Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Plantas medicinais e Fitoterápicos Abordagem teórica com ênfase em nutrição Monise Viana Abranches 1ª Edição 2012 2 EXPEDIENTE Pesquisa de conteúdo Hudsara Aparecida de Almeida Paula Produção editorial e Revisão final Adelson Marques Canudo Assistência editorial Adriana Lopes Peixoto CRN9 - 9521 Capa e Produção gráfica Peter Pereira Edição ortográfica e textual Éverton Oliveira Coordenação de projeto para mídia digital Rafael da Silva Carrasco Coordenação geral Adelson Marques Canudo Luiz Eduardo Ferreira Fontes Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro eletrônico poderá ser reproduzida total ou parcialmente sem autorização prévia da A.S. Sistemas. Plantas medicinais e Fitoterápicos – Abordagem teórica com ênfase em nutrição ISBN nº: 978-85-65880-01-5 Nutricionista Monise Viana Abranches CRN9 - 6925 A.S. Sistemas Rua Professor Carlos Schlottfeld, casa 10, Clélia Bernardes – Viçosa-MG. CEP 36570-000 Tel: (31) 3892 7700 site: www.assistemas.com.br 3 http://www.assistemas.com.br/ Sumário Plantas Medicinais e Fitoterápicos - Abordagem teórica com ênfase em nutrição Módulo I 1 Conhecimento popular vs. Medicina científica: um breve histórico 2 Regulamentação do uso de plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil Um breve histórico da regulamentação brasileira 3 Plantas medicinais: do cultivo às formas de uso Cultivo de plantas medicinais Formas de preparo e uso de plantas medicinais Biodiversidade e obtenção sustentável de plantas medicinais 4 Fitoterápicos - Pesquisa, desenvolvimento e controle de qualidade Pesquisa: ferramenta útil na transformação de plantas medicinais em medicamentos Desenvolvimento de fitoterápicos Controle de qualidade Registro de fitoterápicos Módulo II 5 Abordagem terapêutica sobre plantas medicinais e fitoterápicos 6 Medicina preventiva e os princípios ativos dos derivados vegetais 7 Influência das plantas medicinais e fitoterápicos sobre a obesidade e doenças associadas 8 Plantas medicinais e Fitoterápicos no Esporte 9 Compostos bioativos na saúde e na estética Certificação de cosméticos - cenário internacional Classificação dos cosméticos Módulo III 10 Toxicidade dos Fitoterápicos Monitorização e farmacovigilância de plantas Classificação dos efeitos adversos associados às plantas medicinais Classificação quanto às reações intrínsecas e extrínsecas Interações com fármacos sintéticos e seus efeitos 11 A Consulta e a prescrição nutricional 12 Referências Bibliográficas 4 13 Glossário 5 INTRODUÇÃO A palavra Fitoterapia é derivada dos termos em latim “Phyton” = vegetal e “Therapeia” = terapia. As matérias-primas dos fitoterápicos são plantas (folhas, caule, flores, raízes ou frutos) com efeitos farmacológicos medicinais, alimentícios, coadjuvantes técnicos ou cosméticos. Portanto, a Fitoterapia é um método de tratamento caracterizado pela utilização de plantas medicinais, em suas diferentes preparações, sem a utilização de substâncias ativas isoladas. Vale ressaltar, que tal ciência deve ser usada sob orientação de um profissional capacitado. A utilização de produtos naturais na medicina popular é milenar e persiste até os dias atuais. Inicialmente, o uso de plantas medicinais foi difundido por meio da prescrição dada principalmente por curandeiros. Isso culminou com a falsa ideia de que o consumo de plantas medicinais “é algo absolutamente natural”, o que fez com que seu uso e prescrição tornassem indiscriminados. Atualmente, a Fitoterapia é uma ciência consolidada, uma vez que é fundamentada em conhecimentos de fisiologia, fisiopatologia, farmacologia, química orgânica, bioquímica e outras áreas da saúde. Tais conhecimentos permitem compreender os mecanismos de atuação e os efeitos atribuídos aos princípios ativos das plantas ou derivados (extratos, xaropes, etc) utilizados na terapêutica e na prevenção de diversas doenças, bem como seus possíveis efeitos colaterais. Assim, torna-se necessário o conhecimento aprofundado da aplicabilidade e segurança do uso das plantas medicinais e fitoterápicos para a capacitação profissional voltada à atuação na prática clínica. Monise Viana Abranches 6 Módulo I Definição e regulamentação 7 1 Conhecimento popular vs. Medicina científica: um breve histórico O uso terapêutico das plantas medicinais na saúde humana é historicamente construído por meio da sabedoria do senso comum que articula cultura e saúde. Mesmo com os expressivos avanços científicos da Fitoterapia, como é conhecida na linguagem acadêmica a terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, as plantas medicinais continuam sendo muitas vezes usadas apenas com base na cultura popular para a promoção e recuperação da saúde das pessoas. O homem primitivo sempre buscou na natureza as soluções para os diversos males que o assolava, fossem de ordem espiritual ou física. No ano 3000 a.C., a China dedicava-se ao cultivo de plantas medicinais e, atualmente, mantém laboratórios de pesquisa e cientistas trabalhando exclusivamente para desenvolver produtos farmacêuticos com ervas medicinais de uso popular. Sabe-se também que, desde 2300 a.C., os egípcios, assírios e hebreus cultivavam diversas ervas e traziam de suas expedições tantas outras. Com essas plantas, chegavam a criar purgantes, vermífugos, diuréticos, cosméticos e especiarias para cozinha, além de líquidos e gomas utilizados no embalsamamento de múmias. A Era Antiga inaugurou outro enfoque, quando, a partir do pensamento hipocrático, que estabelecia relação entre ambiente e estilo de vida das pessoas, os processos de cura deixaram de serem vistos apenas do ponto de vista espiritual e místico. Atribuída como fenômeno natural, a origem das doenças passou então a ser estudada cientificamente. Hipócrates (460-377 a.C.), denominado o “Pai da Medicina”, reuniu em sua obra “Corpus Hipocratium” a síntese dos conhecimentos médicos de seu tempo, indicando para cada enfermidade o remédio vegetal e o tratamento adequado. Nessa mesma ocasião, o sistema oriental desenvolveu-se seguindo a lógica de que o organismo era parte integrante do universo. Assim, 8 os conceitos de saúde nos sistemas ocidental e oriental na Antiguidade, apesar de se orientarem por contextos culturais diferentes, baseavam-se no holismo, ou seja, a terapêutica deveria atuar no organismo como um todo integrado ao universo (macrocosmo) e não apenas na eliminação dos sintomas da doença manifestados localmente. Já na Idade Média (século V ao XV), a medicina e os estudos das plantas medicinais estagnaram-se por um longo período. Os eventos históricos que surgiram na Europa, como a ascensão e queda do Império Romano e o fortalecimento da Igreja Católica, exerceram enorme influência sobre todo o conhecimento existente na época, o que também inclui as informações acerca de plantas medicinais. Nesse período o interesse pelo mundo material, passando o homem a ser visto como centro do universo, em contraposição ao divino e sobrenatural. Muitos dos escritos dos filósofos gregos foram esquecidos ou mesmo perdidos, para serem parcialmente recuperados apenas no início do século XVI, por meio de versões em árabe. Sucedeu então a “Revolução Intelectual”, período de importantes conquistas no campo filosófico e da ciência. Galileu Galilei (1564 - 1642) foi um físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano cuja obra teve um papel preponderante na chamada Revolução Científica. Os séculos XVI e XVII marcaram o surgimento de um novo paradigma, iniciado com a Revolução Científica. A ciência foi reduzida a fenômenos matemáticos e quantificáveis, repercutindo na instalação de um modelo de saúde no qual foi substituída a concepção holística do universo, pela noção de mundo-máquina. Essa mudança de paradigma favoreceu o modo de produção capitalista e, após a Revolução Industrial no século XVIII, a ciência passou a ter grande responsabilidade por manter a força de trabalho ativa do homem, garantindo a produção das fábricas.Com a consolidação do positivismo entre o fim do século XIX e início do século XX, houve uma ruptura com o conhecimento metafísico e uma ênfase no desenvolvimento da pesquisa 9 experimental. A atenção dos cientistas voltou-se para as partes do corpo humano, e a assistência à saúde passou a seguir a orientação cartesiana e mecanicista que permaneceu na Idade Contemporânea, sendo a saúde considerada sob a óptica biológica como ausência de doenças. Instalou-se o modelo biomédico de saúde, alicerçado no paradigma cartesiano, que atendia plenamente aos interesses do modo de produção capitalista. O conhecimento e as terapêuticas anteriormente empregados na saúde humana, a exemplo das plantas medicinais, entre outras práticas de origem popular, foram marginalizados por não terem base científica. No Brasil, essas transformações no mundo da ciência e da economia ocorreram mais tardiamente, o que colaborou para que as práticas de saúde influenciadas pelas culturas indígena, africana e europeia permanecessem hegemônicas até o início do século XX. Nessa ocasião, tal hegemonia começou a ser rompida com a institucionalização dos serviços de saúde e o advento da alopatia, considerados imprescindíveis para o modo de produção emergente. Até então, o uso popular de plantas medicinais, associado à outros recursos naturais, era majoritário no processo de cura de muitos males que acometiam a saúde das pessoas. Você sabia? Os índios utilizavam a Fitoterapia dentro de uma visão mística, em que o pajé fazia uso de plantas entorpecentes para sonhar com o espírito que lhe revelaria a erva ou procedimento a ser seguido para a cura do enfermo e, também, pela observação de animais que procuravam determinadas plantas quando doentes. Para os escravos, quando alguém adoecia é porque estava possuído pelo espírito mal e um curandeiro se encarregava de expulsá-lo por meio de exorcismo e pelo uso de drogas, muitas vezes também de origem animal. 