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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE reitor Angelo Roberto Antoniolli vice-reitora Iara Maria Campelo Lima EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE coordenador do programa editorial Péricles Morais de Andrade Júnior coordenadora gráfica Germana Gonçalves de Araújo conselho editorial Antônio Martins de Oliveira Junior Aurélia Santos Faroni Fabiana Oliveira da Silva Luís Américo Silva Bonfim Luisa Helena Albertini Pádula Trombeta Mackely Ribeiro Borges Maria Leônia Garcia Costa Carvalho Martha Suzana Nunes Péricles Morais de Andrade Júnior (Presidente) Rodrigo Dornelas do Carmo Samuel Barros de Medeiros Albuquerque Sueli Maria da Silva Pereira Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos CEP 49.100 - 000 – São Cristóvão - SE. Telefone: 2105 - 6922/6923. e-mail: editora@ufs.br www.editora.ufs.br Este livro, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita da Editora. Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009. projeto gráfico e editoração eletrônica Jeane de Santana capa Aparecida Souza dos Santos ilustrações (capa e miolo) Cleber Tintiliano revisão ortográfica Alessandra Oliveira Monteiro e Cledivaldo Pereira Pinto FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE F814v França, Sarah Lúcia Alves Vetores de expansão urbana : Estado e mercado na produção da habitação em Aracaju-SE [recurso eletrônico] / Sarah Lúcia Alves França. – São Cristóvão, SE : Editora UFS, 2019. 207 p. : il. ISBN 978-85-7822-641-1 1. Urbanização – Aracaju (SE). 2. Política habitacional – Aracaju (SE). 3. Crescimento Urbano -– Aracaju (SE). 4. Mercado imobiliário. 5. Estado. I. Título. CDU 711.4(813.7) São Cristóvão | SE/2019 A todos que amam, sonham, lutam e defendem uma Ara- caju mais justa, igualitária e democrática, com espaços de qualidade para todos. Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 5 PREFÁCIO Dentre as valiosas contribuições do livro de Sarah Lú- cia Alves França para o campo dos estudos urbanos, ao conduzir sua análise para a cidade de Aracaju, em Ser- gipe, se encontra o aprofundamento da sua pesquisa de base empírica e seus resultados, que alargam a com- preensão sobre as cidades brasileiras, que distintas sob vários aspectos, em muito se assemelham, quando são focalizados os processos de produção capitalista do es- paço e a atuação coordenada do mercado imobiliário e do Estado. Ao se orientar para uma cidade específica, a autora se apóia em autores como Roberto Lobato Correa, David Harvey, Milton Santos, Martim Smolka, Flávio Villaça, Ermínia Maricato e Samuel Jaramillo, que permitem explorar aquilo que é naturalizado na produção habi- tacional de cidades brasileiras: quanto menor a renda dos moradores, mais distantes ficarão os empreendi- mentos habitacionais dos centros e dos benefícios da urbanização. Os compromissos teóricos com autores, que entendem o espaço produzido e as desigualdades espaciais como o resultado direto de desigualdades so- ciais e de práticas acertadas entre os principais agentes na cidade, são a chave que lhe forneceu coerência, que a acompanhou em seu estudo e que a levou a procurar respostas no extenso material empírico. A banalização da atuação coordenada do mercado imobiliário e do estado é desvendada aqui pela au- tora que nos mostra como se deu essa aliança no caso de Aracaju, quais os seus produtos – condomí- nios verticais e horizontais, loteamentos fechados, conjuntos e programas habitacionais – os processos desencadeados – valorização da terra e de bairros, verticalização, adensamento, dispersão – e, ainda, de que forma e em que medida esses foram alavancados especialmente pelo estado, no nível local ou até no nível federal, através de normas urbanísticas permissi- vas ou não regulamentadas, medidas de proteção tar- dias, intervenções urbanas, grandes obras, ampliação do sistema viário e de serviços de infraestrutura, assim como, incentivos ao crédito imobiliário. A partir de uma metodologia cuidadosa, a autora gra- dualmente caminhou em seu objetivo de analisar a formação dos vetores de adensamento e expansão ur- bana em Aracaju, contemplando a produção habitacio- nal gerada pelo mercado imobiliário e pelo Estado. Seu recorte temporal observou os períodos antes e após a promulgação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju em 2000, isto é, de 1960 a 1999 e de 2000 a 2014, este último quando se tornou mais inten- sa a atuação conjunta do mercado com o Estado. A pesquisa de base empírica se assentou numa ampla coleta de dados nos órgãos públicos, referentes aos empreendimentos imobiliários e às intervenções do Estado, que deram lugar a tabelas e possibilitaram a construção de um rico material cartográfico , que per- mitiu espacializar a dinâmica do adensamento e da expansão urbana em Aracaju. A cartografia produzi- da, de autoria própria, que culminou na formação dos vetores de expansão e adensamento, é um dos gran- des aportes da autora para o conhecimento dos pro- cessos vivenciados na cidade de Aracaju e certamente servirá de referência e de ponto de partida para ou- tros estudiosos. Por fim, a publicação do livro de Sarah Lúcia Alves França concorre para o campo dos estudos urbanos ao lançar sobre a cidade de Aracaju um olhar que busca na cidade concreta, caminhos para cidades me- lhores e mais justas. Ela mesma nos indica, como uma missão que se repete na sua família de pesquisadores, ser essa a intenção subjacente que guiou a atividade da pesquisa original. Que esta contribuição tenha o alcance que merece, encantando uma diversidade de pesquisadores e estudiosos da temática da produção contemporânea do espaço em cidades brasileiras. Vera F. Rezende Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense e Pesquisadora CNPq com Bolsa de Produ- tividade em Pesquisa SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 MERCADO E ESTADO COMO AGENTES: PRODUÇÃO HABITACIONAL E INTERVENÇÕES URBANAS EM ARACAJU (1960-1999) 12 Aracaju: breve abordagem sobre a urbanização da capital 12 Estado: legislação urbanística e políticas habitacionais 15 Regulações urbanísticas e seus reflexos espaciais 15 Políticas habitacionais 21 Mercado imobiliário e condomínios fechados 32 Condomínios verticais e modernização da indústria da construção civil 32 Condomínios horizontais e loteamentos Fechados: difusão dos conceitos da casa “segura”, confortável e exclusiva 43 Vetores de adensamento e de expansão urbana antes do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano 49 ESTADO COMO AGENTE: LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA, POLÍTICAS HABITACIONAIS E DE INFRAESTRUTURA EM ARACAJU (2000-2014) 64 Planejamento e regulação urbanísticos 64 Políticas habitacionais e a participação do mercado 75 Programas habitacionais da gestão municipal e estadual 75 Programa de Arrendamento Residencial (PAR) 79 Programa Mınha Casa Mınha Vıda (PMCMV) 83 Produção habitacional de interesse social periférica e déficit de moradias88 MERCADO IMOBILIÁRIO COMO AGENTE: PRODUTOS HABITACIONAIS FECHADOS EM ARACAJU (2000-2014) 92 Mercado imobiliário e formas de enclausuramento da moradia contemporânea 92 Condomínios verticais: estratégias de multiplicação da terra 93 CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3 Novos conceitos de moradia enclausurada: condomínios horizontais e loteamentos fechados 112 Estratégias da apropriação do espaço pelo mercado imobiliário 125 VETORES DE ADENSAMENTO E DE EXPANSÃO URBANA DE ARACAJU: FATORES EXPLICATIVOS (2000-2014) 131 Vetores de adensamento e de expansão urbana de Aracaju: Estado e mercado imobiliário na formação e consolidação da cidade 131 Razões e componentes na formação e consolidação dos vetores de adensamento e de expansão urbana 163 Vetor de adensamento 1 e a concentração da verticalização: 13 de Julho, Jardins, Grageru e Luzia 163 Vetores de adensamento 2: Inácio Barbosa, Farolândia, Coroa do Meio e Atalaia 173 Vetores expansão 1: apropriação dos bairros da zona norte 184 Vetores de expansão 2 e a ocorrência de conflitos ambientais: Jabotiana, ZEU e Santa Maria 190 REFLEXÕES FINAIS 201 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 205 SOBRE A AUTORA 208 CAPÍTULO 4 8 INTRODUÇÃO Capitais como Aracaju e outras cidades de porte médio têm vivenciado a expansão urbana no Brasil. O urbano se fragmenta em diversas direções, intercalando ocupação e vazios, guardados pela especulação imobiliária, forman- do espaços cada vez mais polinucleados e segregados, além de criar novas dinâmicas espaciais, novos modos de vida e alterar paisagens (VILLAÇA, 2001; REIS, 2006). Esta pesquisa parte do pressuposto que a produção do espaço capitalista é resultante da múltipla e simultânea ação dos agentes: Estado, empresários e proprietários fundiários, na lógica da apropriação do solo urbano, estruturação de novas formas espaciais e disputa pelo controle da terra com melhor localização, em função de regras de valorização (HARVEY, 1980; CORREA, 1999). A terra se constitui em mercadoria e passa a ter valor di- ferenciado de acordo com sua localização (oferta de in- fraestrutura e serviços públicos), presença de elementos ambientais e de intervenções. A legislação, que incide sobre determinadas