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DEMANDAS CONTEMPORÂNEAS EAD DIRIGENTES EDIÇÃO: ABRIL/2020 | PRESIDÊNCIA Prof. Dr. Clèmerson Merlin Clève | REITORIA Profa. Dra. Lilian Pereira Ferrari | DIRETORIA ACADÊMICA EAD Profa. Me. Daniela Ferreira Correa | DIRETORIA ACADÊMICA PRESENCIAL Profa. Me. Márcia Maria Coelho | DIRETORIA DE PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Dra. Liya Regina Mikami | DIRETORIA EXECUTIVA Profa. Esp. Silmara Marchioretto | COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DE GRADUAÇÃO EAD Prof. Me. João Marcos Roncari Mari | COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DE PÓS-GRADUAÇÃO EAD Prof. Me. Marcus Vinícius Roncari Mari | AUTORA Prof. Me. Laura Bittencourt Silva | COORDENAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MATERIAIS EAD Esp. Janaína de Sá Lorusso | PROJETO GRÁFICO Esp. Janaína de Sá Lorusso Esp. Cinthia Durigan | DIAGRAMAÇÃO Esp. Cinthia Durigan | REVISÃO Esp. Ísis C. D’Angelis Esp. Idamara Lobo Dias | PRODUÇÃO AUDIO VISUAL Eudes Wilter Pitta Paião Estúdio NEAD (Núcleo de Educação a Distância) - UniBrasil | ORGANIZAÇÃO NEAD (Núcleo de Educação a Distância) - UniBrasil FICHA TÉCNICA EAD SUMÁRIO UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS UNIDADE 01 - HUMANIDADE: O NOSSO CAMINHAR OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM .........................................................05 INTRODUÇÃO ......................................................................................06 1. PANORAMA HISTÓRICO..............................................................06 1.1 Idade Média (476-1453) ................................................................08 1.2 Idade Moderna (1453-1789) .........................................................12 1.3 Idade Contemporânea (1789-) ......................................................17 2. A QUESTÃO ECONÔMICA ............................................................20 2.1 Capitalismo Comercial ou Mercantilismo ......................................22 2.2 Capitalismo Industrial ou Industrialismo .......................................25 2.3 Capitalismo Financeiro ou Capitalismo Monopolista .....................30 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................33 UNIDADE 02 - SOCIEDADE E CIDADANIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM .........................................................35 INTRODUÇÃO ......................................................................................36 1. ESTUDOS SOCIAIS: SOCIEDADE E SOCIOLOGIA .........................36 1.1 Marx (1818-1883) .........................................................................39 1.2 Durkheim (1858-1917) ..................................................................40 1.3 Weber (1864-1920) .......................................................................42 2. MERCADO E MEIO AMBIENTE: COMPETIÇÃO OU COOPERAÇÃO? .....44 2.1 Natureza .......................................................................................46 2.2 Produção ......................................................................................47 2.3 Consumo ......................................................................................49 3. A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA .................................................51 3.1 Formação .....................................................................................52 3.2 Cidadania e dignidade ..................................................................54 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................55 SUMÁRIO UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS UNIDADE 03 - DIREITOS HUMANOS: CONSTRUÇÃO NECESSÁRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM .........................................................57 INTRODUÇÃO ......................................................................................58 1. DIREITOS HUMANOS: CONSTRUÇÃO NECESSÁRIA ....................58 1.1 Contexto Histórico ........................................................................60 1.2 Sistemas Regionais de Proteção dos Direitos Humanos .................62 1.3 Teoria Geracional dos Direitos Humanos .......................................64 2. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA .............................................68 2.1 Quando a dignidade da pessoa humana é violada .........................70 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................76 UNIDADE 04 - APENAS LEGISLAR NÃO É GARANTIR OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM .........................................................78 INTRODUÇÃO ......................................................................................79 1. ESTADO E RELAÇÕES SOCIAIS .....................................................79 1.1 Igualdade .....................................................................................82 1.2 Equidade ......................................................................................83 1.3 Mediação nas Relações Sociais .....................................................86 1.4 Políticas Públicas ..........................................................................88 2. DEMANDAS CONTEMPORÂNEAS ...............................................90 2.1 Violência e Guerras .......................................................................92 2.2 Meio Ambiente, Recursos e Desastres Naturais ............................94 2.3 Transição Demográfica, Envelhecimento e Sustentabilidade Previ- denciária ......................................................................................96 2.4 Migrações e Deslocamentos Forçados ...........................................98 2.5 Choques Culturais e Multiculturalismo .........................................99 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................100 REFERÊNCIAS ....................................................................................102 UNIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM VÍDEOS DA UNIDADE https://qrgo.page.link/5FbPM https://qrgo.page.link/7qQLE https://qrgo.page.link/VAD7J 01 HUMANIDADE: O NOSSO CAMINHAR » Situar os principais acontecimentos históricos (atinentes à disciplina) e suas ca- racterísticas dentro das três Eras Históricas mais recentes; » Compreender as transformações da modernidade chegando à economia de mercado baseada no predomínio da iniciativa privada. U N ID A D E 0 1 6 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS INTRODUÇÃO Olá! Seja bem-vindo à disciplina de Demandas Contemporâneas! O objetivo principal desta disciplina é demonstrar a complexidade dos padrões sociais contem- porâneos pela abordagem de temas variados visando à quebra de paradigmas por meio de expo- sição crítica e reflexiva pautada pela equidade. Apresentando alguns períodos da humanidade, almeja-se que cada aluno consiga rever seus pa- drões de pensamento e analisar quais padrões sociais atuais merecem ser repensados e modificados. Nesta primeira Unidade, visitaremos também uma breve história econômica na modernidade culminando com a economia de mercado baseada no predomínio da iniciativa privada. Nem sempre serão apresentadas respostas ou conclusões aos questionamentos apresentados; muitas das vezes o que teremos serão provocações, ora, o objetivo principal da disciplina é a re- flexão pautada pela equidade. Apresentar minhas respostas pessoais ou de outros autores nem sempre será o caminho mais salutar à formação de seu pensamento crítico. Minha principal função aqui é traçar o caminho que você percorrerá sozinho, norteando seu pensamento, mas sem direcioná-lo de modo forçoso e impositivo. O aproveitamento desta disci- plina depende de você! O profissional moderno deve refletir acerca das infinitas demandas contemporâneas de modo arrojado, sem se contentar simplesmente com o que está formulado em doutrina. Deve buscar fatos para pautar seus argumentos e fontes seguras para se inspirar e fundamentar suas opiniões. Isso tudo porque demandas contemporâneas são todos os anseios da atualidade,que se modi- ficam; destacam; extinguem aceleradamente. Assim sendo, é pedante afirmar que a disciplina de Demandas Contemporâneas esgota as demandas contemporâneas. Aqui serão apresentadas algu- mas das mais relevantes para o momento, mas você deve estar preparado para pensar fora deste material e de acordo com os novos anseios e inquietações que surgem diuturnamente. Vamos juntos! 