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Evolução da Segurança do Trabalho na Mineração no Brasil

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Revista Pensar Engenharia, v.5, n.2, Jul. 2017 
A Evolução Histórica da Segurança do Trabalho na Mineração no Brasil 
 
The Historical Evolution of Work Safety in Mining in Brazil 
 
 
Fabrícia Dos Santos Silva1 
Vanessa Gonçalves De Paula2 
Jacqueline Andrade Nogueira3 
 
 
RESUMO: 
Ao longo da história, a mineração sempre foi considerada com uma das atividades mais perigosas, responsável por 
muitos acidentes e doenças ocupacionais. No Brasil esta realidade não foi diferente, causando inúmeras mortes de 
escravos ou homens livres. O objetivo deste trabalho foi descrever as principais legislações de saúde e segurança 
ocupacional aplicadaà mineração, demonstrando sua evolução e descrevendo os seus principais aspectos 
técnicos.Discutindo os aspectos técnicos e históricos, sabe-se que em 6 de janeiro de 1915 (Lei Calógeras) foi criado 
a primeira legislação brasileira a retratar o tema de segurança e saúde na mineração. Tendo como função o 
regulamento das propriedades das minas no Brasil. Somente em 22/12/1977 foi publicada a Lei n° 6.514 que 
instituiu as Normas Reguladoras, com requisitos básicos de prevenção de acidentes e saúde ocupacional no setor 
nacional, incluindo nas Normas Regulamentadoras a NR22.No Brasil atualmente as legislações de segurança e saúde 
ocupacionais aplicadas à indústria da mineração são a Norma Regulamentadora nº 22 – Segurança e Saúde 
Ocupacional na Mineração do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e as Normas Reguladoras da Mineração 
(NRM) do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), vinculada ao Ministério de Minas e Energia 
(MME),que são as responsáveis tanto pela fiscalização quanto ao cumprimento destas normativas. Mesmo após 
várias mudanças na constituição trabalhista brasileira, tais normas regulamentadoras atendem aos preceitos da 
Segurança e Saúde nas Minas decretada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). 
 
Palavras-chave: mineração brasileira, segurança e saúde ocupacional. 
 
_____________________________________________ 
1 Graduando em Engenharia de Minas das Faculdades Kennedy,fabriciavidasilva@gmail.com 
2 Graduando em Engenharia de Minas das Faculdades Kennedy,vanessaengeminas@yahoo.com.br 
3 Engenheira de Minas pela Universidade Federal de Minas Gerais, Mestrado e Doutorado em Engenharia 
Metalúrgica e de Minas pela Universidade Federal de Minas Gerais. Formação Pedagógica para Formadores da 
Educação Profissional pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Engenharia de Segurança do Trabalho pelas 
Faculdades Kennedy. Professora do Curso de Engenharia de Minas das Faculdades Kennedy. Rua José Dias Vieira, 
46 - Rio Branco, Belo Horizonte, jandradenogueira@yahoo.com.br. 
 
 
Revista Pensar Engenharia, v.5, n.2, Jul. 2017 
 
ABSTRACT: 
Throughout history, mining has always been considered one of the most dangerous activities, responsible for many 
accidents and occupational diseases. In Brazil this reality was no different, causing countless deaths of slaves or free 
men. The objective of this work was to describe the main occupational health and safety legislation applied to 
mining, demonstrating its evolution and describing its main technical aspects. Discussing the technical and historical 
aspects, it is known that on January 6, 1915 (Lei Calógeras) wascreatedthe first Brazilian legislation to portray the 
subject of safety and health in mining. Having as a function the regulation of the properties of the mines in Brazil. It 
was only on December 22, 1977 that Law No. 6,514 was published, which established the Regulatory Norms, with 
basic requirements for the prevention of accidents and occupational health in the national sector, including in NR's to 
NR22. In Brazil, currently occupational safety and health legislation Applied to the mining industry are Norma 
Regulamentadora nº 22 - Occupational Safety and Health in the Mining of the Ministry of Labor and Employment 
(MTE) and the Mining Regulatory Norms (NRM) of the National Department of Mineral Production (DNPM), 
linked to the Ministry of Mines and Energy (MME), which are responsible for both oversight and compliance with 
these regulations. Even after several changes in the Brazilian labor constitution, these regulatory standards meet the 
precepts of Safety and Health in Mines decreed by the International Labor Organization. 
 
