelos quais se administra uma sociedade. Neste sentido, o Governo pode será, em geral, monárquico ou republicano.
Na monarquia, o governo é exercido por uma pessoa (Rei/Rainha), que o transmite de forma hereditária ou por indicação.
Já na república, o governo pertence ao povo, que elege um governante para o representar.
Não podemos confundir formas de governo (monarquia e república) com formas de estado (unitário e federado).
Agora, feitas estas considerações, podemos entender que, quando o Brasil saiu da monarquia e proclamou-se como uma república, esta república (forma de governo) foi instituída em um Estado de modelo federativo. Por isso, temos como marco inicial do federalismo brasileiro, a proclamação da república em 1889.
Atualmente, a nossa Constituição Federal de 1988 determina, logo no seu 1º artigo que:
Art. 1º A REPÚBLICA FEDERATIVA do Brasil, formada pela união indissolúvel dos estados e municípios e do distrito federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
 I -  a soberania;
II -  a cidadania;
III -  a dignidade da pessoa humana;
IV -  os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V -  o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Ao regulamentar a organização do estado, especialmente no que tange à organização político-administrativa, a Constituição Federal atual também nos esclarece que temos quatro entes federativos (União, estados, municípios e Distrito Federal):
Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.
§ 1º Brasília é a Capital Federal.
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. 
 	Quando trata das questões sociais, a Constituição Federal de 1988 estabelece responsabilidades compartilhadas entre os entes federados, criando um modelo que a doutrina chama de federalismo cooperativo. Entende-se por federalismo cooperativo aquele no qual a União e os entes federados exercem seus poderes de compartilhada e conjunta (o que o diferencia, por exemplo, do federalismo dual, no qual o governo nacional e dos demais entes atua de forma absolutamente independente, mesmo quando exercido sobre um mesmo território).
            Neste sentido, a Constituição Federal traz uma vasta lista de assuntos que devem ser tratados, conjuntamente, entre todos os entes federados (União, estados, municípios e Distrito Federal), indicando, de forma expressa, que a cooperação é fator indispensável para o desenvolvimento nacional e para o bem-estar coletivo.
Veja:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, àciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.
Parágrafo único. Lei complementar fixará normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
            Entender o federalismo e compreender como ele está estruturado no nosso Estado é muito importante para a compreensão das políticas públicas e sociais brasileiras e nos ajuda a identificar quais são os caminhos possíveis e qual forma de atuação e planejamento pode gerar melhor e maiores resultados.
AULA 08_O histórico da proteção social no mundo: da antiguidade ao absolutismo monárquico
ANTIGUIDADE
O homem tem uma natureza gregária, ele se junta em grupos e tem necessidade de viver em coletividade.
 Nas sociedades antigas, os homens se juntavam em grupos familiares, geralmente pequenos, mas que tinham grande relevância no contexto social. Os membros das famílias na Antiguidade se protegiam mutuamente, mas esta proteção era voluntária e precária, desorganizada.
Diz-se que eram sistemas precários e desorganizados de proteção porque muitas pessoas não tinham família e outras tinham famílias que não eram capazes de suportar todos os percalços enfrentados por seus membros. Proteção da família era, portanto, insuficiente diante das necessidades daquelas pessoas. 
Com a difusão do pensamento cristão, que ressaltava a importância da caridade e solidariedade, a Igreja passou a utilizar parte de seu dinheiro e estrutura para praticar estes mandamentos que pregava, distribuindo atos caridosos e solidários entre os mais necessitados.
Nesta época, a Igreja prestava assistência aos indigentes e miseráveis, bem como serviços de saúde e educação aos carentes.
Mas, assim como proteção familiar, este amparo concedido pela Igreja também era insuficiente, já que só conseguia proteger um pequeno grupo de pessoas e em situações pontuais. Além disto, era uma obrigação voluntária e não obrigatória, ou seja, poderia deixar de ser prestada a qualquer momento.
Para o Estado Antigo, as pessoas eram “objetos” para a sua realização. As pessoas tinham deveres, mas não tinham direitos. Não havia tutela do indivíduo contra o Estado.