1. PANORAMA HISTÓRICO Da Pré-História até a atualidade, o homem e a sociedade passaram por diversas modificações. Muitas evoluções, porém, variadas vezes, por retrocessos. Qualquer história que se preze não é constituída apenas por uma evolução crescente, vitórias e conquistas; há altos, baixos, saltos de avanço e declínios. A História segmenta a evolução da humanidade em alguns períodos nos quais é possível notar um momento de ruptura, quando ocorre a passagem para uma nova idade e, com ela, surgem novos desafios; perspectivas; anseios; tecnologias; ideias; estilos de vida e por aí vai. U N ID A D E 0 1 7 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS São ao todo cinco Eras Históricas, conforme apresenta a linha do tempo a seguir: PRÉ-HISTÓRIA (até +/- 4 mil a.C.) IDADE ANTIGA (de +/- 4 mil a.C. a 476 d.C.) IDADE MÉDIA (de 476 a 1453) IDADE MODERNA (de 1453 a 1789) IDADE CONTEMPORÂNEA (de 1789 até hoje) Comparando essa linha do tempo com algumas das principais invenções da humanidade, fica nítida a mudança das necessidades inerentes ao homem ao longo das Eras. Observe: FIGURA 1 - LINHA DO TEMPO COM ALGUMAS DAS PRINCIPAIS INVENÇÕES Fonte: Shutterstock (2020). Se antes eram feitas descobertas – como o fogo –, hoje a maior parte são invenções (criações que envolvem uma criação/construção) e inovações de invenções (melhoramentos/modificações de invenções já existentes). Analisemos o caso da roda, que de rudimentar passou a ser altamente tecnológica, transitando por diversificados materiais e características ao longo do tempo. Ora, a roda dos carros é distinta das rodas de bicicletas e tratores em suas características e necessidades, cada uma com suas tec- nologias e adaptações de uma criação pré-histórica – que segue inalterada em sua essência. Outro possível exemplo são os celulares, que inovaram com relação aos telefones, e seguem se modificando desenfreadamente no mercado com novas especificações, funcionalidades, modelos, tamanhos etc. incontáveis pequenas e grandes inovações a partir de uma invenção. U N ID A D E 0 1 8 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS No Brasil, a Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996, regula os direitos e obrigações relativos à pro- priedade industrial, que envolve também o registro de marcas e patentes. Interessante mencionar os três requisitos para que uma invenção seja patenteável, constantes do artigo 8º da Lei nº 9.279/96: » Ser novidade; » Fruto de atividade inventiva; » Ter aplicação industrial. Os artigos 9º e 10 apresentam, respectivamente, modelo de utilidade e o que não pode ser consi- derado nem invenção, nem modelo de utilidade, logo, não pode ser patenteado. Fonte: Governo Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9279.htm. Acesso em 13 fev. 2020. SAIBA MAIS Inicialmente a busca era pelo necessário e funcional, hoje há inúmeros outros anseios que mo- vem as inovações, invenções e descobertas da humanidade – inclusive a economia e o mercado. Os próximos dois itens objetivam apresentar um breve panorama histórico geral das três Eras mais recentes da humanidade, quais sejam: a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea. A finalidade desses itens é contextualizar historicamente em que pés andava – e agora anda – a humanidade nesses períodos que serão discutidos com mais profundidade à frente, em diversas temáticas abordadas nesta disciplina, servindo de apoio para que não seja necessário esse retorno histórico a todo momento, pois daqui já sairá o gancho para nossos objetos. Por vezes, ao analisarmos um objeto específico, não nos damos conta da complexidade histó- rica abarcada por seu contexto. Ao realizar essa análise de objeto isolada, o que se tem é apenas uma rasa parcela de sua magnitude. Compreender o momento histórico do objeto auxilia a res- ponder muitas outras perguntas que, deslocadas dessa visão global, acabam surgindo e por vezes confundindo. Uma última razão é aproximar fatos históricos que podem parecer já distantes de nossa realida- de ou esquecidos em nossa memória, mas que ainda impactam no presente de uma forma ou de outra, além de mostrar como tudo está interligado em nível global. 1.1 IDADE MÉDIA (476-1453) Compreendida entre os séculos V e XV, a Idade Média é marcada pela forte influência religiosa, sobretudo pelo crescimento do cristianismo, que contava com os tribunais de Inquisição para com- bater práticas heréticas, bem como inspirou as Cruzadas – que objetivavam a conquista da Terra Santa, Jerusalém. U N ID A D E 0 1 9 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Uma das principais características do período é a descentralização do poder, marcado pelo sis- tema feudal ou feudalismo. O feudo contava com estrutura social estamental baseada na servidão e na relação de posse da terra concedida pelo suserano (senhor) aos servos. A terra era cultivada voltada à agricultura de subsistência. O sistema corriqueiramente adotado para a realização de negócios era o escambo, consistente na permuta de produtos, sendo as moedas adotadas apenas mais ao final do período. O sistema feudal vê seu declínio com o aumento das cidades e com a reorganização das relações comerciais, que ficam facilitadas pela organização