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Recife 2009 Recife 2009 4 MoRadia é centRal Recife 5 intRodução condições de moradia da população de baixa renda que já reside nessas áreas. O projeto foi desenvolvido por organizações parcei- ras em cinco capitais: São Paulo (Instituto Pólis), Belém (FASE — Federação de órgãos para Assistência Social e Educacional — Amazônia), Fortaleza (Cearah Perife- ria), Recife (FASE/ HABITAT) e Rio de Janeiro (FASE e Fórum Nacional de Reforma Urbana — FNRU). Em cada uma dessas cidades foram estabelecidas parcerias com os Fóruns Regionais, movimentos or- ganizados, universidades, pesquisadores e técnicos dos governos locais. A coordenação das atividades foi feita pelo Instituto Pólis com o apoio técnico e fi- nanceiro da OXFAM GB — agência internacional com sede no Reino Unido, que apoia projetos sociais nos países em desenvolvimento. As cinco capitais envolvidas no projeto têm em co- mum a situação de perda de população nos bairros centrais, existência de número significativo de imó- veis e domicílios vazios nessas áreas e crescimento das áreas periféricas. Seus centros apresentam ótimas condições de infraestrutura urbana e de serviços e concentram postos de emprego, mas caracterizam- se por situações urbanas específicas, que devem ser levadas em consideração na discussão acerca da pro- moção de habitação social nessas áreas. Recife, Rio de Janeiro e Belém têm áreas centrais portuárias parcialmente desativadas, com significa- tivo patrimônio histórico edificado e abandonado, e grandes áreas públicas subutilizadas. As áreas centrais de Fortaleza e São Paulo desta- cam-se pela grande concentração de empregos ao mesmo tempo em que apresentam taxas acima de 20% de domicílios vazios. Na última década essa problemática vem sendo cada vez mais debatida no Brasil e, embora todas as capitais parceiras do projeto, entre outras, tenham propostas em andamento pelos três entes federativos, ainda foram poucas as ações concretas no sentido de viabilizar uma política habitacional nas áreas centrais, com prioridade para as famílias de menor renda. Houve experiências significativas de produção de habitação social nas áreas centrais em São Paulo e Rio de Janeiro, que envolveram movimentos sociais e téc- nicos comprometidos com a questão. Em São Paulo, Nas últimas décadas as grandes e médias cidades brasileiras e suas regiões metropolitanas passaram por dinâmicas socioespaciais muito semelhantes. Houve queda generalizada das taxas de crescimento popu- lacional e o aumento de população nessas cidades deu-se de forma bastante desigual entre os bairros e municípios de suas regiões metropolitanas. De um lado, houve perda de população nos bair- ros das áreas centrais, providas de infraestrutura, e, de outro, crescimento significativo nos bairros e municí- pios periféricos, áreas precárias e ambientalmente frá- geis. Enquanto as áreas centrais perderam população, bairros afastados dos centros e municípios periféricos cresceram a taxas que superaram 10% ao ano. O poder público contribuiu para esse processo, principalmente através da construção de grandes conjuntos habita- cionais em áreas com carência de infraestrutura, de onde a população tem que se deslocar por quilôme- tros diariamente para chegar ao trabalho. Hoje, os centros urbanos dessas cidades perma- necem como regiões de grande concentração de postos de trabalho em escala metropolitana, mas apresentam número significativo de imóveis e domi- cílios vazios e subutilizados. Por isso, movimentos sociais ligados à temática da reforma urbana e da moradia, técnicos e estudiosos que historicamente centraram-se na luta por deman- das mais relacionadas aos problemas das periferias — urbanização e regularização de favelas e loteamen- tos, implantação de redes de serviços e equipamen- tos públicos, produção de habitação em mutirão com autogestão — hoje têm como bandeira a defesa da moradia em áreas centrais. Reivindicam a implementação de uma política ha- bitacional que reverta a lógica histórica de assenta- mento da população de baixa renda nas periferias e contribua para que as cidades caminhem rumo a uma configuração socioespacial mais justa e sustentável. Partindo desse contexto, o projeto “Moradia é Cen- tral — inclusão, acesso e direito à cidade”, teve como objetivo sensibilizar a opinião pública acerca da im- portância da efetivação de políticas públicas de pro- moção de habitação social nos centros urbanos, ten- do como princípios a utilização de imóveis vazios e ociosos para produção habitacional e a melhoria das vem estar previstos nos planos diretores municipais. Os imóveis públicos subutilizados devem ser des- tinados prioritariamente à produção de habitação social, especialmente nas cidades onde existem em grande quantidade. Além disso, é imprescindível a concessão de subsí- dios nos financiamentos, garantindo que sejam aces- síveis à população de menor renda, frequentemente excluída dos programas existentes. Destacamos ainda, a importância de desenvolver programas de aluguel social e subsídio ao aluguel, que podem contribuir para a diminuição das uni- dades imobiliárias vagas em edifícios situados em áreas centrais. Por fim, consideramos fundamental conhecer me- lhor as áreas centrais das cidades, levantando usos, ti- pologias construtivas, imóveis de valor histórico e cul- tural, espaços públicos e, principalmente, a situação de seus usuários e moradores, de forma a desvendar os problemas e as potencialidades dessas áreas, que apresentam especificidades em cada cidade. A caracterização dessas áreas centrais, suas rela- ções com a dinâmica de crescimento das metrópoles e com a questão da habitação social e das políticas públicas formuladas até hoje, foram pontuadas nes- ta publicação, que é composta de um caderno por cidade. Em cada caderno buscamos desenvolver os seguintes temas: a problemática habitacional e urba- na; a dinâmica de crescimento nas últimas décadas; as características do Centro; os atuais moradores, trabalhadores e usuários das regiões centrais e as propostas e experiências de produção de habitação social no Centro. O objetivo é que o presente material sirva como instrumento de disseminação e aprofundamento da discussão acerca da habitação em áreas centrais entre