Diante da absoluta falta de proteção do indivíduo, começam a nascer as primeiras ideias daquilo que conhecemos como jusnaturalismo, isto é, de reconhecimento social de que existem direitos que não dependiam de regulamentação ou proteção estatal – advinham da própria condição humana. O jusnaturalismo ensina, por exemplo, que mesmo que não haja uma lei escrita dizendo que as pessoas têm direito à saúde, este direito existe naturalmente. Quando nascemos, nos constituímos como seres dotados de uma série de direitos que devem ser respeitados, ainda que não existam na lei.
IDADE MÉDIA
A Idade Média foi marcada pelo Feudalismo.
Com as invasões e guerras, muitos territórios eram conquistados e isto acarretou a inviabilidade de manutenção de um território uno e poder central. Os reis, então, começam a distribuir cargos, vantagens, privilégios e lotes de terra para seus guerreiros chefes como forma de recompensa pelas vitórias e conquistas destes.
Estes donos das terras exerciam função de governante nos limites de suas propriedades: estabeleciam regras de conduta, criavam e cobravam impostos, exploravam mão de obra dos ocupantes do feudo, organizavam sua própria justiça, aproveitavam-se com exclusividade da produção do feudo e do produto dos impostos, organizavam exército particular. Cada Senhor Feudal tinha domínio absoluto sobre seu feudo e aqueles que o habitavam.
O feudalismo representou perda do poder estatal. Com o território e poder divididos, prevalecia a vontade particular do Senhor Feudal em detrimento da vontade do governante, que estava enfraquecido. Nesta formação social, a grande maioria do povo era submetida a tratamento arbitrário e ilimitado dos particulares (nobreza).
Nesta época, a sociedade dividida em grupos:
Nobreza: Senhor Feudal e sua família. Proprietários de terras. Tinham liberdade, dinheiro e influência política.
Clero: religiosos. A Igreja possuía bens e riqueza, bem como influência política.
Povo: tinham liberdade, mas não tinham bens ou dinheiro. Trabalhavam por conta própria e não para o Senhor Feudal. Eram, principalmente, os artesãos e mercadores.
Servis: escravos. Não possuíam bens, dinheiro e nem liberdade. Submetiam-se aos arbítrios do dono da terra que habitavam.
O trabalho tinha conotação pejorativa, era função dos escravos e dos povos dominados. Aqueles que faziam parte da nobreza e do clero apenas estudavam, filosofavam, pensavam...
 Apenas no final da Idade Média surge a percepção de que o trabalho é libertador. O povo, livre, trabalhava e, com isso, conseguia angariar bens suficientes para manter-se dignamente e sustentar sua família.
Quanto mais trabalhavam, mais dinheiro ganhavam; quanto mais dinheiro ganhavam, mais independência conseguiam em face do Senhor Feudal; e quanto mais independentes ficavam, mais gozavam de liberdade.
Os artesãos começam a percebem que produtividade aumenta com ajuda – 1 pessoa faz 1 cadeira em 4 dias; 4 pessoas fazem 1 cadeira em 1 dia. Os “mestres” contratam “aprendizes” e formam as Corporações de Ofício.
Nesta época ainda não havia proteção estatal que pudesse amparar os trabalhadores e as pessoas necessitadas. A Ajuda familiar e religiosa ainda eram escassas. Considerando isto, criou-se um sistema em que cada membro da corporação contribuía para uma “poupança” feita pelo grupo, cujo dinheiro era usado em caso de doença, morte ou inaptidão para o trabalho de algum dos trabalhadores, garantindo que ele pudesse sobreviver dignamente.
Esta forma primitiva de proteção social tem caráter mutualista: pessoas de um mesmo grupo, que exerciam o mesmo ofício, colaboram entre si. Essa atitude reflete a preocupação dos homens livres em protegerem-se uns aos outros e defenderem seus interesses.
 
 IDADE MODERNA
 Povo e servis, oprimidos pelo Sr. Feudal começam a exigir concentração de poder e unidade territorial. A descentralização do poder prejudicava população, na medida em que cada Senhor Feudal decidia de forma autônoma no seu território e isto dava margem a tratamentos muito diferentes a depender do feudo em que a pessoa estava.
