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Plantas Medicinais e Fitoterápicos - Abordagem teórica com ênfase em nutriç

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Plantas medicinais e
Fitoterápicos
Abordagem teórica com ênfase em
nutrição
 
Monise Viana Abranches
 
 
 
1ª Edição
2012
 
2
 
EXPEDIENTE
Pesquisa de conteúdo
Hudsara Aparecida de Almeida
Paula
 
Produção editorial e Revisão final
Adelson Marques Canudo
 
Assistência editorial
Adriana Lopes Peixoto
CRN9 - 9521
 
Capa e Produção gráfica
Peter Pereira
 
Edição ortográfica e textual
Éverton Oliveira
 
Coordenação de projeto para mídia
digital
Rafael da Silva Carrasco
 
Coordenação geral
Adelson Marques Canudo
Luiz Eduardo Ferreira Fontes
 Todos os direitos reservados. Nenhuma
parte deste livro eletrônico poderá ser
reproduzida total ou parcialmente sem
autorização prévia da A.S. Sistemas.
 
 
Plantas medicinais e
Fitoterápicos – Abordagem
teórica com ênfase em nutrição
ISBN nº: 978-85-65880-01-5
Nutricionista Monise Viana
Abranches
CRN9 - 6925
 
A.S. Sistemas
Rua Professor Carlos
Schlottfeld, casa 10, Clélia
Bernardes – Viçosa-MG. CEP
36570-000
Tel: (31) 3892 7700
site: www.assistemas.com.br
 
 
 
3
http://www.assistemas.com.br/
 Sumário
Plantas Medicinais e Fitoterápicos - Abordagem teórica com ênfase em
nutrição
Módulo I
1 Conhecimento popular vs. Medicina científica: um breve histórico
2 Regulamentação do uso de plantas medicinais e fitoterápicos no
Brasil
Um breve histórico da regulamentação brasileira
3 Plantas medicinais: do cultivo às formas de uso
Cultivo de plantas medicinais
Formas de preparo e uso de plantas medicinais
Biodiversidade e obtenção sustentável de plantas medicinais
4 Fitoterápicos - Pesquisa, desenvolvimento e controle de qualidade
Pesquisa: ferramenta útil na transformação de plantas medicinais
em medicamentos
Desenvolvimento de fitoterápicos
Controle de qualidade
Registro de fitoterápicos
Módulo II
5 Abordagem terapêutica sobre plantas medicinais e fitoterápicos
6 Medicina preventiva e os princípios ativos dos derivados vegetais
7 Influência das plantas medicinais e fitoterápicos sobre a obesidade e
doenças associadas
8 Plantas medicinais e Fitoterápicos no Esporte
9 Compostos bioativos na saúde e na estética
Certificação de cosméticos - cenário internacional
Classificação dos cosméticos
Módulo III
10 Toxicidade dos Fitoterápicos
Monitorização e farmacovigilância de plantas
Classificação dos efeitos adversos associados às plantas
medicinais
Classificação quanto às reações intrínsecas e extrínsecas
Interações com fármacos sintéticos e seus efeitos
11 A Consulta e a prescrição nutricional
12 Referências Bibliográficas
4
13 Glossário
5
INTRODUÇÃO
 
A palavra Fitoterapia é derivada dos termos em latim “Phyton”
= vegetal e “Therapeia” = terapia. As matérias-primas dos
fitoterápicos são plantas (folhas, caule, flores, raízes ou frutos) com
efeitos farmacológicos medicinais, alimentícios, coadjuvantes
técnicos ou cosméticos. Portanto, a Fitoterapia é um método de
tratamento caracterizado pela utilização de plantas medicinais, em
suas diferentes preparações, sem a utilização de substâncias ativas
isoladas. Vale ressaltar, que tal ciência deve ser usada sob
orientação de um profissional capacitado.
A utilização de produtos naturais na medicina popular é
milenar e persiste até os dias atuais. Inicialmente, o uso de plantas
medicinais foi difundido por meio da prescrição dada
principalmente por curandeiros. Isso culminou com a falsa ideia de
que o consumo de plantas medicinais “é algo absolutamente
natural”, o que fez com que seu uso e prescrição tornassem
indiscriminados.
Atualmente, a Fitoterapia é uma ciência consolidada, uma vez
que é fundamentada em conhecimentos de fisiologia, fisiopatologia,
farmacologia, química orgânica, bioquímica e outras áreas da
saúde. Tais conhecimentos permitem compreender os mecanismos
de atuação e os efeitos atribuídos aos princípios ativos das plantas
ou derivados (extratos, xaropes, etc) utilizados na terapêutica e na
prevenção de diversas doenças, bem como seus possíveis efeitos
colaterais. Assim, torna-se necessário o conhecimento aprofundado
da aplicabilidade e segurança do uso das plantas medicinais e
fitoterápicos para a capacitação profissional voltada à atuação na
prática clínica.
 
Monise Viana Abranches
6
Módulo I
Definição e regulamentação
7
1 Conhecimento popular vs.
Medicina científica: um breve
histórico
O uso terapêutico das plantas medicinais na saúde humana é
historicamente construído por meio da sabedoria do senso comum
que articula cultura e saúde. Mesmo com os expressivos avanços
científicos da Fitoterapia, como é conhecida na linguagem
acadêmica a terapêutica caracterizada pelo uso de plantas
medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, as plantas
medicinais continuam sendo muitas vezes usadas apenas com base
na cultura popular para a promoção e recuperação da saúde das
pessoas.
O homem primitivo sempre buscou na natureza as soluções
para os diversos males que o assolava, fossem de ordem espiritual
ou física. No ano 3000 a.C., a China dedicava-se ao cultivo de
plantas medicinais e, atualmente, mantém laboratórios de pesquisa
e cientistas trabalhando exclusivamente para desenvolver produtos
farmacêuticos com ervas medicinais de uso popular.
Sabe-se também que, desde 2300 a.C., os egípcios, assírios e
hebreus cultivavam diversas ervas e traziam de suas expedições
tantas outras. Com essas plantas, chegavam a criar purgantes,
vermífugos, diuréticos, cosméticos e especiarias para cozinha, além
de líquidos e gomas utilizados no embalsamamento de múmias.
A Era Antiga inaugurou outro enfoque, quando, a partir do
pensamento hipocrático, que estabelecia relação entre ambiente e
estilo de vida das pessoas, os processos de cura deixaram de serem
vistos apenas do ponto de vista espiritual e místico. Atribuída como
fenômeno natural, a origem das doenças passou então a ser
estudada cientificamente. Hipócrates (460-377 a.C.), denominado o
“Pai da Medicina”, reuniu em sua obra “Corpus Hipocratium” a
síntese dos conhecimentos médicos de seu tempo, indicando para
cada enfermidade o remédio vegetal e o tratamento adequado.
Nessa mesma ocasião, o sistema oriental desenvolveu-se seguindo a
lógica de que o organismo era parte integrante do universo. Assim,
8
os conceitos de saúde nos sistemas ocidental e oriental na
Antiguidade, apesar de se orientarem por contextos culturais
diferentes, baseavam-se no holismo, ou seja, a terapêutica deveria
atuar no organismo como um todo integrado ao universo
(macrocosmo) e não apenas na eliminação dos sintomas da doença
manifestados localmente.
Já na Idade Média (século V ao XV), a medicina e os estudos
das plantas medicinais estagnaram-se por um longo período. Os
eventos históricos que surgiram na Europa, como a ascensão e
queda do Império Romano e o fortalecimento da Igreja Católica,
exerceram enorme influência sobre todo o conhecimento existente
na época, o que também inclui as informações acerca de plantas
medicinais. Nesse período o interesse pelo mundo material,
passando o homem a ser visto como centro do universo, em
contraposição ao divino e sobrenatural. Muitos dos escritos dos
filósofos gregos foram esquecidos ou mesmo perdidos, para serem
parcialmente recuperados apenas no início do século XVI, por meio
de versões em árabe. Sucedeu então a “Revolução Intelectual”,
período de importantes conquistas no campo filosófico e da ciência.
Galileu Galilei (1564 - 1642) foi um físico, matemático,
astrônomo e filósofo italiano cuja obra teve um papel
preponderante na chamada Revolução Científica.
Os séculos XVI e XVII marcaram o surgimento de um novo
paradigma, iniciado com a Revolução Científica. A ciência foi
reduzida a fenômenos matemáticos e quantificáveis, repercutindo
na instalação de um modelo de saúde no qual foi substituída a
concepção holística do universo, pela noção de mundo-máquina.
Essa mudança de paradigma favoreceu o modo de produção
capitalista e, após a Revolução Industrial no século XVIII, a ciência
passou a ter grande responsabilidade por manter a força de
trabalho ativa do homem, garantindo a produção das fábricas.Com a consolidação do positivismo entre o fim do século XIX e
início do século XX, houve uma ruptura com o conhecimento
metafísico e uma ênfase no desenvolvimento da pesquisa
9
experimental. A atenção dos cientistas voltou-se para as partes do
corpo humano, e a assistência à saúde passou a seguir a orientação
cartesiana e mecanicista que permaneceu na Idade Contemporânea,
sendo a saúde considerada sob a óptica biológica como ausência de
doenças. Instalou-se o modelo biomédico de saúde, alicerçado no
paradigma cartesiano, que atendia plenamente aos interesses do
modo de produção capitalista. O conhecimento e as terapêuticas
anteriormente empregados na saúde humana, a exemplo das
plantas medicinais, entre outras práticas de origem popular, foram
marginalizados por não terem base científica.
No Brasil, essas transformações no mundo da ciência e da
economia ocorreram mais tardiamente, o que colaborou para que as
práticas de saúde influenciadas pelas culturas indígena, africana e
europeia permanecessem hegemônicas até o início do século XX.
Nessa ocasião, tal hegemonia começou a ser rompida com a
institucionalização dos serviços de saúde e o advento da alopatia,
considerados imprescindíveis para o modo de produção emergente.
Até então, o uso popular de plantas medicinais, associado à outros
recursos naturais, era majoritário no processo de cura de muitos
males que acometiam a saúde das pessoas.
 