Keywords:Brazilian mining, occupational health and safety. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Muitas mudanças acorreram com a Revolução Industrial a partir de meados dos séculos XVIII e 
XIX, em especial à classe trabalhadora, que sofreram com as transformações, de forma bastante 
negativa com relação à saúde e bem-estar do trabalhador, sendo submetido a cargas horárias de 
trabalho bastante aumentadas em ambiente que não lhes oferecia segurança alguma. Resultando 
da revolução industrial, muitas máquinas e equipamentos sofreram mudanças, se tornando 
tecnologicamente avançadas, o que acarretou maior desconforto ao trabalhador, que tinha que 
manuseá-las sem estar habituados ou ter nenhum treinamento que lhe fizesse apto ao seu 
manuseio, gerando graves acidentes de trabalho como: desgaste físico, amputações, intoxicação, 
etc. Como agravante a maioria desses trabalhadores vítimas de acidentes eram mulher e muitas 
vezes crianças, pois sua mão de obra era mais barata. 
 
Ao longo do tempo as necessidades de mão de obra especializada, e maior demanda do mercado, 
foram exigindo que os trabalhadores buscassem conhecimento mais específico para acompanhar 
as mudanças acarretadas pela Revolução Industrial. Com a mudança nesse quadro de exigências, 
começaram a surgir também, ocorrências de mobilizações desses trabalhadores, afim de que 
medidas legais fossem criadas para que proporcionasse ao trabalhador melhores condições de 
trabalho. 
 
A primeira norma criada no intuito de beneficiar o trabalhador, no que tange o conforto e 
segurança em seu ambiente de trabalho, aconteceu na Inglaterra, em 1802, com a chamada “Lei 
de Saúde e Moral de Aprendizes”, que estabelecia uma jornada máxima de doze horas de 
trabalho diárias, proibia o trabalho noturno e ainda estabelecia melhoras em geral para as 
condições do trabalhador no ambiente de trabalho. Ainda na Inglaterra, em 1834 ocorreu a 
contratação do primeiro médico inspetor de fábrica, medida essa adotada por outros países 
posteriormente, concedendo ao trabalhador exames admissionais e periódicos, para controlar o 
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bem-estar dos trabalhadores dentro das fábricas. Houve ainda diversas mudanças na Europa para 
benefício do trabalhador, com a criação de várias normas que garantiam ao trabalhador melhoras 
nas condições de trabalho. 
Na mesma época no Brasil as condições ainda não haviam mudado, por ser um país colonizado, 
as regras a benefício do trabalhador acorreram mais tarde. Contando com a economia agrícola e 
baseada em mão de obra escrava e agrícola as preocupações com a saúde do trabalhador 
aconteceram a partir de epidemias como a cólera, a febre amarela e a peste que dizimaram 
milhares de trabalhadores, ocasionando prejuízos à economia. 
 
Foi durante o ciclo do café que ocorreu a divisão internacional do trabalho e saúde pública no 
intuito de combate a essas epidemias. No entanto a intervenção da saúde pública deu-se 
insatisfatoriamente nas fábricas, ocasionando revolta, e com isso foram criados movimentos 
sociais que lutavam pelo direito de ter melhores condições de trabalho, organizando movimentos 
de greve como as de 1907, 1912,1917 e 1920. Em consequência desses movimentos foram 
surgindo leis para regulamentação da higiene e segurança do trabalhador em seu ambiente de 
trabalho, surgindo no Brasil então o primeiro médico obrigatório nas fábricas. 
 
Foi regulamentada a Lei n. º 3.724, de 15//01/1919, que definia que em acidentes dentro do 
ambiente de trabalho ficava o empregador obrigado pagar indenização ao trabalhador ou a sua 
família caso ocorresse o óbito do mesmo. Em 1923 foi regulamentado o decreto n. º16.027, de 
30/04/1923 que cria o Conselho Nacional do trabalho que controla a supervisão da Previdência 
Social. Em 1930 foi criada uma Secretaria de Estado denominada Ministério dos Negócios do 
Trabalho, Indústria e Comércio, tendo como foco a higiene e a segurança do trabalho conforme 
artigo 200 da constituição federal de 1988. 
 