técnicos, lideranças, movimentos, gestores públicos e entidades. Todo o material aqui sistematizado é fruto de um ano de trabalho do projeto “Moradia é Central”, durante o qual foram promovidos seminários locais e uma exposição itinerante — atividades realizadas com os parceiros do projeto nas cinco capitais — que ti- veram como objetivo gerar o comprometimento de políticos, gestores públicos, entidades e atores sociais com a questão. a luta pela moradia social no Centro já tem mais de dez anos e tem como marcas a ocupação de edifícios vazios pelo movimento organizado e a produção de moradia através de vários tipos de programas: refor- ma de edifícios antigos, construção nova, intervenção em cortiços. No entanto, a escala de produção ainda é muito pequena diante da demanda e dos problemas a serem enfrentados. No Rio houve experiências de reforma de imóveis históricos para transformação em habitação. Os movi- mentos sociais têm se organizado, ocupando prédios e casarões abandonados, lutando para que a produ- ção seja ampliada e atinja a população de menor ren- da, principalmente através da utilização de imóveis públicos vazios e subutilizados. No Recife também há acúmulo de discussão, prin- cipalmente sobre a questão da garantia de manuten- ção das comunidades pobres que vivem em áreas centrais através de instrumentos urbanísticos, como ZEIS — Zonas Especiais de Interesse Social — e pro- jetos de urbanização. Houve experiência de produ- ção através de reforma de um edifício no Centro e o debate dos movimentos junto ao poder público tem se centrado na estruturação de uma política em larga escala que envolva também a recuperação do patrimônio histórico. Em Fortaleza a discussãosobre a melhoria do Cen- tro com promoção de habitação social está no início, envolvendo técnicos e movimentos sociais locais em torno da elaboração do “Plano Habitacional para a Re- abilitação da Área Central de Fortaleza”. Em Belém a discussão também está começando e envolve a questão da reabilitação de edifícios históri- cos para promoção de habitação social. Alguns proje- tos, realizados pelo governo estadual e pelo Programa Monumenta (do IPHAN, Ministério da Cultura), estão em andamento. As experiências mostram que muitos são os de- safios a serem enfrentados para a efetivação de uma política habitacional em áreas centrais. Para que os imóveis vazios e subutilizados localizados em áreas providas de infraestrutura sejam objeto de políticas habitacionais, garantindo o acesso da população de baixa renda à terra urbanizada, é necessária a aplica- ção dos instrumentos do Estatuto da Cidade, que de- 6 MoRadia é centRal Recife 7 A Região Metropolitana do Recife (RMR) é hoje a maior aglomeração urbana do Nordeste e a quinta do Brasil, com 3,6 milhões de habitantes, segundo os da- dos do IBGE de 2007. A cidade do Recife, dividida em seis Regiões Po- lítico-Administrativas (RPA), concentra cerca de 1,5 milhões de habitantes, abrigando 42% da população total da Região Metropolitana. O crescimento urbano da Região se caracterizou por uma ocupação inadequada nos morros e áreas de mangue na direção norte da capital e dos municípios metropolitanos, elevando progressivamente a deman- da por deslocamentos entre estes e a região central da cidade do Recife, onde se concentra a maior parte dos empregos. Nas últimas décadas constata-se, à semelhança do que vem ocorrendo em outras áreas metropolitanas brasileiras, altas taxas de crescimento populacional nos municípios da periferia metropolitana e taxas ne- gativas de crescimento em vários bairros centrais da cidade do Recife. Entre 1991 e 2000 Recife apresentou uma taxa geo- métrica de crescimento populacional de 1,5% — relati- vamente baixa, se comparada às dos municípios mais periféricos da Região Metropolitana, que cresceram a taxas superiores a 2,5%, como Ipojuca, Moreno, Cama- ragibe, Araçoiaba e Ilha de Itamaracá. a pRobleMática do Recife Figura 1. Recife cresceu de forma desigual nas áreas centrais e periféricas nas últimas décadas. Foto: Gilvan Barreto As necessidades de deslocamentos e viagens co- tidianas geradas por esse padrão de crescimento ur- bano revelam a dimensão do problema: a frota de 4,6 mil ônibus transporta diariamente 1,7 milhões de pas- sageiros e o metrô, outros 180 mil. As intervenções públicas realizadas no Recife na segunda metade do século XX seguiram um modelo de planejamento urbano que reforçou esse processo de expansão periférica do tecido urbano, intensifi- cando as situações de precariedade habitacional e subutilização de áreas com infraestrutura. Enquanto se consolidava a ocupação nas periferias, uma enor- me área edificada cujo uso característico era o resi- dencial, esvaziava-se. A ocupação irregular e precária de áreas alaga- diças e de morros tornou-se a solução habitacional para grande parte da população. Atualmente, uma das características da cidade do Recife é seu déficit habitacional, que se contrapõe aos imóveis desocu- pados no Centro. Segundo dados do IBGE (2000), o déficit habitacional do município do Recife é de mais de 58 mil moradias, enquanto há 37 mil domicílios vagos na cidade. A área central do Recife, que concentra uma par- cela significativa de empregos da Região Metropoli- tana, apresentou decréscimo populacional da ordem de 5% entre os últimos dois censos realizados pelo IGBE (1991 e 2000), processo que impactou de diver- sas formas os bairros que a compõem. De forma geral, houve perda de população, abandono dos imóveis de uso residencial e deterioração do patrimônio edifi- cado na área central. Soma-se a isso a existência de inúmeras áreas públicas vazias, que reforçam o grau de subutilização dos imóveis deste território. São 18 terrenos públicos que contabilizam aproximadamen- te 145 hectares na orla marítima. Em contraposição, 7 núcleos de favelas com 9 mil domicílios, concentra- das principalmente nos bairros de Santo Amaro, Ilha do Leite e Coelhos, se adensam com precariedade da moradia. Estas áreas necessitam de altos investimentos para suprir a falta de serviços e equipamentos públicos e serem consolidadas como bairros centrais, a exemplo de Brasília Teimosa, onde a prefeitura investiu recur- sos para transformá-la no bairro que existe hoje. a dinâMica de cResciMento uRbano do Recife Em 