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AULA 1 GESTÃO DA COMUNICAÇÃO EM PROJETOS Prof. Sandro Fabiano da Luz 2 CONVERSA INICIAL Compreender o sucesso de um projeto requer uma análise criteriosa e, fundamentalmente, o cumprimento de determinadas metas dispostas em diferentes áreas do gerenciamento. Assim, escopo, tempo, custo e qualidade, com seus objetivos bastante tangíveis, demandam grande atenção da equipe envolvida. Contudo, para que seja possível concluir de forma satisfatória um projeto, ou até mesmo uma fase dele, é primordial cuidar da comunicação, uma aliada poderosa, muito por conta de sua utilização associada a todas as áreas de gerenciamento de um projeto. Nesta aula sobre gestão da comunicação em projetos, analisaremos de forma introdutória a comunicação, seus processos de criação e desenvolvimento, e sua importância na organização e no gerenciamento de projetos. TEMA 1 – INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO Projetos são empreendimentos realizados por indivíduos que se utilizam da comunicação para compreender e estruturar as diversas tarefas relativas ao cumprimento de objetivos estabelecidos. A comunicação utiliza-se de diversos recursos de troca e divulgação de informações que promovem a compreensão mútua entre os envolvidos (Chaves et al., 2010). A palavra comunicação é derivada do latim comunicare, que significa partilhar, dividir ou, ainda, tornar comum. Assim, a existência da comunicação depende de três elementos importantes: emissor, mensagem e receptor. Segundo Schermerhorn Jr. et al. (2007), a comunicação pode ser entendida como o sistema que envolve o envio e o recebimento de informações que possuem conteúdo significativo. Esse sistema é dinâmico e complexo, pois, ao mesmo tempo que o emissor explicita sua mensagem, o receptor, após recebê- la, também pode expor seu parecer. Dessa forma, comunicar significa disseminar para uma ou mais pessoas um determinado conteúdo. O termo comunicação refere-se ao processo sistemático relativo à troca de informações, mas também se refere à própria vida do homem em relação ao aprendizado e ao pertencimento social. 3 1.1 Desenvolvimento da comunicação O processo de comunicação se desenvolveu ao longo dos tempos juntamente com a própria evolução humana. Nos primórdios da humanidade, ela se resumia à comunicação verbal ou àquela por meio de sinais criados com o próprio corpo. Posteriormente, com o desenvolvimento da escrita, foi introduzido o registro como parte importante do processo de comunicação. Com o passar do tempo, o registro das informações humanas foi evoluindo e o homem passou a utilizar paredes em cavernas, tábuas de argila, papel e até mesmo madeira para se expressar. Por fim, com a criação da prensa móvel por Gutenberg, no século XV, o processo de registro e arquivamento de informações ganhou outros contornos. Nos dias de hoje, com a utilização de dispositivos digitais, a comunicação vem se tornando mais dinâmica e importante para o desenvolvimento de processos de gerenciamento. Segundo Bueno (2003), no campo da comunicação empresarial é vital o entendimento de que deve haver profissionalismo, ética e também transparência. A relevância e o cuidado que o processo de comunicação recebe da organização estão correlacionados a uma capacitação direta de seus profissionais, o que, por muitas vezes, ultrapassa aspectos e diretrizes meramente técnicos. Crédito: mayrum/Shutterstock. O processo de comunicação é vital tanto para que um projeto consiga atingir seus objetivos quanto para que o planejamento estratégico de uma organização seja bem-sucedido. Dessa forma, é importante criar um ambiente organizacional em que seja possível ordenar as informações e proporcionar fluidez na comunicação. Nesse formato, a tecnologia disponibilizada nos dias de hoje é bastante relevante como auxiliador desse processo. 4 Porém, vale salientar que a tecnologia se postula como uma das formas de otimização desse processo de ordenação e distribuição de informações organizacionais relevantes. É importante entendê-la como um meio para o sucesso de um projeto, e não o seu fim. A tecnologia por si só não consegue resolver problemas e ruídos de comunicação, mas pode servir de auxiliadora digital para um processo de comunicação, bem como para o desenvolvimento das atividades organizacionais. É necessário criar um processo estrutural bastante claro, que disponibilize o acesso à informação correta, no momento ideal e para a pessoa certa. É importante definir uma estratégia de comunicação para a organização, decidir como a informação será utilizada para alcançar os objetivos estipulados. Não se trata apenas de disponibilizar tecnologia para resolver problemas de comunicação, mas, sim, de criar um processo claro de como proceder em caso de dificuldades quanto ao acesso à informação ou quanto a ruídos na comunicação. Todos os processos de gerenciamento de projetos acontecem dentro das organizações, por isso é importante citar que a cultura organizacional influencia a comunicação de forma mais relevante que a tecnologia utilizada entre os interessados nesses projetos. Questões relativas a hierarquia, pressão organizacional e cultura de aceitação ao erro indicam como a comunicação pode acontecer. TEMA 2 – COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL A organização das informações e da comunicação empresarial faz parte de um importante campo de estudo na atualidade. A inclusão da tecnologia nessa perspectiva adicionou complexidade a essa temática, de tal forma que levou Davenport (2001) a afirmar que essa inclusão é uma grande preocupação das organizações, mas que ainda falta as empresas concluírem o processo de disponibilização da informação certa, para a pessoa certa e no momento ideal. Nesse sentido, não se trata apenas de processos relacionados à comunicação em projetos, mas, sim, de uma estrutura empresarial que inclui a cultura da empresa com relação a comunicação, processos claros e tecnologia disponível. A falta de uma comunicação assertiva limita o poder de atuação, fazendo com que processos e projetos desenvolvidos na organização fiquem seriamente comprometidos. 5 2.1 Melhorias na comunicação empresarial Segundo Robbins (1999), é possível criar um modelo de comunicação empresarial mais eficiente seguindo seis preceitos básicos. Esses preceitos são um conjunto de orientações empresariais que otimizariam o processo de comunicação não apenas para utilização em projetos, mas também para utilização em toda a organização. São eles: 1. Promover a comunicação fluente entre todos na organização; 2. Ter cuidado com as linguagens não verbais, pois elas evidenciam muito mais que a linguagem verbal; 3. As organizações devem criar canais de comunicação com colaboradores e comunidade. Para que a comunicação flua em mão dupla, é necessário ouvir todas as opiniões; 4. Sempre que possível, é importante utilizar a comunicação presencial. Muitas informações importantes se dão de forma não verbal, por exemplo. Por isso é importante ter conhecimento e compreensão da comunicação como ferramenta para facilitar o entendimento; 5. Compartilhar a real posição da organização e aonde ela almeja chegar. O compartilhamento dessas informações fortalece o sentimento de pertencimento de todos e potencializa o sucesso estratégico empresarial; 6. Utilizar comunicação contínua com o intuito de reduzir o uso de canais informais de comunicação na instituição. Com a utilização de adequados comportamento e postura com relação à comunicação aliada a um novo entendimento de que todos são responsáveis pelo sucesso organizacional, é possível cumprir as diretrizes estipuladas pela organização. É importante salientar que a comunicação organizacional interna (com os seus colaboradores) não pode ser tratada de forma de autoritária.Essa comunicação é importante para que os envolvidos se sintam parte do processo e corresponsáveis por ele. Assim, o desestímulo ao diálogo somente agrava algum insucesso momentâneo. A comunicação direta, constante, formal e aberta é fator importante para um diálogo completo e sem ruídos. O mesmo vale para a comunicação externa, realizada por meio de comunicados oficiais, memorandos, mensagens em redes sociais ou mesmo propagandas. Todo esse conteúdo ajuda a formar a opinião real do cliente e de toda a comunidade; assim, a comunicação se torna uma poderosa aliada 6 organizacional. Muitas vezes, o que vemos nas organizações é a criação de campanhas de marketing muito engajadas, dando a entender que a empresa é aberta ao diálogo e democrática. Porém, a realidade da comunicação interna é bem diferente. TEMA 3 – O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO O entendimento atual sobre comunicação é bastante amplo. Seus conceitos, instrumentos e atores são analisados por diversas áreas do conhecimento, que vão desde psicologia até informática, passando por gerenciamento de projetos. Assim, é importante apresentar o enfoque que a comunicação terá nesta aula, para que seja possível delimitar um pouco o campo de estudo, bem como todo o seu processo. Aqui, será analisada a comunicação sob a perspectiva de uma pessoa que possui determinada informação e necessita transmiti-la a outra. Para que isso seja possível, ela deverá se utilizar de diversos instrumentos e meios, para que a mensagem chegue ao destino com o impacto desejado. Porém, vale salientar que existem ruídos e barreiras que podem interferir em todo esse processo e também que a comunicação é um processo de mão dupla: ao mesmo tempo que o emissor transmite uma mensagem ele recebe uma mensagem. 