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MORADIA É CENTRAL ( muito bom)

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Recife
2009
Recife
2009
4 MoRadia é centRal Recife 5
intRodução
condições de moradia da população de baixa renda 
que já reside nessas áreas.
O projeto foi desenvolvido por organizações parcei-
ras em cinco capitais: São Paulo (Instituto Pólis), Belém 
(FASE — Federação de órgãos para Assistência Social 
e Educacional — Amazônia), Fortaleza (Cearah Perife-
ria), Recife (FASE/ HABITAT) e Rio de Janeiro (FASE e 
Fórum Nacional de Reforma Urbana — FNRU). 
Em cada uma dessas cidades foram estabelecidas 
parcerias com os Fóruns Regionais, movimentos or-
ganizados, universidades, pesquisadores e técnicos 
dos governos locais. A coordenação das atividades 
foi feita pelo Instituto Pólis com o apoio técnico e fi-
nanceiro da OXFAM GB — agência internacional com 
sede no Reino Unido, que apoia projetos sociais nos 
países em desenvolvimento.
As cinco capitais envolvidas no projeto têm em co-
mum a situação de perda de população nos bairros 
centrais, existência de número significativo de imó-
veis e domicílios vazios nessas áreas e crescimento 
das áreas periféricas. Seus centros apresentam ótimas 
condições de infraestrutura urbana e de serviços e 
concentram postos de emprego, mas caracterizam-
se por situações urbanas específicas, que devem ser 
levadas em consideração na discussão acerca da pro-
moção de habitação social nessas áreas.
Recife, Rio de Janeiro e Belém têm áreas centrais 
portuárias parcialmente desativadas, com significa-
tivo patrimônio histórico edificado e abandonado, e 
grandes áreas públicas subutilizadas.
As áreas centrais de Fortaleza e São Paulo desta-
cam-se pela grande concentração de empregos ao 
mesmo tempo em que apresentam taxas acima de 
20% de domicílios vazios.
Na última década essa problemática vem sendo 
cada vez mais debatida no Brasil e, embora todas as 
capitais parceiras do projeto, entre outras, tenham 
propostas em andamento pelos três entes federativos, 
ainda foram poucas as ações concretas no sentido de 
viabilizar uma política habitacional nas áreas centrais, 
com prioridade para as famílias de menor renda.
Houve experiências significativas de produção de 
habitação social nas áreas centrais em São Paulo e Rio 
de Janeiro, que envolveram movimentos sociais e téc-
nicos comprometidos com a questão. Em São Paulo, 
Nas últimas décadas as grandes e médias cidades 
brasileiras e suas regiões metropolitanas passaram por 
dinâmicas socioespaciais muito semelhantes. Houve 
queda generalizada das taxas de crescimento popu-
lacional e o aumento de população nessas cidades 
deu-se de forma bastante desigual entre os bairros e 
municípios de suas regiões metropolitanas.
De um lado, houve perda de população nos bair-
ros das áreas centrais, providas de infraestrutura, e, de 
outro, crescimento significativo nos bairros e municí-
pios periféricos, áreas precárias e ambientalmente frá-
geis. Enquanto as áreas centrais perderam população, 
bairros afastados dos centros e municípios periféricos 
cresceram a taxas que superaram 10% ao ano. O poder 
público contribuiu para esse processo, principalmente 
através da construção de grandes conjuntos habita-
cionais em áreas com carência de infraestrutura, de 
onde a população tem que se deslocar por quilôme-
tros diariamente para chegar ao trabalho.
Hoje, os centros urbanos dessas cidades perma-
necem como regiões de grande concentração de 
postos de trabalho em escala metropolitana, mas 
apresentam número significativo de imóveis e domi-
cílios vazios e subutilizados.
Por isso, movimentos sociais ligados à temática da 
reforma urbana e da moradia, técnicos e estudiosos 
que historicamente centraram-se na luta por deman-
das mais relacionadas aos problemas das periferias 
— urbanização e regularização de favelas e loteamen-
tos, implantação de redes de serviços e equipamen-
tos públicos, produção de habitação em mutirão com 
autogestão — hoje têm como bandeira a defesa da 
moradia em áreas centrais.
Reivindicam a implementação de uma política ha-
bitacional que reverta a lógica histórica de assenta-
mento da população de baixa renda nas periferias e 
contribua para que as cidades caminhem rumo a uma 
configuração socioespacial mais justa e sustentável.
Partindo desse contexto, o projeto “Moradia é Cen-
tral — inclusão, acesso e direito à cidade”, teve como 
objetivo sensibilizar a opinião pública acerca da im-
portância da efetivação de políticas públicas de pro-
moção de habitação social nos centros urbanos, ten-
do como princípios a utilização de imóveis vazios e 
ociosos para produção habitacional e a melhoria das 
vem estar previstos nos planos diretores municipais.
Os imóveis públicos subutilizados devem ser des-
tinados prioritariamente à produção de habitação 
social, especialmente nas cidades onde existem em 
grande quantidade.
Além disso, é imprescindível a concessão de subsí-
dios nos financiamentos, garantindo que sejam aces-
síveis à população de menor renda, frequentemente 
excluída dos programas existentes.
Destacamos ainda, a importância de desenvolver 
programas de aluguel social e subsídio ao aluguel, 
que podem contribuir para a diminuição das uni-
dades imobiliárias vagas em edifícios situados em 
áreas centrais.
Por fim, consideramos fundamental conhecer me-
lhor as áreas centrais das cidades, levantando usos, ti-
pologias construtivas, imóveis de valor histórico e cul-
tural, espaços públicos e, principalmente, a situação 
de seus usuários e moradores, de forma a desvendar 
os problemas e as potencialidades dessas áreas, que 
apresentam especificidades em cada cidade.
A caracterização dessas áreas centrais, suas rela-
ções com a dinâmica de crescimento das metrópoles 
e com a questão da habitação social e das políticas 
públicas formuladas até hoje, foram pontuadas nes-
ta publicação, que é composta de um caderno por 
cidade. Em cada caderno buscamos desenvolver os 
seguintes temas: a problemática habitacional e urba-
na; a dinâmica de crescimento nas últimas décadas; 
as características do Centro; os atuais moradores, 
trabalhadores e usuários das regiões centrais e as 
propostas e experiências de produção de habitação 
social no Centro.
O objetivo é que o presente material sirva como 
instrumento de disseminação e aprofundamento da 
discussão acerca da habitação em áreas centrais entre 
técnicos, lideranças, movimentos, gestores públicos e 
entidades. Todo o material aqui sistematizado é fruto 
de um ano de trabalho do projeto “Moradia é Central”, 
durante o qual foram promovidos seminários locais e 
uma exposição itinerante — atividades realizadas com 
os parceiros do projeto nas cinco capitais — que ti-
veram como objetivo gerar o comprometimento de 
políticos, gestores públicos, entidades e atores sociais 
com a questão.
a luta pela moradia social no Centro já tem mais de 
dez anos e tem como marcas a ocupação de edifícios 
vazios pelo movimento organizado e a produção de 
moradia através de vários tipos de programas: refor-
ma de edifícios antigos, construção nova, intervenção 
em cortiços. No entanto, a escala de produção ainda é 
muito pequena diante da demanda e dos problemas a 
serem enfrentados.