Nasce, neste contexto, o apelo para a retomada de uma autoridade superior que regulasse as atividades do Sr. Feudal e organizasse a comunidade. Esta autoridade seria o Estado.
 O Absolutismo Monárquico nasce desta necessidade de centralização do poder. Esta nova forma de governo defendia que a força, para ser legítima, deveria advir de um único governante. Isto reorganiza a ordem social e resulta em uma intensa imposição de limites à atuação dos particulares.
Estado ganha tanta força para manter unidade territorial e centralizar poder, que assume um caráter absoluto. O Estado (governante), agora, pode tudo. A pretexto de reorganizar a ordem social, passa a intervir, ilimitadamente, na esfera particular.
  Diferentemente do que ocorria na época do feudalismo, o Estado absolutista possui uma única tributação, um único exército, um único governo, uma única hierarquia de funcionários.
O poder real, neste cenário, era ilimitado. O rei era o proprietário do Estado. O Estado é o Rei.
Durante esta passagem de tempo, os antigos mestres, artesãose mercenários continuaram desenvolvendo suas atividades e, cada vez mais, angariam bens e dinheiro. Não conseguiram, contudo, força política ou representatividade. A defesa de seus interesses dependia, exclusivamente, deles e eles não podiam exigir nada do governante.
Estas pessoas começam a formar a burguesia e, com ela, surge a ideia de que a ociosidade da nobreza, até então tida como um privilégio, era prejudicial à sociedade. O trabalho, comércio e produção de bens ganham valor social. Trabalho não mais se restringia aos escravos e começa a deixar de ter uma conotação negativa e pejorativa.
 Aqui surgem as bases do sistema capitalista. Comércio se expande e desenvolvem-se as técnicas de navegação – esta é a época dos grandes descobrimentos e explorações marítimas.
Com o aumento vertiginoso do capital acumulado, a burguesia ascende de posição social e começa a clamar por maior liberdade frente ao Estado que, então, era absoluto e, por vezes, opressor. Estas pessoas defendiam que a autonomia da classe produtora era indispensável para o desenvolvimento social e enriquecimento do Estado.
A burguesia, que já tinha dinheiro e bens, busca agora pelo poder político e representatividade no governo para, com isso, “forçar” o Estado a olhar para os anseios e interesses desta classe e garantir que as pessoas pudessem receber alguma proteção contra os infortúnios da vida.
A proteção estatal nesta fase também era precária e insuficiente.
Ganharam espaço as irmandades de socorro, entidades de assistência social prestadas pela Igreja e submetidas a uma autoridade eclesiástica, sem intervenção estatal. Houve uma evolução em relação às demais atuações da Igreja em proteção social, porque gerava direito aos seus membros – quem participava poderia exigir o auxílio no caso de necessidade. Não era meramente beneficente.
O primeiro sistema organizado pelo Estado foram os montepios, que também surgiram nesta fase histórica. Eram institutos laicos, ou seja, dispensava vínculo religioso, como ocorria com as irmandades de socorro. Ainda assim, era limitado e restrito a atividades rentáveis para o Estado. Não havia proteção social de caráter geral; ela era apenas um privilégio conferido a alguns grupos como, por exemplo, militares, funcionários das oficinas reais, etc.
Até este momento, todas as medidas protetivas possuíam caráter voluntário e mutualista. Não adotavam técnicas de seguro. Não havia garantia de que conseguiriam salvaguardar seus membros em um momento de grave necessidade.
Na visão dos burgueses, à medida em que sociedade evolui, surge a necessidade de proteção aos miseráveis e indigentes já que haveria risco de crescimento da miséria e dos grupos de excluídos.
A luta pela proteção estatal aos vulneráveis não tem como fundamento apenas um sentimento de caridade ou solidariedade (como ocorria na ajuda prestada pela Igreja), mas em uma análise objetiva de que a miserabilidade se alastra pela sociedade e impacta negativamente o seu desenvolvimento (principalmente econômico).
Como resultado deste pensamento, nasceu, na Inglaterra, em 1601, a Poor Law (Lei dos Pobres). Esta lei estabeleceu contribuições obrigatórias de todos os cidadãos que estivessem em condições de contribuir e estas eram destinadas a: viabilizar a obtenção de emprego pelas crianças pobres por meio de aprendizagem; ensinar um ofício aos pobres que ainda não possuíam uma especialização e atender aos inválidos em geral.