3.1 Modelo de comunicação Desde Aristóteles se pretende criar um modelo que estabeleça como o processo de comunicação acontece entre os indivíduos. O próprio Aristóteles apresentou um modelo baseado na existência de um emissor, responsável pela informação; um receptor, que é o destino da informação; e a mensagem, que é o fator determinante para o processo de comunicação. Assim, o modelo proposto por Aristóteles seguia um padrão como o que vemos na Figura 1: 7 Figura 1 – Modelo de Aristóteles Com o passar do tempo e com o aprofundamento do estudo sobre comunicação, esse modelo foi recebendo outros elementos importantes que não haviam sido considerados anteriormente. Muitos desses elementos são relativos ao contexto em que o processo de comunicação é analisado. Como esse tema é analisado por diferentes áreas do conhecimento humano, o modelo foi recebendo diversas informações ao longo do tempo. Esse modelo ganhou complexidade por meio dos estudos de Shannon e Weaver nos anos 1940. Esses estudos estavam centrados na utilização da telecomunicação e introduziram elementos como a fonte de origem da informação; o seu emissor original; o canal escolhido para a transmissão da mensagem; o receptor da mensagem; e, por fim, o destino desse processo de comunicação. Esse modelo introduziu, então, a atenção ao ruído existente em todo o processo de comunicação. O ruído é um importante elemento de interferência na transmissão de mensagens e reduz a possibilidade do entendimento total de seu receptor. Assim sendo, no modelo de comunicação criado por Shannon e Weaver, o processo de comunicação acontece por meio da escolha da mensagem pelo emissor. Ele, então, utiliza-se de um veículo para encaminhar essa informação ao receptor, que, após o recebimento da mensagem pelo canal escolhido, realiza o processamento das informações, encaminhando a mensagem a seu destino. Assim, o modelo de Shannon e Weaver se assemelha ao da figura a seguir: Figura 2 – Modelo de Shannon e Weaver Fonte: Elaborado com base em Chaves et al., 2010. 8 Vale salientar a importância do papel do emissor nesse processo. É de responsabilidade dele a seleção, o envio e o processamento da informação ao receptor da mensagem. Ou seja, se o receptor entender a mensagem pretendida pelo emissor e tomar as devidas providências, o processo de comunicação terá sido considerado satisfatório. Segundo Chaves et al. (2010), existem fatores que contribuem para um melhor entendimento do processo de comunicação: A familiaridade do receptor com as diretrizes da mensagem; A receptividade do receptor ao processo; A relação de confiança entre emissor e receptor; A clareza e a precisão da comunicação realizada pelo emissor; O quanto o conteúdo da mensagem emitida é necessário para o receptor. 3.2 Tipos e estilos de comunicação Muitos são os estudos sobre os diferentes tipos de comunicação e seus estilos. Para que a comunicação aconteça de forma clara, é necessário escolher um estilo que facilite o entendimento por parte do receptor. Diversos autores discorrem sobre o tema, e todos eles concordam sobre o fato de que ainda não existe uma formalização absoluta que apresente todos os tipos e estilos de comunicação existentes no planeta. Muitos autores condensam os estudos sobre tipos e estilos de comunicação, chamando-os de formas de comunicação. Porém, dentre os tantos modos de se comunicar, os tipos de comunicação verbal, não verbal e paralinguística apresentam grande relevância. Assim, pode-se entender como comunicação verbal o uso da palavra, escrita ou falada. Ela auxilia no processo de troca de informações. Já a comunicação não verbal faz uso de sinais físicos que também podem ser identificados como linguagem corporal. Segundo estudos do Project Management Institute (PMI, 2017), existem mais de 700 mil sinais diferentes usados na comunicação não verbal. Segundo Chaves et al. (2010), na comunicação física, a utilização desses sinais não verbais auxilia o emissor no processo de apresentação da informação. Para o gerenciamento de projetos e de comunicação empresarial, a utilização desses sinais facilita o entendimento do receptor da informação. Expressões faciais e o uso de movimento com os braços podem complementar a comunicação 9 de forma significativa; é possível transmitir mensagens que, somente com a utilização da comunicação verbal, talvez não fossem tão bem compreendidas. Já a comunicação paralinguística se utiliza de diferentes entonações de voz para transmitir uma mensagem. O uso desse terceiro tipo também facilita o entendimento do receptor quanto a situações de alegria, tristeza ou até mesmo de urgência. Assim, o emissor da mensagem pode fazer uso das comunicações verbal, não verbal e paralinguística para facilitar o processo de envio da informação ao receptor. Quadro 1 – Tipos de comunicação Tipos Uso Verbal Linguagem escrita ou falada Não verbal Uso de sinais físicos Paralinguística Entonações vocálicas Os estilos de comunicação mais utilizados pelo emissor são o formal e o informal. Entenda-se por comunicação formal o processo de comunicação em que se faz uso de regras e procedimentos que são preestabelecidos, principalmente em âmbito empresarial, em que se utiliza um determinado protocolo ou normas de cada sociedade. Principalmente no âmbito de projetos, esse estilo de comunicação é o mais utilizado, tanto no tipo verbal quanto no não verbal. Já a comunicação informal é um estilo em que não se utiliza regras determinadas. É uma comunicação um pouco mais livre que também pode ser útil ao gerenciamento de projetos, principalmente em situações que necessitam de maior rapidez. A utilização da comunicação informal requer um alto grau de confiança entre os participantes da comunicação e também a completa certeza de que esse estilo de comunicação alcançará êxito. Existem estudos que ainda apresentam outros estilos de comunicação, com nomenclaturas diferentes, porém, de uma forma geral, as comunicações formal e informal são as mais comuns. Assim, acomunicação empresarial deve se valer do entendimento do impacto de cada tipo de comunicação – verbal, não verbal ou paralinguística –, assim como o da utilização dos estilos formal e informal. Para o processo de gerenciamento é importante utilizar os estilos de acordo com a preferência do emissor e com o entendimento da equipe alocado nas funções do projeto. O emissor pode fazer uso de todos os estilos no processo de gerenciamento de projetos. O uso de cada um deve se valer da capacidade de 10 entendimento do receptor, assim como do cenário em que o processo de comunicação ocorre. TEMA 4 – BARREIRAS DA COMUNICAÇÃO No processo de desenvolvimento da comunicação em projetos, um tópico se torna muito importante por sua ação decisiva no processamento da informação por parte do receptor: as barreiras da comunicação, que agem de maneira decisiva nos encaminhamentos do projeto. Existem grandes quantias de verba destinadas a projetos, alocadas na preservação de riscos, que seriam reduzidos de forma drástica se o processo de comunicação não recebesse significativa influência das barreiras da comunicação (Carvalho et al., 2016). Segundo Chaves et al. (2010, p. 23), “as barreiras da comunicação são elementos que interferem e distorcem o processo de comunicação, dificultando ou impedindo o correto entendimento entre emissor e receptor”. Assim, as barreiras da comunicação causam danos a escopo, tempo, custo e qualidade, entre outros âmbitos do gerenciamento de projetos. Existem divergências sobre os grupos de organização das barreiras de comunicação, porém, pode-se citar as barreiras associadas a grupos de conhecimento, comportamental e técnicas como barreiras mais significativas. 4.1 Barreiras de conhecimento As barreiras de comunicação ligadas ao conhecimento influenciam o desenvolvimento do projeto, muito por conta da perspectiva do emissor. Contam como barreiras de conhecimento, segundo Chaves et al. (2010), o despreparo na utilização da comunicação, tanto no processo oral quanto na escrita, ou ainda a utilização de linguagem técnica não familiarizada pelo receptor. Isso pode evidenciar a falta de conhecimento sobre diretrizes discutidas, causando complicações ao andamento regular do projeto. Outro elemento também conhecido como barreira de conhecimento pode ser evidenciado pelo excesso de informações relativas ao projeto ou à organização empresarial, além de pelo uso de equipamentos tecnológicos não plenamente dominados pelos atores do processo de comunicação. Segundo Chaves et al. (2010), o gerente de projetos deve ter conhecimento de que a comunicação realizada dentro do projeto é construída, muitas vezes, por pessoas 11 de formações distintas. O corpo técnico pode utilizar-se de jargões e definições muitas vezes desconhecidos dos administradores, por exemplo. Crédito: ESB Professional/Shutterstock. Assim, é de responsabilidade do gerente de projetos, ou do responsável pelo projeto, reconhecer a importância desse cenário e tomar as precauções apropriadas para evitar o impacto negativo das barreiras na realização do projeto. Uma ideia que tenta dirimir essa realidade é a preocupação com o uso de uma linguagem específica para facilitar o entendimento de cada receptor. Além dela, há também a preocupação em evitar o uso de alguns termos muito técnicos de cada área, com a intenção de amplificar o entendimento do que está sendo emitido. 4.2 Barreiras comportamentais Na perspectiva do desenvolvimento do projeto, as barreiras comportamentais estão ligadas à desconfiança entre as partes envolvidas no projeto. A presença de atitudes hostis ou preconceituosas, ou até mesmo da ansiedade, da falta de interesse e da omissão intencional de informações ou fatos importantes, está ligada a barreiras comportamentais. Também estão ligados ao assunto o prejulgamento do emissor e a falta de atenção destinada ao assunto (Chaves et al. 2010). Uma das formas de mitigar a potencialização das barreiras de comunicação ligadas ao comportamento é utilizar a linguagem face a face sempre que possível. A escolha de uma comunicação presencial facilita o processamento da informação muito por conta da utilização de gestual e expressões faciais. Outra possibilidade importante, e permitida na comunicação presencial, é o uso da repetição da fala com a utilização de outros termos. 