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Medicação Intracanal José Freitas Siqueira Jr. Isabela das Neves Rôças Hélio Pereira Lopes Capítulo 14 573 Existem situações rotineiras e outras esporádicas na clínica endodôntica onde está indicado o emprego de uma medicação no interior do sistema de canais ra- diculares. Idealmente, tais medicamentos deverão per- manecer ativos durante todo o período entre as con- sultas do tratamento endodôntico. Embora essa etapa não possa substituir qualquer outra relacionada com a terapia endodôntica, sua utilização assume um papel auxiliar bastante importante em determinadas condi- ções clínicas e patológicas. Os objetivos deste capítulo são discutir as situações clínicas nas quais a medica- ção intracanal é indicada, emitir conceitos relacionados com as características físicas, químicas e biológicas dos principais medicamentos endodônticos, bem como suas indicações de uso, e expor as formas de aplicação de um medicamento no interior do canal radicular. OBJETIVOS Um medicamento pode ser aplicado no interior do sistema de canais radiculares pelas seguintes razões: a) eliminar micro-organismos que sobreviveram ao preparo químico-mecânico; b) impedir a proliferação de micro-organismos que so- breviveram ao preparo químico-mecânico; c) atuar como barreira físico-química contra a infecção ou reinfecção por micro-organismos da saliva; d) reduzir a inflamação perirradicular e consequente sintomatologia; e) controlar exsudação persistente; f) solubilizar matéria orgânica; g) neutralizar produtos tóxicos; h) controlar reabsorção dentária inflamatória externa; i) estimular a reparação por tecido mineralizado. Tais razões serão discutidas a seguir. a) Eliminar micro-organismos que sobreviveram ao preparo químico-mecânico O medicamento para uso endodôntico deve pos- suir ação antimicrobiana, tendo o potencial de destruir micro-organismos remanescentes que sobreviveram aos efeitos do preparo químico-mecânico. Estudos têm demonstrado que micro-organismos cultiváveis ainda são detectados em 40 a 60% dos canais radicu- lares mesmo após preparo químico-mecânico usando hipoclorito de sódio (NaOCl) como substância quí- mica auxiliar15,84,130,172. Esses micro-organismos resis- tentes ao preparo usualmente estão alojados em áre- as não afetadas por limas e pela substância química. Vários estudos têm demonstrado que a maioria dos patógenos endodônticos tem a capacidade de invadir os túbulos da dentina radicular e instalar uma infec- ção intratubular81,82,106,142,163 (Fig. 14-1). Outras regiões do canal radicular, como istmos, ramificações, delta apical e irregularidades, não são usualmente limpas e consequentemente desinfetadas pela ação do prepa- ro químico-mecânico90,114,138,213 (Figs. 14-2 a 14-5). Pelo fato de permanecer por tempo muito mais prolongado 574 Capítulo 14 Medicação Intracanal no interior do canal radicular do que a substância quí- mica usada na irrigação, o medicamento tem maiores chances de atingir tais áreas não afetadas pela instru- mentação e pela substância química auxiliar. Assim, exercendo sua ação antimicrobiana, pode contribuir decisivamente para a máxima eliminação da microbio- ta endodôntica34,134,135,187,201. Possivelmente, por poten- cializar a eliminação de micro-organismos, o emprego de medicamentos intracanais está diretamente relacio- nado com uma melhor reparação dos tecidos perirradi- culares e, consequentemente, com um maior índice de sucesso da terapia endodôntica de dentes com canais infectados14, 57,58,64,65,73,74,89,113,133,174,202. b) Impedir a proliferação de micro-organismos que sobreviveram ao preparo químico-mecânico Quando um canal é selado coronariamente após a sua instrumentação, restaura-se a atmosfera de anaerobiose, e o fluxo de fluidos teciduais ou exsu- dato inflamatório ricos em proteínas e glicoproteínas para o interior daquele pode sustentar o crescimento de micro-organismos, mormente os anaeróbios estri- tos, que porventura tenham sobrevivido ao preparo A B Figura 14-1. Invasão bacteriana de túbulos dentinários. A. Propio- nibacterium acnes. B. Actinomyces israelii. Localizadas no interior da dentina, bactérias são de eliminação difícil ou mesmo impossível pelo preparo químico-mecânico. Figura 14-2. Ramificação do canal. A. Dente diafanizado. (Gentileza do Dr. Armelindo Roldi.) B. Corte histológico evidenciando remanes- centes teciduais não removidos pelo preparo. C. Corte demonstrando intensa colonização de uma ramificação apical por bactérias gram- positivas. (Gentileza do Dr. Domenico Ricucci.) A B C Medicação Intracanal 575 Figura 14-3. Istmo entre os canais mesiais do molar inferior. A. Dente diafanizado. (Gentileza do Dr. Armelindo Roldi.) B e C. Cortes histoló- gicos demonstrando remanescentes teciduais após completo preparo químico-mecânico. Bactérias nessa região não são significativamente afetadas pelo preparo químico-mecânico. A B C Figura 14-4. Istmo em um dente cujo tratamento endodôntico fra- cassou. A. Canais mesiais obturados e presença de um istmo entre eles. B. Maior aumento do retângulo em A revelando a presença de bactérias e algumas células de defesa no istmo. Essas bactérias residuais foram a provável causa da persistência da lesão nesse caso. (Gentileza do Dr. Domenico Ricucci.) A B Figura 14-5. Delta api- cal. A. Dente diafaniza- do. (Gentileza do Dr. Ar- melindo Roldi.) B. Corte histológico. C. Corte de- monstrando a presença de bactérias no interior da ramificação apical, bem como na dentina adjacente. Bactérias nes- sa região podem não ser significativamente afe- tadas pelo preparo quí- mico-mecânico. A B C 576 Capítulo 14 Medicação Intracanal químico-mecânico. Estudos têm demonstrado que micro-organismos remanescentes podem proliferar rapidamente no interior do sistema de canais radi- culares se nenhum medicamento for utilizado entre as sessões de trabalho, podendo inclusive alcançar magnitude de contagem similar àquela antes da instrumentação15,16,175. Medicamentos aplicados em toda a extensão do canal radicular podem funcionar como barreira física, impedindo o suprimento de substratos na forma de fluidos teciduais para os micro-organismos que sobre- viveram ao preparo químico-mecânico e limitando o espaço para a multiplicação microbiana. c) Atuar como barreira físico-química contra a infecção ou reinfecção por micro-organismos da saliva Canais instrumentados podem ser contamina- dos/recontaminados e infectados/reinfectados entre as sessões de tratamento por diferentes motivos: mi- croinfiltração por meio do selador temporário; per- da ou fratura do material selador e/ou da estrutura dentária. Infecção/reinfecção do sistema de canais radiculares obviamente ameaça o sucesso da terapia endodôntica. Medicamentos intracanais podem impedir a pe- netração de micro-organismos da saliva no canal por duas maneiras: 1. Barreira química. Medicamentos que possuem efei- tos antimicrobianos podem atuar como barreira química contra a microinfiltração, eliminando mi- cro-organismos e impedindo sua entrada no canal. Substâncias aplicadas em mechas de algodão coloca- das na câmara pulpar, como o tricresol formalina e o paramonoclorofenol canforado (PMCC), agem des- sa maneira. A contaminação ou recontaminação do canal só ocorrerá após a exposição à saliva quando o número de células microbianas exceder a ativida- de antimicrobiana do medicamento. Por sua vez, a saliva pode diluir o medicamento e neutralizar seus efeitos, permitindo, assim, a invasão microbiana do canal. O tricresol formalina e o paramonoclorofenol canforado, aplicados na câmara pulpar, não conse- guem retardar por muito tempo a recontaminação do canal após exposição à saliva149. 2. Barreira física. Medicamentos que preenchem toda a extensão do canal podem funcionar como uma barreira física à invasão de micro-organismos pro- venientes da saliva. A contaminação ou recontami- nação do canal através da saliva ocorrerá por: solu- bilizaçãoe permeabilidade do medicamento ou per- colação de saliva na interface entre o medicamento e as paredes do canal. Entretanto, se o medicamento possuir atividade antimicrobiana, a sua neutraliza- ção por parte da saliva deve preceder a invasão mi- crobiana. As pastas de hidróxido de cálcio funcionam como uma barreira físico-química, retardando significativa- mente a recontaminação do canal quando da exposição à saliva por perda do selador coronário. O tempo mé- dio observado para ocorrer a total recontaminação de um canal medicado com hidróxido de cálcio pode ser de aproximadamente 15 dias. O efeito físico de preen- chimento parece exercer maior influência na prevenção da reinfeccção do que o efeito químico149. d) Reduzir a inflamação perirradicular e consequente sintomatologia Um dos aspectos importantes da terapia endo- dôntica é manter ou restaurar o conforto do paciente. Assim, em determinadas situações clínicas, como na periodontite apical aguda e no abscesso perirradicular agudo, onde há sintomatologia devido à inflamação perirradicular, faz-se necessário o emprego de um me- dicamento intracanal com o intuito de reduzir a inten- sidade da resposta inflamatória. Medicamentos que inibem ou reduzem a resposta inflamatória perirradicular têm um consequente efeito analgésico, uma vez que a dor é um dos sinais cardeais da inflamação. De todos os medicamentos propostos para atuar dessa forma, os corticosteroides, sem dú- vida alguma, são os mais eficazes. Medicamentos que possuem atividade antimicrobiana podem exercer efei- to indireto sobre a resposta inflamatória, por eliminar a sua causa, isto é, micro-organismos presentes no inte- rior do sistema de canais radiculares. e) Controlar exsudação persistente Em determinadas situações clínicas, podemos ob- servar a persistência de um exsudato seroso no canal, como consequência de reação inflamatória dos tecidos perirradiculares frente à injúria persistente de origem microbiana. A presença física desse exsudato cria um ambiente extremamente úmido que impede a obtenção de um adequado selamento do canal radicular quan- do da sua obturação, além de indicar que o tratamento não está sendo eficaz para eliminar a causa da inflama- ção perirradicular. Medicação Intracanal 577 A persistência de exsudação no canal indica que irritantes permanecem atuando sobre os tecidos perir- radiculares. O preparo químico-mecânico deve ser re- visado com o comprimento de trabalho reavaliado e, então, um medicamento intracanal que possua eficácia antimicrobiana deve ser aplicado em todo o canal, vi- sando à eliminação de micro-organismos persistentes e à consequente redução da inflamação perirradicular. As pastas de hidróxido de cálcio agem dessa forma. f) Solubilizar matéria orgânica O preparo químico-mecânico tem como finalida- de a limpeza do sistema de canais radiculares, onde todo conteúdo orgânico, infectado ou não, deve ser removido. A permanência desses resíduos pode fun- cionar como reservatório de micro-organismos, que podem comprometer o sucesso da terapia endodôntica a longo prazo. É preciso ressaltar que durante o preparo quími- co-mecânico a ação do instrumento endodôntico se realiza somente no canal principal, permanecendo ina- cessíveis os canais laterais, ramificações apicais, istmos e áreas de reabsorções dentárias. Assim, a remoção do tecido vital ou necrosado que preenche essas áreas de- penderá da ação solvente da solução química auxiliar, do fluxo da solução irrigadora durante a aspiração e da ação de substâncias empregadas como medicamen- to intracanal. Como será discutido adiante, é bastante questionável se um medicamento intracanal pode re- almente auxiliar na limpeza do sistema de canais ra- diculares. g) Neutralizar produtos tóxicos Durante a terapia endodôntica em dentes com ne- crose pulpar, não é raro o aparecimento de indesejáveis complicações pós-operatórias. A intervenção pouco cautelosa em um meio geralmente bastante infectado favorece a projeção de micro-organismos e de seus produtos tóxicos, presentes no canal radicular, para a região perirradicular, o que pode ocasionar manifesta- ções dolorosas de intensidades imprevisíveis. Tem sido proposto que a neutralização mediata das toxinas e a redução da população microbiana da cavidade pulpar podem ser alcançadas com o empre- go de determinados medicamentos, antecedendo o preparo químico-mecânico do canal radicular. A prin- cípio, utilizar uma substância que neutralize o conteú- do tóxico do sistema de canais radiculares, tornando-o inerte, parece um procedimento interessante. Isso per- mitiria, em uma consulta posterior, a penetração no canal em um ambiente asséptico, reduzindo os riscos de exacerbações. Compostos aldeídicos, como o tricre- sol formalina, têm sido utilizados com esse propósito. Após a confecção da cavidade de acesso em dentes com polpa necrosada, o tricresol seria aplicado em uma mecha de algodão na câmara, permanecendo por 48 horas. Findo esse período, o preparo do canal, com um suposto conteúdo inerte, seria iniciado. Tal con- duta, porém, não apresenta respaldo científico e será mais bem discutida na seção sobre esse medicamento neste mesmo capítulo. Outras substâncias possuem efeito neutralizante específico sobre determinados produtos bacterianos tó- xicos. Por exemplo, o hidróxido de cálcio, quando em contato direto, pode neutralizar endotoxinas bacterianas (lipopolissacarídeos), importantes fatores de virulência de bactérias gram-negativas. Todavia, uma vez que esse medicamento somente é empregado após a completa instrumentação do canal radicular, não teria o efeito proposto de “neutralizar antes de instrumentar”. h) Controlar reabsorção dentária inflamatória externa A reabsorção dentária inflamatória externa pode ocorrer após traumatismo dentário6,197. Lesões traumá- ticas menores do ligamento periodontal e/ou do ce- mento podem causar pequenas cavidades de reabsor- ção na superfície radicular. Essas cavidades se comu- nicam diretamente com a polpa por meio dos túbulos dentinários. Se a polpa e os túbulos estiverem infecta- dos, micro-organismos passam a apresentar contato di- reto com o ligamento periodontal, o que pode susten- tar uma reabsorção dentária inflamatória externa5,136. A reabsorção inflamatória externa também pode estar associada a uma lesão perirradicular crônica, mesmo sem história prévia de trauma, afetando a porção api- cal da raiz. Para o tratamento da reabsorção inflamatória ex- terna, após o preparo químico-mecânico, é imprescin- dível o uso de um medicamento intracanal com ativi- dade antimicrobiana para tentar debelar a infecção in- tratubular, fator que mantém o processo reabsortivo. i) Estimular a reparação por tecido mineralizado Nos casos de perfurações e reabsorções radicu- lares, assim como nos dentes com rizogênese incom- pleta, medicamentos intracanais são utilizados com a intenção de favorecer a reparação através da deposição de um tecido mineralizado. 