No Rio houve experiências de reforma de imóveis 
históricos para transformação em habitação. Os movi-
mentos sociais têm se organizado, ocupando prédios 
e casarões abandonados, lutando para que a produ-
ção seja ampliada e atinja a população de menor ren-
da, principalmente através da utilização de imóveis 
públicos vazios e subutilizados.
No Recife também há acúmulo de discussão, prin-
cipalmente sobre a questão da garantia de manuten-
ção das comunidades pobres que vivem em áreas 
centrais através de instrumentos urbanísticos, como 
ZEIS — Zonas Especiais de Interesse Social — e pro-
jetos de urbanização. Houve experiência de produ-
ção através de reforma de um edifício no Centro e 
o debate dos movimentos junto ao poder público 
tem se centrado na estruturação de uma política em 
larga escala que envolva também a recuperação do 
patrimônio histórico.
Em Fortaleza a discussãosobre a melhoria do Cen-
tro com promoção de habitação social está no início, 
envolvendo técnicos e movimentos sociais locais em 
torno da elaboração do “Plano Habitacional para a Re-
abilitação da Área Central de Fortaleza”.
Em Belém a discussão também está começando e 
envolve a questão da reabilitação de edifícios históri-
cos para promoção de habitação social. Alguns proje-
tos, realizados pelo governo estadual e pelo Programa 
Monumenta (do IPHAN, Ministério da Cultura), estão 
em andamento.
As experiências mostram que muitos são os de-
safios a serem enfrentados para a efetivação de uma 
política habitacional em áreas centrais. Para que os 
imóveis vazios e subutilizados localizados em áreas 
providas de infraestrutura sejam objeto de políticas 
habitacionais, garantindo o acesso da população de 
baixa renda à terra urbanizada, é necessária a aplica-
ção dos instrumentos do Estatuto da Cidade, que de-
6 MoRadia é centRal Recife 7
A Região Metropolitana do Recife (RMR) é hoje a 
maior aglomeração urbana do Nordeste e a quinta do 
Brasil, com 3,6 milhões de habitantes, segundo os da-
dos do IBGE de 2007.
A cidade do Recife, dividida em seis Regiões Po-
lítico-Administrativas (RPA), concentra cerca de 1,5 
milhões de habitantes, abrigando 42% da população 
total da Região Metropolitana.
O crescimento urbano da Região se caracterizou 
por uma ocupação inadequada nos morros e áreas de 
mangue na direção norte da capital e dos municípios 
metropolitanos, elevando progressivamente a deman-
da por deslocamentos entre estes e a região central 
da cidade do Recife, onde se concentra a maior parte 
dos empregos.
Nas últimas décadas constata-se, à semelhança do 
que vem ocorrendo em outras áreas metropolitanas 
brasileiras, altas taxas de crescimento populacional 
nos municípios da periferia metropolitana e taxas ne-
gativas de crescimento em vários bairros centrais da 
cidade do Recife. 
Entre 1991 e 2000 Recife apresentou uma taxa geo-
métrica de crescimento populacional de 1,5% — relati-
vamente baixa, se comparada às dos municípios mais 
periféricos da Região Metropolitana, que cresceram a 
taxas superiores a 2,5%, como Ipojuca, Moreno, Cama-
ragibe, Araçoiaba e Ilha de Itamaracá.
a pRobleMática 
do Recife
Figura 1. Recife cresceu de forma desigual nas áreas centrais e 
periféricas nas últimas décadas. Foto: Gilvan Barreto
As necessidades de deslocamentos e viagens co-
tidianas geradas por esse padrão de crescimento ur-
bano revelam a dimensão do problema: a frota de 4,6 
mil ônibus transporta diariamente 1,7 milhões de pas-
sageiros e o metrô, outros 180 mil.
As intervenções públicas realizadas no Recife na 
segunda metade do século XX seguiram um modelo 
de planejamento urbano que reforçou esse processo 
de expansão periférica do tecido urbano, intensifi-
cando as situações de precariedade habitacional e 
subutilização de áreas com infraestrutura. Enquanto 
se consolidava a ocupação nas periferias, uma enor-
me área edificada cujo uso característico era o resi-
dencial, esvaziava-se.
A ocupação irregular e precária de áreas alaga-
diças e de morros tornou-se a solução habitacional 
para grande parte da população. Atualmente, uma 
das características da cidade do Recife é seu déficit 
habitacional, que se contrapõe aos imóveis desocu-
pados no Centro. Segundo dados do IBGE (2000), o 
déficit habitacional do município do Recife é de mais 
de 58 mil moradias, enquanto há 37 mil domicílios 
vagos na cidade.
A área central do Recife, que concentra uma par-
cela significativa de empregos da Região Metropoli-
tana, apresentou decréscimo populacional da ordem 
de 5% entre os últimos dois censos realizados pelo 
IGBE (1991 e 2000), processo que impactou de diver-
sas formas os bairros que a compõem. De forma geral, 
houve perda de população, abandono dos imóveis de 
uso residencial e deterioração do patrimônio edifi-
cado na área central. Soma-se a isso a existência de 
inúmeras áreas públicas vazias, que reforçam o grau 
de subutilização dos imóveis deste território. São 18 
terrenos públicos que contabilizam aproximadamen-
te 145 hectares na orla marítima. Em contraposição, 7 
núcleos de favelas com 9 mil domicílios, concentra-
das principalmente nos bairros de Santo Amaro, Ilha 
do Leite e Coelhos, se adensam com precariedade 
da moradia.
Estas áreas necessitam de altos investimentos para 
suprir a falta de serviços e equipamentos públicos e 
serem consolidadas como bairros centrais, a exemplo 
de Brasília Teimosa, onde a prefeitura investiu recur-
sos para transformá-la no bairro que existe hoje.
a dinâMica de 
cResciMento uRbano 
do Recife
Em 1913, o Recife possuía uma população de 182 
mil habitantes. Uma década depois chegava a 313 mil 
— incremento populacional de mais de 58%.
Ao longo do século XX, o crescimento populacio-
nal e um conjunto de intervenções urbanas criaram 
nova fisionomia e delimitação da cidade e de sua área 
central. Destaca-se a remoção de cerca de 13 mil habi-
tantes do Bairro do Recife por ocasião da reforma do 
porto. A demolição dos sobrados nos anos 1910 e a er-
radicação dos mocambos, nos anos 1930 e 1940, que 
neste período abrigavam cerca de 165 mil habitantes, 
caracterizaram estas intervenções.
A política de erradicação dos mocambos imple-
mentada pelo Interventor do Estado, Agamenon Ma-
galhães, deu origem à Liga Social Contra o Mocambo 
que, na década de 1940, promoveu a remoção dos 12 
mil mocambos localizados no Centro do Recife, prin-
cipalmente nas áreas alagadiças entre o Derby e a Ta-
caruna. Tal intervenção incluiu a abertura do canal de 
drenagem ao longo do qual, na década de 1970, foi 
construída a primeira avenida perimetral, hoje, Aveni-
da Agamenon Magalhães.
