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Montes Claros/MG - 2011 César Henrique de Queiroz Porto História Moderna II 2011 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Huagner Cardoso da Silva CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Ângela Heloiza Buxton Arlete Ribeiro Nepomuceno Aurinete Barbosa Tiago Carla Roselma Athayde Moraes Luci Kikuchi Veloso Maria Cristina Ruas de Abreu Maia Maria Lêda Clementino Marques Ubiratan da Silva Meireles REVISÃO TÉCNICA Admilson Eustáquio Prates Cláudia de Jesus Maia Josiane Santos Brant Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Káthia Silva Gomes Marcos Henrique de Oliveira DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Clésio Robert Almeida Caldeira Fernando Guilherme Veloso Queiroz Francielly Sousa e Silva Hugo Daniel Duarte Silva Marcos Aurélio de Almeida e Maia Patrícia Fernanda Heliodoro dos Santos Sanzio Mendonça Henriques Tatiane Fernandes Pinheiro Tátylla Ap. Pimenta Faria Vinícius Antônio Alencar Batista Wendell Brito Mineiro Zilmar Santos Cardoso Chefe do Departamento de Ciências Biológicas Guilherme Victor Nippes Pereira Chefe do Departamento de Ciências Sociais Maria da Luz Alves Ferreira Chefe do Departamento de Geociências Guilherme Augusto Guimarães Oliveira Chefe do Departamento de História Donizette Lima do Nascimento Chefe do Departamento de Comunicação e Letras Ana Cristina Santos Peixoto Chefe do Departamento de Educação Andréia Lafetá de Melo Franco Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais Maria Elvira Curty Romero Christoff Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas Afrânio Farias de Melo Junior Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais Cláudia Regina Santos de Almeida Coordenadora do Curso a Distância de Geografia Janete Aparecida Gomes Zuba Coordenadora do Curso a Distância de História Jonice dos Reis Procópio Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol Orlanda Miranda Santos Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês Hejaine de Oliveira Fonseca Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português Ana Cristina Santos Peixoto Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia Maria Narduce da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Coordenador Geral da Universidade Aberta do Brasil Celso José da Costa Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Alberto Duque Portugal Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Unimontes Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Diretor do Centro de Educação a Distância Jânio Marques Dias Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH Antonio Wagner Veloso Rocha Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Artes Maria Elvira Curty Romero Christoff Autor César Henrique de Queiroz Porto Graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes/ MG e Doutorando em História pela USP. Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 Ideias e práticas políticas na Época Moderna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 As Abordagens do Pensamento Iluminista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.3 O Despotismo Esclarecido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 1.4 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Unidade 2 A Revolução Industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 2.2 A Revolução Industrial e seu Significado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.3 Fases da Revolução Industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 2.4 Alguns Antecedentes Históricos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 2.5 Fatores do Pioneirismo Inglês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.6. Nova fase da Revolução Industrial: o surgimento das ferrovias . . . . . . . . . . . . . . . .32 2.7 Consequências Sociais da Revolução Industrial: o Movimento Operário. . . . . . . 34 2.8 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 Unidade 3 A Revolução Francesa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 3.2 A França Pré-Revolucionária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 3.3 Estruturas Econômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 3.4 Estruturas Políticas, Sociais e Religiosas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 3.5 A Revolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 3.6 A Crise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.7 Os Estados Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 3.8 A Assembleia Nacional Constituinte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.9 A Constituição de 1791. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 3.10 A Monarquia Constitucional. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 3.11 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 Referências básicas, complementares e suplementares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55 Atividades de Aprendizagem - AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 9 História - História Moderna II Apresentação Olá pessoal! O período sobre o qual fala- remos, neste caderno, é um momento fun- damental para a compreensão da história da sociedade do mundo ocidental. O século XVIII assinalou importantes transformações na vida do povo europeu. O objetivo do texto é mostrar para vocês a dinâmica deste período que compreende as duas revoluções que moldaram as instituições políticas e econômicas que estruturam o mun- do contemporâneo. Além disso, ao longo des- te recorte temporal, ocorre a passagem da trans- cedência que lentamente vai perdendo força nos meios urbanos e intelectuais rumo a uma so- ciedade cada vez mais marcada pela imanência. O período em que propomos nossa jor- nada compreende o século XVIII, embora os processos que culminaram nos grandes even- tos econômicos, políticos e sociais têm antece- dentes que em alguns casos podem remontar até mesmo o final da Idade Média. Além disso, a Revolução Industrial é um processo que não se esgota no século em questão, seus desdo- bramentos podem ser vistos nos dias atuais. Portanto, o final da Idade Moderna deve ser entendido como um momento fundante, que inaugura a dinâmica de uma nova era, cujo prin- cipal protagonista é a Europa Capitalista, só de- pois os Estados Unidos emergem na liderança do mundo capitalista, já no imediato Pós-Primei- ra Guerra Mundial, no início do século XX. Para melhor sistematização do conteúdo, esta disciplina foi organizada em três unida- des: a primeira trata do fenômeno iluminis- ta, procurando contextualizá-lo dentro dos quadros da crise do Antigo Regime. Também foi destacado o Despotismo Esclarecido, com seus limites e principais representantes nas monarquias europeias da Rússia, Prússia, Áus- tria, Espanha e Portugal. A segunda unidade compreende o tema da Revolução Industrial, destacando o pionei- rismo inglês através da análise das transfor- mações agrárias e do processo de acumulação primitiva de capital. O tema da emergência da ferrovia também foi destacado, apesar de seu advento se inscrever já no século seguinte ao nosso recorte. A terceira unidade aborda a Revolução Francesa em suas várias fases. No entanto, an- tes de partirmos para o processo revolucioná- rio, fizemos uma caracterização das estruturas políticas, econômicas e sociais que compu- nham a França do Antigo Regime. Todas estas unidades são subdivididas em subunidades para facilitar a leitura e a dis- cussão, conforme vocês verão em seguida. Vocês deverão ficar atentos e não desprezar o desafio das questões para discussão e refle- xão, pois elas são importantes e acompanham o texto. Outro aspecto importante são as su- gestões para transitar do ambiente de apren- dizagem aos chats, fóruns e acesso as bibliote- cas virtuais na Web. As sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto. Então? Vamos lá? Espero que apreciem! Bons estudos! O autor. Guia do Professor A Apostila de História Moderna II está dividida em três unidades a saber: • Idéias e práticas políticas na Época Moderna; • A Revolução Industrial; • A Revolução Francesa. Nessas unidades dividimos os conteúdos em sub-tópicos que facilitam a exposição e debate dos assuntos abordados e permite maior assimilação dos acadêmicos. Ao longo do texto, itens interativos aparecem, sendo eles: Para saber mais, Dicas, Glossário e Atividades. Nos itens de Dicas e Atividades, questões e exercícios são propostos. Sugerimos assim, que seja elaborado espaço na plataforma on-line para que os alunos discutam e respondam à es- sas questões e atividades propostas. As imagens contidas no corpo do texto devem ser utilizadas como sendo parte integrante do conteúdo, possibilitando ao acadêmico a visualização de situações e personagens importan- tes do período tratado. Cabe ao professor realizar essa ligação das imagens ao texto e lhes pro- 10 UAB/Unimontes - 6º Período porcionar lugar de maior destaque que o de meras representações decorativas. Ao final de cada unidade disponibilizamos uma lista de Referências para que os professores e acadêmicos busquem maiores informações sobre os temas e assuntos abordados ao longo da apostila. Ao final do trabalho, preparamos um caderno de atividades que traz consigo as resolu- ções comentadas para maior assimilação do conteúdo. Desejamos a todos um bom trabalho. 