578 Capítulo 14 Medicação Intracanal CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA DOS MEDICAMENTOS INTRACANAIS Derivados fenólicos OH São compostos que possuem um ou mais gru- pamentos hidroxilas (OH¯) ligados diretamente ao anel benzênico (C6H6). O ácido fênico ou fenol comum (C6H5OH) é um agente bactericida antigo, bastante uti- lizado em Medicina e em Odontologia. Os derivados fenólicos mais usados no passado como medicamen- tos endodônticos são: eugenol, paramonoclorofenol (PMC), PMCC, metacresilacetato (cresatina), cresol, creosoto e timol. Esses compostos são potentes agentes antimicro- bianos, sendo que podem exercer seus efeitos, além do contato direto, pela liberação de vapores. Desses, so- mente o PMCC ainda é recomendado em Endodontia. Aldeídos Aldeídos são compostos orgânicos que apresen- tam na molécula o radical funcional, denominado car- bonila, tendo uma das valências do carbono preenchi- da obrigatoriamente pelo hidrogênio e a outra por um radical alquila ouarila. O R — C H São fixadores teciduais de pronunciada eficácia. São representados pelo formaldeído (usado em combi- nação com o cresol, conhecido como tricresol formalina ou formocresol) e pelo glutaraldeído. São potentes agen- tes antimicrobianos, exercendo seus efeitos tanto pelo contato direto quanto pela liberação de vapores ativos. Halógenos São representados pelos compostos que contêm cloro ou iodo. Os compostos que possuem cloro são representados pelo NaOCl, enquanto, nos compostos que possuem iodo, ele é encontrado na forma molecu- lar I2 ou combinado com o potássio. Apresentam efei- tos destrutivos sobre vírus e bactérias. O iodofórmio, CHI3 (tri-iodometano), é uma subs- tância halógena empregada como medicamento intra- canal, isoladamente ou associada a outras substâncias. O iodofórmio se decompõe, liberando iodo no estado nascente. Apresenta boa radiopacidade. O iodeto de potássio iodetado a 2% também tem sido utilizado como medicação intracanal. Ele é prepa- rado pela adição de 4g de iodeto de potássio e 2g de iodo em 94mL de água destilada. Possui atividade an- timicrobiana satisfatória179. Bases ou hidróxidos Bases são compostos inorgânicos que possuem, como ânions, exclusivamente os radicais hidroxila (OH¯). São representados, para uso endodôntico, pelo hidróxido de cálcio (Ca(OH)2). O hidróxido de cálcio é um pó branco, alcalino (pH 12,8), inodoro, pouco solúvel em água. É uma base forte, podendo ser usada isoladamente (hidróxido de cálcio p.a.) ou associada a outras substâncias. São atribuídas ao hidróxido de cálcio várias propriedades biológicas. Todavia, muitas delas são destituídas de comprovação científica. A atividade antimicrobiana por contato e o efeito de estímulo à formação de uma barreira mineralizada são propriedades cientificamen- te comprovadas quando do emprego dessa substância no interior do canal radicular. Corticosteroides São substâncias derivadas do córtex suprarre- nal. São medicamentos que atuam sobre o processo inflamatório, inibindo a ação da enzima fosfolipase A2, envolvida na síntese dos derivados do ácido arac- dônico (prostaglandinas e leucotrienos), importantes mediadores químicos da inflamação. Possuem efeito inibitório potente sobre a exsudação e a vasodilatação associadas à inflamação. Em Endodontia são utilizados por meio de aplica- ções tópicas para o controle da reação inflamatória, nos casos de periodontite apical aguda de etiologia quími- ca ou traumática. Podem também ser utilizados na bio- pulpectomia nos casos onde não se realiza a obturação radicular imediata e nas pulpotomias. Os corticosteroi- des mais empregados em Endodontia são a hidrocorti- sona, a prednisolona e a dexametasona. Antibióticos São substâncias químicas produzidas por micro- organismos ou similares a elas produzidas total ou Medicação Intracanal 579 parcialmente em laboratório, capazes de inibir o desen- volvimento ou matar outros micro-organismos. Isola- damente ou combinados com outras drogas, têm sido pouco empregados como medicamento intracanal, devido ao risco de haver sensibilização do paciente ou de haver desenvolvimento de resistência bacteriana. Como medicamento intracanal, os antibióticos não são superiores aos antissépticos comuns87,136,141. MEDICAMENTOS UTILIZADOS Paramonoclorofenol ou paraclorofenol O paramonoclorofenol (PMC) foi introduzido na Odontologia por Walkhoff, em 1891207. Seu uso se fun- damenta nas propriedades antissépticas do fenol e do íon cloro que, na posição para do anel fenólico, é libera- do lentamente. Apresenta-se sob a forma de cristais e possui odor fenólico característico. A combinação do PMC com outras substâncias, ou a sua diluição, tem sido proposta com o objetivo de po- tencializar a atividade antimicrobiana e reduzir a citoto- xicidade do medicamento. A forma em associação com a cânfora tem sido a mais utilizada em Odontologia. Quimicamente, a cânfora é uma cetona terpênica bicíclica, derivada do canfeno e obtida da canforeira, árvore da família das lauráceas. Apresenta-se sob a for- ma de cristais incolores ou massas cristalinas friáveis e translúcidas, untuosas ao tato. Tem odor penetrante característico e sabor amargo. É uma substância aro- mática, muito pouco solúvel em água (1:800). Da combinação do PMC com a cânfora, em partes variáveis, forma-se uma mistura líquida denominada PMCC. Além de a cânfora funcionar como veículo, também reduz o potencial irritante do PMC. O PMCC desempenha sua atividade antimicro- biana pelo contato direto do líquido com os micro- organismos ou pela ação dos vapores liberados147. No entanto, sua ação quando da aplicação em uma mecha de algodão na câmara pulpar no intuito de que os va- pores tenham efeito antimicrobiano no canal é impre- visível e usualmente efêmera, durando no máximo 48 horas13,68,85. Graças à sua baixa tensão superficial (36,7d/ cm2), atua por capilaridade, agindo assim, a distância, no interior dos túbulos dentinários e nas ramificações do canal radicular86,91. A proporção mais empregada é a recomendada por Sommer et al.176, que utiliza três partes de PMC para sete de cânfora. Segundo os autores, esta associação é bactericida e perde praticamente suas propriedades ir- ritantes sob condições de uso clínico. Comercialmente, o PMC está associado à cânfora usualmente na propor- ção 3,5:6,5 (SS White). Tem sido relatado que meno- res concentrações de PMC podem apresentar melhor compatibilidade biológica e ainda reter o poder bacte- ricida178. Siqueira et al.151, testando a atividade antibacteria- na do PMC aquoso a 2%, do PMC associado a Furacin (PMC-Fur) e do PMCC (35% de PMC e 65% de cânfora) contra bactérias anaeróbias estritas (Porphyromonas en- dodontalis, Porphyromonas gingivalis, Fusobacterium nu- cleatum, Propionibacterium acnes e Bacteroides fragilis) e anaeróbia facultativa (Enterococcus faecalis), concluíram que o PMCC e o PMC-Fur apresentaram os maiores ha- los de inibição de crescimento antibacteriano, e o PMC a 2% apresentou baixa atividade antibacteriana, evi- denciada pelos pequenos halos de inibição observados em volta do medicamento. Esses resultados demonstraram que o PMCC apresenta elevada atividade antibacteriana contra as bactérias anaeróbias estritas testadas. Tais achados em relação ao PMCC contra bactérias anaeróbias são con- firmados por Ohara et al.97. O efeito letal do PMC sobre micro-organismos se dá por destruição da membrana celular, pela desnaturação de proteínas (mormente as de membrana), pela inativação de enzimas, como as oxidases e desidrogenases, e pela liberação de cloro, um forte agente oxidante, que inativa enzimas conten- do grupamentos sulfidrila (SH). Tricresol formalina ou formocresol Tricresol formalina ou formocresol são denomina- ções para o mesmo medicamento quanto à composição química. Todavia, apresentam concentrações diferen- tes de formalina em suas formulações: tricresol forma- lina (em torno de 90%) e formocresol (19 a 43%). O tricresol formalina é um composto à base de formaldeído e cresol. O formaldeído é um gás produ- zido pela incompleta combustão do metanol, é solú- vel em água, com solução na concentração aquosa de aproximadamente 38 a 40% de formaldeído em peso, chamado formalina. A ação antimicrobiana da formalina se dá pela ação alquilante sobre proteínas e ácidos nucleicos do micro-organismo, que se caracteriza pela substituição do átomo de hidrogênio de uma hidroxila ou sulfidrila por um radical hidroximetil, causando dano ou perda de atividade dessas biomoléculas. A difusão da forma- lina pelos tecidos moles é aproximadamente cinco ve- zes mais lenta que a difusão por meio do plasma san- guíneo. A formalina atua na corrente sanguínea pela 580 Capítulo 14 Medicação Intracanal indução de formação de trombos, resultando em áreas de isquemia. Sabe-se que a formalina é altamente irri- tante aos tecidos vivos. O outro constituinte é otricresol, que está em sus- pensão aquosa em forma de três isômeros de metilfe- nol (orto, meta e para). É derivado do “carvão de breu” e é um antisséptico quatro ou cinco vezes mais ativo que o fenol em ação local, mas considerado menos tó- xico. Foi adicionado ao formaldeído para diminuir as propriedades irritantes. OH OH OH CH3 CH3 CH3 ortocresol sólido incolor metacresol líquido incolor paracresol sólido incolor O tricresol formalina é um potente agente anti- microbiano e age tanto por contato quanto a distância (por meio de vapores)28,147. A ação antimicrobiana prin- cipal se deve à porção formaldeídica do medicamento. Buckley12 afirmou em 1905 que quando o tricre- sol formalina é aplicado sobre uma polpa necrosada há transformação dos gases bacterianos e outros elemen- tos tóxicos em sólidos e líquidos não irritantes. Assim, o formol e o tricresol iriam neutralizar componentes tóxi- cos da infecção pulpar. Contudo, deve-se ter em mente que essa hipótese foi fundamentada nos conhecimen- tos disponíveis naquela época, isto é, há mais de 100 anos. Atualmente, sabe-se que bactérias colonizando o sistema de canais radiculares podem liberar inúmeras outras substâncias envolvidas na patogenicidade, tais como: endotoxinas, exotoxinas, ácidos graxos de cadeia curta (ácidos acético, succínico, butírico, isovalérico, propiônico etc.), enzimas (colagenase, condroitina- se, hialuronidase, hemolisinas, fosfolipases, proteases etc.), metil mercaptana, sulfeto de hidrogênio etc.158. Assim, tendo em vista a síntese de uma gama variada de fatores bacterianos tóxicos, é extremamente questio- nável se o tricresol formalina, ou qualquer outro me- dicamento, seja dotado da capacidade de neutralizar todos eles. Além disso, sabe-se que fixadores teciduais são eficazes sobre tecidos vitais para análise histológi- ca. A fixação de tecidos necrosados e degenerados não é usualmente eficaz. Também é muito pouco provável que a quantidade de droga aplicada em uma mecha de algodão na câmara pulpar seja suficiente para fixar e neutralizar o tecido pulpar necrosado em toda a sua extensão. Se aplicado em grande quantidade, visando a maximizar tais efeitos, o medicamento pode ter um forte efeito irritante sobre os tecidos perirradiculares. Assim, o controle da quantidade e da concentração do medicamento atuante na total neutralização do con- teúdo pulpar parece extremamente difícil. A quantidade do medicamento depende do tamanho da câmara pul- par. Sendo o volume de tricresol formalina pequeno, é possível que essa substância apenas promova uma neu- tralização parcial de produtos tóxicos e a eliminação de micro-organismos em limitada profundidade no tecido pulpar em contato com a mecha de algodão contendo o medicamento. Por fim, cumpre salientar que o tecido vi- tal ou necrosado, fixado por compostos aldeídicos, não é inerte, apresentando efeitos tóxicos e antigênicos11,195. Dessa forma, ainda haverá o risco de ocorrer uma agu- dização na segunda consulta, após o suposto emprego “neutralizador” do tricresol formalina. Deve-se ter em mente que a infecção do sistema de canais radiculares só é controlada de forma eficaz após o completo preparo químico-mecânico, após a aplica- ção de uma medicação intracanal adequada e após a realização de uma obturação que promova o selamento tridimensional do sistema de canais radiculares. ASSOCIAÇÃO CORTICOSTEROIDEANTIBIÓTICO O emprego de uma associação corticosteroide- antibiótico atenua a intensidade da reação inflamatória provocada pelo ato cirúrgico e uso de drogas, favore- cendo a eliminação da dor pós-operatória. Os corticos- teroides de efeito anti-inflamatório moderado, como a hidrocortisona e a prednisolona, usados na medicação intracanal em doses diminutas, não produzem efeitos sistêmicos significantes, o que permite seu uso com se- gurança. É preciso advertir que não se pode depreender ser a reação inflamatória indesejável. Pelo contrário, ela é tida como um fenômeno necessário para o completo e normal desenvolvimento do processo de reparação. O que se espera da terapia com corticosteroides é minimi- zar a reação inflamatória inicial, de modo a não atingir níveis excessivos capazes de provocar danos teciduais mais graves. Várias associações e produtos comerciais têm sido sugeridos para utilização endodôntica. Entretan- to, abordaremos o Otosporin (FQM, Rio de Janeiro, RJ), proposto por Holland et al.54,59, que consiste na asso- ciação da hidrocortisona com os antibióticos sulfato Medicação Intracanal 581 de polimixina B e sulfato de neomicina em um veí- culo aquoso. A hidrocortisona está incluída no grupo dos corticosteroides com potencial anti-inflamatório moderado. É muito pouco provável que, nas doses e concentração empregadas em Odontologia, essa droga apresente efeitos colaterais. O sulfato de neomicina é um antibiótico de largo espectro, sendo eficaz contra um grande número de bactérias aeróbias e anaeróbias facultativas, tais como Escherichia coli, Enterobacter ae- rogenes, Klebsiella pneumoniae, Proteus vulgaris, Staphylo- coccus aureus e E. faecalis. Todavia, seu espectro prati- camente não abrange muitas das bactérias anaeróbias estritas usualmente presentes em infecções endodônti- cas primárias. Esse antibiótico é muito empregado em preparações tópicas, com excelentes resultados. Já o sulfato de polimixina B é efetivo contra bactérias gram- negativas, mormente as pseudomonas e as enterobac- térias. Testamos a atividade antimicrobiana do Otosporin sobre micro-organismos da saliva, após incubação em aerobiose e anaerobiose147. Foi possível verificar que este medicamento apenas promoveu efeito inibitório quando na presença do oxigênio, o que é justificado pelo fato de os antibióticos presentes em sua formu- lação serem eficazes sobre aeróbios e facultativos. Os anaeróbios estritos não foram inibidos. O Otosporin possui grande poder de penetração tecidual, o que permite sua mais eficiente atuação, mas também uma mais rápida eliminação. Oferece as van- tagens de ser um medicamento de vida útil relativa- mente longa, podendo ser armazenado fora do refri- gerador, além de ser hidrossolúvel e se apresentar na forma líquida, o que facilita sua aplicação e remoção do interior de canais radiculares. O Decadron colírio (Aché Laboratório Farmacêuti- co, Guarulhos, SP) é outra boa opção para uso de cor- ticosteroides intracanal. É composto de dexametasona, um corticosteroide seis a oito vezes mais potente que a prednisolona e 25 a 30 vezes mais potente que a hidro- cortisona e o sulfato de neomicina. HIDRÓXIDO DE CÁLCIO CaOH2 A primeira referência ao emprego do hidróxido de cálcio é atribuída a Nygren, em 1838, para o trata- mento da fistula dentalis, enquanto Codman, em 1851, o empregava nos casos de amputações radiculares de polpas vivas33. Entretanto, foi somente em 1920 por in- termédio de Bernhard W. Hermann, um dentista ale- mão53, que tal substância começou a ser cientificamente empregada, pesquisada e difundida na forma de uma pasta denominada Calxyl (Otto&Co, Frankfurt, Alema- nha) (Fig. 14-6). A partir de 1975, com os trabalhos de Heithersay51 e de Stewart183, o hidróxido de cálcio passou a ser em- pregado como curativo de demora em dentes com ne- crose pulpar. Todavia, o hidróxido de cálcio teve seu emprego incrementado após Byström et al.13 demons- trarem que essa substância proporcionava resultados clínicos superiores aos observados com fenol canfora- do e PMCC. O hidróxido de cálcio se apresenta como um pó branco, alcalino (pH 12,8), pouco solúvel em água (so- lubilidade de 1,2g/L de água, à temperatura de 25°C). Trata-se de uma base forte, obtida a partir da calcinação (aquecimento) do carbonato de cálcio (cal viva). Com a hidratação do óxido de cálcio, chega-se ao hidróxido de cálcio, e a reação entre ele e o gás carbônico leva à formação de carbonato de cálcio. CaCO3 � CaO + CO2D CaO + H2O � Ca (OH)2 Ca(OH)2 +CO2 � CaCO3 + H2O Figura 14-6. Reprodução da capa do trabalho original de B. Her- mann, no qual o autor propõe o emprego do hidróxido de cálcio em Endodontia. 