10 A influência europeia foi refletida principalmente pelos trabalhos dos padres da Companhia de Jesus, em 1579, que formularam receitas chamadas “Boticas dos Colégios”, à base de plantas para o tratamento de doenças. A economia do país naquele período, essencialmente rural, era duplamente favorável à utilização desses recursos, pois ao mesmo tempo em que a região era propícia ao seu desenvolvimento (pela praticidade advinda do contato estreito com a terra), também se configurava como a única alternativa de tratamento. Com o marco inicial desses dois eventos – a institucionalização da saúde e o surgimento da alopatia - e, forçadas pelas transformações advindas da nova ordem cultural estabelecida pelos moldes da produção industrial capitalista, as práticas não convencionais de saúde, em especial as plantas medicinais, começaram a ser desprestigiadas, pois não faziam parte do saber especializado, ou seja, comprovado pela lógica da ciência, e tudo o que não era objetivado, explicado e demonstrado cientificamente, foi descartado como saber e como prática. O saber médico hegemônico imperou, perseguindo e proibindo as práticas não oficiais de pessoas do povo, por considerá-las incapazes de exercer a arte de curar, impondo-se o reconhecimento social e a valorização do saber médico. Sob a ótica da ideologia do capital, destacou-se a formação e atuação dos profissionais de saúde calcada ainda hoje no modelo biomédico de assistência e na prática alopática. Os profissionais de saúde passaram a atuar e a investigar mais sobre o saber científico, racional, e menos a base política e social do conhecimento. Assim, “a medicina oficial” apropriou-se do saber de saúde do povo, de cunho empírico, e o transformou em um saber médico, de cunho biologicista, constituindo-se, assim, em um novo saber. A partir dos anos 80 e 90 do século passado, frente às várias mudanças engendradas pelo momento político, econômico e também da saúde, algumas práticas populares, entre elas, o uso terapêutico das plantas medicinais, começaram a ser resgatadas no 11 meio científico, não no sentido de se contraporem às alopáticas, mas de atuarem como complementares às práticas de saúde vigentes. Entre as razões apontadas como motivadoras desse resgate, destacam-se: • A falta de êxito do modelo médico vigente no tratamento de doenças; • Os efeitos iatrogênicos associados ao alto custo de determinadas drogas alopáticas; • A eficácia de algumas plantas já comprovada cientificamente; • O respeito e a valorização dos aspectos culturais. Desse modo, ainda que a alopatia permaneça hegemônica, reconhecida como científica e de prerrogativa médica, mas considerando as transformações sociais, éticas, políticas e econômicas que influenciam diretamente a saúde das pessoas e, consequentemente, os modelos de cuidar, o uso terapêutico de plantas medicinais no cuidado, antes situado à margem das instituições de saúde, hoje ultrapassa essas barreiras tentando legitimar-se nesse meio. 12 2 Regulamentação do uso de plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil O Brasil é considerado um dos países com maior diversidade vegetal, abrigando 55 mil espécies catalogadas. Estima-se que cerca de 4 mil espécies sejam usadas com fins medicinais. Nesse sentido, é imprescindível promover o resgate, o reconhecimento e a valorização das práticas tradicionais e populares de uso de plantas medicinais e remédios caseiros como elementos para a promoção da saúde, conforme preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um breve histórico da regulamentação brasileira A trajetória da regulamentação do uso de plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil remete a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em 1978, que resultou na Declaração de Alma-Ata (URSS), reconhecida por dar ênfase à saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade. Em 1982, foi criado o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos (Ceme). Em 1986, ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que recomendou a introdução de práticas alternativas nos serviços de saúde. Essa conferência serviu de base para a construção do sistema de saúde, a partir de então implantado no Brasil, e estimulou. em 1988, por meio da Resolução Ciplan nº 8, a regulamentação da implantação da Fitoterapia nos serviços de saúde e a criação de procedimentos e rotinas relativas à sua prática nas unidades assistenciais. Apesar de importantes documentos terem sido criados na década de 1990, poucos avanços foram obtidos nesse período. Em 1996, o relatório da 10ª Conferência Nacional de Saúde indicou a incorporação de práticas de saúde no Sistema Único de Saúde 13 (SUS), inclusive a Fitoterapia, e propôs que o Ministério da Saúde incentivasse tratamentos com plantas medicinais na assistência farmacêutica pública, bem como elaborasse normas para sua utilização. O que se viu até então foram iniciativas retraídas quanto à utilização das plantas medicinais. Com o intuito de reverter tal situação e tendo em vista os gastos governamentais que poderiam ser reduzidos, foi instituída a Portaria nº 3.916, em 1998, que aprovou a Política Nacional de Medicamentos e estabeleceu a contínua expansão do apoio às pesquisas direcionadas ao aproveitamento do potencial terapêutico da flora e fauna nacionais. O início do século XXI foi marcado pela Proposta da Política Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos, surgida em 2001. A partir de então e até os dias atuais, verificou-se uma tendência crescente na consolidação das práticas fitoterápicas, conforme pode ser observado no Quadro 1. 2002/05 - Estratégia da OMS sobre medicina tradicional: estabelece a criação de mecanismos normativos e legais necessários para promover e manter uma boa prática, que o acesso seja equitativo e que seja assegurada a qualidade, a segurança e a eficácia das terapias. E que também sejam assegurados recursos econômicos para a pesquisa, educação e formação profissional. 2003 - Relatório da12ª Conferência Nacional de Saúde: indica a necessidade de investimento na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para produção de medicamentos a partir da flora brasileira. 2003 - Relatório do Seminário Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos e Assistência Farmacêutica promovido pelo Ministério da Saúde: recomenda a inserção da Fitoterapia no SUS. 2003 – RDC nº 210: dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação de medicamentos. 2004 - Resolução nº 338, do Conselho Nacional de Saúde: aprova a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, que contempla, em seus eixos estratégicos, a definição e pactuação de ações intersetoriais que visam a utilização das plantas medicinais e de medicamentos fitoterápicos no processo de atenção à saúde, com respeito aos conhecimentos tradicionais 14 incorporados, embasamento científico, adoção de políticas de geração de emprego e renda, qualificação e fixação de produtores, envolvimento dos trabalhadores da saúde no processo de incorporação dessa opção terapêutica, baseada no incentivo à produção nacional, com a utilização da biodiversidade existente no País. 2004 - Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde: inclui a Fitoterapia como área de interesse, na perspectiva de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos para tratamento, prevenção e promoção da saúde. 2004 – RDC nº 48, acompanhada pelas RE nº 88, 89, 90 e 91 - resoluções específicas para o registro de fitoterápicos no Brasil. 2004 – RE Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nº 90: determina a publicação do guia para a realização de estudos de toxidade pré-clínica de fitoterápicos. 2004 – RE Anvisa nº 91: determina a publicação do guia para realização de alterações, inclusões, notificações e cancelamentos pós-registro de fitoterápicos. 2005 - 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica: aprova 48 recomendações, entre elas a implantação de programas para uso de medicamentos fitoterápicos nos serviços de saúde. 2005 – RDC nº 249: determina que todos os estabelecimentos fabricantes de produtos intermediários e de insumos farmacêuticos ativos, devem cumprir as diretrizes estabelecidas no regulamento técnico das boas práticas de fabricação de produtos intermediários e insumos farmacêuticos ativos. 2006 - Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares para o SUS (Portaria nº 971/GM/MS): recomenda a Fitoterapia. O documento propõe a implementação de ações e serviços relativos à Fitoterapia/Plantas Medicinais pelas Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos sistemas de atenção à saúde. 2006 - Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Decreto nº 5.813): propõe o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos para atender aos critérios de qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso. 2007 - Portaria nº 3.237/GM/MS: inclui os fitoterápicos no 15 elenco de referência de medicamentos e insumos complementares para a assistência farmacêutica na atenção básica em saúde. 2007 – RDC nº 67: dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para uso humano em farmácias. 2008 - Portaria nº 1.274/GM/MS: institui o Grupo Executivo para o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. 2008 - Portaria Interministerial nº 2960: aprova o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos que define ações, prazos, recursos, ministérios/órgãos gestores e envolvidos, para o desenvolvimento das diretrizes da política e criação do Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. 2008 - Resolução ANVISA nº 95: regula o texto de bula de medicamentos fitoterápicos. 2008 – RDC nº 87: altera o Regulamento Técnico sobre as Boas Práticas de Manipulação em farmácias. 2008 - Instrução Normativa ANVISA nº 5: determina a publicação da “Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado”. 2009 - Portaria nº 2.982/GM/MS: amplia o número de fitoterápicos no Elenco de Referência Nacional de Medicamentos e Insumos Complementares para a Assistência Farmacêutica na Atenção Básica. 