Outras tentativas de expulsão das demais comuni-
dades pobres ocorreram nos anos posteriores, mas a 
resistência popular garantiu a permanência de muitas 
delas, como a de Coelhos e a de Brasília Teimosa.
Apesar da resistência, as políticas de expulsão re-
sultaram na transferência de quase um terço das famí-
lias que viviam nos mocambos para regiões periféricas 
da cidade, ocasionando o surgimento do chamado 
cinturão de áreas pobres do Recife. Grande parte das 
famílias que antes ocupava o entorno da área central 
migrou para municípios vizinhos e para os morros da 
zona norte da cidade. Ao mesmo tempo, a elite se 
concentrou em bairros como Casa Forte e Apipucos — 
historicamente marcados pela presença de população 
abastada — e com atrativos como a vegetação nativa 
e terras planas e secas.
Nos anos 1960, a população atingiu contingente 
superior a 763 mil habitantes dos quais 59% residia 
em áreas com precariedade habitacional. Na década 
de 1970, quando se instituiu a Região Metropolitana 
do Recife, a cidade já possuía mais de um milhão de 
habitantes, ao lado de 1,8 milhões da RMR.
Ainda nos anos 1970, as sistemáticas inundações 
do Capibaribe redirecionaram a ocupação do territó-
rio, provocando seu crescimento para o sul. A partir 
da implantação de equipamentos e infraestrutura viá-
ria no bairro de Boa Viagem, a zona sul do Recife tam-
bém passou a ser ocupada pela população de média 
e alta renda, atraída pela paisagem da orla marítima. 
Isto ocasionou um crescimento populacional progres-
sivo na zona sul do Recife, tornando-a a região mais 
populosa do município.
Em 1980, a população do Recife já ultrapassava 
um milhão de habitantes e em 1990 correspondia a 1,3 
milhões, dos quais 64% continuava vivendo em condi-
ções habitacionais precárias.
As políticas habitacionais historicamente não aten-
deram a demanda criada pelo crescimento popula-
cional da cidade, tampouco houve políticas públicas 
de combate à especulação imobiliária e promoção do 
acesso à terra urbanizada para a população de baixa 
renda. Esse quadro acirrou os processos de perda de 
população nas áreas servidas de infraestrutra e de au-
mento das ocupações irregulares e precárias no terri-
tório metropolitano.
Em 2000 Recife atingiu 1,4 milhões, de um total 
de 3,2 milhões de habitantesna Região Metropolitana, 
representando mais de 44% da população da RMR. A 
dinâmica metropolitana no período de 1991 a 2000 
foi marcado pela perda de população das áreas cen-
trais e servidas de infraestrutura e pelo crescimento 
exacerbado das regiões periféricas e assentamentos 
precários. Esta dinâmica expandiu a malha urbana e 
gerou problemas como a concentração de imóveis 
vagos no Centro.
O mapa e a tabela a seguir (figuras 6 e 7) ilustram o 
processo, mostrando que 31 bairros perderam popula-
ção em diferentes regiões da cidade. O Centro, espe-
cialmente os bairros de Paissandu, São José, Cabanga, 
Boa Vista, Santo Amaro, Soledade, Ilha do Leite e Coe-
lhos, concentrou as maiores perdas. Mas também hou-
ve saída de moradores em bairros do entorno do Cen-
tro, como Afogados, Ipsep, Estância, Jardim São Paulo, 
Mustardinha, Mangueira, Derby e Prado; e em bairros 
da região noroeste da cidade, como Dois Irmãos, Alto 
do Mandu, Casa Amarela, Nova Descoberta, Vasco da 
Gama, Alto Santa Teresinha, Alto José Bonifácio, Mor-
ro da Conceição, Água Fria e Fundão.
8 MoRadia é centRal Recife 9
Figura 3. O bairro da Boa Vista perdeu 18% de seus moradores de 
1991 a 2000. Foto: Gilvan Barreto
Figura 2. A região central (RPA 1) perdeu 4,9 mil moradores de 1991 
a 2000. Foto: Gilvan Barreto
Figura 4. O bairro Barro cresceu 57% de 1991 a 2000, ganhando 
11 mil novos moradores. Foto: Gilvan Barreto
Figura 5. O bairro Caçote cresceu 77% de 1991 a 2000, ganhando 
3,7 mil novos moradores. Foto: Gilvan Barreto
Em processo oposto, bairros periféricos da cidade 
cresceram a altas taxas, destacando-se Cohab (39%), 
Barro (57%), Macaxeira (71%), Passarinho (76%) e Ca-
çote (77%) — bairros que já eram bastante populo-
sos e cresceram em média 64% de 1991 a 2000.
Nas últimas décadas a criação de novas centrali-
dades promoveu a transferência de atividades antes 
concentradas no Centro para outras áreas, como os 
bairros de Encruzilhada e Casa Amarela. Isso resultou 
no aumento do número de domicílios vazios na área 
central. Tal fato também ocorreu em outras áreas con-
solidadas, provavelmente devido à produção imobili-
ária acima da demanda real por novos imóveis.
Figura 7. Tabela — Dinâmica populacional nos bairros do Recife de 
1991 a 2000 (destaque para alguns bairros).
Fonte: IBGE Censos 1991 e 2000 (Elaboração própria)
Figura 6. Mapa — Dinâmica populacional na Região Metropolitana 
do Recife de 1991 a 2000.
Fonte: IBGE Censos 1991 e 2000 (Elaboração própria)
legenda
Limite bairros
Limite Municípios
Hidrografia
tgca - taxa geoMétRica de cResciMento 
anual - 1991 a 2000
Sem dados
até -2,00
de -1,99 a 0,00
de 0,01 a 2,50
de 2,51 a 5,00
de 5,01 a 10,00
Código Bairro População 
1991 - 2000
% População 
1991 - 2000
TGCA
4 Paissandu -213 -29% -3,68
40 Soledade -681 -24% -2,95
33 São José -2.109 -20% -2,39
32 Cabanga -335 -18% -2,17
3 Boa Vista -3.026 -18% -2,15
18 Estância -1.894 -17% -2,11
57 Dois Irmãos -503 -14% -1,68
17 Ipsep -1.672 -6% -0,70
66 Nova Descoberta -2.021 -6% -0,63
23 Jardim São Paulo -1.158 -4% -0,43
2 Santo Amaro -955 -3% -0,36
77 Água Fria -841 -2% -0,21
9 Afogados -624 -2% -0,19
31 Pina 641 2% 0,26
11 Areias 787 3% 0,29
83 Beberibe 379 5% 0,50
8 San Martin 1.277 6% 0,64
89 Campo Grande 2.447 8% 0,91
30 Boa Viagem 10.704 12% 1,26
44 Brasília Teimosa 2.236 13% 1,39
5 Ilha Joana Bezerra 2.050 19% 1,97
26 Várzea 10.747 20% 2,05
49 Iputinga 8.730 23% 2,31
41 Santo Antônio 115 27% 2,70
80 Aflitos 992 29% 2,89
19 Curado 3.511 35% 3,41
13 Cohab 19.738 40% 3,81
56 Caxangá 2.031 44% 4,12
54 Guabiraba 2.378 48% 4,46
12 Barro 11.283 57% 5,13
1 Recife 360 64% 5,63
65 Macaxeira 7.977 71% 6,11
52 Passarinho 6.655 76% 6,47
16 Caçote 3.672 77% 6,56
55 Sítio dos Pintos 3.244 134% 9,92
10 MoRadia é centRal Recife 11
Figura 9. Tabela — Concentração de domicílios vagos no Recife, em 
Olinda e Paulista (destaque para alguns bairros). 