582 Capítulo 14 Medicação Intracanal As propriedades do hidróxido de cálcio derivam de sua dissociação iônica em íons cálcio e íons hidro- xila, sendo que a ação desses íons sobre os tecidos e os micro-organismos explica as propriedades biológicas e antimicrobianas dessa substância. As alterações nas propriedades biológicas podem também ser esclare- cidas pelas reações químicas demonstradas, uma vez que o hidróxido de cálcio, na presença de dióxido de carbono, transforma-se em carbonato de cálcio, sendo esse produto formado desprovido das propriedades biológicas do hidróxido de cálcio. Veículos Uma vez que se encontra na forma de pó, o hi- dróxido de cálcio deve ser associado a uma outra subs- tância que permita sua veiculação para o interior do sistema de canais radiculares. Idealmente, os veículos devem possibilitar a dissociação iônica do hidróxido de cálcio em íons cálcio e hidroxila, uma vez que suas propriedades são dependentes de tal dissociação. Essa dissociação poderá ocorrer de diferentes formas, grau e intensidade, dependendo de outras substâncias que entram na composição da pasta. Do ponto de vista da atividade antimicrobiana, principal propriedade requerida para um medicamen- to intracanal, podemos classificar os veículos em inertes e biologicamente ativos. Os veículos inertes se caraterizam por ser, na maioria das vezes, biocompatíveis, mas sem influenciar significativamente as propriedades antimi- crobianas do hidróxido de cálcio. Esses incluem a água destilada, o soro fisiológico, as soluções anestésicas, a solução de metilcelulose, o óleo de oliva, a glicerina, o polietilenoglicol e o propilenoglicol. Os veículos biologicamente ativos conferem à pasta efeitos adicionais aos proporcionados pelo hidróxido de cálcio. Exemplos incluem o PMCC, a clorexidina e o iodeto de potássio iodetado. Do ponto de vista das características físico-quí- micas, existem dois tipos de veículos: hidrossolúveis e oleosos. Os veículos hidrossolúveis se caraterizam por ser inteiramente miscíveis em água. Podem ser divididos em aquosos e viscosos80. Os veículos aquosos propiciam ao hidróxido de cálcio uma dissociação iônica extremamente rápida, permitindo maior difusão e, consequentemente, maior ação por contato dos íons cálcio e hidroxila com os te- cidos e micro-organismos. É preciso ressaltar que esses veículos permitem a rápida diluição da pasta do inte- rior do canal radicular, principalmente quando empre- gada como medicação nos casos de necrose pulpar e lesão perirradicular, obrigando a recolocações sucessi- vas para que os resultados almejados sejam consegui- dos. São exemplos de veículos aquosos, além da água destilada, o soro fisiológico, as soluções anestésicas e a de metilcelulose. Alguns exemplos de pastas já pron- tas para uso que utilizam veículo aquoso são: Calxyl (Otto&Co., Frankfurt, Alemanha), Pulpdent (Pulpdent Co., Brookline, MA, Estados Unidos) e Calasept (Scania Dental, Knivsta, Suécia). Os veículos viscosos, embora sendo solúveis em água em qualquer proporção, tornam a dissociação do hidróxido de cálcio mais lenta, provavelmente em razão de seus elevados pesos moleculares. Como veí- culos viscosos, podemos mencionar a glicerina, o polie- tilenoglicol e o propilenoglicol. O Calen e o Calen mais paramonoclorofenol (SS White, RJ, Brasil) são exemplos comerciais de pastas que empregam o polietilenoglicol como veículo. Glicerina Fórmula CH2OH — CHOH — CH2OH Nomenclatura oficial – propanotriol Peso molecular – 92,09 A glicerina se apresenta como um líquido visco- so, higroscópico, incolor e transparente, com odor leve característico, sabor adocicado. Miscível em qualquer proporção com água e álcool. Insolúvel em clorofór- mio, éter e em óleos fixos e voláteis. Polietilenoglicol 400 Fórmula CH2OH — (CH2 — O — CH2)n — CH2OH n = 7 a 9 O polietilenoglicol 400 (polímero de condensação do etilenoglicol) é um líquido viscoso, límpido, incolor, de odor fraco característico, ligeiramente higroscópico. Miscível em qualquer proporção com água, acetona, ál- cool e outros glicóis, insolúvel no éter e no benzeno. Propilenoglicol Fórmula CH2OH — CHOH — CH3 Nomenclatura oficial – propanodiol 1, 2. Peso molecular – 76,09 O propilenoglicol é um líquido viscoso, límpido, incolor, praticamente inodoro, com sabor ligeiramente Medicação Intracanal 583 picante. Exposto ao ar úmido, absorve umidade. Mis- tura-se em qualquer proporção com água e álcool. Os veículos oleosos, em função de serem muito pouco solúveis na água, conferem à pasta de hidróxido de cálcio pouca solubilidade e difusão junto aos teci- dos. Como veículos oleosos podem ser mencionados alguns ácidos graxos, como o ácido oleico, linoleico e isosteárico, o óleo de oliva, o óleo de papoula-lipiodol, o silicone e a cânfora-óleo essencial do PMC. As pastas LC (Herpo Produtos Dentários Ltda., Rio de Janeiro) e Vitapex (Neo Dental Chemical Products Co., Tóquio, Japão) são exemplos de formulações comerciais que utilizam veículos oleosos. Os ácidos graxos apresentam as seguintes caracte- rísticas: possuem mais de 10 carbonos na cadeia, o que é normal, podendo ter ou não duplas ligações. São mono- carboxílicos e têm número par de átomos de carbono. O ácido isosteárico é saturado e apresenta a fór- mula funcional C17H35-COOH. O ácido oleico é insa- turado com uma dupla ligação e fórmula funcional C17H-33-COOH. O ácido linoleico é insaturado, apresen- tando duas ligações duplas e fórmula funcional C17H31- COOH. ÓLEO DE OLIVA O óleo de oliva purificado é um líquido amarelo- claro ou verde-claro, odor característico, insolúvel na água, ligeiramente solúvel no álcool. Quimicamente, compõe-se de ésteres de ácidos graxos de cadeias linea- res longas (C18), entre os quais se destacam os seguintes: Quando em associação com o hidróxido de cálcio, fun- ciona como veículo biologicamante ativo e oleoso, em função de possuir eficácia antimicrobiana e a cânfora ser considerada um óleo essencial com baixa solubili- dade em água. As preparações usualmente disponíveis no comércio odontológico são compostas por 35% de PMC e 65% de cânfora. Trabalhos de Naumovich91 e de Milano et al.86 revelaram que o PMCC apresenta baixa tensão super- ficial (36,7 e 37,2 dinas/cm2, respectivamente). Além disso, os compostos fenólicos são solúveis em lipídios. Essas duas características permitem que essa substân- cia apresente maior penetrabilidade tecidual, aumen- tando seu raio de atuação dentro do sistema de canais radiculares. Como já esclarecido, o PMCC possui atividade bactericida por romper a membrana citoplasmática bacteriana, desnaturar proteínas (principalmente as de membrana) e inativar enzimas, como oxidases e de- sidrogenases bacterianas. Além disso, também libera cloro, que tem forte poder antibacteriano. Substâncias adicionais Algumas substâncias químicas, além dos veí- culos, têm sido acrescidas ao hidróxido de cálcio, no intuito de melhorar suas propriedades físico-químicas para utilização clínica, como a própria radiopacidade. As substâncias associadas normalmente são: carbonato de bismuto, sulfato de bário, iodofórmio e o óxido de zinco80. Carbonato de bismuto – Bi2(CO3)3 É um pó branco-amarelado, inodoro, insípido, insolúvel na água, ótima radiopacidade, boa fluidez e não altera o pH, tampouco a cor branca do hidróxido de cálcio. Sulfato de bário – BaSO4 É um pó branco, fino, pesado, inodoro, insípido, insolúvel na água e solventes orgânicos. Favorece o es- coamento da pasta e atua como agente radiopaco. Iodofórmio – CHI3 (tri-iodometano) É um pó fino, com cristais brilhantes de cor ama- relo-limão, de odor muito penetrante e persistente, muito pouco solúvel em água, mas moderadamente solúvel no álcool, no éter e no óleo de oliva. O iodofór- mio se decompõeliberando iodo no estado nascente. É bastante radiopaco e reabsorvido rapidamente na área perirradicular e, mais lentamente, dentro do canal Ácidos Variação percentual Oleico 56,00 – 83,00% Palmítico 7,50 – 20,00% Linoleico 3,50 – 20,00% Palmitoleico 0,30 – 3,50% Esteárico 0,50 – 3,50% Linoleico 0,00 – 1,50% Mirístico 0,00 – 0,05% Paramonoclorofenol canforado (PMCC) O PMCC é uma mistura líquida, oriunda da com- binação do PMC com a cânfora em partes variáveis. 584 Capítulo 14 Medicação Intracanal radicular, sendo perfeitamente tolerado pelos tecidos perirradiculares. Óxido de zinco – ZnO É um pó branco ou branco-amarelado, inodoro, amorfo, insolúvel na água e no álcool. É radiopaco, li- geiramente antisséptico. Colofônia ou breu É uma resina sólida de origem vegetal, composta principalmente de anidridos dos ácidos abiético, sapí- nico e pimárico. Apresenta-se como sólido amorfo, cor de âmbar, praticamente insolúvel na água e fracamente solúvel no álcool e clorofórmio. Confere diversas van- tagens à pasta: escoamento, adesividade, corpo e endu- recimento, diminuindo sua permeabilidade em contato com os líquidos teciduais. Atividades do hidróxido de cálcio As pastas de hidróxido de cálcio, quando empre- gadas como medicamento intracanal, podem desempe- nhar atividades biológicas, químicas e físicas, que pos- sibilitam à substância o exercício de diferentes funções. Vale ressaltar que, embora essas funções possam se desenvolver simultaneamente, discutiremos cada uma isoladamente. A composição da pasta e a natureza do veículo podem influenciar as atividades do hidróxido de cálcio136,148. Como aclarado anteriormente, os veícu- los biologicamente ativos podem conferir efeitos adi- cionais aos proporcionados pelo hidróxido de cálcio. Atividades biológicas do hidróxido de cálcio 1 – Ação anti-inflamatória Tem sido sugerido que o hidróxido de cálcio tem a capacidade de controlar o processo inflamatório e, as- sim, pode ser utilizado de forma eficaz no tratamento não cirúrgico de dentes com lesões perirradiculares e nos casos com exsudação persistente51,177. Três meca- nismos de ação têm sido propostos para justificar os efeitos anti-inflamatórios do hidróxido de cálcio: • Ação higroscópica. Quando colocado em contato com um tecido inflamado, o hidróxido de cálcio pode absorver exsudato inflamatório, reduzindo a pressão hidrostática tecidual. Essa absorção se deve ao fato de o hidróxido de cálcio ser hipertônico em relação ao meio; no caso, os fluidos teciduais. • Formação de pontes de proteinato de cálcio. Os íons Ca+2, oriundos da dissociação do hidróxido de cálcio, podem combinar-se com proteínas pre- sentes na substância intercelular das células en- doteliais, formando complexos de proteinato de cálcio177. Esses atuariam como pontes interendote- liais, reduzindo a permeabilidade vascular e a con- sequente saída de fluido para o tecido. Esse meca- nismo parece muito pouco provável de acontecer. Primeiro, por ser o hidróxido de cálcio pouco so- lúvel, a quantidade de íons cálcio disponível para exercer tal efeito é muito baixa. Além disso, esses íons reagiriam inicialmente com o CO2 tecidual e com proteínas presentes na matriz extracelular e no exsudato, sendo rapidamente consumidos. Segun- do, as células endoteliais são unidas por zônulas de oclusão e aderência, praticamente sem substância intercelular. Mesmo assim, durante um processo inflamatório com aumento de permeabilidade vas- cular, essa união é rompida, abrindo canais nos va- sos de aproximadamente 0,5 a 1µm de espessura, por onde passaria o fluido168. Assim, parece impro- vável a formação de tais pontes de proteinato de cálcio no espaço interendotelial. Não existe com- provação científica desse mecanismo de ação. • Inibição da fosfolipase177. As enzimas fosfolipases A2 e C estão envolvidas na hidrólise de fosfolipídios da membrana citoplasmática, com consequente li- beração do ácido aracdônico. Esse é, então, oxidado por meio da enzima cicloxigenase, dando origem às prostaglandinas, importantes mediadores quí- micos da inflamação168. Assim, substâncias que ini- bem a ação da fosfolipase promovem a inibição da síntese de prostaglandinas. Não existem evidências científicas que suportem essa ação do hidróxido de cálcio. Se essa substância realmente age inibindo a fosfolipase, essa inibição é possivelmente de cará- ter inespecífico, graças ao seu elevado pH, que des- natura e inativa a enzima. Por outro lado, o efeito cáustico do hidróxido de cálcio pode causar lesão celular, influxo de cálcio para o interior de células e ativação de fosfolipases, estimulando a síntese de prostaglandinas. Agindo dessa forma, o efeito do hidróxido de cálcio será contrário ao sugerido, isto é, pró-inflamatório. Até o presente momento, calcado na ausência de maiores evidências científicas, parece lícito afirmar que o efeito anti-inflamatório direto do hidróxido de cálcio é bastante questionável. Outrossim, quando aplicado diretamente sobre um tecido acometido por resposta inflamatória aguda, o hidróxido de cálcio promove a exacerbação do processo199, o que certamente não ocor- Medicação Intracanal 585 reria se essa substância fosse dotada de ação anti-infla- matória. A característica de ser higroscópico não justi- fica a atribuição de propriedades anti-inflamatórias ao hidróxido de cálcio, uma vez que o processo inflamató- rio não é inibido. Nesse caso, essa substância teria ape- nas um efeito osmótico, que poderia reduzir um dos sinais da inflamação, que é o edema. 2 – Ação antimicrobiana A grande maioria dos micro-organismos patogê- nicos para o homem não é capaz de sobreviver em um meio extremamente alcalino. Enquanto muitas espé- cies microbianas isoladas de canais radiculares conse- guem manter sua viabilidade até cerca de pH 9, raras o fazem em meios que apresentam maiores valores de pH. Alguns micro-organismos são exceções, como o E. faecalis, que pode sobreviver em pH 11,513, a Candida albicans209,211 e o Actinomyces radicidentis63. Como o pH do hidróxido de cálcio é de cerca de 12,8, depreende-se que praticamente todas as espécies bacterianas já isoladas de canais infectados são sensí- veis aos seus efeitos, sendo eliminadas em curto perío- do quando em contato direto com essa substância. Mecanismos de atividade antimicrobiana A atividade antimicrobiana do hidróxido de cál- cio está relacionada com a liberação de íons hidroxila, oriundos de sua dissociação em ambiente aquoso. Os íons hidroxila são radicais livres altamente oxidantes que apresentam extrema reatividade, ligando-se a bio- moléculas próximas ao seu local de formação48, isto é, onde o hidróxido de cálcio foi aplicado. Seu efeito letal se dá pelos seguintes mecanismos: a) Perda da integridade da membrana citoplasmá- tica bacteriana. Isso ocorre devido à peroxidação lipídica, que resulta na destruição de fosfolipídios, componentes estruturais da membrana37. Os íons hidroxila removem átomos de hidrogênio de ácidos graxos insaturados, unidade básica dos lipídios, for- mando um radical lipídico livre, que reage com o oxigênio, transformando-se em um peróxido lipídi- co. Esse peróxido formado remove um outro átomo de hidrogênio de um segundo ácido graxo, culmi- nando com a formação de outro peróxido lipídico. Ocorre, então, uma reação autocatalítica em cadeia, resultando na perda de ácidos graxos insaturados e em dano extenso à membrana citoplasmática, com perda de sua integridade19. O dano à membrana exerce papel importante na lise e morte do micro- organismo, visto que essa estrutura é responsável por uma série de funções biológicas, tais como: • Atua como barreira osmótica (permeabilidade seletiva) e transporte de moléculas, regulando a entrada e saída de substâncias para o citoplasma, sendo que quando danificada há o rompimento do equilíbrio entre os meios interno e externo da célula. Há, então, o extravasamento de moléculas para o compartimentoextracelular e um maior in- fluxo de água e íons para o interior da célula, que acaba morrendo. • Contém citocromos e outras enzimas da cadeia respiratória. • Está envolvida na excreção de exoenzimas, envol- vidas na clivagem de polímeros orgânicos macro- moleculares (proteínas, polissacarídios, lipídios), com consequente obtenção de nutrientes. • Está envolvida na biossíntese da parede celular. b) Inativação enzimática. Todo o metabolismo celular é dependente de ação enzimática, a qual está direta- mente relacionada com o pH do meio. Proteínas (nes- se caso em especial, as enzimas) e outras biomoléculas possuem uma faixa estreita de pH, onde a atividade ou estabilidade é ótima, girando em torno da neutrali- dade101. A alcalinização promovida pelo hidróxido de cálcio induz a desnaturação de enzimas por quebra de ligações iônicas, que mantêm sua estrutura terciá- ria (a forma como a proteína está disposta tridimen- sionalmente). Assim, a enzima mantém seu esqueleto covalente, mas a cadeia polipeptídica se desdobra ao acaso em conformações espaciais variáveis e irregu- lares. Essa alteração de forma quase sempre resulta em perda de atividade biológica. Inibida a atividade enzimática, a célula morre. c) Dano ao DNA. Os íons hidroxila reagem com