áreas e pode ser mais ou menos res- tritiva para a ocupação, também interfere na construção do espaço (HARVEY, 1980; MARICATO, 2011). Diante disso, os proprietários fundiários intervêm nas transformações espaciais, beneficiando-se de ações e intervenções de outros agentes, como o Estado. Uma estratégia é o congelamento de áreas agriculturáveis, não contíguas ao tecido urbano, deixando-as vazias à espera de intervenções públicas, como a transforma- ção do uso da terra rural para urbana através de alte- ração da legislação urbanística (CORREA, 1999). Outra operação para valorização fundiária é apropriar-se de vantagens dos investimentos públicos, como implan- tação de infraestrutura e serviços, agregando assim, o máximo de lucro sobre a terra urbana transformada em mercadoria. O simples fato de ter a propriedade proporciona a renda da terra (JARAMILLO, 2011). O Estado é agente fundamental, por sua complexa e múltipla atuação, podendo ser consumidor, provedor, construtor, regulador e proprietário fundiário, tendo suas interferências (obras e normas) como uma das maiores contribuições para a expansão urbana. Por ve- zes, opera, contraditoriamente, acirrando as desigual- dades sociais, quando‘provocador’ da atuação dos pro- motores imobiliários, validando interesses privados, quando estimula, através de recursos públicos, prove- nientes de pagamento de impostos de toda sociedade, que a apropriação da mais-valia fundiária1 seja direcio- nada para a indústria imobiliária (CORREA, 1999). Por não proporcionar a todos os cidadãos o direito à cidade, assegurado pelo Estatuto da Cidade, o Estado tem cooperado para hierarquização do espaço e es- cassez de terras urbanizadas, aprofundando as desi- gualdades sociais. Os altos valores da terra tornam-se inacessíveis para grande parte dos brasileiros, soman- do-se à dificuldade de acesso ao crédito de financia- mento imobiliário, impedindo a conquista da moradia própria pelas famílias de baixa renda. 1 O termo mais-valia fundiária(SMOLKA; FURTADO, 2001) re- presenta o ganho de renda fundiária excedente, isto é, o sobrelucro. Entende-se que “a recuperação de parcelas desse valor é a de que, ao contrário do ‘valor original’ (preço de aqui- sição) que foi pago pelo proprietário, o incremento de valor da terra, ou parte dele, é recebido de forma gratuita por ele, sendo alheio ao seu esforço” (FURTADO, 2004, p.58). É o lucro que produz a renda da terra, que se institui a partir da localiza- ção do empreendimento. Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 9 8 Por sua vez, o setor imobiliário apropria-se da capacidade de estruturar o espaço conforme seus interesses, aten- dendo a uma lógica de produção e de transformação dos usos do solo. Uma das suas táticas é buscar junto aos governos locais condições para a viabilização de seus pro- dutos. Esse setor costuma demandar uma reordenação da infraestrutura à medida que aguarda que suas glebas recebam a implantação de serviços públicos e de acessibi- lidade pelo Estado. As terras que recebem investimentos públicos provenientes da coletividade tiveram seus valo- res elevados sem custos para o mercado fundiário (COR- REA, 1999; HARVEY, 1980; JARAMILLO, 2011). O setor imobiliário tem provocado sérios entraves e conflitos nos âmbitos social, urbano e ambiental. Os ri- cos se refugiam em novos fragmentos, dotados de uma gama de equipamentos e serviços voltados para o con- sumo de luxo. Aliás, eles escolhem a localização e di- reção do crescimento de seus bairros (VILLAÇA, 2001). Contudo, de acordo Harvey (1980), Lefebvre (2008) e Correa (1999), a cidade capitalista é o lugar da mate- rialização social e do desempenho de todos os agen- tes que podem se beneficiar com a expansão urbana, resultando no acirramento da desigualdade social e da pobreza, entre outros problemas. Em Aracaju, os processos de crescimento, adensa- mento e expansão foram fruto da combinada ação governamental, com implantação de políticas e projetos, financiados pelos órgãos federais e orga- nizações internacionais, e, também, decorrentes da intervenção do mercado da construção civil, que, com suas estratégias de marketing, enfatizam loca- lização e segurança como fatores-chave da escolha pelos empreendimentos. Aracaju, situada no Nordeste do Brasil, abriga 641.523 habitantes (estimativa IBGE, 2016), em uma área de 182 Km2 que ocupa 0,79% do território sergipano. Se- melhante à maioria das cidades brasileiras, a capital do Estado de Sergipe tem vivenciado essa produção capitalista do espaço urbano em função da lógica dos interesses econômicos, conduzidos pelos agentes sociais, sobretudo promotores imobiliários e Estado, membros da elite patrimonialista. Esse cenário direcionou o adensamento e a expansão urbana, fruto da atuação do poder público, com in- tervenções e legislação e, por outrolado, de âmbito privado que, aproveitando-se dos investimentos do governo, embolsaram lucros da venda de produtos imobiliários, em terrenos com reduzido valor de troca. Nos últimos anos, destacou-se uma das estratégias do mercado, associada à monopolização da terra, sem- pre conduzida pelas construtoras de maior porte, que definiram as áreas previamente apropriadas, atraídas pelas amenidades ambientais, que propiciaram a im- plantação de grandes empreendimentos residenciais, com um custo mais baixo (FRANÇA, 2011). Após a promulgação do Plano Diretor de Desenvolvi- mento Urbano (PDDU), em 2000, uma variedade de novos empreendimentos foram lançados, cuja loca- lização foi fator determinante. Somando-se a isso, o reforço das intervenções públicas, sobretudo proje- tos habitacionais, de infraestrutura e sistema viário, e a consequente valorização imobiliária, foram fatores consideráveis de transformação da configuração es- pacial. Nesse período, a crescente ampliação no nú- mero de empreendimentos imobiliários, ativada pelo aquecimento da construção civil no país, sobretudo com o incentivo ao crédito imobiliário, contribuiu na busca por novas áreas de consumo de terras. Multiplicou-se o número de construtoras e desenvol- veram-se parcerias entre as construtoras locais e nacio- nais, ampliando os segmentos de atuação do mercado: popular, econômico e de luxo. Em função disso, algu- 10 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE mas construtoras locais de grande porte abriram novos nichos de mercado, voltados para uma faixa de renda menor, trabalhando também com opções econômicas. O estabelecimento dos vetores2 de expansão mar- cou a descontinuidade da malha urbana de Aracaju, substituindo grandes vazios urbanos por conjuntos habitacionais e condomínios fechados, necessitando do controle da ocupação pelo poder público em áreas sem infraestrutura adequada. A análise da produção capitalista do espaço urbano com a formação dos vetores de adensamento e ex- pansão urbana de Aracaju, capital do Estado de Ser- gipe, é o fio condutor desta publicação. Assim, foi questionado se os vetores de crescimento esboçados no final dos anos 1990, antes da aprovação do Plano Diretor, mantiveram-se ou surgiram novos. Em conti- nuidade, foram indagados se surgiram novos fatores para sua formação ou a consolidação dos antigos ve- tores. Com base nisso, o objetivo geral desta pesquisa 2 É importante definir o significado da palavra Vetor como si- nônimo de “eixo”, ao referir-se as direções e dinâmicas do crescimento urbano de Aracaju. De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa vetor significa segmento de reta orien- tado, relacionado à Física e à Matemática. é analisar os vetores de adensamento e de expansão urbana em Aracaju, a partir da produção habitacional, em função da atuação do mercado imobiliário e do Estado, num recorte temporal de 2000 a 2014. Para efetivação deste estudo, foi realizado um levan- tamento de informações acerca das dinâmicas de produção urbana e da atuação do Estado e do mer- cado imobiliário em Aracaju de 1960 a 1999 e de 2000 a 2014. Num primeiro momento, foram coletados dados nos Alvarás de Licenciamento de Empreendi- mentos Multifamiliares, expedidos pela Empresa Mu- nicipal de Obras e Urbanização (EMURB) da Prefeitura Municipal de Aracaju, emitidos a partir de 2000 até o final de 2014, para que se obtivessem informações qualitativas e quantitativas relevantes, como nome do empreendimento, bairro, número de unidades ha- bitacionais e de blocos, área da unidade residencial, dentre outras. Também foram coletadas informações em jornais e empresas de corretagem de imóveis, além de realização de entrevistas com estudiosos, en- genheiros, corretores, arquitetos e empresários. Num segundo momento, foi necessário resgatar in- formações referentes aos empreendimentos imobiliá- rios construídos antes de 2000. Entretanto, diante da impossibilidade em acessar esses Alvarás de Licencia- mento, optou-se pelo cruzamento dos dados de Diniz (2003) e Maia (2004), que estudaram a verticalização em Aracaju. A inexistência de outros elementos rele- vantes, como o ano de construção de muitos empreen- dimentos, gerou a necessidade de associar entrevistas com estudiosos3 para completar lacunas. Quanto aos condomínios horizontais e loteamentos fechados, entrevistas, visitas em campo e a pesquisa de França (2011) auxiliaram no recolhimento das informações. Assim, os resultados da coleta de todas essas informa- ções formaram um banco de dados e foram apresen- tados ao longo deste documento por meio de tabelas e figuras, que possibilitaram uma série de análises, apoiadas com a elaboração de gráficos e mapas. Todos os empreendimentos foram localizados com a ajuda do site wikimapia e do software Google Earth. Em seguida, convertidos para o Sistema de Informações Georreferenciadas, utilizando o software ArchGis para 3 Entrevista com a Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Alves França, geógrafa e professora aposentada do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). 