e adoção do sistema monetário, contribuindo para o desuso gradual das práticas de escambo que já não eram mais tão funcionais em razão da pouca praticidade de transporte e negociação. A estrutura feudal não mais se sustenta e uma nova Idade tem início, como veremos no item 1.2. SAIBA MAIS Os tribunais de Inquisição compunham o corpo jurídico da Igreja Católica Romana. Exerciam po- der condenatório e punitivo sobre pessoas consideradas hereges ou que defendiam ideias con- trárias às pregadas pela Igreja. As condenações eram variadas, podendo ser desde prisão – perpétua ou não – a torturas e pena de morte. Um dos exemplos mais conhecidos da Inquisição é o caso de Joana D’Arc, que combateu na Guer- ra dos Cem Anos. Foi julgada herege e condenada à morte na fogueira. Desde 1920, após sua ca- nonização, é Santa Joana D’Arc, sendo possível encontrar imagens suas em igrejas, principalmente na França. Os cientistas também sofriam perseguições, como Galileu Galilei, cientista que defendia o helio- centrismo. Para não ser queimado vivo, leu uma confissão contrariando suas conclusões cientí- ficas e se comprometendo a não mais falar sobre elas. Dessa forma acabou condenado à prisão domiciliar perpétua. Estátua de Joana D’Arc fora da Catedral de Reims, cidade ao Norte da França. Fonte: Shutterstock (2020) U N ID A D E 0 1 10 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Nesse período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna ocorreu, em “meados do século XIV até o final do século XVI [não havendo consenso científico acerca de marcos de início e fim]” (BYINGTON, 2009, p. 7), o movimento artístico-cultural que ficou conhecido como Renas- cimento (Renascença ou Renascentismo), merecedor de um subitem específico em razão de sua importância histórica e em nossos estudos nesta disciplina. 1.1.1 RENASCIMENTO O termo que cunha o período vem da ideia de resgate defendida pelo movimento homônimo, referindo-se: Interessante destacar que, apesar da Renascença representar um resgate, conforme menciona- do, nada tinha de nostálgica. Do contrário; um dos estímulos dos intelectuais era a busca por ino- vações e desenvolvimento, pois viam-se como superiores com relação ao pensamento e produçãodos séculos passados (BYINGTON, 2009). O movimento teve sua origem: O período também é marcado pelo crescimento econômico, que colaborou com o desenvolvi- mento urbano, social, e naval – este culminando na expansão territorial e projetos de colonização por meio das “Grandes Navegações”. Houve quem conseguisse ascensão social em razão do acúmulo de capital, o que levou ao sur- gimento de uma nova classe social: a burguesia. AO RETORNO IDEAL ÀS FORMAS DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA ENQUANTO VERDADEIRA FONTE DA BELEZA E DO SABER. [...] OS INTELECTUAIS SE DEDI- CAVAM AO ESTUDO DA GRAMÁTICA, RETÓRICA E DIALÉTICA, EXERCITANDO-SE SEGUNDO OS MODELOS MAIS ELEGANTES DA ANTIGUIDADE, EM PARTICULAR O LATIM NEOCLÁSSICO. AO GRANDE DESENVOLVIMENTO DE TAIS ESTUDOS, DESIGNADOS STUDIA HUMANITATIS, DEU-SE O NOME DE HUMANISMO. SEUS PROTAGONISTAS, OS HUMANISTAS, FORAM A VANGUARDA DA GRANDE TRANS- FORMAÇÃO CULTURAL CHAMADA RENASCIMENTO (BYINGTON, 2009, p. 7). NAS CIDADES-ESTADO ITALIANAS E, GRAÇAS A SEUS HUMANISTAS E ARTISTAS, MATEMÁTICOS E ENGENHEIROS, BANQUEIROS E HOMENS DE NEGÓCIOS, A PENÍNSULA ITÁLICA FOI VANGUARDA DESSA REVOLUÇÃO CULTURAL QUE DALI SE ESTENDEU PARA O RESTO DA EUROPA. JUNTO COM AS CORTES, MAS SOBRE- TUDO POR MEIO DAS ORDENS RELIGIOSAS, AS NOVIDADES FORMAIS VIAJARAM PARA O NOVO MUNDO, ONDE SEUS ECOS SE ESTENDERAM PELO SÉCULO XVIII (BYINGTON, 2009, p. 7). U N ID A D E 0 1 11 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Renomados artistas fizeram parte do movimento renascentista, como Leonardo da Vinci (polí- mata, ou, como chamamos hoje em dia: “multipotencial” 1 que pintou e esboçou variadas obras, como a “Monalisa” e o “Homem Vitruviano”) e Michelangelo (responsável, dentre outras obras, pelos afrescos da Capela Sistina, no Vaticano, e pela escultura “Davi”), bem como escritores, por exemplo, Dante Alighieri, autor do livro “A Divina Comédia”. Representação do “Homem Vitruviano”, de- senho realizado por Leonardo da Vinci que representa o equilíbrio e a simetria ideais das proporções corporais. Fonte: Wikimedia Commons Pintura “Monalisa” de Leonardo da Vinci, um dos quadros mais famosos do mundo. Encon- tra-se no Museu do Louvre, em Paris, e atrai multidões do mundo todo. Fonte: Wikimedia Commons Parte do teto e paredes da Capela Sistina com afrescos pintados por Michelangelo. Fonte: Shutterstock (2020) 1 Pessoa capaz de atuar em diversos âmbitos não necessariamente correlatos. Como por exemplo Leonardo da Vinci, considerado um gênio. Da Vinci desempenhou, dentre outras habilidades, atividades como anatomista; en- genheiro; escultor; inventor; matemático; e pintor. U N ID A D E 0 1 12 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Detalhe de um dos afrescos de Michelangelo na Capela Sistina, no Vaticano, denominado “Juízo Final”. Fonte: Shutterstock (2020) Escultura “Davi”, realizada por Michelange- lo. Em mármore maciço, conta com mais de 5 metros de altura no total, sendo que mais de 4 metros são apenas do corpo. Retrata a história bíblica de Davi e Golias. Fonte: Shutterstock (2020) 1.2 IDADE MODERNA (1453-1789) Com o declínio do sistema feudal, começam a surgir os Estados Nacionais Modernos, tendo sido Portugal e Espanha os pioneiros. Os Estados Nacionais (ou também “Estados Modernos”) são fruto de gradual reformulação na dinâmica social, política e econômica dos feudos, que contaram intermediariamente com a ideia do Absolutismo (baseado na detenção do poder unicamente na figura do monarca, o Rei 2) e, por fim, nos Estados como vivenciamos hoje: Estado-Nações – mas esse último modelo apenas ao final do século XIX, já na Idade Contemporânea. Araújo (2016, p. 25) sintetiza da seguinte forma: 2 “Como base ideológica do Estado Absolutista ainda persistia a Teoria do Direito Divino dos Reis sendo a mais destacada na Europa. Baseada na crença de que o monarca deveria reinar por ser um representante de Deus na terra, colocava aqueles que eram contra o rei em oposição direta ao poder divino. As teocracias europeias seculares afirma- vam, desta forma, que o poder do rei somente poderia ser julgado por Deus” (ARAÚJO, 2016, p. 27). A FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO É FRUTO DA DESARTICULAÇÃO DO SISTEMA FEUDAL A PARTIR DA CRISE DO SÉCULO XIV, QUANDO O SISTEMA POLICÊNTRICO E COMPLEXO CONTROLADO PELOS SENHORES FEUDAIS AS- SIM COMO O PODER UNIVERSAL DA IGREJA CATÓLICA SÃO SUBSTITUÍDOS PELA CENTRALIZAÇÃO DE PODERES NAS MÃOS DE UM REI. U N ID A D E 0 1 13 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS É característica marcante do período a vantajosa aliança entre reis e burguesia, que garantia poder a ambos e viabilizava grande desenvolvimento aos Estados Nacionais, além de financiar os- tentação e luxo, inclusive por meio da pintura de obras de arte – ter um autorretrato pintado era sinônimo de status àquela época; havia quem tivesse seu “pintor oficial” ou “retratista”. Saes e Saes (2013) abordam a expansão realizada pelas Grandes Navegações, ora mencionadas, e que foram possíveis em razão de investimento pecuniário burguês – que também permitiu a criação dos Exércitos Nacionais para o fortalecimento do Estado: Os mesmos autores apontam que essa expansão marítimo-comercial ocorreu também em ra- zão da busca por ouro: Com a expansão marítimo-comercial veio a exploração da África e, posteriormente a escraviza- ção, que dizimou tribos africanas. NO SÉCULO XIV, AVANÇOS NOS MEIOS DE NAVEGAÇÃO PERMITIRAM ULTRA- PASSAR O ESTREITO DE GIBRALTAR, DE MODO QUE O COMÉRCIO INTEREURO- PEU, ANTES APENAS TERRESTRE, DESLOCOU-SE EM PARTE PARA O ATLÂNTI- CO. CONSEQUENTEMENTE, HOUVE O ESTÍMULO PARA O DESENVOLVIMENTO DE CENTROS COMERCIAIS EM PORTUGAL, ESPANHA, INGLATERRA, HOLANDA E FRANÇA, OS QUAIS COMEÇARAM A RIVALIZAR COM OS ANTIGOS NÚCLEOS DO NORTE DA ITÁLIA, DE FLANDRES E DO NORTE DA ALEMANHA (SAES; SAES, 2013, p. 67). FREQUENTEMENTE SE ATRIBUI A EXPANSÃO COMERCIAL E MARÍTIMA – AS GRANDES NAVEGAÇÕES DO SÉCULO XV – À BUSCA DO OURO (DADA A ESCASSEZ DE METAIS PARA A CIRCULAÇÃO MONETÁRIA) E DE ESPECIARIAS, POIS O COMÉR- CIO COM O ORIENTE CONTINUAVA CONTROLADO PELAS CIDADES ITALIANAS – ESPECIALMENTE VENEZA – E PELOS MERCADORES MUÇULMANOS QUE TINHAM ACESSO DIRETO ÀS FONTES DESSES PRODUTOS DE LUXO E ESPECIARIAS (SAES; SAES, 2013, p. 68). Livro: “O Mercador de Veneza”, obra de William Shakespeare escrita por volta de 1596 que retrata o comércio veneziano e apresenta discussões relevantes que permanecem atuais, como precon- ceito, discriminação e intolerância. É nesta peça que se encontra a célebre passagem do julgamento entre os personagens do merca- dor (cristão, nobre e influente) e do agiota (judeu e avarento), respectivamente Antônio e Shylock. Disponível em: http://bit.ly/2OVNpy7. Acesso em 13/02/2020. LEITURA U N ID A D E 0 1 14 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS O cenário comercial sofreu alterações ao longo dos anos e a Holanda passou a ganhar destaque por meio da Companhia