o DNA bacteriano, levando à cisão das fitas, acarre- tando a perda de genes e induzindo mutações37,61. Isso gera inibição da replicação do DNA e desarran- jo da atividade celular. Há evidências científicas que demonstram que os três mecanismos realmente ocorrem. Assim, é difícil estabelecer, em um sentido temporal, qual deles é o principal mecanismo responsável pela morte da célula microbiana quando exposta a uma base forte. Limitações do hidróxido de cálcio quanto à atividade antimicrobiana Vários estudos têm confirmado que o hidróxido de cálcio realmente exerce um efeito letal sobre micro- organismos13,39,173. Contudo, esse efeito apenas foi obser- 586 Capítulo 14 Medicação Intracanal vado quando a substância era colocada em contato direto com micro-organismos, situação em que a concentração de íons hidroxila é máxima, atingindo níveis incompa- tíveis com a sobrevivência microbiana. Entretanto, estu- dos utilizando o teste de difusão em ágar demonstraram que pastas de hidróxido de cálcio em veículos inertes (como água destilada ou glicerina) foram ineficazes em inibir o crescimento de várias espécies bacterianas anae- róbias estritas e facultativas1,27,41,141,145,150,151,155. Apesar de o hidróxido de cálcio apresentar baixa solubilidade em água (1,2g/L a 25 o C) e isso limitar sua difusibilidade, foi observado que as pastas contendo essa substância promoveram halos de difusão no ágar. Entretanto, sobre esses halos esbranquiçados foram observadas colônias bacterianas, sugerindo que a di- fusão do material não foi suficiente para inibir o cres- cimento bacteriano. Isso, provavelmente, ocorreu pelo fato de os meios de cultura possuírem em suas formu- lações substâncias tamponadoras. Assim, mesmo que sofra difusão, ela é lenta, graças à baixa solubilidade da substância, o que faz com que os níveis de pH alcan- çados pelo meio não sejam elevados o suficiente para apresentar atividade antimicrobiana. As bases de metais alcalinos, como hidróxido de sódio e hidróxido de potássio, apresentam alta solubi- lidade e, dessa forma, se difundem bem em ambiente aquoso, o que explica a pronunciada atividade anti- microbiana dessas substâncias155 (Fig. 14-7). Por outro lado, essa alta solubilidade e também a alta difusibili- dade aumentam o poder tóxico dessas bases sobre cé- lulas eucarióticas, não sendo o seu uso recomendado na prática endodôntica. Inúmeros estudos revelaram que o hidróxido de cálcio não promove ação satisfatória sobre micro- organismos presentes no interior de túbulos dentiná- rios30,47,52,99,125,139,154,185,215. Orstavik e Haapasalo99 ob- servaram que o hidróxido de cálcio pode levar até 10 dias para desinfetar túbulos dentinários infectados por facultativos. Siqueira e Uzeda139, trabalhando com in- fecção intratubular, demonstraram que o hidróxido de cálcio associado à solução salina não foi eficaz na elimi- nação de E. faecalis, um facultativo, e de F. nucleatum, um anaeróbio estrito, dentro dos túbulos dentinários, mesmo após uma semana de contato. Haapasalo e Ors- tavik47 observaram que uma pasta à base de hidróxido de cálcio (Calasept, Swedia, Knivsta, Suécia) falhou em eliminar, mesmo superficialmente, células de E. faecalis dentro dos túbulos. Safavi et al.125 relataram que célu- las de Enterococcus faecium permaneceram viáveis no interior de túbulos dentinários após tratamento com uma pasta de hidróxido de cálcio em solução salina por períodos de tempo relativamente longos. Estrela et al.30 avaliaram a atividade antibacteriana da pasta de hidróxido de cálcio em solução salina no interior de tú- bulos dentinários, experimentalmente infectados com E. faecalis, Staphylococcus aureus, Bacillus subtilis, Pseudo- monas aeruginosa ou com uma mistura dessas bactérias, e relataram que a pasta foi ineficaz para desinfetar os túbulos mesmo após uma semana de contato. Sukawat e Srisuwan185 também relataram que uma pasta de hi- dróxido de cálcio em veículo inerte (água destilada) foi ineficaz para eliminar E. faecalis em túbulos dentinários após 7 dias de exposição. Resultados similares foram demonstrados por Weiger et al.215. Todos esses relatos confirmam de forma inconteste que a pasta de hidróxi- do de cálcio em veículo inerte é ineficaz em desinfetar a dentina, pelo menos após única aplicação. Para ser eficaz contra micro-organismos locali- zados no interior dos túbulos dentinários, os íons hi- droxila do hidróxido de cálcio devem difundir-se pela dentina e alcançar níveis suficientes para ter efeito letal. Foi demonstrado que a hidroxiapatita, principal com- ponente inorgânico da dentina, tem efeito tampão para substâncias alcalinas, graças à presença de doadores de prótons em sua camada hidratada93,214. Tronstad et al.198 demonstraram que o pH da den- tina radicular de macacos foi elevado após curativos intracanais com hidróxido de cálcio por 4 semanas. Entretanto, os valores do pH foram decrescentes nas porções dentinárias mais distantes do canal, onde o medicamento foi aplicado. No canal, o pH foi superior a 12,2; a dentina adjacente ao canal, em contato direto com o hidróxido de cálcio, apresentou pH variando en- Figura 14-7. Eficácia antibacteriana de três hidróxidos. Desses, ape- nas o hidróxido de cálcio é seguro e, portanto, recomendado para utilização em pacientes. Média contra bactérias orais. Dados segun- do Siqueira et al.155. Medicação Intracanal 587 tre 8 e 11; e, na dentina mais periférica, o pH foi de 7,4 a 9,6 (Fig. 14-8). Embora a alcalinização realmente ocorra, esses níveis de pH podem ser insuficientes para matar alguns micro-organismos, principalmente o E. faecalis, que pode sobreviver em condições de pH 11,5. Portenier et al.110 examinaram e compararam a capacidade da dentina, da hidroxiapatita e da albumi- na de inibir os efeitos antibacterianos do hidróxido de cálcio, da clorexidina e do iodeto de potássio iodetado contra o E. faecalis. O hidróxido de cálcio foi totalmen- te inativado na presença desses elementos orgânicos e inorgânicos. Os efeitos da clorexidina foram fortemen- te inibidos pela albumina, reduzidos pela dentina e inalterados pela hidroxiapatita. Já o iodeto de potássio iodetado teve seus efeitos antibacterianos totalmente inibidos pela dentina, mas não afetados pela hidroxia- patita e pela albumina. Haapasalo et al.46 investigaram os efeitos da den- tina sobre a atividade antibacteriana do hidróxido de cálcio, NaOCl a 1%, acetato de clorexidina a 0,5% e a 0,05% e do iodeto de potássio iodetado a 2% e a 0,2%. Uma cepa de E. faecalis foi usada no teste e os períodos de avaliação foram de 5 minutos, 1 hora e 24 horas. A dentina apresentou efeito inibitório sobre todos osmedicamentos testados. Enquanto o efeito do hidró- xido de cálcio sobre o E. faecalis foi totalmente abolido na presença de dentina, os efeitos da clorexidina e do NaOCl foram reduzidos, mas não totalmente elimi- nados. Um outro fator também pode ajudar a explicar o porquê da ineficácia do hidróxido de cálcio na de- sinfeção dos túbulos dentinários. O arranjo das células bacterianas em biofilme colonizando as paredes do ca- nal pode impedir um efeito em profundidade do hi- dróxido de cálcio, uma vez que as células da periferia do biofilme podem proteger aquelas localizadas mais profundamente e no interior tubular139. A principal razão de o hidróxido de cálcio ser bem tolerado pelos tecidos é a sua baixa solubilidade. Isso porque uma suspensão aquosa saturada dessa substância possui pH elevado, com grande potencial citotóxico. Contudo, por não penetrar nos tecidos em profundidade, essa citotoxicidade fica limitada à área em contato com a substância. Essa baixa solubilidade do hidróxido de cálcio impede que ocorra uma eleva- ção de pH suficiente para destruir micro-organismos no interior dos túbulos dentinários. Além disso, a capa- cidade tampão da dentina tende a controlar alterações de pH. Uma base pouco solúvel como o hidróxido de cálcio pode levar muito tempo para exceder essa ca- pacidade tampão. Quando deixado no canal por um período longo (possivelmente por mais de 1 mês), essa substância, teoricamente, teria mais chances de desin- fectar túbulos dentinários. Mas a utilização rotineira de uma medicação intracanal por período tão longo pare- ce inviável na prática clínica. Tem sido sugerido que o hidróxido de cálcio pode também exercer seu efeito antibacteriano indi- retamente, por reagir com o CO2 tecidual, tornando-o indisponível para bactérias anaeróbias estritas67. Contudo, parece-nos muito pouco provável que esse mecanismo de ação ocorra de fato. Primeiro, o esgota- mento do CO2 presente nos tecidos (oriundo do me- tabolismo de células eucarióticas) por meio da reação com o hidróxido de cálcio dificilmente ocorrerá, até mesmo porque a reação se dará na intimidade do ca- nal radicular. Os fluidos contendo CO2 que banham os tecidos circundantes da raiz não sofrerão maiores efeitos do hidróxido de cálcio. Destarte, bactérias po- dem receber o CO2 via túbulos dentinários e ramifica- ções, i.e., no sentido contrário ao local onde o hidróxi- do de cálcio é aplicado. Segundo, reagindo com o CO2, sem portanto esgotá-lo, o hidróxido de cálcio perderá seus efeitos dependentes do pH, pela resultante for- mação de carbonato de cálcio136. Micro-organismos colonizando remanescentes te- ciduais necrosados em ramificações, istmos e reen- trâncias também são provavelmente protegidos da Figura 14-8. Alteração do pH da dentina em diferentes profundi- dades após medicação intracanal com pasta de hidróxido de cálcio. Dados segundo Tronstad et al.198. 588 Capítulo 14 Medicação Intracanal ação do hidróxido de cálcio, pela neutralização do pH. Dessa forma, a curto prazo, o hidróxido de cálcio ape- nas destrói células bacterianas em contato direto com ele, i.e., na luz do canal principal ou na entrada dos túbulos dentinários. Mas isso não representa maiores vantagens, uma vez que a instrumentação e a substân- cia química auxiliar também agem nessas regiões. Resistência microbiana ao hidróxido de cálcio Além do fato de ser inativado pela dentina ou ou- tros componentes teciduais, um outro fator ajuda a ex- plicar a ineficácia do hidróxido de cálcio em alguns ca- sos. Tem sido demonstrado que alguns micro-organis- mos são mais resistentes aos efeitos alcalinos do hidró- xido de cálcio. Isto se deve à utilização de mecanismos sofisticados por alguns micro-organismos que os per- mitem regular e manter o pH intracitoplasmático em níveis compatíveis com sua sobrevivência, a despeito de alterações de pH no ambiente extracelular10. Alguns desses micro-organismos resistentes ao hidróxido de cálcio, como E. faecalis, C. albicans e A. radicidentis, são frequentemente encontrados em casos de fracasso da terapia endodôntica18,42,63,88,103,104,107,108,118,119,159,160,188. Embora não seja frequentemente detectado em ca- sos de infecção primária166,186, o E. faecalis é a espécie mais comumente encontrada em casos de fracasso endodônti- co42,88,107,108,118,159,188. Essa espécie resiste a altos valores de pH do ambiente – até 11,513. A resistência do E. faecalis ao hidróxido de cálcio parece estar relacionada com uma bomba de prótons ativa, que reduz o pH intracitoplasmá- tico ao bombear prótons para o interior da célula31. C. albicans também tem sido mais frequentemente encontrada em casos de fracasso da terapia endodôntica do que em infecções primárias, embora em prevalência inferior ao E. faecalis169,210,212. Waltimo et al.209 avaliaram a suscetibilidade de sete cepas de C. albicans a quatro agentes antimicrobianos: iodeto de potássio iodetado, acetato de clorexidina, NaOCl e hidróxido de cálcio. Além disso, associações entre os medicamentos tam- bém foram testadas. Os resultados mostraram que C. albicans foi altamente resistente ao hidróxido de cálcio. NaOCl a 5% e a 0,5% e o iodeto de potássio iodetado foram eficazes após 30 segundos de contato, enquan- to o acetato de clorexidina a 0,5% requereu 5 minutos para ter total eficácia. A combinação do hidróxido de cálcio com o NaOCl ou com a clorexidina apresentou eficácia contra as cepas de C. albicans. Em outro estudo, Waltimo et al.211 testaram a sus- cetibilidade de espécies orais de Candida ao hidróxido de cálcio. As espécies testadas foram C. albicans (16 ce- pas), C. glabrata (3 cepas), C. guilliermondii (3 cepas), C. krusei (2 cepas) e C. tropicalis (2 cepas). A suscetibilida- de de uma cepa de E. faecalis também foi avaliada para fins comparativos. Os micro-organismos permanece- ram em contato com o hidróxido de cálcio por 5 mi- nutos a 6 horas. Comparadas ao E. faecalis, todas as es- pécies de Candida apresentaram resistência igualmente alta ou até maior ao hidróxido de cálcio. Uma outra espécie encontrada em associação com o fracasso da terapia endodôntica – o A. radicidentis – também apresenta elevada resistência aos efeitos do hidróxido de cálcio18,63. Todavia, a prevalência dessa espécie em casos de fracasso é baixa quando avalia- da por uma técnica de Biologia Molecular sofisticada e altamente sensível160, o que coloca em dúvida a sua importância como patógeno endodôntico. Desinfecção do canal pelo hidróxido de cálcio O tempo necessário para o hidróxido de cálcio pro- mover uma desinfecção adequada do canal radicular é ainda desconhecido. Estudos in vivo, utilizando cultura do material coletado do canal após medicação com hi- dróxido de cálcio, têm revelado resultados conflitantes. Sjögren et al.173 verificaram que um curativo intracanal com hidróxido de cálcio por uma semana promove a to- tal eliminação de micro-organismos do canal radicular, representado por 100% de culturas negativas. Por sua vez, Byström et al.13 demonstraram que a medicação com hidróxido de cálcio por 4 semanas foi totalmente eficaz para eliminar micro-organismos em 97% dos canais pre- viamente infectados. Shuping et al.130 observaram que a aplicação do hidróxido de cálcio por no mínimo uma semana foi capaz de eliminar totalmente micro-organis- mos em 92,5% dos casos. Reit e Dáhlen112 encontraram infecção persistente em 26% dos casos, após 2 semanas de medicação com hidróxido de cálcio. Orstavik et al.100 relataram a permanência de micro-organismos no ca- nal em 34,8% dos casos de canais medicados com essa substância por 1 semana. Barbosa et al.8 revelaram infec- ção persistente em 26,7% dos casos, após utilização do hidróxido de cálcio por 1 semana. Lana et al.71 observa- ram que 22,6% dos canais medicados com hidróxido de cálcio por 1 semana permaneceram infectados. Nesses casos, espécies dos gêneros Candida, Streptococcus, Lac- tobacillus, Pseudomonas e Gemella foramisoladas. Siquei- ra et al.146 relataram que 18% dos canais apresentavam cultura positiva após preparo químico-mecânico e 1 se- mana de medicação com hidróxido de cálcio associado à glicerina. Após identificação por sequenciamento do gene do 16S rRNA, apenas duas espécies bacterianas foram encontradas nos canais com cultura positiva – F. nucleatum e Lactococcus garviae. Medicação Intracanal 589 Em dados completamente discrepantes dos de- mais estudos sobre o assunto, Peters et al.105 isolaram micro-organismos persistentes em 71,4% dos canais medicados com hidróxido de cálcio em solução salina por 4 semanas. Tais resultados foram provavelmente decorrentes da forma de aplicação do hidróxido de cál- cio no canal, i.e., com pontas de papel absorvente. Na maioria dos demais estudos, o hidróxido de cálcio foi aplicado com espirais de Lentulo. Um estudo demons- trou que a aplicação do hidróxido de cálcio apenas com pontas de papel resultou em menores valores de pH nas paredes do canal do que quando comparada à apli- cação com Lentulo193, o que pode ajudar a explicar os pobres resultados relatados por Peters et al.105. O hidróxido de cálcio, como medicação intracanal a curto prazo, parece funcionar principalmente como uma barreira física, impedindo a percolação apical de fluidos teciduais, negando, assim, o suprimento de substrato para micro-organismos residuais que sobreviveram ao prepa- ro químico-mecânico. Essa barreira física também limita o espaço para a multiplicação desses micro-organismos remanescentes entre as sessões de tratamento. Outrossim, é possível que os efeitos antibacterianos do hidróxido de cálcio em um veículo inerte, exclusivamente dependentes do pH, apenas ocorram nas proximidades da luz do canal principal, onde a pasta é aplicada. A Fig. 14-9 mostra o resultado de vários estudos avaliando a incidência de culturas negativas após em- prego do hidróxido de cálcio em veículo inerte como medicação intracanal. Efeito do veículo na atividade antimicrobiana Como já citado neste capítulo, os veículos para o hidróxido de cálcio podem ser classificados como inertes e biologicamente ativos sob o ponto de vista da atividade antimicrobiana. Os veículos inertes não influenciam as propriedades antimicrobianas do hidróxido de cálcio. Por sua vez, os veículos biologicamente ativos conferem efeitos antimicrobianos adicionais aos proporcionados pelo hidróxido de cálcio. Associação do hidróxido de cálcio com o PMCC – pasta HPG Em 1966, Frank36 preconizou a utilização do PMCC como veículo para o hidróxido de cálcio em casos de apicificação. Contudo, essa associação foi alvo de críti- cas, uma vez que, por possuir atividade antimicrobiana dependente de seu pH, o hidróxido de cálcio dispen- saria a associação a uma outra substância que, apesar de ter ação antimicrobiana reconhecida, também seria citotóxica. Na década de 1990 voltou-se a preconizar o em- prego dessa associação com base na justificativa de que o espectro de ação do medicamento seria aumentado, principalmente por ter o PMCC atividade antibacteria- na mais pronunciada contra o E. faecalis47,182. Na verda- Figura 14-9. Resultados de vários estudos mos- trando o percentual de canais apresentando cul- turas negativas após pre- paro químico-mecânico e medicação intracanal com hidróxido de cálcio em veículo inerte. 