1913, o Recife possuía uma população de 182 mil habitantes. Uma década depois chegava a 313 mil — incremento populacional de mais de 58%. Ao longo do século XX, o crescimento populacio- nal e um conjunto de intervenções urbanas criaram nova fisionomia e delimitação da cidade e de sua área central. Destaca-se a remoção de cerca de 13 mil habi- tantes do Bairro do Recife por ocasião da reforma do porto. A demolição dos sobrados nos anos 1910 e a er- radicação dos mocambos, nos anos 1930 e 1940, que neste período abrigavam cerca de 165 mil habitantes, caracterizaram estas intervenções. A política de erradicação dos mocambos imple- mentada pelo Interventor do Estado, Agamenon Ma- galhães, deu origem à Liga Social Contra o Mocambo que, na década de 1940, promoveu a remoção dos 12 mil mocambos localizados no Centro do Recife, prin- cipalmente nas áreas alagadiças entre o Derby e a Ta- caruna. Tal intervenção incluiu a abertura do canal de drenagem ao longo do qual, na década de 1970, foi construída a primeira avenida perimetral, hoje, Aveni- da Agamenon Magalhães. Outras tentativas de expulsão das demais comuni- dades pobres ocorreram nos anos posteriores, mas a resistência popular garantiu a permanência de muitas delas, como a de Coelhos e a de Brasília Teimosa. Apesar da resistência, as políticas de expulsão re- sultaram na transferência de quase um terço das famí- lias que viviam nos mocambos para regiões periféricas da cidade, ocasionando o surgimento do chamado cinturão de áreas pobres do Recife. Grande parte das famílias que antes ocupava o entorno da área central migrou para municípios vizinhos e para os morros da zona norte da cidade. Ao mesmo tempo, a elite se concentrou em bairros como Casa Forte e Apipucos — historicamente marcados pela presença de população abastada — e com atrativos como a vegetação nativa e terras planas e secas. Nos anos 1960, a população atingiu contingente superior a 763 mil habitantes dos quais 59% residia em áreas com precariedade habitacional. Na década de 1970, quando se instituiu a Região Metropolitana do Recife, a cidade já possuía mais de um milhão de habitantes, ao lado de 1,8 milhões da RMR. Ainda nos anos 1970, as sistemáticas inundações do Capibaribe redirecionaram a ocupação do territó- rio, provocando seu crescimento para o sul. A partir da implantação de equipamentos e infraestrutura viá- ria no bairro de Boa Viagem, a zona sul do Recife tam- bém passou a ser ocupada pela população de média e alta renda, atraída pela paisagem da orla marítima. Isto ocasionou um crescimento populacional progres- sivo na zona sul do Recife, tornando-a a região mais populosa do município. Em 1980, a população do Recife já ultrapassava um milhão de habitantes e em 1990 correspondia a 1,3 milhões, dos quais 64% continuava vivendo em condi- ções habitacionais precárias. As políticas habitacionais historicamente não aten- deram a demanda criada pelo crescimento popula- cional da cidade, tampouco houve políticas públicas de combate à especulação imobiliária e promoção do acesso à terra urbanizada para a população de baixa renda. Esse quadro acirrou os processos de perda de população nas áreas servidas de infraestrutra e de au- mento das ocupações irregulares e precárias no terri- tório metropolitano. Em 2000 Recife atingiu 1,4 milhões, de um total de 3,2 milhões de habitantesna Região Metropolitana, representando mais de 44% da população da RMR. A dinâmica metropolitana no período de 1991 a 2000 foi marcado pela perda de população das áreas cen- trais e servidas de infraestrutura e pelo crescimento exacerbado das regiões periféricas e assentamentos precários. Esta dinâmica expandiu a malha urbana e gerou problemas como a concentração de imóveis vagos no Centro. O mapa e a tabela a seguir (figuras 6 e 7) ilustram o processo, mostrando que 31 bairros perderam popula- ção em diferentes regiões da cidade. O Centro, espe- cialmente os bairros de Paissandu, São José, Cabanga, Boa Vista, Santo Amaro, Soledade, Ilha do Leite e Coe- lhos, concentrou as maiores perdas. Mas também hou- ve saída de moradores em bairros do entorno do Cen- tro, como Afogados, Ipsep, Estância, Jardim São Paulo, Mustardinha, Mangueira, Derby e Prado; e em bairros da região noroeste da cidade, como Dois Irmãos, Alto do Mandu, Casa Amarela, Nova Descoberta, Vasco da Gama, Alto Santa Teresinha, Alto José Bonifácio, Mor- ro da Conceição, Água Fria e Fundão. 8 MoRadia é centRal Recife 9 Figura 3. O bairro da Boa Vista perdeu 18% de seus moradores de 1991 a 2000. Foto: Gilvan Barreto Figura 2. A região central (RPA 1) perdeu 4,9 mil moradores de 1991 a 2000. Foto: Gilvan Barreto Figura 4. O bairro Barro cresceu 57% de 1991 a 2000, ganhando 11 mil novos moradores. Foto: Gilvan Barreto Figura 5. O bairro Caçote cresceu 77% de 1991 a 2000, ganhando 3,7 mil novos moradores. Foto: Gilvan Barreto Em processo oposto, bairros periféricos da cidade cresceram a altas taxas, destacando-se Cohab (39%), Barro (57%), Macaxeira (71%), Passarinho (76%) e Ca- çote (77%) — bairros que já eram bastante populo- sos e cresceram em média 64% de 1991 a 2000. Nas últimas décadas a criação de novas centrali- dades promoveu a transferência de atividades antes concentradas no Centro para outras áreas, como os bairros de Encruzilhada e Casa Amarela. Isso resultou no aumento do número de domicílios vazios na área central. Tal fato também ocorreu em outras áreas con- solidadas, provavelmente devido à produção imobili- ária acima da demanda real por novos imóveis. Figura 7. Tabela — Dinâmica populacional nos bairros do Recife de 1991 a 2000 (destaque para alguns bairros). Fonte: IBGE Censos 1991 e 2000 (Elaboração própria) Figura 6. Mapa — Dinâmica populacional na Região Metropolitana do Recife de 1991 a 2000. Fonte: IBGE Censos 1991 e 2000 (Elaboração própria) legenda Limite bairros Limite Municípios Hidrografia tgca - taxa geoMétRica de cResciMento anual - 1991 a 2000 Sem dados até -2,00 de -1,99 a 0,00 de 0,01 a 2,50 de 2,51 a 5,00 de 5,01 a 10,00 Código Bairro População 1991 - 2000 % População 1991 - 2000 TGCA 4 Paissandu -213 -29% -3,68 40 Soledade -681 -24% -2,95 33 São José -2.109 -20% -2,39 32 Cabanga -335 -18% -2,17 3 Boa Vista -3.026 -18% -2,15 18 Estância -1.894 -17% -2,11 57 Dois Irmãos -503 -14% -1,68 