12 É claro que em alguns projetos a utilização da comunicação presencial se torna praticamente inviável. Porém, já é possível constatar a presença de salas de projetos em algumas organizações. Esses espaços são importantes dentro das empresas porque reúnem toda a equipe dentro de um mesmo espaço físico com o intuito de facilitar exclusivamente esse tipo de processo. A utilização de uma comunicação escrita objetiva e clara também facilita o entendimento do receptor, e é bastante utilizada no desenvolvimento de projetos. Nessa forma escrita, é necessário haver objetividade, clareza e um bom nível de detalhamento pertinente ao entendimento do receptor. Uma forma de aumentar o entendimento do receptor é utilizar feedback no processo de comunicação, pois pedir feedback para o receptor é procurar a garantia do entendimento da informação e seu total processamento. Segundo Chaves et al. (2010), a utilização da repetição eleva os índices de compreensão do que está sendo discutido e garante o completo ciclo do processo de comunicação. 4.3 Barreiras organizacionais e técnicas As barreiras organizacionais e técnicas estão ligadas ao funcionamento da organização ou estrutura em que o projeto está sendo desenvolvido. Segundo Chaves et al. (2010), a estruturação organizacional excessivamente burocrática, ou muito flexível, propicia o aumento desse tipo de barreira, assim como o excesso de regras desnecessárias, procedimentos ou padrões que dificultam o andamento correto do desenvolvimento do projeto. A utilização de equipamentos de comunicação inacessíveis, inadequados ou até mesmo já ultrapassados somam como grandes causas de barreiras e dificultam o processo de comunicação dentro do projeto. Ainda como barreira nesse grupo existe a cultura organizacional, que, por muitas vezes, desestimula ou desfavorece o processo de comunicação. A obrigatoriedade de utilização de equipamentos obsoletos, de pouca qualidade de transmissão, com distorção de sinal, e o uso incorreto de padrões técnicos ou o total ou parcial desconhecimento de técnica empregada são exemplos típicos de barreiras técnicas de comunicação (Chaves et al., 2010). 13 TEMA 5 – GERÊNCIA DE PROJETOS QUE SUPERAM AS BARREIRAS DA COMUNICAÇÃO Carvalho et al. (2016) destaca que as organizações estão buscando tecnologias, conceitos e métodos novos em projetos para atender a uma demanda cada vez mais exigente por melhores custo, prazo e qualidade. Assim, mais do que entender quais são as barreiras de comunicação, é necessário estar preparado para que sua ocorrência não reduza significativamente o desenvolvimento do projeto. 5.1 Recomendações para superar as barreiras de comunicação Conforme o Project Management Institute (PMI, 2017), o total êxito no processo de gerenciamento de um projeto está altamente ligado à capacidade de comunicação do gestor e de toda a equipe do projeto. Assim, algumas recomendações como forma de superar essas barreiras de comunicação são importantes. Vale salientar que não existe um manual rígido e totalmente confiável que tenha soluções para todos os problemas com relação à comunicação em uma organização. Isso se deve ao fato de existirem particularidades em cada empresa. Ainda assim, nesta aula, estão elencadas ações importantes que poderão ser de grande valia na atuação organizacional em busca da redução das barreiras de comunicação. Segundo Chaves et al. (2010), alguns cuidados na comunicação escrita e oral potencializamas chances de um melhor entendimento por parte do receptor. Assim, aumentam as possibilidades de serem executadas ações de forma otimizada para o projeto. A ação de planejamento que visa organizar o envio de informações para cada tipo de interessado no projeto também facilita o processo de comunicação. Aliado a essa organização, a utilização de um estilo de redação claro e objetivo na comunicação escrita eleva o entendimento do receptor. Crédito: pathdoc/Shutterstock. 14 A escolha de frases bem estruturadas e a adequada seleção de palavras melhora o processo de comunicação, assim como a diminuição do uso de termos extremamente técnicos, siglas ou até mesmo jargões fora do contexto. Observe que na comunicação oral a utilização de alguns princípios definidos para comunicação escrita também são importantes, como a construção de frases adequada e ordenada, a objetividade e a clareza (Chaves et al., 2010). Por outro lado, Alonso et al. (2013) indica que a falta de informações técnicas detalhadas prejudica a comunicação em um projeto, assim como o excesso ou a irrelevância das informações. O cuidado na preparação de ações deve levar em consideração essa realidade. É importante realizar um planejamento que contemple o envio de informações de forma regular, mesmo em momentos de mudanças no projeto. A falta de informação é uma barreira decisiva para o desenvolvimento das atividades da equipe do projeto (Carvalho et al., 2016). Porém, recomenda-se cautela e reflexão quanto ao processo e ao permanente contato com o receptor da informação. Em reuniões, que devem ser preparadas previamente, deve-se fazer uso de técnicas de apresentação adequadas. Atenção com a utilização de recursos audiovisuais apropriados e a construção do roteiro. Também considere a importância da utilização de linguagens corporal e facial adequadas, assim como a interação com a equipe presente durante a reunião em momentos oportunos. Responda as perguntas e certifique-se de que está sendo compreendido; esses pontos são importantes (Chaves et al., 2010). Deve haver cuidado no processo de exposição de um problema ou de atraso pertinente ao projeto. Nesses momentos, é preciso agir de forma eficiente e assertiva a fim de que a total comunicação aconteça entre todos os interessados. Isso reduz a possibilidade de a equipe tomar conhecimento de fatos e ações por meios de comunicação com distorções, ou de comunicações errôneas ou interpretações equivocadas de fatos. Deve-se ter atenção com aspectos políticos e com a estrutura de poder organizacional, que podem influenciar na condução de projetos. O descuido desse aspecto pode levar ao surgimento de desentendimentos e conflitos. Para resolver esse tipo de problema, é importante que o emissor deixe claro a existência e a disponibilidade de um canal aberto para esclarecimento de dúvidas (Chaves et al., 2010). 15 Por fim, deve-se levar em consideração a distância física existente entre os participantes do projeto. Por vezes pode ser difícil, ou até mesmo impossível, realizar reuniões presenciais. Nesse cenário, a realização de um bom treinamento com instrumentos de internet que facilitem a comunicação é extremamente importante. Quando a comunicação se vale de tecnologias como facilitadoras do processo, é importante que haja instrumentalização e conscientização entre os interessados de que esse desafio pode dificultar a comunicação. 16 REFERÊNCIAS BUENO, W. C. Comunicação empresarial: teoria e pesquisa. Barueri: Manole, 2003. CHAVES, L. E. et al. Gerenciamento da comunicação em projetos. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2010. DAVENPORT, T. H. Ecologia da informação. São Paulo: Futura, 2001. FUKUYAM, K. D. et al. Barreiras à comunicação e suas influências no desempenho de projeto. Revista Mundo PM, Curitiba, ano 12, n. 67, p. 10-19, 2016. HEDLER, H. C. et al. Comunicação e compartilhamento do conhecimento entre equipes em automação de processos. Revista Comunicologia, Brasília, v. 6, n. 2, p. 165-183, jul./dez. 2013. Disponível em: <https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RCEUCB/article/view/5286>. Acesso em: 29 mar. 2019. PMI – PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. A guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK® Guide). 6. ed. Newtown Square: PMI, 2017. ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 1999. SCHERMERHORN JUNIOR, J. R.; HUNT, J.G.; OSBORN, R. N. Fundamentos de comportamento organizacional. São Paulo: Bookman, 2007. AULA 2 GESTÃO DA COMUNICAÇÃO EM PROJETOS Prof. Sandro Fabiano da Luz 2 CONVERSA INICIAL É importante citar que nesta aula será utilizada a nomenclatura gerente de projetos para a pessoa responsável pelo desenvolvimento e pela conclusão da gestão do projeto. Porém, em várias empresas e situações, essa função pode ser desempenhada por um líder de projetos, o analista de projetos ou o responsável pelo projeto, entre outros. A nomenclatura específica não é o principal ponto de consideração; é mais relevante realizar a análise de seus encaminhamentos e responsabilidades quanto à comunicação e à gerencia dos projetos. O papel do gerente de projetos apresenta semelhanças com o papel desempenhado pela gerência funcional, e inclui desde orientação para resultados (comum a ambos) até utilização de determinados planejamento, execução e controle. Porém, como a gestão de projetos, via de regra, não possui vínculo hierárquico com os envolvidos nos projetos, o processo de comunicação deve ser realizado de forma ainda mais cuidadosa. TEMA 1 – O GERENTE DE PROJETOS E A COMUNICAÇÃO Uma série de predicados e habilidades são imprescindíveis para um gerente de projetos. É possível destacar que são importantes capacidades quanto a: visão estratégica; negociação; programação e controle; delegação e cobrança; administração de conflito; e comunicação (Dinsmore; Silveira Neto, 2004). Porém, sobretudo a comunicação se apresenta como o maior diferencial auxiliador do trabalho do gerente de projetos. Isso porque, segundo pesquisas realizadas pelo Project Management Institute (2017), um gerente de projeto utiliza 70 a 90% de seu tempo em projetos se comunicando. Por isso, estudos e aprofundamento sobre essa temática se tornam tão necessários. 