590 Capítulo 14 Medicação Intracanal de, vários estudos demonstram que a pasta de hidróxi- do de cálcio com PMCC apresenta excelente atividade antimicrobiana. Mas parecem haver mais justificativas para se associarem as duas substâncias além do au- mento do espectro de atividade. Estudos demonstram que, quando aplicado em contato direto com bactérias anaeróbias estritas, o hi- dróxido de cálcio é mais eficaz do que o PMCC13,39,184. Contudo, utilizando o teste de difusão em ágar, Siqueira et al.151 demonstraram que o PMC, associado à cânfora ou ao Furacin, apresentou excelente atividade antibacte- riana, inclusive superior à do hidróxido de cálcio, sobre bactérias anaeróbias estritas. Isso revela que o PMC se difunde mais, possuindo um maior raio de ação antibac- teriana. Por isso, quando associado ao hidróxido de cál- cio, o PMCC pode aumentar o raio de atuação da pasta, atingindo micro-organismos alojados em regiões mais distantes do local de aplicação daquele. Essa afirmativa foi comprovada por trabalho de Si- queira e Uzeda139. Esses autores observaram que a pasta de hidróxido de cálcio com PMCC foi eficaz na desinfec- ção de túbulos dentinários infectados experimentalmen- te com três espécies bacterianas (duas anaeróbias estri- tas e uma facultativa) comumente isoladas de canais radiculares. Esse efeito foi observado em um período de tempo curto. O hidróxido de cálcio em solução salina (veículo inerte) foi ineficaz contra duas das espécies bac- terianas, inclusive após uma semana de contato. Siqueira et al.154 contaminaram cilindros de den- tina bovina com cultura mista de F. nucleatum e Pre- votella intermedia, duas espécies bacterianas anaeróbias estritas frequentemente encontradas em infecções en- dodônticas. Os espécimes contaminados foram expos- tos a pastas de hidróxido de cálcio em solução salina, glicerina, propilenoglicol ou PMCC/glicerina. Os es- pécimes foram deixados em contato com as pastas por 3 e 5 dias. Findos esses períodos, a viabilidade bacteria- na foi avaliada por meio de incubação dos espécimes em caldo de cultura, de forma a comparar a efetividade das pastas na descontaminação da dentina. Apenas a pasta de hidróxido de cálcio/PMCC/glicerina (HPG) foi capaz de efetivamente descontaminar a dentina após 5 dias de contato. Sukawat e Srisuwan185 compararam a eficácia de três pastas de hidróxido de cálcio para desinfetar a dentina humana experimentalmente infectada com E. faecalis. Após 7 dias de exposição, apenas a pasta de hidróxido de cálcio com PMCC eliminou E. faecalis dos túbulos dentinários. As pastas de hidróxido de cálcio com água destilada ou com clorexidina a 0,2% foram ineficazes nesse sentido. Siqueira e Uzeda141 também relataram que a asso- ciação do PMCC com o hidróxido de cálcio mostrou-se bastante eficaz contra 12 espécies bacterianas (6 anae- róbias e 6 facultativas), utilizadas no teste de difusão em ágar, ao contrário do que ocorreu com as pastas de hidróxido de cálcio em água destilada ou glicerina (Fig. 14-10). Esses achados corroboram aqueles de Di- fiore et al.27, utilizando a espécie Streptococcus sanguinis e a mesma metodologia. Gomes et al.41 avaliaram a suscetibilidade de 11 espécies bacterianas (4 anaeróbias estritas, 6 facultati- vas e 1 aeróbia) e 1 levedura (C. albicans) a pastas de hidróxido de cálcio em diferentes veículos. O método empregado foi o de difusão em ágar. Seus achados con- firmaram que a pasta HPG apresentou eficácia antimi- crobiana pronunciada, a qual foi significativamente su- perior quando comparada com as pastas de hidróxido de cálcio tendo como veículos o PMCC (sem acréscimo de glicerina), a glicerina, a solução salina ou o polieti- lenoglicol. Siqueira et al.165 investigaram a atividade anti- fúngica de vários medicamentos endodônticos contra C. albicans, C. glabrata, C. guilliermondii, Candida parap- silosis e Saccharomyces cerevisiae. Eles observaram que a pasta HPG apresentou os efeitos mais pronunciados. A associação do hidróxido de cálcio à glicerina (HG) ou Figura 14-10. Eficácia de medicamentos intracanais contra 12 es- pécies bacterianas – 6 anaeróbias estritas e 6 facultativas. Notar que a pasta HPG foi mais eficaz do que os demais medicamentos. Dados adaptados de Siqueira e Uzeda141. HC, hidróxido de cálcio; CHX, clo- rexidina. Medicação Intracanal 591 à clorexidina (HCx) também apresentou efeitos anti- fúngicos, mas muito menores do que os da pasta HPG (Fig. 14-11). Se, nos testes de difusão em ágar e de desinfecção da dentina, o hidróxido de cálcio associado a um veícu- lo inerte foi ineficaz e, quando associado aoPMCC, mi- cro-organismos foram inibidos e/ou eliminados, pare- ce lógico afirmar que o efeito antimicrobiano da pasta em profundidade se deve principalmente ao PMCC. Destarte, se o PMCC é o principal responsável pela atividade antimicrobiana da pasta, a afirmativa de que essa substância é o veículo não procede. Na verdade, parece-nos que o inverso, pelo menos no que concerne à atividade antimicrobiana, seja mais verdadeiro, isto é, o hidróxido de cálcio funciona como veículo, permitindo uma liberação lenta e controlada de PMCC para o meio, o suficiente para ter ação contra micro-organismos136,151. Isso é importante, pois o PMCC na forma pura é extremamente citotóxico178,179. Contudo, trabalhos experimentais em modelo animal demonstraram que essa pasta é biocompatível44,60,196. Além disso, Gahyva e Siqueira38 demonstraram que a pasta HPG não apre- senta efeitos genotóxicos e mutagênicos (Fig. 14-12), o que confirma sua segurança para emprego clínico. Estudos avaliando o reparo dos tecidos perirradicu- lares de cães após tratamento endodôntico em uma ou duas sessões de dentes com necrose pulpar e lesão perir- radicular associada revelaram que no grupo em que os canais foram medicados com uma pasta de hidróxido de cálcio com PMCC o reparo dos tecidos perirradiculares foi significativamente melhor do que nos dentes tratados em sessão única133,189. Isso certamente se deveu à excelente atividade antimicrobiana da pasta de hidróxido de cálcio em PMCC. Além disso, tais estudos confirmaram que tal pasta apresenta excelente comportamento biológico. A compatibilidade biológica da pasta HPG pode ser devida: 1. À pequena concentração de PMC liberado. Quan- do o PMCC é associado ao hidróxido de cálcio, há a formação de um sal pouco solúvel, o paramono- clorofenolato de cálcio, que em ambiente aquoso se dissocia lentamente liberando PMC e íons cálcio e hidroxila para o meio circundante7. Sabe-se que uma substância pode apresentar efeitos benéficos ou de- letérios, dependendo de sua concentração. A baixa liberação de PMC da pasta, provavelmente, não é suficiente para ter ação citotóxica. 2. Ao fato de o pH alcalino da pasta causar uma desna- turação proteica superficial no tecido em contato com ela, que serve como barreira física para a difusão e maior penetrabilidade tecidual por parte do PMC. 3. À irritação ser de baixa intensidade por um curto período. Uma vez que micro-organismos residuais são eliminados pela pasta, após a sua remoção do canal não há a persistência de agressão aos tecidos perirradiculares148. Figura 14-11. Atividade antifúngica de medicamentos intracanais contra 5 espécies. Notar que a pasta HPG foi mais eficaz do que os demais medicamentos. Dados segundo Siqueira et al.165. HC, hidró- xido de cálcio. Figura 14-12. Teste de Ames para avaliação de mutagenicidade. A. Ausência de efeitos mutagênicos para a pasta HPG. B. Controle positivo (4-nitroquinolina-1-óxido), mostrando forte efeito mutagênico. A B 592 Capítulo 14 Medicação Intracanal É bastante admissível que as três hipóteses este- jam inter-relacionadas para justificar a biocompatibi- lidade do PMCC quando associado ao hidróxido de cálcio. A pasta HPG apresenta maior espectro de ati- vidade antimicrobiana, maior raio de atuação e efei- to antimicrobiano mais rápido, quando comparada às pastas de hidróxido de cálcio em veículos iner- tes139-141,150,151,155,165 (Fig. 14-13). O maior raio de ação pode ser resultado da baixa tensão superficial do PMCC86,91 e da solubilidade em lipídios, o que facilita sua difu- sibilidade pelo sistema de canais radiculares. Por tais razões, recomendamos a pasta HPG como a medicação intracanal a ser utilizada rotineiramente após o preparo químico-mecânico de dentes com necrose pulpar, de- vendo permanecer no canal por um período ideal de aproximadamente 7 dias135,156. Eficácia clínica do protocolo usando a pasta HPG como medicamento Estudos clínicos avaliando importantes fatores, como a ocorrência de dor pós-operatória, a capacidade de eliminação bacteriana e o índice de sucesso a longo prazo, apontam resultados extremamente satisfatórios para o protocolo utilizando o tratamento em duas ses- sões baseado em estratégias antimicrobianas, tais como amplo preparo apical, estabelecimento e manutenção da patência foraminal, NaOCl a 2-3% como substância química auxiliar e pasta HPG como medicação intraca- nal por 7 dias. Incidência de dor pós-operatória: Em um estudo pros- pectivo, Siqueira et al.162 avaliaram a incidência de dor pós-operatória após procedimentos intracanais baseados em uma estratégia antimicrobiana. Todos os casos rece- beram medicação intracanal com a pasta HPG. Dados foram obtidos de 627 dentes que apresentavam polpas necrosadas ou necessitavam de retratamento. Os trata- mentos foram efetuados por alunos de graduação em seu primeiro ano de treinamento endodôntico. No ge- ral, algum nível de desconforto pós-operatório ocorreu em 15% dos casos. Dor leve ocorreu em 10% dos casos, moderada em 3% e grave (flare-up) em 2% (Fig. 14-14). O emprego dos procedimentos intracanais para contro- le da infecção, incluindo a utilização da pasta HPG, re- sultou em uma baixa incidência de dor pós-operatória, principalmente de flare-ups, mesmo quando em mãos inexperientes. Tais achados também atestam a biocom- patibilidade da pasta HPG quando do uso clínico. Figura 14-13. Pronunciada atividade antibacteriana da pasta HPG evidenciada pelo teste de difusão em ágar. Comparar com os ha- los de inibição promovidos por clorexidina (CHX) a 0,2% com ou sem óxido de zinco (OZ). Notar a presença do halo de difusão do hidróxido de cálcio (seta amarela), halo de inibição definido (seta laranja) e um halo que sugere inibição inicial, mas que foi superada por crescimento exuberante das bactérias com o passar do tempo (seta vermelha). Figura 14-14. Incidência de dor pós- operatória após protocolo antimicrobia- no usando a pasta HPG. Dados segundo Siqueira et al.162. Medicação Intracanal 593 Eficácia antibacteriana in vivo: Siqueira et al.156 in- vestigaram a redução da população bacteriana intraca- nal após preparo químico-mecânico com NaOCl a 2,5% como irrigante e posterior medicação intracanal por 7 dias com pasta HPG. Dentes unirradiculares com in- fecção endodôntica primária e lesão perirradicular as- sociada foram selecionados de acordo com critérios de inclusão/exclusão bastante rígidos. Amostras bacterio- lógicas do canal foram coletadas antes do tratamento (S1), depois do preparo usando limas de NiTi manuais e NaOCl a 2,5% (S2) e após 7 dias de medicação intra- canal com pasta HPG (S3). Bactérias cultiváveis isola- das dos canais nos três estágios foram contadas e iden- tificadas por meio de sequenciamento do gene do 16S rRNA, um método da mais alta confiabilidade na iden- tificação bacteriana. Em S1, todos os casos abrigavam bactérias, com uma média de 2,8 espécies por canal, va- riando de 1 a 6. Em S2, 54,5% dos canais apresentaram culturas positivas, com 1 a 3 espécies por canal. Em S3, apenas 9% dos casos foram positivos para a presença de bactérias. Propionibacterium acnes foi a única espécie encontrada no único canal com cultura positiva após medicação com a pasta HPG. Houve diferença signi- ficante nas comparações entre S2 e S3 tanto no que se refere à redução da contagem bacteriana, quanto ao número de culturas negativas. Os autores concluíram que o preparo químico-mecânico com NaOCl a 2,5% significativamente reduziu o número de bactérias no canal em relação à contagem pré-tratamento, mas fa- lhou em promover culturas negativas em cerca de me- tade dos casos. A medicação com pasta HPG por 7 dias aumentou a desinfecção e o número de culturas negati- vas, indicando claramente que a medicação intracanal é necessária para maximizar a eliminação bacteriana de canais (Fig. 14-15). Sucesso a longo prazo: Siqueira et al.167 avaliaram os resultados do tratamento endodôntico a longo prazo(1 a 4 anos de prosservação) de dentes com lesão pe- rirradicular tratados por alunos de graduação usando o protocolo antimicrobiano já delineado. Os primeiros 100 pacientes que atenderam ao chamado e aceitaram retornar para consulta de acompanhamento foram in- cluídos nesse estudo. O resultado do tratamento foi avaliado por meio de critérios clínicos e radiográfi- cos como reparados (sucesso), em reparação (sucesso provável) e não reparados (fracasso). Apenas 5% dos tratamentos fracassaram, sendo os resultados favorá- veis obtidos em 95% dos casos (76% reparados e 19% reparando). A maioria dos casos de sucesso (75%) e de fracasso (80%) foi evidente aos 2 anos de avaliação, in- dicando que esse é um bom período para avaliação do sucesso do tratamento. Contudo, sete dentes levaram 4 anos para serem reparados completamente. O baixo índice de fracasso observado neste estudo para trata- mentos efetuados por operadores inexperientes reforça a importância de se empregar um protocolo antimicro- biano baseado em evidências para o tratamento endo- dôntico de dentes com lesão perirradicular associada. Tais achados de estudos clínicos definitivamente firmam esse protocolo de tratamento antimicrobiano como uma excelente opção de terapia baseada em evi- dência científica para dentes com lesão perirradicular associada (Fig. 14-16). Associação do hidróxido de cálcio com clorexidina (HCx) A clorexidina é uma substância antimicrobiana al- tamente eficaz contra espécies orais de bactérias gram- positivas e gram-negativas, além de fungos24,96,180. Essa bis-biguanida catiônica pode induzir dano nas mem- branas mais externas da célula microbiana, mas esse efeito é geralmente insuficiente para causar lise ou morte celular. A clorexidina atravessa a parede celular microbiana por difusão passiva e então ataca a mem- brana citoplasmática. O dano a essa delicada mem- brana é acompanhado pela infiltração de constituintes intracelulares. Em altas concentrações, a clorexidina Figura 14-15. Eliminação bacteriana quantitativa, caso a caso, após preparo químico-mecânico usando NaOCl a 2,5% como ir- rigante e pasta HPG como medicação intracanal. Dados segundo Siqueira et al.156. 