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LABORATÓRIO DE PRÁTICA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA Professor Francisco Sannini Neto – Delegado de Polícia - Mestrando em Direitos Difusos e Coletivos – Especialista em Direito Público. Peças a serem estudadas: 1-)Portaria; 2-) Auto de Prisão em Flagrante; 3-) Representação para Decretação de Interceptação Telefônica; 4-) Representação para a Decretação de mandado de Busca e Apreensão Domiciliar; 5-) Representação para a Decretação de Prisão Temporária/Preventiva; 6-) Despacho de indiciamento; 7-) Relatório Final de Inquérito Policial. --------------------//---------------------- QUESTÃO 1: Vilma dos Santos teve a porta de sua residência arrombada por um indivíduo desconhecido que subtraiu do seu interior um aparelho de televisão e um notebook. Assim que constatou o crime, Vilma foi até o 2° Distrito Policial da cidade de São Paulo e registrou a ocorrência. De acordo com o histórico do boletim de ocorrência, a vítima teria sido informada por sua vizinha, Maria Aparecida, que o autor do crime seria um morador do bairro conhecido pelo apelido de “Baratão”, haja vista que ela o viu saindo da casa com os objetos furtados. Em posse dessas informações elabore a peça de polícia judiciária mais adequada ao caso. Resumo Esquematizado: 1-) Resumo descritivo do fato informando a fonte da notícia crime; 2-) Classificação preliminar do fato; 3-) Diligências iniciais visando o esclarecimento do crime; 4-) Determinar o cumprimento da ordem. PORTARIA Tendo em vista a notitia criminis constante no Boletim de Ocorrência n.º xxx/2014, registrado no 2° Distrito Policial de São Paulo, dando conta de que a vítima, Vilma dos Santos, teve a porta de sua residência arrombada por um indivíduo conhecido pelo apelido de “Baratão”, que teria subtraído do seu interior um aparelho de televisão e um notebook, considerando que tais fatos caracterizam, em tese e em princípio, o crime de furto qualificado, previsto no artigo 155, §4°, inciso I, do Código Penal, o Delegado de Polícia que esta subscreve, no uso das suas atribuições legais e constitucionais conferidas pelo artigo 144, § 4º, da Constituição da República, artigo 140, §3°, da Constituição Estadual Paulista, artigo 4º e seguintes do Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689/1941), sob as premissas da Lei 12.830/2013 e demais dispositivos legais correlatos, determina a INSTAURAÇÃO do devido Inquérito Policial para a cabal apuração dos fatos acima narrados, devendo o senhor Escrivão de meu cargo, após autuar e registrar esta, providenciar o que segue: 1-) Junte aos autos o Boletim de Ocorrência que deu origem a este procedimento, bem como as demais peças de polícia judiciária cabíveis; 2-) Expeça, COM URGÊNCIA, ordem de serviço ao Setor de Investigações com o objetivo identificar e apresentar em cartório o indivíduo conhecido pela alcunha de “Baratão”. Da mesma forma, os investigadores devem realizar diligências no intuito de recuperar os objetos furtados; 3-) Notifique a vítima, Vilma dos Santos, para que seja ouvida em declarações acerca dos fatos, bem como a testemunha, Maria Aparecida, que deverá ser ouvida em assentada; 4-) Expeça, com urgência, ofício ao Instituto de Criminalística requisitando a realização de perícia no local do crime visando a constatação da qualificadora prevista no §4°, inciso I, do artigo 155, do Código Penal; 5-) Formalize o devido auto de avaliação sobre os objetos subtraídos da vítima. A seguir, retorne os autos conclusos para ulteriores deliberações. CUMPRA-SE. São Paulo, 29 de setembro de 2014. FRANCISCO SANNINI NETO Delegado de Polícia -------------------------//------------------------- Questão 2: Roberto da Silva conduzia seu veículo, um AUDI/A3, avaliado em 120 mil reais, quando foi parado pela Polícia Rodoviária Federal durante uma blitz na Rodovia Presidente Dutra. Após analisar sua documentação, o policial percebeu que Roberto apresentava sinais de embriaguez, oportunidade em que lhe convidou para realizar o teste do etilômetro. Roberto prontamente se disponibilizou e o resultado do seu exame