1.1 Comunicação em projetos Atualmente, para a manutenção e a expansão das atividades organizacionais, é necessário buscar soluções inovadoras que proporcionem agilidade e consistência. Assim, segundo Silva, Rego e Faillace Jr. (2015), o gerenciamento de projetos ganha visibilidade como fundamentalmente importante. Isso ocorre porque, com a utilização de uma metodologia para gerenciamento de projetos, é possível uma otimização de lançamento de produtos 3 novos, reestruturações organizacionais, fusões e aquisições. Assim, para o sucesso de um projeto, é importante que haja uma comunicação eficaz. Entenda- se por comunicação a realização de qualquer tipo de transmissão de informações entre pessoas. O bom gerenciamento e uma competente execução da comunicação em projetos são fatores determinantes para seu sucesso ou fracasso. Segundo estudos de Carvalho e Mirandola (2007), existem indícios que relacionam a eficácia da comunicação em um determinado projeto com a sincronia da equipe, impulsionada por um claro fluxo de informações existente. Assim, as habilidades de comunicação entre os envolvidos são fatores fundamentais para que o projeto alcance o resultado estipulado em seu escopo. Porém, não apenas para os projetos, mas também para a realização das atividades organizacionais a comunicação é muito importante. Isso porque por meio de sistemas de comunicação altamente eficientes as atividades do dia a dia podem ser relacionadas aos seus respectivos integrantes. A comunicaçãofluente entre todos em uma organização facilita a compreensão geral de aspectos práticos da sobrevivência organizacional. Crédito: garagestock/Shutterstock. Com relação à área de projetos, segundo Cyganczuk, Mendes e Pécora Jr. (2018), o gerenciamento da comunicação deveria ser considerado tão importante quanto qualquer outra função dentro das organizações. Assim como existem áreas de finanças e de recursos humanos, deveria existir uma área que administrasse questões sobre comunicação. Segundo os autores, a comunicação transmite e conecta ideias, conceitos, experiências e informações em um projeto. A atenção com o processo de comunicação permite reduzir barreiras e falhas de comunicação entre os integrantes da equipe de projetos, reduzindo sensivelmente a falta de confiança entre os membros da equipe e a transmissão 4 de informações equivocadas, ou até mesmo distorcidas. O cuidado com a comunicação em projetos também reduz o dano com relação à falta de envio de informações ou ao envio em um momento inoportuno (Cyganczuk, Mendes Júnior e Pécora Júnior, 2018). Como frisado anteriormente, o processo de comunicação envolve a transmissão de informações entre dois ou mais indivíduos. Para que esse processo aconteça de forma efetiva, é importante compreender sua constituição e seu funcionamento no ambiente de projetos. Para que um consistente processo de comunicação se realize, é importante organizar e acompanhar o desenvolvimento da informação. A intenção dessa organização e do acompanhamento é garantir que a informação desejada alcance a pessoa correta, no tempo certo e também de maneira não onerosa para a organização. Nesse processo, é vital citar a importância do gerente de projetos que, por meio da comunicação entre os envolvidos, assegura que todos trabalhem de forma integrada, atendendo ao escopo do projeto e garantindo o cronograma, o custo e a qualidade acordados. Assim, uma das formas de se verificar a efetividade do processo de gerenciamento de comunicação em projetos é constatar a existência de uma constante troca de informações entre os envolvidos. Também efetiva um perfeito gerenciamento de comunicação a existência de um processo de definição, organização e transmissão das informações pertinentes ao projeto. Um levantamento organizado pelo Project Management Institute (2017) em vários países indicou que os problemas mais frequentes em projetos envolvem a comunicação (64,2% das organizações entrevistadas). Além disso, o mesmo estudo evidenciou que, das habilidades mais necessárias para se gerenciar um projeto nas empresas, a comunicação foi eleita com 61,6% de incidência, seguida por liderança, com 57,8%, e pela negociação, com 43,6%. Contudo, para 44% das organizações entrevistadas, a comunicação se apresenta como a maior deficiência entre os responsáveis por projetos. O levantamento também evidencia que os principais canais de comunicação utilizados pelas equipes são: e-mail; conversas e reuniões presenciais; telefonemas; mensagens instantâneas; videoconferência; e redes sociais. Anos após ano, a comunicação é eleita pelo PMI como a habilidade mais importante e mais usada em projetos, não só pelo gerente de projetos, mas também pela equipe envolvida. Segundo Cyganczuk, Mendes Jr. e Pécora J. 5 (2018), o sucesso do gerenciamento de projetos em uma organização é altamente dependente do estilo adotado de comunicação em projetos. A capacidade de comunicação organizacional e entre os envolvidos no projeto exerce grande influência em como os projetos são conduzidos e em seu grau de sucesso. TEMA 2 – GERÊNCIA DE PROJETOS E CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES O gerente de projetos é o responsável pelo êxito ou pelo fracasso de um projeto. Recai nessa função a responsabilidade quanto a uma série de encaminhamentos e diretrizes. Segundo Daim et al. (2012), os gerentes de projetos deverão assegurar um fluxo de informação eficiente por meios dos recursos tecnológicos existentes em um projeto. Segundo os autores, a marca de sucesso de um gerente de projetos é a existência de um processo de comunicação eficaz. 2.1 Utilização de uma comunicação eficaz e eficiente Primeiramente, um gerente de projetos necessita ter claro que um projeto é um esforço organizacional temporário e empreendido com o intuito de criar um produto ou um serviço único. Ou seja, a sua natureza temporária indica que os projetos têm seus início e término definidos. O término do projeto é alcançado quando seus objetivos são atingidos, ou então quando ele é encerrado por qualquer motivo (PMI, 2017). Nesse sentido, a presença do gerente de projetos se torna vital para orquestrar as atividades relativas ao projeto. Ele é responsável por planejar, monitorar e controlar a execução do projeto, bem como por atender as áreas interessadas pelos resultados. Assim, a utilização de uma comunicação eficiente se torna uma importante habilidade pertinente a essa função. Algumas funções importantes na gerência de projetos são correlatas à comunicação, e se utilizam dela para atingir seus objetivos. Um gerente de projetos necessita de uma grande capacidade de negociação, que nada mais é do que a importante competência de identificar partes interessadas importantes para o fortalecimento do projeto, bem como negociar e construir alianças focando os objetivos do projeto. Assim, para essa função, o gerente de projetos se utiliza da comunicação para atingir seu objetivo. 6 A comunicação também é uma grande aliada no processo de delegação e cobrança de um gerente de projetos. Essa atividade evidencia a possibilidade de transferir decisões e responsabilidades. Ela leva em consideração o desempenho e o efetivo cumprimento de objetivos, cronograma e qualidade para facilitar o processo de cobrança de prazos e resultados. Também é possível classificar a comunicação como uma habilidade bastante útil na aplicação de incentivos ou correções no âmbito de projetos. Para essa função importante, cabe ao gerente de projetos a utilização do ferramental que auxilie na troca de informações e na tomada de decisão. Por fim, pode-se relacionar ao gerente de projetos a função de administrar conflitos, o que requer uma capacidade de resolver e administrar conflitos que prejudiquem o andamento do projeto. Essa também é a habilidade de lidar com as diferenças entre os envolvidos e a importante tarefa de administrar pressões conflitantes. Mais uma vez, a comunicação é uma habilidade muito importante da qual o gerente de projetos pode se valer para exercer seu papel. Crédito: Artistdesign29/Shutterstock. Naturalmente, cabe a cada organização a condução do nível de responsabilidade e autoridade direcionada à função de gerente de projetos. Segundo Rego e Silva (2012), cabe ao gerente de projetos “conduzir todo o trabalho, desde a ideia inicial até o término, que se consubstancia na entrega dos resultados aos clientes”. De acordo com Dinsmore e Silveira Neto (2004), promover uma integração entre os envolvidos em um projeto é de responsabilidade do gerente de projetos. Também é dele a função de realizar a interligação entre o projeto e o restante da empresa, realizando os devidos ajustes com a alta direção e os demais gerentes funcionais envolvidos. Gido e Clements (2007) complementam que os gerentes de projetos devem se valer de uma excelente comunicação, pois necessitam dessa habilidade para 7 se comunicar com a equipe do projeto, assim como clientes, empresas interessadas e até mesmo com a alta direção da organização. Ainda segundo os autores, é crucial uma comunicação clara e constante com a toda a equipe, com o intuito de manter o devido progresso do trabalho, facilitar o processo de identificação de problemas, solicitar sugestões ao envolvidos e manter controlada a satisfação do cliente. Várias outrasimportantes pesquisas têm reforçado o gerenciamento de