594 Capítulo 14 Medicação Intracanal causa precipitação de componentes fosfatados intrace- lulares, como os ácidos nucleicos. Em decorrência, o ci- toplama se torna “congelado”, o que diminui a infiltra- ção de elementos intracelulares, de forma que há um efeito bifásico sobre a permeabilidade da membrana83. A atividade antimicrobiana da clorexidina é ótima em pH em torno de 5,5 a 7, sendo bastante reduzida ou mesmo abolida na presença de matéria orgânica83. A clorexidina é um agente antimicrobiano ampla- mente utilizado e que tem sido recentemente proposto para uso endodôntico como substância química auxi- liar ou como medicação intracanal. Na irrigação, a clo- rexidina tem revelado resultados antimicrobianos simi- lares ao NaOCl em vários estudos clínicos e laborato- riais29,62,122,170,203,204, embora existam controvérsias96,98,206. Além dos efeitos antimicrobianos, a clorexidina apre- senta baixa toxicidade98,190 e a propriedade de substan- tividade à dentina, o que resulta em efeitos antimicro- bianos residuais mantidos por dias a semanas75,121,217. Como medicação intracanal, a clorexidina tem sido recomendada sozinha ou em combinação com o hidróxido de cálcio. Devido às limitações já discuti- das do hidróxido de cálcio, parece vantajoso associar outros medicamentos a essa substância148. A associa- ção da clorexidina com o hidróxido de cálcio (HCx) tem sido então bastante estudada recentemente. Até o momento, não há consenso entre os estudos in vitro quanto à vantagem de associar clorexidina ao hidró- xido de cálcio. Alguns estudos mostram que os efei- tos antimicrobianos do hidróxido de cálcio são signi- ficativamente aumentados quando ele é misturado à clorexidina32,43,109,111,171. Já outros estudos não encontra- ram vantagens significativas nessa associação127,164. Na verdade, a eficácia da clorexidina parece ser significa- tivamente reduzida quando misturada com o hidró- xido de cálcio43,127,164. A clorexidina permanece estável em pH 5-8, e, à medida que o pH aumenta, a ionização diminui. A pasta HCx mantém um pH alto similar ao do hidróxido de cálcio em água171,221. Em altos valores de pH, a clorexidina precipita e pode ficar indisponível para exercer seus efeitos antimicrobianos221. Contudo, apesar da perda da clorexidina ativa quando misturada ao hidróxido de cálcio, os efeitos residuais ainda podem ter significado clínico, como revelado por dois estudos157,221. Zerella et al.221 demons- traram que a medicação com pasta HCx (clorexidina a 2%) foi no mínimo tão eficaz quanto o hidróxido de cál- cio em veículo inerte na desinfecção de canais de casos de retratamento com lesão. A incidência de culturas ne- gativas após o uso dessa combinação por 7-10 dias foi de 65%221. Em outro estudo clínico, dessa vez avaliando a eficácia de um protocolo de tratamento contra infec- ções endodônticas primárias, Siqueira et al.157 irrigaram os canais durante o preparo com clorexidina a 0,12% e encontraram incidência de culturas positivas de 54%. A medicação intracanal com pasta HCx (clorexidina a Figura 14-16. Dente com lesão perir- radicular associada, tratado pelo pro- tocolo antimicrobiano usando a pasta HPG. A. Radiografia pré-operatória. B. Radiografia de prosservação após 1 ano de conclusão do tratamento mostrando paralisação da reabsorção dentária apical e reparo dos tecidos perirradiculares. A B Medicação Intracanal 595 0,12%) reduziu ainda mais o número de culturas posi- tivas, atingindo 8% dos casos, o que foi estatisticamen- te significante. Os efeitos antimicrobianos significativos da pasta HCx revelados por esses dois estudos clínicos podem ser creditados a resíduos ainda ativos e não precipi- tados de clorexidina na pasta, além do alto pH dela. Assim, essa pasta pode ser uma boa alternativa à pasta HPG para uso rotineiro no tratamento (e no retrata- mento) de dentes com lesão perirradicular, com o po- tencial de promover resultados similares. 3 – Neutralização de endotoxinas Endotoxinas ou lipopolissacarídeos (LPS) são constituintes da membrana externa da parede celular de bactérias gram-negativas que, quando liberadas para o meio externo, são importantes fatores de vi- rulência. Essas moléculas exercem um papel relevan- te na patogênese das doenças da polpa e dos tecidos perirradiculares137,158. A porção lipídica da molécula, conhecida como lipídio A, é a principal responsável por seus efeitos biológicos115,116. Foi demonstrado que o hidróxido de cálcio pode promover a hidrólise do lipídio A, des- truindo ligações éster dentro da molécula de LPS, promovendo assim a liberação de ácidos graxos hi- droxilados124. Consequentemente, a molécula de LPS é inativada, tendo seus efeitos tóxicos neutralizados ou reduzidos significativamente92,123,132. Embora alguns estudos tenham relatado tal efeito in vivo, na verdade, nesses estudos o LPS foi mistura- do com o hidróxido de cálcio e aplicado no canal, ten- do sido observada a sua inativação com consequente reduzida capacidade de causar inflamação nos tecidos perirradiculares92,132. Entretanto, essa não é a situação real in vivo, na qual a pasta de hidróxido de cálcio aplica- da ao canal deve se difundir, atingir o LPS presente em localidades diversas no sistema de canais e assim exercer o efeito neutralizador. Até o momento, apenas um estu- do em cães sugeriu que tal propriedade do hidróxido de cálcio pode ocorrer de forma significativa in vivo191. Assim, tornam-se necessários estudos em huma- nos para avaliar se o hidróxido de cálcio exerce tais efeitos neutralizadores sobre o LPS de forma signifi- cativa na real situação clínica. Na verdade, um estudo clínico recente em pacientes demonstrou níveis reduzi- dos significativamente, mas ainda relativamenteeleva- dos de LPS nos canais após preparo químico-mecânico, os quais foram praticamente inalterados após medica- ção intracanal com hidróxido de cálcio, clorexidina ou com uma associação das duas substâncias205. Tais re- sultados parecem indicar que o efeito neutralizador do hidróxido de cálcio sobre o LPS observado em estudos laboratoriais pode não ser significativo na situação in vivo. 4 – Indução de reparo por tecido mineralizado Quando em contato direto com um tecido conjun- tivo organizado com memória genética para produção de tecido mineralizado, como polpa ou ligamento pe- riodontal, o hidróxido de cálcio estimula a neoforma- ção de dentina ou cemento, respectivamente40,55,56,128,129 (Fig. 14-17). Esta é, sem dúvida alguma, a propriedade mais difundida do hidróxido de cálcio, sendo suporta- da tanto pela prática clínica, quanto por inúmeros tra- Figura 14-17. Estímulo à formação de tecido mineralizado pelo hi- dróxido de cálcio. A. Na polpa, após pulpotomia. B. No ligamento periodontal apical, após biopulpectomia. (Gentileza do Prof. Rober- to Holland.) A B 596 Capítulo 14 Medicação Intracanal balhos científicos. Algumas modalidades de tratamen- to se utilizam desse efeito biológico do hidróxido de cálcio, tais como: capeamento pulpar direto, curetagem pulpar, pulpotomia, apicificação, tratamento de perfu- rações e de reabsorções radiculares. Embora se reconheça a citada propriedade dessa substância, seu mecanismo de ação ainda não foi per- feitamente elucidado. Alguns atribuem esse efeito aos íons hidroxila, enquanto outros julgam que os íons Ca+2 sejam os responsáveis pela indução do reparo. Seguem algumas tentativas de explicar os efeitos do hidróxido de cálcio sobre os tecidos que resultam na deposição de tecido duro neoformado: a) Ativação de enzimas envolvidas no processo de reparo Ca+2-ATPase. A Ca+2-ATPase (adenosina trifosfa- tase) é uma enzima associada à membrana citoplasmá- tica de células envolvidas na produção de tecido duro, a qual funciona como uma “bomba” de cálcio, promo- vendo o transporte desse elemento contra um gradien- te de concentração2,45. Por sua ativação ser cálcio-de- pendente, acredita-se que o hidróxido de cálcio exerça seus efeitos desse modo. A ATPase exerce um papel importante nos processos de mineralização tecidual. Pirofosfatase. Essa enzima também é cálcio-de- pendente, estando envolvida em processos onde há necessidade de obtenção de energia a partir do ATP. Um desses processos é a síntese de proteínas, como o colágeno, principal componente da matriz orgânica de dentina, cemento e osso. Acredita-se, então, que a ativação da pirofosfatase pelos íons Ca+2 oriundos do hidróxido de cálcio aumentará a utilização de energia, favorecendo o mecanismo de reparo51. Fosfatase alcalina. A ativação dessa enzima pelo hidróxido de cálcio é um dos mecanismos mais defen- didos por alguns autores181. A fosfatase alcalina está envolvida no processo de mineralização e é ativada, como o próprio nome indica, em pH alcalino, varian- do entre 8,6 e 10,3. Logo, o elevado pH do hidróxido de cálcio pode ativá-la. Ela é uma enzima hidrolítica que promove a liberação de fosfato inorgânico, a partir de ésteres fosfóricos. Os íons fosfato liberados podem reagir com os íons cálcio provenientes dos tecidos, for- mando precipitados de fosfato de cálcio (na forma de hidroxiapatita) sobre uma matriz orgânica, o que ca- racteriza o processo de mineralização. b) Trauma químico Devido ao pH elevado, os íons hidroxila, oriundos da dissociação do hidróxido de cálcio, causam uma zona de desnaturação proteica superficial no tecido em con- tato com essa substância, caracterizada por necrose de coagulação de espessura variável entre 0,3 e 0,7mm181. Esse efeito parece ser o responsável pela indução de reparo por deposição de tecido mineralizado20,128,136,200. A polpa e o ligamento periodontal, na grande maio- ria das vezes, são reparados pela deposição de tecido duro, i.e., dentina e cemento, respectivamente. Isso é uma característica natural desses tecidos ditada por sua memória genética, a qual é mantida por células indiferenciadas. Quando acometidos por um trauma superficial e transitório, na ausência de infecção, os mecanismos de reparação são desencadeados. A cau- terização química induzida pelo hidróxido de cálcio sobre a polpa ou ligamento periodontal é superficial e transitória, graças à baixa solubilidade dessa substân- cia, o que impede um efeito em maior profundidade no tecido. Esse trauma químico é suficiente para estimular a reparação20. Outras substâncias, como o eugenol, presente em cimentos para proteção pulpar ou para obturação de canal, podem promover esse mesmo trauma químico. Contudo, devido à maior solubilidade e consequente penetração tecidual, ele se dá em maior profundidade no tecido e por um período prolongado. Enquanto esti- ver sendo irritado, o tecido não inicia a sua reparação. Além de induzir um trauma químico superficial e tran- sitório no tecido em contato direto com ele, o hidróxido de cálcio promove um ambiente alcalino na superfície do tecido, o qual é impróprio para o desenvolvimento de micro-organismos. Assim, o tecido fica em condi- ções apropriadas para iniciar seu processo de reparo. Cumpre salientar que, para o hidróxido de cálcio esti- mular essa reparação, o tecido deve estar organizado e, no máximo, ligeiramente inflamado. De outro modo, essa propriedade não será observada. Outras propriedades do hidróxido de cálcio 1 – Solvente de matéria orgânica Estudos de Hasselgren et al.50 e Andersen et al.3 re- velaram que o hidróxido de cálcio, por possuir um pH extremamente alcalino, promove a quebra de ligações iônicas que mantêm a estrutura terciária de proteínas, desnaturando-as e tornando-as mais suscetíveis à dis- solução por NaOCl. Tais estudos foram conduzidos em condições experimentais onde a área de contato entre as substâncias testadas e os tecidos era máxima, o que não condiz com a situação real dentro do sistema de canais radiculares, onde irregularidades, istmos e ra- mificações podem limitar esse contato. Medicação Intracanal 597 Contudo, áreas de istmos e ramificações não são totalmente limpas, mesmo após a utilização de cura- tivo com hidróxido de cálcio. No interior do canal ra- dicular, a área de contato entre o tecido e o hidróxido de cálcio/NaOCl é mínima, limitando a eficácia des- sas substâncias. Além disso, a baixa solubilidade da primeira praticamente restringe a sua ação à área de contato com o tecido e, consequentemente, apenas a superfície tecidual degenerada pela ação do hidróxido de cálcio sofrerá uma efetiva ação solubilizadora do NaOCl. Nos raros casos onde a área de contato da pas- ta de hidróxido de cálcio com o tecido conjuntivo for maior, esse efeito poderá ser observado. Siqueira et al.144 avaliaram histologicamente a lim- peza de canais radiculares de molares após instrumen- tação, medicação intracanal com hidróxido de cálcio e posterior irrigação com NaOCl. Um grupo recebeu curativos com pasta de hidróxido de cálcio e soro fisio- lógico, sendo essa removida posteriormente por meio de irrigação profusa com NaOCl. O grupo-controle consistiu de dentes que não receberam medicação in- tracanal. A limpeza do canal foi avaliada em cortes histológicos das regiões localizadas a 1, 2 e 3mm do término apical. Apesar de a limpeza do canal radicular no grupo onde foi utilizado curativo de hidróxido de cálcio ter sido ligeiramente superior à do grupo-con- trole, não houve diferença estatisticamente significante entre os dois grupos. 2 – Inibição da reabsorção radicular externa O processo de reabsorção de um tecido minera- lizado se inicia pela perda da matriz orgânica que o reveste, como o osteoide no osso e o pré-cemento no cemento. Isso pode ocorrer pela ação de colagenases, liberadas por células ativadas pelos mediadores quí- micos da inflamação. O tecido mineralizado exposto é então destruídopela ação de substâncias liberadas por células clásticas. Ácidos promovem a dissolução da hidroxiapatita, componente inorgânico do tecido mineralizado. A seguir, enzimas, como catepsinas e metaloproteinases de matriz, degradam a matriz orgâ- nica exposta168. O pH na lacuna de reabsorção cai para aproximadamente 4,5, o qual é ótimo para a atividade da catepsina K, principal enzima liberada pelo osteo- clasto e envolvida na reabsorção192. Tais mecanismos bioquímicos utilizados pela célula clástica para reab- sorver tecidos mineralizados são exatamente os mes- mos, independentemente de a reabsorção ser fisioló- gica ou patológica. Nas reabsorções radiculares infla- matórias externas, componentes bacterianos, como o LPS de bactérias gram-negativas, desempenham papel importante para estimular a biossíntese e liberação de citocinas (IL-1, TNF, IL-6) envolvidas na ativação de células clásticas137,158. Devido ao fato de ser uma base forte, tem sido sugerido que o hidróxido de cálcio promove a elevação do pH do meio, neutralizando ácidos e inibindo a ati- vidade enzimática relacionada com a reabsorção197,198. Outrossim, a elevada alcalinidade do hidróxido de cál- cio poderia induzir a morte da célula clástica, parali- sando o processo de reabsorção49. Todavia, tais teorias carecem de suporte científi- co. É bastante questionável que o hidróxido de cálcio apresente eficácia diretamente sobre o processo de re- absorção inflamatória externa. Isso pode ser atestado pelo fato de que essa substância é completamente ino- perante em casos de reabsorção por substituição, onde os mecanismos bioquímicos de reabsorção utilizados pela célula clástica são os mesmos, mas a causa da rea- bsorção é diferente. É imperioso ressaltar que o processo de reabsor- ção inflamatória é usualmente a consequência de uma infecção instalada no sistema de canais radiculares. As- sim, nas reabsorções radiculares inflamatórias externas, o combate aos micro-organismos presentes no sistema de canais radiculares (o agente etiológico) é o fator pri- mordial na paralisação do processo patológico (Figs. 14-16 e 14-18). O hidróxido de cálcio em veículo inerte apenas será eficaz para eliminar a infecção intratubular e, consequentemente, paralisar a reabsorção inflamató- ria externa após múltiplas aplicações (trocas), as quais Figura 14-18. Reabsorção inflamatória externa. A infecção do sis- tema de canais radiculares deve ser devidamente controlada para a paralisação do processo. 