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AULA 5 GESTÃO ORÇAMENTÁRIA Profª Edicreia Andrade dos Santos 2 CONVERSA INICIAL Até aqui, você teve a oportunidade de conhecer os principais aspectos da gestão orçamentária: os conceitos relacionados à área, sua evolução, os principiais modelos de planejamento utilizados pela organização, além dos principais elementos do orçamento empresarial. Agora, chegou a hora de entender os produtos desse planejamento, que são as projeções dos demonstrativos contábeis. O assunto demonstrações contábeis não é novo, afinal você provavelmente você já as conhece ou pelo menos já ouviu falar de algumas das principais, como Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado e Fluxo de Caixa, não é verdade? Tais relatórios, também conhecidos como demonstrações financeiras, consistem em demonstrativos que representam a estrutura patrimonial e financeira da empresa em um determinado período, com o intuito de ajudar a administração da entidade a tomar decisões com base nas melhores informações disponíveis. Quando projetadas, essas demonstrações incorporam as tendências e expectativas atuais para traçar um quadro financeiro que a gestão acredita que pode atingir a partir de uma data futura. No mínimo, as demonstrações financeiras projetadas vão trazer uma demonstração de resultados e um balanço de nível resumido. Essa informação é tipicamente derivada de uma linha de tendência de receita, bem como de percentuais de despesas que são baseados nas proporções atuais de despesas e receitas. Um conjunto mais completo de demonstrações financeiras projetadas pode incorporar, por exemplo, os seguintes recursos: 1. Uma demonstração de fluxos de caixa; 2. Projeções de despesas que incluem custos de etapas para os principais pontos nos quais as receitas aumentam ou diminuem; 3. Consideração do ritmo no qual a empresa pode crescer razoavelmente, com base em sua história anterior; 4. Consideração da operação de gargalo corporativo na capacidade de crescer; 5. A capacidade do negócio de atrair o financiamento necessário para realizar os resultados financeiros indicados no plano. 3 Levando com consideração a importância das projeções das demonstrações contábeis para as programações de uma empresa, o objetivo desta aula é tratar dos seus principais elementos, destacando definições e conceitos, a forma de elaboração dos principais relatórios, além da contribuição dessas demonstrações para o processo decisório. Saiba mais Quer saber um pouco mais sobre as projeções de demonstrações contábeis? Saiba mais no link a seguir. KEMPF, F. Projeção de balanços. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ttwamNLSqtE>. CONTEXTUALIZANDO As demonstrações contábeis/financeiras são desenvolvidas e apresentadas para os usuários internos e externos com o intuito de atender às mais diferentes necessidades. Algumas demonstrações são desenvolvidas obrigatoriamente com o intuito de atender a leis vigentes e às Normas Brasileiras de Contabilidade (editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade). No entanto, isso não impede que determinados relatórios sejam elaborados com outras finalidades. As demonstrações contábeis são elaboradas no mínimo em caráter anual. O conjunto de relatórios obrigatórios envolve demonstrativos como: 1. Balanço Patrimonial (BP), que é um resumo dos direitos e deveres da empresa; 2. Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC); 3. Demonstração do Resultado (DR); 4. Demonstração dos lucros e/ou prejuízos acumulados (DLPA) ou Demonstração da Mutação do Patrimônio Líquido (DMPL); 5. Demonstração do Valor Adicionado (DVA), quando se tratar de companhia aberta; 6. Demonstração do Resultado Agregado (DRA), quando se tratar de companhia aberta; 7. Notas Explicativas e quadros analíticos ou qualquer outra coisa que possa servir para ilustrar a situação patrimonial. 