Este é considerado o grande marco da proteção social estatal no mundo. Foi a primeira previsão legal que previa e instituía um sistema relativamente seguro de amparo às pessoas em condições de vulnerabilidade.
Na próxima aula, iremos estudar como esta proteção foi ampliada e transformada pelas grandes revoluções: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial.
 
AULA 09_O histórico da proteção social no mundo: As marcas das grandes revoluções
REVOLUÇÃO FRANCESA. 1789.
Como vimos, as monarquias absolutistas deram margem ao surgimento de ideias liberais: o povo (miseráveis e burguesia) era contrário à opressão estatal e ao excesso de poder exercido pelo governante.
A Revolução Francesa nasce da tentativa de nivelar os estamentos sociais e acabar com os privilégios da nobreza. Havia, sobretudo, uma tentativa da burguesia de obter participação no poder estatal e livrar-se das amarras do controle estatal. A classe produtiva queria exercer, livremente, seu ofício e produção, o que dependia do afastamento do Estado das relações particulares. Somente com indivíduos livres a sociedade se desenvolveria naturalmente.
Com base nisto, os revolucionários pregavam:
· Liberdade: homens livres da exploração do governante.
· Igualdade: tratamento igual para todos os homens; fim dos privilégios.
· Fraternidade: homens juntos desenvolvem o Estado. O poder é do povo.
 A Revolução Francesa é marco do reconhecimento dos direitos individuais e inatos ao homem e do reconhecimento de que o Estado é posterior ao homem e nasce, por vontade deste, para servi-lo.
Após a Revolução Francesa, ganham força o individualismo e o absenteísmo estatal. Estado deixa de intervir nas relações privadas. Acaba o absolutismo e surge o Estado Liberal
Neste modelo, a segurança jurídica e autonomia da vontade prevaleciam sobre qualquer determinação do Estado: as partes contratavam livremente e, o que quer que tenha sido estipulado, prevaleceria até o final do contrato. Considerava-se justo aquilo que foi contratado.
Livres e sem privilégios (iguais), os homens poderiam desfrutar das mesmas oportunidades. Acumular bens e propriedades dependeria apenas do esforço e mérito de cada um.
 Prevalecia a ideia de que quando uma pessoa buscava o melhor para si, toda a sociedade era beneficiada. Trabalhadores não trabalham bem porque gostam do patrão, mas porque estão pensando na manutenção ou melhora de seu salário e emprego. Os patrões só pensam em seu próprio lucro, mas, para isso, precisam contratar empregados, vender produtos bons e baratos, o que beneficia toda a sociedade. Se todos fossem livres para exercer esse individualismo, o mercado se ajeitaria naturalmente e todos seriam beneficiados – haveria crescimento harmonioso.
Para que isto acontecesse, o Estado deixou de intervir na economia privada: cada um faz com o seu dinheiro e propriedades o que quiser, livremente; faz o que julgar necessário para desenvolver-se.
O Estado passa a ser considerado um mal necessário e, por isso, deve limitar-se ao mínimo necessário (ex.: defender fronteiras).
O poder estatal foi dividido: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário, com limitações recíprocas:
· Poder Legislativo. Havia participação popular. Se “povo” fazia leis e se poder do povo é soberano, então as leis são soberanas.
· Poder Judiciário. Composto por juízes que apenas aplicavam a lei, exatamente como escrita. “O juiz é a boca da lei” – haveria aplicação inafastável da lei, em seus exatos termos.
· Poder Executivo. Exercido por um governante que apenas fazia o que a lei impunha. Lei limitava atuação e poder do governante.
· O ideal de justiça no liberalismo era “dar a cada um o que é seu”.
A Revolução Francesa pregava igualdade meramente jurídica/formal: a lei não poderia conceder privilégios nem impor restrições a nenhuma classe social – todos deveriam ser tratados de forma igualitária.
Todavia, não havia igualdade material. O Estado Liberal tratava os naturalmente desiguais, como se iguais fossem. Era como se fossem colocados em uma sala, para que brigassem, lobos e cordeiros e o Estado apenas assistia sob o argumento de que, se a lei dizia que eles eram iguais, então eles estavam em situação de igualdade.