Você sabia?
Os índios utilizavam a Fitoterapia dentro de uma
visão mística, em que o pajé fazia uso de plantas
entorpecentes para sonhar com o espírito que lhe
revelaria a erva ou procedimento a ser seguido para
a cura do enfermo e, também, pela observação de
animais que procuravam determinadas plantas
quando doentes.
Para os escravos, quando alguém adoecia é porque
estava possuído pelo espírito mal e um curandeiro se
encarregava de expulsá-lo por meio de exorcismo e
pelo uso de drogas, muitas vezes também de origem
animal.
10
A influência europeia foi refletida principalmente
pelos trabalhos dos padres da Companhia de Jesus,
em 1579, que formularam receitas chamadas “Boticas
dos Colégios”, à base de plantas para o tratamento
de doenças.
 
A economia do país naquele período, essencialmente rural, era
duplamente favorável à utilização desses recursos, pois ao mesmo
tempo em que a região era propícia ao seu desenvolvimento (pela
praticidade advinda do contato estreito com a terra), também se
configurava como a única alternativa de tratamento. Com o marco
inicial desses dois eventos – a institucionalização da saúde e o
surgimento da alopatia - e, forçadas pelas transformações advindas
da nova ordem cultural estabelecida pelos moldes da produção
industrial capitalista, as práticas não convencionais de saúde, em
especial as plantas medicinais, começaram a ser desprestigiadas,
pois não faziam parte do saber especializado, ou seja, comprovado
pela lógica da ciência, e tudo o que não era objetivado, explicado e
demonstrado cientificamente, foi descartado como saber e como
prática.
O saber médico hegemônico imperou, perseguindo e proibindo
as práticas não oficiais de pessoas do povo, por considerá-las
incapazes de exercer a arte de curar, impondo-se o reconhecimento
social e a valorização do saber médico. Sob a ótica da ideologia do
capital, destacou-se a formação e atuação dos profissionais de saúde
calcada ainda hoje no modelo biomédico de assistência e na prática
alopática. Os profissionais de saúde passaram a atuar e a investigar
mais sobre o saber científico, racional, e menos a base política e
social do conhecimento. Assim, “a medicina oficial” apropriou-se
do saber de saúde do povo, de cunho empírico, e o transformou em
um saber médico, de cunho biologicista, constituindo-se, assim, em
um novo saber.
A partir dos anos 80 e 90 do século passado, frente às várias
mudanças engendradas pelo momento político, econômico e
também da saúde, algumas práticas populares, entre elas, o uso
terapêutico das plantas medicinais, começaram a ser resgatadas no
11
meio científico, não no sentido de se contraporem às alopáticas, mas
de atuarem como complementares às práticas de saúde vigentes.
Entre as razões apontadas como motivadoras desse resgate,
destacam-se:
• A falta de êxito do modelo médico vigente no
tratamento de doenças;
• Os efeitos iatrogênicos associados ao alto custo
de determinadas drogas alopáticas;
• A eficácia de algumas plantas já comprovada
cientificamente;
• O respeito e a valorização dos aspectos
culturais.
Desse modo, ainda que a alopatia permaneça hegemônica,
reconhecida como científica e de prerrogativa médica, mas
considerando as transformações sociais, éticas, políticas e
econômicas que influenciam diretamente a saúde das pessoas e,
consequentemente, os modelos de cuidar, o uso terapêutico de
plantas medicinais no cuidado, antes situado à margem das
instituições de saúde, hoje ultrapassa essas barreiras tentando
legitimar-se nesse meio.
12
2 Regulamentação do uso de
plantas medicinais e fitoterápicos
no Brasil
O Brasil é considerado um dos países com maior diversidade
vegetal, abrigando 55 mil espécies catalogadas. Estima-se que cerca
de 4 mil espécies sejam usadas com fins medicinais. Nesse sentido,
é imprescindível promover o resgate, o reconhecimento e a
valorização das práticas tradicionais e populares de uso de plantas
medicinais e remédios caseiros como elementos para a promoção da
saúde, conforme preconiza a Organização Mundial da Saúde
(OMS).
Um breve histórico da regulamentação
brasileira
A trajetória da regulamentação do uso de plantas medicinais e
fitoterápicos no Brasil remete a Conferência Internacional sobre
Cuidados Primários de Saúde, realizada em 1978, que resultou na
Declaração de Alma-Ata (URSS), reconhecida por dar ênfase à
saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e
social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade.
Em 1982, foi criado o Programa de Pesquisa de Plantas
Medicinais da Central de Medicamentos (Ceme). Em 1986, ocorreu
a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que recomendou a introdução
de práticas alternativas nos serviços de saúde. Essa conferência
serviu de base para a construção do sistema de saúde, a partir de
então implantado no Brasil, e estimulou. em 1988, por meio da
Resolução Ciplan nº 8, a regulamentação da implantação da
Fitoterapia nos serviços de saúde e a criação de procedimentos e
rotinas relativas à sua prática nas unidades assistenciais.
Apesar de importantes documentos terem sido criados na
década de 1990, poucos avanços foram obtidos nesse período. Em
1996, o relatório da 10ª Conferência Nacional de Saúde indicou a
incorporação de práticas de saúde no Sistema Único de Saúde
13
(SUS), inclusive a Fitoterapia, e propôs que o Ministério da Saúde
incentivasse tratamentos com plantas medicinais na assistência
farmacêutica pública, bem como elaborasse normas para sua
utilização. O que se viu até então foram iniciativas retraídas quanto
à utilização das plantas medicinais.
Com o intuito de reverter tal situação e tendo em vista os
gastos governamentais que poderiam ser reduzidos, foi instituída a
Portaria nº 3.916, em 1998, que aprovou a Política Nacional de
Medicamentos e estabeleceu a contínua expansão do apoio às
pesquisas direcionadas ao aproveitamento do potencial terapêutico
da flora e fauna nacionais.
O início do século XXI foi marcado pela Proposta da Política
Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos,
surgida em 2001. A partir de então e até os dias atuais, verificou-se
uma tendência crescente na consolidação das práticas fitoterápicas,
conforme pode ser observado no Quadro 1.
2002/05 - Estratégia da OMS sobre medicina tradicional:
estabelece a criação de mecanismos normativos e legais
necessários para promover e manter uma boa prática, que o
acesso seja equitativo e que seja assegurada a qualidade, a
segurança e a eficácia das terapias. E que também sejam
assegurados recursos econômicos para a pesquisa, educação e
formação profissional.
2003 - Relatório da12ª Conferência Nacional de Saúde: indica
a necessidade de investimento na pesquisa e desenvolvimento
de tecnologia para produção de medicamentos a partir da
flora brasileira.
2003 - Relatório do Seminário Nacional de Plantas Medicinais,
Fitoterápicos e Assistência Farmacêutica promovido pelo
Ministério da Saúde: recomenda a inserção da Fitoterapia no
SUS.
2003 – RDC nº 210: dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação
de medicamentos.
2004 - Resolução nº 338, do Conselho Nacional de Saúde:
aprova a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, que
contempla, em seus eixos estratégicos, a definição e pactuação
de ações intersetoriais que visam a utilização das plantas
medicinais e de medicamentos fitoterápicos no processo de
atenção à saúde, com respeito aos conhecimentos tradicionais
14
incorporados, embasamento científico, adoção de políticas de
geração de emprego e renda, qualificação e fixação de
produtores, envolvimento dos trabalhadores da saúde no
processo de incorporação dessa opção terapêutica, baseada no
incentivo à produção nacional, com a utilização da
biodiversidade existente no País.
2004 - Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em
Saúde: inclui a Fitoterapia como área de interesse, na
perspectiva de pesquisa e desenvolvimento de novos
produtos para tratamento, prevenção e promoção da saúde.
2004 – RDC nº 48, acompanhada pelas RE nº 88, 89, 90 e 91 -
resoluções específicas para o registro de fitoterápicos no
Brasil.
2004 – RE Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
nº 90: determina a publicação do guia para a realização de
estudos de toxidade pré-clínica de fitoterápicos.
2004 – RE Anvisa nº 91: determina a publicação do guia para
realização de alterações, inclusões, notificações e
cancelamentos pós-registro de fitoterápicos.
2005 - 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência
Farmacêutica: aprova 48 recomendações, entre elas a
implantação de programas para uso de medicamentos
fitoterápicos nos serviços de saúde.
2005 – RDC nº 249: determina que todos os estabelecimentos
fabricantes de produtos intermediários e de insumos
farmacêuticos ativos, devem cumprir as diretrizes
estabelecidas no regulamento técnico das boas práticas de
fabricação de produtos intermediários e insumos
farmacêuticos ativos.
2006 - Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares para o SUS (Portaria nº 971/GM/MS):
recomenda a Fitoterapia. O documento propõe a
implementação de ações e serviços relativos à
Fitoterapia/Plantas Medicinais pelas Secretarias de Saúde dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos sistemas de
atenção à saúde.
2006 - Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
(Decreto nº 5.813): propõe o desenvolvimento de toda a cadeia
produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos para atender
aos critérios de qualidade, eficácia, eficiência e segurança no
uso.
2007 - Portaria nº 3.237/GM/MS: inclui os fitoterápicos no
15
elenco de referência de medicamentos e insumos
complementares para a assistência farmacêutica na atenção
básica em saúde.
2007 – RDC nº 67: dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação
de Preparações Magistrais e Oficinais para uso humano em
farmácias.
2008 - Portaria nº 1.274/GM/MS: institui o Grupo Executivo
para o Programa Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos.
2008 - Portaria Interministerial nº 2960: aprova o Programa
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos que define
ações, prazos, recursos, ministérios/órgãos gestores e
envolvidos, para o desenvolvimento das diretrizes da política
e criação do Comitê Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos.
2008 - Resolução ANVISA nº 95: regula o texto de bula de
medicamentos fitoterápicos.
2008 – RDC nº 87: altera o Regulamento Técnico sobre as Boas
Práticas de Manipulação em farmácias.
2008 - Instrução Normativa ANVISA nº 5: determina a
publicação da “Lista de medicamentos fitoterápicos de
registro simplificado”.
2009 - Portaria nº 2.982/GM/MS: amplia o número de
fitoterápicos no Elenco de Referência Nacional de
Medicamentos e Insumos Complementares para a Assistência
Farmacêutica na Atenção Básica.
2009 – RDC nº 47: dispõe sobre a padronização de bulas.
2010 - Portaria nº 886/GM/MS: institui a Farmácia Viva no
âmbito do SUS.
2010 - Portaria nº 1.102/GM/MS: institui a Comissão Técnica e
Multidisciplinar de Elaboração e Atualização da Relação
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (COMAFITO).
2010 - Instrução Normativa nº 5: Lista referências
bibliográficas para avaliação de segurança e eficácia de
medicamentos fitoterápicos.
2010 – RDC nº 10: dispõe sobre a notificação de drogas
vegetais.
2010 – RDC nº 14: dispõe sobre o registro de medicamentos
fitoterápicos.
2010 – RDC nº17: dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação e
Controle de medicamentos.
16
Quadro 1 - Ações reguladoras da consolidação da Fitoterapia no Brasil.
Existem diversos “modelos” de Fitoterapia no Brasil, que
podem ser categorizados em três grupos:
• O uso do medicamento fitoterápico
devidamente registrado na Anvisa. É feita a
extração de alguns componentes bioativos das
espécies vegetais, o que facilita a pesquisa
científica e desperta maior interesse da
indústria farmacêutica.
• A Fitoterapia pública abrangida pelo SUS,
organizações não governamentais,
movimentos sociais, etc. Dentro desse modelo
pode-se citar o projeto da Farmácia Viva,
desenvolvido pelo professor Abreu Matos, da
Universidade do Ceará. Em Goiânia, tem-se o
pioneirismo hospitalar idealizado nos moldes
da medicina alternativa, embora funcione nos
dias de hoje com a sua farmácia desativada.
• A “fitoterapia livre” abrangida pelos
comerciantes de plantas, terapeutas,
quilombolas, indígenas, raizeiros, etc.
O uso de muitas plantas nativas empregadas na medicina
tradicional foi oficializado em 1926 pelo governo brasileiro, a partir
da sua inclusão na Farmacopeia Brasileira (FBRAS). As
Farmacopeias são publicações governamentais, editadas com o
objetivo de normatizar a produção e, consequentemente, a
qualidade dos produtos farmacêuticos comercializados no País. A
FBRAS conta com quatro edições, datadas de 1926, 1959, 1977,
sendo a última edição publicada em fascículos desde 1988. Cada
produto é descrito na Farmacopeia sob a forma de monografia.
A Tabela 1 traz a evolução do número de monografias para
17
produtos vegetais desde a sua criação. A 1ª Edição, de 1926, conta
com aproximadamente 707 monografias para drogas vegetais e
produtos preparados com elas. Naquela época, quase a totalidade
dos medicamentos era preparada com produtos naturais, sendo as
plantas a mais importante fonte de medicamentos. A indústria
farmacêutica era praticamente inexistente e os protocolos
experimentais para validação das plantas sequer eram
desenvolvidos. Pode-se afirmar, portanto, que as plantas medicinais
que eram selecionadas para compor as Farmacopeias contavam
com algum histórico de uso seguro e eficaz, na medicina
tradicional, ao longo dos anos.
Forma 1ª edição
(1926)
2ª edição
(1959)
3ª edição
(1977)
4ª edição
(1996)
Droga
vegetal
228 63 23 25
Extrato-
fluido
167 24 0 0
Tintura 108 27 0 0
Extratos 59 14 0 0
Droga em
pó
83 37 0 0
Óleos
essenciais
40 18 0 0
Óleos 10 5 0 0
Outras
formas
12 5 0 0
Total 707 193 23 25
Tabela 1 - Número aproximado de monografias para plantas medicinais e seus
produtos em cada edição da FBRAS.
A FBRAS, apesar de estar em processo de revisão, iniciado em
2009, já possibilitou a publicação de alguns documentos oficiais
como a Renisus, que é uma lista contendo 71 plantas, que terão seu
uso estimulado em postos de atendimento público à saúde em todo
o país. Adicionalmente, a RDC nº 10, de 9 de março de 2010,
descreve as formas de uso, preparo e apresentação de 66 plantas
18
medicinais.
Vale a pena ressaltar que a Farmacopeia é incompleta. Há ainda
uma infinidade de plantas nacionais que podem ser incluídas nessa
lista. Quem desejar contribuir deve acessar o site da Anvisa
(http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeia/index.htm), e por meio do
preenchimento do anexoII da RDC nº10, é possível requerer a
inclusão ou a alteração de alguma planta medicinal ou, ainda,
informação a ser disponibilizada no referido documento.
19
3 Plantas medicinais: do cultivo às
formas de uso
Você saberia dizer se há diferença entre plantas medicinais e
fitoterápicos? Para você essas palavras possuem o mesmo
significado?
Esse é um dos assuntos que abordaremos neste capítulo.
Vejamos o porquê através da delimitação de alguns coceitos:
• Planta medicinal – planta usada
tradicionalmente que contém um ou mais de
um princípio ativo, conferindo-lhe atividade
terapêutica;
• Droga vegetal – planta medicinal ou suas
partes, após processos de coleta, estabilização
e secagem, podendo ser íntegra, rasurada,
triturada ou pulverizada;
• Derivado de droga vegetal – produto de
extração da matéria-prima vegetal (extrato,
tintura, óleo, cera, exsudado, suco e outros). É
caracterizado pela reprodutibilidade e
constância de sua qualidade;
• Fitoterápico - fármaco elaborado empregando-
se exclusivamente matérias-primas vegetais.
Os princípios ativos são substâncias ou classes de substâncias
quimicamente caracterizadas, cuja ação farmacológica é conhecida e
responsável, total ou parcialmente, pelos efeitos terapêuticos do
fitoterápico.
O fitoterápico é caracterizado pelo conhecimento da eficácia e
dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e
20
constância de sua qualidade.
 