11 História - História Moderna II UNIDADE 1 Ideias e práticas políticas na Época Moderna 1.1 Introdução O Iluminismo significou um grande mo- mento na conjuntura da emergência da moder- nidade europeia ao realizar a crítica da socieda- de do Antigo Regime e propor a reforma das instituições a partir do primado do racionalismo. A partir de agora será estudado o tema do Iluminismo, corrente filosófica que emergiu no século XVIII e que influenciou quase todas as áreas do conhecimento de sua época. Essa poderosa corrente de pensamento não se en- cerrou nos setecentos e continuou a ser bas- tante influente nos séculos posteriores. Aqui serão discutidas as condições que fizeram com que emergissem as suas origens nos séculos XVI e XVII, as fases pelas quais passou o Iluminismo, os significados que ele assumiu nos principais centros europeus, seus principais conceitos e expoentes. 1.2 As Abordagens do Pensamento Iluminista Para não cair em um lugar comum, que poucos escapam quando abordam o tema em ques- tão, os historiadores Francisco Falcon e Roberto Salinas criticam a forma com que o tema do Ilu- minismo é tratado em muitos livros, ora reduzido a uma espécie de recitativo de nomes de “grandes pensadores” e das suas obras principais, ficando sua importância histórica reduzida ao caráter de manifestação intelectual que expressa as idéias de uma “burguesia em ascen- são” (FALCON, 2004, p. 5) Ou então é exposto como “uma simples decoreba de nomes de livros e autores dispostos em ordem em uma espécie de cardápio ideológico do século XVIII”. (SALINAS, 1982, p. 9) Mesmo que se pretenda fugir desse tipo de exposição não há como deixar de citar alguns nomes que são os mais representativos do período como Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Dide- rot, D’Alembert, David Hume, entre vários outros. 1.2.1 O Iluminismo e seus significados Não se pode deixar de dispensar algumas palavras sobre significado, ou sobre os significa- dos que os termos Iluminismo e Ilustração assumem, já que, muitas vezes, aparecem como si- nônimos, quando, na verdade, são coisas distintas. À primeira vista, Iluminismo, é mais utilizado, enquanto que “Ilustração” é mais adequado, no entanto, é menos utilizado. ATIVIDADES Montesquieu em “O Espírito das leis” (1748) diz que as leis que vão governar um povo não são fruto do arbítrio de quem legisla essas leis. Para ele a realidade histórica e social de um povo é determinante para a elaboração das leis de um povo. Não há leis justas ou injustas desse ponto de vista, mas leis mais ou menos adequadas a um povo e a deter- minadas circunstân- cias de época e lugar. Montesquieu distingue três formas de governo. Identifique e faça uma breve caracterização dessas três formas de governo. 12 UAB/Unimontes- 6º Período Em um sentido mais geral, há uma ten- dência a associar Iluminismo como sinônimo de Ilustração, a referência a um movimento filosófico do século XVIII e, em alguns casos, referir-se ainda a algo que esteja associado a uma certa doutrina, ou até mesmo a algo so- brenatural. Existe, como se pode perceber, uma polissemia quanto ao significado de Iluminismo. Esta polissemia pode até mesmo ser contraditória, já que compreende algo racional, quando associa- do a um movimento filosófico, ou irracional, quando também relacionado a algo sobrenatural. (FALCON, 2004, p. 7-12) PARA REFLETIR Voltaire: filósofo francês crítico da reli- gião e da monarquia, anticlericalista, por excelência. Para ele é necessário ter uma religião e não acreditar nos padres. Segundo Voltaire a liberdade e a propriedade privada são os pilares da po- lítica, sua obra esteve mais preocupada com o conjunto das ativida- des humanas. ◄ Figura 1: Retrato de Montesquieu Fonte: http://bitacoras. rebeliondigital.es/Bitaco- ra_de_DLV.htm Acesso em: 16 de maio de 2011 Figura 2: Retrato de Voltaire Fonte: http://cora- caoduplo.blogspot. com/2010/12/voltaire-um- -livro-por-dia.html Acesso em: 16 de maio de 2011 ► 13 História - História Moderna II Conforme a distinção observada por Francisco Falcon, há “uma profunda diferença entre o senti- do religioso da iluminação mística e o sentido secu- lar da iluminação racional.” (FALCON, 2004, p. 16) Já que, em um sentido mais geral, Iluminis- mo compreende esses múltiplos significados, quais significados teriam então o termo “Ilustra- ção”? De uma maneira geral, o termo refere-se a um conjunto de conhecimentos, ou a alguém de notável saber, erudição e esclarecimento. Ilustração também compreende uma cer- ta polissemia. Neste caso, tanto pode encerrar um significado mais genérico, quanto pode equivaler-se ao mesmo significado de Ilumi- nismo. Em razão dessas possibilidades de sig- nificados, o uso de qualquer um dos termos fica a critério de cada um, mas parece mais adequa- do o uso de Ilustração. (FALCON, 2004, p. 7-12) PARA REFLETIR Diderot é a principal figura da enciclopédia. Ele rompe definitiva- mente com a filosofia tradicional e a teologia (professa um resoluto ateísmo e um conse- quente materialismo). “Tudo é matéria”, pensa Diderot e a “matéria é a essência do real”. As ideias dependem dos sentidos. Politicamente se guia pelo princípio da utilidade. Rousseau publica “Do contrato social”, defen- dendo a liberdade e a soberania. É considera- do um desmancha pra- zeres da festa iluminis- ta por ser contraditório e paradoxal. ◄ Figura 3: Retrato de Diderot Fonte: http://www. bacdefrancais.net/biodi- derot.htm Acesso em: 16 de maio de 2011 ◄Figura 4: Retrato de Rousseau Fonte: http://www.crawfordsworld.com/rob/apcg/Uni- t1rousseau.htm. Acesso em: 16 de maio de 2011 14 UAB/Unimontes - 6º Período A ideia principal do iluminismo reside no fato de a gestão da sociedade estar submetida ao império da razão e esta razão não se sub- mete a nenhuma autoridade, pois é soberana e livre. Os filósofos iluministas criticam a igreja e o cristianismo que eram a essência daquela sociedade. Para os iluministas, a racionalida- de vem “iluminar as sombras do erro e da ig- norância”. Razão é mudança que levam a um novo pensar (o pensar racionalmente) em que tudo deve ser submetido ao espírito crítico, inclusive o próprio poder político é objeto de investigação racional, uma vez que a razão humana vai se apossar desse poder político e conduzir o homem a plena realização de seu destino. (ARANHA e MARTINS, 1995) 1.2.2 O Iluminismo nas nações europeias Depois de visto os diversos significados que possuem os termos Iluminismo e Ilustração (e sua concepção mais essencial), é importante, quando não, necessário, perceber como alguns desses termos foram construções extemporâneas e também tiveram significados diferentes, em diversos lugares da Europa. PARA REFLETIR David Hume: esse filó- sofo escocês foi muito influenciado pelas ideias de Locke. Para ele, o verdadeiro fun- damento do governo é o hábito e “na base de todo o conhecimento achava-se pois uma crença”. ◄Figura 5: David Hume Fonte: http://www.cfh. ufsc.br/~conte/hume.html Acesso em: 16 de maio de 2011-05-16 GLOSSáRIO Fisiocracia: idéia de que a terra era a principal fonte de riqueza e a agricultura era o grande instrumento ci- vilizatório. Tinha como um dos seus principais expoentes, Turgot. Figura 6: Retrato de Turgot Fonte: http://www.memo. fr/Dossier.asp?ID=783 Acesso em: 16 de maio de 2011 ► 15 História - História Moderna II Palavras como ilustrar, iluminar, entre várias outras, são estranhas ao vocabulário do século XVIII e foram criadas no século XIX, portanto, fora do ambiente intelectual do Ilu- minismo. Mesmo no século XVIII variava muito o significado do Iluminismo, sendo mais apro- priado considerar os vários significados que o termo assumia, nos vários lugares, ou pelo menos naqueles que são considerados os mais expressivos, França, Alemanha e Inglaterra. Na França, por exemplo, o termo “Lumiè- res”, “expressa à noção de um movimento in- telectual com o qual ‘os filósofos’ e ‘homens de letras’ franceses sentem-se solidários, pois são os seus protagonistas”. (FALCON, 2004, p. 13) Já na Alemanha, “Aufklãrung”, (palavra alemã para designar Iluminismo), quer dizer esclarecimento, descobrimento, reconheci- mento. A palavra assume ainda o sentido me- teorológico de tempo sereno, o de tempo que se torna claro. Já no âmbito intelectual, quer dizer esclarecimento racional. Um significado diferente também passa a ter termo o vocábulo quando analisado na Ingla- terra, neste caso: “to enlighten”, “possui um sentido mais dirigido para as questões de natureza moral e econômica”. (FALCON, 2004, p. 14) No contexto lusitano, “luzes” e “iluminados” são os termos mais usados para se referirem a ideias dos chamados iluministas. O mesmo termo, “iluminados”, era empregado na Espanha para se referir aos místicos, também conhecidos como “alumbrados”. (FALCON, 2004, p. 17) Mesmo com toda a diversidade de seus significados, “Entre uma coisa e outra há um espaço mental, maior ou menor, tendente à contestação, da