Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 4 ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO E COMÉRCIO EXTERIOR Prof. João Alfredo Lopes Nyegray 02 CONVERSA INICIAL Fazer com que os negócios internacionais de fato aconteçam não é uma atividade simples. É muito tempo em preparo, prospecção de mercado, consultoria, pesquisa e estudo. Quando você já fez tudo isso, vem outra parte tão importante quanto: encontrar-se com pessoas que têm hábitos, idiomas e costumes diferentes dos seus. Para os inexperientes, isso pode ser um grande problema. Para os negociadores internacionais, no entanto, é algo normal. A capacidade de ambientar-se em várias culturas diferentes, e relativizar a própria ideia de normalidade é o que distingue profissionais de profissionais internacionais. E você, qual tipo de profissional é? CONTEXTUALIZANDO Quantas negociações você já fez ao longo da sua vida? Várias, não é mesmo? Seja adquirir um veículo, comprar ou alugar uma casa ou apartamento, seja discutir com sua esposa, marido, namorada, namorado, noiva ou noivo o melhor lugar para almoçar, ou se o natal e ano novo serão passados na casa da sua mãe ou da sua sogra, negociamos o tempo todo, em todo e qualquer ambiente. Aquela figura de negociadores popular nos filmes, no qual um lado é absolutamente vencedor e o outro lado é absolutamente perdedor já não existe mais. O mundo moderno e interconectado não admite mais situações nas quais alguém sai totalmente perdendo, uma vez que a hiperconcorrência da atualidade nos dá uma nova situação: se você quiser negociar comigo, e não me der nenhum ganho, eu simplesmente saio da mesa de negociação e procuro seu concorrente. Isso é fácil, rápido e melhor para a parte que sairia perdendo. Essas são apenas algumas das características das negociações, que contam com aspectos pessoais e interpessoais, num processo onde o que vale não é apenas a comunicação verbal. TEMA 1 – ASPECTOS PESSOAIS DA NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL Nas negociações, as empresas são materializadas pelas pessoas que estão à mesa para debater pontos de vista e harmonizar interesses. Ou seja, o negociador é mais do que um trabalhador, um colaborador: é a extensão da 03 organização onde labora diariamente. Justamente por isso que o sucesso das empresas equivale ao sucesso daqueles que a representam. Dessa forma, o desempenho da organização depende diretamente da capacidade do negociador em suas atividades. Para que o negociador tenha sucesso, é necessário estar atento a alguns pontos importantes que podem ser a diferença entre as negociações boas e proveitosas e as negociações negativas que trazem prejuízos às partes envolvidas. O primeiro desses aspectos refere-se à comunicação: Para efetivamente comunicar-se bem, estabelecendo um processo interativo, é extremamente importante que o negociador esteja atento às mensagens emitidas pela outra parte. Saber ouvir e prestar atenção à linguagem não verbal do interlocutor é fator-chave para avançar no processo de negociação, pois, dessa maneira, o negociador consegue perceber com mais clareza os interesses e as necessidades da outra parte, identificando pontos em comum que podem ser objeto de acordo. (Iamin, 2016, p. 40) Mas, quais mensagens um processo de comunicação preocupa-se em transmitir? Não apenas aquelas faladas, mas também aquelas feitas por meio do gestual do outro negociador. É a chamada comunicação “não verbal”, que inclui a maneira como a outra pessoa se porta, suas expressões e sinais. A atenção a tais expressões pode indicar o que falar, quais pontos merecem maior atenção e quais são os possíveis pontos de conflito. Braços cruzados, testa franzida, pernas balançando... são todos indícios de sinais negativos emitidos por alguém. Além da atenção à comunicação não verbal, a comunicação falada também tem algumas regras: O indivíduo que pretende efetivar uma transação comercial, ou qualquer outro tipo de acordo, deve expressar de maneira totalmente compreensível sua proposta, incluídos todos os aspectos envolvidos, principais e acessórios, evitando termos ambíguos ou de uso regional e elaborando frases mais curtas e objetivas, a fim de diminuir ruídos e erros de interpretação que atrasam e podem até obstaculizar a conciliação de posições entre as partes. (Iamin, 2016, p. 40) Internacionalmente, esses aspectos são ainda mais relevantes, uma vez que o idioma da conversa pode não ser a língua materna das partes envolvidas. E tem mais: nem sempre as expressões que você usa normalmente em português terão em inglês o mesmo significado. Por isso, evite toda a fala que possa ser considerada de duplo sentido, para evitar erros de comunicação. 