10 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 11 elaborar as diversas cartografias (apresentadasem vá- rias escalas: municipal/urbano e por bairros/área) que serviram de instrumento para analisar a espacializa- ção da produção habitacional e o direcionamento dos vetores de adensamento e de expansão da cidade. Ainda foi dada ênfase à realização do levantamento de informações referentes às legislações, programas e projetos realizados pela Prefeitura Municipal e Gover- no do Estado. Relatórios dos órgãos públicos e priva- dos, como a Associação dos Dirigentes das Empresas do Mercado Imobiliário (ADEMI) e construtoras, ma- terial iconográfico e cartográfico, assim como jornais e revistas, também foram utilizados, sendo possível efetivar uma série de observações que contribuíram para responder às questões de pesquisa. Outros instrumentos utilizados foram as ortofotocar- tas e asimagens de satélites de diversos anos, usadas nas comparações dos vetores de adensamento e de expansão, doadas pela Secretaria Municipal de Plane- jamento, Orçamento e Gestão de Aracaju (SEPLOG). Este livro, fruto da tese de doutoramento, apresen- tada e aprovada no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Flu- minense, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Vera F. Rezende, está estruturado em quatro capítulos, organizados para melhor leitura e explicação da problemática. O entendimento da produção capitalista do espaço urbano em Aracaju nos anos anteriores a 2000, foi abordado no Capítulo 1, denominado de Mercado e Estado como Agentes: Produção Habitacional e Inter- venções Urbanas em Aracaju (1960-1999). A descrição da urbanização descontínua em Aracaju, por meio da atuação desses dois agentes, foi realizada de acordo com a sucessão dos fatos que desencadearam a ocu- pação de determinados bairros. O capítulo está dividi- do em três partes, sendo as duas primeiras, com enfo- que para a atuação de cada agente e suas formas de apropriação do espaço, apontando, no último item, o direcionamento do crescimento e da expansão urba- na, no período estudado. No Capítulo 2, cujo título é Estado como Agente: Le- gislação Urbanística, Políticas Habitacionais e de In- fraestrutura em Aracaju (2000-2014), o destaque foi a atuação governamental, como agente importante na produção urbana. A primeira parte traz a legislação urbanística, com suas diretrizes e instrumentos que direcionam a expansão urbana para determinados bairros, privilegiando interesses privados. Na segun- da, foi analisadaa inserção dos conjuntos habitacio- nais, apontando sua importância para o crescimento disperso e abrindo frentes de expansão. Mercado Imobiliário como Agente e seus Produtos Ha- bitacionais Fechados em Aracaju (2000-2014) corres- ponde ao Capítulo 3, que apresenta a inserção dos produtos imobiliários contemporâneos no tecido ur- bano, observando especificidades de cada tipologia, bem como estratégias de apropriação do espaço e de reprodução do capital imobiliário. No Capítulo 4, Vetores de Adensamento e de Expansão Urbana de Aracaju: Fatores Explicativos, foramaponta- dos os vetores de adensamento e expansão urbana no período de 2000 a 2014, sendo aprofundada a atua- ção do Estado e do mercado, analisando fatores para formação e consolidação de vetores. As informações apresentadas nos Capítulos 1,2 e 3 foram de extrema importância para a explicação da questão principal. Por fim, foram apresentadas Reflexões Finais que recu- peraram e articularam as discussões centrais desen- volvidas nos capítulos anteriores, buscando-se ante- ver os desdobramentos da pesquisa. Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 12 CAPÍTULO 1 MERCADO E ESTADO COMO AGENTES: PRODUÇÃO HABITACIONAL E INTERVENÇÕES URBANAS EM ARACAJU: (1960-1999) Nos últimos 50 anos, o crescimento das cidades bra- sileiras ocorreu, principalmente, com a migração do campo, em função da modernização da agricultura e pela ampliação da oferta de empregos, no período pós-guerra. Aracaju não ficou de fora, sendo marcada pela intensificação da urbanização, que agravou o pa- norama habitacional e a desigualdade social Neste capítulo, a análise do crescimento urbano, entre 1960 e 1999 apontou fatores que desencadearam o direcionamento de vetores de adensamento e de ex- pansão urbana. Buscaram-se traçar o cenário do cres- cimento urbano em Aracaju, suas dinâmicas e agen- tes, com foco no Estado e no mercado imobiliário. 1.1 Aracaju: breve abordagem sobre a urbanização da capital Ao longo dos anos, a participação de Aracaju no conjunto da população sergipana tem aumentado progressivamente. Em 1872, o primeiro Censo Demo- gráfico realizado no Brasil apontou 9.559 habitantes na capital sergipana, o que correspondia a 5,42% da população estadual (Tabela 1). Tabela 1: Sergipe e Aracaju, Evolução da População, 1872-2000 ANOS SERGIPE (HAB.) ARACAJU (HAB.) PARTICIPAÇÃO EM SERGIPE % 1872 176.243 9.559 5,42 1960 760.373 115.713 15,22 1970 911.251 186.838 20,50 1980 1.156.642 299.422 25,89 1991 1.491.867 401.676 26,92 2000 1.874.475 461.534 25,88 Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2010. 13 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE No período dos anos de 1960 a 2000, o crescimento demográfico foi intenso, tendo em vista a urbaniza- ção a que o país foi submetido, ocorrendo situação se- melhante em todas as capitais dos estados brasileiros. Na década de 1960, foram registrados 115.713 habi- tantes, significando 15,22% da população sergipana, enquanto, em 2000, havia 461.534 habitantes, corres- pondendo a 25,88% do total. Assim, observa-se que, num período de quarenta anos, a população apresen- tou uma variação de 298,86%, enquanto a sergipana cresceu apenas 138,63%. A descoberta de petróleo em Sergipe, em 1963, e a posterior chegada da Petrobras em Carmópolis (em 1964), a 47km de Aracaju, é de grande importância na construção do espaço urbano da capital (RIBEIRO, 1989). A fim de garantir o escoamento da produção, foi construído o Terminal Marítimo de Carmópolis (TE- CARMO) em 1967, na Zona de Expansão Urbana, se constituindo em outro ponto de valorização da terra na parte sul. Posteriormente, em 1970, a transferência da sede ad- ministrativa da Região de Produção de Petróleo do Nordeste (RPNE) de Maceió para Aracaju, acelerou o processo de evolução urbana, sobretudo em decor- rência das notícias em jornais da época que demons- traram a chegada de “progresso” para uma região: “do chapéu de couro de há séculos para o capacete de alumínio”(LOUREIRO, 1983, p.71). Isso trouxe novas perspectivas para a economia estadual, acarretando o aumento da oferta de empregos, atraindo população de outros municípios para a capital em busca por me- lhores salários e condições de vida. Com essas transformações na economia sergipana, o espaço urbano aracajuano sofreu alterações. A popu- lação se concentrou, em sua maioria, na área central, sobretudo nos bairros situados às margens do Rio Sergipe, como Industrial, Santo Antônio, Centro e São José, chegando até o Salgado Filho, onde já se encon- travam alguns poucos prédios verticais (DINIZ, 2005). Na porção oeste, o tecido urbano já estava consoli- dado até os bairros Santos Dumont, José Conrado de Araújo, América e, mais ao sul, no Pereira Lobo. Entre esses, havia grandes glebas vazias que, hoje, corres- pondem à parte dos bairros Cirurgia, Getúlio Vargas e Suíça (Figura 1). 13 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 14 15 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 15 A partir dessa década, importantes intervenções con- tribuíram para expansão da capital. Loureiro (1983) res- salta que o período de 1964 a 1984 correspondeu ao “marco da nova e revigorada onda de intervenção do Es- tado sobre a cidade” (p.71), quando o capital imobiliário somou-se ao poder público para fragmentar áreas pe- riféricas e àquelas em direção aos municípios vizinhos. Diante disso, fez-se relevante relacionar o Estado, res- ponsável pela promoção de conjuntos e loteamentos habitacionais implantados até o fim da década de 1990, à iniciativa privada e seus empreendimentos fe- chados, porque, juntos, estes agentes direcionaram e nortearam a expansão urbana em Aracaju. 1.2 Estado: legislação urbanística e políticas habitacionais Diversas ações do Estado contribuíram para o cres- cimento de Aracaju, sobretudo a implementação de programas habitacionais, financiados pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), ampliação da malha viária, a implantação de equipamentos coletivos de grande porte, respaldados pelos Códigos de Obras e Urbanismo. Neste item, considerou-se o Estado como provedor (habitação e infraestrutura) e regulador (le- gislação), entre 1960 e 1999, abrindo vetores de aden- samento e de expansão urbana. 