das Índias Orientais: EM SUMA, SE NO SÉCULO XVI COUBE A PORTUGAL E ESPANHA A LIDERANÇA NA EXPANSÃO MARÍTIMA E COMERCIAL, NO SÉCULO XVII, HOLANDA, INGLATERRA E FRANÇA OFUSCARAM O PAPEL EXERCIDO PELAS POTÊNCIAS IBÉRICAS. A EXPANSÃO HOLANDESA SE FEZ PRINCIPALMENTE POR MEIO DE GRANDES COM- PANHIAS COMERCIAIS. A MAIS IMPORTANTE DELAS – A COMPANHIA DAS ÍNDIAS ORIENTAIS, FUNDADA EM 1602 – CONCENTROU O MONOPÓLIO DO COMÉRCIO COM A ÍNDIA. MAIS DO QUE UMA EMPRESA, A COMPANHIA TINHA SUA PRÓPRIA MOEDA, SEU PRÓPRIO EXÉRCITO, CONSTRUÍA CIDADES E FORTALEZAS. [...] NO ENTANTO, NO FINAL DO SÉCULO, A HOLANDA PASSOU A SENTIR A RIVALIDADE DE UMA OUTRA POTÊNCIA: A INGLATERRA. DESDE O SÉCULO XVI, A COROA INGLESA IMPLEMENTAVA UMA POLÍTICA DE APOIO AO COMÉRCIO (SAES; SAES, 2013, p. 72). SAIBA MAIS Associada ao auge do comércio holandês à época, entre 1636 e 1637, ocorreu a primeira “bolha financeira” da história. PLANTAÇÃO DETULIPAS. Fonte: Shutterstock (2020). Encantados com as tulipas, houve aumento na produção dessa então nova e rara flor na Holanda. O cultivo era demorado, o que intrigava as pessoas e aumentava seu valor. O processo moroso levou à realização de contratos de promessa de compra e venda para o final de cada temporada anual de colheita de tulipas florescidas, o que movimentou a bolsa de valores holan- desa, pois muitas pessoas começaram a vislumbrar o lucro que poderiam obter na revenda das tulipas. A bolha “estourou” quando um desses contratos não foi cumprido, levando à queda vertiginosa no valor das tulipas e na “segurança desse investimento”. U N ID A D E 0 1 15 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Nesse mesmo período, entre os séculos XVII e XVIII (terminando em 1789), surge o movimento racionalista que ficou conhecido como Iluminismo. Seu auge foi na França, mas há representantes do movimento por quase toda Europa e também na América. Araújo (2016, p. 33) destaca o que essa corrente e seus diversos representantes tinham em comum a “valorização da razão como mé- todo para alcançar a verdade, renegando a tradição e a verdade revelada”. Complementa: SOB O PONTO DE VISTA SOCIOPOLÍTICO UNE OS ILUMINISTAS A CRÍTICA GENE- RALIZADA AO ANTIGO REGIME E SUAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS, ECONÔMICAS, SOCIAIS E CULTURAIS. EM MAIOR OU MENOR GRAU – ÀS VEZES APENAS A IRONIA, O SARCASMO –, ELES DESMERECEM A MONARQUIA ABSOLUTISTA, A LÓGICA INTER- VENCIONISTA-MONOPOLISTA DO MERCANTILISMO 3, O MONOLITISMO ESTANQUE DA SOCIEDADE ESTAMENTAL E O PREDOMÍNIO CULTURAL DO CLERO, CONSIDERADO PELOS ILUMINISTAS, EM GRANDE PARTE ANTICLERICAIS, O PROMOTOR DO OBSCU- RANTISMO MEDIEVAL E DA IGNORÂNCIA (ARAÚJO, 2016, p. 33). Dentre os Iluministas, válido mencionar alguns estudados até hoje, como por exemplo: Adam Smith; Montesquieu; Jean Jacques Rousseau; Augusto Comte; John Locke e Cesare Beccaria (ARAÚJO, 2016). As ideias iluministas passaram a ser adotadas com o intuito de defender o absolutismo, mas objetivando, conjuntamente, a modernização desses reinos, no que ficou conhecido como “des- potismo esclarecido”. O cenário comercial sofreu mais alterações e a Inglaterra foi ganhando notoriedade – também graças à sua adesão ao despotismo esclarecido (e vice-versa, tendo em vista que os déspotas esclarecidos passaram a ser vistos com bons olhos em razão do sucesso econômico inglês). Isso ocasionou grande avanço industrial em seu território, que obtinha destaque graças ao desenvolvi- mento da manufatura praticada em larga escala para os padrões da época, além do facilitado aces- so ao ferro; ao carvão; e à lã, essenciais às tecnologias e necessidades da época (ARAÚJO, 2016). Passam a surgir alguns problemas, como as condições de trabalho e garantias trabalhistas que não eram satisfatórias, sendo por vezes desfavoráveis aos operários com salários decrescentes e jornadas de trabalho diárias extenuantes. Isso, aliado à “uma explosão demográfica e uma urba- nização sem precedentes, fruto direto da instalação de indústrias nas grandes cidades do país” (ARAÚJO, 2016, p. 79), abriu caminho à 1ª Revolução Industrial – entre 1760 e 1850, ou seja, no período de transição entre as Idades Moderna e Contemporânea. Também nesse período ocorre o processo de independência dos Estados Unidos da América, finalizado em 1783 e, desde então celebrado todo dia 04 de julho pelos norte-americanos. Re- presentou o enfraquecimento e fim da ideia do Estado Absolutista e desencadeou o anseio pela independência de cada vez mais colônias ao redor do mundo. 