comunicação como a chave para o sucesso de um projeto. Esse campo do gerenciamento de projetos é estudado desde a década de 1980, de tal forma que Pinto e Slevin (1987) evidenciaram o processo de feedback como fator crítico para a concretização de um projeto. Outro estudo importante que relaciona a função de gerência de projetos e comunicação foi feito por Henderson (2008). Nesse estudo, a comunicação se apresenta como uma competência crítica para o gerenciamento de projetos. Mais do que isso, Henderson (2008) evidencia a problemática em codificar e decodificar a informação para o total fluxo do processo de comunicação. Uma das atividades importantes para a função de gerenciamento de projetos seria a plena aptidão nesse processo de codificação da informação, que é aquela que mais impacta os objetivos do projeto. TEMA 3 – CANAIS DE COMUNICAÇÃO EM PROJETOS Segundo Silva, Rego e Faillace Jr. (2015), o planejamento e a execução da comunicação em projetos costumam encontrar barreiras a serem superadas. Sobre essas barreiras, é possível perceber que os diversos canais de comunicação apresentam uma importante influência e dificultam o processo de entendimento da informação. Assim, e-mails e outras comunicações impessoais oferecem riscos à comunicação nas mais diversas fases de um projeto. Um fator importante que realça os problemas em canais de comunicação é percebido em projetos que envolvem equipes de países diferentes. A dificuldade com o uso de tecnologias, linguagens ou gírias próprias de cada local dificultam o processo de entendimento total da informação. 8 3.1 Influência dos canais de comunicação em projetos A comunicação se vale de alguns canais para concretizar os sistemas de envio, recebimento e processamento de informação. Dentre os canais utilizados pelos envolvidos em projetos, é possível citar os canais orais, escritos e os eletrônicos e digitais. A seguir, será apresentada uma síntese da forma otimizada de utilização de cada um desses canais, bem como suas possíveis vantagens e desvantagens. Segundo Chaves et al. (2010), a comunicação oral, via de regra, acontece em uma entrevista ou em uma conversa presencial, em uma reunião ou até mesmo em apresentações realizadas em uma sala de aula. Nesse tipo de comunicação, o feedback é constante e é grande a interação entre os participantes. São grandes as possibilidades de se repetir o que se disse anteriormente, utilizando outras palavras ou dando exemplos. Porém, normalmente, não se estipula registro dessa comunicação, muito por conta de sua versatilidade. Outro fator a se considerar é que, em alguns momentos, nesse tipo de comunicação, podem aflorar emoções e frases podem ser ditas sem uma total reflexão ou prévia avaliação. Já a comunicação escrita é a comunicação impressa em textos, documentos, livros, manuais, cartazes e até mesmo folhetos. Geralmente, esse processo requer mais tempo e preparo, visto que a comunicação impressa pode passar por fases de revisão e adequação. Ela pode ser facilmente armazenada para consulta posterior e seu conteúdo não varia, ou seja, não sofre alterações ao longo do tempo. Contudo, não existe possibilidade de controle total da informação. Normalmente, não é possível controlar quem efetivamente recebe o impresso e, principalmente, como esses indivíduos que o recebem interpretam as informações ali contidas. Esse tipo de canal de comunicação não permite feedback imediato e requer um esforço de intepretação de contexto do leitor (Chaves et al., 2010). Por fim, outros canais de comunicação possíveis são os meios eletrônicos e digitais, que permitem a transmissão de um imenso volume de informações de maneira veloz e com alta precisão. Esse tipo de canal de comunicação se vale, muito frequentemente, da internet como forma de difundir informação. Assim, utilizam-se correios eletrônicos ou telefonia celular, por exemplo. Esses canais de comunicação permitem desde um corriqueiro envio de mensagem de texto até uma grande transmissão de dados em arquivos. Pode-se usar também a 9 videoconferência, em que emissores e receptores interagem, de forma síncrona, por meio de computadores e celulares. Mas é preciso lembrar que esses canais requerem o prévio conhecimento sobre o funcionamento desse tipo de tecnologia e um suporte técnico adequado (Chaves et al., 2010). Existem diversos desafios no planejamento de como a comunicação se efetivará em um projeto e como o gerente de projeto deverá se posicionar. No tocante aos canais de comunicação, é importante citar que a quantificação dos canais é um fator importante na mensuração da complexidade do processo de comunicação do projeto. Assim, quanto mais pessoas estiverem, efetivamente, envolvidas no projeto, maior será o número de canais de comunicação utilizados. Essas informações numéricas auxiliarão no planejamento de como a comunicação se dará no projeto. Para facilitar esse processo, existe uma fórmula que quantifica, de forma efetiva, os canais de comunicação possíveis em um projeto. A fórmula é a seguinte: 𝒏 (𝒏 – 𝟏) 𝟐 sendo n o número de pessoas envolvidas no projeto. Assim, um exemplo prático pode ser analisado em um projeto com cinco pessoas. A fórmula, então, seria a seguinte: 𝟓 (𝟓 – 𝟏) 𝟐 A resposta para essa equação é 10, ou seja, em um projeto envolvendo cinco pessoas, existem dez canais possíveis de comunicação. A seguir, é apresentada uma figura que ilustra essa fórmula: 10 Figura 1 – Canais de comunicação em projetos Assim, é possível constatar a existência de três possíveis canais de comunicação entre os envolvidos no projeto, que são o oral, o escrito e o eletrônico e digital. Porém, também é importante planejar quantos canais de comunicação serão necessários em projetos e, posteriormente, como efetivamente se dará a comunicação entre os envolvidos. De posse dessas informações é possível realizar um planejamento completo, um importante fator para o alcance do sucesso de um projeto. TEMA 4 – GERENCIAMENTO DE COMUNICAÇÃO COM AS PARTES INTERESSADAS O planejamento e o gerenciamento da comunicação têm estreita relação com a gestão de partes interessadas. O guia PMBOK®, em sua quinta edição, tratou o gerenciamento de parte interessadas em um capítulo exclusivo. Antes dessa edição, ele era tratado como um processo dentro do capítulo de comunicação em projetos. Como sua importância é grande e decisiva para o andamento e o sucesso dos projetos, ele então ganhou uma seção exclusiva. Contudo, ainda assim, é importante analisar as partes interessadas pelo prisma da comunicação, para melhor administrar suas expectativas e concluir o projeto de forma satisfatória. 4.1 Comunicação e partes interessadas em projetos O correto planejamento da comunicação em projetos necessita de um olhar cuidadoso para com as diversas parte interessadas. Para o guia do PMI (2017, p. 503): 11 O gerenciamento das partes interessadas do projeto inclui os processos exigidos para identificar todas as pessoas, grupos ou organizações que podem impactar ou ser impactados pelo projeto, analisar as expectativas das partes interessadas, seu impacto no projeto e desenvolver estratégias de gerenciamento apropriadas para o engajamento eficaz das partes interessadas nas decisões e na execução do projeto. Ou seja, muitas dessas ações só se concretizam de forma completa com uma comunicação eficiente. Os processos de atenção à identificação e ao monitoramento das partes interessadas em projetos suportam o trabalho da equipe no quesito análise de todas as expectativas com relação ao produto final do projeto. Também têm como finalidade avaliar o grau em que os interessados afetam ou são afetados pelo projeto, e também desenvolver estratégias para englobar a todos nas importantesdecisões relativas ao projeto (PMI, 2017). Para que seja possível gerenciar as partes interessadas é necessário (PMI, 2017): Identificar as partes interessadas regularmente, realizar a análise e a documentação das informações relevantes sobre seus respectivos interesses, bem como seu envolvimento, sua interdependência, sua influência e seu impacto potencial no sucesso do projeto; Planejar o engajamento das partes interessadas, desenvolvendo abordagens que envolvem as partes interessadas no projeto com base em suas necessidades, expectativas, seus interesses e potencial impacto; Gerenciar o engajamento das partes interessadas, comunicando-se e trabalhando com as partes interessadas para atender a suas expectativas e necessidades, lidando com questões relativas ao projeto e promovendo o engajamento das partes interessadas adequadamente; Monitorar o engajamento das partes interessadas, acompanhando as relações das partes interessadas no projeto e adaptando estratégias de engajamento por meio da modificação de planos e estratégias de mobilização. Todos os processos são importantes no gerenciamento de partes interessadas e utilizam como importante ferramenta a comunicação. Porém, uma especial importância recai sobre a identificação das partes interessadas, pois, segundo Chaves et al. (2010), esse é o momento de identificar e analisar os reais interesses e seu envolvimentos no projeto. A sua influência pode afetar o projeto de forma positiva ou negativa. 