Em 1934 criou-se a Inspetoria da Secretaria da Higiene e Segurança do Trabalho, atual Secretaria 
de Segurança e Saúde no Trabalho, órgão esse que controla e fiscaliza o cumprimento das leis. 
Os trabalhadores com suas intervenções conseguiram consolidar seus direitos, ainda em 1943 
com a implantação do código de legislação trabalhista (CLT), o qual determina todas as normas 
trabalhistas, determinando direitos e deveres do empregado e empregador. Esse código tratava de 
todas as normas e ainda delimitava o horário de trabalho, salário, aposentadoria entre outros 
direitos, não somente dos trabalhadores, mas também dos contratantes. 
 
Em 1944 o Decreto-lei n.º 7.036, de 10/11/1944 institui indenização ao trabalhador acidentado e 
comissão interna para representar os trabalhadores em empresas que empregavam mais de 100 
funcionários, atualmente esse decreto encontra-se revogado. 
 
Em 1953 é decretada a Portaria n. º 155/53, que regulamenta a atuação das Comissões Internas de 
Prevenções de Acidentes – CIPA, contribuindo para que os trabalhadores tivessem o 
conhecimento e tivessem acesso a treinamentos e palestras que beneficiem a segurança e o bem-
estar no local de trabalho. Em 1976 foi instituído o PAT – Programa de Alimentação do 
trabalhador, no intuito de garantir a nutrição do trabalhador. As empresas ficam responsáveis para 
inscrever-se no Ministério do trabalho e ainda atender todos os funcionários da empresa 
independente do cargo e salário. 
 
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Em 1978 foi aprovada pelo Ministério do Trabalho a portaria nº 3.214 que regulamenta as 
Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do trabalho. O Decreto n.º 3.048, de 
6/5/1999 aprova o regulamento de benefícios da Previdência Social, o qual revogou o Decreto n.º 
2.172/97, mas manteve o conceito de acidente de trabalho da Lei n.º 8.213/91, trazendo novo 
texto que assegura benefícios como auxilio doença, auxilio acidente, aposentadoria e ainda 
recebimento de pensão no caso de morte do trabalhador. 
 
Todos esses fatos ocorreram no intuito de beneficiar o trabalhador, assegurando a proteção e 
saúde a partir da revolução Industrial. Vale ainda ressaltar a participação e vitória dos 
trabalhadores que foram responsáveis pela evolução das normas que garantem seus direitos, 
partindo de sua indignação e intervenções como greves conquistaram espaço que garantem seus 
direitos, que foi adaptada ao longo do tempo oferecendo melhores condições ao trabalhador e 
cidadão. 
 
1.2 OBJETIVOS 
1.2.1 OBJETIVO GERAL 
O objetivo desse trabalho é criar um panorama da evolução das normas da saúde e segurança do 
trabalho no Brasil no setor minerário. 
 
 1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 Descrever o modo operante em que os trabalhadores da indústria minerária eram 
submetidos, na época em que ainda não existiam normas e que aparece a segurança e 
saúde dos trabalhadores. 
 
 Levantar pontos relevantes dentro desse contexto, quando depois da revolução industrial, 
começaram as preocupações e reivindicações por melhorias nas condições de trabalho. 
Juntamente a esse ponto as normas que foram revogadas, por se tornarem obsoletas ou 
mesmo por se tornarem inadequadas ao ambiente trabalhista, serão aqui expostas. 
 
 
 Mostrar as mudanças ocorridas ao longo do tempo, em função das necessidades dos 
trabalhadores, para garantia de sua segurança e saúde diante de situações ocorridas, 
anteriormente as modificações das normas, e que deixava em situação de vulnerabilidade, 
e muitas vezes expostos a lesão até físicas no ambiente de trabalho. 
 
1.3 JUSTIFICATIVA 
A justificativa em pesquisar este assuntoorigina-se no fato de que o trabalho em campos de 
mineração é um dos mais arriscados do setor industrial, com altos índices de acidentes graves ou 
fatais. Contudo pouco discutido ou pouco conhecido, assim como muitas outras normas de 
segurança. 
 
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No Brasil atualmente as legislações de segurança e saúde ocupacionais aplicadasà indústria da 
mineração são a Norma Regulamentadora nº 22 – Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração 
do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e as Normas Reguladoras da Mineração (NRM) do 
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), vinculada ao Ministério de Minas e 
Energia (MME), cabendo a estes órgãos a fiscalização quanto ao cumprimento destas normativas. 
Tais regulamentos foram criados como interesse sensibilizar os profissionaispara importância do 
conhecimento e aplicação das normas de segurança, além de induzir novas posturas no ambiente 
de trabalho visando beneficiar os trabalhadores contra os riscos a sua saúde. 
 