3 O mercantilismo será abordado no capítulo 2 desta Unidade, que trata da questão econômica. U N ID A D E 0 1 16 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Na França, por sua vez, a independência dos Estados Unidos da América “expôs a contradição de uma França absolutista em um movimento liberal [influenciada pelos Iluministas], além de pro- porcionar uma posterior reaproximação com a rival Inglaterra” (ARAÚJO, 2016, p. 38). É nesse entremeio que se dá a Revolução Francesa, sendo que com a Queda da Bastilha fica marcada a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. Em exposição no Museu do Louvre, Paris. A liberdade 4 é representada no centro do quadro pela mulher empunhando a bandeira azul, branca e vermelha que foi adotada pela França como sua ban- deira. À época, o fato da liberdade ser representada por uma mulher e por essa mulher estar com os seios desnudos escandalizou a sociedade, que por muito tempo não aprovou a obra do artista. 4 Liberdade em conjunto com igualdade e fraternidade, representavam os ideais da Revolução Francesa. No 14 Juillet (14 de Julho) é comemorada a Festa Nacional Francesa ou Dia da Bastilha, feriado nacional francês que marca a Queda da Bastilha, em 1789, quando as camadas mais populares passaram a participar da Revolução Francesa. SAIBA MAIS Para compreender melhor o contexto social da Revolução Francesa, sugere-se a leitura do clás- sico “Os Miseráveis”, escrito por Victor Hugo e publicado em 1862. Mais tarde inspirou filmes e musical homônimo – a produção cinematográfica mais recente é de 2012 e conta com Anne Hathaway; Amanda Seyfried; Hugh Jackman; Russell Crowe, dentre outros atores de renome no elenco. Leia ao livro e/ou assista ao filme. VÍDEO FIGURA 2 - “A LIBERDADE GUIANDO O POVO”, PINTURA DE EUGÈNE DELACROIX, DE 1830 Fonte: Wikimedia Commons U N ID A D E 0 1 17 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS 1.3 IDADE CONTEMPORÂNEA (1789-) É em meio a esse conturbado período de mudanças sociais, políticas, econômicas e comerciais, com novas tecnologias que aumentavam a capacidade produtiva dos Estados, que ocorre a tran- sição com a derradeira passagem da Idade Moderna à Idade Contemporânea, que perdura até hoje. A Queda da Bastilha se tornou o marco transitivo entre referidas Eras Históricas em virtude da grande quebra de paradigmas que o evento representou. A França passava por déficit estatal e, para tentar revertê-lo, foi sugerida pelo controlador geral das finanças do Estado a taxação do clero e da nobreza. Vislumbrando a possibilidade dessa refor- ma ser realizada, tem início a Revolução Francesa: A invasão da Bastilha em busca de armas para a Guarda Nacional é o que ficou conhecido por Tomada ou Queda da Bastilha; junto com ela ruiu o despotismo. Esse conjunto representou aos franceses e ao mundo libertação (ARAÚJO, 2016). A Revolução Francesa termina em 1799, com a tomada de poder por meio do golpe de estado de Napoleão Bonaparte, que inicia seu governo pessoal que vai até 1815. Denominada por alguns de Era Napoleônica, o período de governo de Napoleão Bonaparte foi: A NOBREZA TRADICIONAL CONTROLAVA O PARLAMENTO, JÁ QUE O VOTO ERA ORGÂNICO E, NATURALMENTE, O CLERO E A NOBREZA COMUNGAVAM DOS MESMOS IDEAIS CONSERVADORES. PERCEBENDO SUA PEQUENA MARGEM DE MANOBRA – MESMO CONTANDO COM 578 DEPUTADOS (CONTRA 291 DO CLERO E 270 DA NOBREZA) –, OS REPRESENTANTES DO TERCEIRO ESTADO EXIGIRAM DE LUÍS XVI O VOTO INORGÂNICO, OU SEJA, INDIVIDUAL. COMO O REI TENTOU OBSTRUIR TAL INTENTO, ACOMPANHADO DE REPRESENTANTES DO BAIXO CLERO E DA NOBREZA TOGADA, OS MEMBROS DO TERCEIRO ESTADO DECLARARAM-SE EM ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE NO DIA 17 DE JUNHO DE 1789. PARA DEFENDÊ-LA DE POSSÍVEIS ATAQUES DO REI, A BURGUESIA FORMOU A GUARDA NACIONAL E, PARA INGRESSAR NO MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO, OS POPULARES DE PARIS BUSCARAM ARMAS NA FORTALEZA DA BASTILHA, ANTIGO SÍMBOLO DA REPRESSÃO DO ABSOLUTISMO FRANCÊS (ARAÚJO, 2016, p. 39). RESPONSÁVEL POR INSTITUCIONALIZAR ALGUMAS DAS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NA ORDEM POLÍTICA E SOCIAL FRANCESA, TAIS COMO O FIM DOS DIREITOS FEUDAIS, A IGUALDADE PERANTE A LEI, O DIREITO À PROPRIEDADE PRIVADA E A GARANTIA DO ACESSO DOS CIDADÃOS FRANCESES A CARGOS PÚBLICOS. HERDANDO UM PAÍS QUE VINHA DE PROFUNDA CRISE ECONÔMICA –UM DOS PRINCIPAIS MOTIVOS PARA A ECLOSÃO DA REVOLUÇÃO – E DEZ ANOS DE INSTABILIDADE POLÍTICA, NAPOLEÃO BONAPARTE BUSCAVA EFETUAR A PAZ INTERNA, A ESTRUTURAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL E, POR FIM, PROMOVER ALGUM AVANÇO DO PONTO DE VISTA ECONÔMICO (ARAÚJO, 2016, p. 47). U N ID A D E 0 1 18 