1.2.1 Regulações urbanísticas e seus reflexos espaciais A aprovação de leis urbanísticas como instrumentos de controle do uso e da ocupação do solo influenciou no adensamento e expansão urbana de Aracaju. As primeiras leis relevantes, os Códigos1 de Obras (Lei n° 13) e Urbanismo2 (Lei n° 19), promulgadas em 1966, 1 Os códigos têm viés higienista e sanitarista, com traços fun- cionalistas e ideias de embelezamento urbano. Isto é no- tório nos artigos XIV.13 que estabelece que “nos morros de areia situados dentro da cidade cujo desmonte será utilidade ao progresso e ao embelezamento da cidade, só será permi- tido construção de edifício de taipa, a critério da Prefeitura” (p.33). Também determinava que “as casas populares, só poderão ser permitidas nas ZR-2 e ZR-3, pessoas comprovada- mente pobres, a juízo da Prefeitura Municipal” (p.27). Ou seja, a estratégia de empurrar os pobres para a periferia, longe da visão da classe de alta renda. 2 Esses Códigos, embora desatualizados quanto ao cenário urbano, estão vigentes, devido à revogação das Leis Com- plementares do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju, aprovadoem 2000. definiram diretrizes para o ordenamento territorial, a fim de orientar novas construções, embora “a in- tenção do arquiteto ia muito mais além, pois pretendia manteresse código com caráter temporário, enquanto desenvolvia um plano diretor para a cidade, o PLADIAR” (PIRES, 2002, p. 61). O Código de Urbanismo estabeleceu um zoneamen- to sob influência dos modelos modernistas, que pre- conizavam a separação da cidade por funções: Zona Residencial – ZR(1, 2 e 3), Zona Industrial – ZI (1, 2, 3 e 4) e Zona Comercial – ZC (1 e 2). A Lei previu também que nas Zonas Residenciais, nas quadras paralelas à orla marítima e aos rios, os edifícios teriam até três pa- vimentos, admitindo-se quatro pavimentos quando o térreo fosse sobre pilotis (ARACAJU, 1966). As quadras posteriores, à medida que adentrassem o continente, atenderiam ao gabarito escalonado, acrescendo dois pavimentos a cada fila de quadras. Nas áreas residen- ciais, o gabarito seria de sete pavimentos ou oito, se o térreo fosse em pilotis, e nas comerciais a regulamen- tação era determinada pela classificação viária, ou seja, 2,5 vezes a largura da rua, com exceção da Aveni- da Rio Branco, que era permitido até oito pavimentos e taxa de ocupação de 90% (Figura 2). 16 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE A alteração do uso do solo, através da definição de um zoneamento, também estabeleceu o centro como Zona Comercial. Isso ocasionou o direcionamento da ocupação residencial unifamiliar das classes de renda mais elevada para o centro-sul, próximo ao Rio Sergi- pe (nos bairros São José, 13 de Julho e Atalaia), expul- sando os “casebres de uma população que sobrevivia da pesca, e que já ocupava esta área anteriormente” (CAR- VALHO, 2013, p. 82). Outras melhorias foram estabelecidas, como as normas para parcelamentos sob a forma de loteamentos, que exigiram drenagem das pistas e quadras, implantação de meio-fio e lote médio de duzentos metros quadra- dos, repercutindo assim, no custo dos lotes (CARVA- LHO, 1983). Fica evidente que esse instrumento “vem sendo manipulado como forma de manter o valor da ter- ra e de excluir grupos de baixa renda” (ibidem, p.19). Ribeiro (1989) afirma que essas exigências geraram consequências, pois além de exigir investimentos de capital por parte de empreendedor, significava aumentar preço final do lote, provocando uma retração da demanda. Em função disso, são numerosos os empreendedores que não submeteram seus loteamentos à aprova- ção, causando o surgimento de loteamentos clan- destinos (p.64). 17 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 18 Em 1967, foram desenvolvidos estudos para o Plano Diretor de Aracaju(PLADIAR) pelo arquiteto Rubem Chaves, que estabelecia propostas para zoneamen- to, traçado viário, uso e ocupação, áreas de proteção ambiental (cursos d’água), dentre outras diretrizes. Apesar de contemplar vários aspectos relevantes, este plano não foi adiante, “pois foi levado com descaso por parte dos vereadores. Ao invés de defender os interesses da comunidade, os vereadores estavam favorecendo a interesse de dominadores de importantes setores da ca- pital” (PIRES, 2002, p. 62). Uma sequência de Decretos e Leis sucedeu a ques- tão do gabarito de altura das edificações verticais em Aracaju. Conhecida como ‘Lei do Espigão’, a Lei n°466/1976, alterou o Código de Urbanismo e deu ou- tras providências, especialmente quanto ao gabarito das edificações, aumentando para o máximo de doze pavimentos, gerando uniformidade na paisagem, hoje notada, especialmente, nos bairros Jardins e 13 de Julho. Os bairros Atalaia e Coroa do Meio ficaram à margem da verticalização, em função de fatores li- mitantes a essa tipologia. A lei municipal determinou que projetos de edifícios acima de três pavimentos deveriam ser submetidos à anuência do Ministério da Aeronáutica e da Marinha, para análise da legislação federal, em face da existência da zona de visibilidade do Farol Estuarino, localizado no bairro Farolândia, e do Cone de Aproximação do Aeroporto (ARACAJU, 1976; FRANÇA, 1997; DINIZ, 2003). A legislação do Fa- rol, sob controle da Marinha, preservou a visibilidade num raio de 3,4km, nos sentidos leste, norte e sul, não permitindo edificações maiores que oito metros de altura (2 pavimentos). A mudança do Farol para o bairro Coroa do Meio pro- porcionou condições para a construção de edifícios mais verticalizados nessa área, incidindo sobre o re- ferido bairro, além da Atalaia e Farolândia. Por outro lado, a regulamentação do Cone de Aproximação do Aeroporto (sob controle da INFRAERO) normatiza a ocupação do solo nas cabeceiras da pista, permitindo construções com até quarenta metros de altura (12 pavimentos) somente fora do perímetro de 2km (re- presentados por triângulos) (DINIZ, 2003). Assim, essa determinação resultou numa ocupação elitizada de residências unifamiliares, restringindo a verticalização nesses bairros. Após três anos, mais uma lei veio alterar novamente o gabarito dos prédios. O Decreto Lei no 59/79 determi- nou a permissão para construção de até 14 pavimen- tos, apontou novas diretrizes de usos destes e instituiu regras quanto à quantidade de vagas de garagem por apartamento, exigindo duas por unidade habitacional acima de 200 m². Essa lei inaugurou um novo formato de construção vertical, em que os primeiros pavimen- tos destinaram-se a garagens, playground, salão de festas, piscina e área de lazer. Isso evidenciou a exis- tência de um novo padrão de renda que o mercado imobiliário buscou atender (ARACAJU, 1979). De fato, essas alterações normativas atingiram direta- mente o mercado imobiliário, deixando claro o poder de interferência do capital privado nas negociações sobre as formas de apropriação do espaço, ampliando o potencial construtivo e, consequentemente, geran- do maior lucro para as construtoras. O bairro Coroa do Meio, desde a sua criação, no final dos anos 1970, foi regido por legislação própria de uso e ocupação do solo, a Lei Municipal no 604/1978, proveniente de estudos referentes ao planejamen- to urbano da área. A lei, hoje revogada, estabeleceu diretrizes da estrutura urbana, no tocante à estrutura 19 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Em 1979, foi aprovada Lei Federal n° 6.766 (Lei Lehman) que estabeleceu critérios e normas para instalação de loteamentos e definindo, no seu arti- go 3o, que “somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas ou de expan- são urbana, assim definidas em Lei Municipal” (BRA- SIL, 1979).A sua aprovação trouxe sérios impactos na produção imobiliária em Aracaju, especialmente no tocante aos conjuntos habitacionais, diante das exi- gências urbanística “a fim de evitar que a terra urbana fosse parcelada irregularmente pelo mercado informal” (FRANÇA, 2011, p.97). A partir dessa lei, novos estudos foram realizados pela Prefeitura Municipal, o que resultou na promulgação da Lei no 873, de 01 de outubro de 1982, que estabele- ceu delimitação dos bairros de Aracaju, integrada por 35 bairros3 e 01 Zona de Expansão Urbana (ARACAJU, 1982) (Figura 3). De fato, a lei alargou os limites urba- nos do município, excluindo a zona rural e dividindo-o em Zona Urbana e de Expansão Urbana (ZEU), mesmo 3 A partir dos anos 2000, foram criados novos bairros, como Japãozinho, Santa Maria e 17 de Março (os dois últimos na ZEU), diminuindo o território de alguns bairros e modifican- do essa delimitação proposta. havendo ali ainda, uma intensa atividade agrícola, de pesca e fortes traços rurais(FRANÇA, 2011). Portanto, Em virtude da grande expansão da cidade e deste avanço progressivo dos loteamentos caracteristica- mente urbanos em terras do município, foi aprova- da pela Câmara Municipal, em 1982, uma nova Lei de Delimitação de Bairros de Aracaju, incluindo as- sim, no perímetro urbano muitos bairros que emer- giram após 1965, data da elaboração da até então vigente delimitação (RIBEIRO, 1989, p.70). Essa