Nota importante:
A eficácia e segurança dos fitoterápicos é validada
através de levantamentos etnofarmacológicos de
utilização, documentações tecnocientíficas em
publicações ou ensaios clínicos fase 3. Não se
considera medicamento fitoterápico aquele que, na
sua composição, inclua substâncias ativas isoladas,
de qualquer origem, nem as associações destas com
extratos vegetais.
 
No Brasil, o principal órgão responsável pela regulamentação
de plantas medicinais e seus derivados é a Anvisa, autarquia do
Ministério da Saúde (MS) que tem como papel proteger e promover
a saúde da população, garantindo a segurança sanitária de
produtos e serviços e participando da construção de seu acesso.
Diante do exposto, podemos resumir a relação entre plantas
medicinais e fitoterápicos conforme o esquema a seguir.
A OMS define planta medicinal como sendo “todo e qualquer
vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem
ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de
fármacos semissintéticos”.
No capítulo 1, vimos que a utilização de plantas com fins
medicinais, para tratamento, cura e prevenção de doenças, é uma
das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade. No
início da década de 1990, a OMS divulgou que 65-80% da
população dos países em desenvolvimento dependiam das plantas
medicinais como única forma de acesso aos cuidados básicos de
saúde. Ao longo do tempo, têm sido registrados variados
procedimentos clínicos tradicionais utilizando plantas medicinais.
Apesar da grande evolução da medicina alopática, ocorrida a partir
da segunda metade do século XX, existem obstáculos na sua
utilização enfrentados pelas populações carentes, que vão desde o
acesso aos centros de atendimento hospitalares à obtenção de
21
exames e medicamentos. Esses motivos, associados com a fácil
obtenção e a grande tradição do uso de plantas medicinais,
contribuem para sua utilização por parte das populações dos países
em desenvolvimento.
Cultivo de plantas medicinais
“Mangueiras e jambeiros no quintal, meninos se
lambuzam e contam caso
Coentro, pimentão e cebolinha na horta pra lembrar
a tradição nordestina
Por destino, não por acaso
Pra reforçar contra a gripe, banana e abacate sem
veneno,
Acerola e limão
Mas se resfria não tem jeito
Guaco, cidreira, mel
Cama e carinho de vó para o cansaço
Vou guardar minhas sementes pra passar pros meus
amigos
Produzir uma mudinha pra tudo ficar florido
Alegrando o quintal e a nossa vida, encontrando e
trocando
Nesse dia-a-dia da cidade, apesar de tão corrido” .
 