própria realidade.” Nisto consiste a impor- tância do caso da França em que pauta por uma “crítica violenta ao existente” (FALCON, 2004, p. 15), ou seja, ao estabelecido. Iluminismo é, portanto, um conceito ambíguo, em que não necessariamente se vincula a um movimento intelectual. Não há uma unidade de princípios, mas uma pluralidade deles. Como será discutido, mais adiante, o Iluminismo também não é possível de ser associado a uma época, o século XVIII (FALCON, 2004, p. 16). Em resumo: Iluminismo tanto pode significar a doutrina dos que acreditam na “Iluminação interior” ou mística, a qual para outros constituía uma espécie de manifestação “irracionalista”, quanto, justo o oposto, Iluminismo é sinônimo de “filosofia das luzes”, isto é, da chamada “iluminação racional”. (FALCON, 2004, p. 17) (grifos do autor) Outro motivo por que não se pode considerar que o Iluminismo tenha assumido um signifi- cado único nas mais diversas partes da Europa é que se compara, mais uma vez, os significados que o termo ganhou na França e na Alemanha (ou nos Estados Alemães como é mais apropria- do considerar). Enquanto nessa, o Iluminismo apresentou uma tendência de estar até mesmo ao lado da teologia (ou de certas concepções teológicas), naquela assumiu um sentido de franca oposição a Igreja, como ensina Hegel em Lições de História da Filosofia (HEGEL, apud: SALINAS, 1982). Isto porque nos “países” protestantes certos dogmas da Igreja já vinham sendosubmetidos a uma série de críticas, além do que as próprias Igrejas envolvidas nos movimentos de reforma também procuravam valorizar a Razão, do livre arbítrio às Sagradas Escrituras e eram contra o predomínio absoluto da fé. (SALINAS, 1982, p. 17-18). Foi a França e mais precisamente sua capital Paris, que se tornou o centro difusor do Ilumi- nismo, lugar onde era produzida a célebre Enciclopédia. Aqui, o Iluminismo ganhou o sentido de oposição à ordem estabelecida e nisto consistiu a sua importância. (FALCON, 2004; SALINAS, 1982) PARA REFLETIR Adam Smith é o pai da economia política. Em seu trabalho “A Riqueza das Nações” defende a não intervenção do Es- tado na economia. Ele inaugura o liberalismo econômico. ◄ Figura 7: Retrato de Adam Smith Fonte: http://asgestoras. blogspot.com/2011/04/ adam-smith-e-administra- cao.html Acesso em: 16 de maio de 2011 PARA REFLETIR A Enciclopédia é a obra que expõe as prin- cipais ideias dos filóso- fos iluministas. Diderot foi a principal figura, mas outros filósofos colaboraram: Rosseau, Voltaire, D’Alembert, Helvetius, Dumarsais, D’Holbach, Toussaint, Raynal, Paul Landois, entre outros. 16 UAB/Unimontes - 6º Período 1.2.3 O Iluminismo: seu tempo e origens De um modo geral, o Iluminismo é asso- ciado à Europa e ao século XVIII. Essa generali- zação precisa ser problematizada. Primeiramente, questiona-se quanto ao período em que o Iluminismo aparece mais comumente relacionado, o século XVIII, fre- qüentemente chamado “século das luzes”. Não há um consenso entre os estudiosos quanto a cronologia do Iluminismo. A cronologia esta- belecida por Franco Venturi, embora o próprio autor reconheça a existência de outras, será adotada aqui. (VENTURI, 1970, apud: FALCON, 2004, p. 20-22) Alguns historiadores chegam a defender que o Iluminismo do século XVIII é tão somen- te o ponto culminante de um processo que remonta ao século XVII, mais precisamente a Revolução Científica. Mas, há ainda quem re- cue suas origens a um período ainda anterior, remontando-o ao Renascimento dos séculos XV e XVI. (SALINAS, 1982, p. 26) De todo modo, é certo que “Não é o sé- culo XVIII que exalta e descobre os poderes da Razão.” (SALINAS, 1982, p. 23) Em face dessas considerações não se deve esvaziar a importância que teve o movi- mento das luzes, que também criou algo novo para o período. Em defesa da originalidade da “filosofia das luzes”, para Ernst Cassirrer “... o Iluminismo criou realmente uma forma de pensamento que era original em sua totalida- de, pois só no que diz respeito ao conteúdo ela continuou na dependência das elucubra- ções dos séculos precedentes.” (CASSIRRER, 1950, p. 13, apud: FALCON, 2004, p. 40) Em razão dessas experiências anteriores é que não se deve sobrevalorizar o século XVIII. “Do ponto de vista do conteúdo das doutri- nas ou das grandes descobertas, o século XVIII pouco acrescenta, na realidade, às conquistas anteriores.” (SALINAS, 1982, p. 26). Em outra passagem do seu livro O Iluminismo e os Reis Filósofos, Roberto Salinas afirma em relação ao século XVIII: “... não é pelo alcance das novas descobertas e pelo avanço geral dos conheci- mentos que se mostra melhor a originalidade do século anterior.” (SALINAS, 1982, p. 27) É na década de 1740 que a circulação de ideias atinge os principais centros europeus: Espanha, Itália, Viena, Berlim, Paris. Nos anos 60, o Iluminismo abarca quase toda a Europa, da Península Ibérica a Rússia. Entre 1740 e me- ados de 1770, o Iluminismo atinge o seu ápice, embalado pela publicação da Enciclopédia e sua difusão pela Europa. (VENTURI, 1970, apud: FALCON, 2004, p. 21-22) Seu encerramento te- ria se dado com a Revolução Francesa de 1789, mas há quem defendesse que as ideias ilumi- nistas permaneceram influentes e continua- ram a ser difundidas. 1.2.4 Origens sociais dos iluministas Outra questão bastante discutida quando se estuda o Iluminismo diz respeito às origens so- ciais dos iluministas. É quase lugar comum associar o Iluminismo a uma corrente de pensamento que constituía a expressão de um novo grupo, ou de uma nova classe, como querem alguns, que se encontrava em ascensão naquele momento, a burguesia. (FALCON, 2004, p. 24; SALINAS, 1982, p. 23) De fato, este aspecto não deixa de ser verdade. Mas isto, como diria Roberto Salinas, “Evi- temos a todo custo os reducionismos simplificadores.” Esta visão não deixava de fazer parte de certa vertente do marxismo que procurava reduzir as principais transformações da sociedade: a luta de classes. É empobrecedor: Dizer, nestas condições, que nos achamos diante de ideólogos da burguesia não é a última palavra no movimento de explicação. Ao contrário: verdadeiro, este rótulo serve-nos apenas como indicação inicial que não nos dispensa do árduo trabalho de enfrentar o pensamento destes filósofos na complexidade e riqueza que o caracteriza. (SALINAS, 1982, p. 22) Explicar as bases sociais do Iluminismo por esse ângulo, ou seja, enquanto expressão de uma ordem burguesa, seria tomar Montesquieu, Diderot, Voltaire, Rousseau, o Barão d’Holbach, como pertencentes a uma mesma origem social, o que não era verdade. O Barão d’Holbach, por exemplo, eram um nobre e autor de uma obra considerada de orientação iluminista. Em relação ao nível social, os enciclopedistas “se situam exatamente a meio caminho da grande e média burguesia, bastante próximos das camadas sociais mais elevadas... mas não mui- to longe do povo trabalhador...”. (PROUST, 1963, p. 505, apud: FALCON, 2004, p. 28) 17 História - História Moderna II Outro caso é o de Montesquieu. Charles Lous de Secondat, ou simplesmente Barão de Montesquieu (1689-1755), nasceu no dia 18 de janeiro de 1689, no castelo de La Brède, nas proximidades de Bourdeaux na França, seus estudos iniciais se deram em sua própria casa, e mais tarde, quando passou a frequen- tar o colégio teve como professores, padres oratorianos bastante envolvidos com o clima cultural da época, que o influenciaram deci- didamente. Já na fase adulta realizou estudos de direito em Paris e apesar de breve retorno à sua terra natal, passa a frequentar vários sa- lões literários parisienses. Por mais de quatro anos percorreu várias partes da Europa co- ligindo material para compor uma de suas obras clássicas: O Espírito das Leis. O livro, na verdade, fora resultado de mais de 20 anos de trabalho. O Barão de Montesquieu parece um caso paradigmático, que impede a redução do Iluminismo à mera expressão de uma classe nova (a burguesia) em ascensão. Tinha origem aristocrática, foi uma das figuras mais emble- máticas do século XVIII, produzindo uma obra revolucionária. (SALINAS, 1982, p. 29-32) Ainda poderia ser aventado aqui o exem- plo de Helvétius que tinha origem nobre e era considerado iluminista. 