Diante desta perspectiva, este trabalho irá descrever a importância da evolução da legislação de 
segurança e saúde ocupacional na indústria mineral brasileira. 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
2.1História da Legislação de Segurança e Saúde Ocupacional no Brasil 
Assim como em outras colônias, o Brasil utilizou-se de mão de obra escrava nas atividades de 
mineração, agricultura e outras atividades econômicas até o final do século XIX. Por mais de 350 
anos não existiu outra forma de mão de obra que não fosse a escrava, possivelmente este o 
motivo do reduzido número de informações acerca de doenças relacionadas ao trabalho relativas 
a este período (FUNDACENTRO, 2004). 
 
Após a Independência do Brasil houve a abertura de minas à iniciativa privada, sendo os ingleses 
os maiores interessados. Devido aos autos rendimentos outras empresas se instalaram utilizando-
se dos recursos tecnológicos da época. As companhias inglesas utilizavam da mão de obra livre e 
escrava, sendo homens, mulheres e crianças seus trabalhadores. 
 
No período da República Velha (1889-1930), a economia brasileira era caracterizada por 
exportação de produtos do campo, fazendo com que o governo entendesse que uma 
regulamentação das relações trabalhistas pudesse ser prejudicial ao país (ROCHA, 1993 
apudMOREIRA, 2003). 
 
Em 1919 a Lei 3.724 de 15/01/1919 (regulamentada pelo Decreto número 13.498 de 12/03/1919) 
que se firmou como a primeira lei sobre indenização por acidentes de trabalho (MOREIRA, 
2003). Segundo Fundacentro (2004) esta lei tinha como fundamento jurídico a teoria do risco 
profissional, e a necessidade de intervenção da autoridade policial em todas as ocorrências de 
acidentes do trabalho. 
 
Em 1930 através do Decreto Lei nº 19.433 de 26/11/1930 foi criado o Ministério do Trabalho, 
Indústria e Comércio, e em 1932 as Inspetorias do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio 
que posteriormente em 1940 foram transformadas em Delegacia Regionais do Trabalho 
(MOREIRA, 2003). 
 
Em 1934 foi decretada a segunda Lei de Acidentes de Trabalho, o Decreto nº 24.637 de 
10/07/1934, substituindo a Lei 3.274 de 1919 estabelecendo a obrigação do seguro privado ou 
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depósito em dinheiro em banco público como garantia do pagamento de indenizações (SELVA, 
2010). 
 
Criada em 1943 a CLT (Consolidação das leis trabalhistas) pelo decreto n.º 5.452 reunia toda a 
legislação relacionada a organização sindical, previdência social, justiça e segurança do trabalho. 
Cabe ao capítulo V a disposição sobre temas relativos à segurança e saúde do trabalhador, 
agregando a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), máquina e equipamentos, 
caldeiras e higiene industrial e pessoal, entre outras regras que se tornaram leis. Durante as 
décadas de 40,50 e 60 não houve alterações relevantes nas prevenções de acidentes, somente 
algumas empresas petroquímicas tinham algum interesse em prevenção de incêndio, oque 
culminou no apontamento do Brasil como recordista na década de 60 como o país com maiores 
taxas de acidentes. 
 
Em 1972 essa situação foi modificada quando o governo federal publicou a portaria 3.237, 
criando os Serviços Especializados de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), resultado de 
pressões da comunidade Internacional, mais precisamente pela Organização Internacional do 
Trabalho (OIT). 
 
A partir da década de 70 de acordo com as necessidades geradas no momento da gestão 
governamental, foram gerados vários cursos de Engenharia de Segurança do Trabalho, Médicos 
do Trabalho, Inspetores de Segurança do Trabalho (técnicos em Segurança do Trabalho), 
Enfermeiros do Trabalho (Técnico em Enfermagem do Trabalho), Auxiliares de Segurança do 
Trabalho designados pelo dimensionamento estabelecido pelo número de empregados e o grau de 
risco da atividade exercida pelo beneficiador da empresa. 
 