apontou a presença de 0,4 miligrama de álcool por litro de ar. Destaque-se, ainda, que ao efetuar pesquisa sobre os antecedentes criminais de Roberto, o policial verificou que ele já havia sido preso recentemente pelo crime de embriaguez ao volante. Diante disso, o policial conduziu Roberto até o seu Distrito Policial. Como Delegado de Polícia, adote as medidas de polícia judiciária cabíveis. Resumo esquematizado: 1-) Indicar o dia e hora da prisão; 2-) Indicar a circunstância da prisão (captura) e o seu responsável; 3-) Indicar o tipo penal aparentemente violado e os indícios de autoria e materialidade que formaram o seu convencimento; 4-) Indicar o fundamento da prisão (art.302 e art.304,§1°, CPP); 5-) Analisar a possibilidade de concessão de liberdade provisória mediante fiança. AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO No dia 05 do mês de agosto de 2014, às 19:00 hrs, no 1° Distrito Policial de Guaratinguetá, presente o Excelentíssimo Senhor Delegado de Polícia signatário, comigo, Escrivão de Polícia, aí, compareceu o policial rodoviário ora condutor, apresentando capturado Roberto da Silva, por suspeita de incidência no artigo 306, do Código de Trânsito Brasileiro, tendo em vista ter sido surpreendido na direção de veículo automotor em aparente estado de embreaguez, fatos ocorridos na Rodovia Presidente Dutra. Examinadas as versões e demais elementos amealhados, o Delegado de Polícia exarou sua decisão e convicção jurídica, nos moldes do artigo 2º, parágrafo 6º, da Lei Federal nº 12.830/2013: nesta etapa urgente de cognição sumaríssima, resta caracterizado o estado de flagrante delito em face do conduzido. Isto, pois, Roberto da Silva foi surpreendido na direção de veículo automotor em aparente estado de embriaguez, o que foi comprovado por meio do depoimento do policial rodoviário federal, que na condição de funcionário público goza de relativa presunção de veracidade, além do exame do etilômetro, que apontou a presença de 0,4 miligramas de álcool por litro de ar expelido. Demais disso, por se tratar de infração penal que deixou vestígios, em observância ao artigo 158, do CPP, foi determinada a condução do preso ao Instituto Médico Legal, onde o seu estado de embriaguez foi confirmado pelo exame clínico em anexo nos autos. Destarte, reputo que há subsunção da conduta à figura típica descrita no artigo 306, do CTB. Com efeito, vislumbram-se os elementos indiciários de materialidade e autoria delitivas, consubstanciados nas oitivas coligidas, bem como nos exames realizados. À luz do exposto, com base no artigo 302, inciso I e artigo 304, §1°, do CPP, o Delegado de Polícia que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, DECRETA a PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO do conduzido, devendo lhes ser assegurados todos os direitos constitucionais, especialmente o de permanecer em silêncio e não produzir provas contra si mesmo, com entrega da correspondente nota de culpa ao final. Sem embargo, considerando que se trata de infração cuja pena máxima cominada não ultrapassa 04 anos, CONCEDO liberdade provisória mediante fiança em benefício do preso, nos termos do artigo 322, do CPP. Com base no artigo 326 do mesmo Estatuto Processual, o valor dessa medida cautelar liberatória foi fixado em 10 mil reais, considerando-se, para tanto, a condição financeira do detido, seus antecedentes criminais e o local em que o crime foi praticado. Comunique-se a Autoridade Judiciária competente, adotando-se demais cerimônias legais. Juntem-se oitivas e demais documentações pertinentes, integrantes deste. Instaura-se Inquérito Policial. Nada mais havendo, determinou a Autoridade Policial o encerramento deste, devidamente assinado. FRANCISCO SANNINI NETO Delegado de Polícia-----------------------//----------------------- QUESTÃO 3: Carlos da Silva é um tradicional traficante de drogas já bem conhecido pelos investigadores do 10°. Distrito Policial de São Paulo, sendo que ele já foi até preso em flagrante em uma ocasião pela prática desse crime. Segundo informações apuradas pelo Setor de Investigações do distrito, Carlos estaria no