4 Ressalta-se que as notas explicativas têm a função de trazer todas as informações relativas aos princípios contábeis aplicados, bem como informações adicionais que se façam necessárias para uma boa análise e interpretação dos números. O objetivo das demonstrações contábeis é fornecer um relatório que permita identificar a situação econômica e financeira da empresa, com o intuito de contribuir para que as decisões tomadas pela administração no que tange principalmente ao planejamento estratégico. Quando estas demonstrações são projetadas, em especial BP, DR e DFC, fornecem suposições sobre a situação financeira de uma determinada empresa no futuro, seja em uma projeção anual ou trimestral. Preparar as demonstrações financeiras projetadas é uma tarefa demorada, pois requer a análise das finanças da empresa, a leitura de orçamentos e demonstrações de resultados anteriores, além de exame da situação financeira atual, para que suposições sejam feitas sobre o potencial financeiro do negócio. O processo é o mesmo para empresas menores, com um único proprietário e com corporações bem estabelecidas. Vamos conhecer como tais demonstrações são projetadas? TEMA 1 – DEFINIÇÕES E CONCEITOS (PROJEÇÃO E DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS) De acordo com Horngren, Sundem e Stratton (2004), o principal objetivo da demonstração contábil é contribuir para o processo decisório, ao fornecer informações relevantes e tempestivas aos seus usuários. Tais usuários informações são divididos em dois grandes grupos: usuários externos e usuários internos. Os usuários internos são os membros que compõem a própria empresa, como administradores e colaboradores, e que usam tais informações para o planejamento e a realização das operações normais da organização. Já os usuários externos correspondem a governo, fornecedores, dentre outros; eles utilizam as informações para descobrir a capacidade de pagamento da empresa, bem como a sua real situação econômica e financeira. Outra forma de diferenciação utilizada corresponde ao tipo de contabilidade (Horngren; Sundem; Stratton, 2004): 5 a contabilidade gerencial refere-se à informação contábil desenvolvida para gestores dentro de uma organização, e pode ser entendida pelo processo de identificar, mensurar, acumular, analisar, preparar, interpretar e comunicar informações que auxiliem os gestores a atingir objetivos organizacionais; a contabilidade financeira refere-se à informação contábil desenvolvida para usuários externos. As informações geradas pela organização formam as demonstrações contábeis. Os principais exemplos desses relatórios, como já mencionamos, são: Balanço Patrimonial (BP); Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC); Demonstração do Resultado (DR); Demonstração dos lucros e/ou prejuízos acumulados (DLPA) ou Demonstração da Mutação do Patrimônio Líquido (DMPL); Demonstração do Valor Adicionado (DVA); Demonstração do Resultado Agregado (DRA); e Notas Explicativas. Tais demonstrativos apresentam a situação da organização em um determinado período, trazendo informações acerca de bens, direitos e obrigações da entidade, além da formação do lucro e dos recursos financeiros disponíveis. As demonstrações projetadas são uma ferramenta importante para determinar o desempenho geral de uma empresa. Eles incluem, em especial, as demonstrações de Balanço Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado (DR) e Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). O BP mostra ativos, passivos e patrimônio em um determinado momento. É basicamente um instantâneo da posição financeira. A fórmula contábil básica é: passivo igual aos ativos mais o patrimônio líquido do proprietário. A seção de ativos do balanço patrimonial deve ser apresentada em ordem de liquidez, começando pelos ativos mais líquidos, como caixa, contas a receber e estoques. A seção de passivos deve ser apresentada em ordem de vencimento, começando comos passivos que serão pagos no próximo ano, como uma nota de demanda a pagar e contas a pagar. A Demonstração de Resultados captura o desempenho do lucro e demonstra capacidade imediata de serviço de dívida para os bancos ou potencial real de crescimento nos retornos para capital de risco. Isso geralmente é expresso em termos de volume de vendas ou comparado a benchmarks do setor. Já a Demonstração dos Fluxos de Caixa é a previsão mais crítica, pois reflete a viabilidade, e não a lucratividade. Também pode ser a declaração mais incerta, à medida que as projeções se estendem para o futuro. Portanto, o fluxo de caixa 6 mensal é uma declaração chave, pois permite o cálculo da “cobertura” em qualquer momento. Preparar as demonstrações projetadas requer uma análise cuidadosa da saúde financeira passada e presente da empresa. As demonstrações financeiras projetadas trazem o desempenho provável de uma empresa no futuro próximo. Portanto, as projeções das demonstrações