No dia 22/12/1977 foi publicada a Lei n° 6.514 que instituiu as Normas Reguladoras, que 
denotam normas e requisitos básicos de prevenção de acidentes e saúde ocupacional no setor 
nacional, incluindo nas NR’s a NR22 que trata pontualmente das normas ligadas a mineração. 
Nesse momento também foram criadas as delegacias Regionais do Trabalho (DRT), que 
intensificaram as fiscalizações exigindo das empresas conformidade com as normas. Esse 
procedimento também se tornou uma atividade de pouco resultado, pois o contingente para 
fiscalização seria insuficiente para todo território nacional. A partir daí foram criadas as multas 
para quem infringisse as normas, o que denotou a Segurança e Medicina do Trabalho, eram 
atividades meramente para arrecadação governamental. 
 
A NR 22 tem por objetivo normatizar a organização e ambiente de trabalho de forma a tornar 
compatível o planejamento e desenvolvimento da atividade mineira permanecendo ainda com a 
segurança e saúde dos trabalhadores em minerações subterrâneas, minerações a céu aberto, 
beneficiamento mineral, garimpos, pesquisas minerais e qualquer interesse na área mineral, 
outorgando as responsabilidades das empresas e permissionários da lavra garimpeira, onde cabe 
elaborar e executar o Programa de Gerenciamento de Riscos (GRP) para execução da norma. 
 
A partir da década de 80 os conceitos de segurança e saúdo no trabalho começaram a ganhar 
maior espaço e viabilidade na sociedade brasileira. A classe trabalhadora iniciou um processo de 
estruturação de discussão de quadros relativos ao tema, então foi criado o Departamento 
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Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde dos Ambientes de Trabalho (DIESAT) pelas 
centrais sindicais e o Instituto Nacional de Saúde no Trabalho (INST) pela Central Única dos 
Trabalhadores (CUT) e a classe empresarial criou a Confederação Nacional das Indústrias (CNI). 
Já a partir da década de 90 houve uma redução bastante significativa no quadro de acidentes na 
indústria da mineração, reflexo das intervenções ocorridas anteriormente, e ainda com reflexos da 
globalização. 
 
Em 09 de abril de 1996 o Ministério do Trabalho publica uma portaria de número 393 criando a 
metodologia de Regulamentação na área de Segurança e Saúde no trabalho com participação do 
governo, trabalhadores e empregados. A segurança e saúde do trabalhador na atualidade sofreram 
modificações que mudaram o quadro de perdas de vidas e melhoria na qualidade de vida do 
trabalhador da mineração. As empresas se tornaram responsáveis e contribuem para essas 
melhorias ainda hoje. São responsáveis por implantar políticas sérias de Segurança dentro de seus 
trabalhos e da cultura da segurança de seus empregados. As empresas também exigem uma 
conduta responsável equivalentes no âmbito interno da empresa. 
 
Os trabalhadores agora contam com assinatura de contrato e contam com oPrograma de 
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional 
(PCMSO) e atestados de saúde ocupacional (ASO) além disso, as empresas criam um ambiente 
de segurança com os Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) e ainda os Equipamentos de 
Proteção Individual (EPI), sendo inclusive interrompidas as atividades na empresa, caso seja 
detectado algum risco que possa comprometer a integridade de seus beneficiadores. A exigência 
de um técnico de segurança do trabalho também agrega bastante valor a normas estabelecidas. O 
profissional é instituído e tem a responsabilidade de instruir e fiscalizar os funcionários quanto 
aos procedimentos de segurança cabíveis a eles dentro do setor de trabalho. E também é 
responsável por oferecer aos trabalhadores ambientes de segurança e pontuar à empresa qualquer 
situação que possa oferecer algum tipo de risco aos trabalhadores. 
 
3 Legislações brasileiras Referentes à Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração- 
Aspectos Técnicos e Históricos 
 
3.1 Lei Calógeras 
Em seis de janeiro de 1915 (Lei Calógeras) foi a primeira legislação brasileira a retratar o tema de 
segurança e saúde na mineração. Tendo como função o regulamento das propriedades das minas 
no Brasil. Nesta época o regime minerário vigente era o regime de acessão, onde pelos termos da 
Constituição Republicana, as minas e os recursos minerais pertenciam aos proprietários do solo. 
Outro ponto acerca desta legislação é que ela não considerava como mina as jazidas de ferro, sal, 
salitres, materiais de construção, cristal, amianto, caulim, areias ou gemas em leitos de rio ou 
aluviões superficiais e jazidas de qualquer natureza lavradas pelo método a céu aberto. 
Considerava como mina somente as massas minerais ou fósseis existentes no interior da terra ou 
em sua superfície, relativo às seguintes substâncias: ouro, prata, platina, mercúrio entre outros, 
diamante e gemas, e os minerais combustíveis como antracitos, hulhas, óleo minerais. 
 