12 Crédito: Rawpixel/Shutterstock. É importante citar que as partes interessadas podem estar em diferentes níveis em uma organização, e que podem até mesmo ser externas ao projeto. As informações devidamente documentadas e organizadas sobre as partes interessadas auxiliam também no processo de planejamento de comunicações e como guia durante o processo de distribuição de informações e controle de todo o projeto. De acordo com Ryynänen, Jalkala e Salminen (2013), o gerenciamento de comunicação exerce um papel fundamental na diminuição dos níveis de incertezas, riscos e também de toda a complexidade que envolve a concretização de um projeto. Assim, para conseguir alcançar altos níveis de efetividade da comunicação em projetos, a atenção às partes interessadas é crucial. Nessa função, a presença e a atuação do gerente de projetos junto às partes interessadas, associadas a ferramentas de comunicação, podem reduzir os momentos de imprevisibilidade no projeto. Segundo Cyganczuk, Mendes Jr. e Pécora Jr. (2018), é importante realizar uma comunicação completa a todos os interessados no projeto, visto que as barreiras ou falhas na comunicação junto aos interessados são bastante prejudiciais ao resultado final do projeto. Os autores ainda complementam que a falta de feedback desmotiva e provoca dúvidas quanto ao projeto, assim como falta de confiança entre os membros da equipe. A transmissão de informações erradas ou descontextualizadas, a falta de informação ou o recebimento de informação em momento inadequado podem comprometer o funcionamento do gerenciamento do projeto, atingindo, assim, os seus objetos. TEMA 5 – MUDANÇAS E SEU IMPACTO NA COMUNICAÇÃO O processo de mudança, principalmente em parte do escopo do projeto, não é uma atividade incomum. Com o andamento na execução do projeto, os 13 envolvidos percebem erros, atrasos ou atualizações que necessitam como ação subsequente a alteração de algum ponto no projeto. Nesse momento, o planejamento e o monitoramento do processo de comunicação é posto à prova e deve contemplar a disseminação da informação precisa para a pessoa certa no momento oportuno. 5.1 Realização de mudanças com atenção a comunicação Segundo Chaves et al. (2010), as mudanças são a causa de maior impacto no sucesso de um determinado projeto. Nesse sentido, vale salientar que as mudanças podem afetar um projeto de duas maneiras. Primeiramente, podem impactar de forma decisiva alguma etapa no gerenciamento no projeto. Assim, escopo, tempo, custo, qualidade, entre outros, são alvo de uma grande probabilidade de alterações ao longo do projeto. Vale também salientar uma segunda categoria de mudanças que podem impactar um projeto: as inadequações do resultado. Isso ocorre quando o projeto é concluído e seu escopo é atendido plenamente, porém, seu resultado atinge a organização de forma determinante, causando muitas mudanças em sua estrutura. Essas alterações podem ser de tão grande volume que ocasionam um segundo grupo de mudanças no projeto para se adequarem de forma completa à realidade da instituição. Um exemplo desse segundo grupo de mudanças é a criação de um enterprise resource planning (ERP), ou, em português, sistema integrado de gestão empresarial, que envolve toda a empresa ou parte dela. Diversas vezes, mesmo com o escopo do projeto e todas as áreas de gerenciamento sendo atendidas, a sua implementação não possui aderência total à realidade da organização. Isso acontece por incompleto planejamento ou sensível mudança percebida no decorrer da execução do projeto. Dessa forma, se inicia um processo de mudança ou alteração no projeto, visando o alcance de adequação organizacional. Ou, ainda, faz-se a alteração dos processos organizacionais para que se adequem ao sistema. 14 Crédito: Duncan Andison/ Shutterstock. Nos momentos de mudanças em projetos, surgem os maiores desafios relacionados com a capacidade de organização de todas as partes interessadas; é preciso absorver os impactos relacionados a essa mudança e, ainda assim, atender às expectativas de todos. Porém, as resistências recaídas nas mudanças observadas no projeto podem até mesmo bloquear o esforço da implementação desse projeto. Isso acarretaria uma importante barreira que impediria o alcance dos objetivos propostos. Segundo Chaves et al. (2010), o processo efetivo de comunicação em projetos pode ser considerado como o principal mecanismo utilizado no gerenciamento da mudança organizacional. Assim, a atenção no gerenciamento de comunicação apresenta bons resultados no processo de gerenciamento de mudanças. A avaliação dos requisitos da comunicação, então, precisa ter como foco principal a atenção ao gerenciamento da mudança, que invariavelmente impactará de forma importante o gerenciamento total do projeto. Por fim, vale salientar que a atuação do gerente de projetos é decisiva para o sucesso tanto da comunicação quanto do monitoramento das mudanças ocasionadas no projeto e pelo projeto. Assim, acredita-se que o gerente de projetos deve se empenhar no cumprimento dos objetivos do projeto, bem como na atualização de conhecimentos e no treinamento de habilidades necessárias para o desempenho de sua função. São habilidades necessárias para esse gerente: Atenção à sua formação; Cuidado na condução das equipes; Proatividade em superar desafios profissionais e os do projeto; Utilização plena de uma comunicação com todos os interessados no projeto. 15 Segundo Fisher (2011), um bom gerente de projetos deve se valer de três competências importantes na execução de um projeto: atenção a competências individuais; atenção a competências da equipe; atenção a competências da empresa. Vale lembrar que competências individuais são aquelas que envolvem competências relacionadas ao próprio indivíduo, como capacidade de resolver problemas e utilizar-se de ferramentas importantes de comunicação. As competências relacionadas à equipe têm relação direta com o envolvimento com a equipe e a sintonia com ela, além de aptidão em resolver problemas complexos e trabalhar com equipes de indivíduos com formações multidisciplinares. A competência ligada a empresa não é menos importante, e se refere à capacidade de criação de um ambiente organizacional propício para o desenvolvimento de projetos. Assim sendo,recai na figura do gerente de projetos a atenção a todo o ambiente que envolve o projeto, bem como o cumprimento de seus objetivos. 16 REFERÊNCIAS CARVALHO, M.; MIRANDOLA, D. A comunicação em projetos de TI: uma análise comparativa das equipes de sistemas e de negócios. Production, São Paulo, v. 17, n. 2, maio/ago. 2007. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0103- 65132007000200009>. Acesso em: 30 mar. 2019. CHAVES, L. E. et al. Gerenciamento da comunicação em projetos. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2010. CYGANCZUK, M. S.; MENDES JR., R.; PÉCORA JUNIOR, J. E. Percepções dos gerentes de projeto em relação às falhas e barreiras de comunicação. Gestão da Produção, Operações e Sistemas (GEPROS), Bauru, ano 13, n. 1, p. 56-68, jan./mar. 2018. DAIM, T. U. et al. Exploring the communication breakdown in global virtual teams. International Journal of Project Management, v. 30, n. 2, p. 199-212, 2012. DINSMORE, P. C.; SILVEIRA NETO, F. H. Gerenciamento de projetos: como gerenciar seu projeto com qualidade, dentro do prazo e custo previsível. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004. FISHER, E. What practitioners consider to be the skills and behaviours of an effective people project manager. International Journal of Project Management, v. 29, n. 8, p. 994-1002, dez. 2011. GIDO, J.; CLEMENTS, J. Gestão de projetos. São Paulo: Thomsom Learning. 2007. HENDERSON, L. S. The impact of project managers’ communication competencies: validation and extension of a research model for virtuality, satisfaction, and productivity on project teams. Project Management Journal, v. 39, n. 2, p. 48-59, 2008. PINTO, J. K.; SLEVIN, D. P. Critical factors in successful project implementation. IEEE Transactions on Engineering Management, v. EM-34, n. 1, p. 22-27, fev. 1987. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/260621619_Criti cal_Factors_in_Successful_Project_Implementation>. Acesso em: 30 mar. 2019. PMI – PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. A guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK® Guide). 6. ed. Newtown Square: PMI, 2017. 17 REGO, M.; SILVA, J. Desafios e responsabilidades do gerente de projetos: um estudo exploratório dos fatores que afetam o desempenho. SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, 27., Anais..., Salvador, 2012. RYYNÄNEN, H.; JALKALA, A.; SALMINEN, R. T. Supplier’s internal communication network during the project sales process. Project Management Journal, v. 44, n. 3, p. 5-20, 2013. SILVA, M. A. C.; REGO, M. L.; FAILLACE JR., J. E. M. É mais importante comunicar do que fazer: como é feita e percebida a comunicação nos projetos segundo o gerente de projetos brasileiro. Revista de Gestão e Projetos, v. 6, n. 2., p. 16-26, 2015. AULA 3 GESTÃO DA COMUNICAÇÃO EM PROJETOS Prof. Sandro Fabiano da Luz 2 CONVERSA INICIAL A devida atenção aos projetos faz com que as empresas ganhem em agilidade no mercado competitivo atual. Os projetos podem ser concebidos por diversos motivos, como criação de um novo serviço ou produto; atender a alterações de legislação; modificar produtos, sistemas ou até mesmo serviço; e ainda, podem visar a construção de prédios, rodovias ou navios, entre outros. Assim, são inúmeras as razões para, organizacionalmente, empreender um projeto. Desta forma, os projetos, segundo Vargas (2005, p. 7), podem ser entendidos como: atividades caracterizadas por uma sequência clara e lógica de eventos para atingir objetivos dentro de um tempo, custo e recursos prévios definidos, combinam recursos organizacionais e necessitam de uma coordenação para controle de prazos, custos e desempenho pois atingem todos os níveis de uma organização e as partes interessadas externas à instituição assim como os clientes, fornecedores, parceiros, governo, etc. Atualmente, existem várias metodologias que auxiliam na criação e no controle de todo o desenvolvimento de projetos. Assim, torna-se importante a revisão de quais são de melhor aceitação no mercado mundial e quais possuem a melhor aceitação entre os profissionais de projetos. TEMA 1 – METODOLOGIAS DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS A utilização de metodologias em auxílio ao desenvolvimento de projetos potencializa a probabilidade de atender aos seus objetivos. A organização das atividades dos projetos de forma coordenada facilita o gerenciamento das tarefas e o engajamento dos envolvidos. Segundo Vasconcelos et al. (2014), nos últimos anos, elevaram-se as discussões e publicações sobre a gestão de projetos, assim como seus métodos, ao passo que pesquisas buscam verificar as razões para o fracasso em projetos, proporcionando possibilidades de análises sobre as causas e criação de melhores práticas. Esses estudos podem auxiliar os profissionais ligados aos projetos, dos mais diversos níveis hierárquicos, a adquirirem maturidade na coordenação de projetos em busca de sucesso. 