Denis Monteiro – Agricultor Urbano
22
Conforme observa-se no poema, é comum, no Brasil, o cultivo
de plantas medicinais no quintal de casa. Diante dessa prática
cultural, que até então estava perdendo seu espaço, o MS tem
incentivado a criação das “Farmácias Vivas”.
O cultivo das plantas medicinais em domicílio tornou-se uma
das formas mais importantes no processo de divulgação da
utilização das plantas como medicamentos, por não requerer uma
área muito grande, nem depender de custos elevados para a sua
implantação.
Para iniciar uma horta medicinal, precisamos selecionar as
espécies e identificar corretamente as plantas. Uma horta medicinal,
por certo, deverá produzir satisfatoriamente ervas que podem ser
usadas na culinária, temperos e aquelas de uso de rotina para o
tratamento de doenças mais comuns. Tão logo sabemos o que
plantar e por que plantar, devemos agora saber onde plantar uma
horta medicinal.
Local
O local a ser escolhido para implantação de uma horta
medicinal deverá ter água disponível em abundância e de boa
qualidade, e ser ainda exposto ao sol, principalmente pela manhã.
Solo
O solo deve ser leve e fértil para que as raízes tenham
facilidade de penetrar e desenvolver. Tendo disponibilidade, é bom
fazer a análise do solo, principalmente quando se trata de uma
horta comercial. O aspecto físico do solo pode ser melhorado
incorporando-se ao mesmo esterco algum composto orgânico, que
fornecerão nutrientes que ajudarão a reter a umidade. A correção
do solo pode ser feita com calcário e ainda podemos também
adubá-lo com húmus. Certas espécies exigem solos úmidos, como é
o caso do chápeu-de-couro, cana-de-macaco, etc. Outras já gostam
de terrenos areno-argilosos, com umidade controlada, como é o
caso de cará, bardana, alecrim, etc.
Colheita
O primeiro aspecto a ser observado na produção de plantas
medicinais de qualidade, além da condução das plantas, é sem
dúvida a colheita no momento certo. As espécies medicinais, no que
23
se refere à produção de substâncias com atividade terapêutica,
apresentam alta variabilidade no tempo e espaço. O ponto de
colheita varia segundo o órgão da planta, estádio de
desenvolvimento, época do ano e hora do dia.
A distribuição das substâncias ativas, numa planta, pode ser
bastante irregular, assim, alguns grupos de substâncias localizam-se
preferencialmente em órgãos específicos do vegetal. Os flavonoides,
de uma maneira geral, estão mais concentrados nas partes aéreas da
planta, em camomila (Chamomila recutita) estão no camazuleno e
outras substâncias estão mais concentrados nas flores. Vê-se,
portanto, a necessidade de conhecimento da parte que deve ser
colhida para que se possa estabelecer o ponto ideal.
O estágio de desenvolvimento também é muito importante
para que se determine o ponto de colheita, principalmente em
plantas perenes e anuais de ciclo longo, onde a máxima
concentração é atingida a partir de certa idade ou fase de
desenvolvimento. Por exemplo, o jaborandi (Pilocarpus microphyllus)
apresenta baixo teor de pilocarpina (alcaloide) quando jovem. O
alecrim (Rosmarinus officinalis) apresenta maior teor de óleos
essenciais após a floração, sendo uma das exceções entre as plantas
medicinais de um modo geral.
Há uma grande variação na concentração de princípios ativos
durante o dia: os alcaloides e óleos essenciais concentram-se mais
pela manhã, os glicosídeos à tarde. As raízes devem ser colhidas
logo pela manhã. Também a época do ano parece exercer algum
efeito nos teores de princípios ativos. Assim, a colheita de raízes, no
começo do inverno ou no início da primavera (antes da brotação), é
citada como as melhores épocas.
As cascas são colhidas quando a planta está completamente
desenvolvida, ao fim da vida anual ou antes da floração (nas
perenes). Nos arbustos, as cascas são separadas no outono e, nas
árvores, na primavera.
No caso de sementes, recomenda-se esperar até o completo
amadurecimento e no caso de frutos deiscentes (cujas sementes
caem após o amadurecimento), a colheita deve ser antecipada.
Os frutoscarnosos com finalidade medicinal são coletados
24
completamente maduros. Os frutos secos, como os aquênios,
podem cair após a secagem da planta, por isso recomenda-se
antecipar a colheita, como ocorre com o funcho (Foeniculum vulgare).
Deve-se salientar que a colheita das plantas em determinado
ponto tem o intuito de obter o máximo teor de princípio ativo. No
entanto, na maioria das vezes, nada impede que as plantas sejam
colhidas antes ou depois do ponto de colheita para uso imediato. O
maior problema da época de colheita inadequada é a redução do
valor terapêutico ou predominância de princípios tóxicos, como no
confrei (Symphitum ssp.).
No Quadro 2 são apresentadas as partes das plantas medicinais
a serem colhidas e suas respectivas épocas de colheita.
Parte colhida Ponto de colheita
 