3.1.2 Decreto Lei nº 24.642 de 10/07/1934 (Código de Minas de 1934) 
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Publicado no DOU de 20/07/1934, o Decreto nº 24.642 de 10/07/1934 conhecido como Código 
de Minas de 1934, descreviam sobre o novo regime de exploração das minas no Brasil, que a 
partir de então passava a vigorar o modelo de concessão, modelo em quais as atividades 
minerárias, bem como o recurso mineral são de propriedade da União cabendo a qualquer 
empresa brasileira, a realização de atividades de lavra ou pesquisa de recursos minerais, desde 
que haja autorização ou concessão da União. 
 
No que se refere à segurança e saúde ocupacional, esta lei tem ênfase na fiscalização da pesquisa 
e lavra, sendo obrigação do Governo Federal fiscalizar os trabalhos na pesquisa e lavra, 
objetivando dentre outros a proteção aos operários. 
 
3.1.3 Decreto Lei nº 1985 de 29/01/1940 
Publicado em 30/01/1940, conhecido como o Código de Minas de 1940, assim como o seu 
anterior descrevia sobre o modelo de autorização e concessão das jazidas e recursos minerais do 
solo brasileiro. Diferente do Código de 1934 no que se refere ao conceito de mina, que passava a 
vigorar como “a jazida em lavra, entendido por lavra o conjunto de operações necessárias à 
extração industrial de substâncias minerais ou fósseis da jazida” e jazida como “toda massa de 
substância mineral, ou fóssil, existente no interior ou na superfície da terra e que apresente valor 
para a indústria”. 
 
No campo da segurança e saúde ocupacional no se refere à fiscalização da pesquisa e da lavra 
passa a ser de responsabilidade do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), 
objetivando dentre outros a conservação e segurança das construções e trabalhos, e a proteção do 
bem estar público, da saúde e da vida dos operários. 
 
Além das fiscalizações foram atribuídas ao DNPM: 
 
 A organização de regras técnicas para proteção do solo e segurança das 
construções e da saúde e da vida do pessoal na mineração; 
 
 A interdição de empresas que estejam colocando em risco os trabalhadores, até 
que sejam realizadas as medidas mitigatóriasnecessárias; 
 
3.1.4 Decreto Lei nº 227 de 28/02/1967 (Código de Mineração) 
Criado o Código de Mineração que dispõe sobre os regimes de aproveitamento das jazidas e 
recursos minerais, substituindo o Código de Minas de 1940, sendo esta a legislação em vigor.No 
que se refere à segurança e saúde ocupacional esta legislação, trouxe apenas a obrigatoriedade de 
constar no Plano de Aproveitamento Econômico (PAE) projetos referentes à iluminação, 
ventilação, transporte, sinalização e segurança do trabalho, quando se tratar de lavra subterrânea; 
exigência da realização dos trabalhos com observância das normas regulamentares (não 
existentes à época), e a promoção da segurança e salubridade das habitações existentes no local. 
 
3.1.5 Portaria do Ministério do Trabalho nº 3.214 de 08/06/1978 
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Publicada em 06 de julho de 1978, a Portaria do Ministro do Trabalho nº 3.214 de 08/06/1978 
aprovou as Normas Regulamentadoras (NR), relativas à segurança e Medicina do Trabalho. 
Foram aprovadas 28 Normas Regulamentadoras, destacando-se a NR-21- Trabalho a Céu Aberto 
e a NR 22- Trabalhos Subterrâneos. 
 