2009 – RDC nº 47: dispõe sobre a padronização de bulas. 2010 - Portaria nº 886/GM/MS: institui a Farmácia Viva no âmbito do SUS. 2010 - Portaria nº 1.102/GM/MS: institui a Comissão Técnica e Multidisciplinar de Elaboração e Atualização da Relação Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (COMAFITO). 2010 - Instrução Normativa nº 5: Lista referências bibliográficas para avaliação de segurança e eficácia de medicamentos fitoterápicos. 2010 – RDC nº 10: dispõe sobre a notificação de drogas vegetais. 2010 – RDC nº 14: dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. 2010 – RDC nº17: dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação e Controle de medicamentos. 16 Quadro 1 - Ações reguladoras da consolidação da Fitoterapia no Brasil. Existem diversos “modelos” de Fitoterapia no Brasil, que podem ser categorizados em três grupos: • O uso do medicamento fitoterápico devidamente registrado na Anvisa. É feita a extração de alguns componentes bioativos das espécies vegetais, o que facilita a pesquisa científica e desperta maior interesse da indústria farmacêutica. • A Fitoterapia pública abrangida pelo SUS, organizações não governamentais, movimentos sociais, etc. Dentro desse modelo pode-se citar o projeto da Farmácia Viva, desenvolvido pelo professor Abreu Matos, da Universidade do Ceará. Em Goiânia, tem-se o pioneirismo hospitalar idealizado nos moldes da medicina alternativa, embora funcione nos dias de hoje com a sua farmácia desativada. • A “fitoterapia livre” abrangida pelos comerciantes de plantas, terapeutas, quilombolas, indígenas, raizeiros, etc. O uso de muitas plantas nativas empregadas na medicina tradicional foi oficializado em 1926 pelo governo brasileiro, a partir da sua inclusão na Farmacopeia Brasileira (FBRAS). As Farmacopeias são publicações governamentais, editadas com o objetivo de normatizar a produção e, consequentemente, a qualidade dos produtos farmacêuticos comercializados no País. A FBRAS conta com quatro edições, datadas de 1926, 1959, 1977, sendo a última edição publicada em fascículos desde 1988. Cada produto é descrito na Farmacopeia sob a forma de monografia. A Tabela 1 traz a evolução do número de monografias para 17 produtos vegetais desde a sua criação. A 1ª Edição, de 1926, conta com aproximadamente 707 monografias para drogas vegetais e produtos preparados com elas. Naquela época, quase a totalidade dos medicamentos era preparada com produtos naturais, sendo as plantas a mais importante fonte de medicamentos. A indústria farmacêutica era praticamente inexistente e os protocolos experimentais para validação das plantas sequer eram desenvolvidos. Pode-se afirmar, portanto, que as plantas medicinais que eram selecionadas para compor as Farmacopeias contavam com algum histórico de uso seguro e eficaz, na medicina tradicional, ao longo dos anos. Forma 1ª edição (1926) 2ª edição (1959) 3ª edição (1977) 4ª edição (1996) Droga vegetal 228 63 23 25 Extrato- fluido 167 24 0 0 Tintura 108 27 0 0 Extratos 59 14 0 0 Droga em pó 83 37 0 0 Óleos essenciais 40 18 0 0 Óleos 10 5 0 0 Outras formas 12 5 0 0 Total 707 193 23 25 Tabela 1 - Número aproximado de monografias para plantas medicinais e seus produtos em cada edição da FBRAS. A FBRAS, apesar de estar em processo de revisão, iniciado em 2009, já possibilitou a publicação de alguns documentos oficiais como a Renisus, que é uma lista contendo 71 plantas, que terão seu uso estimulado em postos de atendimento público à saúde em todo o país. Adicionalmente, a RDC nº 10, de 9 de março de 2010, descreve as formas de uso, preparo e apresentação de 66 plantas 18 medicinais. Vale a pena ressaltar que a Farmacopeia é incompleta. Há ainda uma infinidade de plantas nacionais que podem ser incluídas nessa lista. Quem desejar contribuir deve acessar o site da Anvisa (http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeia/index.htm), e por meio do preenchimento do anexoII da RDC nº10, é possível requerer a inclusão ou a alteração de alguma planta medicinal ou, ainda, informação a ser disponibilizada no referido documento. 19 3 Plantas medicinais: do cultivo às formas de uso Você saberia dizer se há diferença entre plantas medicinais e fitoterápicos? Para você essas palavras possuem o mesmo significado? Esse é um dos assuntos que abordaremos neste capítulo. Vejamos o porquê através da delimitação de alguns coceitos: • Planta medicinal – planta usada tradicionalmente que contém um ou mais de um princípio ativo, conferindo-lhe atividade terapêutica; • Droga vegetal – planta medicinal ou suas partes, após processos de coleta, estabilização e secagem, podendo ser íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada; • Derivado de droga vegetal – produto de extração da matéria-prima vegetal (extrato, tintura, óleo, cera, exsudado, suco e outros). É caracterizado pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade; • Fitoterápico - fármaco elaborado empregando- se exclusivamente matérias-primas vegetais. Os princípios ativos são substâncias ou classes de substâncias quimicamente caracterizadas, cuja ação farmacológica é conhecida e responsável, total ou parcialmente, pelos efeitos terapêuticos do fitoterápico. O fitoterápico é caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e 20 constância de sua qualidade. Nota importante: A eficácia e segurança dos fitoterápicos é validada através de levantamentos etnofarmacológicos de utilização, documentações tecnocientíficas em publicações ou ensaios clínicos fase 3. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais. No Brasil, o principal órgão responsável pela regulamentação de plantas medicinais e seus derivados é a Anvisa, autarquia do Ministério da Saúde (MS) que tem como papel proteger e promover a saúde da população, garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços e participando da construção de seu acesso. Diante do exposto, podemos resumir a relação entre plantas medicinais e fitoterápicos conforme o esquema a seguir. A OMS define planta medicinal como sendo “todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semissintéticos”. No capítulo 1, vimos que a utilização de plantas com fins medicinais, para tratamento, cura e prevenção de doenças, é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade. No início da década de 1990, a OMS divulgou que 65-80% da população dos países em desenvolvimento dependiam das plantas medicinais como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde. Ao longo do tempo, têm sido registrados variados procedimentos clínicos tradicionais utilizando plantas medicinais. Apesar da grande evolução da medicina alopática, ocorrida a partir da segunda metade do século XX, existem obstáculos na sua utilização enfrentados pelas populações carentes, que vão desde o acesso aos centros de atendimento hospitalares à obtenção de 21 exames e medicamentos. Esses motivos, associados com a fácil obtenção e a grande tradição do uso de plantas medicinais, contribuem para sua utilização por parte das populações dos países em desenvolvimento. Cultivo de plantas medicinais “Mangueiras e jambeiros no quintal, meninos se lambuzam e contam caso Coentro, pimentão e cebolinha na horta pra lembrar a tradição nordestina Por destino, não por acaso Pra reforçar contra a gripe, banana e abacate sem veneno, Acerola e limão Mas se resfria não tem jeito Guaco, cidreira, mel Cama e carinho de vó para o cansaço Vou guardar minhas sementes pra passar pros meus amigos Produzir uma mudinha pra tudo ficar florido Alegrando o quintal e a nossa vida, encontrando e trocando Nesse dia-a-dia da cidade, apesar de tão corrido” . Denis Monteiro – Agricultor Urbano 22 Conforme observa-se no poema, é comum, no Brasil, o cultivo de plantas medicinais no quintal de casa. Diante dessa prática cultural, que até então estava perdendo seu espaço, o MS tem incentivado a criação das “Farmácias Vivas”. O cultivo das plantas medicinais em domicílio tornou-se uma das formas mais importantes no processo de divulgação da utilização das plantas como medicamentos, por não requerer uma área muito grande, nem depender de custos elevados para a sua implantação. Para iniciar uma horta medicinal, precisamos selecionar as espécies e identificar corretamente as plantas. Uma horta medicinal, por certo, deverá produzir satisfatoriamente ervas que podem ser usadas na culinária, temperos e aquelas de uso de rotina para o tratamento de doenças mais comuns. Tão logo sabemos o que plantar e por que plantar, devemos agora saber onde plantar uma horta medicinal. Local O local a ser escolhido para implantação de uma horta medicinal deverá ter água disponível em abundância e de boa qualidade, e ser ainda exposto ao sol, principalmente pela manhã. Solo O solo deve ser leve e fértil para que as raízes tenham facilidade de penetrar e desenvolver. Tendo disponibilidade, é bom fazer a análise do solo, principalmente quando se trata de uma horta comercial. O aspecto físico do solo pode ser melhorado incorporando-se ao mesmo esterco algum composto orgânico, que fornecerão nutrientes que ajudarão a reter a umidade. A correção do solo pode ser feita com calcário e ainda podemos também adubá-lo com húmus. Certas espécies exigem solos úmidos, como é o caso do chápeu-de-couro, cana-de-macaco, etc. Outras já gostam de terrenos areno-argilosos, com umidade controlada, como é o caso de cará, bardana, alecrim, etc. Colheita O primeiro aspecto a ser observado na produção de plantas medicinais de qualidade, além da condução das plantas, é sem dúvida a colheita no momento certo. As espécies medicinais, no que 23 se refere à produção de substâncias com atividade terapêutica, apresentam alta variabilidade no tempo e espaço. O ponto de colheita varia segundo o órgão da planta, estádio de desenvolvimento, época do ano e hora do dia. A distribuição das substâncias