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O IBGE de religião. com os estudos do fenomeno religioso por tylor

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O IBGE e a religião — Cristãos são 86,8% do Brasil; católicos caem para 64,6%; 
evangélicos já são 22,2% 
O Brasil ainda é a maior nação católica do mundo, mas, na última década, a Igreja teve uma redução 
da ordem de 1,7 milhão de fieis, um encolhimento de 12,2%. Os dados são da nova etapa de 
divulgação do Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A tendência 
de redução dos católicos e de expansão das correntes evangélicas era algo esperado. Mas pela primeira 
vez o Censo detecta uma queda em números absolutos. Antes do levantamento de 2010, o quadro era 
apenas de crescimento de católicos em ritmo cada vez menor. Mantida essa tendência, em no máximo 
30 anos católicos e evangélicos estarão empatados em tamanho na população. Os números mostram 
uma redução acentuada de poder da Igreja Católica no país nas últimas décadas: a mudança foi lenta 
entre 1872 e 1970, com perda de 7,9% de participação no total da população ao longo de quase um 
século; e tornou-se acelerada nos últimos 20 anos, quando a retração foi de 22%. 
“O impacto dessa mudança é grande para a Igreja Católica. A Rússia teve revolução e permaneceu 
ortodoxa. Os Estados Unidos, mesmo com a Guerra Civil, se mantiveram protestantes. Entre os países 
grandes, mudanças assim só ocorreram em consequência de de guerras e revoluções. No Brasil, a 
revolução é silenciosa”, diz José Eustáquio Diniz, demógrafo da Escola Nacional de Estatísticas. 
Se em 1970 havia 91,8% de brasileiros católicos, em 2010 essa fatia passou para 64,6%. Quem mais 
cresce são os evangélicos, que, nesses quarenta anos saltaram de 5,2% da população para 22,2%. O 
aumento desse segmento foi puxado pelos pentecostais, que se disseminaram pelo país na esteira das 
migrações internas. A população que se deslocou era, sobretudo, de pobres que se instalaram nas 
periferias das regiões metropolitanas. Nesses locais, os evangélicos construíram igrejas no vácuo da 
estrutura católica. 
“Houve uma mudança na distribuição espacial das pessoas. A Igreja Católica é como um 
transatlântico, que demora muito para mudar um pouquinho a rota, devido ao tamanho de sua estrutura 
burocrática. Já os evangélicos são como pequenas embarcações”, explica Cesar Romero Jacob, 
cientista político da PUC-Rio. A analogia apresentada por Jacob se aplica com perfeição à comparação 
entre o tempo e o custo para se ordenar um padre e o período de formação de um pastor, algo que 
ocorre em menos de três meses. “Não existe espaço vazio”, resume. 
Nas periferias, na ausência do estado e da Igreja Católica, os pentecostais atuaram como guias 
espirituais e como figuras centrais do assistencialismo. “As evangélicas pegaram fieis onde a Igreja 
Católica não tinha se preparado para arregimentar a nova população, e adaptaram a mensagem para 
diversos públicos”, diz Eustáquio Diniz. 
Família 
A preservação da família é um dos motivos que, segundo Jacob, serve para explicar o crescimento da 
Assembleia de Deus no país. De acordo com o censo de 2010, ela é o maior segmento evangélico, com 
12 milhões de fiéis, e o segundo maior do Brasil, atrás da Igreja Católica. Em comparação com a igreja 
Universal do Reino de Deus, por exemplo, que perdeu 228 mil fiéis nos últimos 10 anos e hoje tem 1,8 
milhão de arrebanhados, a Assembleia de Deus prega valores morais mais rígidos. 
“Nos anos 90, época de expansão da favelização, a mãe não queria a desestruturação da sua família, o 
que a Assembleia não deixa”, explica Jacob, lembrando-se da proibição, por exemplo, de bebidas 
alcoólicas e de roupas femininas mais insinuantes. A favelização e a ocupação das periferias são 
resultado da migração dos anos 80 e 90, que deixou de ser motivada pela possibilidade de ascensão 
social e passou a acontecer pela expulsão das pessoas do campo, em sua maioria pobres. As correntes 
pentecostais acompanharam esses deslocamentos e, ainda na década de 90, entraram maciçamente na 
política. 
A política se tornou um instrumento de crescimento da própria igreja pentecostal ou do pastor. “É uma 
população com baixa renda e escolaridade. Entre pessoas independentes economicamente e bem 
formadas fica mais difícil o voto de cabresto”, afirma Jacob. A pesquisa do censo revela que, apesar de 
os pentecostais crescerem na população pobre e de baixa renda, na última década se fez presente 
também na nova classe média. “A “teologia da prosperidade” é um dos fatores desse processo”, diz 
Eustáquio Diniz. 
Detalhes regionais e etários 
Nos últimos 10 anos, manteve-se estável a proporção de cristãos. Isso indica tanto uma migração de 
católicos para as correntes evangélicas e para outras religiões. O segmento dos sem religião também 
cresceu percentualmente, e chegou a 8% da população em 2010. O contingente de católicos foi 
reduzido em todas as regiões e se manteve mais elevado no Sul e no Nordeste. O Norte foi onde houve 
a maior redução relativa dos católicos. 
Quanto à faixa etária, a proporção de católicos foi maior entre as pessoas com idade superior a 40 
anos. Segundo o estudo, isso é decorrente de gerações formadas durante os anos de hegemonia 
católica. Já os evangélicos pentecostais têm sua maior proporção entre as crianças e os adolescentes, 
sinalizando uma renovação da religião. O grupo com idade mediana mais velha é o dos espíritas (37 
anos) que cresceu na última década e chegou a 3,8 milhões de pessoas, sobretudo nas regiões Sudeste e 
Sul. Os espíritas são os que apresentaram melhores indicadores, como a maior proporção de pessoas 
com nível superior completo (31,5%).

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