Como se percebe, o abuso do poder estatal do Estado Absolutista foi substituído por abuso do poder econômico, exercido pela burguesia (já que o Estado Liberal não mais a controlava).
Surge, com isto, problemas sociais até então desconhecidos: pessoas deixam campo para trabalharem na indústria e comércio (êxodo rural), o que gera fartura de mão de obra o que, por sua vez, gera abuso por parte dos empregadores.Os cidadãos eram, em tese, livres para buscar ou não emprego e para aceitar ou não as condições impostas pelos patrões, mas eram materialmente escravizados; a necessidade de sobrevivência não lhes permitia optar verdadeiramente.
Em um Estado que, erroneamente, considera todos iguais, surge espaço para os que são naturalmente superiores oprimam e explorem a maioria mais fraca.
 Neste contexto, o Estado Liberal preocupou-se demasiadamente com o patrimônio e com o desenvolvimento econômico, mantendo-se indiferente ao drama de uma maioria oprimida.
Se homens são natural, econômica e socialmente desiguais, são merecedores de um tratamento também desigual. Não basta ao Estado proclamar os homens iguais, deveria criar condições para que houvesse, de fato, igualdade.
Mas, com o Estado afastado dos problemas sociais, os instrumentos de proteção social eram limitados.
 Prevaleciam as assistências privadas e voluntárias; as poupanças individuais, o mutualismo. Proteção ao trabalhador dava-se sob a forma de caridade e o auxílio tinha natureza mutualista, não de seguro.
 De forma bastante restrita, surgiram alguns traços de assistencialismo social, como, por exemplo, os abrigos e pensões pecuniárias aos carentes. Prevalecia o pensamento de que o Estado deveria dar apenas assistência básica aos miseráveis, enquanto o mercado daria o resto.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL. Séc. XVIII.
Até este momento histórico prevalecia manufatura: atividade produtiva artesanal e manual, caracterizada pela utilização de poucas máquinas, nas quais o artesão cuidava de todo o processo de produção: desde obtenção de matéria-prima, confecção e venda da mercadoria.
Com o desenvolvimento da economia e mercado do Estado Liberal, houve um crescimento exponencial da produção em razão do trabalho ter sido assumido por máquinas.
Os trabalhadores deixam de produzir por conta própria e começam a trabalhar para um patrão, que detinha obra-prima, maquinário e que se aproveitava do produto da comercialização.
Quem tinha capital exercia o poder econômico; quem não tinha dinheiro precisava vender sua força de trabalho (seu único “bem”), aceitando qualquer condição que lhe fosse imposta e, tudo que fosse imposto por contrato, deveria ser cumprido integral e literalmente.
 Pensem neste exemplo: um dono de fábrica contratou um empregado para trabalhar por 18 horas diárias, 7 dias por semana. Hoje, nós diríamos que isto é um absurdo e que não podemos trabalhar desta forma, mas, naquela época, se estas condições estivessem no contrato, eram válidas e deveriam ser cumpridas, afinal, o empregado aceitou porque quis.
 Outro exemplo: um dono de fábrica contratou um empregado para trabalhar manuseando uma enorme máquina de corte com lâminas. Este empregado não recebia treinamento nem qualquer equipamento de proteção. Se o empregado tivesse um braço amputado pela máquina, ele não conseguiria mais trabalhar. E, se ele não conseguia mais trabalhar, ele estava descumprindo a parte dele no contrato (o empregado tem a obrigação de trabalhar e o patrão tem a obrigação de pagar o salário correspondente). Na medida em que o contrato não seria mais cumprido pelo empregado, o patrão poderia dispensá-lo como se ele tivesse dado causa à ruptura contratual.
   O Estado, como já vimos, não intervinha nesta relação e deixava que empregados e empregadores contratassem livremente, pressupondo que eram pessoas iguais.  
 Mas liberdade e igualdade meramente formais não eram suficientes para assegurar vida digna, que é direito natural das pessoas. Nasce a necessidade de assegurar direitos especiais para proteger os desfavorecidos em face daqueles que abusavam da sua fraqueza e vulnerabilidade.