3 1.1 Como gerenciar projetos por meio de metodologias? Levando em consideração que, segundo o Project Management Body of Knowledge – PMBOK (2017), projetos são definidos como um esforço temporário que possui o intuito de criar um produto, serviço ou resultado único, é importante verificar a literatura disponível com potencial de auxiliar o seu desenvolvimento. Ainda sobre projetos, Almeida (2005, p. 93) indica que são “a unidade elementar do processo de planejamento constituindo-se em um conjunto de ações e recursos para a consecução de objetivos concretos”. Assim sendo, vale salientar que existem metodologias, práticas e guias mundo afora que possibilitam uma melhor gerência desses conjuntos de ações em prol da otimização do resultado esperado. A utilização de uma metodologia por parte de um gerente de projetos, aliado a uma equipe engajada, facilita todo o processo de desenvolvimento de um projeto. Destacamos a existência de métodos de gerenciamento de projetos específicos para cada campo de atuação e ainda para uso em projetos de todas as naturezas. Neste sentido, enquadram-se o PMBOK, que pode ser utilizado para projetos de qualquer natureza, e o Capability Maturity Model Integration (CMMI), mais voltado para projetos de software. Ainda assim, mesmo com grandes instituições e empresas analisando e testando formas de gerenciamento de projetos, constata-se a existência de elevados índices de falhas e atrasos em projetos. A relevância de utilização de algum tipo de técnica, método ou ferramenta que facilite o gerenciamento de projetos atualmente é bastante reconhecida, e muito desse reconhecimento teve origem em projetos ligados a tecnologia de informação. Essa área de atividade empresarial, muito por conta de sua estrutura, valeu-se de metodologias para melhor realizar as atividades oriundas de projetos (Pressman, 2006). Porém, ainda existem organizações que não utilizam uma metodologia para o gerenciamento de seus projetos. Para elas, os projetos são encarados principalmente pelo prisma do prazo e custo, negligenciando outros atributos ou áreas de conhecimento que poderiam influenciar o bom desempenho tanto do produto final do projeto quando do próprio projeto em si. Essas instituições enfrentam, frequentemente, problemas com prazo, orçamentos ultrapassados e insatisfação geral. Soma-se o fato de que as 4 experiências passadas, via de regra, não são totalmente aproveitadas, fazendo com que a empresa vivencie os erros inúmeras vezes em projetos diferentes. Se o desenvolvimento das organizações depende da realização bem-sucedida de seus projetos, é razoável supor que os projetos sejam gerenciados de forma adequada, sistematizada e organizada. É isso que se propõe e se estimula, com a utilização de uma metodologia de gestão de projetos (Vasconcelos et al. 2014). Créditos: mirtmirt/Shutterstock. É importante que uma metodologia de gerenciamento de projetos dê atenção ao que nalinguagem de gerenciamento se chama restrição tripla. Apesar de não ser citada no PMBOK de forma direta desde a 3º edição, a restrição tripla é abordada ao longo dos capítulos de gerenciamento de projetos. Ela dá atenção especial a elementos de custo, escopo e tempo para o gerenciamento de projeto. Vale salientar que uma eficaz gestão de projetos cria equilíbrio entre diversas demandas, como escopo, tempo, custo, qualidade e bom relacionamento com todos os envolvidos. A restrição tripla não superestima a importância apenas daquelas três áreas, mas entende que elas são fatores determinantes para se alcançar o sucesso de um empreendimento em projetos. A criação de um plano para o projeto é o primeiro passo para a criação de um gerenciamento de projeto. Após a definição do escopo, cria-se uma linha mestre, que na linguagem de projetos chama-se baseline, de custo, escopo e tempo, ou seja, a restrição tripla. Alterações possíveis em escopo invariavelmente resultarão ainda em alterações nos prazos e, algumas vezes, também nos custos. Estes eventos devem ser muito bem gerenciados por meio de um documento formal e de uma eficiente comunicação entre todos os envolvidos (Maximiano, 2009). Estudos recentes constatam o anseio em consolidar em uma disciplina todo o conhecimento disponível sobre gerenciamento de projetos. Será um trabalho 5 bastante difícil, devido à grande quantidade de material, práticas e manuais disponíveis sobre o assunto. Não existe ainda, em nível mundial, nem mesmo uma centralização de termos usados por todas estas metodologias ou práticas utilizadas. O PMBOK se denomina como um manual de boas práticas sobre gerenciamento de projetos, tratado no mercado como uma metodologia para gerenciamento de projetos de qualquer natureza, porém existe também o CMMI, que se assemelha a uma metodologia para projetos exclusivamente na área de desenvolvimento de softwares. Ainda na área de tecnologia da informação (TI), verifica-se a utilização de práticas estabelecidas pelos modelos Control Objectives for Information and Related Technology (COBIT) e Technology Infrastructure Library (ITIL). Ambos são importantes aliados para o gerenciamento de projetos, pois oferecem informações relevantes para o planejamento do gerente de projetos e toda a equipe envolvida. O modelo COBIT relaciona objetivos de controle que muitas vezes auxiliam na medição da maturidade e da conformidade de TI com determinado negócio. Ela é um importante instrumento para governança de TI. Já o ITIL foca as suas informações nas melhores práticas no gerenciamento de serviços de TI. Ambos não abordam diretamente projetos, porém suas informações são importantes aliados para o correto planejamento e desenvolvimento de projetos e trabalhos em TI. Diretamente sobre práticas de projetos, existe também a norma ISO 21500:2012. A Organização Internacional de Normalização (ISO) é responsável pelo desenvolvimento e pela publicação de diversas normas, uma delas exclusivamente sobre projetos, alinhada com padrões de qualidade, gerenciamento de configuração entre outros âmbitos do gerenciamento de projetos. Ela pode ser utilizada como metodologia para projetos de diversas naturezas. Existem também as metodologias ágeis de projetos, que também são utilizadas principalmente na área de TI. Entre elas se destaca o Scrum, que foca na interatividade e no desenvolvimento principalmente de softwares, área em que é difícil realizar um planejamento e gerenciamento de prazo longo. Também pode- se citar o Canvas, que prioriza a rapidez e a simplicidade para os trabalhos em projetos de pouca complexidade. 6 Já o PRINCE2 se denomina como um método para o gerenciamento de projetos também bastante flexível, assemelhando-se ao Scrum, porém dividido em sete princípios definidos. Este método pode ser aplicado a projetos de qualquer natureza e possui planos baseados nas necessidades da equipe envolvida no projeto. Todas as metodologias, manuais, práticas, métodos e guias são importantes para o gerenciamento de projetos, pois, segundo Vasconcelos et al. (2014, p. 58), “com a utilização de metodologia aumenta-se a probabilidade de repetir sucessos passados, ou seja, adquirir maturidade para gerenciamento de projetos com repetições de casos de sucesso”. TEMA 2 – PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE – PMI É inegável no meio organizacional a pujança e o reconhecimento do Project Management Institute (PMI) como um dos expoentes e principais articuladores sobre o conhecimento existente a respeito de gerenciamento de projetos. O PMI possui duas principais funções, que é atualizar e publicar o guia de melhores práticas sobre gerenciamento de projetos, intitulado PMBOK, e certificar pessoas e instituições como detentoras do conhecimento sobre gerenciamento de projetos. Para o mercado, as certificações oferecidas pelo PMI são de grande valia e importância. 