04 TEMA 2 – NEGOCIAR É ENTENDER O CLIENTE Imagine que você foi enviado por uma grande empresa brasileira para prospectar negócios na Europa. Você tentaria vender cerveja brasileira na Alemanha? Vinhos na Itália ou França? Ou azeites nacionais em Portugal ou Espanha? Imagino que não, uma vez que esses países são grandes produtores das melhores cervejas, vinhos e azeites do mundo (ainda que empresas brasileiras vendam esses produtos por lá). Assim, esses países europeus não têm necessidade ou interesse em adquirir esses produtos do exterior. Esse breve exemplo dá uma ideia da importância de entender o cliente e suas expectativas num processo de negociação. O que meu cliente quer? O que ele espera? Quais são suas necessidades básicas? Vender gelo para esquimó não é uma boa ideia, mas talvez esse mesmo esquimó que não precisa de gelo, queira comprar cobertores, aquecedores ou mesmo algum tipo diferente de forno. Lembre-se: sempre haverá alguém precisando comprar alguma coisa, e seu trabalho fundamental é encontrar a pessoa que tem essa necessidade. Para isso, os negociadores têm uma atribuição essencial: entender o cliente e suas necessidades essenciais. Internacionalmente, uma forma de fazê- lo é analisando as balanças comerciais dos países: o que os países mais importam? Será que eu consigo vender meu produto lá também? Essa é uma forma muito inicial de se efetuar negócios no exterior, mas é válida. Afinal, produtos são importados por necessidades de alguém. Outro ponto importante é entender as diferenças entre o produto fabricado no Brasil e os concorrentes vendidos nos demais países. E por que? Pelo motivo de que entender a concorrência pode me ajudar a entender meu cliente: quais seus hábitos, quais suas preferências, como o consumidor tem o costume de efetuar suas compras. Por exemplo: no Brasil é comum pagamentos parcelados via cartão de crédito. Em outros locais, essa modalidade não só não é incomum como é rara. TEMA 3 – NEGOCIAR É ENTENDER O PRODUTO Mas, será que para negociar bem entender o cliente basta? Sem dúvidas, como vimos, é um dos passos mais importantes para o sucesso de uma negociação. No entanto, não é e está longe de ser o suficiente. Negociar é 05 também entender o que você está oferecendo, e como esse produto ou serviço pode trazer um benefício àquela pessoa que está comprando. Imagine o caso dos vendedores de vestuário. Existem vários argumentos que podem ser utilizados para influenciar positivamente um cliente e obter o fechamento de uma venda. Um deles se refere ao curto estoque: está acabando, vai acabar ou a promoção dura até amanhã. No entanto, um outro argumento mais eficaz é aquele que afirma ao cliente como uma determinada peça lhe caiu bem, lhe emagreceu, deixou mais alto, mais forte ou mais bonito. Ou seja: é o benefício que aquele produto traz para a pessoa o foco da argumentação do vendedor. Ainda que negociadores internacionais trabalhem com quantidades diferenciadas de itens, valores mais altos e moedas diferentes, a ideia se aplica a eles também. Clientes, de uma forma geral, não compram produtos em si. Compramo benefício que os produtos ou serviços trazem. Um possível exemplo é um corte de cabelo: cortar cabelo por cortar cabelo todos podemos cortar. Agora, fazer isso de uma maneira adequada que deixe o cliente satisfeito, mais bonito e com melhor autoestima é um serviço bem mais difícil. Por isso se diz que quem vai ao salão ou à barbearia não compra um corte. Compra beleza, bem-estar, autoestima. Essa é a diferença entre o que você oferece e o que seus clientes aceitam ou compram. Empresarialmente se busca eficiência, redução de custos, satisfação dos consumidores, melhoria na qualidade dos produtos, insumos de produção mais baratos. Se você for oferecer um produto ou serviço a algum cliente, a primeira coisa que deve fazer é entendê-lo. Só por meio do