598 Capítulo 14 Medicação Intracanal são necessárias para exceder a capacidade tampão da hidroxiapatita e assim obter a alcalinização adequada da dentina para ter consequente efeito antimicrobiano. A associação do hidróxido de cálcio com veículos biologicamente ativos, como o PMCC e a clorexidina, apresenta maior capacidade de desinfetar túbulos den- tinários em aplicação única e por isso é mais apropria- da para o controle da reabsorção inflamatória externa. Atividade física As pastas de hidróxido de cálcio usadas como medicamento intracanal atuam como barreira física e química (ação de preenchimento), impedindo ou retar- dando a infecção ou reinfecção do canal radicular por micro-organismos provenientes da cavidade oral. Canais instrumentados podem ser contaminados, nos casos de biopulpectomia, ou recontaminados, nos casos de necropulpectomia entre as sessões do trata- mento endodôntico, em determinadas situações clínicas, tais como: a infiltração de saliva através do material se- lador temporário e perda ou fratura do material selador e/ou da estrutura dentária. Nessas situações, a cavidade pulpar se torna exposta à microbiota oral, o que pode comprometer o sucesso do tratamento endodôntico. Siqueira et al.149,153 avaliaram a efetividade do PMCC, tricresol formalina e pastas de hidróxido de cálcio/soro fisiológico e hidróxido de cálcio/PMCC/ glicerina (HPG) para prevenir a recontaminação do canal quando da ausência de um selador temporário. Concluíram que as pastas de hidróxido de cálcio pre- enchendo o canal foram significativamente mais efica- zes do que o PMCC e o tricresol formalina aplicados em mechas de algodão na câmara pulpar no sentido de retardar a invasão microbiana do sistema de canais radiculares. Ainda segundo esses autores149,153, o PMCC e o tri- cresol formalina foram menos eficazes do que as pastas de hidróxido de cálcio para impedir a recontaminação dos canais radiculares, em função da diluição e neutra- lização dos medicamentos pela saliva. O tricresol for- malina e o PMCC atuam somente pelo efeito químico e não físico, quando empregados como medicamento intracanal. Por mais essa razão, a utilização de medi- camentos líquidos aplicados em mechas de algodão na câmara pulpar se torna questionável. Como já aclarado neste capítulo, a pasta HPG tem demonstrado um largo espectro de atividade antimi- crobiana, rápido efeito letal para micro-organismos e um amplo raio de ação, quando comparada com as pastas em veículos inertes. Todavia, Siqueira et al.149 não observaram, nessa combinação, resultados estatis- ticamente superiores, quando comparada com a pasta de hidróxido de cálcio em soro fisiológico, no que tan- ge à recontaminação do canal após exposição à saliva. Provavelmente, isso ocorreu porque a saliva pode ter diluído e neutralizado o efeito antimicrobiano do PMC liberado da pasta HPG. As pastas de hidróxido de cálcio utilizadas como medicação intracanal também funcionam como uma barreira física, impedindo a percolação apical de flui- dos teciduais, negando assim o suprimento de subs- trato para micro-organismos residuais que porventu- ra tenham sobrevivido ao preparo químico-mecânico. Também, essa barreira física limita o espaço para a multiplicação desses micro-organismos remanescentes entre as sessões de tratamento. Esses dados indicam que a ação de preenchi- mento dessas pastas pode ser mais relevante do que a ação química para prevenir a contaminação ou recon- taminação do canal radicular entre as consultas. Além disso, impedem fisicamente a penetração de substra- tos que porventura venham a suprir as necessidades nutricionais de micro-organismos remanescentes no canal149,153. As pastas de hidróxido de cálcio também atuam como barreira química contra a proliferação de micro- organismos residuais que sobreviveram ao preparo químico-mecânico e contra a contaminação ou recon- taminação do canal por micro-organismos oriundos da cavidade oral. A ação química do hidróxido de cálcio é representada pela sua elevada alcalinidade. Sendo as- sim, sua eficácia é pH-dependente. Desse modo, a ati- vidade antimicrobiana do hidróxido de cálcio pode ser limitada na presença de tecidos ou fluidos biológicos dotados de capacidade tampão. A saliva possui tal efei- to em função da presença de proteínas e da atividade dos sistemas bicarbonato e fosfato. Os fluidos tecidu- ais e o sangue também podem ter o efeito tamponador representado por proteínas e sistemas tampão, como o próprio bicarbonato, além de outras substâncias que eventualmente possam estar presentes, como ácidos orgânicos e CO2. Doadores de prótons presentes na ca- mada hidratada da hidroxiapatita da dentina também tamponam o pH do hidróxido de cálcio. Baseado em tudo o que foi discutido sobre as propriedades atribuídas ao hidróxido de cálcio, ra- tificamos a afirmativa de que essa substância não é uma panacéia35. Contudo, embora não resolva todos os problemas, o hidróxido de cálcio é de extrema uti- lidade em Endodontia quando em indicações precisas e sensatas. Medicação Intracanal 599 Extravasamento das pastas de hidróxido de cálcio O extravasamento das pastas de hidróxido de cál- cio para os tecidos perirradiculares, nos casos em que há presença de lesão, não parece oferecer quaisquer benefícios. Como já comentado, o hidróxido de cálcio não apresenta efeito anti-inflamatório comprovado. Além disso, é improvável que essa substância vá elimi-nar micro-organismos situados na superfície radicular apical ou no interior da lesão. Nos tecidos perirradicu- lares há uma intensa atividade de substâncias tampo- nadoras, como o sistema bicarbonato, sistema fosfato e uma miríade de proteínas, que irão impedir a elevação significativa do pH. Além disso, a pasta seria rapida- mente diluída pelos fluidos teciduais e “lavada” pela microcirculação, que é bastante desenvolvida na lesão perirradicular, pela intensa neoformação vascular. Para atingir pH de magnitude suficiente para eliminar micro-organismos na lesão, uma grande quantidade de pasta teria de ser extravasada para, em um momento inicial, exceder a capacidade tampão tecidual. Entre- tanto, isso seria extremamente agressivo para os teci- dos, devido à ausência de toxicidade seletiva por parte do hidróxido de cálcio, o que inevitavelmente poderia resultar no desenvolvimento de um flare-up. O mesmo é válido para as pastas de hidróxido de cálcio com ve- ículos biologicamente ativos, como o PMCC, os quais são também rapidamente neutralizados por proteínas teciduais. Por outro lado, embora o extravasamento de uma pequena quantidade de pasta de hidróxido de cálcio aparentemente não vá conferir efeitos benéficos, essa conduta usualmente não traz maiores consequências. Se um extravasamento acidental da pasta ocorrer du- rante sua aplicação, o que é comum, não há qualquer inconveniente23. Aliás, isso pode ser indicativo de que a pasta está atingindo toda a extensão do canal. No en- tanto, o exagero na quantidade extravasada de pasta, em determinadas situações, pode ter efeitos desastro- sos para o paciente22,77.. Preenchimento do canal radicular com pasta de hidróxido de cálcio Várias técnicas para colocação da pasta hidróxido de cálcio no interior do canal radicular têm sido utiliza- das, destacando-se o porta-amálgama, os instrumentos endodônticos, seringas especiais, cones de papel ou de guta-percha, a espiral de Lentulo e o compactador de McSpadden21,79,80. Sigurdsson et al.131 analisaram a eficiência da es- piral de Lentulo, limas endodônticas e seringa com agulha na colocação de pasta de hidróxido de cálcio no interior de canais mesiovestibulares de primeiros molares superiores instrumentados até a lima K #25. Em função dos resultados, concluíram que a espiral de Lentulo foi mais eficiente, em relação ao limite de pre- enchimento e compactação da pasta no interior dos ca- nais radiculares. A maior eficácia da espiral de Lentulo quando comparada ao cone de papel foi demonstrada em outro estudo193. De forma geral, além da anatomia e do preparo químico-mecânico, a eficiência da inserção da pasta de hidróxido de cálcio no canal radicular depende da sua composição química, da natureza do veículo, as- sim como da sua consistência no momento do empre- go. Com relação à natureza dos veículos, os viscosos e oleosos, por agirem como lubrificantes, favorecem a colocação da pasta no canal. Também a presença da co- lofônia, do carbonato de bismuto e do sulfato de bário melhora o manuseio e a inserção da pasta no interior do canal radicular. Quando preparadas no momento de seu empre- go, apesar das várias técnicas de aplicação proposta, as mais recomendadas são as que utilizam instrumentos endodônticos manuais, espirais de Lentulo ou compac- tadores de McSpadden. a) Instrumentos endodônticos manuais Uma lima tipo K de diâmetro imediatamente in- ferior ao da última lima empregada para a confecção do preparo apical (lima de memória) é selecionada para a inserção da pasta de hidróxido de cálcio no ca- nal radicular. O instrumento é carregado com a pasta em suas espirais, introduzido lentamente até alcançar o comprimento de trabalho, pincelado contra as pare- des do canal e girado no sentido anti-horário por duas ou três vezes. A remoção do instrumento é realizada lentamente, sem interromper o movimento de rotação anti-horária. Repete-se esse procedimento uma a três vezes, até que todo o canal radicular esteja preenchido com a pasta. A operação é acompanhada com o auxílio do exa- me radiográfico. Isso posto, promove-se a compactação da pasta com uma pequena mecha de algodão esterili- zada e de tamanho adequado, colocada na embocadu- ra do canal e comprimida com as pontas de uma pinça clínica ou calcador de Paiva, que funciona como um êmbolo, para assegurar o preenchimento do canal em toda a sua extensão. 600 Capítulo 14 Medicação Intracanal b) Instrumentos rotatórios Os compactadores de McSpadden e as espirais de Lentulo são instrumentos que podem ser usados para o preenchimento do canal radicular com pasta de hidró- xido de cálcio. Contudo, vale ressaltar que as últimas têm seu emprego muito mais difundido, com maior comprovação da eficácia (Fig. 14-19). Lopes et al.78, in vitro, constataram que a espiral de Lentulo é mais eficiente do que o compactador de McSpadden no preenchimento de canais radiculares com pasta de hidróxido de cálcio. Afirmam que essa diferença pode estar relacionada com a forma geométrica do instru- mento. O compactador de McSpadden, por possuir maior seção reta do que a espiral de Lentulo, ao ser retirado do canal radicular, desloca a pasta para a lateral, deixando, dessa forma, maior percentual de vazios. Quando do uso de instrumento rotatório para a inserção da pasta no canal radicular, é importante que o mesmo tenha um diâmetro menor que o do final do preparo, seja colocado até a profundidade de 2 a 3mm aquém do comprimento de trabalho e acionado por um micromotor, com velocidade constante e com giro à di- reita, por aproximadamente 10 segundos. Após a manipulação da pasta, ela é levada em pequenas porções à câmara pulpar por meio de calca- dores espatulados. A seguir, o instrumento rotatório é carregado em suas espirais com pequena quantidade de pasta e introduzido lentamente no canal. Simultanea- mente, a espiral de Lentulo é acionada para girar à di- reita e, com movimentos suaves e lentos de penetração e remoção, busca-se o preenchimento do canal radicu- lar. É importante ressaltar que o instrumento deve ser retirado do canal estando em movimento de rotação. A operação é acompanhada com o auxílio do exame radiográfico, podendo ser repetida até o completo preen- chimento do canal. A compactação da pasta ao nível da embocadura do canal é realizada como já mencionado. Do ponto de vista quantitativo, a permanência de espaços vazios diminui o volume de hidróxido de cál- cio no interior do canal radicular. Consequentemente, é provável que isso possa influenciar a eficácia do me- dicamento78. NOVOS MEDICAMENTOS E ASSOCIAÇÕES PERSPECTIVAS Como aclarado alhures, uma das diretrizes para a pesquisa endodôntica se refere à descoberta de proce- dimentos e medicamentos que permitam um aumento significativo no índice de sucesso do tratamento endo- dôntico. Dos medicamentos com resultados mais pro- missores destacam-se a clorexidina, o óleo ozonizado e o vidro bioativo. Lima et al.76 avaliaram a eficácia de medicamentos contendo clorexidina ou antibióticos para eliminar bio- filmes de E. faecalis. A associação da clindamicina com o metronidazol significantemente reduziu o número de células bacterianas no biofilme. Todavia, apenas os medicamentos contendo clorexidina a 2% foram efica- zes em totalmente eliminar os biofilmes de E. faecalis. Provenzano et al.111 investigaram a eficácia de di- ferentes medicamentos intracanais contra E. faecalis, C. albicans e A. radicidentis, três espécies microbianas de- tectadas em casos de fracasso da terapia endodôntica e com reconhecidos níveis de resistência ao hidróxido de cálcio. Os seguintes medicamentos foram testados: pasta de solução aquosa de clorexidina a 0,2%/óxido de zinco e pastas de hidróxido de cálcio em glicerina, clorexidina a 0,2%, paramonoclorofenol canforado/ glicerina, iodeto de potássio iodetado ou iodo povi- dine. Os resultados demonstraram que a clorexidina associada ao óxido de zinco ou ao hidróxidode cálcio apresentou maior atividade antimicrobiana quando comparada aos outros medicamentos. Figura 14-19. Espiral de Lentulo para aplicação de hidróxido de cálcio no canal. A. Eletromicrografia. B. Aplicação clínica com a es- piral acionada a motor. C. Esquema. A B C Medicação Intracanal 601 Siqueira et al.161 avaliaram a atividade antimi- crobiana de um novo medicamento, o óleo de giras- sol ozonizado, e do hidróxido de cálcio associado ao PMCC/glicerina ou ao tricresol formalina (TCF)/ glicerina contra micro-organismos comumente en- Figura 14-20. Eficácia antibacteriana do óleo ozonizado quando comparado a outros medicamentos intracanais. Dados segundo Si- queira et al.161. HG, hidróxido de cálcio em glicerina; HTG, hidróxido de cálcio associado a tricresol formalina e glicerina. volvidos na etiopatogenia das doenças perirradicula- res. A metodologia empregada foi o teste de difusão em ágar. Discretos halos de inibição de crescimento bacteriano foram associados à pasta hidróxido de cálcio/TCF/glicerina. As pastas de hidróxido de cál- cio/PMCC/glicerina apresentaram eficácia antimi- crobiana pronunciada, principalmente na proporção PMCC/glicerina de 1:1. A maior eficácia de atividade antimicrobiana foi observada para o óleo ozonizado (Fig. 14-20). Um estudo em cães revelou bons resul- tados no grupo onde o óleo ozonizado foi empregado como medicação intracanal, com ocorrência de repa- ração perirradicular similar ao grupo onde a pasta HPG foi usada e superior ao grupo tratado em sessão única133 (Fig. 14-21). Estudos demonstraram que vidros bioativos (como S53P4 e 45S5) têm o potencial de ser usados como medicação intracanal208,218-220. Seus efeitos antimi- crobianos parecem ser aumentados quando em contato com a dentina219,220, mas parecem ser inferiores quando comparados à clorexidina69. Figura 14-21. Repara- ção perirradicular em cães após tratamento em uma ou duas con- sultas. A. Radiografia quando da conclusão dos tratamentos de dentes com lesão indu- zida. B e C. Espécimes obturados em sessão única. Notar intenso infiltrado inflamatório e reabsorção radicular. D. Espécime tratado em duas sessões com pasta HPG ou E, com óleo ozonizado. Ambos demonstram reparo pe- rirradicular compatível com o sucesso do tra- tamento. Dados extraí- dos de Silveira et al.133. A B C D E 602 Capítulo 14 Medicação Intracanal Embora resultados promissores tenham sido pu- blicados para alguns medicamentos e combinações, cumpre salientar que são ainda preliminares e, na maioria das vezes, desprovidos de comprovação quan- to à eficácia e segurança para uso clínico. EMPREGO DE MEDICAMENTOS Biopulpectomia Geralmente, a infecção em dentes com vitalidade pulpar está restrita à superfície da polpa coronária ex- posta, sendo que a radicular se encontra apenas infla- mada, isenta de micro-organismos. Isso porque os me- canismos de defesa do hospedeiro, conquanto a polpa se encontre