17 Ipsep -1.672 -6% -0,70 66 Nova Descoberta -2.021 -6% -0,63 23 Jardim São Paulo -1.158 -4% -0,43 2 Santo Amaro -955 -3% -0,36 77 Água Fria -841 -2% -0,21 9 Afogados -624 -2% -0,19 31 Pina 641 2% 0,26 11 Areias 787 3% 0,29 83 Beberibe 379 5% 0,50 8 San Martin 1.277 6% 0,64 89 Campo Grande 2.447 8% 0,91 30 Boa Viagem 10.704 12% 1,26 44 Brasília Teimosa 2.236 13% 1,39 5 Ilha Joana Bezerra 2.050 19% 1,97 26 Várzea 10.747 20% 2,05 49 Iputinga 8.730 23% 2,31 41 Santo Antônio 115 27% 2,70 80 Aflitos 992 29% 2,89 19 Curado 3.511 35% 3,41 13 Cohab 19.738 40% 3,81 56 Caxangá 2.031 44% 4,12 54 Guabiraba 2.378 48% 4,46 12 Barro 11.283 57% 5,13 1 Recife 360 64% 5,63 65 Macaxeira 7.977 71% 6,11 52 Passarinho 6.655 76% 6,47 16 Caçote 3.672 77% 6,56 55 Sítio dos Pintos 3.244 134% 9,92 10 MoRadia é centRal Recife 11 Figura 9. Tabela — Concentração de domicílios vagos no Recife, em Olinda e Paulista (destaque para alguns bairros). Fonte: IBGE Censo 2000 (Elaboração própria) Figura 8. Mapa — Concentração de domicílios vagos na Região Metropolitana do Recife. Fonte: IBGE Censo 2000 (Elaboração própria) legenda Limite bairros Limite Municípios Hidrografia % de doMicílios vagos doMicílios vagos até 9% de 9,01 a 11% de 11,01 a 13% de 13,01 a 15% acima de 15,01 Município Bairro Domicílios Domicílios Vagos % Domicílios Vagos Recife São José 2.949 498 16,89% Coelhos 2.296 358 15,59% Boa Vista 6.867 1.038 15,10% Boa Viagem 3.7341 4.597 12,31% Pina 8.681 875 10,08% Várzea 19.163 1.790 9,34% Nova Descoberta 9.674 795 8,22% Ilha Joana Bezerra 3.644 285 7,82% Santo Antônio 267 20 7,49% Olinda Varadouro 1.935 285 14,73% Jardim Atlântico 11.272 1.502 13,33% Alto da Conquista 1.531 187 12,21% Vila Popular 1.516 156 10,29% Alto da Bondade 2.227 229 10,28% Paulista Nossa Sra do Ó 4.871 813 16,69% Centro 1.094 173 15,81% Janga 13.388 2.090 15,61% Nossa Sra da Conceição 936 116 12,39% Paratíbe 4.303 395 9,18% Destaca-se também a vacância no Bairro de Boa Viagem, onde foram construídos muitos edifícios ha- bitacionais novos para as classes média e alta nos úl- timos anos. Este bairro concentrava o maior número absoluto de domicílios vazios da cidade — 4.597 uni- dades — o que representava 12% de seu total. É importante lembrar que a contagem do IBGE corresponde aos domicílios particulares permanentes — casas, apartamentos ou cômodos destinados à mo- radia — que estavam vagos no momento da pesquisa. Inclui, portanto, apartamentos vagos em prédios in- teiramente ou parcialmente vazios, além de casas e cômodos residenciais desocupados. Por isso este nú- mero não contempla unidades comerciais vazias, anti- gos hotéis ou galpões abandonados (tipos de imóveis que podem ser transformados em habitação social a partir de reforma). Apesar da perda de população e da concentração de domicílios vazios, o Centro manteve sua dinâmica peculiar, não deixando de ter sua importância, tanto habitacional quanto como polo de comércio popular. A região continua atendendo a uma demanda de comér- cio e serviços da população moradora do próprio bair- ro, dos bairros periféricos e de municípios vizinhos. O Centro continuou, portanto, concentrando gran- de parte dos empregos da Região Metropolitana e da cidade do Recife. O mapa ao lado mostra a concen- tração de empregos da capital em relação aos demais municípios metropolitanos. legenda Figura 10. Mapa — Concentração de empregos na Região Metropolitana do Recife. Fonte: CEMPRE, 2006 — Referente a pessoal ocupado assalariado (Elaboração própria) Limite bairros Limite Municípios Hidrografia concentRação de eMpRegos até 20 mil de 20,1 mil a 40 mil de 40,1 a 515 mil Acima de 500 mil Figura 11. Tabela — Concentração de empregos na Região Metropoliatana do Recife. Fonte: CEMPRE, 2006 — Referente a pessoal ocupado assalariado (Elaboração própria) concentRação de eMpRegos Município Empregos % em relação à RM de RE Recife 503.893 68,0% Jabotatão dos Guararapes 70.306 9,5% Olinda 61.523 8,3% Paulista 24.548 3,3% Cabo de Santo Agostinho 21.548 2,9% Ipojuca 17.159 2,3% Igarassu 13.670 1,8% Camaragibe 7.970 1,1% Abreu e Lima 7.070 1,0% Moreno 4.577 0,6% São Lourenço da Mata 4.443 0,6% Itapissuma 3.111 0,4% Ilha de Itamaracá 1.103 0,1% Araçoiaba 504 0,1% Os dados sobre domicílios vagos apresentados no mapa e na tabela a seguir (figuras 8 e 9), mostram que a dinâmica urbana e imobiliária produziu vacân- cia em várias regiões da cidade. No Centro, os bair- ros que mais concentraram domicílios vagos, segun- do o Censo do IBGE de 2000, foram: São José (17%), Coelhos (15%), Boa Vista (15%) e Soledade (14%). O bairro Ilha do Retiro, no entorno do Centro, também apresentou índice alto: 17% de seu estoque imobiliá- rio estava desocupado em 2000. Juntos, esses bair- ros somavam 2.246 domicílios vazios, parte dos quais poderia ser utilizada para habitação social. 12 MoRadia é centRal Recife 13 Figura 12. Foto aérea do Centro do Recife.Fonte: Prefeitura do Recife (Elaboração própria) A área central do Recife, com uma extensão ter- ritorial de 15,2 km2, corresponde à Região Político- Administrativa 1 (RPA 1), composta pelos bairros: Boa Vista, Cabanga, Coelhos, Ilha do Leite, Ilha Jo- ana Bezerra, Paissandu, Recife, Santo Amaro, Santo Antônio, São José e Soledade. Em 2000, residiam na área central do Recife 78 mil habitantes, ocupando 22 mil domicílios. Dentre as seis Regiões Político-Administrativas, a RPA 1 abriga o menor número de habitantes. Sua po- pulação equivale a apenas 5,5% da população total da cidade, enquanto na RPA 6, que abrange os bairros ao caRacteRísticas do centRo do Recife sul do município, inclusive Brasília Teimosa, Boa Via- gem e Pina, a população corresponde a aproximada- mente 25% do total. As tabelas a seguir trazem os da- dos socioeconômicos dos moradores do Centro, com base no Censo IBGE de 2000. O Centro do Recife desempenha um papel im- portante na dinâmica da cidade e da Região Metro- politana, nele estão situados as sedes dos governos estadual e municipal, secretarias estaduais, órgãos fe- derais, sede de empresas, bancos e escritórios, além de universidades, museus, hospitais, polos industriais e centros comerciais. Bairro Taxa de Alfabetização (1) Total de Domicílios Porcentagem de Mulheres Responsáveis Pelo Domicílio Recife 72.88 303 48,26 Santo Amaro 86,79 