contábeis contribuem significativamente para a tomada de decisão, ao permitirem o estabelecimento de um panorama sobre a situação da empresa, possibilitando aos gestores que tenham em mãos dados que os ajudem a decidir sobre o futuro dos negócios e sobre a aplicação dos recursos financeiros, além das formas de distribuir os lucros auferidos, ou de lidar com o prejuízo de um período. Durante a preparação das demonstrações financeiras projetadas, é preciso considerar alguns fatores: se as atividades operacionais da empresa estão à altura da marca; se a empresa está bem equipada financeiramente, a condição do mercado, ou seja, se o mercado está em processo de crescimento, se está em equilíbrio ou murchando; o status da empresa em relação às outras empresas do setor; pontos fortes e pontos fracos vigentes na gestão da empresa, considerando tipo de produto produzido, ciclo econômico e acompanhamento de riscos na produção de mercadorias; papel do desempenho da administração no crescimento da empresa, considerando riscos associados às atividades operacionais e registros de desempenho passado da empresa. Por fim, salienta-se que em sua forma mais simples, uma projeção financeira é uma previsão de receitas e despesas futuras. Normalmente, a projeção será responsável por dados internos ou históricos, e incluirá uma previsão de fatores de mercado externos. TEMA 2 – BALANÇO PATRIMONIAL Chegou a hora de conhecer a relevância da demonstração financeira mais conhecida, o Balanço Patrimonial. Nesse relatório, é representada a situação econômica e financeira da empresa, destacando a origem (passivo e patrimônio 7 líquido) e a aplicação dos recursos (ativo), seja no modo qualitativo (bens, direitos e obrigações), ou no modo quantitativo (valores monetários). Onde os recursos são gastos? Este questionamento é respondido pelo ativo, elemento que corresponde à aplicação de recursos da organização. O ativo é formado pelos bens e direitos da empresa. Já o passivo e o patrimônio líquido respondem a um outro questionamento: De onde vieram os recursos? Nessas contas, constam as obrigações da empresa, bem como o patrimônio, que corresponde ao capital dos sócios e ao lucro da organização (Coelho; Lins, 2010). Considerando esse contexto, podemos chegar à conclusão de que o ativo e passivo mais o patrimônio líquido precisam ter valores iguais. Tais valores apresentam a situação estática da empresa em um determinado período. No quadro a seguir, apresentamos a estrutura do Balanço Patrimonial: Quadro 1 – Estrutura do Balanço Patrimonial Ativo Passivo Circulante Não circulante - realizável a longo prazo - investimentos - imobilizado - intangível Circulante Não circulante Patrimônio líquido - capital social - reservas de capital - ajustes de avaliação patrimonial - reservas de lucros - ações em tesouraria - prejuízos acumulados Fonte: Iudícibus, 2010, p. 3. Conforme o quadro, pode-se observar que a representação das contas segue uma ordem determinada. De acordo com Lei n. 6.304, de 1976, as contas de ativo devem ser organizadas em ordem decrescente de grau de liquidez, enquanto as contas do passivo devem ser dispostas em ordem descrente de grau de exigibilidade. De acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a principal finalidade do balanço patrimonial, como já citamos, é a apresentação da situação patrimonial, financeira e econômica da empresa em um determinado período, bem como o seu desempenho, com o intuito de informar o maior número de usuários possíveis. 8 O balanço patrimonial é um instrumento muito útil no que tange à tomada de decisão. Nele, é possível ver os resultados referentes à administração dos gestores no que se refere à forma como vêm aplicando os recursos de que dispõem. No quadro a seguir, apresentamos a estrutura do ativo e as decisões de investimento. Quadro 2 – Estrutura do Ativo e Decisão de Investimento Decisão de Investimento Ativo Questões a serem respondidas Ativo circulante Caixa e bancos Contas a receber Estoques Outros Ativo não circulante Realizável a longo prazo Investimentos Imobilizado Intangível Onde estão aplicados os recursos financeiros? Quanto está aplicado em ativo circulante? Quanto em ativos permanentes? Em quais? Qual a melhor composição dos ativos? Qual o risco do investimento? Qual o retorno do investimento? Quais as novas alternativas de investimentos? Em quais novos ativos investir? Como maximizar