3.1.6 Portaria do DNPM nº 237 de 18/10/2001 
Publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 19 de outubro de 2001, a Portaria do DNPM nº 
237 de 18 de outubro de 2001, estabeleceu as Normas Reguladoras de Mineração (NRM) 
objetivando:“disciplinar o aproveitamento racional das jazidas, considerando as condições 
técnicas e tecnológicas de operação, de segurança e de proteção ao meio ambiente, de forma a 
tornar o planejamento e o desenvolvimento da atividade minerária compatíveis como a busca 
permanente da produtividade, da preservação ambiental, da segurança e saúde dos 
trabalhadores”. (item 1.1.1 da NRM 01-Normas Gerais). Estas NRM foram estabelecidas em 02 
de maio de 1994, uma vez que estabelecia ao Departamento Nacional de Produção Mineral 
(DNPM). A Portaria 237/2001 possui o total de 22 Normas, sendo destas nove relativas à área da 
segurança e saúde ocupacional, as quais serão descritas abaixo: 
 
3.1.6.1 NRM 07- Vias e Saídas de Emergência 
Discorre dentre outros assuntos, acerca da obrigatoriedade das minerações subterrâneas 
possuírem no mínimo duas vias de acesso à superfície, sendo uma via principal e uma alternativa 
ou de emergência.“Toda mina subterrânea em atividade deve possuir obrigatoriamente, no 
mínimo, duas vias de acesso à superfície, uma via principal e uma alternativa ou de emergência, 
separadas entre si e comunicando-se por vias secundárias de forma que a interrupção de uma 
delas não afete o trânsito pela outra”. 
 
3.1.6.2 NRM 08- Prevenção Contra Incêndios, Explosões, Gases e Inundações. 
Discorre sobre normativas visando a prevenção de incêndio, explosões acidentais, gases e 
inundações. Destaca-se a obrigatoriedade da existência em minas subterrâneas sujeitas a 
concentração de gases, de equipamentos individuais de fuga rápida ou auto resgate próximo às 
frentes de trabalho, bem como em todo o empreendimento mineiro da existência de equipes 
treinadas para combate a incêndio. 
 
3.1.6.3 NRM 09- Proteção contra Poeiras 
Tem como principal contribuição, assim como a NR 22, a obrigatoriedade de que os trabalhos de 
perfuração sejam realizados por processo umidificados. Dispõe ainda, da obrigatoriedade do 
monitoramento periódico de exposição dos trabalhadores às poeiras através de grupos 
homogêneos de exposição. 
 
3.1.6.4 NRM-10 Sistema de Comunicação 
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Discorre sobre a exigência que as minas subterrâneas possuam um sistema de comunicação 
padronizado, estando este afixado em local visível, em todos os pontos de parada e pontos de 
operação do sistema de transporte, devendo ser garantido o retorno através de repetição de sinal, 
comprovando ao emissor que o receptor recebeu corretamente a mensagem. 
 
3.1.6.5 NRM 11 – Iluminação 
Discorre sobre a obrigatoriedade dos locais de trabalho, circulação e transporte de pessoas 
possuírem sistema de iluminação natural ou artificial adequado às atividades desenvolvidas, 
destacando que independente da existência destas, as operações em mina subterrânea e 
deslocamento noturno nas áreas de operação de lavra, basculamento e carregamento nas minas a 
céu aberto, é obrigatório o uso de lanternas individuais.“Os locais de trabalho, circulação e 
transporte de pessoas devem dispor de sistemas de iluminação natural ou artificial, adequados às 
atividades desenvolvidas”. 
 
3.1.6.6 NRM 12- Sinalização de Áreas de Trabalho e de Circulação 
Discorre sobre a obrigatoriedade de sinalização das vias de circulação, áreas de utilização de 
material inflamável, tanques e substâncias tóxicas, galerias principais das minas subterrâneas, 
plantas de beneficiamento, acesso às bancadas garantindo a segurança operacional e dos 
trabalhadores. 
 
3.1.6.7 NRM 14- Máquinas, Equipamentos e Ferramentas 
Discorre sobre os principais aspectos de segurança a serem implementados nos equipamentos de 
guindar, cabos, correntes e polias, transportadores contínuos através de correias, escadas e 
equipamentos radiativos. 
 
“Todas as máquinas, equipamentos, instalações elétricas de automação e instrumentação e 
auxiliares devem ser projetadas, montadas, operadas e mantidas em conformidade com as normas 
técnicas vigentes, as instruções dos fabricantes e as melhorias, desenvolvidas por profissional 
habilitado.” 
 