7.785 47,3 Boa Vista 97,35 5.322 51,31 Soledade 98,11 911 53,19 Santo Antônio 90,27 277 37,13 Paissandu 97,98 180 48,81 Ilha do Leite 98,15 303 49,17 Coelhos 79,86 1.868 45,42 Ilha Joana Bezerra 74,5 3.305 40,46 Cabanga 92,67 441 45,58 São José 78,33 2.415 48,1 Brasília Teimosa (RPA 6) 85,45 4.878 39,51 Total 27.988 população gênero (%) faixa etária (%) renda (%) Bairro Total Mulheres Homens Ate 24 anos Jovens de 25 a 59 adultos 60 ou mais idosos Ate 3 SM de 3 a 5 SM de 5 a 10 SM + de 10 SM Recife 925 50,1 49,9 53,9 40,6 5,4 93,6 4,2 2,3 0,0 Santo Amaro 29.140 54,4 45,6 46,7 42,0 11,3 65,4 9,5 13,0 12,1 Boa Vista 14.033 58,2 41,8 33,7 48,7 17,6 22,7 14,9 28,8 33,6 Soledade 2.201 59,6 40,4 32,8 49,5 17,7 22,3 13,7 27,0 37,0 Santo Antônio 539 48,2 51,8 27,5 50,3 22,3 66,3 13,9 9,4 10,4 Paissandu 531 56,7 43,3 38,2 47,8 13,9 12,4 11,8 32,3 43,5 Ilha do Leite 959 56,6 43,4 36,1 49,5 14,4 25,4 10,9 28,7 35,0 Coelhos 6.826 52,4 47,6 51,1 41,0 7,9 89,2 5,4 3,1 2,3 Ilha Joana Bezerra 12.755 52,0 48,0 58,3 36,2 5,5 93,5 4,5 1,8 0,3 Cabanga 1.536 56,1 43,9 41,3 43,4 15,3 61,5 14,3 14,7 9,5 São José 8.653 51,9 48,1 52,5 39,2 8,3 86,6 7,4 4,8 1,3 Total Área Central 78.098 54,4 45,6 46,8 42,5 10,7 65,50 9,84 12,55 12,11 Brasília Teimosa (RPA 6) 19.155 52,3 47,7 47,9 43,3 8,7 81,1 10,8 6,5 1,6 Total Recife 1.422.905 0,53 46,50 46,2 44,4 9,4 61,4 10,4 12,8 15,4 Figura 13. Tabela — Dados da população moradora do Centro (bairros da RPA 1) e Brasília Teimosa (pertencente à RPA 6). Fonte: IBGE Censo 2000 (Elaboração própria) Figura 14. Tabela — Alfabetização, domicílios e gênero nos bairros centrais (RPA 1 e Brasília Teimosa). Fonte: Prefeitura do Recife (Dados do IBGE, 2000; Elaboração própria). (1) Taxa de Alfabetização da População de 15 anos e mais alfabetização, doMicílios e gêneRo nos baiRRos centRais (Rpa 1 e bRasília teiMosa) dados da população MoRadoRa do centRo (baiRRos da Rpa 1) e bRasília teiMosa (peRtencente à Rpa 6) 14 MoRadia é centRal Recife 15 Assim, o Centro é ponto de convergência de mi- lhares de pessoas em busca de emprego, serviços e produtos, além de atividades de cultura e lazer. A pre- sença desta diversidade econômica (indústria, comér- cio, serviços etc.) dá ao Centro, hoje, uma importância significativa frente às demais regiões da cidade. Uma excelente rede de infraestrutura cobre a área central, permitindo que estas atividades comerciais e de serviços se mantenham e se desenvolvam. Um conjunto articulado de vias liga o Centro aos demais bairros do Recife, muitas utilizadas como corredores de transporte urbano. Só no Centro, existem sete des- tes corredores, incluindo a Avenida Norte, por onde circulam 223 linhas de transporte coletivo. A área central é atendida também pelo terminal de metrô interligado aos municípios de Jaboatão dos Guarara- pes e Camaragibe, além de uma linha para zona sul do Recife, que está sendo ampliada para aumentar a capacidade de transporte de passageiros. Os termi- nais integrados de passageiros promovem o embar- que intermunicipal para outras cidades da região e do estado, complementando esta importante rede de transporte de passageiros. A potencialidade do Centro como lugar da diver- sidade de usos e da moradia para todas as faixas de renda é reforçada pela quantidade expressiva de imó- veis e domicílios abandonados, desocupados e fecha- dos, tanto públicos como privados. Os dados do IBGE de 2000 para a RPA 1 revelam a existência de 3.361 domicílios vagos nesta área. Uma pesquisa realizada pela Prefeitura do Recife em 2008 apontou a presença de 253 imóveis priva- dos abandonados, desocupados ou fechados. Quan- to aos imóveis públicos, os números são ainda mais expressivos, já que na área central há um conjunto pertencente à União e que perfaz 145 hectares, parte do qual poderia ser utilizado para a construção de novas moradias. Com esta potencialidade e disponibilidade de área, o Centro vem assistindo a um gradual processo de substituição das suas edificações por empreendi- mentos imobiliários destinados à população de média e alta renda nestas áreas próximas à orla. O capital imobiliário avança sobre parcelas significativas deste território, conforme evidencia a venda dos galpões da REFESA e do Edifício JK para empreendedores priva- dos. Nesta dinâmica, o Centro que já vem perdendo faixas consideráveis de população, pode também per- der a atual população moradora, devido ao encareci- mento do custo de moradia e ao efeito transformador provocado pelos novos padrões de moradia. Segundo dados do IBGE, o Centro perdeu em uma década (1991–2000) 6% da população moradora, pas- sando de 83 mil, para 78 mil habitantes. Entretanto, para muitas dessas famílias, morar no Centro signifi- ca estar próximo do trabalho e obter renda, seja nas atividades formais ou informais. Além disso, muitas das famílias pobres que residem nas comunidades não consolidadas ou nos cortiços e palafitas têm aí a única possibilidade de moradia, o que reforça a ur- gente necessidade de promover a habitação popular no Centro do Recife. No intuito de urbanizar, regularizar e garantir a al- gumas destas famílias, o direito à moradia, o Plano Di- retor definiu, no interior da RPA 1, quatro Zonas Espe- ciais de Interesse Social (ZEIS): Coelhos, Coque, Santo Amaro e João de Barros. A população total abrangida por estas zonas era, em 2000, de 38 mil pessoas, o que equivalia a 49% da população total moradora da RPA1. Próxima a estas quatro ZEIS foi também delimitada a ZEIS Brasília Teimosa, que embora não esteja incluída na RPA 1, sofre forte pressão do mercado imobiliário, por conta de sua localização estratégica próxima à área da REFESA. Outras áreas pertencentes à RPA 1, também precárias, não foram delimitadas como ZEIS, correndo risco de remoção: a Favela do Rato, localiza- da no Bairro do Recife; Frei Casemiro; Vila do Papel e Vila dos Motoristas, no Bairro de São José; Roque San- teiro, no Bairro dos Coelhos e Vila Brasil, localizada no Bairro de Ilha Joana Bezerra. Figura 15. Vista da região central. Foto: Gilvan Barreto Figura 16. Construção abandonada no Centro do Recife. Foto: Gilvan Barreto Figura 17. Edifício JK: abandonado há anos, foi recentemente vendido a um empreendedor privado. Foto: Gilvan Barreto Figura 18. Torres residenciais de alto padrão (Pier Maurício de Nassau e Pier Duarte Coelho) em construção na orla do Bairro do Recife. Ao fundo, vê-se Brasília Teimosa. Foto: Gilvan Barreto 16 MoRadia é centRal Recife 17 Situada em uma área de grande interesse para pro- moçãoimobiliária, a comunidade Brasília Teimosa está localizada entre o bairro de Boa Viagem e o Centro tradicional do Recife, oficialmente situada no territó- rio da RPA 6, e uma Zona Especial de Interesse Social — ZEIS (ver Figura 12). Como o próprio nome indica, Brasília Teimosa é fruto de intensa luta popular pelo direito à moradia. Surgida em meados dos anos 1950, a comunidade tem resistido às pressões do capital que tem tentado in- corporar o lucro de sua localização estratégica. A Comunidade está separada fisicamente do nú- cleo principal do município pela Bacia do Pina, toda- via o mesmo não se dá com as relações socioespaciais. A integração entre a comunidade de Brasília Teimosa e o Centro é intensa e também se dá nas propostas estratégicas do planejamento municipal. Propostas como a criação de uma ponte interligando o Centro tradicional do Recife ao território de Brasília Teimosa ou como o projeto Recife-Olinda, destaca a área de Brasília Teimosa como espaço estratégico para o de- senvolvimento da cidade. bRasília teiMosa e o centRo do Recife gente que MoRa e tRabalha no centRo Figura 19 Ambulantes / comércio informal no centro. Foto: Prefeitura do Recife O Centro do Recife continua sendo o lugar do ha- bitar, do trabalhar, das compras e do lazer. Uma pes- quisa realizada pela Prefeitura, em 2005, para avaliar a opinião dos moradores e trabalhadores, revelou al- guns de seus traços característicos e permitiu visua- lizar o perfil de quem mora e trabalha no Centro ou freqüenta o Centro por outros motivos. Esta pesqui- sa abarcou um público bastante variado, com diver- sidade de renda, gênero, idade e níveis de escolari- dade. O estrato das pessoas com renda inferior a três salários mínimos concentrou 46% dos entrevistados, maioria constituída de moradores ou trabalhadores dos bairros centrais. Teme-se que o projeto Recife–Olinda, que interliga os centros das duas cidades, e que incorpora o terri- tório de Brasília Teimosa em sua área de intervenção, destitua o direito à moradia das famílias que ali resi- dem, promova sua expulsão ou impacte na permanên- cia das mesmas. Portanto, considerar Brasilia Teimosa um território do Centro do Recife é estratégico para os movimentos sociais e entidades envolvidos no pro- jeto Moradia é Central. A proximidade com o Centro possibilita o acesso aos serviços, equipamentos e postos de trabalho oferecidos nessa área da cidade. Além disso, a pouca distância que separa as duas áreas facilita o acesso ao Centro de for- mas alternativas como de bicicleta ou a pé, barateando o custo de deslocamento da população local ao Centro. Por tudo isto os movimentos populares da cidade con- sideram Brasília Teimosa uma parte da área central do Recife. Assim, garantir a permanência da população de menor poder aquisitivo em Brasília Teimosa e impedir processos de especulação, expulsão e encarecimento do solo urbano são reivindicações trabalhadas e deba- tidas no âmbito deste projeto que merecem atenção. Figura 20. Cena cotidiana do Centro. Foto: Prefeitura do Recife Figura 21. Paisagem do bairro da Boa Vista. Foto: Prefeitura do Recife Figura 22. Edifícios históricos na Boa Vista. Foto: Prefeitura do Recife A faixa de renda familiar de 3 a 6 salários mínimos constituiu um terço (33%) dos entrevistados e a de 7 a 10, cerca de um décimo deles (11%). Na faixa entre 10 e 20 salários mínimos, a pesquisa abarcou 5,4% dos entrevistados e 4,6% na faixa superior a vinte salários mínimos. A diversidade do Centro, com suas atividades vol- tadas para vários públicos e faixas de renda, transpa- rece nas respostas dadas sobre hábitos e atividades desenvolvidas nos seus bairros. Mais de 90% dos en- trevistados fazem compras e mais de 80% trabalham ou “negociam” no bairro. Do total de entrevistados, 53% utiliza os bares e restaurantes e 37,4% os cinemas e teatros, constituindo o público que comparece ao Centro em horários noturnos. Os equipamentos de saúde foram avaliados como bons e ótimos por dois quintos dos entrevis- tados. Do universo que utiliza os serviços, a metade (50,7%) o considerou bom e um quarto (24,8%) o avaliou como regular. Parcela pouco significativa fez avaliações negativas. A avaliação sobre os serviços de saúde ali presta- dos revelou-se positiva e o resultado foi semelhante em relação aos equipamentos de lazer. Também neste caso, cerca da metade (48,6%) dos entrevistados ava- liaram este item positivamente. Para quase 90% dos entrevistados a facilidade do transporte público foi um fator preponderante nas avaliações positivas quanto às atividades realizadas no Centro. Destes, 60% considerou positiva a acessi- bilidade ao Centro pelo transporte público oferecido. Quando perguntados sobre a moradia e trabalho, 44,2% declarou gostar e desejar permanecer no bairro onde mora ou trabalha. Este percentual amplia-se vigorosamente na pes- quisa realizada pela Prefeitura do Recife no bairro da Boa Vista, núcleo histórico do Centro, onde há uma presença crescente de imóveis vazios e descaracte- rização provocada pela substituição de usos residen- ciais para os comerciais em imóveis cedidos ou sim- plesmente ocupados, acarretando sérios problemas de conservação. O fato de 60% dos imóveis ainda permanecerem com uso residencial e da maioria dos moradores en- trevistados ter nascido, continuar residindo e ainda exercer atividades profissionais no próprio bairro, pode ser uma das razões da satisfação em residir no Centro, apesar do processo de perda de população. Do total de pessoas entrevistadas, 80% declararam que gostam de morar ou trabalhar no Centro pelas se- guintes razões — estar “perto de tudo”, “existência de escola” ou “facilidade do transporte”. 