1.2.5 A Secularização iluminista A secularização já foi definida como a “passagem da transcendência a imanência, da verticalidade a horizontalidade” no campo político, econômico, social, ideológico e em outros domínios do saber. A secularização tem como característica essencial a emancipação de cada um dos campos de conhecimento do homem, da esfera teológica e religiosa. (FAL- CON, 2004, p. 31-32). Como assinala Francisco Falcon, um dos aspectos mais conhecidos da secularização foi o desenvolvimento da críti- ca às crenças e práticas religiosas, em nome da razão e da liberdade de pensamento. (FAL- CON, 2004, p. 33) (grifos do autor) Não se deve, contudo, reduzir todo o com- plexo processo de secularização a uma visão ma- niqueísta e opor razão versus religião, ou natural versus sobrenatural. (FALCON, 2004, p. 33) A secularização não foi um processo line- ar ou homogêneo, a ponto de ser mais ade- quado considerar que houve secularizações. Não é possível,inclusive, opor frontalmente secularização e cristianismo, já que o que es- tava em questão naquele momento era uma ampliação da religião, não se tratava da rejei- ção a religião, mas do seu alargamento (FAL- CON, 2004, p. 34). Deriva disso, duas linhas de raciocínio. Uma que se pauta pelo reconhecimento da autonomia do entendimento humano; outra que apresenta uma tendência que busca con- ciliar a ciência com os valores espirituais. Pensa- vam assim, que era possível conciliar Razão e Re- velação, porém, não se pode perder de vista que é sabido que secularização não se opõe necessa- riamente a luz divina. (FALCON, 2004, p. 34-35) 1.2.6 O Racionalismo iluminista Na concepção iluminista, a razão é definida como um meio, um esforço intelectual para se chegar a verdade, de maneira autônoma. A razão iluminista se opõe a tudo o que é considerado irracional, constitui um “trabalho do intelecto, cujas ferramentas são a observação e a experimentação”. (FALCON, 2004, p. 37) É um instrumento de mudança, e esta mudança deveria ser a própria forma de pensar. Pensar racionalmente para os iluministas significa submeter tudo a crítica, duvidar e mesmo destruir. A crítica ao pensamento tradicional é uma das definições da razão iluminista, que não possui espaço proibido, já que é através da crítica ao existente que se produz algo novo e verda- deiro. As superstições, os ídolos, são barreiras que impedem o caminho de se chegar até a verda- de. A verdade é algo a se desvendar, a se descobrir. (FALCON, 2004, p. 37) O iluminismo negou, criticou, mas também procurou construir algo novo, como foi visto anteriormente. O lema do pensamento racionalista talvez pudesse ser resumido em uma frase: “ pensar por si mesmo”. Mas se tudo deve ser submetido ao tribunal da crítica, porque, então, não submeter às pró- prias ideias dos iluministas. Basicamente, é isto o que será proposto por Kant em um dos seus escritos mais notáveis. O texto surgiu em resposta a uma pergunta lançada por editores de uma revista alemã em 1783. A pergunta era “O que é o Iluminismo?” Uma das respostas de maior des- taque foi a de Kant, publicada em 1784: 18 UAB/Unimontes - 6º Período O que é o Iluminismo. A saída do homem da sua menoridade, pela qual ele é responsável. Menoridade, isto é, incapacidade de servir-se do próprio entendi- mento sem a orientação de outrem, menoridade pela qual ele é o responsável porque a causa dessa incapacidade não esta numa deficiência do seu enten- dimento, e sim na falta de decisão e de coragem para dele servir-se sem a di- reção de outrem. Sapere Aude! [ousai saber] Tem coragem de servir-te do tem próprio entendimento! Eis a divisa das “Luzes”. (PEREIRA, apud: FALCON, 2004, p. 19) Na medida em que o autor de Crítica da Razão Pura, propõe que o homem deve se livrar da “incapacidade de servir-se do próprio entendimento sem a orientação de outrem”, e que isto dependia muito mais de um gesto de ousadia. O “Ousai Saber” abriu caminho para que se ques- tionem as próprias ideias dos iluministas. A própria concepção de filosofia para os iluministas constituía uma forma de pensar, ou, de maneira precisa, uma forma racional de pensar todos os ramos do conhecimento, submetendo- -os à crítica com o fim de produzir algo novo. Só o progresso intelectual do homem permitirá a ele chegar a verdadeira liberdade. 1.2.7 A Enciclopédia “Enciclopédia ou Dicionário Raciocinado das Ciências, das Artes e dos Ofícios, por uma Sociedade de Homens de Letras foi organiza- da e publicada por Diderot e a parte Matemá- tica por d’Alembert”. Este era o título da céle- bre Enciclopédia, nela estava reunido o cerne do pensamento iluminista. A obra começou a ser publicada em Pa- ris no ano de 1751 e se estendeu até 1780. Seu processo de edição e publicação divide-se em duas fases: a primeira delas vai de 1751 a 1757, e a segunda de 1762 a 1772. Como o próprio tí- tulo sugere dedica-se às ciências, às artes e aos ofícios, seu conjunto compreende 35 volumes. Na produção da Enciclolpédia, para cola- borar com o projeto, foram convocados pro- fissionais liberais como médicos e advogados, e também cientistas. Escreveram intelectu- ais como Montesquieu, Voltaire, Rousseau; cientistas como Buffon, Fontenelle, o Barão d’Holbach; Quesnay, Turgot, Jaucourt (este o colaborador mais assíduo). Foram ao todo 142 colaboradores. Jean Leron D’Alembert (1717-1783), ou simplesmente D’Alembert escreveu o “Dis- curso Preliminar” (uma espécie de Introdução à Enciclopédia), que logo se tornou célebre, além de outros diversos verbetes. Entretanto, o principal organizador dessa grande emprei- tada era mesmo Diderot. Ele era a verdadeira “alma” da Enciclopédia e a ela dedicou a maior parte de sua vida. ▲ Figura 8: Imagem de uma Enciclopédia iluminista Fonte: http://historiafunbbe.blogspot.com/2008_07_01_ archive.html. Acesso em: 16 de maio de 2011 19 História - História Moderna II Nascido em Langres na França, sua vida quase que se confunde com a Enciclopédia. A história dele, que viria a se tornar um grande projeto editorial, começa quando Diderot é convidado para traduzir a Enciclopédia Cham- bers, enciclopédia inglesa contendo 5 volu- mes. Diderot, porém, ficou muito insatisfeito com as limitações da Enciclopédia que tradu- zia e propõe aos livreiros a ideia da Grande En- ciclopédia, tarefa pela qual passará a dedicar tempo integral, a partir de 1746. O primeiro volume só sairá depois de 5 anos. Paralelo aos trabalhos para a Enciclopé- dia, Diderot também leva uma produtiva e conturbada vida literária, com suas obras sen- do censuradas, chegando até mesmo a ser condenado à prisão na Bastilha. Enquanto estava preso, recebeu a visita de seus amigos filósofos e passou pela dor de ter perdido três filhos. Assim, no dia 1 de julho de 1751 vem a lume o primeiro volume da Enciclopédia, com um “Prospectus” de Diderot e um “Discurso Preliminar” de d’Alembert, que logo irá se tor- nar uma referência. O impacto da Enciclopédia é grande, mui- tos são os seus entusiastas, mas muitos tam- bém os seus críticos. A Enciclopédia tem um sucesso financeiro esplendoroso para a época com 3500 assinantes. O empreendimento faz a fortuna dos livreiros, mas não de Diderot que ao final da vida se queixava da penúria que vivia. Neste cenário, o trabalho chega a ser proibido, mas continua a ser produzido clan- destinamente, porém colaboradores de peso abandonam a empreitada, como d’Alembert. (SALINAS, 1982, p. 48-55.) A rigor, a ideia de Enciclopédia é anterior ao Iluminismo, e remonta ao Renascimento devido à necessidade de agrupar, ou mesmo organizar um conjunto de conhecimentos de um determinado momento. Iniciativas como essa constituem um esboço daquilo que irá se configurar como a área de humanidades. A Enciclopédia Iluminista (herdeira da tradição renascentista) avançou na concepção de não ser simplesmente um dicionário, já que como o seu próprio título sugeria, constituía um Dicionário raciocinado. (FALCON, 2004, p. 79-84). ◄ Figura 9: Retrato de D´Alembert Fonte: http://tipografos. net/historia/alembert.html Acesso em: 16 de maio de 2011 20 UAB/Unimontes - 6º Período Uma breve história da imprensa No livro, “Uma História Social do Conhecimento: de Gutemberg a Diderot”, o historiador in- glês Peter Burke discute a origem da imprensa e o seu impacto para a difusão do conhecimento. Nesse processo, o século XVIII, com o Iluminismo, teve importância decisiva. Para Burke, a inven- ção da imprensa com tipos móveis na Alemanha em torno de 1450, além de possibilitar a difusão mais ampla de conhecimento e a publicidade de toda uma variedade de conhecimentos, tam- bém facilitou a interação de diferentes tipos de conhecimentos. Em suas palavras: “Ela padroni- zou o conhecimento ao permitir que pessoas emlugares diferentes lessem os mesmos textos ou examinassem imagens idênticas” (p.19). “No início da Europa moderna, uma ‘explosão do conhe- cimento’ se seguiu à invenção da imprensa, aos grandes descobrimentos e à chamada ‘revolução científica’”. (p.20). Segundo o historiador inglês, a imprensa oferecia muitas oportunidades aos homens de letras na Europa e possibilitou a ascensão de novas profissões, como, por exemplo, os jornalistas que começaram a se multiplicar e se tornaram cada vez mais influentes, devido a proliferação de periódicos a partir do século XVIII (p. 34-35). Nos centros urbanos das principais cidades europeias surgiam novos espaços de sociabili- dade. Os cafés desempenharam papel importante na vida intelectual francesa, italiana e britâni- ca, a partir do século XVII. “Os donos dos cafés frequentemente exibiam jornais e revistas como modo de atrair clientes, encorajando assim a discussão das notícias e o surgimento do que mui- tas vezes é chamado de ‘opinião pública’ ou ‘esfera pública’. Estas instituições facilitavam encon- tros entre idéias e indivíduos” (p. 50-51). A biblioteca teve uma importância ampliada depois do advento da imprensa. Efetivamente surgiam novos lugares do conhecimento: livraria, cafés, bibliotecas, laboratórios, galerias de arte. O surgimento desses novos espaços era