ativas, numa planta, pode ser bastante irregular, assim, alguns grupos de substâncias localizam-se preferencialmente em órgãos específicos do vegetal. Os flavonoides, de uma maneira geral, estão mais concentrados nas partes aéreas da planta, em camomila (Chamomila recutita) estão no camazuleno e outras substâncias estão mais concentrados nas flores. Vê-se, portanto, a necessidade de conhecimento da parte que deve ser colhida para que se possa estabelecer o ponto ideal. O estágio de desenvolvimento também é muito importante para que se determine o ponto de colheita, principalmente em plantas perenes e anuais de ciclo longo, onde a máxima concentração é atingida a partir de certa idade ou fase de desenvolvimento. Por exemplo, o jaborandi (Pilocarpus microphyllus) apresenta baixo teor de pilocarpina (alcaloide) quando jovem. O alecrim (Rosmarinus officinalis) apresenta maior teor de óleos essenciais após a floração, sendo uma das exceções entre as plantas medicinais de um modo geral. Há uma grande variação na concentração de princípios ativos durante o dia: os alcaloides e óleos essenciais concentram-se mais pela manhã, os glicosídeos à tarde. As raízes devem ser colhidas logo pela manhã. Também a época do ano parece exercer algum efeito nos teores de princípios ativos. Assim, a colheita de raízes, no começo do inverno ou no início da primavera (antes da brotação), é citada como as melhores épocas. As cascas são colhidas quando a planta está completamente desenvolvida, ao fim da vida anual ou antes da floração (nas perenes). Nos arbustos, as cascas são separadas no outono e, nas árvores, na primavera. No caso de sementes, recomenda-se esperar até o completo amadurecimento e no caso de frutos deiscentes (cujas sementes caem após o amadurecimento), a colheita deve ser antecipada. Os frutoscarnosos com finalidade medicinal são coletados 24 completamente maduros. Os frutos secos, como os aquênios, podem cair após a secagem da planta, por isso recomenda-se antecipar a colheita, como ocorre com o funcho (Foeniculum vulgare). Deve-se salientar que a colheita das plantas em determinado ponto tem o intuito de obter o máximo teor de princípio ativo. No entanto, na maioria das vezes, nada impede que as plantas sejam colhidas antes ou depois do ponto de colheita para uso imediato. O maior problema da época de colheita inadequada é a redução do valor terapêutico ou predominância de princípios tóxicos, como no confrei (Symphitum ssp.). No Quadro 2 são apresentadas as partes das plantas medicinais a serem colhidas e suas respectivas épocas de colheita. Parte colhida Ponto de colheita Talos e folhas Antes do florescimento Flores No início da floração Frutos e sementes Quando maduros Raízes Quando a planta estiver adulta Casca e entrecasca Quando a planta estiver florida Quadro 2 – Parte da planta medicinal e seu respectivo ponto de colheita. Operação de colheita Uma vez determinado o momento correto, deve-se fazer a colheita de preferência com tempo seco e sem água sobre as partes, como orvalho ou água nas folhas. Assim, a melhor hora para se fazer a colheita é pela manhã, logo que secar o orvalho que se acumula sobre as plantas. O material colhido deve ser colocado em cestos e caixas; também deve-se ter o cuidado de não amontoá-los ou amassá-los, para não acelerar a degradação e perda de qualidade. Deve-se ainda evitar a colheita de plantas doentes, com manchas, fora do padrão, com terra, poeira, órgãos deformados, etc. Durante o processo de colheita, é importante evitar a incidência direta de raios solares sobre as partes colhidas, principalmente 25 flores e folhas. As raízes podem permanecer por algum tempo ao sol. Um ponto importante a ser considerado para assegurar melhor qualidade é a anotação dos dados referentes às condições no momento da colheita, condução da lavoura, local, produtor, condições de secagem, etc. Imediatamente após a colheita, o material deve ser encaminhado para a secagem. Normalmente, após a colheita das plantas pode-se fazer o uso direto do material fresco, extrair substâncias ativas e aromáticas do mesmo ou promover a secagem para comercialização in natura, que requer maior atenção por permitir a conservação e possibilitar a utilização das plantas a qualquer tempo e não somente quando atingirem o ponto de colheita. Secagem O consumo de plantas medicinais frescas garante ação mais eficaz dos princípios curativos. Entretanto, nem sempre se dispõe de plantas frescas para uso imediato e a secagem possibilita a conservação quando bem conduzida. No beneficiamento de plantas medicinais, são utilizados vários processos. Dependendo da espécie e da forma de comercialização, esses processos são utilizados diferencialmente. Por exemplo, as mentas podem ter as folhas dessecadas ou o óleo essencial comercializado, duas condições que exigem metodologias diferentes. A maioria das plantas medicinais é comercializada na forma dessecada tornando o processo de secagem fundamental para a qualidade final do produto. A redução do teor de água durante a secagem impede a ação enzimática e consequente deterioração por micro-organismos. A secagem reduz o peso da planta, em função da evaporação de água contida nas células e tecidos, promovendo a concentração de princípios ativos em relação ao peso inicial da planta. Daí, deve- se utilizar menor quantidade de plantas secas do que frescas. No entanto, esse teor varia também com a idade da planta e condições de umidade do meio. Armazenamento e embalagem O material está pronto para ser embalado e guardado quando começa a ficar levemente quebradiço. O teor de umidade ideal após 26 a secagem deve ser de 5 a 10% para folhas e flores. Já para cascas e raízes, essa umidade varia entre 12 e 20%. O período de armazenamento deve ser o menor possível, para reduzir as perdas de princípios ativos. Preferencialmente, o local deve ser escuro, arejado e seco, sem acesso de insetos, roedores ou poeira. O acondicionamento do material vai depender do volume produzido e do tempo que se pretende armazená-lo. Na literatura, são encontradas recomendações aplicáveis a condições de clima temperado, como o uso de tonéis de madeira não aromática, que conservam o produto por muito tempo. Serão necessários estudos para avaliar os diversos tipos de embalagens e o período de conservação máximo. Pequenas quantidades de plantas podem ser colocadas em potes de vidro ou sacos de polietileno ou polipropileno, que também parecem permitir boa conservação. Não se recomenda colocá-las próximas às embalagens de espécies diferentes (principalmente as fortemente aromáticas) ou depositar diretamente sobre o piso (colocar sobre estrados próprios ou dependurar). O material, antes de ser armazenado, deve ser inspecionado quanto à presença de insetos e fungos. Durante o armazenamento, deve-se repetir com frequência tais inspeções. No caso de ataque, recomenda-se eliminar o material, não se aconselha o expurgo das instalações em presença das ervas, uma vez que não existe registro, para plantas medicinais, dos produtos normalmente utilizados nessas operações. Atendendo às exigências, em termos de qualidade, e respeitando o meio ambiente, a produção de plantas medicinais revela grandes oportunidades para a utilização de sistemas de produção adequados às pequenas propriedades. A sua produção sustentada, tanto a cultivada quanto a explorada (extrativismo), vislumbra grande potencial de mercado, seja para uso artesanal ou industrial, seja para o mercado interno ou externo. Atualmente, o cultivo das Farmácias Vivas surge como uma alternativa de geração de renda para muitas pessoas que dispõem de condições mínimas necessárias, como aquelas que sobrevivem da agricultura familiar. Uma vez que as plantas medicinais são classificadas como produtos naturais, a lei permite que sejam comercializadas 27 livremente. Com isso, é facilitada a automedicação orientada nos casos considerados mais simples e corriqueiros de uma comunidade, o que reduz a procura pelos profissionais de saúde, facilitando e reduzindo ainda mais os gastos governamentais com a saúde. Por essas razões é que trabalhos de difusão e resgate do conhecimento de plantas vêm se difundindo cada vez mais, principalmente nas áreas mais carentes do país. Nos últimos anos, vem ocorrendo no Brasil um aumento acentuado no uso de plantas medicinais. Esse fato está associado não somente ao consumo por parte da população rural em geral, mas também, e principalmente, ao consumo associado a programas oficiais de saúde. Esses programas se multiplicam em todo o país e têm se formado equipes multidisciplinares responsáveis pelo atendimento fitoterápico, com profissionais encarregados do cultivo de plantas medicinais, da produção de fitoterápicos, do diagnóstico médico e da recomendação desses produtos. Formas de preparo e uso de plantas medicinais Você sabia que existem muitas formas de se preparar as plantas medicinais? Veja abaixo: Chá infusão: colocar água fervente sobre a erva dentro de uma vasilha. Tampar e deixar de 5 a 10 minutos em repouso. Depois é só coar. Esse método é utilizado para afolhes, flores, caules finos e para toda planta aromática. Nunca deixar para tomar o chá no dia seguinte. Faça um novo. Chá decocção: colocar parte da planta na água fria, depois de bem limpa. Você ferve, o tempo de fervura pode variar de 10 a 20 minutos, dependendo da consistência da parte da planta. Após o cozimento, deixar em repouso de 10 a 15 minutos. Aí é só coar. Esse método é indicado quando se utiliza partes duras, como cascas, raízes e sementes. Chá maceração: colocar a planta amassada ou picada de molho em água fria por 10 a 24 horas. Depois, é só coar. Para folhas e sementes, o tempo de molho dura de 10 a 21 horas. Para talo, cascas e raízes, o tempo varia de 22 a 24 horas. 