Fonte: IBGE Censo 2000 (Elaboração própria)
Figura 8. Mapa — Concentração de domicílios vagos na Região 
Metropolitana do Recife.
Fonte: IBGE Censo 2000 (Elaboração própria)
legenda
Limite bairros
Limite Municípios
Hidrografia
% de doMicílios vagos
doMicílios vagos
até 9%
de 9,01 a 11%
de 11,01 a 13%
de 13,01 a 15%
acima de 15,01
Município Bairro Domicílios Domicílios 
Vagos
% Domicílios 
Vagos
Recife
São José 2.949 498 16,89%
Coelhos 2.296 358 15,59%
Boa Vista 6.867 1.038 15,10%
Boa Viagem 3.7341 4.597 12,31%
Pina 8.681 875 10,08%
Várzea 19.163 1.790 9,34%
Nova 
Descoberta
9.674 795 8,22%
Ilha Joana 
Bezerra
3.644 285 7,82%
Santo Antônio 267 20 7,49%
Olinda
Varadouro 1.935 285 14,73%
Jardim 
Atlântico
11.272 1.502 13,33%
Alto da 
Conquista
1.531 187 12,21%
Vila Popular 1.516 156 10,29%
Alto da 
Bondade
2.227 229 10,28%
Paulista
Nossa Sra do Ó 4.871 813 16,69%
Centro 1.094 173 15,81%
Janga 13.388 2.090 15,61%
Nossa Sra da 
Conceição
936 116 12,39%
Paratíbe 4.303 395 9,18%
Destaca-se também a vacância no Bairro de Boa 
Viagem, onde foram construídos muitos edifícios ha-
bitacionais novos para as classes média e alta nos úl-
timos anos. Este bairro concentrava o maior número 
absoluto de domicílios vazios da cidade — 4.597 uni-
dades — o que representava 12% de seu total.
É importante lembrar que a contagem do IBGE 
corresponde aos domicílios particulares permanentes 
— casas, apartamentos ou cômodos destinados à mo-
radia — que estavam vagos no momento da pesquisa. 
Inclui, portanto, apartamentos vagos em prédios in-
teiramente ou parcialmente vazios, além de casas e 
cômodos residenciais desocupados. Por isso este nú-
mero não contempla unidades comerciais vazias, anti-
gos hotéis ou galpões abandonados (tipos de imóveis 
que podem ser transformados em habitação social a 
partir de reforma).
Apesar da perda de população e da concentração 
de domicílios vazios, o Centro manteve sua dinâmica 
peculiar, não deixando de ter sua importância, tanto 
habitacional quanto como polo de comércio popular. A 
região continua atendendo a uma demanda de comér-
cio e serviços da população moradora do próprio bair-
ro, dos bairros periféricos e de municípios vizinhos.
O Centro continuou, portanto, concentrando gran-
de parte dos empregos da Região Metropolitana e da 
cidade do Recife. O mapa ao lado mostra a concen-
tração de empregos da capital em relação aos demais 
municípios metropolitanos.
legenda
Figura 10. Mapa — Concentração de empregos na Região 
Metropolitana do Recife. Fonte: CEMPRE, 2006 — Referente a 
pessoal ocupado assalariado (Elaboração própria)
Limite bairros
Limite Municípios
Hidrografia
concentRação de eMpRegos
até 20 mil
de 20,1 mil a 40 mil
de 40,1 a 515 mil
Acima de 500 mil
Figura 11. Tabela — Concentração de empregos na Região 
Metropoliatana do Recife. Fonte: CEMPRE, 2006 — Referente a 
pessoal ocupado assalariado (Elaboração própria)
concentRação de eMpRegos
Município Empregos % em relação à RM de RE
Recife 503.893 68,0%
Jabotatão dos Guararapes 70.306 9,5%
Olinda 61.523 8,3%
Paulista 24.548 3,3%
Cabo de Santo Agostinho 21.548 2,9%
Ipojuca 17.159 2,3%
Igarassu 13.670 1,8%
Camaragibe 7.970 1,1%
Abreu e Lima 7.070 1,0%
Moreno 4.577 0,6%
São Lourenço da Mata 4.443 0,6%
Itapissuma 3.111 0,4%
Ilha de Itamaracá 1.103 0,1%
Araçoiaba 504 0,1%
Os dados sobre domicílios vagos apresentados no 
mapa e na tabela a seguir (figuras 8 e 9), mostram 
que a dinâmica urbana e imobiliária produziu vacân-
cia em várias regiões da cidade. No Centro, os bair-
ros que mais concentraram domicílios vagos, segun-
do o Censo do IBGE de 2000, foram: São José (17%), 
Coelhos (15%), Boa Vista (15%) e Soledade (14%). O 
bairro Ilha do Retiro, no entorno do Centro, também 
apresentou índice alto: 17% de seu estoque imobiliá-
rio estava desocupado em 2000. Juntos, esses bair-
ros somavam 2.246 domicílios vazios, parte dos quais 
poderia ser utilizada para habitação social.
12 MoRadia é centRal Recife 13
Figura 12. Foto aérea do Centro do Recife.Fonte: Prefeitura do Recife (Elaboração própria)
A área central do Recife, com uma extensão ter-
ritorial de 15,2 km2, corresponde à Região Político-
Administrativa 1 (RPA 1), composta pelos bairros: 
Boa Vista, Cabanga, Coelhos, Ilha do Leite, Ilha Jo-
ana Bezerra, Paissandu, Recife, Santo Amaro, Santo 
Antônio, São José e Soledade. Em 2000, residiam na 
área central do Recife 78 mil habitantes, ocupando 
22 mil domicílios.
Dentre as seis Regiões Político-Administrativas, a 
RPA 1 abriga o menor número de habitantes. Sua po-
pulação equivale a apenas 5,5% da população total da 
cidade, enquanto na RPA 6, que abrange os bairros ao 
caRacteRísticas do 
centRo do Recife
sul do município, inclusive Brasília Teimosa, Boa Via-
gem e Pina, a população corresponde a aproximada-
mente 25% do total. As tabelas a seguir trazem os da-
dos socioeconômicos dos moradores do Centro, com 
base no Censo IBGE de 2000. 
O Centro do Recife desempenha um papel im-
portante na dinâmica da cidade e da Região Metro-
politana, nele estão situados as sedes dos governos 
estadual e municipal, secretarias estaduais, órgãos fe-
derais, sede de empresas, bancos e escritórios, além 
de universidades, museus, hospitais, polos industriais 
e centros comerciais.