auge do seu envolvimento com o tráfico, comercializando cerca de 50 quilos de “cocaína” por semana. Há, inclusive, uma testemunha que afirmou ter visto a droga na casa do suspeito. Em virtude dessas informações, os investigadores passaram a efetuar campanas durante 24 horas em frente a sua residência. Além disso, foi cumprido um mandado de busca e apreensão no local, mas nada de ilegal foi encontrado, exaurindo-se, assim, praticamente todos os meios de prova. Nesse contexto, na qualidade de Delegado de Polícia responsável pela presente investigação, qual seria a medida de polícia judiciária adequada ao caso? Resumo Esquematizado: 1-) Breve relato dos elementos apurados durante a investigação; 2-) Destacar que todos os demais elementos de prova foram exauridos; 3-) Mencionar a linha interceptada e a linha a qual será redirecionada as ligações; 4-) Atentar para os requisitos da Lei 9.296/96; 5-) Sugerir que a medida seja decretada sem a oitiva da parte contrária (art.282, §3°, CPP). REPRESENTAÇÃO PARA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA OFÍCIO N°__________/2014 Guaratinguetá, 07 de outubro de 2014. Meritíssima Senhora Magistrada A POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO, por intermédio do Delegado de Polícia signatário, no exercício de suas expressas funções legais, com fulcro nos artigos 144, § 4º, da Constituição Federal, artigo 2, § 2º, da Lei Federal nº 12.830/2013, e na Lei Federal nº 9.296/1996, na forma da Resolução n.º 59/2008 do Conselho Nacional de Justiça, respeitosamente REPRESENTA a Vossa Excelência pela AUTORIZAÇÃO para INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA nas linhas do aparelho celular com o número (012) X-XXXX-XXXX, e IMEI da operadora VIVO, que, segundo apurado, estaria sendo utilizada pelo investigado, Carlos da Silva, sendo que o áudio deve ser direcionado ao SETEL-DIPOL, para a devida gravação, bem como para a linha (12) X-XXXX-XXXX, da operadora VIVO, sendo que o monitoramento da linha será feito pelo policial civil, FULANO DE TAL, RG.xxxxxxxxx, com endereço eletrônico funcional de fulanodetal@policiacivil.sp.gov.br . A presente representação funda-se em elementos obtidos no Inquérito Policial instaurado nesta unidade, registrado sob o número XXX/2014, que apura os crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico (art.33, caput e art.35, da Lei de Drogas), no qual o representado, figura como investigado, havendo informações de que a referida linha telefônicas tem sido utilizada por ele para a consecução dos crimes supracitados. Destaque-se, Excelência, que durante esta investigação foram realizadas campanas nas imediações da residência do suspeito e, além disso, foi cumprido um mandado de busca no local. Contudo, nada de ilegal foi encontrado em sua posse, muito embora uma testemunha ouvida nos autos afirme ter visto uma grande quantidade de drogas em sua casa. Isto posto, vale consignar que, neste momento, não existem outros meios de prova disponíveis para o prosseguimento das diligências investigatórias criminais, além dos procedimentos já realizados, sendo a interceptação telefônica imprescindível para a perfeita elucidação dos fatos, inclusive para a identificação de outros envolvidos. Sem embargo, consignamos que a referida interceptação telefônica será realizada por meio das vias apropriadas na área de comunicações, utilizando-se esta Autoridade Policial de técnicos especializados e pertencentes ao quadro da empresa concessionária de serviços respectiva, conforme prevê o artigo 7º, do destacado diploma legal que disciplina a matéria. Assim, REPRESENTA-SE a Vossa Excelência, nos moldes do artigo 3º, inciso I, da Lei Federal nº 9.296/1996, pela interceptação das referidas linhas telefônicas que está na posse de Carlos da Silva, conforme segue: ALVO REDIRECIONAMENTO (012) X-XXXX-XXXX (12)X-XXXX-XXX Nos termos da referida lei, solicita-se, ainda, o fornecimento de SENHA para acesso imediato a: a) dados cadastrais, com obtenção das linhas celulares atrelados a CPF/CNPJ, de quaisquer pessoas de interesse nas investigações criminais; b) históricos de chamadas das