a rentabilidade dos investimentos existentes? O que deve ser descartado, reduzido ou eliminado, por não acrescentar valor? Fonte: Lemes Junior; Rigo; Cherobim, 2010, p. 8. No quadro acima, podemos ver, por meio da análise do ativo, que é possível levantar informações relevantes no que tange aos investimentos referentes ao retorno esperado, ao que pode ser reduzido, novas alternativas e etc. No quadro a seguir, é apresentada a estrutura do passivo e do patrimônio líquido, e também as decisões de financiamento. Quadro 3 – Estrutura do Passivo e Patrimônio Líquido e Decisão de Financiamento Decisão de financiamento Passivo Questões a serem respondidas Passivo circulante Fornecedores Empréstimos e financiamentos Outros Passivo não circulante Exigível a longo prazo Financiamentos Patrimônio líquido Capital Social Reservas de capital Ajustes de avaliação Reservas de lucros Ações em tesouraria Qual a estrutura de capital? De onde vêm os recursos? Qual a participação de capital próprio? Qual a participação de capital de terceiros? Qual o perfil do endividamento? Qual o custo de capital? Como reduzi-lo? Quais as fontes de financiamento utilizadas e seus respectivos custos? Quais deveriam ser substituídas ou eliminadas? Qual o risco financeiro? Qual o sincronismo dos vencimentos das dívidas e a geração de meios de pagamentos 9 Prejuízos acumulados Fonte: Lemes Junior; Rigo; Cherobim, 2010, p. 9. Conforme o quadro, pode-se evidenciar que as decisões relacionadas ao passivo e ao patrimônio se referem a questões relacionadas ao financiamento, como por exemplo à estrutura de capital, riscos financeiros etc. Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010, p. 45-46) sintetizam a importância do balanço patrimonial: no processo gerencial das empresas é muito importante que os administradores se utilizem de suas demonstrações contábeis para permitir a comparação não só com as próprias demonstrações contábeis de períodos anteriores, como também com as demonstrações contábeis de outras empresas do mesmo setor, e de outras entidades como fornecedores, instituições financeiras, clientes, visando solidificar o conhecimento daqueles que são parceiros de sua empresa no processo de condução dos negócios. Em síntese, o BP apresentará uma imagem do patrimônio líquidoda empresa em um determinado momento, sendo um resumo de todos os dados financeiros em três categorias: ativos, passivos e patrimônio líquido. Uma informação importante é que os responsáveis pela sua projeção devem ter certeza de que as informações contidas no BP são um resumo das informações apresentadas anteriormente na Demonstração de Resultados e na projeção de fluxo de caixa. TEMA 3 – DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO A Demonstração do Resultado consiste em um relatório de construção obrigatório, que apresenta o lucro ou prejuízo do período. A projeção desse demonstrativo também traz essa finalidade, e ele é construído quase que em sua totalidade com base nas projeções referentes ao orçamento empresarial. Observe a figura a seguir. Figura 1 – Orçamento versus Demonstração do Resultado 10 Obs.: Ativo permanente: ativo imobilizado da empresa. Fonte: Bernardinelli, 2006, p. 92. Conforme a imagem, verifica-se um inter-relação entre cada linha da demonstração do resultado com as projeções normalmente levantadas. A sua composição tem como base os resultados, que são distribuídos em grupos para Mão de Obra Direta Mão de Obra direta 11 facilitar o entendimento. De modo geral, esse relatório traz receitas, despesas e custos da empresa referentes a um determinado período. Assim, uma projeção da demonstração de resultados mostra receitas, despesas e lucros para um período específico. Se o empreendedor desenvolver essas projeções antes de iniciar o negócio, é nesse ponto que desejará realizar a maior parte de sua previsão. Em síntese, as seções principais de uma declaração de renda são: 1. Receita: esse é o dinheiro que a empresa ganhará de qualquer mercadoria ou serviço que fornecer; 2. Despesas: certificar-se de contabilizar todas as despesas que encontrar, incluindo Custos Diretos (ou seja, materiais, aluguel de equipamentos, salários de funcionários etc.) e Custos Gerais e Administrativos (ou seja, taxas contábeis e legais, publicidade, despesas bancárias seguros, aluguel de escritórios, telecomunicações etc.); 3. Renda total: a receita menos suas