Bairro Taxa de Alfabetização (1) Total de Domicílios Porcentagem de Mulheres Responsáveis Pelo Domicílio
Recife 72.88 303 48,26
Santo Amaro 86,79 7.785 47,3
Boa Vista 97,35 5.322 51,31
Soledade 98,11 911 53,19
Santo Antônio 90,27 277 37,13
Paissandu 97,98 180 48,81
Ilha do Leite 98,15 303 49,17
Coelhos 79,86 1.868 45,42
Ilha Joana Bezerra 74,5 3.305 40,46
Cabanga 92,67 441 45,58
São José 78,33 2.415 48,1
Brasília Teimosa (RPA 6) 85,45 4.878 39,51
Total 27.988
população gênero (%) faixa etária (%) renda (%)
 Bairro Total Mulheres Homens Ate 24 anos 
Jovens
de 25 a 59 
adultos
60 ou mais 
idosos
Ate 3 SM de 3 
a 5 SM
de 5 
a 10 SM
+ de 
10 SM
Recife 925 50,1 49,9 53,9 40,6 5,4 93,6 4,2 2,3 0,0
Santo Amaro 29.140 54,4 45,6 46,7 42,0 11,3 65,4 9,5 13,0 12,1
Boa Vista 14.033 58,2 41,8 33,7 48,7 17,6 22,7 14,9 28,8 33,6
Soledade 2.201 59,6 40,4 32,8 49,5 17,7 22,3 13,7 27,0 37,0
Santo Antônio 539 48,2 51,8 27,5 50,3 22,3 66,3 13,9 9,4 10,4
Paissandu 531 56,7 43,3 38,2 47,8 13,9 12,4 11,8 32,3 43,5
Ilha do Leite 959 56,6 43,4 36,1 49,5 14,4 25,4 10,9 28,7 35,0
Coelhos 6.826 52,4 47,6 51,1 41,0 7,9 89,2 5,4 3,1 2,3
Ilha Joana Bezerra 12.755 52,0 48,0 58,3 36,2 5,5 93,5 4,5 1,8 0,3
Cabanga 1.536 56,1 43,9 41,3 43,4 15,3 61,5 14,3 14,7 9,5
São José 8.653 51,9 48,1 52,5 39,2 8,3 86,6 7,4 4,8 1,3
Total Área Central 78.098 54,4 45,6 46,8 42,5 10,7 65,50 9,84 12,55 12,11
Brasília Teimosa (RPA 6) 19.155 52,3 47,7 47,9 43,3 8,7 81,1 10,8 6,5 1,6
Total Recife 1.422.905 0,53 46,50 46,2 44,4 9,4 61,4 10,4 12,8 15,4
Figura 13. Tabela — Dados da população moradora do Centro (bairros da RPA 1) e Brasília Teimosa (pertencente à RPA 6).
Fonte: IBGE Censo 2000 (Elaboração própria)
Figura 14. Tabela — Alfabetização, domicílios e gênero nos bairros centrais (RPA 1 e Brasília Teimosa).
Fonte: Prefeitura do Recife (Dados do IBGE, 2000; Elaboração própria).
(1) Taxa de Alfabetização da População de 15 anos e mais
alfabetização, doMicílios e gêneRo nos baiRRos centRais (Rpa 1 e bRasília teiMosa)
dados da população MoRadoRa do centRo (baiRRos da Rpa 1) 
e bRasília teiMosa (peRtencente à Rpa 6)
14 MoRadia é centRal Recife 15
Assim, o Centro é ponto de convergência de mi-
lhares de pessoas em busca de emprego, serviços e 
produtos, além de atividades de cultura e lazer. A pre-
sença desta diversidade econômica (indústria, comér-
cio, serviços etc.) dá ao Centro, hoje, uma importância 
significativa frente às demais regiões da cidade.
Uma excelente rede de infraestrutura cobre a área 
central, permitindo que estas atividades comerciais 
e de serviços se mantenham e se desenvolvam. Um 
conjunto articulado de vias liga o Centro aos demais 
bairros do Recife, muitas utilizadas como corredores 
de transporte urbano. Só no Centro, existem sete des-
tes corredores, incluindo a Avenida Norte, por onde 
circulam 223 linhas de transporte coletivo. A área 
central é atendida também pelo terminal de metrô 
interligado aos municípios de Jaboatão dos Guarara-
pes e Camaragibe, além de uma linha para zona sul 
do Recife, que está sendo ampliada para aumentar a 
capacidade de transporte de passageiros. Os termi-
nais integrados de passageiros promovem o embar-
que intermunicipal para outras cidades da região e 
do estado, complementando esta importante rede de 
transporte de passageiros.
A potencialidade do Centro como lugar da diver-
sidade de usos e da moradia para todas as faixas de 
renda é reforçada pela quantidade expressiva de imó-
veis e domicílios abandonados, desocupados e fecha-
dos, tanto públicos como privados. Os dados do IBGE 
de 2000 para a RPA 1 revelam a existência de 3.361 
domicílios vagos nesta área.
Uma pesquisa realizada pela Prefeitura do Recife 
em 2008 apontou a presença de 253 imóveis priva-
dos abandonados, desocupados ou fechados. Quan-
to aos imóveis públicos, os números são ainda mais 
expressivos, já que na área central há um conjunto 
pertencente à União e que perfaz 145 hectares, parte 
do qual poderia ser utilizado para a construção de 
novas moradias.
Com esta potencialidade e disponibilidade de 
área, o Centro vem assistindo a um gradual processo 
de substituição das suas edificações por empreendi-
mentos imobiliários destinados à população de média 
e alta renda nestas áreas próximas à orla. O capital 
imobiliário avança sobre parcelas significativas deste 
território, conforme evidencia a venda dos galpões da 
REFESA e do Edifício JK para empreendedores priva-
dos. Nesta dinâmica, o Centro que já vem perdendo 
faixas consideráveis de população, pode também per-
der a atual população moradora, devido ao encareci-
mento do custo de moradia e ao efeito transformador 
provocado pelos novos padrões de moradia.
Segundo dados do IBGE, o Centro perdeu em uma 
década (1991–2000) 6% da população moradora, pas-
sando de 83 mil, para 78 mil habitantes. Entretanto, 
para muitas dessas famílias, morar no Centro signifi-
ca estar próximo do trabalho e obter renda, seja nas 
atividades formais ou informais. Além disso, muitas 
das famílias pobres que residem nas comunidades 
não consolidadas ou nos cortiços e palafitas têm aí 
a única possibilidade de moradia, o que reforça a ur-
gente necessidade de promover a habitação popular 
no Centro do Recife.
No intuito de urbanizar, regularizar e garantir a al-
gumas destas famílias, o direito à moradia, o Plano Di-
retor definiu, no interior da RPA 1, quatro Zonas Espe-
ciais de Interesse Social (ZEIS): Coelhos, Coque, Santo 
Amaro e João de Barros. A população total abrangida 
por estas zonas era, em 2000, de 38 mil pessoas, o que 
equivalia a 49% da população total moradora da RPA1. 