linhas de interesse das investigações; c) localização das ERBs das linhas de interesse nas investigações criminais. Em observância ao §3° do artigo 282 do CPP, com o objetivo de garantir a eficácia da medida representada, sugerimos a este douto Magistrado que decrete a interceptação telefônica do investigado sem a sua respectiva oitivas (inaudita altera pars). Anota-se, ademais, que as interceptações serão acompanhadas via Sistema Guardião da Polícia Civil. No ensejo, renovam-se a Vossa Excelência protestos de elevada estima e distinta consideração, colocando-se esta Autoridade Policial à disposição para eventuais providências legais de polícia judiciária que se fizerem necessárias. FRANCISCO SANNINI NETO DELEGADO DE POLÍCIA A Excelentíssima Senhora Doutora Juíza de Direito da Comarca de Aparecida ------------------------//-------------------------- QUESTÃO 4: De acordo com o Setor de Inteligência da sua Delegacia de Polícia, inúmeras denúncias anônimas indicam que Roberto Salomão mantém em sua residência duas pistolas calibre .380 em desacordo com a regulamentação legal, sendo que uma delas estaria com a sua numeração suprimida. Em virtude dessas denúncias, o Setor de Investigações lhe apresentou um relatório dando conta de que o suspeito já havia sido preso anteriormente pelo crime de roubo, destacando que, de fato, havia fundada suspeita de que as armas estivessem em sua casa. Durante as investigações, uma testemunha foi ouvida e confirmou que as armas estariam no local. Frente ao exposto, como Delegado de Polícia, qual seria a medida de polícia judiciária cabível? Resumo Esquematizado: 1-) Citar as investigações realizadas e as provas coligidas; 2-) Se manifestar sobre a adequação típica dos fatos, apontando o tipo penal aparentemente violado; 3-) Justificar a necessidade da medida para as investigações, destacando a existência de fundadas suspeitas contra o investigado; 4-) Citar o local alvo da medida; 5-) Sugerir que a medida seja decretada sem a oitiva da parte contrária. REPRESENTAÇÃO PARA A DECRETAÇÃO DE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito; De acordo com o relatório de investigação em anexo, o Setor de Investigações Gerais desta Delegacia de Polícia vem efetuando um serviço de “inteligência policial” no intuito de combater a criminalidade em nossa região, especialmente no que se refere ao crime de roubo, que expõe em perigo a integridade física do cidadão de bem. Não temos dúvidas de que o processo penal e a própria investigação criminal devem se desenvolver sempre de acordo com os direitos fundamentais. Contudo, não podemos olvidar que a criminalidade organizada vem se organizando cada vez mais, o que torna desigual a luta travada com o Estado, que, nesse contexto, precisa se valer de instrumentos aptos a conter essa desigualdade. Dessa forma, o Direito Penal, Processual Penal e suas medidas cautelares ganham destaque no combate à criminalidade organizada e na proteção à sociedade. Ora, o Direito Penal não foi feito para “santos ou herois". Consequentemente, seu instrumento de aplicação também não pode erigir-se sobre a ilusão de que trabalha com uma clientela de altruístas, santos ou heróis, ou seja, o Processo Penal também não é feito para "santos ou herois". Aliás, diria de formamais abrangente que o Direito em geral não é para santos ou heróis, para homens perfeitos, bons em essência. Nessas condições o Direito em geral seria algo totalmente dispensável com todos seus aparatos legais, judiciais, ministeriais, policiais. Para que serviriam um Delegado de Polícia, um Juiz, um Promotor ou um Advogado no Paraíso? Que conflitos lhes seriam submetidos? Para um jurista espiritualizado essa deve ser uma preocupação, já que no Céu certamente seus conhecimentos e práticas não serão necessários. É bom que o jurista se dedique a alguma atividade paralela, senão seu destino na eternidade será o de algum limbo ou purgatório onde imperará o ostracismo e a monotonia. Afinal, no Inferno também não o desejarão para impor alguma ordem, paz ou seja lá o que for. Com o perdão da digressão jocosa, destacamos que o respeito às estruturas