28 Lambedor: é só juntar ao cháda planta (feito por infusão ou cozimento), sem coar, a mesma medida de açúcar cristal, rapadura ou açúcar mascavo. Por exemplo: 2 xícaras do chá para 2 xícaras de açúcar. Levar ao fogo até virar melado. Deixar em repouso por cerca de duas horas; em seguida, coar com melado. Geralmente, é feito a partir de plantas usadas para problemas respiratórios, como tosse, bronquite, etc. O lambedor pode ser feito também com mel de abelhas, usando-se uma medida do chá para uma medida do mel. Nesse caso, a mistura não deverá ser levada ao fogo. Por causa do açúcar, o xarope pode se fermentar com facilidade. Para evitar que isso aconteça, ele deve ser guardado em recipiente bem limpo, fechado e, de preferência, em geladeira ou local fresco. Usar esse preparo por no máximo 7 dias. Cataplasma: preparar o chá por cozimento. Ainda quente, acrescentar farinha, fazendo uma papa. Colocar essa papa sobre um pano limpo e depois cobri-la com outro pano, ou seja, a papa fica entre dois panos. Aplicar sobre a pele da região afetada. Gargarejo e bochecho: preparar o chá por infusão ou cozimento (depende da parte da planta que será utilizada. Tampar e deixar em repouso por 10 minutos. Coar e fazer gargarejo ou bochecho, pelo menos 2 vezes ao dia. Inalação: colocar água fervente sobre porções de plantas aromáticas dentro de uma vasilha. Aspirar o vapor pelo nariz, através de um pequeno funil de papel. Atenção: realizar essa preparação exige cuidado rigoroso, dado o risco de queimaduras. Tintura: a tintura é uma preparação feita com álcool diluído, onde se colocam partes vegetais frescas ou secas, pouco trituradas. Atenção: esse preparo exige uma proporção específica entre as quantidades da planta a serem utilizadas no preparo de tinturas. Compressa: embeber um pano ou pedaço de algodão com chá ou sumo da planta. Aplicar na área afetada. Atenção: a compressa pode ser usada quente ou fria. Banho: faz-se uma infusão ou decocção mais concentrada, que deve ser coada e misturada na água do banho. Outra maneira indicada é colocar as ervas em um saco de pano firme e deixar boiando na água do banho. Os banhos podem ser parciais ou de 29 corpo inteiro e são normalmente indicados uma vez por dia. Óleos: são feitos na impossibilidade de fazer pomadas ou compressas. As ervas secas ou frescas são colocadas em um frasco transparente com óleo de oliva, girassol ou milho. Depois é necessário manter o frasco fechado diretamente sob o sol por um período de duas a três semanas. Filtrar ao fim e separar uma possível camada de água que se formar. Conservar em vidros que o protejam da luz. Pós: a planta é seca o suficiente para permitir sua trituração com as mãos, deve ser peneirada e mantida em frasco bem fechado. As cascas e raízes devem ser moídas até se transformarem em pó. Internamente pode ser misturado ao leite ou mel e externamente é espalhado diretamente sobre o local ferido ou misturado em óleo, vaselina ou água antes de aplicar. Suco ou sumo: obtém-se o suco espremendo-se o fruto e o sumo ao triturar uma planta medicinal fresca num pilão ou em liquidificadores e centrífugas. O pilão é mais usado para as partes pouco suculentas. Quando a planta possuir pequena quantidade de líquido, deve-se acrescentar um pouco de água e triturar novamente após uma hora de repouso. A partir disso, deve-se recolher então o líquido liberado. Como as anteriores, essa preparação também deve ser feita no momento do uso. Unguento e pomada: a pomada é preparada com o sumo da erva ou chá mais concentrado, misturado, por exemplo, com gordura de coco ou vaselina na forma líquida. Pode-se ainda aquecer as ervas na gordura, depois coar e guardar em frascos tampados e, ainda, pode ser adicionada tintura à vaselina. Também é possível adicionar um pouco de cera de abelha nas preparações a quente da pomada. As pomadas permanecem mais tempo sobre a pele, devendo ser usadas a frio e renovadas duas a três vezes ao dia. Xarope: para a preparação dos lambedores, também conhecidos como xaropes, faz-se, inicialmente, uma calda com açúcar cristal ou rapadura, na proporção de 1 ½ a 2 partes para cada 1 parte de água, por exemplo, 1 ½ a 2 xícaras de açúcar ou rapadura ralada. A mistura é levada ao fogo e, em poucos minutos há completa dissolução e a calda estará pronta, com maior ou 30 menor consistência, conforme desejado, então são adicionadas as plantas preferencialmente frescas e picadas, coloca-se em fogo baixo e mexe-se por 3 a 5 minutos, após esse tempo o xarope é coado e guardado em frasco de vidro. Se for desejada a adição de mel em substituição ao açúcar, não se deve aquecer, devendo-se adicionar apenas o suco da planta ou a decocção ou infusão frios. O xarope pode ser preparado com tinturas, acrescentando-se 1 parte de tintura para 3 partes da mesma calda com açúcar ou rapadura. As decocções podem ainda servir de base para o xarope, adicionando- se o açúcar diretamente nas mesmas, podendo submetê-las a leve aquecimento para facilitar a dissolução do açúcar. A quantidade de plantas a ser adicionada em cada xarope é variável segundo a espécie vegetal. O xarope pode ser guardado por até 15 dias na geladeira, mas se forem observados sinais de fermentação, ele deve ser descartado. No caso dos xaropes preparados com tinturas, o período de conservação tende a ser maior. O uso de gotas de tintura de própolis no xarope serve como conservante, além de auxílio terapêutico. Obviamente, os xaropes, devido à grande quantidade de açúcar, não devem ser usados por diabéticos. No momento de utilizar as preparações de plantas medicinais para fins terapêuticos deve-se ter o cuidado de escolher adequadamente o tipo de preparo para a finalidade desejada. Biodiversidade e obtenção sustentável de plantas medicinais Apesar do grande número de medicamentos sintéticos, criados continuamente pelo homem em seus laboratórios, e da manipulação constante de novos elementos e tecnologias, a maior parte dos fármacos têm suas origens diretamente relacionadas ao ambiente natural, sendo o mundo vegetal uma fonte inesgotável de princípios ativos extremamente importantes à farmacopeia. Diante da grande variedade de plantas medicinais que compõem a flora do país, devemos ressaltar que o cultivo dessas farmácias vegetais em nível doméstico, ou em maior escala, deva ser sustentado, ou seja, é necessário preservar o meio ambiente de forma que mesmo aquelas plantas que ainda não tiveram seus efeitos terapêuticos 31 comprovados, não sejam extintas em detrimento da maior produção de outras, e que todos os recursos naturais e demais formas de vida não sejam afetados. Aprendendo um pouco mais sobre biodiversidade O aumento expressivo do consumo de fitoterápicos, também nos países industrializados, fez aumentar o interesse por esse mercado, estimado, em 2002, em mais de US$ 20 bilhões anuais, tendo como principais consumidores a Europa e a Ásia. Associadas a esse fato, outras questões relativas à produção de fitoterápicos dizem respeito à gestão e ao manejo da biodiversidade, à qualidade e disponibilidade das matérias-primas para fabricação dos medicamentos fitoterápicos, à complexidade das tarefas de controle de qualidade, padronização e estabilização dos fitomedicamentos e à forte pressão do modelo tecnológico agroquímico, intensivo em uso de fertilizantes e pesticidas que podem comprometer bastante a qualidade dos solos e da matéria-prima. Adicionalmente, as pesquisas que utilizam espécies vegetais com potencial terapêutico devem receber apoio total do Estado, pois muito além do fator econômico, há que se destacar a importância para a segurança nacional e preservação dos ecossistemas onde existem tais espécies. Mas afinal, o que é biodiversidade? A biodiversidade é entendida como toda a vida biológica no planeta em seus diferentes níveis (de genes a ecossistemas), ou seja, a “variabilidade” da vida. Tendo em vista esse conceito, aumenta-se a percepção sobre a importância de medidas em longo e curto prazo que visem à proteção e à manutenção das mais diferentes formas de vida. Um exemploprático da importância da conservação da biodiversidade é que, na atualidade, as chances de descoberta de novas substâncias naturais estão diretamente relacionadas à riqueza da biodiversidade. O Brasil conta com 22% de toda a biodiversidade vegetal do mundo, o que faz da nossa flora nativa uma das mais ricas fontes de substâncias com potencial farmacológico. Isso faz aumentar o interesse internacional pelas plantas medicinais nativas do Brasil, pois, além de sua grande biodiversidade, o país possui uma rica medicina popular, embora pouco conhecida e difundida. 