Próxima a estas quatro ZEIS foi também delimitada a 
ZEIS Brasília Teimosa, que embora não esteja incluída 
na RPA 1, sofre forte pressão do mercado imobiliário, 
por conta de sua localização estratégica próxima à 
área da REFESA. Outras áreas pertencentes à RPA 1, 
também precárias, não foram delimitadas como ZEIS, 
correndo risco de remoção: a Favela do Rato, localiza-
da no Bairro do Recife; Frei Casemiro; Vila do Papel e 
Vila dos Motoristas, no Bairro de São José; Roque San-
teiro, no Bairro dos Coelhos e Vila Brasil, localizada no 
Bairro de Ilha Joana Bezerra.
Figura 15. Vista da região central. Foto: Gilvan Barreto
Figura 16. Construção abandonada no Centro do Recife.
Foto: Gilvan Barreto
Figura 17. Edifício JK: abandonado há anos, foi recentemente 
vendido a um empreendedor privado. Foto: Gilvan Barreto
Figura 18. Torres residenciais de alto padrão (Pier Maurício de 
Nassau e Pier Duarte Coelho) em construção na orla do Bairro do 
Recife. Ao fundo, vê-se Brasília Teimosa. Foto: Gilvan Barreto
16 MoRadia é centRal Recife 17
Situada em uma área de grande interesse para pro-
moçãoimobiliária, a comunidade Brasília Teimosa está 
localizada entre o bairro de Boa Viagem e o Centro 
tradicional do Recife, oficialmente situada no territó-
rio da RPA 6, e uma Zona Especial de Interesse Social 
— ZEIS (ver Figura 12).
Como o próprio nome indica, Brasília Teimosa é 
fruto de intensa luta popular pelo direito à moradia. 
Surgida em meados dos anos 1950, a comunidade tem 
resistido às pressões do capital que tem tentado in-
corporar o lucro de sua localização estratégica.
A Comunidade está separada fisicamente do nú-
cleo principal do município pela Bacia do Pina, toda-
via o mesmo não se dá com as relações socioespaciais. 
A integração entre a comunidade de Brasília Teimosa 
e o Centro é intensa e também se dá nas propostas 
estratégicas do planejamento municipal. Propostas 
como a criação de uma ponte interligando o Centro 
tradicional do Recife ao território de Brasília Teimosa 
ou como o projeto Recife-Olinda, destaca a área de 
Brasília Teimosa como espaço estratégico para o de-
senvolvimento da cidade.
bRasília teiMosa e 
o centRo do Recife
gente que MoRa e 
tRabalha no centRo
Figura 19 Ambulantes / comércio informal no centro. 
Foto: Prefeitura do Recife
O Centro do Recife continua sendo o lugar do ha-
bitar, do trabalhar, das compras e do lazer. Uma pes-
quisa realizada pela Prefeitura, em 2005, para avaliar 
a opinião dos moradores e trabalhadores, revelou al-
guns de seus traços característicos e permitiu visua-
lizar o perfil de quem mora e trabalha no Centro ou 
freqüenta o Centro por outros motivos. Esta pesqui-
sa abarcou um público bastante variado, com diver-
sidade de renda, gênero, idade e níveis de escolari-
dade. O estrato das pessoas com renda inferior a três 
salários mínimos concentrou 46% dos entrevistados, 
maioria constituída de moradores ou trabalhadores 
dos bairros centrais.
Teme-se que o projeto Recife–Olinda, que interliga 
os centros das duas cidades, e que incorpora o terri-
tório de Brasília Teimosa em sua área de intervenção, 
destitua o direito à moradia das famílias que ali resi-
dem, promova sua expulsão ou impacte na permanên-
cia das mesmas. Portanto, considerar Brasilia Teimosa 
um território do Centro do Recife é estratégico para 
os movimentos sociais e entidades envolvidos no pro-
jeto Moradia é Central.
A proximidade com o Centro possibilita o acesso aos 
serviços, equipamentos e postos de trabalho oferecidos 
nessa área da cidade. Além disso, a pouca distância que 
separa as duas áreas facilita o acesso ao Centro de for-
mas alternativas como de bicicleta ou a pé, barateando 
o custo de deslocamento da população local ao Centro. 
Por tudo isto os movimentos populares da cidade con-
sideram Brasília Teimosa uma parte da área central do 
Recife. Assim, garantir a permanência da população de 
menor poder aquisitivo em Brasília Teimosa e impedir 
processos de especulação, expulsão e encarecimento 
do solo urbano são reivindicações trabalhadas e deba-
tidas no âmbito deste projeto que merecem atenção.
Figura 20. Cena cotidiana do Centro.
Foto: Prefeitura do Recife
Figura 21. Paisagem do bairro da Boa Vista.
Foto: Prefeitura do Recife
Figura 22. Edifícios históricos na Boa Vista.
Foto: Prefeitura do Recife
A faixa de renda familiar de 3 a 6 salários mínimos 
constituiu um terço (33%) dos entrevistados e a de 7 
a 10, cerca de um décimo deles (11%). Na faixa entre 
10 e 20 salários mínimos, a pesquisa abarcou 5,4% 
dos entrevistados e 4,6% na faixa superior a vinte 
salários mínimos.
A diversidade do Centro, com suas atividades vol-
tadas para vários públicos e faixas de renda, transpa-
rece nas respostas dadas sobre hábitos e atividades 
desenvolvidas nos seus bairros. Mais de 90% dos en-
trevistados fazem compras e mais de 80% trabalham 
ou “negociam” no bairro. Do total de entrevistados, 
53% utiliza os bares e restaurantes e 37,4% os cinemas 
e teatros, constituindo o público que comparece ao 
Centro em horários noturnos.
Os equipamentos de saúde foram avaliados 
como bons e ótimos por dois quintos dos entrevis-
tados. Do universo que utiliza os serviços, a metade 
(50,7%) o considerou bom e um quarto (24,8%) o 
avaliou como regular. Parcela pouco significativa fez 
avaliações negativas. 
A avaliação sobre os serviços de saúde ali presta-
dos revelou-se positiva e o resultado foi semelhante 
em relação aos equipamentos de lazer. Também neste 
caso, cerca da metade (48,6%) dos entrevistados ava-
liaram este item positivamente.
Para quase 90% dos entrevistados a facilidade do 
transporte público foi um fator preponderante nas 
avaliações positivas quanto às atividades realizadas 
no Centro. Destes, 60% considerou positiva a acessi-
bilidade ao Centro pelo transporte público oferecido.
Quando perguntados sobre a moradia e trabalho, 
44,2% declarou gostar e desejar permanecer no bairro 
onde mora ou trabalha. 
Este percentual amplia-se vigorosamente na pes-
quisa realizada pela Prefeitura do Recife no bairro da 
Boa Vista, núcleo histórico do Centro, onde há uma 
presença crescente de imóveis vazios e descaracte-
rização provocada pela substituição de usos residen-
ciais para os comerciais em imóveis cedidos ou sim-
plesmente ocupados, acarretando sérios problemas 
de conservação.
O fato de 60% dos imóveis ainda permanecerem 
com uso residencial e da maioria dos moradores en-
trevistados ter nascido, continuar residindo e ainda 
exercer atividades profissionais no próprio bairro, 
pode ser uma das razões da satisfação em residir no 
Centro, apesar do processo de perda de população.