3.1.6.8 NRM 16- Operação com Explosivos e Acessórios 
Discorre sobre os principais riscos e normas aplicadas às operações de desmonte de rocha, 
abordando aspectos sobre transporte, armazenamento, manuseio de explosivos. Enfatiza ainda da 
obrigatoriedade de elaboração do Plano de Fogo por profissional legalmente habilitado, e que a 
execução deste seja executado e supervisionado por técnico responsável ou por blasterlegalmente 
registrado. “O transporte e utilização de material explosivo devem ser efetuados por pessoal 
devidamente treinado, respeitando-se as Normas do Departamento de Fiscalização de Produtos 
Controlados do Ministério da Defesa e legislação que as complemente.” 
 
 
3.1.6.9 NRM 22- Proteção ao trabalhador 
Revista Pensar Engenharia, v.5, n.2, Jul. 2017 
Discorre sobre os principais parâmetros a fim de garantir a integridade do trabalhador quando da 
realização de atividades na mineração. Destacam-se a obrigatoriedade de elaboração, 
implementação do plano de emergência, treinamento, qualificação, informações, instruções e 
reciclagens necessárias para a preservação da segurança e saúde do trabalhador bem com a 
adoção de dispositivos que impeçam acidentes de queda de altura (cinto de segurança, 
plataformas, guarda-corpos etc.). 
 
3.1.6.10 Outras legislações aplicadas ao Setor Mineral 
Além das legislações citadas, outras normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e 
Emprego aplicam-se ao setor de mineração, tais como: 
NR 4- Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho; 
NR 5- Equipamento de Proteção Individual; 
NR 7- Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional; 
NR 10- Serviços em Eletricidade; 
NR 12- Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos; 
NR 13- Caldeiras e Vasos de Pressão; 
NR 15- Atividades e Operações Insalubres; 
NR 16- Atividades e Operações Perigosas; 
NR 17- Ergonomia, NR 19- Explosivos; 
NR 23- Proteção Contra Incêndios; 
NR 24- Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho; 
NR 33- Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados e; 
NR 35- Trabalhos em Altura. 
 
4 CONCLUSÃO 
Foi sintetizado neste trabalho que a saúde e o bem-estar do trabalhador são direitos fundamentais 
garantidos pela Constituição Federal de 1988. O meio ambiente do trabalho deve ser adequado ao 
exercício das atividades do trabalhador 
Mesmo após várias mudanças na constituição trabalhista brasileira, a Norma Regulamentadora nº 
22 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e as Normas Reguladoras da Mineração 
(NRM’s) do Departamento Nacional de ProduçãoMineral (DNPM) atendem aos preceitos da 
Segurança e Saúde nas Minas decretada pela Organização Internacional do Trabalho. 
É importante ressaltar que somente a partir de 1978 foi publicada uma legislação que tratava 
especificamente da indústria mineral brasileira, legislação esta que já fora criada ultrapassada, 
uma vez que previa cálculo de ar em minas subterrâneas para animais, e especificava os 
responsáveis pela condução dos trabalhos da mina com feitores, capatazes, termos estes que 
remontavam aos tempos da mineração na Colônia Portuguesa, em que a mão de obra utilizada era 
quase exclusivamente escrava. 
É necessária uma participação maior do poder público, principalmente no que se refere a 
fiscalizações para verificação do cumprimento das normas técnicas de segurança do trabalho, 
centradas nas empresas de pequeno, médio e grande porte. 
Revista Pensar Engenharia, v.5, n.2, Jul. 2017 
 
5 BIBLIOGRAFIA 
 
DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL. Portaria nº 237 de 18 de 
outubro de 2001- Determina a publicação das Normas Regulamentadoras da Mineração 
(NRM’s). Brasília, 18 out 2001. Disponível em: . Acesso em: 13 de junho de 2017. 
 
FUNDACENTRO.- Introdução à Higiene Ocupacional. São Paulo, 2004. 
 
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO - Normas Regulamentadoras - Segurança e Saúde 
Do Trabalho http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nrs.htm>.Acesso em3 de junho,2017. 
 
MOREIRA, A. C. S.- Características da Atuação Profissional do Engenheiro de Segurança do 
Trabalho: uma pesquisa quantitativa com os Engenheiros catarinenses. Florianópolis 175 p. 
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção)- Programa de Pós-Graduação em Engenharia 
de Produção, UFSC, 2003. 
 
SELVA J. F.- A Ação Regressiva do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em face do 
empregador nos casos de acidente de trabalho. Monografia. Universidade Comunitária da Região 
de Chapecó-UNOCHAPECO. Chapecó.2010.

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