despesas, antes de impostos; 4. Imposto de renda; 5. Lucro líquido: renda total sem imposto de renda. Com base nesse panorama, a Demonstração do Resultado corresponde ao que a empresa consegue fazer com base nos recursos de que dispõe. O lucro corresponde ao valor que foi agregado, e no caso do prejuízo ao valor que foi dissolvido. Buscar prever os resultados do período e é uma forma de analisar se as atividades operacionais estão sendo desenvolvidas de acordo com o que é esperado. Por fim, ressalta-se que a empresa busca a continuidade de suas operações, e é de suma importância que se estabeleça com precisão quais são os seus resultados. Assim, o planejamento é um grande aliado para que isso ocorra, e uma boa projeção é uma excelente medida da eficácia organizacional. TEMA 4 – FLUXO DE CAIXA A evolução nos mercados, o aumento da concorrência e a própria globalização forçaram as organizações a gerirem seus recursos financeiros de forma mais eficiente. Uma boa gestão financeira pode ser a chave para impedir que a empresa precise fazer uso de meios adicionais para conseguir recursos para cobrir eventuais necessidade de capital de giro (Assaf Neto; Silva, 2012). 12 As atividades financeiras demandam acompanhamento constante, com o intuito de avaliar se os resultados auferidos estão de acordo com o que era esperado. Caso não estejam, é preciso que correções sejam realizadas. Um dos instrumentos utilizados para a realização do planejamento e do controle financeiro é o fluxo de caixa (Assaf Neto; Silva, 2012). O fluxo de caixa é um demonstrativo contábil que tem como principal finalidade o levantamento e a apresentação da situação financeira em que a organização se encontra em um determinado período. No fluxo de caixa, são apresentadas as entradas e saídas de recursos financeiros; por meio da análise desse elemento, é possível identificar eventuais excedentes ou uma escassez de caixa (Assaf Neto; Silva, 2012). Esse relatório é de suma importância para a empresa; com base no fluxo de caixa, é possível tomar decisões acerca do seu futuro. Mas engana-se quem pensa que o ideal são níveis elevados de recursos financeiros: o ideal é a manutenção de um nível adequado que permita a quitação dos pagamentos agendados e a possibilidade de aproveitar oportunidades, caso elas surjam. Segundo Assaf Neto e Silva (2012, p. 34), “os fluxos de caixa costumam apresentar-se sob diferentes formas: restritos, operacionais e residuais, podendo ainda relacionar o conjunto das atividades financeiras da empresa dentro de um sentido amplo, decorrente das operações”. Dessa forma, projetar o fluxo de caixa é importante em diferentes áreas, destacadas a seguir. Quadro 4 – Áreas de influência do fluxo de caixa Produção A área de produção, ao promover alterações nos prazos de fabricação dos produtos, determina novas alterações nas necessidades de caixa. De forma idêntica, os custos de produção têm importantes reflexos sobre o caixa. Compras As decisões de compras devem ser tomadas de maneira ajustada com a existência de saldos disponíveis de caixa. Em outras palavras, deve haver preocupação com relação à sincronização dos fluxos de caixa, avaliando-se os prazos concedidos para pagamento das compras com aqueles estabelecidos para recebimento das vendas. Cobrança Políticas de cobrança mais ágeis e eficientes, ao permitirem colocar recursos financeiros mais rapidamente à disposição da empresa, constituem- -se em importante reforço de caixa. Vendas A área de vendas, junto com a meta de crescimento da atividade comercial, deve manter um controle mais próximo sobre os prazos concedidos e hábitos de pagamentos dos clientes, de maneira a não pressionar negativamente o fluxo de caixa. Em outras palavras, é recomendado que toda decisão envolvendo vendas deve ser tomada somente após uma prévia avaliação de suas implicações sobre os resultados de caixa (exemplos: prazo de cobrança, despesas com publicidade e propaganda etc.). 