Do total de pessoas entrevistadas, 80% declararam 
que gostam de morar ou trabalhar no Centro pelas se-
guintes razões — estar “perto de tudo”, “existência de 
escola” ou “facilidade do transporte”.
18 MoRadia é centRal Recife 19
Figura 24. Teatro Santa Isabel. Foto: Gilvan Barreto
Figura 25. Paisagem do Centro Antigo. Foto: Gilvan Barreto
Os pontos positivos mencionados para aqueles que 
gostam de morar ou trabalhar no Centro são: o trans-
porte, o comércio, a localização/proximidade do Cen-
tro, a tranquilidade, os serviços de saúde, as opções de 
lazer, as igrejas, a facilidade para compras e o estar no 
“Recife Antigo”. 
Os aspectos negativos: falta de segurança/policia-
mento, falta de estacionamento, presença de prédios 
abandonados, calçadas esburacadas, prostituição, me-
nores de rua, deficiência na iluminação pública, exces-
so de barulho, trânsito e poluição. Pesam para muitos 
destes moradores ou trabalhadores, problemas carac-
terísticos das áreas centrais metropolitanas.
A segurança pública e a limpeza urbana foram os 
dois aspectos que pior avaliação tiveram entre os en-
trevistados, somando 64,5% de avaliações negativas 
no primeiro item e 33,5% no segundo.
Embora os pontos apontados sejam conhecidos, 
é importante ressaltar que há um público interessa-
do em permanecer na área do “antigo Recife”. No 
entanto, cabe ao poder público oferecer à população, 
as possibilidades de acesso à moradia e garantir, nas 
áreas que são as mais disputadas pelo mercado, que 
os núcleos habitacionais em ZEIS sejam atendidos por 
políticas urbanas e habitacionais.
Figura 23. Rua de uso misto no bairro da Boa Vista.
Foto: Prefeitura do Recife
a pRoMoção 
habitacional no 
centRo do Recife
As primeiras iniciativas relacionadas à política de 
promoção habitacional no Recife iniciaram-se na dé-
cada de 1980, com a implantação do Plano de Regu-
larização das Zonas Especiais de Interesse Social (Lei 
Municipal 14.947/87), conhecido como PREZEIS.
Foi um processo pioneiro no Brasil de urbaniza-
ção de favelas com participação de seus moradores. 
Atualmente, são 66 ZEIS demarcadas em todo o mu-
nicípio, representando 12% do território da cidade e 
80% das favelas. Destas, quatro estão na área central 
da cidade (RPA1): Coque, Coelhos, João de Barros e 
Santo Amaro.
O PREZEIS foi uma conquista e contribuiu para um 
avanço nas leis e ações posteriores no campo da habi-
tação social. Movimentos e organizações se legitima-
ram a partir deentão como interlocutores das políti-
cas públicas. Mesmo assim, algumas urbanizações e a 
promoção de moradia no Centro ainda não ocorreram, 
devido às limitações da atuação do poder público.
Desde a extinção do BNH, em 1986, a política 
habitacional foi descentralizada e os municípios, sem 
receita específica para a habitação, passaram a utilizar 
outras fontes de recursos para executar a sua política 
urbana e habitacional. No caso do Recife, muitos finan-
ciamentos foram buscados junto às agências multila-
terais. Entre os programas promovidos desta maneira 
pelo poder público na década de 1990, destacam-se: o 
Programa de Erradicação de Sub-habitação (PROMO-
RAR) e o Habitar Brasil, ambos financiados pelo BID 
— Banco Interamericano de Desenvolvimento.
As intervenções habitacionais no Centro do Reci-
fe foram realizadas no âmbito dos programas PRO-
MORAR (na década de 1980) e Morar no Centro 
(2000–2005) e, atualmente, estão previstas no Pro-
grama de Requalificação de Áreas Urbanas Centrais 
e no Projeto do Complexo Turístico–Cultural Recife 
Olinda, descritos a seguir. 
Para os movimentos sociais e entidades que atuam 
na área, qualquer intervenção urbana e habitacional 
no Centro do Recife deve priorizar as áreas de con-
centração da população pobre (favelas e palafitas), 
que devem ser demarcadas e asseguradas como ZEIS 
(Zonas Especiais de Interesse Social), evitando a ex-
pulsão da população devido à valorização imobiliária 
e à atuação do mercado. Para a produção de novas 
unidades habitacionais devem ser utilizados prédios e 
terrenos, públicos e privados, que se encontram hoje 
abandonados na área central.
20 MoRadia é centRal Recife 21
Figura 27. Perímetros de Reabilitação no Centro do Recife.
Foto: Prefeitura do Recife
Figura 28. Maquete eletrônica do calçadão na Ilha do Recife após 
intervenções. Foto: Prefeitura do Recife
PROMORAR. O PROMORAR teve como objetivo 
promover a urbanização de favelas no Centro, com 
foco em Coque e Coelhos (na RPA 1) e em Brasília Tei-
mosa (na RPA 6) — áreas que historicamente sofreram 
pressões para a remoção de sua população. Apesar 
das ações de urbanização dessas áreas, o programa 
foi uma ação pontual de habitação no Centro e a área 
do Coque permaneceu urbanisticamente segregada. 
Além disso, os benefícios trazidos pelo programa à 
população pobre dependem hoje da demarcação e 
manutenção dessas áreas como ZEIS.
Morar no Centro. Em 2000, foi lançado o projeto 
Morar no Centro pela Prefeitura, com foco nos bairros 
do Recife e da Boa Vista. Foram levantados imóveis, 
resultando em 60 estudos para reforma pelo Pro-
grama de Arrendamento Residencial (PAR) da Caixa 
Econômica Federal. No entanto, a única experiência 
concreta foi a adequação do Edifício São José. Essa 
experiência, realizada no âmbito do PAR, atendeu 
apenas famílias com renda superior a três salários mí-
nimos, excluindo as de mais baixa renda.
Programa de Requalificação de Áreas Urbanas 
Centrais. Em 2005, no âmbito do Programa de Requa-
lificação de Áreas Urbanas Centrais, do Ministério das 
Cidades, a Prefeitura delimitou 11 perímetros de reabi-
litação integrada (PRIs) no Centro: São José (leste e 
oeste), Guararapes, Boa Vista, Ilha do Leite, Eixo da Av. 
Conde da Boa Vista, Soledade Unicap, Soledade Aga-
menon, Santo Amaro, bairro do Recife e Imperial.
No momento está em fase de projeto a requalifica-
ção de um setor da Rua Imperial, onde está previsto o 
re-assentamento inicial de 1050 famílias moradoras de 
palafitas das comunidades de Vila Brasil e Coelhos, às 
margens do Capibaribe. Destas, 200 unidades serão 
produzidas através da requalificação de imóveis aban-
donados, em processo de aquisição pela municipali-
dade. O objetivo é reassentar as famílias em situação 
de risco na própria área, e promover a recuperação 
ambiental da orla do rio.