reais do mundo é uma condição de qualquer direito que pretenda ter alguma eficácia. Se um homem se distancia da realidade mundana isso é indício de patologia mental grave. Quando o Direito se distancia da realidade do mundo também se torna um Direito Esquisofrênico, onde fantasias perigosas colocam a sociedade à beira de um abismo. E isso certamente é válido tanto para um garantismo negativo (limitação dos poderes estatais sobre o indivíduo), como para um garantismo positivo (concessão de certos poderes estatais de defesa social). A inobservância das estruturas lógico reais, infringindo o garantismo negativo, desnatura o Direito em mero autoritarismo ou exercício de força. Já sua inobservância frente ao garantismo positivo desanda em laxismo. O idealismo levado às últimas consequências corre esse risco de apartar-se por demais da realidade e tornar-se muito perigoso. Mas parece que o garantismo negativo de Ferrajoli e outros seguidores nesse aspecto não se dá conta desse distanciamento, ou se dá conta, mas não se importa, num verdadeiro "pereat mundus, fiat philosophia", a lembrar a frase atribuída a Hegel: "Se os fatos desmentem minha teoria, pior para os fatos" Enfim, Excelência, colacionamos essas breves considerações apenas com o objetivo de, humildemente, demonstrar a necessidade de intervenções Estatais incisivas visando o combate ao crime organizado, mais especificamente ao crime de roubo. Tudo isso, claro, com o absoluto respeito aos princípios constitucionais e fulcrado na proporcionalidade constante no artigo 282 do Código de Processo Penal. Frente ao exposto, tendo em vista a existência de fundadas razões conforme os relatórios de investigação em anexo, a POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO, por intermédio do Delegado de Polícia que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, representar pela concessão de MANDADO JUDICIAL DE BUSCA E APREENSÃO e ordem de arrombamento, caso seja necessário, ao endereço a seguir mencionado, nos termos do artigo 240 do Código de Processo Penal. Rua tal, n°tal, cidade tal. Guaratinguetá, 10 de julho de 2014. FRANCISCO SANNINI NETO Delegado de Polícia --------------------------//-------------------------- Questão 5: No dia 02 de outubro de 2014, Ana Bela havia acabado de estacionar seu veículo na via pública, quando foi abordada por um indivíduo desconhecido que, mediante grave ameaça exercida por meio do emprego de arma de fogo, lhe subtraiu o seu carro. Desolada, Ana Bela registrou o Boletim de Ocorrência e aguardou as providências policiais. Ocorre que no dia seguinte, um sujeito identificado como Álvaro Dias foi abordado pela Polícia Militar na condução do veículo de Ana Bela. Os policiais, ao constatarem que se tratava de um veículo roubado, conduziram o suspeito até a Delegacia de Polícia. Já nesta Unidade de Polícia Judiciária, Álvaro Dias foi reconhecido pela vítima como sendo o autor do roubo ao qual ela foi submetida. Destaque-se, ainda, que o suspeito possui uma extensa ficha criminal relacionada ao crime de roubo. Diante disso, como Delegado de Polícia, qual seria a medida cabível ao caso? Indique, ainda, as peças de polícia judiciária que servirão de subsídio a sua decisão. Resumo Esquematizado: 1-) A prisão temporária pode ser solicitada por meio de ofício ou nos autos do inquérito policial; 2-) Elaborar uma síntese do que foi apurado, apontando os indícios de autoria e materialidade delituosa e o tipo penal aparentemente violado (v.g. auto de reconhecimento pessoal e declarações da vítima); 3-) Demonstrar a necessidade da medida nos termos do previsto na Lei de Prisão Temporária e no CPP, consignando, se for o caso, as medidas de polícia judiciária que poderão ser realizadas por meio desta medida. 