vital, impedem o avanço da infecção em direção apical. Esse fato se reveste de importância clí- nica, no que se refere à conduta terapêutica em dentes com polpa vital. Uma vez eliminada a infecção super- ficial da polpa através de profusa irrigação da câmara pulpar com solução de NaOCl, todos os procedimen- tos intracanais serão realizados em ambiente asséptico, não infectado. Destarte, uma vez combatida a infecção superfi- cial da polpa e mantidos os princípios básicos de assep- sia, nas biopulpectomias, recomendamos a obturação imediata do sistema de canais radiculares. Na even- tualidade de o tratamento endodôntico não poder ser concluído na mesma sessão, sugerimos o emprego de um medicamento, cujo objetivo primordial é impedir a contaminação do sistema de canais radiculares entre as sessões de tratamento. Quando indicados nas biopulpectomias, os medi- camentos intracanais recomendados são uma solução de corticosteroide/antibiótico (Otosporin ou Decadron colírio) ou as pastas de hidróxido de cálcio. Casos em que o canal não foi totalmente instrumentado Solução de corticosteroide/antibiótico (Otosporin ou Decadron colírio). Podemos empregá-la quando: a) procedeu-se ao acesso coronário e à remoção da pol- pa coronária, mas o canal não foi instrumentado – aplica-se o medicamento embebido em uma mecha de algodão na câmara pulpar; b) procedeu-se a uma instrumentação parcial do canal – inunda-se o mesmo com o medicamento, bombe- ando-o para a região apical do canal com uma lima de pequeno calibre. Decadron colírio ou Otosporin é utilizado para re- duzir a inflamação do remanescente pulpar, que pode- ria resultar em sintomatologia até o retorno do pacien- te para a completa instrumentação. Esse medicamen- to pode ser acondicionado em tubetes de anestésicos vazios, o que facilita sua aplicação no canal radicular com o auxílio de uma seringa do tipo carpule e agulha G30. Também empregamos o Decadron colírio ou o Otosporin nos casos de uma sobreinstrumentação du- rante o tratamento de um dente polpado ou em casos de periodontite apical aguda de etiologia traumática ou química, mas não infecciosa. Casos em que o canal foi totalmente instrumentado Hidróxido de cálcio. Pode ser usado em associa- ção com veículos inertes, uma vez que não há infecção do canal. Recomendamos a utilização da pasta con- tendo hidróxido de cálcio e iodofórmio, na proporção de 3:1 em volume, tendo como veículo a glicerina, a qual permite uma adequada repleção do canal117. A pasta deve ser levada ao canal, de preferência por meio de espirais de Lentulo (Figs. 14-19 e 14-22). O medicamento deve preencher toda a extensão do ca- nal preparado, entrando em íntimo contato com as paredes dentinárias e com os tecidos perirradiculares via forame apical, mas sem extravasar. A repleção adequada do canal com a pasta deve ser confirmada radiograficamente. As pastas de hidróxido de cálcio usadas como medicamento intracanal nos casos de biopulpecto- mia funcionam como obturação provisória, evitando ou retardando a contaminação do canal radicular por microinfiltração salivar via material selador tempo- rário. Assim, quando o canal radicular se encontra devidamente preparado e a obturação foi postergada, Figura 14-22. Aplicação da pasta HPG no canal. Iodofórmio foi adi- cionado para aumentar a radiopacidade da pasta (A), a qual é aplica- da com espiral de Lentulo acoplada ao motor de baixa rotação (B). A B Medicação Intracanal 603 consideramos as pastas de hidróxido de cálcio como o medicamento intracanal de primeira opção. O me- dicamento pode permanecer no interior do canal ra- dicular por um período variável de 7 a 30 dias, apro- ximadamente. Necropulpectomia e retratamento Como discutido alhures, após o preparo químico- mecânico de canais radiculares infectados (casos de ne- crose pulpar ou de retratamento), impõe-se o emprego de um medicamento intracanal visando a maximizar a eliminação de micro-organismos. Todavia, é imperioso que se remova a smear layer com o objetivo de desobs- truir o acesso às ramificações e aos túbulos dentinários e, com isso, facilitar a difusão e atuação do medicamen- to (Fig. 14-23). Casos em que o canal foi totalmente instrumentado Concluído o preparo químico-mecânico, o canal é seco e preenchido com EDTA a 17% por 3 minutos. Para facilitar a atuação da solução, a mesma é agitada no interior do canal radicular com uma lima de peque- no calibre ou com uma espiral de Lentulo. A seguir, retira-se o EDTA por meio de irrigação-aspiração com 5 a 10mL de uma solução de NaOCl a 2,5%. Seca-se o canal e prepara-se a pasta HPG. Pasta HPG. A pasta é preparada sobre uma placa de vidro estéril, utilizando-se espátula flexível para ci- mentos. Inicialmente, volumes iguais de PMCC e glice- rina são depositados sobre a placa e então homogeneiza- dos. Em seguida, agrega-se o pó do hidróxido de cálcio e do iodofórmio (na proporção de 3:1 em volume), grada- tivamente, até que se obtenha uma consistência cremo- sa similar a cremedental. O acréscimo de iodofórmio é adequado para conferir radiopacidade e não interfere na atividade antibacteriana da pasta150 (Fig. 14-24). Nos casos onde o iodofórmio puder determinar alteração cromática da coroa dentária ou reações alérgi- cas, podemos substituí-lo pelo pó de óxido de zinco ou pelo sulfato de bário. O pó da pasta LC também pode ser empregado. Em canais amplos pode-se suprimir o agente contrastante. A pasta passa então a apresentar radiopacidade semelhante à dentina. Após a aplicação, radiografa-se o dente para veri- ficar se a repleção do canal foi satisfatória (Fig. 14-24A). Cumpre relembrar que a pasta deve preencher de for- ma homogênea toda a extensão do canal preparado para que exerça os efeitos esperados. Antes de selar a cavidade com um material selador temporário, a câma- ra pulpar deve ser devidamente limpa. Consideramos a pasta HPG como de primeira escolha quando o canal estiver completamente instrumentado. Em função dos resultados obtidos por Siqueira e Uzeda139,140 e Siqueira et al.126,141,149-151,156, indicamos o tempo mínimo de per- manência do medicamento no interior do canal radi- cular de 7 dias. Opcionalmente, a pasta HCx (clorexidina de 0,12 a 2%) pode ser empregada com resultados possivel- mente similares aos da pasta HPG. Contudo, essa úl- tima tem sido mais estudada e, portanto, possui maior volume de comprovação científica quanto à eficácia. Casos em que o canal não foi totalmente instrumentado Hipoclorito de sódio. Seleciona-se uma mecha de algodão seca e esterilizada de tamanho compatível com Figura 14-23. Smear layer. A. Eletromicrografia da smear layer ge- rada pós-instrumentação. B. Túbulos dentinários patentes após a remoção da smear layer, o que favorece a difusão e ação da medica- ção profundamente na dentina. A B 604 Capítulo 14 Medicação Intracanal as dimensões da câmara pulpar. A seguir, a mecha é umedecida com NaOCl a 2,5% e então colocada e aca- mada na câmara pulpar, de modo a permitir um espaço de 3 a 5mm de espessura para a aplicação do material selador temporário. Optamos pelo emprego do NaOCl nos casos em que o canal radicular não foi instrumenta- do ou o foi parcialmente. Isso porque esse medicamento pode promover uma desinfecção parcial do conteúdo Figura 14-24. Aplicação da pasta HPG no canal. A. Radiografia para confirmação da adequada aplicação da pasta HPG com iodofórmio (HiPG) no canal. B. O acréscimo de iodofórmio à pasta HPG em dife- rentes proporções não influencia significativamente a eficácia anti- bacteriana. Dados segundo Siqueira et al.150. HG, hidróxido de cálcio em glicerina. Iodo/Glic, pasta de iodofórmio em glicerina. B A Quadro 14-1 Recomendações para as diferentes situações clínicas Biopulpectomia Necropulpectomia/Retratamento Canal totalmente instrumentado Obturação ou medicação com pasta HG Medicação com pasta HPG Canal parcialmente instrumentado Decadron colírio ou Otosporin Hipoclorito de sódio HG: pasta de hidróxido de cálcio em glicerina HPG: pasta de hidróxido de cálcio/paramonoclorofenol canforado/glicerina infectado do canal e, mais importante, atuar como uma barreira química contra a recontaminação do canal por micro-organismos da saliva que, porventura, possam adentrar a câmara pulpar, via percolação marginal, pelo selador temporário. Em casos de instrumentação par- cial, não há a necessidade de secarmos totalmente o ca- nal após a última irrigação com NaOCl. Aspira-se o ex- cesso de hipoclorito do canal e, então, aplica-se a mecha umedecida com a mesma solução na câmara pulpar. SELAMENTO CORONÁRIO Na Endodontia, selamento coronário é o preen- chimento da cavidade de acesso e parte da cavidade pulpar por um material selador temporário. É usado entre as sessões de um tratamento endodôntico e tam- bém após o seu término. Material selador temporário é aquele destinado ao preenchimento de cavidades dentárias por um período, sem alcançar o desempenho mecânico e biológico previsto para um material restau- rador permanente. Segundo Weine216, o material selador temporário usado entre as sessões de um tratamento endodôntico tem como funções: impedir que a saliva e micro-orga- nismos da cavidade oral ganhem acesso ao canal radi- cular, prevenindo assim o risco de infecção ou reinfec- ção, e evitar a passagem de medicamento do interior do canal radicular para o meio bucal, preservando a efetividade da medicação intracanal e impedindo qual- quer ação deletéria na mucosa oral. Para cumprir tais funções, o material selador tem- porário deve apresentar estabilidade dimensional, boa adesividade às estruturas dentárias e elevada resis- tência mecânica. Outros fatores inerentes ao material podem causar microinfiltrações, tais como: preparo incorreto da cavidade de acesso, material mal adapta- do às paredes da cavidade, resíduos entre as paredes cavitárias e a restauração temporária e deterioração do material selador pelo tempo. A forma da cavidade coronária também interfere na capacidade seladora do material empregado. A ca- Medicação Intracanal 605 vidade deve ter suas paredes paralelas ou ligeiramente expulsivas no sentido coronário. Cavidades que apre- sentam todas as paredes constituídas de estrutura den- tária são as ideais para conter o material selador tem- porário. A ausência de paredes dentárias certamente compromete o selamento da cavidade pulpar. Outro aspecto a ser considerado é a profundidade da cavidade que irá receber o material selador. Diver- sos estudos evidenciam que uma espessura variável de 3 a 5mm é a mínima suficiente para permitir o selamen- to marginal94. No selamento coronário entre as sessões de um tratamento endodôntico os materiais mais empregados são os cimentos à base de óxido de zinco/eugenol e os denominados “prontos para uso”. Os cimentos à base de óxido de zinco/eugenol são encontrados na forma pó/líquido (OZE, Pulpo-San, IRM). Todavia, diversos trabalhos mostram que esses materiais não são bons seladores coronários4,26,66,152. Os produtos “prontos para uso” (Cavit, Coltosol, Cimpat) se apresentam na forma de pasta e endure- cem por hidratação. Apresentam maior capacidade se- ladora do que os cimentos à base de óxido de zinco/ eugenol4,26,72,152,194. Entretanto, esses últimos possuem menor tempo de presa (cura) e maior resistência à compressão17,95. Na avaliação da capacidade de selamento marginal de diferentes materiais seladores temporários, os méto- dos mais comumente usados empregam: corantes94,222; filtração de fluido90,102 e penetração bacteriana25,26,152. A literatura evidencia grande divergência de resultados entre os autores, o que certamente se deve às diferen- tes metodologias empregadas. Todavia, o método que utiliza a penetração de micro-organismos tem, segura- mente, um significado biológico superior25,26,152. Siqueira et al.152, avaliando a capacidade de três se- ladores temporários (Cavit, IRM e OZE) de prevenir a infiltração da espécie bacteriana Streptococcus sobrinus, observaram que, após 8 dias, houve infiltração bacteria- na em 27% dos espécimes selados com Cavit, 45,5% com IRM e 45,5% com OZE. Após 16 dias ocorreu infiltração bacteriana em 54,5%, 64% e 73% das amostras seladas com Cavit, IRM e OZE, respectivamente. A diferença entre os materiais não foi estatisticamente significante. A penetração bacteriana, através da interface den- te/restauração, pode ocorrer por dois mecanismos: • micro-organismos colonizam a coroa do dente e, por meio da divisão celular, invadem a interface; • micro-organismos podem ser transportados, passi- vamente, pela saliva. Por sua vez, os materiais seladores podem possuir atividade antimicrobiana, permitindo a eliminação ou redução de micro-organismos que permaneceram na cavidade e/ou de micro-organismos que tenham por- ventura penetrado em canais de microinfiltração. Esse último fator pode explicar a excelente capacidade que têm alguns seladores de prevenir a infiltração bacteria- na. Siqueira et al.143avaliaram a atividade antibacteriana de seis materiais usados como seladores temporários. Para isso, foram utilizadas quatro espécies bacterianas comumente associadas a processos patológicos na cavi- dade oral. Foi demonstrado que todos os materiais tes- tados apresentaram atividade antibacteriana. No geral, Coltosol, Pulpo-San e OZE foram os mais eficazes. Vi- drion-R, um cimento ionomérico, produziu os menores halos de inibição. Entretanto, deve-se ter em mente que, na condição clínica, a atividade antibacteriana pode não ser exercida quando uma grande quantidade de células bacterianas invadir a interface dente/restauração tem- porária e/ou a saliva neutralizar ou diluir a substância responsável pelo efeito antibacteriano. Considerações clínicas O comportamento mecânico dos materiais sela- dores temporários está relacionado com as caracterís- ticas morfológicas da cavidade coronária de acesso à cavidade pulpar. Cavidades de acesso simples São aquelas que apresentam todas as paredes constituídas de estrutura dentária. Para os dentes ante- riores, após a colocação da medicação intracanal, uma mecha seca de algodão de dimensão adequada é intro- duzida abaixo da embocadura do canal e sobre essa, o material selador temporário. Nesses casos devemos usar materiais prontos para uso – Cavit ou Coltosol. Para os dentes posteriores, a mecha de algodão deve ser recoberta por uma fina lâmina de guta-percha, e a cavidade selada com o material provisório. Cavidades de acesso complexas Denominamos cavidades de acesso complexas aquelas que apresentam ausência de uma ou mais pa- redes dentárias. Nos casos de grande perda de estrutura coroná- ria, ela pode ser reconstituída com bandas metálicas e/ou resina composta com ataque ácido. A utilização de material restaurador permanente no selamento co- ronário tem mostrado melhores resultados do que os materiais temporários120. 606 Capítulo 14 Medicação Intracanal A seguir, o acesso e o selamento coronário serão realizados de forma convencional em função do dente a ser tratado endodonticamente. Normalmente, antes da reconstrução coronária, devemos remover todo o tecido cariado e executar o acesso à cavidade pulpar. A entrada dos canais deve ser bloqueada com guta- percha de cor rósea ou ceras de uso odontológico. Esse procedimento tem como objetivo evitar o entupimento cervical dos canais e facilitar o novo acesso após a re- construção coronária. O tempo decorrido até a obturação do canal ra- dicular deve ser o menor possível. Vários trabalhos mostram que a infiltração bacteriana em cavidades seladas com diferentes materiais temporários aumen- ta em função do tempo9,70,152. Todavia, é preciso levar em consideração o tempo mínimo de permanência do medicamento usado no interior do canal radicular para eliminar o agente infeccioso, assim como a ausência de sinais e sintomas do elemento dentário em tratamento endodôntico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Abdulkader A, Duguid R, Saunders EM. The antimicrobial activity of endodontic sealers to anaerobic bacteria. Int En- dod J, 1996; 29: 280-3. 2. Abiko Y. Studies on calcium-stimulated adenosine triphos- phatase in the albino rabbit dental pulp. Its subcellular dis- tribution and properties. J Dent Res, 1977; 56: 1.558-68. 3. 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