Projeto do Complexo Turístico-Cultural Recife 
Olinda. Entre 2005 e 2007, as prefeituras de Recife 
e Olinda, o Governo do Estado e o Ministério das Ci-
dades elaboraram o “Projeto do Complexo Turístico-
Cultural Recife Olinda”; com o objetivo de reabilitar 
áreas pertencentes à União e remanescentes da ativi-
dade portuária e ferroviária. O Projeto prevê 1,5 milhão 
de m2 de novas construções, dos quais cerca de 10% 
destinados à habitação, comércio e serviço. De 7.692 
novas unidades habitacionais propostas, 1.824 (23,7%) 
serão destinadas ao mercado popular.
Figura 26. Favela na área central do Recife. Foto: Gilvan Barreto
Diante da realidade enfrentada pelas milhares de 
famílias que não têm moradia adequada nem acesso a 
financiamentos e em face da falta de recursos e de po-
líticas de produção de moradia popular, principalmen-
te em áreas centrais, muitos movimentos urbanos de 
luta por moradia — no Recife e em outras cidades do 
Brasil — reafirmam o debate sobre a moradia digna e a 
reforma urbana, além de evidenciarem a urgência com 
que devem ser implementadas ações nesse sentido.
A luta pelo direito de ocupar o espaço central do 
Recife como local de residência para as famílias de 
menor renda está apenas começando e o movimento 
de moradia é a vanguarda nesta luta. O debate sobre 
a questão da moradia tem ocupado espaço de desta-
que tanto para os movimentos sociais quanto para as 
diferentes esferas governamentais.
As intervenções do Poder Público nos últimos anos 
demonstram como a luta pela moradia no Centro já 
faz parte de uma agenda que tem se mostrado cada 
vez mais intensa. A articulação de programas de rea-
bilitação e habitação e a aplicação dos instrumentos 
do Estatuto da Cidade já promulgados são algumas 
das possibilidades de enfrentamento da problemáti-
ca. Três temas que ganham evidência são: a conso-
lidação das ocupações na área central, a criação de 
novas ZEIS e a garantia do título de propriedade aos 
integrantes das comunidades, da forma como foi ado-
tada em Brasília Teimosa, um dos ícones da luta pela 
urbanização e que hoje é alvo constante das pressões 
do mercado imobiliário.
Em relação ao Projeto Recife-Olinda, é preciso ga-
rantir que as propostas atendam à população de renda 
baixa da região central e que as ações promovidas não 
provoquem uma expulsão dos moradores das áreas 
contempladas pelo projeto.
Há muitos desafios a serem enfrentados por todos 
os agentes interessados em desenvolver uma política 
de acesso à terra e à moradia digna para a população 
de baixa renda em áreas centrais. Destacamos alguns 
entraves burocráticos para acesso aos financiamen-
tos pelas famílias de menor poder aquisitivo: a falta 
de subsídios; o alto custo das adequações e reformas 
habitacionais; a falta de controle do uso e ocupação 
do solo e da especulação imobiliária. A especulação 
imobiliária é um grande impeditivo à efetivação de 
uma política habitacional no Centro uma vez que os 
proprietários de imóveis vazios e desocupados não 
são punidos pelo não cumprimento da função social 
e quando seus imóveis são adquiridos para produção 
pública são avaliados por seu suposto valor de mer-
cado, encarecendo o custo final da unidade e incenti-
vando a especulação.
No caso dos imóveis de interesse do patrimônio cul-
tural, o elevado custo de reabilitação se deve, dentre ou-
tros motivos, pela falta de mão-de-obra especializada, 
que onera o valor da adequação dos imóveis para estas 
famílias. No caso dos imóveis vazios e subutilizados que 
não cumprem uma função social, a prefeitura deveria in-
duzir ao uso por meio da aplicação do IPTU progressivo, 
porém ainda não houve ações neste sentido.
Enquanto isso o capital imobiliário avança sobre 
grande parcela do território central recifense, deixando 
cada vez menos espaço para geração de oportunida-
des habitacionais populares. Tal avanço busca conso-
lidar o Centro como um espaço da classe média, pro-
duzindo imóveis destinados a este segmento. A venda 
do edifício JK, dos terrenos da REFESA e a construção 
dos edifícios Píer Maurício de Nassau e Píer Duarte Co-
elho (popularmente chamados de “Torres Sandy e Ju-
nior”) são exemplosclaros desta tendência.
No caso do Edifício JK, de propriedade do INSS e 
leiloado por 2,3 milhões de reais, foram divulgadas in-
formações de que será instalada ali uma faculdade par-
ticular, reforçando, assim, a realização de empreendi-
mentos que não atendem à população de menor renda. 
A venda de parte dos terrenos da REFESA, por 
55,4 milhões de reais, para um consórcio composto 
por diferentes empresas do Recife, representa uma 
grande perda para a luta por habitação na área central 
da cidade, pois houve privatização de uma área que 
deveria servir ao interesse coletivo.
Enquanto não se promovem novas oportunidades 
de habitação popular, crescem as ocupações irregulares 
e a precariedade habitacional da maioria da população, 
em favelas, palafitas e cortiços. No Centro do Recife, 
há uma grande concentração de cortiços que atendem 
à demanda específica e considerável de quem precisa 
estar no Centro por questão de sobrevivência.
A permanência da população de menor poder aqui-
sitivo na área central da cidade deve ser garantida pela 
implementação das políticas urbanas e habitacionais, 
assegurando a proximidade aos locais de trabalho e a 
manutenção dos laços afetivos e culturais.
Para representantes dos movimentos que lutam por 
habitação, a ocupação dos imóveis vazios e subutiliza-
dos no Centro é uma estratégia de luta pela produção 
de habitação social. A falta de determinados serviços e 
a inadequação dos imóveis, nas áreas de favelas e pa-
lafitas, são outras questões que necessitam de solução 
para a garantia do direito à moradia no Centro.
Por fim, é preciso criar novas oportunidades de habi-
tação de interesse social na área central do Recife, além 
de garantir a permanência daquelas comunidades que 
já se encontram na região, afinal, moradia é central.
desafios no Recife
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projeto “Moradia é central — 
inclusão, acesso e direito à cidade”
Coordenação
Instituto Pólis
Apoio
OXFAM GB
Parceiros Nacionais
FASE
CEARAH Periferia
HABITAT para a Humanidade
Fórum Nacional da Reforma Urbana
Parceiros em Recife
FERU — Forum Estadual de Reforma Urbana
Observatório de Políticas Públicas — PE
Apoio em Recife
Prefeitura Municipal do Recife
publicação “Moradia é central — Recife”
Coordenação e Organização 
Margareth Matiko Uemura, Isadora Tami Lemos Tsukumo, 
Natasha Mincoff Menegon, Sidney Piochi
Elaboração do texto base 
Ailson Barbosa (Observatório de Políticas Públicas PE)
Colaboração 
Socorro Leite (Habitat), Lívia Miranda (UFPE / FASE) Noé Sérgio e 
Patrícia Antonino (Prefeitura do Recife).
Revisão 
Marilia Akamine Risi
Identidade e programação visual 
Imageria Estúdio
Produção de mapas 
Renato Augusto Dias Machado
Fotos 
Gilvan Barreto e Prefeitura do Recife

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