32 Supõe-se que mais de 70% dos medicamentos derivados de plantas foram desenvolvidos com base no conhecimento popular. Em uma recente publicação sobre dados etnobotânicos de plantas medicinais da Amazônia, mais de 300 espécies de fitoterápicos foram relacionadas. Essas plantas são usadas popularmente contra dezenas de doenças infecciosas a parasitárias, vetores, problemas crônico-degenerativos, emagrecimento, regulação da menstruação, procedimento abortivo e até como antídoto ao veneno de cobra. Quanto à medicina alopática, estima-se que 25 mil espécies de plantas sejam usadas com aplicação direta ou sirvam de modelos para síntese de produtos bioativos. Com o conhecimento de que menos de 1% das plantas tropicais tiveram seus usos potenciais corretamente investigados e; com o fato de que a imensa flora brasileira é praticamente desconhecida em termos químicos, pode- se imaginar o valor econômico de seu estudo. Você sabia? Informações sobre a utilização de plantas medicinais nativas do Brasil encontram-se registradas em bibliografia do século XIX. Com a descoberta das minas de ouro e diamantes, artistas, cientistas e aventureiros europeus chegaram ao Brasil interessados em visitar e estudar a região. Esses naturalistas visitaram, em especial, Minas Gerais, percorrendo a principal via de acesso na época, a Estrada Real. Em seus trajetos, esses “viajantes” descreveram a história de Minas Gerais, incluindo a descoberta de centenas de plantas e gêneros novos. A contribuição dos naturalistas para o conhecimento da flora brasileira é incalculável. Na velocidade em que ocorre o fenômeno de extinção das espécies vegetais, um enorme número de plantas com propriedades medicinais corre o risco de desaparecer antes de seu valor ser reconhecido, o que torna ainda mais urgente intensificar os 33 investimentos nessa área. É necessário que nossos cientistas se envolvam cada vez mais na luta pela preservação da natureza e que façam programas de utilização da biodiversidade, que devem ser ecológica e economicamente viáveis e estar amplamente associados às questões sociais do País. Biodiversidade vs. biopirataria A exuberância da biodiversidade brasileira está associada a um dos crimes mais preocupantes da sociedade contemporânea – a biopirataria. Esse termo foi lançado em 1993, pela ONG RAPI (hoje ETC Group), para alertar sobre o fato de que recursos biológicos e conhecimentos indígenas estavam sendo retirados e patenteados por empresas multinacionais e instituições científicas. Com isso, as comunidades tradicionais, que durante séculos usaram tais recursos e geraram tais conhecimentos, não participavam dos lucros. De um modo geral, “biopirataria” significa a apropriação de conhecimentos e de recursos genéticos de comunidades tradicionais, agricultores e indígenas, por indivíduos, instituições e empresas que procuram o controle exclusivo do monopólio sobre seus recursos e conhecimentos, sem o consentimento das autoridades nacionais. A bioprospecção de recursos naturais que servem como matéria-prima para fármacos, tem a eficiência quintuplicada quando são seguidas as sugestões apontadas pelos conhecimentos populares. O Brasil, embora seja signatário de convenções e acordos internacionais sobre o assunto, como a Convenção de Diversidade Biológica e o acordo TRIPS, e apesar de possuir legislação interna sobre acesso ao patrimônio genético, ainda enfrenta grandes problemas em relação à biopirataria. Essa é uma das causas que dificulta o uso sustentável da biodiversidade e a repartição dos benefícios decorrentes do acesso aos recursos vegetais e conhecimento tradicional associado. Nesse contexto, em 2000, o Governo Federal passou a trabalhar na estruturação de uma Política Nacional da Biodiversidade. Essa política postula a necessidade de se atribuir uma valoração econômica ao nosso patrimônio genético. A proteção do conhecimento tradicional associado também é contemplada nessa política, que prevê a repartição dos lucros com a comunidade que 34 forneceu a informação. Após 6 anos, foi aprovada, através do Decreto nº 5.813/2006, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, com objetivo de garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional. Destaca-se que o Brasil é detentor de um amplo parque científico, diversos laboratórios e universidades capazes de trabalhar em parceria com instituições estrangeiras, ou mesmo sozinhos, para o desenvolvimento de fármacos. Mas, apesar de possuir a maior biodiversidade com potencial medicinal do planeta, o Brasil representa o 10º mercado farmacêutico mundial e importa fármacos principalmente da Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos. Um ponto que devemos refletir contempla duas vertentes que estão por trás da produção de fitoterápicos: se por um lado, os fitoterápicos podem ser encarados como oportunidades para geração sustentável de renda para comunidades locais (consolidando-se, portanto, como alternativa de financiamento da conservação da biodiversidade); por outro, a bioprospecção é vista como mecanismo de pirataria da biodiversidade e do conhecimento associado ao seu uso. Fique de olho! Infelizmente, as ações de “pirataria” não estão restritas às plantas medicinais, mas também aos nomes e preparações consagradas pela tradição brasileira. A apropriação do nome “cupuaçu” por uma empresa japonesa tornou, recentemente, esse assunto de interesse público. No entanto, outros fatos semelhantes continuam acontecendo, como os exemplos ilustrados a seguir: barras de chocolate preparadas com açúcar integral foram registrados sob o nome de rapadura pela empresa “Nirwana” e são livremente comercializados em lojas de produtos naturais da Alemanha; outro exemplo é 35 uma pesquisa sobre a composição química e atividade biológica da maniçoba, alimento de uso tradicional da população do estado do Pará, a ser publicada no periódico científico Journal of Food Composition and Analysis. Nesse último caso, todo o trabalho foi realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos EUA. Esses exemplos ilustram o quanto as tradições culturais brasileiras também vêm sendo apropriadas pelos estrangeiros e confirma a necessidade de mecanismos mais eficazes de proteção. 36 4 Fitoterápicos - Pesquisa, desenvolvimento e controle de qualidade Pesquisa: ferramenta útil na transformação de plantas medicinais em medicamentos No Brasil, duas importantes políticas foram estabelecidas em 2006. A primeira foi a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), aprovada através da Portaria Ministerial MS/GM nº 971, em maio de 2006. A segunda foi a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, publicada através do Decreto nº 5.813, em junho de 2006. Ambas as políticas apresentam em suas diretrizes o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento com relação ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos que possam ser disponibilizados com qualidade, segurança e eficácia à população, priorizando a biodiversidade do país. Essas medidas apontam para maior valorização e reconhecimento desse recurso terapêutico como alternativa para a população brasileira. Com o desenvolvimento da tecnologia aliado ao interesse em se confirmar o conhecimento da medicina popular, as plantas medicinais têmtido seu valor terapêutico pesquisado mais intensamente pela comunidade científica. Elas são a base do descobrimento de novas drogas (como fornecedoras do princípio ativo) ou medicamentos semissintéticos ou sintéticos (baseados em compostos secundários de plantas). Como exemplo, citamos o taxol, um diterpenoide taxano derivado de Taxus sp recentemente registrado nos Estados Unidos para tratamento de câncer ovariano; a nabilona, derivada do tetrahidrocanabinol (princípio ativo da Cannabis sativa) para tratamento de náuseas associadas ao tratamento quimioterápico de câncer. Os canabinoides têm sido também utilizados no tratamento de glaucomas e doenças neurológicas, como a epilepsia e distonia, e como agentes 37 hipotensivos, antiasmáticos e analgésicos. Alguns outros produtos naturais têm sido profundamente avaliados. Por exemplo, alguns compostos organossulfurados, obtidos de alhos e cebolas, têm sido investigados como potenciais protetores contra doenças cardiovasculares. O ácido elágico e os tocoferóis têm sido avaliados como protótipos de agentes antimutagênicos e preventivos contra cânceres. Alguns produtos naturais que eram obtidos de plantas, como a cafeína, teofilina, efedrina, emitina, papaverina, L-DOPA, ácido salicílico, entre outros, agora são produzidos comercialmente por síntese química. Além disso, há produtos naturais obtidos de plantas que servem como modelos químicos para a estrutura e a síntese de novos medicamentos. Como exemplos, a beladona, a fisostigmina, a quinina, os opiáceos, a papaverina e o ácido salicílico têm as suas estruturas utilizadas como modelo e também servem para a síntese de drogas anticolinérgicas, anticolinesterases, antimaláricas, assim como a benzocaína, procaína, lidocaína, aspirina entre outras. O valor dos produtos naturais produzidos a partir das plantas medicinais para a sociedade e para a economia do Estado é incalculável. Um em cada quatro produtos vendidos nas farmácias é fabricado a partir de materiais extraídos de plantas das florestas tropicais ou de estruturas químicas derivadas desses vegetais. De 1959 a 1980, os medicamentos derivados de vegetais representaram aproximadamente 25% de todas as prescrições médicas nas farmácias americanas. Atualmente, a venda oficial desses medicamentos no mundo atinge cerca de 20 bilhões de dólares/ano. No Brasil, esse segmento responde por cerca de 7% do mercado farmacêutico, ou seja, 400 milhões de dólares por ano. Se a esse valor for incluída a economia informal da utilização popular de plantas medicinais nos países em desenvolvimento, os valores movimentados pelo setor alcançam a ordem de algumas centenas de bilhões de dólares/ano. Esses valores tornam-se mais significantes na demonstração da importância das plantas medicinais como estímulo à sua investigação se os considerarmos ante às estimativas de que somente cerca de 10% das espécies de plantas existentes têm sido sistematicamente estudadas em termos de compostos bioativos e 38 que apenas 1.100 das 365.000 espécies de plantas conhecidas foram estudadas em suas propriedades medicinais. O crescimento desse setor vem estimulando pesquisadores e indústrias farmacêuticas internacionais a investir em pesquisa e patenteamento de novas substâncias naturais, bem como extratos padronizados. Além disso, desde a década de 1970, a OMS vem estimulando os países em desenvolvimento a realizarem pesquisas para avaliar o potencial de suas plantas medicinais, e transformá-las em medicamentos eficazes e de custo acessível à população. De fato, para o emprego dos produtos de origem vegetal pela medicina oficial, é necessário que eles preencham os mesmos requisitos mínimos de eficácia, segurança e controle de qualidade exigidos para os produtos sintéticos. Muitas dessas pesquisas que vêm sendo desenvolvidas se alicerçam na biotecnologia. Você é capaz de definir biotecnologia? A Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU estabeleceu uma das muitas definições de biotecnologia: "Biotecnologia define-se pelo uso de conhecimentos sobre os processos biológicos e sobre as propriedades dos seres vivos, com o fim de resolver problemas e criar produtos de utilidade". A biotecnologia compõe-se basicamente das seguintes tecnologias: • Biologia molecular; • Engenharia genética; • Biotecnologia; • Cultura de tecidos. Os fitoterápicos se inserem no amplo setor da biotecnologia e é dentro dessa perspectiva que eles têm sido tratados pelo Estado 39 brasileiro nos últimos anos, sob a ótica do Ministério da Ciência e da Tecnologia. Entretanto, a normatização do registro de medicamentos fitoterápicos está situada no âmbito do MS, por meio da Anvisa, com a RDC n°. 