18 MoRadia é centRal Recife 19 Figura 24. Teatro Santa Isabel. Foto: Gilvan Barreto Figura 25. Paisagem do Centro Antigo. Foto: Gilvan Barreto Os pontos positivos mencionados para aqueles que gostam de morar ou trabalhar no Centro são: o trans- porte, o comércio, a localização/proximidade do Cen- tro, a tranquilidade, os serviços de saúde, as opções de lazer, as igrejas, a facilidade para compras e o estar no “Recife Antigo”. Os aspectos negativos: falta de segurança/policia- mento, falta de estacionamento, presença de prédios abandonados, calçadas esburacadas, prostituição, me- nores de rua, deficiência na iluminação pública, exces- so de barulho, trânsito e poluição. Pesam para muitos destes moradores ou trabalhadores, problemas carac- terísticos das áreas centrais metropolitanas. A segurança pública e a limpeza urbana foram os dois aspectos que pior avaliação tiveram entre os en- trevistados, somando 64,5% de avaliações negativas no primeiro item e 33,5% no segundo. Embora os pontos apontados sejam conhecidos, é importante ressaltar que há um público interessa- do em permanecer na área do “antigo Recife”. No entanto, cabe ao poder público oferecer à população, as possibilidades de acesso à moradia e garantir, nas áreas que são as mais disputadas pelo mercado, que os núcleos habitacionais em ZEIS sejam atendidos por políticas urbanas e habitacionais. Figura 23. Rua de uso misto no bairro da Boa Vista. Foto: Prefeitura do Recife a pRoMoção habitacional no centRo do Recife As primeiras iniciativas relacionadas à política de promoção habitacional no Recife iniciaram-se na dé- cada de 1980, com a implantação do Plano de Regu- larização das Zonas Especiais de Interesse Social (Lei Municipal 14.947/87), conhecido como PREZEIS. Foi um processo pioneiro no Brasil de urbaniza- ção de favelas com participação de seus moradores. Atualmente, são 66 ZEIS demarcadas em todo o mu- nicípio, representando 12% do território da cidade e 80% das favelas. Destas, quatro estão na área central da cidade (RPA1): Coque, Coelhos, João de Barros e Santo Amaro. O PREZEIS foi uma conquista e contribuiu para um avanço nas leis e ações posteriores no campo da habi- tação social. Movimentos e organizações se legitima- ram a partir deentão como interlocutores das políti- cas públicas. Mesmo assim, algumas urbanizações e a promoção de moradia no Centro ainda não ocorreram, devido às limitações da atuação do poder público. Desde a extinção do BNH, em 1986, a política habitacional foi descentralizada e os municípios, sem receita específica para a habitação, passaram a utilizar outras fontes de recursos para executar a sua política urbana e habitacional. No caso do Recife, muitos finan- ciamentos foram buscados junto às agências multila- terais. Entre os programas promovidos desta maneira pelo poder público na década de 1990, destacam-se: o Programa de Erradicação de Sub-habitação (PROMO- RAR) e o Habitar Brasil, ambos financiados pelo BID — Banco Interamericano de Desenvolvimento. As intervenções habitacionais no Centro do Reci- fe foram realizadas no âmbito dos programas PRO- MORAR (na década de 1980) e Morar no Centro (2000–2005) e, atualmente, estão previstas no Pro- grama de Requalificação de Áreas Urbanas Centrais e no Projeto do Complexo Turístico–Cultural Recife Olinda, descritos a seguir. Para os movimentos sociais e entidades que atuam na área, qualquer intervenção urbana e habitacional no Centro do Recife deve priorizar as áreas de con- centração da população pobre (favelas e palafitas), que devem ser demarcadas e asseguradas como ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social), evitando a ex- pulsão da população devido à valorização imobiliária e à atuação do mercado. Para a produção de novas unidades habitacionais devem ser utilizados prédios e terrenos, públicos e privados, que se encontram hoje abandonados na área central. 20 MoRadia é centRal Recife 21 Figura 27. Perímetros de Reabilitação no Centro do Recife. Foto: Prefeitura do Recife Figura 28. Maquete eletrônica do calçadão na Ilha do Recife após intervenções. Foto: Prefeitura do Recife PROMORAR. O PROMORAR teve como objetivo promover a urbanização de favelas no Centro, com foco em Coque e Coelhos (na RPA 1) e em Brasília Tei- mosa (na RPA 6) — áreas que historicamente sofreram pressões para a remoção de sua população. Apesar das ações de urbanização dessas áreas, o programa foi uma ação pontual de habitação no Centro e a área do Coque permaneceu urbanisticamente segregada. Além disso, os benefícios trazidos pelo programa à população pobre dependem hoje da demarcação e manutenção dessas áreas como ZEIS. Morar no Centro. Em 2000, foi lançado o projeto Morar no Centro pela Prefeitura, com foco nos bairros do Recife e da Boa Vista. Foram levantados imóveis, resultando em 60 estudos para reforma pelo Pro- grama de Arrendamento Residencial (PAR) da Caixa Econômica Federal. No entanto, a única experiência concreta foi a adequação do Edifício São José. Essa experiência, realizada no âmbito do PAR, atendeu apenas famílias com renda superior a três salários mí- nimos, excluindo as de mais baixa renda. Programa de Requalificação de Áreas Urbanas Centrais. Em 2005, no âmbito do Programa de Requa- lificação de Áreas Urbanas Centrais, do Ministério das Cidades, a Prefeitura delimitou 11 perímetros de reabi- litação integrada (PRIs) no Centro: São José (leste e oeste), Guararapes, Boa Vista, Ilha do Leite, Eixo da Av. Conde da Boa Vista, Soledade Unicap, Soledade Aga- menon, Santo Amaro, bairro do Recife e Imperial. No momento está em fase de projeto a requalifica- ção de um setor da Rua Imperial, onde está previsto o re-assentamento inicial de 1050 famílias moradoras de palafitas das comunidades de Vila Brasil e Coelhos, às margens do Capibaribe. Destas, 200 unidades serão produzidas através da requalificação de imóveis aban- donados, em processo de aquisição pela municipali- dade. O objetivo é reassentar as famílias em situação de risco na própria área, e promover a recuperação ambiental da orla do rio. Projeto do Complexo Turístico-Cultural Recife Olinda. Entre 2005 e 2007, as prefeituras de Recife e Olinda, o Governo do Estado e o Ministério das Ci- dades elaboraram o “Projeto do Complexo Turístico- Cultural Recife Olinda”; com o objetivo de reabilitar áreas pertencentes à União e remanescentes da ativi- dade portuária e ferroviária. O Projeto prevê 1,5 milhão de m2 de novas construções, dos quais cerca de 10% destinados à habitação, comércio e serviço. De 7.692 novas unidades habitacionais propostas, 1.824 (23,7%) serão destinadas ao mercado popular. Figura 26. Favela na área central