entendimento do cliente você saberá o que o motiva a fazer negócio, e assim poderá trabalhar demonstrando como os seus objetivos e os do seu cliente são os mesmos. Afinal de contas, ninguém compra um produto ou serviço para ter uma dor de cabeça ou um grande incômodo, não é mesmo? TEMA 4 – DIPLOMACIA CORPORATIVA E NEGOCIAÇÃO Recentemente você certamente ouviu notícias a respeito do Ministério das Relações Exteriores (MRE) nos jornais, na internet e nos demais noticiários. Muitas vezes, o MRE é referenciado como Itamaraty, em referência ao palácio onde está localizado em Brasília, nossa capital federal. O Ministério das Relações Exteriores – ou Itamaraty – é o órgão do Governo Federal responsável não apenas 06 pelas relações do Brasil com outros países, mas também é responsável pela nossa política externa. E o que é política externa? Política externa é o conjunto de objetivos que uma determinada nação tem em suas relações internacionais. Pode ser a construção de parcerias, o aumento da influência sob outros países ou mesmo a difusão das empresas, produtos e serviços de uma nação no resto do mundo. Os funcionários do MRE são os diplomatas, ou seja, aqueles que representam o Brasil no exterior, em outros países, nos consulados e embaixadas. Mas, e qual relação essa atuação governamental tem com a negociação internacional? Tem toda a relação possível. Em primeiro lugar, pois são as parcerias firmadas pelo governo com outros países que facilitam as negociações internacionais do Brasil. Em segundo lugar, pois, tal qual os governos, as empresas também têm objetivos internacionais. Esses objetivos podem ser o aumento das vendas, a alavancagem de novas competências, o acesso a novos mercados, o acesso a novas tecnologias e por aí vai. Os objetivos de uma empresa em suas relações internacionais servirão como base para a criação de uma política externa corporativa, que se encarregará de descrevê-los, explicá-los e criar meios para que tais objetivos se concretizem. O responsável de uma empresa pela sua política externa será o diplomata corporativo. A ele caberá atuar para que os objetivos da política externa corporativa (PEC) sejam efetiva e eficientemente cumpridos. Muitas vezes, para negociar no exterior ou para poder vender e negociar em um determinado país, é necessário adaptar produtos às preferências e legislações locais. Agora, imagine o seguinte caso: uma empresa envia uma grande quantidade de um determinado produto para um país e, depois de fazê-lo, descobre que algum componente do produto é proibido no país de destino. Você consegue imaginar o prejuízo que esse descuido pode causar? Ao diplomata corporativo caberá, justamente, analisar legislações, preferências do consumidor, possibilidades de negócio; assim como estudar concorrentes, possíveis fontes de financiamento de operações no país de destino e ainda outras várias atividades para facilitar a inserção internacional da empresa. TEMA 5 – RISCOS CULTURAIS DAS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS Em negócios internacionais é comum que o profissional ingresse em diferentes ambientes, em diferentes países, caracterizados por diferentes culturas 07 e hábitos. Consequentemente, cada um desses ambientes traz diversos padrões de comportamento considerados normais. Com esses comportamentos, vêm os hábitos do consumidor, as leis e diretrizes, e uma série de outras dimensões que devem chamar a atenção dos profissionais de negócios internacionais e comércio exterior. O próprio termo “cultura” pode ter uma acepção ampla: frequentemente se diz que esta ou aquela pessoa é uma pessoa “culta”, referindo-se aos conhecimentos e comportamento da pessoa. No entanto, para as relações e projetos internacionais, cultura “refere-se aos padrões de orientação aprendidos, compartilhados e duradouros em uma sociedade. As pessoas demonstram sua cultura por meio de valores, ideias, atitudes, comportamentos e símbolos” (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010). Por isso, um gesto que para você pode parecer comum, quando feito em um ambiente que não seja o seu pode ser um grande insulto! A figa, por exemplo, que para alguns significa sorte, mas na Itália representa uma ofensa. Quando elevamos essa lógica ao mundo dos negócios, temos que tomar