17, de fevereiro de 2000. Recentemente, foi publicado o Decreto 6.041, de 8 de fevereiro de 2007, instituindo a Política de Desenvolvimento de Biotecnologia e criando o Comitê de Biotecnologia, fazendo menção ao respeito às normas de acesso à biodiversidade (em especial ao patrimônio genético nacional) e ao conhecimento tradicional associado. Todo o arcabouço jurídico brasileiro contribuiu para a apropriação de partes de plantas, de animais e até de conhecimentos tradicionais, que são utilizados durante as pesquisas ou incluídos em processos de fabricação dos produtos desenvolvidos. As pesquisas que buscam determinar a eficácia e segurança das plantas medicinais são conhecidas como estudos de validação. Os métodos biotecnológicos utilizados para validar as plantas consistem, em linhas gerais, nas seguintes etapas: • coleta e identificação da planta para o estudo; • preparação dos extratos e frações enriquecidos em substâncias químicas; • avaliação fitoquímica desses extratos para identificar as classes de substâncias presentes; • avaliação da atividade biológica dos produtos por meio de ensaios in vitro (pela capacidade do extrato em inibir 40 o crescimento dos micro-organismos ou a atividade das enzimas) e in vivo (em animais de laboratório); • desenvolvimento de formulação e testes clínicos em humanos. Após a confirmação da eficácia e segurança, o produto farmacêutico final é desenvolvido, ao lado de métodos de controle de qualidade e de produção desses medicamentos. Muitas plantas utilizadas na medicina tradicional de vários países já foram submetidas aos estudos de validação e suas ações foram confirmadas. Já outras espécies, apesar de contarem com o amplo emprego por determinadas populações, não tiveram seus efeitos confirmados e ainda foram consideradas tóxicas. Apesar da vasta flora medicinal disponível e dos desenvolvimentos técnico- científicos dessa área, a maior parte das plantas medicinais nativas permanece sendo utilizada no Brasil da mesma forma que há séculos, ou seja, baseada unicamente na informação popular. Também se sabe que, apesar de nossa condição privilegiada de biodiversidade, utilizamos, e muito, as plantas medicinais exóticas, sendo que os valores de importação superam amplamente os de exportação para esses produtos. Por outro lado, em países desenvolvidos, como na Alemanha, a realidade é outra, visto que mesmo não possuindo grandes florestas, a nação é detentora do maior mercado de fitoterápicos. A entrevista concedida ao LQES NEWS (LQES), pelo professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ângelo da Cunha Pinto (ACP), remete a esse paradoxo. LQES - Sempre que pensam sobre a enorme diversidade brasileira, as pessoas, quase que imediatamente, associam a ela a possibilidade de termos 41 medicamentos que possam ter como base "produtos" de nossas florestas naturais. Trata-se de uma verdade ou de uma visão ingênua e romântica da situação? ACP - As florestas naturais são apenas "megacatálogos" de novas e conhecidas substâncias. Nos dias de hoje, muitos pensam que floresta natural é sinônimo de fitoterápico. Atualmente, os fitoterápicos são uma realidade em todo mundo. Basta olhar o mercado europeu e as farmácias de produtos naturais que são, abusivamente falando, abertas diariamente nas grandes cidades brasileiras. Só recentemente foi lançado o 1º fitoterápicobrasileiro: um anti-inflamatório aqui desenvolvido de A a Z, graças a uma parceria entre a Universidade Federal de Santa Catarina e o Laboratório Aché. Esse mesmo laboratório, associado ao Laboratório Biossintética e à Unifesp, acabam de depositar duas patentes de novos fitoterápicos, um para tratamento de úlcera e outro como revigorante físico e sexual. São fatos que talvez apontem para o que pode ser considerada uma nova era da química de produtos naturais brasileira. Mas... é muito pouco para um País que tem o maior número de espécies vegetais do planeta. Entre a floresta e o medicamento há um grande fosso. Teremos mais medicamentos fitoterápicos, na medida em que investirmos mais em ciência; quando não apenas um, mas muitos outros editais com chamadas dirigidas à Química de Produtos Naturais forem lançados pelas agências de fomento à pesquisa científica. Românticos? Sim! Mas, acima de tudo, pragmáticos. Temos os "catálogos", precisamos agora agregar valor aos itens dos mesmos. Desenvolvimento de fitoterápicos A transformação de uma planta em um medicamento deve visar à preservação da integridade química e farmacológica do vegetal, garantindo a constância de sua ação biológica e a sua segurança de utilização, além de valorizar seu potencial terapêutico. Para atingir esses objetivos, a produção de fitoterápicos requer, necessariamente, estudos prévios relativos a aspectos botânicos, agronômicos, fitoquímicos, farmacológicos, toxicológicos, de desenvolvimento de metodologias analíticas e tecnológicas. Nesse sentido, o desenvolvimento de fitoterápicos inclui várias etapas e envolve um processo interdisciplinar, multidisciplinar e 42 interinstitucional. A interdisciplinaridade é de grande importância, visto que, existe grande número de pesquisas desvinculadas umas das outras, onde as especialidades se sobrepõem às reais necessidades da Fitoterapia. Constatam-se inúmeras plantas cujos estudos fitoquímicos e farmacológicos são potencialmente satisfatórios. Entretanto, a espécie em questão não possui sequer pesquisas agronômicas e ecológicas que se preocupam com reprodução do vegetal ou sequer com o extrativismo sustentável. As áreas de conhecimento envolvidas vão desde a antropologia botânica até a tecnologia farmacêutica. A pesquisa é iniciada pelo levantamento em literatura científica e catálogos internacionais nas áreas específicas do referido conhecimento, ao mesmo tempo, geralmente se faz a pesquisa etnobotânica e quimiotaxonômica. Pesquisa etnobotânica: trata da observação do uso popular de plantas nas diferentes culturas. Pesquisa quimiotaxonômica: permite, por meio do aspecto morfológico, identificar a presença de determinados grupos químicos que tenham atividade farmacológica. Sequencialmente, coleta-se um espécime da planta, prepara-se uma exsicata e faz-se a identificação botânica e o registro em um museu ou herbário. Depois, remete-se o vegetal aos estudos botânicos, que têm como objetivo a identificação inequívoca de uma espécie vegetal, por meio da análise de características anatômicas, procurando destacar aquelas consideradas peculiares de uma determinada espécie e que, em última instância, estejam presentes na matéria-prima vegetal. Da mesma forma, é importante o estabelecimento de características botânicas comparativas que permitam detectar, no controle de qualidade, a presença de uma ou mais espécies adulterantes. Quanto ao encaminhamento aos estudos agronômicos, objetiva-se à produção abundante e homogênea de matéria-prima, preservando, ao mesmo tempo, a espécie e a biodiversidade. Os principais aspectos a serem investigados visam à otimização da produção de biomassa e de constituintes ativos, por meio de estudos edafoclimáticos, de micropropagação, inter-relações 43 ecológicas, densidade de plantio, de melhoramento genético, além dos aspectos sanitários de manejo e beneficiamento da espécie. O melhoramento genético de plantas medicinais, apesar de estar em sua fase embrionária, tem conseguido avanços, principalmente no que refere-se às plantas produtoras de alcaloides e óleos essenciais. Os estudos fitoquímicos compreendem as etapas de isolamento, elucidação estrutural e identificação dos constituintes mais importantes do vegetal, principalmente de substâncias originárias do metabolismo secundário, responsáveis, ou não, pela ação biológica. Esses conhecimentos permitem identificar a espécie vegetal, conjuntamente com ensaios de atividade biológica, analisar e caracterizar frações ou compostos bioativas. Ressalta-se ainda a importância para o desenvolvimento de fitoterápicos do estabelecimento de marcadores químicos, que são indispensáveis para o planejamento e monitoramento das ações de transformação tecnológicas aliado a estudos de estabilidade dos produtos intermediário e final. Para isso, o conhecimento da estrutura química tem especial relevância no caso de substâncias facilmente degradáveis por fatores como luz, calor e solventes, atrelados ao processo tecnológico. A avaliação da atividade biológica inclui a investigação da atividade farmacológica e toxicológica das substâncias isoladas, de frações obtidas ou extratos totais da droga vegetal. A necessidade de constatar e verificar a atividade biológica de uma planta e dos produtos derivados pode ser abordada sob dois pontos de vista. O primeiro, é investigar uma sequência de aspectos, iniciando-se pela seleção das ações farmacológicas atribuídas à planta. Seleciona-se a atividade farmacológica específica a ser explorada, identificando-se o farmacógeno, e quais as respectivas substâncias que podem apresentar a atividade farmacológica propriamente dita. Sequencialmente, identifica-se a concentração e potência da substância ativa em questão, buscando-se, inclusive, a presença ou não de substâncias tóxicas na fração de interesse. O segundo diz respeito ao estabelecimento de estratégias de desenvolvimento tecnológico, no qual a sua validação exige a conservação da 44 composição química e, sobretudo, da atividade farmacológica a ser explorada. A seguir, tem-se esquematizado um exemplo (Quadro 3) da