Talos e folhas Antes do florescimento
Flores No início da floração
Frutos e sementes Quando maduros
Raízes Quando a planta estiver adulta
Casca e entrecasca Quando a planta estiver florida
Quadro 2 – Parte da planta medicinal e seu respectivo ponto de colheita.
Operação de colheita
Uma vez determinado o momento correto, deve-se fazer a
colheita de preferência com tempo seco e sem água sobre as partes,
como orvalho ou água nas folhas. Assim, a melhor hora para se
fazer a colheita é pela manhã, logo que secar o orvalho que se
acumula sobre as plantas. O material colhido deve ser colocado em
cestos e caixas; também deve-se ter o cuidado de não amontoá-los
ou amassá-los, para não acelerar a degradação e perda de
qualidade. Deve-se ainda evitar a colheita de plantas doentes, com
manchas, fora do padrão, com terra, poeira, órgãos deformados, etc.
Durante o processo de colheita, é importante evitar a incidência
direta de raios solares sobre as partes colhidas, principalmente
25
flores e folhas. As raízes podem permanecer por algum tempo ao
sol.
Um ponto importante a ser considerado para assegurar melhor
qualidade é a anotação dos dados referentes às condições no
momento da colheita, condução da lavoura, local, produtor,
condições de secagem, etc. Imediatamente após a colheita, o
material deve ser encaminhado para a secagem.
Normalmente, após a colheita das plantas pode-se fazer o uso
direto do material fresco, extrair substâncias ativas e aromáticas do
mesmo ou promover a secagem para comercialização in natura, que
requer maior atenção por permitir a conservação e possibilitar a
utilização das plantas a qualquer tempo e não somente quando
atingirem o ponto de colheita.
Secagem
O consumo de plantas medicinais frescas garante ação mais
eficaz dos princípios curativos. Entretanto, nem sempre se dispõe
de plantas frescas para uso imediato e a secagem possibilita a
conservação quando bem conduzida. No beneficiamento de plantas
medicinais, são utilizados vários processos. Dependendo da espécie
e da forma de comercialização, esses processos são utilizados
diferencialmente. Por exemplo, as mentas podem ter as folhas
dessecadas ou o óleo essencial comercializado, duas condições que
exigem metodologias diferentes. A maioria das plantas medicinais é
comercializada na forma dessecada tornando o processo de
secagem fundamental para a qualidade final do produto. A redução
do teor de água durante a secagem impede a ação enzimática e
consequente deterioração por micro-organismos.
A secagem reduz o peso da planta, em função da evaporação
de água contida nas células e tecidos, promovendo a concentração
de princípios ativos em relação ao peso inicial da planta. Daí, deve-
se utilizar menor quantidade de plantas secas do que frescas. No
entanto, esse teor varia também com a idade da planta e condições
de umidade do meio.
Armazenamento e embalagem
O material está pronto para ser embalado e guardado quando
começa a ficar levemente quebradiço. O teor de umidade ideal após
26
a secagem deve ser de 5 a 10% para folhas e flores. Já para cascas e
raízes, essa umidade varia entre 12 e 20%. O período de
armazenamento deve ser o menor possível, para reduzir as perdas
de princípios ativos. Preferencialmente, o local deve ser escuro,
arejado e seco, sem acesso de insetos, roedores ou poeira.
O acondicionamento do material vai depender do volume
produzido e do tempo que se pretende armazená-lo. Na literatura,
são encontradas recomendações aplicáveis a condições de clima
temperado, como o uso de tonéis de madeira não aromática, que
conservam o produto por muito tempo. Serão necessários estudos
para avaliar os diversos tipos de embalagens e o período de
conservação máximo. Pequenas quantidades de plantas podem ser
colocadas em potes de vidro ou sacos de polietileno ou
polipropileno, que também parecem permitir boa conservação. Não
se recomenda colocá-las próximas às embalagens de espécies
diferentes (principalmente as fortemente aromáticas) ou depositar
diretamente sobre o piso (colocar sobre estrados próprios ou
dependurar).
O material, antes de ser armazenado, deve ser inspecionado
quanto à presença de insetos e fungos. Durante o armazenamento,
deve-se repetir com frequência tais inspeções. No caso de ataque,
recomenda-se eliminar o material, não se aconselha o expurgo das
instalações em presença das ervas, uma vez que não existe registro,
para plantas medicinais, dos produtos normalmente utilizados
nessas operações.
Atendendo às exigências, em termos de qualidade, e
respeitando o meio ambiente, a produção de plantas medicinais
revela grandes oportunidades para a utilização de sistemas de
produção adequados às pequenas propriedades. A sua produção
sustentada, tanto a cultivada quanto a explorada (extrativismo),
vislumbra grande potencial de mercado, seja para uso artesanal ou
industrial, seja para o mercado interno ou externo. Atualmente, o
cultivo das Farmácias Vivas surge como uma alternativa de geração
de renda para muitas pessoas que dispõem de condições mínimas
necessárias, como aquelas que sobrevivem da agricultura familiar.
Uma vez que as plantas medicinais são classificadas como
produtos naturais, a lei permite que sejam comercializadas
27
livremente. Com isso, é facilitada a automedicação orientada nos
casos considerados mais simples e corriqueiros de uma
comunidade, o que reduz a procura pelos profissionais de saúde,
facilitando e reduzindo ainda mais os gastos governamentais com a
saúde. Por essas razões é que trabalhos de difusão e resgate do
conhecimento de plantas vêm se difundindo cada vez mais,
principalmente nas áreas mais carentes do país.
Nos últimos anos, vem ocorrendo no Brasil um aumento
acentuado no uso de plantas medicinais. Esse fato está associado
não somente ao consumo por parte da população rural em geral,
mas também, e principalmente, ao consumo associado a programas
oficiais de saúde. Esses programas se multiplicam em todo o país e
têm se formado equipes multidisciplinares responsáveis pelo
atendimento fitoterápico, com profissionais encarregados do cultivo
de plantas medicinais, da produção de fitoterápicos, do diagnóstico
médico e da recomendação desses produtos.
Formas de preparo e uso de plantas medicinais
Você sabia que existem muitas formas de se preparar as plantas
medicinais? Veja abaixo:
Chá infusão: colocar água fervente sobre a erva dentro de uma
vasilha. Tampar e deixar de 5 a 10 minutos em repouso. Depois é só
coar. Esse método é utilizado para afolhes, flores, caules finos e
para toda planta aromática. Nunca deixar para tomar o chá no dia
seguinte. Faça um novo.
Chá decocção: colocar parte da planta na água fria, depois de
bem limpa. Você ferve, o tempo de fervura pode variar de 10 a 20
minutos, dependendo da consistência da parte da planta. Após o
cozimento, deixar em repouso de 10 a 15 minutos. Aí é só coar. Esse
método é indicado quando se utiliza partes duras, como cascas,
raízes e sementes.
Chá maceração: colocar a planta amassada ou picada de molho
em água fria por 10 a 24 horas. Depois, é só coar. Para folhas e
sementes, o tempo de molho dura de 10 a 21 horas. Para talo, cascas
e raízes, o tempo varia de 22 a 24 horas.
28
Lambedor: é só juntar ao cháda planta (feito por infusão ou
cozimento), sem coar, a mesma medida de açúcar cristal, rapadura
ou açúcar mascavo. Por exemplo: 2 xícaras do chá para 2 xícaras de
açúcar. Levar ao fogo até virar melado. Deixar em repouso por
cerca de duas horas; em seguida, coar com melado. Geralmente, é
feito a partir de plantas usadas para problemas respiratórios, como
tosse, bronquite, etc. O lambedor pode ser feito também com mel de
abelhas, usando-se uma medida do chá para uma medida do mel.
Nesse caso, a mistura não deverá ser levada ao fogo. Por causa do
açúcar, o xarope pode se fermentar com facilidade. Para evitar que
isso aconteça, ele deve ser guardado em recipiente bem limpo,
fechado e, de preferência, em geladeira ou local fresco. Usar esse
preparo por no máximo 7 dias.
Cataplasma: preparar o chá por cozimento. Ainda quente,
acrescentar farinha, fazendo uma papa. Colocar essa papa sobre um
pano limpo e depois cobri-la com outro pano, ou seja, a papa fica
entre dois panos. Aplicar sobre a pele da região afetada.
Gargarejo e bochecho: preparar o chá por infusão ou
cozimento (depende da parte da planta que será utilizada. Tampar
e deixar em repouso por 10 minutos. Coar e fazer gargarejo ou
bochecho, pelo menos 2 vezes ao dia.
Inalação: colocar água fervente sobre porções de plantas
aromáticas dentro de uma vasilha. Aspirar o vapor pelo nariz,
através de um pequeno funil de papel. Atenção: realizar essa
preparação exige cuidado rigoroso, dado o risco de queimaduras.
Tintura: a tintura é uma preparação feita com álcool diluído,
onde se colocam partes vegetais frescas ou secas, pouco trituradas.
Atenção: esse preparo exige uma proporção específica entre as
quantidades da planta a serem utilizadas no preparo de tinturas.
Compressa: embeber um pano ou pedaço de algodão com chá
ou sumo da planta. Aplicar na área afetada. Atenção: a compressa
pode ser usada quente ou fria.
Banho: faz-se uma infusão ou decocção mais concentrada, que
deve ser coada e misturada na água do banho. Outra maneira
indicada é colocar as ervas em um saco de pano firme e deixar
boiando na água do banho. Os banhos podem ser parciais ou de
29
corpo inteiro e são normalmente indicados uma vez por dia.
Óleos: são feitos na impossibilidade de fazer pomadas ou
compressas. As ervas secas ou frescas são colocadas em um frasco
transparente com óleo de oliva, girassol ou milho. Depois é
necessário manter o frasco fechado diretamente sob o sol por um
período de duas a três semanas. Filtrar ao fim e separar uma
possível camada de água que se formar. Conservar em vidros que o
protejam da luz.
Pós: a planta é seca o suficiente para permitir sua trituração
com as mãos, deve ser peneirada e mantida em frasco bem fechado.
As cascas e raízes devem ser moídas até se transformarem em pó.
Internamente pode ser misturado ao leite ou mel e externamente é
espalhado diretamente sobre o local ferido ou misturado em óleo,
vaselina ou água antes de aplicar.
Suco ou sumo: obtém-se o suco espremendo-se o fruto e o
sumo ao triturar uma planta medicinal fresca num pilão ou em
liquidificadores e centrífugas. O pilão é mais usado para as partes
pouco suculentas. Quando a planta possuir pequena quantidade de
líquido, deve-se acrescentar um pouco de água e triturar
novamente após uma hora de repouso. A partir disso, deve-se
recolher então o líquido liberado. Como as anteriores, essa
preparação também deve ser feita no momento do uso.
Unguento e pomada: a pomada é preparada com o sumo da
erva ou chá mais concentrado, misturado, por exemplo, com
gordura de coco ou vaselina na forma líquida. Pode-se ainda
aquecer as ervas na gordura, depois coar e guardar em frascos
tampados e, ainda, pode ser adicionada tintura à vaselina. Também
é possível adicionar um pouco de cera de abelha nas preparações a
quente da pomada. As pomadas permanecem mais tempo sobre a
pele, devendo ser usadas a frio e renovadas duas a três vezes ao
dia.
Xarope: para a preparação dos lambedores, também
conhecidos como xaropes, faz-se, inicialmente, uma calda com
açúcar cristal ou rapadura, na proporção de 1 ½ a 2 partes para
cada 1 parte de água, por exemplo, 1 ½ a 2 xícaras de açúcar ou
rapadura ralada. A mistura é levada ao fogo e, em poucos minutos
há completa dissolução e a calda estará pronta, com maior ou
30
menor consistência, conforme desejado, então são adicionadas as
plantas preferencialmente frescas e picadas, coloca-se em fogo baixo
e mexe-se por 3 a 5 minutos, após esse tempo o xarope é coado e
guardado em frasco de vidro. Se for desejada a adição de mel em
substituição ao açúcar, não se deve aquecer, devendo-se adicionar
apenas o suco da planta ou a decocção ou infusão frios. O xarope
pode ser preparado com tinturas, acrescentando-se 1 parte de
tintura para 3 partes da mesma calda com açúcar ou rapadura. As
decocções podem ainda servir de base para o xarope, adicionando-
se o açúcar diretamente nas mesmas, podendo submetê-las a leve
aquecimento para facilitar a dissolução do açúcar. A quantidade de
plantas a ser adicionada em cada xarope é variável segundo a
espécie vegetal. O xarope pode ser guardado por até 15 dias na
geladeira, mas se forem observados sinais de fermentação, ele deve
ser descartado. No caso dos xaropes preparados com tinturas, o
período de conservação tende a ser maior. O uso de gotas de tintura
de própolis no xarope serve como conservante, além de auxílio
terapêutico. Obviamente, os xaropes, devido à grande quantidade
de açúcar, não devem ser usados por diabéticos.
No momento de utilizar as preparações de plantas medicinais
para fins terapêuticos deve-se ter o cuidado de escolher
adequadamente o tipo de preparo para a finalidade desejada.
Biodiversidade e obtenção sustentável de
plantas medicinais
Apesar do grande número de medicamentos sintéticos, criados
continuamente pelo homem em seus laboratórios, e da manipulação
constante de novos elementos e tecnologias, a maior parte dos
fármacos têm suas origens diretamente relacionadas ao ambiente
natural, sendo o mundo vegetal uma fonte inesgotável de
princípios ativos extremamente importantes à farmacopeia. Diante
da grande variedade de plantas medicinais que compõem a flora do
país, devemos ressaltar que o cultivo dessas farmácias vegetais em
nível doméstico, ou em maior escala, deva ser sustentado, ou seja, é
necessário preservar o meio ambiente de forma que mesmo aquelas
plantas que ainda não tiveram seus efeitos terapêuticos
31
comprovados, não sejam extintas em detrimento da maior
produção de outras, e que todos os recursos naturais e demais
formas de vida não sejam afetados.
Aprendendo um pouco mais sobre biodiversidade
O aumento expressivo do consumo de fitoterápicos, também
nos países industrializados, fez aumentar o interesse por esse
mercado, estimado, em 2002, em mais de US$ 20 bilhões anuais,
tendo como principais consumidores a Europa e a Ásia. Associadas
a esse fato, outras questões relativas à produção de fitoterápicos
dizem respeito à gestão e ao manejo da biodiversidade, à qualidade
e disponibilidade das matérias-primas para fabricação dos
medicamentos fitoterápicos, à complexidade das tarefas de controle
de qualidade, padronização e estabilização dos fitomedicamentos e
à forte pressão do modelo tecnológico agroquímico, intensivo em
uso de fertilizantes e pesticidas que podem comprometer bastante a
qualidade dos solos e da matéria-prima. Adicionalmente, as
pesquisas que utilizam espécies vegetais com potencial terapêutico
devem receber apoio total do Estado, pois muito além do fator
econômico, há que se destacar a importância para a segurança
nacional e preservação dos ecossistemas onde existem tais espécies.
Mas afinal, o que é biodiversidade?
A biodiversidade é entendida como toda a vida biológica no
planeta em seus diferentes níveis (de genes a ecossistemas), ou seja,
a “variabilidade” da vida. Tendo em vista esse conceito, aumenta-se
a percepção sobre a importância de medidas em longo e curto prazo
que visem à proteção e à manutenção das mais diferentes formas de
vida.
Um exemploprático da importância da conservação da
biodiversidade é que, na atualidade, as chances de descoberta de
novas substâncias naturais estão diretamente relacionadas à riqueza
da biodiversidade. O Brasil conta com 22% de toda a
biodiversidade vegetal do mundo, o que faz da nossa flora nativa
uma das mais ricas fontes de substâncias com potencial
farmacológico. Isso faz aumentar o interesse internacional pelas
plantas medicinais nativas do Brasil, pois, além de sua grande
biodiversidade, o país possui uma rica medicina popular, embora
pouco conhecida e difundida.
32
Supõe-se que mais de 70% dos medicamentos derivados de
plantas foram desenvolvidos com base no conhecimento popular.
Em uma recente publicação sobre dados etnobotânicos de plantas
medicinais da Amazônia, mais de 300 espécies de fitoterápicos
foram relacionadas. Essas plantas são usadas popularmente contra
dezenas de doenças infecciosas a parasitárias, vetores, problemas
crônico-degenerativos, emagrecimento, regulação da menstruação,
procedimento abortivo e até como antídoto ao veneno de cobra.
Quanto à medicina alopática, estima-se que 25 mil espécies de
plantas sejam usadas com aplicação direta ou sirvam de modelos
para síntese de produtos bioativos. Com o conhecimento de que
menos de 1% das plantas tropicais tiveram seus usos potenciais
corretamente investigados e; com o fato de que a imensa flora
brasileira é praticamente desconhecida em termos químicos, pode-
se imaginar o valor econômico de seu estudo.
 