2.1 Atuação do PMI O PMI é uma associação mundial sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos que possui foco exclusivo no conhecimento sobre gerenciamento de projetos. Ele foi instituído em 1969 por cinco voluntários e atualmente conta com mais de 553.000 membros filiados no mundo. Segundo o PMI, somente no Brasil no ano de 2018, existiam mais de 10.000 filiados e mais de 17.000 certificações concedidas com o Project Management Professional (PMP), maior certificação oferecida por esta instituição e reconhecida mundialmente. A certificação PMP pode ser entendida como uma credencial emitida pelo PMI a determinados profissionais que satisfazem a todas as condições do programa de certificação. O detentor de tal credencial tem a possibilidade de participar do maior e mais prestigiado grupo de profissionais na comunidade de gerenciamento de projetos mundialmente reconhecida. Muitas organizações 7 entendem a certificação PMP como uma grande evolução da carreira profissional (Bonfin et al., 2012). Vale indicar que o PMP é um rigoroso programa de certificação profissional específico para a área de gerenciamento de projetos, que se baseia em um exame que contém perguntas sobre todos os âmbitos do gerenciamento de projetos. Ele pode ser realizado nas principais capitais do Brasil, e o conteúdo do exame está contido no guia PMBOK. A certificação PMP concedida pelo PMI é reconhecida mundialmente, e para obtê-la é necessário que o profissional tenha conhecimentos específicos em gerenciamento de projetos. Porém, para manter a certificação, é preciso o comprometimento constante do profissional, que deve se submeter a um Programa Contínuo de Requisitos de Certificação (Continuing Certification Requirements Program – CCR) do PMI. Esse programa baseia-se no acúmulo de pontos que devem ser alcançados em determinado período e se não forem atendidos conforme critério, levam ao cancelamento da certificação do profissional (Bomfin et al., 2012). Com relação a editoração, o PMI é responsável pela publicação de diversos livros, artigos, manuais e metodologias sobre gerenciamento de projetos, sendo que o mais importante e mundialmente reconhecido é o A Guide to the Project Management Body of Knowledge, popularmente conhecido como PMBOK. É um guia que contém as melhores práticas para o correto gerenciamento de um projeto. Segundo Spudeit e Ferenhof (2017), atualmente o guia de melhores práticas PMBOK é a principal fonte de informação utilizada para embasar o gerenciamento de projetos no mundo todo. Ele é desenvolvido e atualizado constantemente pelo PMI, uma das maiores associações de profissionais engajados em gerenciamento de projetos. O trabalho deste instituto está focado no auxílio à evolução das práticas de gestão de projetos, bem como dos profissionais em suas respectivas carreiras. Segundo Chaves et al. (2010), o guia PMBOK, do PMI, tem sido uma referência internacional para diversas organizaçõesque necessitam implementar uma metodologia eficiente no gerenciamento de projetos. Ele é uma importante ferramenta para profissionais que não têm elevado conhecimento nas diretrizes de gerenciamento de projetos, porém também é importante para profissionais 8 experientes nessa área, pois contempla atualizações relevantes sobre gestão de projetos. Créditos: NicoElNino/Shutterstock. Vale salientar que, de acordo com o PMI, o Guia PMBOK é composto pelas melhores práticas na gestão de projetos, ou seja, significa que o conhecimento e as práticas ali descritas são realmente aplicáveis à grande maioria dos projetos nas mais diversas áreas de atuação. É indicado como uma boa prática, a correta aplicação das habilidades, ferramentas e técnicas testadas amplamente por todo o grupo de gestores de projetos, responsável pela atualização do PMBOK ao longo do tempo. TEMA 3 – PROJECT MANAGEMENT BODY OF KNOWLEDGE – PMBOK Segundo Bomfin et al. (2012), o guia PMBOK pode ser entendido como uma norma reconhecida pelos profissionais de gerenciamento de projetos. O PMI considera essa norma como referência básica de gerenciamento de projetos para seus programas de desenvolvimento profissional e certificações. Atualmente, o PMBOK está em sua sexta edição e relaciona o conhecimento sobre gerenciamento de projetos em diferentes capítulos no guia. Machado (2002, p. 2) indica que “uma metodologia de planejamento de projetos é uma abordagem estruturada empregada para guiar a equipe do projeto durante o seu desenvolvimento”. Assim, o PMBOK se apresenta como mais do que uma metodologia, mas o guia de maior relevância no mundo para o gerenciamento de projetos. 9 3.1 A importância do PMBOK atualmente O Guia PMBOK é o principal documento atualizado pelo PMI, embora não seja o único. Existem diversos outros livros, normas, guias e metodologias atualizadas pelo PMI, porém nenhum com a capilaridade e a importância mundial do PMBOK. A preocupação do PMI com a profissionalização da gestão em projetos deu origem à necessidade de organizar todo o conteúdo existente sobre projetos em um determinado guia. Foi assim que em 1987 o PMI criou o Project Management Body of Knowledge (Guia PMBOK), que posteriormente foi reescrito e renomeado para o atual A Guide to the Project Management Body of Knowledge (Guia PMBOK) de 1996. O conhecimento sobre gerenciamento de projetos incluído no PMBOK descreve de forma prática as ações tradicionais comprovadas mundialmente e as mais inovadoras vertentes que estão surgindo no âmbito de gestão de projetos. Porém, segundo Dinsmore et al. (2014), o PMBOK, na sua primeira edição, tinha como objetivo principal a identificação do conhecimento e das práticas geralmente aceitas. Podem ser entendidas como as práticas aplicáveis à maioria dos projetos na maior parte do tempo. Contudo, uma sensível alteração de conceito do PMBOK foi introduzida nas versões mais recentes, nas quais o que era geralmente aceito, como indicado nas versões anteriores, foi alterado para o termo boas práticas. Assim, boas práticas podem ser entendidas como critério para a aplicação de determinada habilidade ou ferramenta e tende a auxiliar os objetivos do projeto. O PMBOK é um padrão reconhecido para a área de gestão de projetos por todo o mundo e também pode ser entendido como um documento formal que descreve diversas normas estabelecidas, processos, métodos e práticas para a gestão de projetos. Da mesma forma, outras áreas de estudo humano, como a medicina ou até mesmo o direito, evoluem conforme a prática é aplicada nos diferentes âmbitos da sociedade e contribuíram para o desenvolvimento e a evolução do padrão (Souza et al. 2017). O PMBOK organiza as ações relacionadas a projetos em 10 diferentes áreas do conhecimento: integração; escopo; cronograma; custo; qualidade; recursos; comunicações; riscos; aquisições e partes interessadas. Cada uma está dividida em entradas, ferramentas e técnicas e saídas. Como entradas, entendem- se os requisitos necessários para se desenvolver determinada área do gerenciamento. As ferramentas e técnicas podem ser compreendidas como as 10 habilidades e os procedimentos necessários para se completar as ações. Por fim, as saídas acontecem quando se concluem os trabalhos nas determinadas áreas e se espera um produto final da aplicação das habilidades (PMI, 2017). Por sua vez, as 10 áreas do conhecimento sobre gerenciamento de projetos são divididas em 49 processos, que são o “agrupamento lógico de processos de gerenciamento de projetos para atingir os objetivos específicos do projeto” (PMI, 2017, p. 23). Assim, vale salientar que boa prática não significa exclusivamente que todas as áreas de gerenciamento de projetos, assim como todos os processos, devam ser sempre utilizadas uniformemente em todos os projetos. Contudo, deve-se levar em conta tipo de projeto, tamanho, tempo para execução entre outras importantes informações que nortearão de que forma se dará o gerenciamento do projeto. Todas as 10 áreas do gerenciamento de projetos estão logicamente ordenadas em cinco grupos de processos, que são: iniciação; planejamento; execução; monitoramento e controle; e encerramento. Os processos estão divididos entre todos os cinco grupos, na seguinte distribuição: o grupo de iniciação contempla 2 processos; planejamento possui 24 processos; execução contempla 10 processos; monitoramento e controle tem 12 processos; e o grupo de encerramento conta com 1 processo (PMI, 2017). Exclusivamente sobre a área de comunicação em projetos, verificam-se três processos em três diferentes grupos de gerenciamento de projetos. Existe um processo no grupo de planejamento, um no grupo de monitoramento e controle e um processo pertencente ao grupo de execução em projetos. Para o PMI (2017), gerenciamento de projeto consiste na aplicação de conhecimento, habilidade e tecnicidade ao ambiente de projetos com o intuito de atender aos requisitos propostos. Um importante aliado ao correto gerenciamento de projetos diz respeito à área de comunicação em projetos, a qual contempla atividades e processos vitais para atingir os objetivos propostos nos projetos. TEMA 4 – GERENCIAMENTO DE COMUNICAÇÃO NO PMBOK O guia PMBOK apresenta um capítulo com informações, técnicas e processos sobre o gerenciamento de como a comunicação deve ocorrer em um projeto. O capítulo chama-se Gerenciamento de comunicações dos projetos, o qual, segundo, Vasconcelos et al. (2014, p. 67) “descreve os processos relativos 11 à geração, coleta, disseminação, armazenamento e destinação final das informações do projeto”. Assim, o gerenciamento da comunicação em projetos apresenta todos os processos necessários para garantir que as informações sobre o projeto fluam entre as partes interessadas. O gerenciamento de comunicação é composto por duas fases: a primeira consiste em desenvolver uma estratégia para garantir que a comunicação seja eficaz, e a segunda é controlar a realização das atividades necessárias para implementar a estratégia de comunicação (PMI, 2017). 4.1 Capítulo sobre comunicação no PMBOK Para que o processo de comunicação ocorra de forma completa em um projeto, o PMBOK orienta a realização de três processos diferentes. Estes são divididos em subcapítulos no livro e são fatores determinantes para que a comunicação seja realizada de forma planejada. Os processos são: planejar o gerenciamento das comunicações; gerenciar as comunicações; e monitorar as comunicações (PMI, 2017). Assim sendo, o processo identificado como planejar o gerenciamento das comunicações consiste em desenvolver uma abordagem e um plano adequado para as atividades de comunicação dentro do projeto, com base nas necessidades de informação de cada um dos interessados. Já o processo identificado como gerenciar as comunicações é responsável