embalado também pela razão da grande quantidade de informações sobre a história natural de várias partes do mundo que afluíram para a Europa no início do período moderno (p. 56-60). Cidades como Roma, Paris, Londres figuravam como verdadeiras capitais do conhecimento. (p. 64-65). Além disso, muitas dessas cidades eram importantes centros impressores – a exemplo destas referidas anteriormente - devem ser acrescentadas Veneza, Amsterdã, Sevilha (p. 75). “A longo prazo, a ascensão do ideal do conhecimento público é visível no início do período moderno e está ligada ao surgimento da imprensa (p. 80). Foi isto que levou a multiplicação de livros (p. 97). O surgimento da impressão teve duas conseqüências importantes: tornou as en- Figura 10: Primórdios da imprensa escrita Fonte: http://enferma- gemnojurua.blogspot. com/2010/06/hoje-e-dia. html Acesso em: 16 de maio de 2011 ► 21 História - História Moderna II ciclopédias disponíveis com maior rapidez e tornou-as ainda mais necessárias do que antes (p. 103). A invenção da imprensa transformou os manuscritos um tipo particular de documentos e levou a seu armazenamento em separado. A centralização dos governos seguiu a centralização dos documentos. Documentos que antes eram tratados como propriedade privada de funcio- nários eram agora considerados como pertencentes ao Estado (p. 128). A impressão encorajava a comercialização de todos os tipos de conhecimento. A partir da imprensa, os empreendedores se envolveram mais diretamente no processo de difusão do saber (p. 145). Seguiu-se uma produ- ção de atlas, enciclopédias, livros. Ao longo do século XVIII desenvolve-se a prática da assinatura (p. 151). Um exemplo significativo é o Jornal: “Gazetas de notícias impressas, registradas pela pri- meira vez na Alemanha em 1609, ganharam impulso na República Holandesa em princípios do século XVII e no século XVIII já estavam espalhadas na maior parte da Europa” (p. 152). Com todas essas transformações, o conhecimento se tornou um grande negócio. Nos pri- mórdios da Europa moderna o conhecimento estava ligado cada vez mais à produção via im- pressão e isso levou a um sistema de conhecimento mais aberto. Setores da sociedade interes- sam em tornar o conhecimento público. Por outro lado, um mercado de informações cresceu ao longo do período (p. 158). BURKE, Peter. Uma História Social do Conhecimento: de Gutemberg a Diderot. Rio de Ja- neiro: Jorge Zahar, 2003. 1.3 O Despotismo Esclarecido O Despotismo Esclarecido é a expressão usada para designar uma forma de governar que caracterizou algumas monarquias da Eu- ropa Moderna em meados do século XVIII. Os déspotas esclarecidos empreenderam políti- cas típicas do Absolutismo, como, por exem- plo, o fortalecimento do poder real. Entretan- to, adotaram algumas ideias relacionadas ao iluminismo, principalmente, tendo em vista a reforma e a modernização de seus Estados. O desenvolvimento do Despotismo Escla- recido se deu principalmente em áreas do cen- tro e do leste da Europa, como a Áustria, Prús- sia e a Rússia. Contudo, até mesmo em partes da Europa Ocidental, como Portugal e a Espa- nha, foram verificadas algumas políticas deste tipo. Em geral, são países de economia predo- minantemente agrícola, nos quais a burguesia era pouco expressiva e que foram governados por soberanos que empreenderam algum tipo de medida, visando à modernização de suas economias semifeudais. Para René Remond, o Despotismo Es- clarecido é uma variante da monarquia abso- luta, cuja principal característica é a ideia de uma sociedade governada por um príncipe de mentalidade ilustrada. Nessa linha de argu- mentação, o monarca era entendido como o responsável pela condução da modernização da sociedade e da economia. Eram objetivos do déspota, garantir as condições que leva- riam seu reino a atingir a prosperidade, através do aumento da riqueza e, consequentemente, ampliar seu poder e prestígio (REMOND, 1986). As políticas dos déspotas variavam de acordo com as especificidades regionais, po- rém apesar das variações, tiveram alguns pon- tos que podem ser considerados comuns em todas as suas variantes. Um bom exemplo dis- to, no campo social foi a tentativa dos sobera- nos empreenderem uma política que buscava a diminuição da influência eclesiástica na so- ciedade. Esta medida reflete em grande parte a influência exercida pelos ideais iluministas nas maneiras de governar dos déspotas escla- recidos. Os mais célebres monarcas, que gover- naram em sintonia com o ideal de governo do Despotismo Esclarecido, foram os soberanos Frederico II da Prússia, Catarina II da Rússia e José II da Áustria. Além destes, pode-se des- tacar também o Marquês de Pombal, ministro do rei Dom José I de Portugal e Aranda minis- tro de Carlos III da Espanha. Estes governantes promoveram reformas que ampliaram a edu- cação, estimularam a economia, fortaleceram a igualdade civil, racionalizaram a administra- ção pública e garantiram até liberdade de cul- to. Contudo, deve-se ressaltar que a maior par- te deles acabou foi fortalecendo a autocracia o que vai levar ao acirramento das contradições político-sociais. 22 UAB/Unimontes - 6º Período 1.3.1 O Despotismo esclarecido de Frederico II na Prússia Na Prússia, Frederico II, governou o país entre 1740 e 1786, tendo sido influenciado pe- las ideias de Voltaire o que o levaram a adotar medidas que permitiram a liberdade de culto, privilegiaram o ensino básico e a extinção da tortura aos criminosos. Também foi organi- zado um novo código legal que permitiu a liberdade de expressão no país. O desenvol- vimento industrial também foi estimulado através de programas oficiais. Foram funda- das “(...) manufaturas estatais, fomentadas as atividades naval e mineira e desenvolvidas as indústrias têxteis” (ANDERSON, 2004, p. 267). Frederico procurou tentar atrair imigrantes europeus que possuíam algum tipo de habili- dade relacionada com a produção artesanal e manufatureira. Até mesmo a agricultura rece- beu incentivo com a organização de trabalhos de drenagem nos campos, apoio a coloniza- ção e de melhorias no sistema de transportes. Apesar de todas estas políticas consideradas progressistas, o monarca não alterou a estru- tura social do país, pois a servidão permane- ceu como o sustentáculo da economia agrária prussiana. A Prússia permanece um Estado feudal, com os servos sujeitos à classe domi- nante, formada pela aristocracia Junker. 1.3.2 O Despotismo esclarecidode Catarina II na Rússia Já na Rússia sob Catarina II, que reinou entre 1759 e 1796, apesar da rainha ter cultiva- do um intenso contato com muitos filósofos franceses, as reformas foram mais acanhadas que na Prússia. Limitou-se a construção de es- colas e hospitais, promovendo o aumento da influência estrangeira na Rússia, em especial a francesa. Submeteu a Igreja Ortodoxa ao Estado russo e autorizou a liberdade de culto. Neste país não somente a servidão permane- ce como a situação da população servil até piorou, pois os proprietários passaram a ter o direito de condená-los a morte. A carta da no- breza, promulgada em 1785, garantiu a aristo- cracia o controle jurídico absoluto sobre a for- ça de trabalho. Além disso, a agricultura servil foi estendida até o território da Ucrânia. A in- dustrialização recebeu importante apoio, pois a governante criou indústrias de armamen- tos e metalúrgicas nos Urais, aproveitando as abundantes jazidas de ferro e cobre existentes. Figura 11: Retrato de Frederico II da Prússia Fonte: http://en.wikipedia. org/wiki/File:Frederick_II_ of_Prussia_ Coloured_dra- wing.png Acesso em: 16 de maio de 2011 ► ▲ Figura 12: Retrato de Catarina II da Rússia Fonte: http://atouchoflisbon.blogspot.com/2007_12_01_ archive.html.Acesso em: 16 de maio de 2011 23 História - História Moderna II 1.3.3 O Despotismo esclarecido de José II Áustria Outro exemplo de déspota esclarecido foi José II da Áustria, que governou entre 1780 e 1790. Em seu governo a servidão foi legalmente abolida através de uma série de decretos. Con- forme Anderson, (...) todos os súditos viram assegurado o direito de livre escolha em matéria de casamento, migração, trabalho, ocupação e propriedade. Nos locais onde esta não existia, foi assegurada aos camponeses a garantia da posse da terra e aos nobres proibiu-se a compra de parcelas (2004, p. 319). Também foi implementada a igualdade de todos perante a lei. A administração do Es- tado foi uniformizada e organizada, o que me- lhorou o sistema de arrecadação de impostos. O soberano também promoveu uma política que garantiu uma razoável liberdade de culto, bem como incentivou a educação secular che- gando a criar cursos para a formação de en- genheiros e funcionários. O governo também introduziu um código penal, modernizou a justiça e aboliu a censura. Vocês, caros alunos, devem estar se perguntando por que a Áus- tria, no final do século XVIII, não conseguiu um lugar mais central na política europeia da épo- ca. O problema é que boa parte das reformas modernizadoras adotadas pelo rei José II fo- ram neutralizadas por uma política de reação senhorial que se seguiu à morte do progres- sista soberano. O absolutismo “iluminista” de José II foi anulado por seu sucessor, Leopoldo II (ANDERSON, 2004, p. 320). 