Você sabia?
Informações sobre a utilização de plantas medicinais
nativas do Brasil encontram-se registradas em
bibliografia do século XIX. Com a descoberta das
minas de ouro e diamantes, artistas, cientistas e
aventureiros europeus chegaram ao Brasil
interessados em visitar e estudar a região. Esses
naturalistas visitaram, em especial, Minas Gerais,
percorrendo a principal via de acesso na época, a
Estrada Real. Em seus trajetos, esses “viajantes”
descreveram a história de Minas Gerais, incluindo a
descoberta de centenas de plantas e gêneros novos. A
contribuição dos naturalistas para o conhecimento da
flora brasileira é incalculável.
 
Na velocidade em que ocorre o fenômeno de extinção das
espécies vegetais, um enorme número de plantas com propriedades
medicinais corre o risco de desaparecer antes de seu valor ser
reconhecido, o que torna ainda mais urgente intensificar os
33
investimentos nessa área. É necessário que nossos cientistas se
envolvam cada vez mais na luta pela preservação da natureza e que
façam programas de utilização da biodiversidade, que devem ser
ecológica e economicamente viáveis e estar amplamente associados
às questões sociais do País.
Biodiversidade vs. biopirataria
A exuberância da biodiversidade brasileira está associada a um
dos crimes mais preocupantes da sociedade contemporânea – a
biopirataria. Esse termo foi lançado em 1993, pela ONG RAPI (hoje
ETC Group), para alertar sobre o fato de que recursos biológicos e
conhecimentos indígenas estavam sendo retirados e patenteados
por empresas multinacionais e instituições científicas. Com isso, as
comunidades tradicionais, que durante séculos usaram tais recursos
e geraram tais conhecimentos, não participavam dos lucros. De um
modo geral, “biopirataria” significa a apropriação de
conhecimentos e de recursos genéticos de comunidades
tradicionais, agricultores e indígenas, por indivíduos, instituições e
empresas que procuram o controle exclusivo do monopólio sobre
seus recursos e conhecimentos, sem o consentimento das
autoridades nacionais. A bioprospecção de recursos naturais que
servem como matéria-prima para fármacos, tem a eficiência
quintuplicada quando são seguidas as sugestões apontadas pelos
conhecimentos populares.
O Brasil, embora seja signatário de convenções e acordos
internacionais sobre o assunto, como a Convenção de Diversidade
Biológica e o acordo TRIPS, e apesar de possuir legislação interna
sobre acesso ao patrimônio genético, ainda enfrenta grandes
problemas em relação à biopirataria. Essa é uma das causas que
dificulta o uso sustentável da biodiversidade e a repartição dos
benefícios decorrentes do acesso aos recursos vegetais e
conhecimento tradicional associado.
Nesse contexto, em 2000, o Governo Federal passou a trabalhar
na estruturação de uma Política Nacional da Biodiversidade. Essa
política postula a necessidade de se atribuir uma valoração
econômica ao nosso patrimônio genético. A proteção do
conhecimento tradicional associado também é contemplada nessa
política, que prevê a repartição dos lucros com a comunidade que
34
forneceu a informação. Após 6 anos, foi aprovada, através do
Decreto nº 5.813/2006, a Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos, com objetivo de garantir à população brasileira o
acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos,
promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o
desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional.
Destaca-se que o Brasil é detentor de um amplo parque
científico, diversos laboratórios e universidades capazes de
trabalhar em parceria com instituições estrangeiras, ou mesmo
sozinhos, para o desenvolvimento de fármacos. Mas, apesar de
possuir a maior biodiversidade com potencial medicinal do planeta,
o Brasil representa o 10º mercado farmacêutico mundial e importa
fármacos principalmente da Alemanha, Reino Unido e Estados
Unidos.
Um ponto que devemos refletir contempla duas vertentes que
estão por trás da produção de fitoterápicos: se por um lado, os
fitoterápicos podem ser encarados como oportunidades para
geração sustentável de renda para comunidades locais
(consolidando-se, portanto, como alternativa de financiamento da
conservação da biodiversidade); por outro, a bioprospecção é vista
como mecanismo de pirataria da biodiversidade e do conhecimento
associado ao seu uso.
 