4-) Solicitar que a medida seja decretada sem a oitiva da parte contrária. REPRESENTAÇÃO PARA PRISÃO TEMPORÁRIA Meritíssimo Juiz, Estreita síntese do presente Inquérito Policial: O presente procedimento investigativo teve início por meio de Portaria, em virtude do Boletim de Ocorrência n°xxx/2014, cujo conteúdo apresenta uma notitia criminis de roubo majorado (art.157, §2°, I, do CP) contra a vítima, Ana Bela, que no dia 02 de outubro de 2014 foi abordada por um indivíduo desconhecido que, mediante grave ameaça exercida por meio do emprego de arma de fogo, lhe subtraiu seu veículo. Ocorre que na data de hoje, ao efetuar patrulhamento de rotina, a Polícia Militar surpreendeu Álvaro Dias na condução do veículo da vítima, o que fez com que ele fosse encaminhado até esta Delegacia de Polícia. Ao ser ouvida em declarações, a vítima reconheceu Álvaro Dias como sendo o autor do roubo ao qual ela foi submetida, o que foi formalizado no auto de reconhecimento pessoal em anexo. Frente ao exposto, restaram suficientemente demonstrados os indícios de autoria e materialidade do crime previsto no artigo 157, §2°, inciso I, do CP em prejuízo do suspeito. Da Necessidade e Adequação da Prisão Temporária Como é cediço, em 2011 o nosso Código de Processo Penal sofreu uma reforma na parte que trata das prisões e demais medidas cautelares. Tal reforma foi efetivada pela Lei 12.403/2011. Com a inovação legislativa, o artigo 282 do CPP passou a atuar como uma espécie de cláusula geral das medidas cautelares. Isso significa que o mencionado dispositivo legal deve ser observado na aplicação de toda e qualquer medida cautelar, o que inclui a prisão temporária. Sendo assim, com base no artigo 282, incisos I e II, do CPP, a prisão temporária de Álvaro Pereira se apresenta como a medida necessária e adequada para evitar a reiteração de condutas criminosas, uma vez que o suspeito possui uma extensa ficha criminal, o que demonstra a sua periculosidade para a sociedade, pois, em liberdade, ele provavelmente voltará a delinquir. Em observância ao §3° do artigo 282 do CPP, com o objetivo de garantir a eficácia da medida e considerando a urgência do caso, sugerimos a este douto Magistrado que decrete a prisão temporária sem a oitiva da parte contrária (inaudita altera pars). Por fim, destacamos que, diferentemente da prisão preventiva, que exige indícios suficientes de autoria, a prisão temporária demanda apenas a existência de fundadas razões de autoria. Isto, pois, a função principal da prisão temporária é servir às investigações. É por meio da prisão temporária que será possível a busca de novos elementos de informações sobre o crime e que não poderiam ser descobertos por outros meios. Dessa forma, podemos afirmar que na decretação da prisão temporária o grau de certeza em relação à autoria é significativamente menor do que na decretação da prisão preventiva, tanto que o próprio legislador fez esta distinção ao mencionar as fundadas razões no texto legal. Entendemos que a decretação da prisão temporária exige a possibilidade de autoria, enquanto a prisão preventiva demanda a probabilidade de autoria. Caso contrário,Excelência, não haveria necessidade da existência da prisão temporária, pois o Magistrado já poderia decretar diretamente a prisão preventiva e o Ministério Público, por sua vez, já poderia oferecer a denúncia. São por todos esses motivos que entendemos imprescindível a decretação desta medida extrema, objetivando principalmente a proteção aos bens jurídicos previstos no artigo 282, inciso I, do CPP. Conclusão: Diante do exposto, sendo imprescindível para a cabal apuração dos fatos, isto é, para findar as investigações de Polícia Judiciária, com fundamento no artigo 1°, incisos I e III da Lei 7.960/89 e artigo 282 do Código de Processo Penal, a POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO, representada pelo Delegado de Polícia subscritor, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, REPRESENTAR PELA DECRETAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA de Álvaro Dias, pelo prazo de 05 (cinco) dias a partir da efetivação da medida. Guaratinguetá, 12 de outubro de 2014. FRANCISCO SANNINI NETO Delegado de Polícia Questão: Robson Cruz está sendo investigado por um crime de roubo ocorrido há dois anos. Ele é suspeito de abordar a senhora Glória da Silva em plena via pública e, mediante grave ameaça exercida por meio do emprego de arma de fogo, subtrair a quantia 200 reais que ela trazia consigo. Apesar do