1.3.4 O Despotismo do Conde de Aranda na Espanha A Espanha também conheceu o Despotis- mo Esclarecido. Carlos III da Dinastia Bourbon, que governou o país até 1788 e deu importan- te apoio ao seu ministro, o conde de Aranda (1718-1799) que promoveu algumas medidas reformistas. Podem-se destacar as políticas empreendidas no sentido de fortalecer o co- mércio e estimular as indústrias de luxo e de tecidos. A administração foi dinamizada com a criação dos intendentes, uma cópia do sistema análogo criado pelo absolutismo Bourbon, na França de Richelieu e Mazzarino, no século an- terior. Esta medida terminou por fortalecer o poder do rei Carlos III. No Entanto, apesar das “Reformas Bourbônicas” que empreenderam um certo grau de racionalização do Estado es- panhol, assim como melhoraram a administra- ção colonial, tudo isto foi muito limitado, não conseguindo reverter o processo de derrocada do império sob os Bourbon. ◄ Figura 13: Retrato de José II da Austria Fonte: http://www.mundo- vestibular.com.br/arti- cles/6144/1/Iluminismo/ Paacutegina1.html Acesso em: 16 de maio de 2011 Figura 14: Retrato do Conde de Aranda Fonte:http://faculty-staff.ou.edu/L/A-Robert.R.Lauer-1/ BIBJovellanos. html. Acesso em: 16 de maio de 2011 ◄ 24 UAB/Unimontes - 6º Período 1.3.5 O Despotismo esclarecido do Marquês de Pombal em Portugal Em Portugal, o Marquês de Pombal, mi- nistro do rei Dom José I, realizou importantes reformas, muitas delas se estendendo até as colônias. As reformas implementadas pelo Marquês abrangeram praticamente quase todos os setores da vida política, social e eco- nômica da sociedade portuguesa, apoiando o comércio e a indústria, através da criação de Companhias que detinham o monopólio co- mercial nas colônias. Acrescenta-se a isso, o fato de ter expulsado os jesuítas do Brasil e de Portugal, fortalecendo a autoridade do poder real. Promoveu a reconstrução da capital, Lis- boa, que havia sido destruída por um terremo- to em 1755. Iniciou a modernização do ensino, criou bibliotecas e a imprensa régia. No âmbito econômico, as Companhias privilegiadas de comércio – além de uma Junta de comércio – criadas em 1755, eram compostas por representantes de grandes casas comerciais e tinham o objetivo de con- ceder empréstimos para o desenvolvimento de produtos manufaturados. As Companhias de Comércio criadas, na América portuguesa, compreendiam as Companhias do Estado do Grão-Pará e Maranhão em 1755, da pesca das baleias em 1756 e a de Pernambuco e Paraíba, no ano de 1759. Até mesmo na Ásia foi criada uma Companhia, em 1753. O reino também assistiu a criação de sua Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro em 1756. Uma importante medida tomada por Pombal foi a supressão dos estigmas de san- gue que repousavam sobre os chamados cris- tãos-novos. A origem desse estigma remonta ao ano de 1497, quando os descendentes de judeus portugueses, para não serem expulsos do reino, tiveram que se converter obrigato- riamente ao cristianismo, ficando conhecidos como “cristãos-novos”. Isto os impedia de ocu- par cargos e de terem acesso a certos benefí- cios. A medida adotada durante o consulado Pombalino, entretanto, não fora fortuita, mas visava atrair capitais de judeus dispostos a in- vestirem nas Companhias de Comércio. Também foram realizadas reformas no plano militar, no ano de 1763. Foi introduzido um modelo militar de inspiração prussiana, afastando assim as técnicas e estratégias dos exércitos da Áustria, Rússia e França, já en- tão vistos como ultrapassados. No reino, as reformas foram levadas a cabo pelo Conde Schaumburg-Lippe Buckeburg e não estavam destituídas de influência da Guerra dos Sete Anos (1756-1763) (WELHLING e WELHLING, 1999, p. 317) Na América, as reformas militares ficaram a cargo do Tenente-General austríaco João Henrique Bohm. As reformas militares tinham também o objetivo de reforçar os domínios coloniais, diante do assédio das potências es- trangeiras. Para essa tarefa em especial foi deslocado para o Brasil o sueco especialista em fortificações, Jacques Funck (BOSCHI, 2002, p. 90; MAXWELL, 1996). Um aspecto bastante acentuado do período pombalino, ou mesmo, das monarquias dos séculos XVII e XVIII na Eu- ropa, diz respeito à orientação da política eco- nômica conhecida como “mercantilismo”, que poderia ser ligeiramente definida como a in- tervenção do Estado na economia com vistas a assegurar “proteção, da moeda e dos esto- ques de metais preciosos, proteção da produ- ção, encorajamento e favores” (DEYON, 1973, 30). A forte intervenção do Estado na economia visa- va garantir uma rigorosa política de monopólios e controle fiscal, seguida do princípio de que o acúmulo de metais preciosos constituía uma po- derosa fonte de enriquecimento e ainda acom- panhada da busca desmesurada pela balança comercial positiva, ou seja, exportar mais do que importar (VAINFAS, 2000, p. 392). ▲ Figura 15: Déspotaesclarecido Marquês de Pombal Fonte: http://cphistoria. blogspot.com/ Acesso em: 16 de maio de 2011 25 História - História Moderna II Dessas orientações, sobrelevava-se o princípio da balança comercial favorável que “ditava os outros aspectos da política mercan- tilista” (DEYON, 1973, p. 30). Em outras palavras, o Estado deveria con- duzir a economia de modo a favorecer as ex- portações, controlar ou proibir a importação de produtos manufaturados a fim de obter um saldo positivo na balança comercial, porém deveria haver o incentivo a importação de ma- térias primas (FALCON, 1982, p. 89). O mercantilismo constituiu, desse modo, um instrumento de geração de riquezas, e nesse ínterim o fiscalismo “opera na realidade como um mecanismo de transferência de ren- das dos setores mais produtivos e dinâmico da sociedade para aqueles setores mais retarda- tários ou estagnados.” (FALCON, 1982). Apesar do fisco se apresentar quase sem- pre com a sua face mais perversa de extrator de rendas por meio da tributação, importante salientar também outro aspecto que decerto pouca oposição despertou que é o incentivo ao desenvolvimento industrial. Em relação ao princípio da balança co- mercial favorável, um dos aspectos mais cen- trais do mercantilismo, não deve ser, entre- tanto, sobrevalorizado, pois, quando se trata da importação de matérias primas, deve haver o incentivo por parte do Estado. O princípio puro e simples, por vezes obstinado, da ba- lança comercial favorável a todo custo, deu origem a um certo “mito”, conforme assinalou Francisco Falcon, não sendo bem entendido por alguns estudiosos (FALCON, 1982). 1.3.6 O Despotismo esclarecido: limites e alcances Como podemos perceber através, destes exemplos, caros acadêmicos, o Despotismo Esclarecido foi mesmo uma tentativa de al- guns monarcas empreenderem determina- das reformas que conduzissem seus reinos e impérios a modernidade, sem, contudo, per- derem seu poder. Muito pelo contrário, ape- sar de influenciados por certos ideais ilumi- nistas, conseguiram fortalecer a monarquia e até mesmo seu poder pessoal. Não se pode negar que muitas das refor- mas implementadas pelos déspotas esclareci- dos não tenham levado a progressos, princi- palmente, no que diz respeito à modernização e a secularização das sociedades em questão. Muitos obstáculos relacionados à estrutura arcaica do antigo regime funcionaram como atenuantes das reformas. No campo agrícola, por exemplo, as mudanças foram muito limi- tadas, pois os soberanos tiveram que conciliar suas políticas com os interesses aristocráticos vigentes. Até mesmo as mudanças na esfera jurídica, tiveram um tímido efeito, pois os reis tinham que levar em consideração, na elabo- ração dos códigos de leis, as ameaças advin- das de o seu próprio poder, decorrentes da adoção de uma legislação moderna. Como Decuzzi concluiu, na verdade, o Despotismo Escla- recido foi apenas uma tentativa, porém de sucesso duvidoso de se restaurar o poder e o prestígio da instituição monárquica, já então em um processo de decadência (DECUZZI, 2009, p. 20-31). 1.4 Referências ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. 2 ed. Tradução de Beatriz Sideau. São Paulo: Brasiliense, 1989. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filoso- fia. 2ª edição, Editora Moderna, São Paulo 1995. BOSCHI, Caio César. Administração e administradores no Brasil pombalino: os governadores da Capitania de Minas Gerais. In: Tempo. Dossiê: Política e Administração no Mundo Luso Brasilei- ro. Tempo, Universidade Federal Fluminense, Departamento de Historia da UFF. Vol. 7, nº 13, Jul. Rio de Janeiro: Sette Letras, 2002. BURKE, Peter. Uma História Social do Conhecimento: de Gutemberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. DECUZZI, Caio Rabello. A luz dos ideais: O Despotismo Esclarecido como plano político. Revista de Intenção e Debate Acadêmico. Ano 1, nº 1, p. 20-31, julho de 2009. 26 UAB/Unimontes - 6º Período DEYON, Pierre. O Mercantilismo. São Paulo: Perspectiva: 1973. FALCON, Francisco José Calazans. Iluminismo. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2004. FALCON, Francisco José Calazans. A época pombalina. (Política Econômica e Monarquia Ilustra- da). São Paulo: Ática, 1982. FORTES, Luiz Roberto Salinas. 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Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 27 História - História Moderna II UNIDADE 2 A Revolução Industrial 2.1 Introdução Ao se iniciar a discussão sobre a Revolução Industrial é bastante oportuno tomar as palavras de um dos seus principais estudiosos, “... a certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na história da huma- nidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades huma- nas, que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante, e até o presente ilimitada, de homens, mercadorias e serviços.” (HOBSBAWM, 1977, p. 44). Neste tópico serão discutidas questões de ordem conceitual em relação à Revolução Indus- trial, suas fases e origens. Figura 16: Vista de Fábricas inglesas no transcorrer da Revolução Industrial Fonte: http://ojornal2. blogspot.com/2008/04/ revoluo-industrial.html Acesso em: 14/05/2011. ▼ 28 UAB/Unimontes - 6º Período 2.2 A Revolução Industrial e seu Significado A Revolução Industrial não deve ser entendida como um acontecimento encerrado em si mesmo, mas precisa ser inserida dentro de um processo mais amplo que é o processo de forma- ção do sistema Capitalista, como procurou salientar José Jobson de Andrade Arruda: ... a Revolução Industrial é a culminância de um processo secular, com suas raí- zes fundidas na crise do sistema feudal, que consolida o modo de produção ca- pitalista, instaurando um sistema econômico-social, com sua forma peculiar de Estado e ideologia específica. No momento da Revolução Industrial, cristaliza- -se o capitalismo e é nesta perspectiva que procuraremos delinear a eclosão da sociedade industrial, de modo a estabelecermos uma relação dialética entre a Revolução Industrial e o capitalismo. (ARRUDA, 1994, p. 8) A Revolução Industrial poderia ser definida como a “criação de um ‘sistema fabril’ mecani- zado que por sua vez produz em quantidades tão grandes e a um custo tão rapidamente decres- cente a ponto de não mais depender da demanda existente, mas de criar o seu próprio mercado” (HOBSBAWM, 1977, p. 44) Figura 17: Interior de fábrica em que se explora o trabalho infantil Fonte: http://queilaferraz. fashionbubbles.com/tag/ revolucao-industrial/ Acesso: 14/05/2011 ► 29 História - História Moderna II 2.3 Fases da Revolução Industrial Procurando situar cronologicamente esse importante acontecimento, em seu sentido mais essencial, a “Revolução Industrial verifica- -se na segunda metade do século XVIII, na Grã- -Bretanha, divulgando-se no continente e no mundo nos séculos seguintes e desdobrando-se na riqueza de seus inventos.” (IGLÉSIAS, 1981, p. 16) A Revolução Industrial passou porfases e, normalmente, tem sido dividida da seguin- te forma: a Primeira Revolução Industrial, que compreende o final do século XVIII e o iní- cio do século XIX, com predomínio do uso da máquina a vapor e do carvão mineral como fontes de energia, a Segunda Revolução In- dustrial, compreendida no final do século XIX, em que predominou a utilização do motor à explosão e da energia elétrica para alimenta- rem as fábricas. Por fim, fala-se ainda em uma Terceira Revolução Industrial, ainda em curso, marcada pelo uso da energia atômica, não sendo raro ser caracterizada de Revolução Cibernética, em razão da difusão no uso dos computadores (ARRUDA, 1994, p. 20). Muitos historiadores tenderam a identi- ficar o começo da Revolução Industrial com a década de 1760, a exemplo de Paul Mantoux (MANTOUX, 1962, p. 21). Todavia outros estu- diosos apontaram a década de 1780, já que foi aí que todos os índices estatísticos econô- micos importantes deram um salto vertigi- noso (HOBSBAWM, 1977, p. 44). Hobsbawm, defensor dessa ideia, se justifica: “... trans- formação rápida, fundamental e qualitativa que se deu por volta da década de 1780...” (HOBSBAWM, 1977, p. 45). Para este historiador, a Revolução Indus- trial começou na década de 1780 e se fecha com a construção das ferrovias e da indústria pesada na Grã-Bretanha na década de 1840. A partida, ou “take-off”, para usar a ter- minologia em inglês, da Revolução Industrial, principalmente a sua primeira fase, com exati- dão, pode ser situada mais precisamente nos 20 anos que compreende de 1780 a 1800. Essa Revolução foi contemporânea, portanto, da Revolução Francesa (HOBSBAWM, 1977, p. 45). 2.4 Alguns Antecedentes Históricos A Inglaterra, em princípios do século XVII, era um país predominantemente rural, a maioria da população residia no campo. Vivia-se basicamente do cultivo de gêneros de primeira neces- sidade, da criação de ovelhas para o aproveitamento da lã e confecção de tecidos. Praticamente não existia comércio entre as diversas comunidades que integravam essa estrutura econômica, ainda de traços marcadamente feudais. DICAS Assista ao filme Barry Lyndon com a direção de Stanley Bubrik. O filme Barry Lyndon, de 1975 (183 min.), retrata bem a vida inglesa no século XVIII. Século em que se verificou a Primeira Revolução Industrial. Depois escreva uma crítica sobre a situação social que a revolução industrial gerou na Inglaterra. ATIVIDADES Quando uma deter- minada invenção traz por conseqüência a extinção de empregos, você é a favor de que essa inovação não seja utilizada? Qual a sua opinião? ◄ Figura 18: Cercamentos ingleses: movimento que expulsou mão de obra do campo para as fábricas do perímetro urbano. Fonte: http://www. portalsaofrancisco.com. br/alfa/revolucao-inglesa/ revolucao-inglesa4.php Acesso em: 14/05/2011 30 UAB/Unimontes - 6º Período Até meados do século XVII, na Inglaterra, o Rei exercia efetivamente o poder juntamente com a aristocracia. Após a Revolução de 1640, o poder passou para as mãos da gentry (nobres e grandes proprietários de terras), que se identificava com os grupos de mercadores. Logo após a Revolução, os grupos mercantis, que grosso modo, poderiam ser designados de “burguesia”, não foram imediatamente alçados ao poder político, mas passaram a exercê-lo por intermédio dos nobres proprietários. Como a Revolução Inglesa de 1640 houve a imposição de limites ao poder do Parlamento, e o confisco de propriedades régias (ARRUDA, 1994, p. 33-34), o que teve grandes implicações, como será possível ver mais adiante. A Revolução Industrial do século XVIII é, portanto, herdeira direta da Revolução Inglesa do século XVII, pois criou as condições básicas para que a indústria pudesse se desenvolver e possi- bilitou um novo grupo ter maior acesso ao poder (ARRUDA, 1994, p. 8). 2.5 Fatores do Pioneirismo Inglês O pioneirismo britânico não se deveu à superioridade tecnológica e científica. No campo da física e da matemática, por exem- plo, os franceses estavam muito à frente. Na França, chegou a ser fabricado um tear mais complexo que qualquer um que pudesse existir na Inglaterra. Os franceses ainda con- seguiam construir melhores navios. Mais tar- de, com a Revolução Francesa, vai haver um incentivo a criação e difusão de Escolas Poli- técnicas. Na Alemanha, também havia institui- ções voltadas para o treinamento técnico. Estes exemplos atestam a defasagem da edu- cação na Inglaterra em relação aos outros países da Europa, chegando, por essa razão, a ser caracteriza- da como “uma piada de mau gosto”. Apesar desse atraso, isto não significou desvantagem para os ingleses já que “poucos refinamentos intelectuais foram necessários para se fazer a revolução indus- trial” (HOBSBAWM, 1977, p. 45-46). Após a Revolução de 1640, que teve como resultado a execução de um rei, a ques- tão do desenvolvimento econômico se tornou uma política governamental. A Revolução, que assegurou maior poder a “burguesia”, possi- bilitou que grupos financeiros chegassem ao poder. Com isso, “A política estava atrelada ao lucro”, e “O dinheiro não só falava como gover- nava” (HOBSBAWM, 1977, p. 47). As transfor- mações que tiveram lugar no campo, também constituíram um fator decisivo para o pionei- rismo inglês. Após a Revolução de 1640, que também produziu como resultado a expropriação fun- diária, proprietários com espírito comercial passaram a dominar a terra, que era cultivada por arrendatários e pequenos agricultores. Com isso, não houve mais na Inglaterra um campesinato. As atividades agrícolas estavam voltadas para o mercado. Os Enclousure Acts, mais conhecido como a “Lei dos Cercamentos”, terminaram por ex- pulsar os camponeses para as cidades para trabalharem nas fábricas, constituindo, ao mesmo tempo, mão de obra e mercado con- sumidor nas cidades. A agricultura, trabalhada com técnicas mais intensivas, fornecia alimen- tos para os centros urbanos. Paralelo a todas essas transformações, também houve a criação de uma infraestrutu- ra de portos, estradas e vias navegáveis. Tudo isso servia para integrar mais a produção e ex- pandir o mercado. Nessa primeira fase da Revolução, o se- tor da economia que mais se desenvolveu foi o do algodão. PARA REFLETIR A rigor, a burguesia só passará a exercer o po- der político diretamen- te após 1832, ou