legislação influenciou diretamente a ocupação para direção sul, principalmente para a Zona de Ex- pansão Urbana, ao permitir o parcelamento sob a for- ma de loteamentos, neste caso, destinados à segunda residência, beneficiando os proprietários fundiários, ao valorizar áreas antes ocupadas com atividades agrícolas. A partir daí, “acentuou-se o jogo de interesses dos grupos econômicos e políticos que passam a parce- lar as terras localizadas nos limites entre Aracaju e São Cristóvão, reacendendo os conflitos metropolitanos” (FRANÇA, 2011, 97-98). viária, ao uso do solo (dividindo em zona comercial, residencial de baixa densidade, zona verde e zona es- pecial), definindo a altura máxima de 4 pavimentos, proibindo lotes com áreas menores a 320m2, testada inferior a 12m e taxa de ocupação do lote superior a 50%. Essas regras urbanísticas trouxeram para a área uma ocupação residencial unifamiliar e elitizada, res- tringindo a verticalização. Conforme Nogueira (2004, p.238), sua implantação efetiva se deu na década 80, já se- guindo parâmetros mais modernos de organização espacial, do que as demais áreas da cidade, as quais estavam sob as leis do Código de Urbanismo de 1966 para, somente depois, seguir a Lei Federal no 6.766, de 19 de dezembro de 1979, que sanciona legislação específica para o parcelamento do solo (principal- mente sobre projeto e aprovação de loteamentos). Outra normativa que reforçou a coibição do mercado na produção habitacional na faixa litorânea dos bairros Coroa do Meio e Atalaia foi o Decreto no187/1985, que dispunha sobre a ocupação ao longo da Avenida Santos Dumont e vetou a construção de prédios residenciais, no sentido norte-sul (desde a Avenida Rotary até o Te- carmo), reservando essa área para comércio e serviços, principalmente, voltados ao turismo (NOGUEIRA, 2004). Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 20 19 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE havendo ali ainda, uma intensa atividade agrícola, de pesca e fortes traços rurais (FRANÇA, 2011). Portanto, Em virtude da grande expansão da cidade e deste avanço progressivo dos loteamentos caracteristica- mente urbanos em terras do município, foi aprova- da pela Câmara Municipal, em 1982, uma nova Lei de Delimitação de Bairros de Aracaju, incluindo as- sim, no perímetro urbano muitos bairros que emer- giram após 1965, data da elaboração da até então vigente delimitação (RIBEIRO, 1989, p.70). Essa legislação influenciou diretamente a ocupação para direção sul, principalmente para a Zona de Ex- pansão Urbana, ao permitir o parcelamento sob a for- ma de loteamentos, neste caso, destinados à segunda residência, beneficiando os proprietários fundiários, ao valorizar áreas antes ocupadas com atividades agrícolas. A partir daí, “acentuou-se o jogo de interesses dos grupos econômicos e políticos que passam a parce- lar as terras localizadas nos limites entre Aracaju e São Cristóvão, reacendendo os conflitos metropolitanos” (FRANÇA, 2011, 97-98). 21 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 21 Embora não seja de âmbito municipal, mas de gran- de relevância no tocante à expansão de Aracaju, a Lei Estadual no 2.371/1982 criou a região da Grande Aracaju, constituída pelos municípios Aracaju, Barra dos Coqueiros, Laranjeiras, Maruim, Nossa Senhora do Socorro, Santo Amaro, São Cristóvão, Itaporanga D’Ajuda e Riachuelo, estes dois últimos acrescentados pela Lei Estadual no 2.607/1986 (SERGIPE, 1982; 1986). Isso favoreceu o “governo estadual a possibilidade de financiamento do governo federal através do Ministério do Interior. Assim, desenvolveram-se projetos ligados à implantação de infraestrutura urbana e regional, desta- cando-se entre elas o abastecimento alimentar, lazer e transportes” (FRANÇA, 1997, p.169). Alguns anos após, foi aprovada a Constituição Estadual de Sergipe (1989), que modificou os limites municipais entre Aracaju e São Cristóvão, fruto de conflitos de inte- resses. Entretanto, apesar de ter descrito os limites, no artigo 37, Capítulo Das Disposições Transitórias, deveria ter sido feita nova demarcação pelas duas Pre- feituras, o que não aconteceu. Assim, por decisão do Tribunal de Justiça, em reunião do mês de outubro de 1996, ficou definido que continuam valendo os limi- tes anteriores. Com a nova delimitação o município de Aracaju ampliava o seu território na faixa sul, mais valorizada e elitizada e em processo de ocupação e va- lorização intensa (FRANÇA, 1997, p.125-126). Esta questão de limites ainda está subjudicie4, tendo a Prefeitura de São Cristóvão requerido a incorporação de áreas, atualmente, sob o controle de Aracaju. A Lei Orgânica Municipal, promulgada em 1990, definiu diretrizes sobre a Política de Desenvolvimento Urbano, apontando a necessidade da elaboração de um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano. Ainda definiu instrumentos da política de desenvolvimento urbano, estabelecidos posteriormente pelo Estatuto da Cidade, como o Imposto Predial e Territorial Urbano Progressi- vo, o Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsó- ria, Direito de Concessão e Uso e de Preempção, limita- ção do direito de construir (solo criado), Regularização Fundiária. Quanto às definições do solo criado, o artigo 199 estabeleceu o coeficiente de aproveitamento úni- co igual a três em toda cidade, remetendo regulamen- tações posteriores no Plano Diretor. Para atender as exigências legais, em 1995, a Prefeitu- ra Municipal contratou a empresa Trama Urbanismo, 4 O Tribunal de Justiça da 5ª Região, sediado em Recife, favo- receu ganho de causa ao município de São Cristóvão, tendo o de Aracaju recorrido da decisão junto ao Supremo Tribu- nal Federal, em última instância (SANTOS, 2015). que deu inícioàelaboração do Projeto de Lei do Plano Diretor. Entretanto, a influência e a força do setor imo- biliário no “comando” do crescimento urbano foram demonstradas pelo consequente atraso na aprovação da lei, decorrente das pressões, sendo a lei totalmente alterada e aprovada pela Câmara dos Vereadores em 2000. Essa série de modificações tornou a lei seme- lhante a uma “colcha de retalhos”, conforme denomina Diniz (2005), trazendo conflito e dualidade de interpre- tações, especialmente, na aprovação de projetos. A legislação teve papel significativo no direcionamen- to da expansão urbana de Aracaju, entre os anos 1960 até 1999, incentivando a verticalização em determi- nados bairros de maior interesse do mercado imobi- liário, em detrimento de outros que permaneceram com tipologia residencial unifamiliar. Entretanto, não foi incisiva para o controle das ocupações informais, que se ampliaram no período, especialmente no en- torno dos conjuntos habitacionais. 1.2.2 Políticas habitacionais A Companhia Estadual de Habitação (COHAB/SE) e o Instituto Nacional de Orientação às Cooperativas 22 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Habitacionais (INOCOOP), instaladas em Sergipe nos anos 1966 e 1967, respectivamente, constituíram-se nos principais órgãos voltados para o financiamento e provisão da habitação, pois, até então, o setor pri- vadoera o único responsável (NOGUEIRA, 2004). A COHAB atendia a famílias com rendimento entre um a três salários mínimos(SM), estendendo, em seguida, para até cinco, enquanto o INOCOOP atraía a classe média que ganhava de cinco a dez SM. Aqueles que não dispusessem de renda mínima mensal, ou não pudessem comprová-la, não eram considerados por estas políticas. A atuação dessas instituições em Aracaju ocorreu no período de 1968 a 2002 e resultou na inserção de 67 conjuntos habitacionais afastados do núcleo conso- lidado, contribuindo, assim, para o esgarçamento da malha urbana (Tabela 2 e Figura 4). 23 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Tabela 2: Aracaju, Produção de Habitações Populares, COHAB e INOCOOP, 1960 a 2002* ZONA BAIRRO COHAB INOCOOP TOTAL EMP. UH EMP. UH EMP. UH Norte Soledade 1 16 0 0 1 16 18 do Forte 1 20 1 280 2 300 Bugio 4 2487 0 0 4 2487 Cidade Nova 1 48 1 496 2 544 Industrial 3 301 0 0 3 301 Santos Dumont 3 250 0 0 3 250 Leste Grageru 1 425 0 0 1 425 Luzia 4 1135 2 600 6 1735 Ponto Novo 7 1090 2 732 9 1822 Suíça 1 112 1 258 2 370 Sul Aeroporto 1 554 1 240 2 794 Atalaia 0 0 2 565 2 565 Coroa do Meio 0 0 4 664 4 664 Farolândia 4 5294 1 224 5 5518 Inácio Barbosa 1 144 2 630 3 774 Santa Maria 4 2509 0 0 4 2509 Oeste América 1 13 0 0 1 13 Jabotiana 1 738 2 1441 3 2179 José C. De Araújo 2 559 0 0 2 559 Novo Paraíso 2 602 0 0 2 602 São Conrado 3 3902 0 0 3 3902 Siqueira Campos 2 396 0 0 2 396 Ponto Novo 7 1090 2 732 9 1822 Total 47 20.595 20 6.333 67 26.928 Elaboração: Sarah França, 2016. Fonte: Dados coletados em FRANÇA (1997); CEHOP (2003); CARVALHO (2013); Visitas de Campo; Entrevistas e Google Earth. *Para efeito de organização da pesquisa, foi aqui considerada neste item, a produção do BNH que se estendeu até 2002 em Aracaju. Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 24 23 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 25 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 25 França (1997) descreve que a COHAB, ao longo de sua existência, construiu 20.595 unidades residen- ciais, distribuídas em 47 conjuntos habitacionais dispersos, contribuindo significativamente para a expansão urbana. Os primeiros conjuntos habitacionais construídos pela COHAB foram entregues nos anos 1968 e 1969: o Castelo Branco I e II, localizados fora da malha conso- lidada, com acesso precário, contribuindo para a ocu- pação da área que seria, futuramente o bairro Ponto Novo. Ribeiro afirma que “a periferia sudoeste foi sendo ocupada, principalmente através da instalação de con- juntos habitacionais” (1989, p.75-76). Na década de 1970, foi intensificada a construção de 21 conjuntos habitacionais, totalizando 5.732 mo- radias, inseridos de forma desarticulada e periférica, como a noroeste, o Conjunto Assis Chateaubriand I (1978) e II (1979), no bairro Bugio. Esses dois con- juntos destacaram-se em número de unidades habi- tacionais, somando 2.133, cerca de 40% do total da década. A maior parte desses conjuntos foi implanta- da próximo à Avenida Tancredo Neves, que havia sido pavimentada entre 1971 a 1974 (CARVALHO, 2013). Segundo Ribeiro, “constatou-se que esses conjuntos, em sua grande maioria, estavam localizados além da periferia, viabilizando a sua ocupação posterior” (1989, p.75). Assim, esta ação do Estado contribuiu para a valorização das terras, em função da apropriação das vantagens da instalação da infraestrutura, como aber- tura de vias, transporte público, abastecimento de água e energia elétrica, entre outros. Em 1972, destaca-se também, o Residencial Cos- ta do Sol (construído pelo INOCOOP), na Atalaia, o mais distante da malha consolidada, favorecido pelas condições de acessibilidade, garantida por meio da abertura da Avenida Beira Mar, e os conjuntos Jar- dim Esperança (construído em 1974, pela COHAB/SE), Inácio Barbosa (1973) e Beira Rio (1978/1980), ambos construídos pelo INOCOOP, responsáveis por abrir frentes na direção sul, para a criação futura do bairro Inácio Barbosa, valorizados pela proximidade da ave- nida Tancredo Neves (CARVALHO, 2013). Nos anos 1980, o Estado “passou a interferir de forma ainda mais incisiva, construindo grandes conjuntos – que passaram a abrigar um contingente populacional equivalente as pequenas cidades do interior do Estado – além de estocar terras e intervir nos municípios limítro- fes” (CARVALHO, 2013, p.63). Desse período destacam- -se o Gov. Augusto Franco (4.510 moradias), no bairro Farolândia, o Jornalista Orlando Dantas (3.656 mora- dias), no bairro São Conrado, e o Santa Tereza, que ori- ginou o bairro Aeroporto e direcionou a expansão ao sul, por estarem distantes do núcleo consolidado. A abertura das Avenidas Beira Mar e Heráclito Rollem- berg (principal acesso aos conjuntos Augusto Franco e Orlando Dantas), em 1981, garantiu também a ocupa- ção das áreas vazias entre esses conjuntos e os bairros mais próximos. De fato, o Estado, por meio da abertura de avenidas, compactua com a obtenção do lucro imo- biliário, valorizando o solo a ser ocupado por empreen- dimentos imobiliários das construtoras sergipanas. A partir dos anos 1990 até 2002, a produção habita- cional entra em declínio, em função da extinção do BNH e da crise estatal que assola o país. França (1997, p.122) recordou que “a redução dos investimentos do governo federal no setor habitacional se reflete em Ser- gipe, com o corte de financiamentos de diversos projetos que tramitavam na Caixa Econômica. ” 26 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Este período também foi marcado pelo apoio à ex- pansão urbana fora dos limites municipais, mediante justificativa de que o alto valor da terra impossibilita- va a construção de conjuntos na malha urbanizada. Assim, o poder público afastou a população carente das áreas com infraestrutura, com oferta de serviços públicos e com oportunidades de trabalho, consoli- dando a periferização (FRANÇA, 1997). Diante disso, os municípios de São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros, ainda com características rurais e sem infraestrutura adequada, receberam os impactos de uma política que visava atender a demanda por moradia na capital. O resulta- do desse “empurrão da pobreza” traz problemas para os municípios que recebem os conjuntos, pois a ampliação de malha em núcleos isolados, gera di- ficuldades de administração difíceis de serem sana- das pela falta de estrutura técnica das prefeituras e de recursos financeiros. Do outro lado, para Aracaju, sobra uma intensa pressão sobre as atividades eco- nômicas e sobre os serviços, aumentando a margi- nalidade e a violência (FRANÇA, 1997, p.117). De fato, até o momento de implantaçãodesses con- juntos habitacionais, as áreas eram vazias, sem ocupa- ções no entorno, sem infraestrutura e acessibilidade. Posteriormente, a inserção dessas habitações impul- sionou a ocupação no seu entorno, trazendo sérios entraves nos âmbitos ambiental, econômico e social (CARVALHO, 2013). A produção habitacional foi concentrada em alguns bairros como a Farolândia (sul), que recebeu a maior quantidade (5.518 moradias), seguidos do São Con- rado (norte) com 3.902 unidades produzidas, Santa Maria (sul), com 2.509 moradias e, por fim, Bugio abri- gando 2.263 unidades habitacionais. Isso demonstra o retalhamento urbano, provocado pela inserção desses conjuntos em diferentes zonas, o que, posteriormen- te, exigiu a ampliação da infraestrutura (água, energia, transporte, entreoutros), valorizando ainda mais os es- paços vazios localizados entre a malha e as novas áreas ocupadas (FRANÇA, 1997) (Tabela 3 e Figura 5). 27 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Tabela 3: Aracaju, Produção de Habitações Populares, COHAB e INOCOOP, Unidades Habitacionais por bairro e década, 1968 a 2002* ZONA BAIRRO 1960 1970 1980 1990 2000 TOTAL % Norte Soledade 0 0 0 16 0 16 0,06 18 do Forte 0 20 280 0 0 300 1,11 Bugio 0 2133 354 0 0 2487 9,24 Cidade Nova 0 0 544 0 0 544 2,02 Industrial 0 176 125 0 0 301 1,12 Santos Dumont 0 149 101 0 0 250 0,93 Leste Grageru 0 425 0 0 0 425 1,58 Luzia 0 1371 224 140 0 1735 6,44 Pereira Lobo 0 0 0 203 0 203 0,75 Suíça 0 0 370 0 0 370 1,37 Sul Aeroporto 0 0 794 0 0 794 2,95 Atalaia 0 69 496 0 0 565 2,10 Coroa do Meio 0 0 156 508 0 664 2,47 Farolândia 0 0 5294 224 0 5518 20,49 Inácio Barbosa 0 774 0 0 0 774 2,87 Santa Maria 0 0 0 2223 286 2509 9,32 Oeste América 0 13 0 0 0 13 0,05 Jabotiana 0 1441 0 738 0 2.179 8,09 José C. de Araújo 78 481 0 0 0 559 2,07 Novo Paraíso 0 602 0 0 0 602 2,24 São Conrado 0 0 3800 102 0 3902 14,49 Siqueira Campos 0 396 0 0 0 396 1,47 Ponto Novo 800 282 740 0 0 1822 6,77 Total 878 8.332 13.278 4.154 286 26.928 100 Elaboração: Sarah França, 2016. Fonte: Dados coletados em FRANÇA (1997); CEHOP (2003); CARVALHO (2013); Visitas de Campo; Entrevistas e Google Earth. *Para efeito de organização da pesquisa, foi aqui considerada neste item, a produção do BNH que se estendeu até 2002 em Aracaju. 27 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 28 Tabela 3: Aracaju, Produção de Habitações Populares, COHAB e INOCOOP, Unidades Habitacionais por bairro e década, 1968 a 2002* ZONA BAIRRO 1960 1970 1980 1990 2000 TOTAL % Norte Soledade 0 0 0 16 0 16 0,06 18 do Forte 0 20 280 0 0 300 1,11 Bugio 0 2133 354 0 0 2487 9,24 Cidade Nova 0 0 544 0 0 544 2,02 Industrial 0 176 125 0 0 301 1,12 Santos Dumont 0 149 101 0 0 250 0,93 Leste Grageru 0 425 0 0 0 425 1,58 Luzia 0 1371 224 140 0 1735 6,44 Pereira Lobo 0 0 0 203 0 203 0,75 Suíça 0 0 370 0 0 370 1,37 Sul Aeroporto 0 0 794 0 0 794 2,95 Atalaia 0 69 496 0 0 565 2,10 Coroa do Meio 0 0 156 508 0 664 2,47 Farolândia 0 0 5294 224 0 5518 20,49 Inácio Barbosa 0 774 0 0 0 774 2,87 Santa Maria 0 0 0 2223 286 2509 9,32 Oeste América 0 13 0 0 0 13 0,05 Jabotiana 0 1441 0 738 0 2.179 8,09 José C. de Araújo 78 481 0 0 0 559 2,07 Novo Paraíso 0 602 0 0 0 602 2,24 São Conrado 0 0 3800 102 0 3902 14,49 Siqueira Campos 0 396 0 0 0 396 1,47 Ponto Novo 800 282 740 0 0 1822 6,77 Total 878 8.332 13.278 4.154 286 26.928 100 Elaboração: Sarah França, 2016. Fonte: Dados coletados em FRANÇA (1997); CEHOP (2003); CARVALHO (2013); Visitas de Campo; Entrevistas e Google Earth. *Para efeito de organização da pesquisa, foi aqui considerada neste item, a produção do BNH que se estendeu até 2002 em Aracaju. 29 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Embora com a finalidade de sanar o déficit habita- cional, a produção de moradias financiadas por essas instituições não foi, em sua maioria, destinada às fa- mílias mais carentes (CAMPOS, 2006). Além disso, a aquisição de terras distantes da malha consolidada pela COHAB se constituiu um dos parâmetros básicos de suas atividades, sendo um dos elementos que con- tribuiu para a valorização do solo, tornando-a um dos maiores estocadores de terra em Aracaju. Por sua vez, o INOCOOP ergueu 20 conjuntos habi- tacionais com 6.333 novas moradias, atendendo ca- tegorias de renda mais elevada, contribuindo para o esgarçamento do tecido periférico, a exemplo dos Conjuntos Inácio Barbosa e Beira Rio, no Bairro Inácio Barbosa, e os Conjuntos Juscelino Kubitschek e Sol Nascente, no Bairro Jabotiana (Tabela 3). Até 1999, as duas instituições construíram 26.642 uni- dades habitacionais e, ao longo dos seus 34 anos de atuação (1968-2002), edificaram 26.928 moradias dis- tribuídas em 67 conjuntos (Tabela 3). De 1995 a 2002, a produção da COHAB foi de 2.525 moradias, embora uma das metas da companhia era que 800 a 1.500 uni- dades habitacionais fossem construídas no Mosquei- ro, isto é, na ZEU (TRAMA, 1995). Isso não ocorreu em decorrência da valorização da terra, após o asfaltamento da Rodovia dos Náufragos e da abertura da Rodovia Inácio Barbosa. De fato, hou- ve pressão dos donos de terras para que essas unida- des não fossem construídas para não popularizar a área que foi parcelada com condomínios e loteamen- tos fechados, destinados às classes mais abastadas (FRANÇA, 1997). Além disso, a Fundação de Desenvolvimento Comuni- tário de Sergipe (FUNDESE) em Aracajutambém sub- sidiou a construção de dois conjuntos: Governador Valadares, em 1989, com 1.200 unidades; e o Maria do Carmo Alves, com 500 casas construído em 1994, ambos localizados no bairro Santa Maria. Quanto à tipologia habitacional produzida, dividiu-se em cons- trução de casas e de apartamentos, sem fechamentos intramuros (Figura 6 e Tabela 4). Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 30 29 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Isso não ocorreu em decorrência da valorização da terra, após o asfaltamento da Rodovia dos Náufragos e da abertura da Rodovia Inácio Barbosa. De fato, hou- ve pressão dos donos de terras para que essas unida- des não fossem construídas para não popularizar a área que foi parcelada com condomínios e loteamen- tos fechados, destinados às classes mais abastadas (FRANÇA, 1997). Além disso, a Fundação de Desenvolvimento Comuni- tário de Sergipe (FUNDESE) em Aracajutambém sub- sidiou a construção de dois conjuntos: Governador Valadares, em 1989, com 1.200 unidades; e o Maria do Carmo Alves, com 500 casas construído em 1994, ambos localizados no bairro Santa Maria. Quanto à tipologia habitacional produzida, dividiu-se em cons- trução de casas e de apartamentos, sem fechamentos intramuros (Figura 6 e Tabela 4). 31 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 31 Tabela 4: Aracaju, Produção de Habitações Populares, COHAB e INOCOOP, Unidades Habitacionais por bairro e tipologia, 1968 a 2002* ZONA BAIRRO COHAB INOCOOP TOTAL APTOS CASAS APTOS CASAS APTOS CASAS Norte Soledade 0 16 0 0 0 16 18 do Forte 0 20 280 0 280 20 Bugio 354 2133 0 0 354 2133 Cidade Nova 48 0 496 0 544 0 Industrial 0 301 0 0 0 301 Santos Dumont 0 250 0 0 0 250 Leste Grageru 0 425 0 0 0 425 Luzia 224 911 140 460 364 1371 Pereira Lobo 0 0 0 203 0 203 Suíça 112 0 258 0 370 0 Sul Aeroporto 0 554 240 0 240 554 Atalaia 0 0 496 69 496 69 Coroa do Meio 0 0 664 0 664 0 Farolândia 1920 3374 224 0 2144 3374 Inácio Barbosa 0 144 0 630 0 774 Santa Maria 0 2509 0 0 0 2509 Oeste América 0 13 0 0 0 13 Jabotiana 0 738 0 1441 0 2179 José C. de Araújo 0 559 0 0 0 559 Novo Paraíso 0 602 0 0 0 602 São Conrado 742 3160 0 0 742 3160 Siqueira Campos 0 396 0 0 0 396 Ponto Novo 8 1082 592 140 600 1222 Total 3.408 17.187 3.390 2.943 6.798 20.130 Elaboração: Sarah França, 2016. Fonte: Dados coletados em FRANÇA (1997); CEHOP (2003); CARVALHO (2013); Visitas de Campo; Entrevistas e Google Earth.*Para efeito de organização da pesquisa, foi aqui considerada neste item, a produção do BNH que se estendeu até 2002 em Aracaju. 32 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE No caso dos conjuntos habitacionais do INOCOOP, 54% das unidadeshabitacionais são apartamentos, com vários blocos de até 4 pavimentos. Alguns fo- ram concebidos com elementos arquitetônicos como muros, como o Mar do Caribe e Mar Mediterrâneo, na Coroa do Meio, outros abertos, como o Estrela do Mar, que persistem nesse formato até os dias atuais. No entorno dos empreendimentos, os pequenos conjuntos voltados para a classe média, [...] se espalharam sobretudo pelos bairros Grageru e Luzia (Green Village, Moradas do Sul, Jardim Jussa- ra, por exemplo), além de condomínios de edifícios construídos pelas empresas particulares e financia- dos pela Caixa Econômica Federal. A produção do espaço urbano está intimamente ligada aos finan- ciamentos do Sistema Financeiro da Habitação – SFH (FRANÇA, 1997, p.85-87). Outra forma de ocupação deu-se no cinturão dos con- juntos, em pequenos núcleos voltados para o grupo de renda média, nos bairros Grageru e Luzia, além de condomínios verticais erguidos por construtoras e financiados pela CAIXA (FRANÇA, 1997). Os recursos públicos aplicados “em infraestrutura também valo- rizaram as terras [...] parceladas em loteamentos para as classes média e média alta, preferencialmente locali- zados na área sul (como o bairro Coroa do Meio) ” (NO- GUEIRA, 2004, p.244). A esperança de “ganhar uma casa” trouxe para Ara- caju um grande contingente populacional, na ex- pectativa de aliar habitação e emprego, o que nem sempre ocorreu (FRANÇA, 1997). Entretanto, aqueles que não foram contemplados, sem lugar para morar, ocuparam terrenos vazios, loteamentos clandestinos e irregulares, locais sem oferta de infraestrutura. Além disso, ocuparam áreas ambientalmente frágeis, como margens de rios, mangues, áreas passíveis de inunda- ção, provocando sérias consequências, como polui- ção dos recursos hídricos, alagamentos, entre outros. Essa moradia irregular, que corresponde aos espa- ços que “sobraram”, que não interessam ao mercado formal, ainda pode ser vista ao redor dos conjuntos habitacionais como forma de pressionar o governo para a obtenção da casa própria, como nos conjun- tos Augusto Franco, nas proximidades do canal Santa Maria,;no bairro Inácio Barbosa, ao longo do Rio Po- xim; e, por fim, no Bugio, às margens do Rio do Sal (SEPLAN;FAPESE, 2010). Essas casas foram construí- das em etapas, no sistema de autoconstrução, sem acompanhamento técnico de engenharia e arquitetu- ra, sem financiamento e desrespeitando a legislação fundiária, urbanística e edilícia. O adensamento, o incremento do valor fundiário, a escassez de terras urbanizadas, o empobrecimento da população, a mobilidade social descendente e os movimentos intraurbanos, associados à dificuldade de acesso ao mercado formal de imóveis, foram fa- tores importantes, relacionados ao brusco avanço no número de assentamentos precários em Aracaju. 1.3 Mercado imobiliário e condomínios fechados O agente imobiliário produziu o espaço urbano de Ara- caju, até o final do século XX, por meio da inserção de novos produtos imobiliários em áreas vazias até então, ou com predominância de ocupação por residências unifamiliares, muitas vezes por grupos com rendimen- to mais baixo (RIBEIRO, 1989; FRANÇA, 1997). A apropriação desses espaços derivou da construção dos condomínios fechados justificados pelo discurso da violência que tem se constituído como grande pro- blema social nas grandes cidades brasileiras. O mar- keting imobiliário se utilizou do medo para vender a ideia de segurança e de afirmação do status social. A possibilidade de morar em comunidades fechadas e seguras e partilhar gastos de manutenção atraem até mesmo as famílias com menor poder aquisitivo, que se esforçam para se inserir no mercado de consumo formal (RIBEIRO,1989). 33 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Em sua pesquisa, Diniz (2003, p.61) alerta para o fato de que as construtoras influenciam o modo de evolução da cidade em vários sentidos. Determinam os espaços a serem ocupados, por qual tipo de construção, residencial ou não, o estilo arquitetônico adequado para cada zona e, por consequência, para cada classe social. Maia (2004) enfatiza o domínio do capital imobiliário, distinguindo que “a verticalidade em Aracaju não apa- rece como solução ao problema de moradia ou da falta de terras, ela se insere no contexto urbano como um sím- bolo de modernidade e progresso e buscam o lucro da terra” (p.54). Assim, para entender a dinâmica da atua- ção do mercado imobiliário no processo de expansão urbana de Aracaju, na fase de 1960 a 1999, foi neces- sário analisar os dados referentes à construção dos condomínios fechados, considerando este o principal produto deste agente. Entretanto, foram identificadas duas tipologias residenciais: a vertical5 e ahorizontal, sendo analisadas separadamente. 5 Para essa pesquisa, consideraram-se verticais, aqueles edifí- cios com quatro ou mais pavimentos. 1.3.1 Condomínios verticais e modernização da indústria da construção civil Como em outras cidades brasileiras, em Aracaju o processo de verticalização é essencial para o enten- dimento de sua história. A verticalização é “um dos as- petos da evolução urbana de Aracaju que transformou a paisagem e fez nascer bairros inteiros em pouco tempo. Em 1935, a cidade possuía 11.049 prédios, sendo 10.900 térreos, com 143 com pavimento superior e 6 com mais de dois pavimentos” (LOUREIRO, 1983, p.62). Embora o processo tenha se iniciado tardiamente em relação a outras capitais do país, em Aracaju, o primei- ro prédio vertical surgiu, em 1951, sob a iniciativa do Estado, como símbolo da modernidade e progresso. Antes disso, nos anos 1950, surgiram os primeiros traços da verticalização na área mais antiga e centra- lizada6 (Centro), com edifícios de porte e usos varia- dos (residenciais, mistos, públicos, comerciais e de serviços) (DINIZ, 2003). Posteriormente7, foram cons- 6 No Centro, a intensa ocupação do solo e o parcelamento com lotes de testada estreita foram fatores que inibiram a verticalização que ocorreu de forma bem esparsa. 