produção de princípios ativos em cultura de células: Material vegetal (cultivo ou silvestre) Seleção de plantas altamente produtivas Introdução de plantas “in vitro” Indução de calos (calogênese) Separação de linhas celulares estáveis Otimização das condições de cultivo Re-seleção de linhas celulares superiores Cultura em massa em biorreatores Isolamento e purificação dos metabólitos desejáveis Comercialização Quadro 3 – Exemplo do esquema da produção de princípios ativos em cultura de células O conhecimento dos aspectos de atividade biológica do vegetal é requisito essencial para a transformação da planta medicinal no produto fitoterápico, havendo também interesse em estudos de desenvolvimento de metodologias analíticas. Esses métodos permitem a avaliação da qualidade do produto fitoterápico, promovem a garantia da constância da ação terapêutica, a segurança de utilização, sendo a eles atribuídas funções diferenciadas. Nessa ótica, destaca-se a avaliação do teor de substância ou grupo de substâncias ativas e do perfil qualitativo dos constituintes químicos de interesse, presentes na matéria-prima vegetal, produtos intermediários e produto final; por meio de métodos espectrofotométricos, cromatográficos, físicos, físico- químicos ou químicos, devendo possuir especificidade, exatidão, 45 precisão e tempo de rotina analítica, viabilizando-se que o mesmo possa ser utilizado em estudos de estabilidade, permitindo, inclusive, a detecção de produtos oriundos da degradação das substâncias ativas ou dos marcadores químicos. Inclui-se a avaliação das características físicas e físico-químicas dos produtos tecnologicamente transformados, em razão de que essas peculiaridades podem interferir sobre o perfil biofarmacêutico do produto fitoterápico. Além disso, a utilização de métodos analíticos, visando à quantificação de substâncias ativas ou de referência, bem como de aspectosrelativos à forma farmacêutica, são essenciais para a obtenção da homogeneidade dos lotes de produção. A produção de fitoterápicos pressupõe que estudos de desenvolvimento tenham sido realizados anteriormente, estando os procedimentos e etapas de processamento devidamente estabelecidos. Cumprindo esse requisito, a obtenção de produtos fitoterápicos, quer seja em escala oficinal, hospitalar ou industrial, requer conhecimentos e habilidades específicas. É importante destacar que para que se viabilize a inserção da Fitoterapia nos pequenos centros de produção, bem como nas farmácias de manipulação, deve haver investimentos na elaboração de documentos oficiais para tal fim. Tais conhecimentos e habilidades devem estar relacionados, objetivando-se a produção de produtos farmacêuticos adequados, conforme os conceitos atuais de qualidade, que são o nível de satisfação do produtor e usuário do medicamento e o cumprimento de requisitos pré-fixados que conduzam à sua total adequabilidade ao fim a que se destinam. Portanto, o conhecimento do que se pretende fazer deve ser aliado às normas que permitam alcançar o objetivo traçado para atingir a qualidade total. O insumo é o conjunto de bens e serviços que permite, por meio das ações de transformação, a obtenção do medicamento. É indispensável que o produtor conheça profundamente as matérias- primas empregadas, a fim de estabelecer, para cada uma delas, uma monografia completa, que vai servir como documento básico para o estabelecimento da ficha de especificações para aquisição, dos protocolos de controle de qualidade, das instruções para suas 46 transformações, entre outras. De acordo com o tipo de matéria-prima, deverão ser delineados os controles de qualidade e tomados os cuidados de conservação e manipulação. O conhecimento dos adjuvantes empregados deverá abranger, em primeiro lugar, as especificações adequadas de conservação e manipulação. A especificação correta do material de embalagem primária pressupõe, por sua vez, o completo domínio do material a ser acondicionado e da sua composição. A sua reatividade, representada pela capacidade de absorver substâncias, de ser permeável a gases ou vapores no sentido do ambiente ou do interior da embalagem ou de ceder componentes para o produto, pode comprometer a qualidade do produto final. A obtenção de formas farmacêuticas derivadas de matéria- prima vegetal necessita de um planejamento inicial, com o objetivo de antever o manejo destas e dos demais adjuvantes de acordo com as especificações dos mesmos, além da determinação sequencial das ações de transformação e monitoramento dos pontos e metodologias de controle mais apropriados. Normalmente, o produto intermediário que inicia o processamento da forma farmacêutica classifica-se como preparação complexa. Trata-se de um produto oriundo da transformação da planta ou do farmacógeno. Dependendo da disponibilidade de mercado, a matéria-prima pode ser um extrato ou produto derivado, contendo adjuvantes farmacêuticos ou não. Este requer uma série de operações de transformação. Esse processamento do material vegetal para um produto tecnicamente elaborado, que pode ser intermediário ou acabado, implica na utilização de operações de transformação tecnológica. A complexidade do processo e o número de operações envolvidas estão determinados pelo grau de transformação tecnológica requerido, que pode ser mínimo, como é o caso de pós e drogas rasuradas destinados à preparação de chás; ou bem maior, quando o objetivo é obter frações purificadas ou fórmulas sólidas revestidas. Para cada uma das etapas do processo tecnológico, a escolha de uma operação específica é determinada pelas características físico-químicas do produto a ser obtido, pela natureza da matéria-prima a ser transformada e pelo volume de 47 produção exigido. Dentro dos agroecossistemas tradicionais, as atividades humanas influenciam tanto os cultivos, quanto a vegetação natural circundante, sendo importante o conhecimento desses sistemas e do respectivo manejo, visando ao controle de ervas daninhas, pragas e doenças, o desenvolvimento de cultivos em terras consideradas marginais, conservação de recursos genéticos, produção agrícola sustentável, etc. Ainda em relação ao aspecto de produção de plantas medicinais, cabe aqui lembrar que muito tem sido falado a respeito dos cuidados que se deve seguir nesse segmento, uma vez que a produção dos princípios ativos por tais plantas depende de uma série de fatores durante o crescimento vegetal e nos procedimentos após a coleta. Em função dessa preocupação, a OMS publicou em 2003 o guia de boas práticas agrícolas e de coleta para plantas medicinais, afirmando que reconhece que tem sido dada atenção insuficiente na questão da garantia de qualidade e controle da produção desses materiais vegetais. Controle de qualidade Conforme já mencionado, a regulamentação dos medicamentos fitoterápicos industrializados é realizada pela Anvisa, órgão federal do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, responsável pelo registro de medicamentos e outros produtos destinados à saúde. Entre as diversas ações promovida pela vigilância sanitária, destacam-se o controle sanitário de produtos, que abrange a normatização, as atividades educativas e de informação ao setor regulado e aos consumidores, registro de produtos, controle do processo produtivo, distribuição, comercialização, publicidade, consumo e descarte, além de análises laboratoriais. A garantia de qualidade do material vegetal a ser processado é fundamental na preparação de fitoterápicos, devendo-se considerar aspectos botânicos, químicos, farmacológicos e de pureza. Por esse motivo, além do teor de substância ativa e intensidade das atividades farmacológica e toxicológica, outros aspectos de qualidade a serem avaliados são: carga microbiana, contaminação 48 química por metais pesados, pesticidas e outros defensivos agrícolas e a presença de matéria estranha, como terra, areia, partes vegetais, insetos e pequenos vertebrados ou de produtos oriundos destes. Com o objetivo de auxiliar o desenvolvimento de especificações nacionais de referência, a OMS publicou no documento WHO/Pharm/92.559 uma coletânea de metodologias para analisar a qualidade de plantas medicinais. Isso é importante para o controle de qualidade dos insumos utilizados na fabricação dos derivados de drogas vegetais. Para garantir a qualidade do fitoterápico, deve-se utilizar uma metodologia descrita em farmacopeias ou formulários oficiais reconhecidos pela Anvisa (disponibilizados na RDC 79/03) ou validar a metodologia analítica no controle de qualidade. Se houver a metodologia na FBRAS, esta deve ser obrigatoriamente seguida, em relação às demais conhecidas, devendo-se dar prioridade à edição mais recente. Não havendo a metodologia nos compêndios oficiais, todas as metodologias utilizadas no controle de qualidade devem ser enviadas para a Anvisa com a indicação da fonte bibliográfica ou de desenvolvimento. A empresa pode optar por terceirizar uma parte da produção ou do controle de qualidade, mas deverá fazê-lo em laboratórios habilitados pela Rede Brasileira de Laboratórios em Saúde (Reblas) ou em outras empresas fabricantes de medicamentos que tenham CBPFC atualizado. Existem várias dificuldades para o controle de qualidade e comprovação de segurança e eficácia dos medicamentos fitoterápicos, devido à complexidade química dos derivados de drogas vegetais. Faltam investimentos em pesquisa com plantas nativas por parte das indústrias, que preferem desenvolver produtos baseados em plantas exóticas por disporem de vasta literatura científica publicada. Além disso, outras dificuldades inerentes ao processo de caracterização química e farmacológica dos derivados de drogas vegetais referem-se ao tempo e recursos apreciáveis, bem como o investimento em equipes multidisciplinares. 49 Assim, A QUALIDADE... ...deve ser alcançada através do controle de todo o processo de produção, desde a matéria-prima até o produto acabado, materiais de embalagem,
Compartilhar