Fique de olho!
Infelizmente, as ações de “pirataria” não estão
restritas às plantas medicinais, mas também aos
nomes e preparações consagradas pela tradição
brasileira. A apropriação do nome “cupuaçu” por
uma empresa japonesa tornou, recentemente, esse
assunto de interesse público. No entanto, outros
fatos semelhantes continuam acontecendo, como os
exemplos ilustrados a seguir: barras de chocolate
preparadas com açúcar integral foram registrados
sob o nome de rapadura pela empresa “Nirwana” e
são livremente comercializados em lojas de
produtos naturais da Alemanha; outro exemplo é
35
uma pesquisa sobre a composição química e
atividade biológica da maniçoba, alimento de uso
tradicional da população do estado do Pará, a ser
publicada no periódico científico Journal of Food
Composition and Analysis. Nesse último caso, todo o
trabalho foi realizado por pesquisadores da
Universidade da Califórnia, nos EUA. Esses
exemplos ilustram o quanto as tradições culturais
brasileiras também vêm sendo apropriadas pelos
estrangeiros e confirma a necessidade de
mecanismos mais eficazes de proteção.
36
4 Fitoterápicos - Pesquisa,
desenvolvimento e controle de
qualidade
Pesquisa: ferramenta útil na transformação de
plantas medicinais em medicamentos
No Brasil, duas importantes políticas foram estabelecidas em
2006. A primeira foi a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), aprovada
através da Portaria Ministerial MS/GM nº 971, em maio de 2006. A
segunda foi a Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos, publicada através do Decreto nº 5.813, em junho de
2006. Ambas as políticas apresentam em suas diretrizes o incentivo
à pesquisa e ao desenvolvimento com relação ao uso de plantas
medicinais e fitoterápicos que possam ser disponibilizados com
qualidade, segurança e eficácia à população, priorizando a
biodiversidade do país. Essas medidas apontam para maior
valorização e reconhecimento desse recurso terapêutico como
alternativa para a população brasileira.
Com o desenvolvimento da tecnologia aliado ao interesse em se
confirmar o conhecimento da medicina popular, as plantas
medicinais têmtido seu valor terapêutico pesquisado mais
intensamente pela comunidade científica. Elas são a base do
descobrimento de novas drogas (como fornecedoras do princípio
ativo) ou medicamentos semissintéticos ou sintéticos (baseados em
compostos secundários de plantas). Como exemplo, citamos o taxol,
um diterpenoide taxano derivado de Taxus sp recentemente
registrado nos Estados Unidos para tratamento de câncer ovariano;
a nabilona, derivada do tetrahidrocanabinol (princípio ativo da
Cannabis sativa) para tratamento de náuseas associadas ao
tratamento quimioterápico de câncer. Os canabinoides têm sido
também utilizados no tratamento de glaucomas e doenças
neurológicas, como a epilepsia e distonia, e como agentes
37
hipotensivos, antiasmáticos e analgésicos.
Alguns outros produtos naturais têm sido profundamente
avaliados. Por exemplo, alguns compostos organossulfurados,
obtidos de alhos e cebolas, têm sido investigados como potenciais
protetores contra doenças cardiovasculares. O ácido elágico e os
tocoferóis têm sido avaliados como protótipos de agentes
antimutagênicos e preventivos contra cânceres. Alguns produtos
naturais que eram obtidos de plantas, como a cafeína, teofilina,
efedrina, emitina, papaverina, L-DOPA, ácido salicílico, entre
outros, agora são produzidos comercialmente por síntese química.
Além disso, há produtos naturais obtidos de plantas que servem
como modelos químicos para a estrutura e a síntese de novos
medicamentos. Como exemplos, a beladona, a fisostigmina, a
quinina, os opiáceos, a papaverina e o ácido salicílico têm as suas
estruturas utilizadas como modelo e também servem para a síntese
de drogas anticolinérgicas, anticolinesterases, antimaláricas, assim
como a benzocaína, procaína, lidocaína, aspirina entre outras.
O valor dos produtos naturais produzidos a partir das plantas
medicinais para a sociedade e para a economia do Estado é
incalculável. Um em cada quatro produtos vendidos nas farmácias
é fabricado a partir de materiais extraídos de plantas das florestas
tropicais ou de estruturas químicas derivadas desses vegetais. De
1959 a 1980, os medicamentos derivados de vegetais representaram
aproximadamente 25% de todas as prescrições médicas nas
farmácias americanas. Atualmente, a venda oficial desses
medicamentos no mundo atinge cerca de 20 bilhões de dólares/ano.
No Brasil, esse segmento responde por cerca de 7% do mercado
farmacêutico, ou seja, 400 milhões de dólares por ano. Se a esse
valor for incluída a economia informal da utilização popular de
plantas medicinais nos países em desenvolvimento, os valores
movimentados pelo setor alcançam a ordem de algumas centenas
de bilhões de dólares/ano.
Esses valores tornam-se mais significantes na demonstração da
importância das plantas medicinais como estímulo à sua
investigação se os considerarmos ante às estimativas de que
somente cerca de 10% das espécies de plantas existentes têm sido
sistematicamente estudadas em termos de compostos bioativos e
38
que apenas 1.100 das 365.000 espécies de plantas conhecidas foram
estudadas em suas propriedades medicinais.
O crescimento desse setor vem estimulando pesquisadores e
indústrias farmacêuticas internacionais a investir em pesquisa e
patenteamento de novas substâncias naturais, bem como extratos
padronizados. Além disso, desde a década de 1970, a OMS vem
estimulando os países em desenvolvimento a realizarem pesquisas
para avaliar o potencial de suas plantas medicinais, e transformá-las
em medicamentos eficazes e de custo acessível à população. De
fato, para o emprego dos produtos de origem vegetal pela medicina
oficial, é necessário que eles preencham os mesmos requisitos
mínimos de eficácia, segurança e controle de qualidade exigidos
para os produtos sintéticos. Muitas dessas pesquisas que vêm sendo
desenvolvidas se alicerçam na biotecnologia.
Você é capaz de definir biotecnologia?
A Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU estabeleceu
uma das muitas definições de biotecnologia:
"Biotecnologia define-se pelo uso de conhecimentos
sobre os processos biológicos e sobre as
propriedades dos seres vivos, com o fim de
resolver problemas e criar produtos de utilidade".
A biotecnologia compõe-se basicamente das seguintes
tecnologias:
• Biologia molecular;
• Engenharia genética;
• Biotecnologia;
• Cultura de tecidos.
Os fitoterápicos se inserem no amplo setor da biotecnologia e é
dentro dessa perspectiva que eles têm sido tratados pelo Estado
39
brasileiro nos últimos anos, sob a ótica do Ministério da Ciência e
da Tecnologia. Entretanto, a normatização do registro de
medicamentos fitoterápicos está situada no âmbito do MS, por meio
da Anvisa, com a RDC n°. 17, de fevereiro de 2000. Recentemente,
foi publicado o Decreto 6.041, de 8 de fevereiro de 2007, instituindo
a Política de Desenvolvimento de Biotecnologia e criando o Comitê
de Biotecnologia, fazendo menção ao respeito às normas de acesso à
biodiversidade (em especial ao patrimônio genético nacional) e ao
conhecimento tradicional associado.
Todo o arcabouço jurídico brasileiro contribuiu para a
apropriação de partes de plantas, de animais e até de
conhecimentos tradicionais, que são utilizados durante as pesquisas
ou incluídos em processos de fabricação dos produtos
desenvolvidos.
As pesquisas que buscam determinar a eficácia e segurança das
plantas medicinais são conhecidas como estudos de validação. Os
métodos biotecnológicos utilizados para validar as plantas
consistem, em linhas gerais, nas seguintes etapas:
• coleta e identificação da planta para o
estudo;
• preparação dos extratos e frações
enriquecidos em substâncias
químicas;
• avaliação fitoquímica desses extratos
para identificar as classes de
substâncias presentes;
• avaliação da atividade biológica dos
produtos por meio de ensaios in vitro
(pela capacidade do extrato em inibir
40
o crescimento dos micro-organismos
ou a atividade das enzimas) e in vivo
(em animais de laboratório);
• desenvolvimento de formulação e
testes clínicos em humanos. Após a
confirmação da eficácia e segurança, o
produto farmacêutico final é
desenvolvido, ao lado de métodos de
controle de qualidade e de produção
desses medicamentos.
Muitas plantas utilizadas na medicina tradicional de vários
países já foram submetidas aos estudos de validação e suas ações
foram confirmadas. Já outras espécies, apesar de contarem com o
amplo emprego por determinadas populações, não tiveram seus
efeitos confirmados e ainda foram consideradas tóxicas. Apesar da
vasta flora medicinal disponível e dos desenvolvimentos técnico-
científicos dessa área, a maior parte das plantas medicinais nativas
permanece sendo utilizada no Brasil da mesma forma que há
séculos, ou seja, baseada unicamente na informação popular.
Também se sabe que, apesar de nossa condição privilegiada de
biodiversidade, utilizamos, e muito, as plantas medicinais exóticas,
sendo que os valores de importação superam amplamente os de
exportação para esses produtos. Por outro lado, em países
desenvolvidos, como na Alemanha, a realidade é outra, visto que
mesmo não possuindo grandes florestas, a nação é detentora do
maior mercado de fitoterápicos. A entrevista concedida ao LQES
NEWS (LQES), pelo professor titular da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Ângelo da Cunha Pinto (ACP), remete a esse
paradoxo.
LQES - Sempre que pensam sobre a enorme diversidade brasileira, as
pessoas, quase que imediatamente, associam a ela a possibilidade de termos
41
medicamentos que possam ter como base "produtos" de nossas florestas
naturais. Trata-se de uma verdade ou de uma visão ingênua e romântica
da situação?
ACP - As florestas naturais são apenas "megacatálogos" de novas e
conhecidas substâncias. Nos dias de hoje, muitos pensam que floresta
natural é sinônimo de fitoterápico. Atualmente, os fitoterápicos são uma
realidade em todo mundo. Basta olhar o mercado europeu e as farmácias de
produtos naturais que são, abusivamente falando, abertas diariamente nas
grandes cidades brasileiras. Só recentemente foi lançado o 1º fitoterápicobrasileiro: um anti-inflamatório aqui desenvolvido de A a Z, graças a uma
parceria entre a Universidade Federal de Santa Catarina e o Laboratório
Aché. Esse mesmo laboratório, associado ao Laboratório Biossintética e à
Unifesp, acabam de depositar duas patentes de novos fitoterápicos, um
para tratamento de úlcera e outro como revigorante físico e sexual. São
fatos que talvez apontem para o que pode ser considerada uma nova era da
química de produtos naturais brasileira. Mas... é muito pouco para um
País que tem o maior número de espécies vegetais do planeta. Entre a
floresta e o medicamento há um grande fosso. Teremos mais medicamentos
fitoterápicos, na medida em que investirmos mais em ciência; quando não
apenas um, mas muitos outros editais com chamadas dirigidas à Química
de Produtos Naturais forem lançados pelas agências de fomento à pesquisa
científica. Românticos? Sim! Mas, acima de tudo, pragmáticos. Temos os
"catálogos", precisamos agora agregar valor aos itens dos mesmos.
Desenvolvimento de fitoterápicos
A transformação de uma planta em um medicamento deve
visar à preservação da integridade química e farmacológica do
vegetal, garantindo a constância de sua ação biológica e a sua
segurança de utilização, além de valorizar seu potencial
terapêutico. Para atingir esses objetivos, a produção de fitoterápicos
requer, necessariamente, estudos prévios relativos a aspectos
botânicos, agronômicos, fitoquímicos, farmacológicos,
toxicológicos, de desenvolvimento de metodologias analíticas e
tecnológicas.
Nesse sentido, o desenvolvimento de fitoterápicos inclui várias
etapas e envolve um processo interdisciplinar, multidisciplinar e
42
interinstitucional.
A interdisciplinaridade é de grande importância, visto que,
existe grande número de pesquisas desvinculadas umas das outras,
onde as especialidades se sobrepõem às reais necessidades da
Fitoterapia. Constatam-se inúmeras plantas cujos estudos
fitoquímicos e farmacológicos são potencialmente satisfatórios.
Entretanto, a espécie em questão não possui sequer pesquisas
agronômicas e ecológicas que se preocupam com reprodução do
vegetal ou sequer com o extrativismo sustentável.
As áreas de conhecimento envolvidas vão desde a antropologia
botânica até a tecnologia farmacêutica. A pesquisa é iniciada pelo
levantamento em literatura científica e catálogos internacionais nas
áreas específicas do referido conhecimento, ao mesmo tempo,
geralmente se faz a pesquisa etnobotânica e quimiotaxonômica.
Pesquisa etnobotânica: trata da observação do uso popular de
plantas nas diferentes culturas.
Pesquisa quimiotaxonômica: permite, por meio do aspecto
morfológico, identificar a presença de determinados grupos
químicos que tenham atividade farmacológica.
Sequencialmente, coleta-se um espécime da planta, prepara-se
uma exsicata e faz-se a identificação botânica e o registro em um
museu ou herbário. Depois, remete-se o vegetal aos estudos
botânicos, que têm como objetivo a identificação inequívoca de uma
espécie vegetal, por meio da análise de características anatômicas,
procurando destacar aquelas consideradas peculiares de uma
determinada espécie e que, em última instância, estejam presentes
na matéria-prima vegetal. Da mesma forma, é importante o
estabelecimento de características botânicas comparativas que
permitam detectar, no controle de qualidade, a presença de uma ou
mais espécies adulterantes.
Quanto ao encaminhamento aos estudos agronômicos,
objetiva-se à produção abundante e homogênea de matéria-prima,
preservando, ao mesmo tempo, a espécie e a biodiversidade. Os
principais aspectos a serem investigados visam à otimização da
produção de biomassa e de constituintes ativos, por meio de
estudos edafoclimáticos, de micropropagação, inter-relações
43
ecológicas, densidade de plantio, de melhoramento genético, além
dos aspectos sanitários de manejo e beneficiamento da espécie.
O melhoramento genético de plantas medicinais, apesar de
estar
em sua fase embrionária, tem conseguido avanços, principalmente
no que refere-se às plantas produtoras de alcaloides e óleos
essenciais.
Os estudos fitoquímicos compreendem as etapas de
isolamento, elucidação estrutural e identificação dos constituintes
mais importantes do vegetal, principalmente de substâncias
originárias do metabolismo secundário, responsáveis, ou não, pela
ação biológica. Esses conhecimentos permitem identificar a espécie
vegetal, conjuntamente com ensaios de atividade biológica, analisar
e caracterizar frações ou compostos bioativas. Ressalta-se ainda a
importância para o desenvolvimento de fitoterápicos do
estabelecimento de marcadores químicos, que são indispensáveis
para o planejamento e monitoramento das ações de transformação
tecnológicas aliado a estudos de estabilidade dos produtos
intermediário e final. Para isso, o conhecimento da estrutura
química tem especial relevância no caso de substâncias facilmente
degradáveis por fatores como luz, calor e solventes, atrelados ao
processo tecnológico.
A avaliação da atividade biológica inclui a investigação da
atividade farmacológica e toxicológica das substâncias isoladas, de
frações obtidas ou extratos totais da droga vegetal. A necessidade
de constatar e verificar a atividade biológica de uma planta e dos
produtos derivados pode ser abordada sob dois pontos de vista. O
primeiro, é investigar uma sequência de aspectos, iniciando-se pela
seleção das ações farmacológicas atribuídas à planta. Seleciona-se a
atividade farmacológica específica a ser explorada, identificando-se
o farmacógeno, e quais as respectivas substâncias que podem
apresentar a atividade farmacológica propriamente dita.
Sequencialmente, identifica-se a concentração e potência da
substância ativa em questão, buscando-se, inclusive, a presença ou
não de substâncias tóxicas na fração de interesse. O segundo diz
respeito ao estabelecimento de estratégias de desenvolvimento
tecnológico, no qual a sua validação exige a conservação da
44
composição química e, sobretudo, da atividade farmacológica a ser
explorada. A seguir, tem-se esquematizado um exemplo (Quadro 3)
da produção de princípios ativos em cultura de células:
 Material vegetal (cultivo ou silvestre) 
 Seleção de plantas altamente produtivas 
 Introdução de plantas “in vitro” 
 Indução de calos (calogênese) 
 Separação de linhas celulares estáveis 
 Otimização das condições de cultivo 
 Re-seleção de linhas celulares superiores 
 Cultura em massa em biorreatores 
 Isolamento e purificação dos metabólitos
desejáveis
 