 A Revolução Industrial e o uso inadequado da tecnologia da produção, acabaram por gerar um número muito grande de trabalhadores doentes, mutilados e incapazes de trabalharem para se sustentar. Além disto, o número de pessoas procurando emprego era maior do que o número de vagas disponíveis, o que gerou uma massa de indigentes.
A partir da próxima aula, veremos como estes flagelos sociais da Revolução Industrial deixaram de ser considerados uma consequência natural do desenvolvimento da sociedade (ou um efeito indissociável da organização social) e passaram a ser enfrentados como resultado indesejado de um sistema desorganizado que dá mais valor aos bens do que às pessoas.
AULA 10: O Estado social de Direito e o Welfare State 
Por força da Revolução Industrial, a população estava concentrada nos centros urbanos e a desigualdade social crescia. Com classes cada vez mais distantes, aumentavam as necessidades sociais.
O Estado Social tenta compatibilizar estas mazelas do capitalismo com o bem-estar social geral. Para tanto, o Estado volta a intervir nas relações jurídicas sempre que houvesse necessidade de garantir igualdade material.
Ao disciplinar o direito privado, o Estado reduz o espaço da autonomia da vontade privada, impedindo abusos. Na mesma linha, adota políticas de inclusão social, que geram deveres de assistência pública aos mais necessitados. O Direito do Trabalho, por exemplo, surgiu nesta fase histórica.
 É a partir da constatação de que não há desenvolvimento econômico sem desenvolvimento social, que o Estado começa a montar estruturas mínimas de bens e serviços essenciais à manutenção da dignidade dos indivíduos.
Além das liberdades públicas e da igualdade, surgem outros direitos fundamentais: direitos sociais, econômicos e culturais. O Estado assume papel de garantidor de um mínimo existencial a todos os homens.
Os direitos civis e políticos dependem do afastamento do Estado, de uma omissão. Já os direitos econômicos, sociais e culturais dependem de conduta ativa do Estado, de vontade política, estrutura e dinheiro.
Percebe-se que a antiga ideia de justiça (“dar a cada um o que é seu”), deveria ser substituída pela noção de que o Estado deveria dar a cada um, na medida de sua necessidade.
Para que haja desenvolvimento pleno, não basta dar a cada um o que é seu – até porque, muitas vezes, esta forma de justiça deixa uns com o muito que lhe pertence e outros sem nada. Por vezes é necessário dar a cada um o que não é seu, para que se alcance igualdade e justiça, bem como para que haja respeito à dignidade das pessoas indistintamente.
Neste novo modelo de Estado, a proteção social deixa de ser mutualista e passa a ter natureza securitária. O Estado Social se preocupa com duas frentes principais:
· Seguridade (seguro para eventos previsíveis – visa impedir situação de indigência e miséria, evita necessidade); e
· Assistência social (auxílio discricionário para fatos concretos – atua em situação já consolidada de indigência e miséria).
Mas todos os direitos sociais conquistados ao longo deste avanço histórico não teriam qualquer eficácia se eles estivessem apenas escritos nas Constituições e leis dos Estados e não pudessem ser exigidos imediatamente pelos indivíduos.
Foi por isso que, após a 2ª Guerra Mundial, consolidou-se o entendimento de que estes direitos deveriam ter força normativa, ou seja, deveria haver a previsão de métodos que garantissem a sua eficácia.
 Até hoje prevalece o entendimento de que as normas que preveem direitos sociais não são meros conselhos ao Poder Executivo, mas determinações. A Constituição Federal, por exemplo, não sugere ao Governador de um estado-membro que, se der, seria importante que ele tentasse fazer uma escola para as crianças e adolescentes; a Constituição Federal manda que estas escolas sejam feitas e responsabiliza todos os entes estatais por isto.
Os direitos sociais podem ser cobrados judicialmente. Configuram direito subjetivo passíveis de serem reivindicados. Basta lembrar, por exemplo, das pessoas que entram com ações judiciais para obter medicação ou tratamento médico gratuito pelo SUS.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (nós iremos conversar mais sobre ela em uma aula futura), prevê no seu artigo 25 que:
“Toda pessoa tem o direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe a saúde, e o bem-estar próprio e da família,

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