seja, quando a Revolução Industrial já começa a entrar em sua segunda fase. (ARRUDA, 1994) Figura 19: Máquina de fiar. Este objeto foi o propulsor da Revolução Industrial. Fonte: http://queilaferraz. fashionbubbles.com/ historia-da-moda/design- -de-moda-evolucao- -industria-moda/ Acesso em: 14/05/2011 ► 31 História - História Moderna II A indústria algodoeira britânica, principalmente da região de Lancashire, conseguiu flores- cer graças à proibição de importação dos tecidos indianos, que eram de longe muito superiores em qualidade aos britânicos. Era com os panos da Índia que se alimentava o comércio de escra- vos em certos lugares da África, mas quando, por qualquer motivo, esse comércio era interrom- pido, os grosseiros tecidos ingleses ganhavam espaço. Durante a Revolução Industrial, “a escravi- dão e o algodão marcharam juntos” (HOBSBAWM, 1977, p. 49-50). As maiores oportunidades de expansão da indústria algodoeira estavam no comércio ultra- marino. A indústria algodoeira foi estimulada pelo comércio colonial que possibilitou uma ex- pansão ilimitada capaz de atrair os empresários a se lançarem na indústria. “O algodão, portanto, fornecia possibilidades suficientemente astronômicas para tentar os empresários privados a se lançarem na aventura da revolução industrial e também uma expan- são suficientemente rápida para torná-la uma exigência”. (HOBSBAWM, 1977, p.52) Os custos de montagem de uma pequena indústria eram relativamente pequenos e as máquinas eram proporcionalmente baratas. Além do mais, o “sistema doméstico”, ou ”put- ting out system”, constituía uma forma de ex- pansão da indústria, (HOBSBAWM, 1977, p. 53). A Inglaterra conseguiu monopolizar o co- mércio por meio das guerras e se tornou he- gemônica depois delas. “Em termos de vendas, a revolução indus- trial pode ser descrita, com a exceção dos pri- meiros anos da década de 1780, como a vitória do mercado exportador sobre o doméstico...” (HOBSBAWM, 1977, p. 51). A América Espanhola e Portuguesa se tornaram especialmente dependentes da In- glaterra, era um dos maiores mercados dos grosseiros tecidos ingleses. A Índia foi “desin- dustrializada”, “passou de exportador a merca- do para os produtos de algodão” da Inglaterra. “Era um grande marco na história mundial” (HOBSBAWM, 1977, p. 51). DICAS Assista ao filme “Oliver Twist” com a direção de Roman Polansky. O filme de 2005 (130 min.) conta a história de um menino (Oliver Twist) que, em meio a muitos outros, so- fre com as consequências da industrialização na In- glaterra. Depois, descreva em poucas palavras como era o cotidiano infantil em meio à Revolução Industrial. ▲ Figura 20: Ideia de produção algodoeira na época de 1760. Fonte: http://a7mi- dia.com.br/noticias/ conheca_a_historia_do_ algodao-2489.html Acesso em: 14/05/2011 32 UAB/Unimontes - 6º Período 2.6. Nova fase da Revolução Industrial: o surgimento das ferrovias Outra importante transformação que se assistiu na Revolução Industrial foi no setor de mi- neração. Isto porque qualquer país que queira se industrializar, mesmo nos dias atuais, não con- seguiria levar a efeito essa tarefa de mais maneira autônoma, sem desenvolver as chamadas in- dústrias de bens de capital. Estas também são chamadas de indústrias pesadas, isto em razão de que são indústrias que fabricam indústrias, ou seja, são unidades de produção industrial que fabricam máquinas ou materiais, como ferro e aço, que servirão para o desenvolvimento de ou- tras indústrias. Esse tipo de indústria (a indústria de bens de capital), naturalmente não é como as fábricas de algodão. Enquanto estas exi- gem recursos bem menores, aquelas exigem investimentos bem mais altos. Como então, atrair investimentos para esse setor tão dispendioso? Primeiramente, deve-se observar que a Inglaterra contava com reservas de carvão mi- neral bastante abundantes em seu território. Além do mais, o carvão inglês era de excelente qualidade e apresentava a enorme vantagem de ser ao mesmo tempo matéria-prima, para a fabricação do ferro, e servir também como fonte de energia para os fornos das indústrias. A exploração do carvão existia na Inglaterra desde o século XVI e no século XVIII era um se- tor que se encontrava já bastante desenvolvi- do. Durante a Revolução Industrial, este ramo da indústria inglesa não passou por nenhuma trans- formação revolucionária, foram antes melhorias. Mesmo que desse ponto de vista (das ino- vações técnicas), a exploração do carvão não forneceu nenhuma contribuição significativa, foi a partir da indústria mineral que houve uma das maiores contribuições da revolução industrial, que foi com o aparecimento da ferrovia. O surgi- mento dessas modernas e poderosas máquinas iria inaugurar uma nova fase da revolução indus- trial, ou iria mesmo se confundir com ela. ▲ Figura 21: Mineradores saindo da mina de carvão Fonte: http://namorados- dosapo.17.forumer.com/a/ geologia-o-estudo-da- -terra_post548-150.html Acesso em: 14/05/2011 33 História - História Moderna II A origem das ferrovias está intimamen- te relacionada com a exploração das minas de carvão: isto por que logo se percebeu que os carrinhos, que retiravam o carvão das pro- fundezas das minas, poderiam ser puxados por máquinas. Daí desenvolverem-se máqui- nas que poderiam se locomover, foi um outro avanço importante. Como, nesse período, os custos de transporte eram altíssimos, as loco- motivas passaram a ser usadas para a condu- ção de minerais a distâncias cada vez maiores e a um custo cada vez mais reduzido. “Tecno- logicamente, a ferrovia é filha das minas e es- pecialmente das minas de carvão do norte da Inglaterra.” (HOBSBAWM, 1977, p. 61) Aliado a todos esses fatores, uma outra questão que merece ser colocada é que a fer- rovia não deixava de alimentar o imaginário das populações que se beneficiavam dela e também daquelas que gostariam de ter o seu benefício: “Nenhuma outra da revolução in- dustrial incendiou tanto a imaginação quanto a ferrovia, como testemunha o fato de ter sido o único produto da industrialização do século XIX totalmente absorvido pela imagística da poesia erudita e popular.” (HOBSBAWM, 1977, p. 61) Apesar dos altos custos de investimento, as ferrovias apresentavam enormes vanta- gens. Entre elas, estava a de integrar merca- dos e países isolados, a redução dos custos de transporte, entre várias outras. Nesse sentido é que se deve considerar que apesar de o desenvolvimento da indústria mineral não ter causado grande impacto sob o ponto de vista das inovações técnicas – foram antes melhoramentos, que transformações revolucionárias, como se disse em linhas atrás – a ferrovia acabou causando transformações tão profundas quanto à indústria algodoeira. Não se pode descartar uma certa dose de paixão dos investidores em canalizar seus re- cursos em um setor que exigia uma soma con- siderável de dinheiro. Aqueles que “...coloca- ram seu dinheiro nos altíssimos investimentos exigidos até por metalúrgicas bem modestas (em comparação com enormes engenhos de algodão) são antes especuladores, aventurei- ros e sonhadores do que verdadeiros homens de negócios.” (HOBSBAWM, 1977, p. 59) Uma explicação para a rápida expansão daquele setor na Inglaterra Vitoriana (1837- 1901) também deve ser buscada “... na paixão aparentemente irracional com que os homens e os investidores atiraram-se à construção de ferrovias.” (HOBSBAWM, 1977, p. 62) Esse tipo de empreendimento, apesar de extremamente dispendioso, não deixava de ser menos atrativo que outros ramos da indús- tria inglesa. Estas explosões de investimentos parecem irracionais, porque de fato poucas ferrovias eram mais lucrativas para o investidor do que para outras formas de empresa, a maioria produzia lucros bem modestos e muitas vezes nem chega- vam a dar lucro... (HOBSBAWM, 1977, p. 62) O que explicava então a parcimônia dos lucros e a disposição dos industriais ingleses em investir pesadamente em um setor pouco atrativo, sob o ponto de vista financeiro? Por que? O fato fundamental na Grã-Bretanha nas primeiras duas gerações da revolução industrial foi que as classes ricas acumulavam renda tão rapidamen- te e em tão grandes quantidades que excediam todas as possibilidades dispo- níveis de gasto e investimento. (HOBSBAWM, p. 62) Havia, portanto, uma disponibilidade de capitais na Inglaterra de então. Esses recursos fo- ram acumulados graças aos vultosos lucros da indústria algodoeira e estavam agora sendo ca- nalizados para a ferrovia. É possível intuir que caso essa grande soma de recursos disponível não fosse investida, aí sim a economia britânica poderia entrar em uma crise irremediável. O desen- volvimento da ferrovia foi providencial e “de fato, sob um ponto de vista econômico, seu grande custo era sua principal vantagem.” (HOBSBAWM, 1977, p. 61) As indústrias existentes, por exemplo, tinham se tornado demasiadamente ▲ Figura 22: O símbolo da Revolução Industrial: a Locomotiva Fonte: http://rauha- nahistoria.blogspot. com/2010_03_01_archive. html Acesso em: 14/05/2011 34 UAB/Unimontes - 6º Período baratas para absorver mais que uma porção
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