do Recife. Foto: Gilvan Barreto Diante da realidade enfrentada pelas milhares de famílias que não têm moradia adequada nem acesso a financiamentos e em face da falta de recursos e de po- líticas de produção de moradia popular, principalmen- te em áreas centrais, muitos movimentos urbanos de luta por moradia — no Recife e em outras cidades do Brasil — reafirmam o debate sobre a moradia digna e a reforma urbana, além de evidenciarem a urgência com que devem ser implementadas ações nesse sentido. A luta pelo direito de ocupar o espaço central do Recife como local de residência para as famílias de menor renda está apenas começando e o movimento de moradia é a vanguarda nesta luta. O debate sobre a questão da moradia tem ocupado espaço de desta- que tanto para os movimentos sociais quanto para as diferentes esferas governamentais. As intervenções do Poder Público nos últimos anos demonstram como a luta pela moradia no Centro já faz parte de uma agenda que tem se mostrado cada vez mais intensa. A articulação de programas de rea- bilitação e habitação e a aplicação dos instrumentos do Estatuto da Cidade já promulgados são algumas das possibilidades de enfrentamento da problemáti- ca. Três temas que ganham evidência são: a conso- lidação das ocupações na área central, a criação de novas ZEIS e a garantia do título de propriedade aos integrantes das comunidades, da forma como foi ado- tada em Brasília Teimosa, um dos ícones da luta pela urbanização e que hoje é alvo constante das pressões do mercado imobiliário. Em relação ao Projeto Recife-Olinda, é preciso ga- rantir que as propostas atendam à população de renda baixa da região central e que as ações promovidas não provoquem uma expulsão dos moradores das áreas contempladas pelo projeto. Há muitos desafios a serem enfrentados por todos os agentes interessados em desenvolver uma política de acesso à terra e à moradia digna para a população de baixa renda em áreas centrais. Destacamos alguns entraves burocráticos para acesso aos financiamen- tos pelas famílias de menor poder aquisitivo: a falta de subsídios; o alto custo das adequações e reformas habitacionais; a falta de controle do uso e ocupação do solo e da especulação imobiliária. A especulação imobiliária é um grande impeditivo à efetivação de uma política habitacional no Centro uma vez que os proprietários de imóveis vazios e desocupados não são punidos pelo não cumprimento da função social e quando seus imóveis são adquiridos para produção pública são avaliados por seu suposto valor de mer- cado, encarecendo o custo final da unidade e incenti- vando a especulação. No caso dos imóveis de interesse do patrimônio cul- tural, o elevado custo de reabilitação se deve, dentre ou- tros motivos, pela falta de mão-de-obra especializada, que onera o valor da adequação dos imóveis para estas famílias. No caso dos imóveis vazios e subutilizados que não cumprem uma função social, a prefeitura deveria in- duzir ao uso por meio da aplicação do IPTU progressivo, porém ainda não houve ações neste sentido. Enquanto isso o capital imobiliário avança sobre grande parcela do território central recifense, deixando cada vez menos espaço para geração de oportunida- des habitacionais populares. Tal avanço busca conso- lidar o Centro como um espaço da classe média, pro- duzindo imóveis destinados a este segmento. A venda do edifício JK, dos terrenos da REFESA e a construção dos edifícios Píer Maurício de Nassau e Píer Duarte Co- elho (popularmente chamados de “Torres Sandy e Ju- nior”) são exemplosclaros desta tendência. No caso do Edifício JK, de propriedade do INSS e leiloado por 2,3 milhões de reais, foram divulgadas in- formações de que será instalada ali uma faculdade par- ticular, reforçando, assim, a realização de empreendi- mentos que não atendem à população de menor renda. A venda de parte dos terrenos da REFESA, por 55,4 milhões de reais, para um consórcio composto por diferentes empresas do Recife, representa uma grande perda para a luta por habitação na área central da cidade, pois houve privatização de uma área que deveria servir ao interesse coletivo. Enquanto não se promovem novas oportunidades de habitação popular, crescem as ocupações irregulares e a precariedade habitacional da maioria da população, em favelas, palafitas e cortiços. No Centro do Recife, há uma grande concentração de cortiços que atendem à demanda específica e considerável de quem precisa estar no Centro por questão de sobrevivência. A permanência da população de menor poder aqui- sitivo na área central da cidade deve ser garantida pela implementação das políticas urbanas e habitacionais, assegurando a proximidade aos locais de trabalho e a manutenção dos laços afetivos e culturais. Para representantes dos movimentos que lutam por habitação, a ocupação dos imóveis vazios e subutiliza- dos no Centro é uma estratégia de luta pela produção de habitação social. A falta de determinados serviços e a inadequação dos imóveis, nas áreas de favelas e pa- lafitas, são outras questões que necessitam de solução para a garantia do direito à moradia no Centro. Por fim, é preciso criar novas oportunidades de habi- tação de interesse social na área central do Recife, além de garantir a permanência daquelas comunidades que já se encontram na região, afinal, moradia é central. desafios no Recife 22 projeto “Moradia é central — inclusão, acesso e direito à cidade” Coordenação Instituto Pólis Apoio OXFAM GB Parceiros Nacionais FASE CEARAH Periferia HABITAT para a Humanidade Fórum Nacional da Reforma Urbana Parceiros em Recife FERU — Forum Estadual de Reforma Urbana Observatório de Políticas Públicas — PE Apoio em Recife Prefeitura Municipal do Recife publicação “Moradia é central — Recife” Coordenação e Organização Margareth Matiko Uemura, Isadora Tami Lemos Tsukumo, Natasha Mincoff Menegon, Sidney Piochi Elaboração do texto base Ailson Barbosa (Observatório de Políticas Públicas PE) Colaboração Socorro Leite (Habitat), Lívia Miranda (UFPE / FASE) Noé Sérgio e Patrícia Antonino (Prefeitura do Recife). Revisão Marilia Akamine Risi Identidade e programação visual Imageria Estúdio Produção de mapas Renato Augusto Dias Machado Fotos Gilvan Barreto e Prefeitura do Recife
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