13 Finanças A área financeira deve avaliar criteriosamente o perfil de seu endivida- mento, de forma que os desembolsos necessários ocorram concomitantemente à geração de caixa da empresa. Fonte: Assaf Neto; Silva, 2012, p. 35. Conforme a tabela, é possível perceber que o fluxo de caixa não limita a sua atuação na área financeira, pois afeta diversas áreas da organização, principalmente a área de cobrança, nos casos em que os recebimentos são feitos em dias específicos. A projeção do fluxo de caixa gera inúmeros benefícios para a empresa; graças à sua projeção, é possível diminuir a necessidade de financiamentos, o que traz como consequência a redução dos custos financeiros. A seguir, apresentamos um modelo padrão de apuração do fluxo de caixa. Quadro 5 – Origens e aplicações de caixa Fonte: Assaf Neto, 2012, p. 39. Conforme a imagem, pode-se verificar que as origens de recursos se referem aos aumentos percebidos no passivo e no patrimônio líquido, além das reduções no ativo. São exemplos dessas práticas: aumento nas contas a pagar, aumento nas contas de fornecedores, aumento no lucro, diminuições no caixa etc. As aplicações de recursos envolvem as diminuições de passivos e patrimônio líquido, além dos aumentos do ativo. São exemplos desses elementos: compra de mercadorias e pagamento de fornecedores. É importante destacar que, nesse caso, não são as operações que geram mudanças no caixa, já que mesmo que ocorra a compra ou a venda de mercadorias, se não houver uma transação que envolva dinheiro, o fluxo de caixa não será alterado. 14 Agora chegou o momento de conhecer como a demonstração do fluxo de caixa é estruturada. Ela e formado por três grandes eixos: 1. As atividadesoperacionais envolvem as movimentações de recursos financeiros relacionadas à atividade desempenhada pela empresa. São exemplos: compra de mercadorias, pagamento de fornecedores, pagamento dos colaboradores etc. 2. As atividades de investimento correspondem a saídas e entradas de caixa com a finalidade de geração de lucro no futuro. São exemplos dessa modalidade: participação em outras empresas, compra de imobilizado, resgate de aplicações financeiras etc. 3. As atividades de financiamento correspondem aos recursos obtidos por meio dos financiamentos, como também ao seu pagamento posterior. São exemplos dessas atividades: a obtenção de financiamentos e a sua liquidação e o pagamento de amortização de juros. Para finalizar, vale enfatizar que a projeção do fluxo de caixa evidencia quase as mesmas informações que a DFC; no entanto, alguns valores podem mudar, devido à inclusão de algum pagamento ou recebimento que não estava programado. Uma das principais armadilhas de trabalhar em suas projeções de fluxo de caixa é ser excessivamente otimista sobre sua receita. TEMA 5 – CONTRIBUIÇÃO DAS PROJEÇÕES PARA O PROCESSO DECISÓRIO Uma projeção apresenta a posição financeira esperada de uma entidade, dada uma ou mais hipóteses. Às vezes, é usada para apresentar um ou mais cursos hipotéticos de ações para avaliação. As projeções são bastante úteis quando a gestão quer testar um curso hipotético de ação, como a alteração do produto mix de vendas ou como a alteração dos níveis de preços podem afetar os resultados das operações ou da condição financeira. Assim, as projeções das demonstrações contábeis marcam o fim do processo orçamentário. Com base nas informações levantadas, é possível elaborar os relatórios financeiros referentes a um determinado período (Padoveze; Taranto, 2009). De acordo com Garrison e Noreen (2001, p. 262), os benefícios da projeção das demonstrações contábeis são: a) Fornecem um meio de “transmitir” os planos da administração a toda a organização; 15 b) Forçam os gerentes a “pensar” no futuro e planejá-lo. Na falta da necessidade de fazer orçamento, vários administradores gastarão o seu tempo cuidando das situações do dia-a-dia; c) Proporciona um meio de “alocação dos recursos” às partes da organização em que eles podem ser empregados de maneira mais eficaz; d) Pode revelar potenciais “gargalos” antes que eles ocorram; e) “Coordenam” as atividades de toda a organização por meio da “integração” dos planos das diversas partes. A elaboração do orçamento ajuda a assegurar que todos na organização estão trabalhando na mesma direção; f) Definem metas e objetivos que podem servir de níveis de referência para a subsequente avaliação de desempenho. A elaboração das projeções permite aos gestores ter uma visão global sobre a empresa, já que nesses relatórios constam informações de todos os setores que compõem a organização. Além disso, ao estabelecer o resultado almejado, é mais fácil determinar as ações que ajudarão a empresa a chegar lá. Ao projetar as demonstrações contábeis, a empresa está buscando prever situações futuras. Para isso, ela estabelece estratégias com base no mercado onde está