 Comercialização 
Quadro 3 – Exemplo do esquema da produção de princípios ativos em cultura de
células
O conhecimento dos aspectos de atividade biológica do vegetal
é requisito essencial para a transformação da planta medicinal no
produto fitoterápico, havendo também interesse em estudos de
desenvolvimento de metodologias analíticas. Esses métodos
permitem a avaliação da qualidade do produto fitoterápico,
promovem a garantia da constância da ação terapêutica, a
segurança de utilização, sendo a eles atribuídas funções
diferenciadas. Nessa ótica, destaca-se a avaliação do teor de
substância ou grupo de substâncias ativas e do perfil qualitativo
dos constituintes químicos de interesse, presentes na matéria-prima
vegetal, produtos intermediários e produto final; por meio de
métodos espectrofotométricos, cromatográficos, físicos, físico-
químicos ou químicos, devendo possuir especificidade, exatidão,
45
precisão e tempo de rotina analítica, viabilizando-se que o mesmo
possa ser utilizado em estudos de estabilidade, permitindo,
inclusive, a detecção de produtos oriundos da degradação das
substâncias ativas ou dos marcadores químicos.
Inclui-se a avaliação das características físicas e físico-químicas
dos produtos tecnologicamente transformados, em razão de que
essas peculiaridades podem interferir sobre o perfil biofarmacêutico
do produto fitoterápico. Além disso, a utilização de métodos
analíticos, visando à quantificação de substâncias ativas ou de
referência, bem como de aspectosrelativos à forma farmacêutica,
são essenciais para a obtenção da homogeneidade dos lotes de
produção.
A produção de fitoterápicos pressupõe que estudos de
desenvolvimento tenham sido realizados anteriormente, estando os
procedimentos e etapas de processamento devidamente
estabelecidos. Cumprindo esse requisito, a obtenção de produtos
fitoterápicos, quer seja em escala oficinal, hospitalar ou industrial,
requer conhecimentos e habilidades específicas. É importante
destacar que para que se viabilize a inserção da Fitoterapia nos
pequenos centros de produção, bem como nas farmácias de
manipulação, deve haver investimentos na elaboração de
documentos oficiais para tal fim.
Tais conhecimentos e habilidades devem estar relacionados,
objetivando-se a produção de produtos farmacêuticos adequados,
conforme os conceitos atuais de qualidade, que são o nível de
satisfação do produtor e usuário do medicamento e o cumprimento
de requisitos pré-fixados que conduzam à sua total adequabilidade
ao fim a que se destinam. Portanto, o conhecimento do que se
pretende fazer deve ser aliado às normas que permitam alcançar o
objetivo traçado para atingir a qualidade total.
O insumo é o conjunto de bens e serviços que permite, por
meio das ações de transformação, a obtenção do medicamento. É
indispensável que o produtor conheça profundamente as matérias-
primas empregadas, a fim de estabelecer, para cada uma delas, uma
monografia completa, que vai servir como documento básico para o
estabelecimento da ficha de especificações para aquisição, dos
protocolos de controle de qualidade, das instruções para suas
46
transformações, entre outras.
De acordo com o tipo de matéria-prima, deverão ser delineados
os controles de qualidade e tomados os cuidados de conservação e
manipulação. O conhecimento dos adjuvantes empregados deverá
abranger, em primeiro lugar, as especificações adequadas de
conservação e manipulação. A especificação correta do material de
embalagem primária pressupõe, por sua vez, o completo domínio
do material a ser acondicionado e da sua composição. A sua
reatividade, representada pela capacidade de absorver substâncias,
de ser permeável a gases ou vapores no sentido do ambiente ou do
interior da embalagem ou de ceder componentes para o produto,
pode comprometer a qualidade do produto final.
A obtenção de formas farmacêuticas derivadas de matéria-
prima vegetal necessita de um planejamento inicial, com o objetivo
de antever o manejo destas e dos demais adjuvantes de acordo com
as especificações dos mesmos, além da determinação sequencial das
ações de transformação e monitoramento dos pontos e
metodologias de controle mais apropriados. Normalmente, o
produto intermediário que inicia o processamento da forma
farmacêutica classifica-se como preparação complexa. Trata-se de
um produto oriundo da transformação da planta ou do
farmacógeno.
Dependendo da disponibilidade de mercado, a matéria-prima
pode ser um extrato ou produto derivado, contendo adjuvantes
farmacêuticos ou não. Este requer uma série de operações de
transformação. Esse processamento do material vegetal para um
produto tecnicamente elaborado, que pode ser intermediário ou
acabado, implica na utilização de operações de transformação
tecnológica. A complexidade do processo e o número de operações
envolvidas estão determinados pelo grau de transformação
tecnológica requerido, que pode ser mínimo, como é o caso de pós e
drogas rasuradas destinados à preparação de chás; ou bem maior,
quando o objetivo é obter frações purificadas ou fórmulas sólidas
revestidas. Para cada uma das etapas do processo tecnológico, a
escolha de uma operação específica é determinada pelas
características físico-químicas do produto a ser obtido, pela
natureza da matéria-prima a ser transformada e pelo volume de
47
produção exigido.
Dentro dos agroecossistemas tradicionais, as atividades
humanas influenciam tanto os cultivos, quanto a vegetação natural
circundante, sendo importante o conhecimento desses sistemas e do
respectivo manejo, visando ao controle de ervas daninhas, pragas e
doenças, o desenvolvimento de cultivos em terras consideradas
marginais, conservação de recursos genéticos, produção agrícola
sustentável, etc.
Ainda em relação ao aspecto de produção de plantas
medicinais, cabe aqui lembrar que muito tem sido falado a respeito
dos cuidados que se deve seguir nesse segmento, uma vez que a
produção dos princípios ativos por tais plantas depende de uma
série de fatores durante o crescimento vegetal e nos procedimentos
após a coleta. Em função dessa preocupação, a OMS publicou em
2003 o guia de boas práticas agrícolas e de coleta para plantas
medicinais, afirmando que reconhece que tem sido dada atenção
insuficiente na questão da garantia de qualidade e controle da
produção desses materiais vegetais.
Controle de qualidade
Conforme já mencionado, a regulamentação dos medicamentos
fitoterápicos industrializados é realizada pela Anvisa, órgão federal
do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, responsável pelo
registro de medicamentos e outros produtos destinados à saúde.
Entre as diversas ações promovida pela vigilância sanitária,
destacam-se o controle sanitário de produtos, que abrange a
normatização, as atividades educativas e de informação ao setor
regulado e aos consumidores, registro de produtos, controle do
processo produtivo, distribuição, comercialização, publicidade,
consumo e descarte, além de análises laboratoriais.
A garantia de qualidade do material vegetal a ser processado é
fundamental na preparação de fitoterápicos, devendo-se considerar
aspectos botânicos, químicos, farmacológicos e de pureza. Por esse
motivo, além do teor de substância ativa e intensidade das
atividades farmacológica e toxicológica, outros aspectos de
qualidade a serem avaliados são: carga microbiana, contaminação
48
química por metais pesados, pesticidas e outros defensivos
agrícolas e a presença de matéria estranha, como terra, areia, partes
vegetais, insetos e pequenos vertebrados ou de produtos oriundos
destes.
Com o objetivo de auxiliar o desenvolvimento de especificações
nacionais de referência, a OMS publicou no documento
WHO/Pharm/92.559 uma coletânea de metodologias para analisar a
qualidade de plantas medicinais. Isso é importante para o controle
de qualidade dos insumos utilizados na fabricação dos derivados
de drogas vegetais.
Para garantir a qualidade do fitoterápico, deve-se utilizar uma
metodologia descrita em farmacopeias ou formulários oficiais
reconhecidos pela Anvisa (disponibilizados na RDC 79/03) ou
validar a metodologia analítica no controle de qualidade. Se houver
a metodologia na FBRAS, esta deve ser obrigatoriamente seguida,
em relação às demais conhecidas, devendo-se dar prioridade à
edição mais recente. Não havendo a metodologia nos compêndios
oficiais, todas as metodologias utilizadas no controle de qualidade
devem ser enviadas para a Anvisa com a indicação da fonte
bibliográfica ou de desenvolvimento. A empresa pode optar por
terceirizar uma parte da produção ou do controle de qualidade,
mas deverá fazê-lo em laboratórios habilitados pela Rede Brasileira
de Laboratórios em Saúde (Reblas) ou em outras empresas
fabricantes de medicamentos que tenham CBPFC atualizado.
Existem várias dificuldades para o controle de qualidade e
comprovação de segurança e eficácia dos medicamentos
fitoterápicos, devido à complexidade química dos derivados de
drogas vegetais. Faltam investimentos em pesquisa com plantas
nativas por parte das indústrias, que preferem desenvolver
produtos baseados em plantas exóticas por disporem de vasta
literatura científica publicada. Além disso, outras dificuldades
inerentes ao processo de caracterização química e farmacológica
dos derivados de drogas vegetais referem-se ao tempo e recursos
apreciáveis, bem como o investimento em equipes
multidisciplinares.
 
49
Assim, A QUALIDADE...
...deve ser alcançada através do controle de todo o
processo de produção, desde a matéria-prima até o
produto acabado, materiais de embalagem,

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