crime ter sido praticado tempos atrás, apenas hoje foi possível reunir provas contra Robson, uma vez que a vítima o reconheceu como sendo o autor do roubo, conforme auto de reconhecimento pessoal em anexo nos autos do inquérito. Destaque-se que o suspeito vem colaborando com a investigação e, inclusive, confessou o crime em suas declarações iniciais. Diante do exposto, como Delegado de Polícia, qual a medida de polícia judiciária deve ser adotada? Resumo Esquematizado: 1-) Introdução do despacho de indiciamento fazendo menção aos dispositivos que dão suporte à decisão; 2-) Breve relato dos fatos apurados e os fundamentos da decisão; 3-) Determinar entrega de nota de culpa ao indiciado (OPCIONAL!!). DESPACHO DE INDICIAMENTO Conclusão: Considerando o teor do artigo 2°, §6°, da Lei 12.830/2013 e o parágrafo único do art. 5º da Portaria DGP-18/98, o Delegado de Polícia que esta subscreve delibera nos seguintes termos: O presente procedimento investigativo de Polícia Judiciária teve início por meio de Portaria, em virtude da notitia criminis constante no Boletim de Ocorrência n°xxx/2014, registrado no Distrito XX, cujo conteúdo apresenta, em tese, um crime de roubo majorado (art.157, §2°, incisos I, do CP) contra a vítima, Glória da Silva, que no dia dos fatos foi abordada por um indivíduo até então desconhecido, que, mediante grave ameaça exercida por meio do emprego de arma de fogo, lhe subtraiu 200 reais em dinheiro. Durante as investigações, foi apurado que a pessoa de Robson Cruz seria o autor do crime. Ao ser ouvido preliminarmente em declarações, ele confessou o crime. Posteriormente, a vítima o reconheceu em autos próprios. Frente ao exposto, considerando os elementos de informações coligidos ao longo deste inquérito policial, o Delegado de Polícia subscritor formou seu convencimento no sentido de que restaram suficientemente demonstrados os indícios de autoria e materialidade do crime previsto no artigo 157. §2°, incisos I, do Código Penal, razão pela qual, determino o FORMAL INDICIAMENTO de Robson Cruz, como incurso nas penas do artigo supramencionado, nos termos da Portaria DGP 18/98 e do artigo 2°, §6°, da Lei 12.830/2013. Com o objetivo de subsidiar nosso entendimento, advertimos que em determinados crimes a palavra da vítima torna-se essencial para a identificação da autoria, sendo que para a caracterização da qualificadora constante no §2°, inciso I, do artigo 157, é prescindível a apreensão da arma utilizada pelo criminoso. Nesse sentido, destacamos o entendimento do STF, por meio do Ministro Celso de Mello, ao julgar o HC 98789, afirmando que esse tema já faz parte de jurisprudência consolidada desse Egrégio Tribunal, segundo a qual “não se mostra necessária a apreensão e perícia da arma de fogo empregada no roubo para comprovar o seu potencial lesivo”, “a qualificadora do artigo 157, parágrafo 2º, inciso I, do Código Penal pode ser evidenciada por qualquer meio de prova, em especial pela palavra da vítima ou pelo depoimento de testemunha pericial” e “se o acusado alegar o contrário ou sustentar a ausência de potencial lesivo da arma empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de produzir tal prova”. Lembramos, ainda, que a doutrina sobre o tema assenta, verbis: “(...) a materialidade do roubo independe da apreensão de qualquer instrumento, assim como a prova da autoria pode ser concretizada pela simples, mas verossímil, palavra da vítima. Por isso, igualmente, para a configuração da causa de aumento (utilização de arma), bastam elementos convincentes extraídos dos autos, ainda que a arma não seja apreendida” (in Nucci, Guilherme de Souza – Código Penal Comentado, Revista dos Tribunais, 7ª Edição, p. 691). Sem embargo do exposto, em observância aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, determino que, efetuado o formal indiciamento do suspeito, lhe seja entregue nota de culpa onde conste o crime pelo qual ele está sendo indiciado, os motivos que levaram a esta conclusão e o nome da Autoridade Policial responsável por tal determinação. Guaratinguetá, 13 de outubro de 2014. FRANCISCO SANNINI NETO Delegado de Polícia