inserida e na concorrência, com o intuito de evitar possíveis problemas que possam vir a prejudicar o negócio futuramente. Normalmente, a previsão refere-se a um ano. Talvez o maior benefício do estabelecimento de projeções referentes às demonstrações contábeis seja a possibilidade de comparação. Ao criar indicadores dos resultados que são esperados e ao compará-los com os auferidos, cria-se um alto nível de responsabilidade nos gestores. Caso suas ações levem a empresa para um caminho que esteja muito longe dos objetivos estratégicos que haviam sido estabelecidos, eles terão que justificar tais resultados, além de buscar caminhos alternativos e possíveis correções para os problemas que surgirem. Portanto, ressalta-se que uma parte importante do processo de planejamento de negócios (novos ou em andamento) é a preparação de demonstrações financeiras para prever os resultados em períodos futuros. As projeções financeiras devem incluir uma previsão de BP, DR e DFC, e devem ser feitas pelo mês para o primeiro ano, e depois para os próximos dois anos. FINALIZANDO Com base no conteúdo apresentado nesta aula, foi possível conhecer um pouco mais sobre a construção das projeções das demonstrações contábeis. Além disso, foi possível conhecer conceitos, fundamentos e definições 16 relacionados aos principais relatórios financeiros elaborados por uma organização. Assim, pode-se concluir que é de grande importância o controle e a análise de relatórios, como Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado e Fluxo de Caixa. A confecção de tais relatórios é de suma importância para que os gestores possam tomar as melhores decisões. Por fim, vale salientar que este estudo buscou ampliar os conhecimentos sobre a elaboração de orçamentos referentes às demonstrações contábeis, além de aprofundar conteúdos anteriormente estudados, com o intuito de dar uma visão geral sobre o assunto. Porém, enfatizamos que este assunto é muito extenso, e há a necessidade de que novas pesquisas sejam realizadas posteriormente. LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica PADOVEZE, C.; TARANTO, F. C. Projeções das demonstrações financeiras. In: ________. Orçamento empresarial: novos conceitos e métodos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. cap. 12. Texto de abordagem prática BERNARDINELLI, A. B. A utilização das demonstrações financeiras projetadas e simuladas e suas contribuições ao processo decisório: um estudo de caso em uma indústria química. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Ciências Contábeis da Fundação Escola Comércio Álvares Penteado (FECAP), 2006. Saiba mais ROCHA, H. Finanças de empresas: projeções de balanço e resultado. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yZRKC77nc5k>. Acesso em: 6 jun. 2018. https://www.youtube.com/watch?v=yZRKC77nc5k 17 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A.; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2012. BERNARDINELLI, A. B. A utilização das demonstrações financeiras projetadas e simuladas e suas contribuições ao processo decisório: um estudo de caso em uma indústria química. Dissertação (Mestrado) – Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, São Paulo, 2006. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 15 dez. 1976. COELHO, C. U. F.; LINS, L. S. Teoria da contabilidade: abordagem contextual, histórica e gerencial. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2010. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTO CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2): demonstração dos fluxos de caixa. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/183_CPC_03_R2_rev%2004.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2018. GARRISON, R. H.; NOREEN, E. W. Contabilidade gerencial. Rio de Janeiro: LTC, 2001. HORNGREN, C. T.; SUNDEM, G. L.; STRATTON, W. O. Contabilidade gerencial. São Paulo: Prentice Hall, 2004. IUDÍCIBUS, S. de; MARION, J. C. Contabilidade comercial: atualizado conforme Lei n. 11.638/2007 e Lei n. 11.941/2009. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LEMES JUNIOR, A. B.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. S. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. PADOVEZE, C.; TARANTO, F. C. Orçamento empresarial: novos conceitos e métodos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
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