muito cuidado na hora de prospectar um produto ou elaborar um projeto: A cultura influencia uma gama de intercâmbios interpessoais bem como operações de cadeia de valor como desenvolvimento de produto e serviço, marketing e vendas. Os administradores devem criar produtos e embalagens levando em conta os aspectos culturais, inclusive em relação a cores. Se por um lado o vermelho pode ser bonito para os russos, por outro é símbolo de luto na África do Sul. (Knight; Cavusgil; RiesenbergeR, 2010) Já imaginou se você lança um produto embalado em vermelho na África do Sul? A chance de sucesso diminui à medida que a cultura é desconsiderada e, consequentemente, aumenta à medida que a empresa preocupa-se com o fator cultural. Essas questões chegam a manifestar um risco: o risco da gestão intercultural, que quando ignorado pode trazer sérias consequências aos envolvidos. FINALIZANDO Nas negociações, as empresas são materializadas pelas pessoas que estão à mesa para debater pontos de vista e harmonizar interesses. Ou seja, o negociador é mais do que um trabalhador, um colaborador: é a extensão da organização onde labora diariamente. Justamente por isso que o sucesso das empresas equivale ao sucesso daqueles que a representam. Dessa forma, o 08 desempenho da organização depende diretamente da capacidade do negociador em suas atividades. Os negociadores têm uma atribuição essencial: entender o cliente e suas necessidades essenciais. Internacionalmente, uma forma de fazê-lo é analisando as balanças comerciais dos países: o que os países mais importam? Será que eu consigo vender meu produto lá também? Essa é uma forma muito inicial de se efetuar negócios no exterior, mas é válida. Afinal, produtos são importados por necessidades de alguém. Outro ponto importante é entender as diferenças entre o produto fabricado no Brasil e os concorrentes vendidos nos demais países. E por que? Pelo motivo de que entender a concorrência pode me ajudar a entender meu cliente: quais seus hábitos, quais suas preferências, como o consumidor tem o costume de efetuar suas compras. Os objetivos de uma empresa em suas relações internacionais servirão como base para a criação de uma política externa corporativa, que se encarregará de descrevê-los, explicá-los e criar meios para que tais objetivos se concretizem. O responsável de uma empresa pela sua política externa será o diplomata corporativo. A ele caberá atuar para que os objetivos da política externa corporativa (PEC) sejam efetiva e eficientemente cumpridos. Muitas vezes, para negociar no exterior ou para poder vender e negociar em um determinado país, é necessário adaptar produtos às preferências e legislações locais. Essa é a tarefa do diplomata corporativo. Em negócios internacionais é comum que o profissional ingresse em diferentesambientes, em diferentes países, caracterizados por diferentes culturas e hábitos. Consequentemente, cada um desses ambientes traz diversos padrões de comportamento considerados normais. Com esses comportamentos, vêm os hábitos do consumidor, as leis e diretrizes, e uma série de outras dimensões que devem chamar a atenção dos profissionais de negócios internacionais e comércio exterior. 09 REFERÊNCIAS AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira: de 1850 a 2007. In: Internacionalização de Empresas. São Paulo: Editora Atlas, 2009. CAVUSGIL, S. T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios Internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. Pearson: São Paulo, 2010. DUARTE, R. G.; TANURE, B. O impacto da Diversidade Cultural na Gestão Internacional. In: DUARTE, R. G.; TANURE, B. (Orgs). Gestão Internacional. São Paulo: Saraiva, 2006. FERREIRA, M. P.; REIS, N. R.; SERRA, F. R. Negócios Internacionais e Internacionalização para as Economias Emergentes. Lidel: Lisboa, 2011. HOBSBAWM, E. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. MAGNOLI, D.; SERAPIÃO JR., C. Comércio Exterior e Negociações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2012. SARFATI, G. Manual de Diplomacia Corporativa: a construção das relações internacionais da empresa. São Paulo: Atlas, 2007. SEITENFUS, R. Manual das Organizações Internacionais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria e Editora do Advogado, 2005.
Compartilhar