7 A análise foi dividida por décadas, delimitando 1960 como início, quando ocorreu a instalação do primeiro edifício re- sidencial, embora não se considere a verticalização ainda truídos edifícios residenciais por incorporadoras pri- vadas, cientes da possibilidade de maior ganho finan- ceiro pela multiplicação do solo (DINIZ, 2003; MAIA, 2004; MENEZES, 2008). Silva (2003, p.58) alega que desde então, acreditava-se que o Centro se tornaria um bairro essencialmente vertical, o que na verdade não ocorreu. Em função do alto valor da terra naquela área, somente alguns edifícios voltados para os servi- ços capitais – públicos e privados – foram erguidos. Entre os anos de 1962 a 1999, Aracaju apresentou de forma mais visível, a atuação do mercado imobiliário, consolidando a “força” da reprodução do capital. A produção se concentrou em 250 condomínios verti- cais e 18.400 apartamentos, cuja localização se res- tringiu aos bairros situados ao leste, como Centro, São José, 13 de Julho, adentrando em direção ao oeste, atingindo os bairros Suíça, Salgado Filho, Grageru, Lu- zia, Ponto Novo e alcançando na direção sul, o bairro Farolândia (Figura 7 e Tabela 5). como um processo, porque “não existia um conjunto signi- ficativo de edificações verticais capaz de mudar a paisagem urbana” (MAIA, 2004, p.63). Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 34 33 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE truídos edifícios residenciais por incorporadoras pri- vadas, cientes da possibilidade de maior ganho finan- ceiro pela multiplicação do solo (DINIZ, 2003; MAIA, 2004; MENEZES, 2008). Silva (2003, p.58) alega que desde então, acreditava-seque o Centro se tornaria um bairro essencialmente vertical, o que na verdade não ocorreu. Em função do alto valor da terra naquela área, somente alguns edifícios voltados para os servi- ços capitais – públicos e privados – foram erguidos. Entre os anos de 1962 a 1999, Aracaju apresentou de forma mais visível, a atuação do mercado imobiliário, consolidando a “força” da reprodução do capital. A produção se concentrou em 250 condomínios verti- cais e 18.400 apartamentos, cuja localização se res- tringiu aos bairros situados ao leste, como Centro, São José, 13 de Julho, adentrando em direção ao oeste, atingindo os bairros Suíça, Salgado Filho, Grageru, Lu- zia, Ponto Novo e alcançando na direção sul, o bairro Farolândia (Figura 7 e Tabela 5). como um processo, porque “não existia um conjunto signi- ficativo de edificações verticais capaz de mudar a paisagem urbana” (MAIA, 2004, p.63). Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 35 Tabela 5: Aracaju, Condomínios Verticais, Empreendimentos e Apartamentos por Bairros, 1962 – 1999 ZONAS BAIRRO EMPREENDIMENTOS APARTAMENTOS Norte 18 do Forte 1 174 Leste Centro 19 804 Cirurgia 2 72 Grageru 29 2085 Jardins 49 3229 Salgado Filho 10 490 Luzia 21 2713 Pereira Lobo 5 440 São José 31 1247 Suíça 9 730 13 de Julho 44 2217 Oeste Jabotiana 1 128 Ponto Novo 9 2168 Sul Atalaia 3 47 Coroa do Meio 2 360 Farolândia 15 1496 Total 250 18400 Elaboração: Sarah França, 2016. Fonte: Dados coletados em DINIZ (2003); MAIA (2004); Google Earth; acervo Vera França; Visita em campo. Assim, fora do Centro, o Ed. Atalaia, construído em 1962, no bairro São José, rompeu “em definitivo com a horizontalidade do centro da cidade iniciando uma nova tipologia arquitetônica” (MAIA, 2004, p.59). Além disso, apontou a ocupação para o sul, em função dos lotes serem estreitos, de seis a oito metros de testada, sendo necessária a junção de três ou mais lotes para viabilização do empreendimento de maior porte. Esse foi um dos fatores responsáveis pela verticalização não atingir a totalidade da área cen- tral e ser “desviado” para suas adjacências, como, por exemplo, a Avenida Francisco Porto, Acrísio Cruz, Gonçalo Rollemberg Leite, formando verda- deiros bairros verticais como o 13 de Julho, Salgado Filho e, mais recentemente, os bairros Jardins e Gra- geru (NOGUEIRA, 2004, p.247). A partir daí, os espaços intermediários entre os bairros Centro e São José já estavam prontos para serem ex- plorados (DINIZ, 2003). Ribeiro acentua que “verificou- -se a contínua substituição de residências ainda novas por edifícios, diminuindo de intensidade de 69 para 71, e retomando a tendência anterior em 1972, com um ritmo cada vez mais acelerado” (1989, p.79) Nesse momento, é importante associar fatores nacio- nais que incidiram na expansão urbana, como a cria- ção do Banco Nacional de Habitação (BNH), sendo, junto com ele, concebidas, também, várias medidas para garanti-lo e subsidiá-lo, dentre elas a Lei do Con- domínio e Incorporações imobiliárias, nº 4.591/1964, e a Lei de Estímulos à Construção Civil, nº 4.864/1965 (LOUREIRO, 1983). Essas duas normas permitiram o desenvolvimento do capital e ampliação de ativida- des ligadas à construção civil. A chegada da Petrobras e a inauguração da Universi- dade Federal de Sergipe trouxeram uma população de maior poder aquisitivo, somada ao financiamento de bancos públicos, que garantiu crédito para construção de edificações multifamiliares. Diante desse impulso, a partir dos anos 1970, Aracaju passou por um processo de modernização, sobretudo na construção civil, esti- mulado pelo governo e pelas iniciativas privadas. Nessa ocasião, surgiram construtoras de grande porte, como “a Norcon, Habitacional, Cosil e o Estado inicia a investir na produção de conjuntos habitacionais com edifícios de quatro pavimentos, sendo o primeiro concluído no início dos anos 80” (MAIA, 2004, p.70). A verticalização ocupou, com maior “força”, a periferia sul do bairro Centro e o São José, embora lançando as primeiras edificações nos bairros 13 de Julho, na Avenida Beira Mar, concentrando famílias de renda mais elevada, e ao longo da Hermes Fontes, nos bair- ros Salgado Filho e Grageru. Os bairros 13 de Julho e o São José, com oito condomínios verticais, “trans- formaram-se em eixo do setor elegante” (RIBEIRO,1989, p.49). Ainda dispersa, a produção desta década foi de 15 edifícios e 494 apartamentos (Tabela 6). 36 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 37 Tabela 6: Aracaju, Condomínios Verticais, Periodização, 1962-1999 ZONAS BAIRRO EMPREENDIMENTOS APARTAMENTOS TOTAL 1960 1970 1980 1990 Norte Dezoito do Forte 1 0 0 0 174 174 Leste Centro 19 0 90 714 0 804 Cirurgia 2 0 0 24 48 72 Grageru 29 0 0 1147 938 2085 Jardins 49 0 64 232 2933 3229 Salgado Filho 10 0 8 144 338 490 Luzia 21 0 0 1092 1621 2713 Pereira Lobo 5 0 0 280 160 440 São José 31 20 246 817 164 1247 Suíça 9 0 18 520 192 730 13 de Julho 44 0 68 1014 1135 2217 Oeste Jabotiana 1 0 0 0 128 128 Ponto Novo 9 0 0 2168 0 2168 Sul Atalaia 3 0 0 15 32 47 Coroa do Meio 2 0 0 0 360 360 Farolândia 15 0 0 0 1496 1496 Total 250 20 494 8167 9719 18400 Elaboração: Sarah França, 2016. Fonte: Dados coletados em DINIZ (2003); MAIA (2004); Google Earth; acervo Vera França; Visita em campo. 36 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE 38 Vetores de Expansão Urbana: Estado e Mercado na produção da habitação em Aracaju-SE Na perspectiva de que a verticalização estava associa- da ao desenvolvimento, os incorporadores “tentaram reproduzir em edifícios modernos – através de técnicas construtivas e novos acabamentos – o luxo das grandes residências e, assim, expandir o mercado de imóveis” (SILVA, 2003, p.59). Os anos 1980 foram caracterizados por Loureiro (1983) como o “boom imobiliário” em Aracaju, quando os in- vestimentos privados foram direcionados aos bairros 13 de Julho, nas imediações das Avenidas Francisco Porto e seu prolongamento (Nova Saneamento), no sentido leste-oeste, e Hermes Fontes, bairros Ponto Novo e Luzia, com “ancoragens” imobiliárias, como denomina Diniz (2003). Salienta-se que essa área pode ser caracterizada, sobretudo, pelo alto valor do solo urbano e pela tendência à homogeneidade social entre as classes média e alta. Inclui os bairros São José, 13 de Julho, Salgado Filho e Grageru. A partir da década de 1980, a dinâmica do uso e ocu- pação do solo nessas áreas possibilitou o aumento da densidade demográfica e do número de licenças para construção (SILVA, 2003, p.60). Na década de 1980, os edifícios de apartamentos fo- ram a grande “atenção” dos incorporadores que am- pliaram o número de projetos em relação à década anterior. Os 103 empreendimentos e 8.167 aparta- mentos erguidos foram provenientes de propostas de construtoras locais (Figura 8). Como em Aracaju predominou e ainda predomina uma classe média, no interior dos bairros 13 de Julho e São José, foram construídos edifícios com 10 a 16 pavimen- tos e no máximo 2 blocos, substituindo casas baratas ou lotes vazios. Erguidos com padrões simples, quatro apartamentos por andar, dispunham de área média de até 110m2, três quartos e uma vaga de garagem. Além disso, de maior incremento na economia, o mer- cado imobiliário trouxe um novo conceito de clubes residenciais seguros e tranquilos, atrelando moradia ao lazer, no interior do bairro 13 de Julho, com ênfase para o Condomínio Villa D’Oro, localizado na Avenida Fran- cisco Porto (DINIZ, 2003). São dotados de áreas
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