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS O Imperialismo marca o início da contemporaneidade: Ao longo do século XIX é proibido o tráfico de escravos pelo Oceano Atlântico e, sequencial- mente, inicia a gradual abolição da escravatura dentro dos Estados. No Brasil, a abolição é fruto de um processo gradual encerrado apenas em 13 de maio de 1888, por meio da assinatura da Lei Áurea. O revés é que a Lei não previa suporte aos escravos libertos, o que desencadeou novos problemas sociais. O século XX é marcado por duas guerras com proporções mundiais que modificaram drastica- mente o rumo da história, trazendo inovações e mazelas. A 1ª Guerra Mundial foi de 1914 a 1918, fruto do nacionalismo exaltado. Fortemente marcada pela “guerra de trincheiras”, contou também com a utilização de submarinos. Seu término repre- sentou “o fim dos grandes impérios” (ARAÚJO, 2016, p. 121). O pós-guerra foi de tentativa de reconstrução da Europa, que enfrentava grave crise econômica. Os Estados Unidos da América retomam posição isolacionista (como antes do conflito). Também são iniciadas as tratativas para reorganização do cenário das relações internacionais (ARAÚJO, 2016). Em 1929 ocorre a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, ocasionando o que ficou co- nhecido como “A Grande Depressão”, que desestabilizou economicamente os Estados Unidos e, posteriormente, fragilizou toda economia global. Se antes os Estados Unidos estavam em posição isolacionista e favorável economicamente, podendo auxiliar o desenvolvimento econômico mun- dial, agora desestabilizavam o cenário econômico, influenciando a ocorrência da 2ª Guerra Mun- dial (SAES; SAES, 2013). Esse contexto pós 1ª Guerra Mundial também favorece a ascensão do comunismo e do fascis- mo, que, dentre outros fatores, levaram à 2ª Guerra Mundial. Acerca do fascismo, Araújo destaca: “o belicismo, militarismo ou mesmo o expansionismo são características destacadas dos regimes fascistas europeus, e a consequência natural de tais atitu- des levaria ao confronto, ao menos no campo ideológico, com as principais potências europeias” (ARAÚJO, 2016, p. 146). Em 1939 eclodiu a 2ª Guerra Mundial, que foi até o ano de 1945. Além do uso de tecnologias até então inexistentes, no contexto da guerra foram praticados preconceito; segregação; atrocida- des; e violações que ultrapassaram todos os limites (in)imagináveis. O FENÔMENO DO IMPERIALISMO (OU NEOCOLONIALISMO) SERIA, DE MANEIRA GERAL, A EXPLORAÇÃO DE ALGUNS PAÍSES EUROPEUS, MAIS JAPÃO E ESTADOS UNIDOS, SOBRE A ÁFRICA, A ÁSIA E A AMÉRICA LATINA, POR MEIO DO DOMÍNIO DIRETO (COLÔNIA/PROTETORADO) OU MESMO DE RELAÇÕES ECONÔMICAS ASSIMÉTRICAS (ÁREAS DE INFLUÊNCIA). AS FRASES [...] FORAM PROFERIDAS POR CECIL RODHES, UM DOS MAIORES IDEÓLOGOS DA CONQUISTA ULTRAMARINA PELO IMPÉRIO BRITÂNICO, E EVIDENCIAM COMO PENSAVAM OS GESTORES DA POLÍTICA EXTERNA EUROPEIA DO FINAL DO SÉCULO XIX (ARAÚJO, 2016, p. 85). U N ID A D E 0 1 19 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Em se tratando de segregação, ela não foi praticada apenas dentro dos conhecidos campos de concentração e extermínio. Houve também a criação do que ficou conhecido como “gueto”, bair- ros ou regiões isoladas dentro das cidades para a segregação dos judeus do restante da população. Mas a prática segregacionista não ficou restrita à Europa, nem ao contexto da Guerra. Antes, du- rante e até mesmo após o término da 2ª Guerra Mundial, houve também segregação racial nos Esta- dos Unidos (com atos de violência praticados desde o século XIX pela Ku Klux Klan, bem como por leis e convenções sociais vigentes até a década de 1970) e apartheid na África do Sul, entre 1948 e 1994. Após a 2ª Guerra Mundial, de 1947 até 1991 (com a queda do muro de Berlim), ocorre o que ficou conhecido como Guerra Fria, período marcado pela polarizada tensão entre soviéticos e estaduni- denses e suas distintas ideologias – o comunismo e o capitalismo, respectivamente (ARAÚJO, 2016). Nesse ínterim a América Latina é assolada por Regimes Militares que visam “combater a ame- aça comunista” e acabam praticando graves violações de direitos humanos diuturnamente, na contramão da nova visão de mundo pós 2ª Guerra Mundial quando foram criadas a Organização das Nações Unidas e o Sistema Interamericano de Direitos Humanos. O golpe civil-militar brasileiro, ocorrido em 1º de abril de 1964, perdurou até 1985, quando Tan- credo Neves foi eleito Presidente por meio de eleições indiretas. O período foi marcado por Atos Institucionais, censura, cassações, prisões arbitrárias, e exílios, além das graves violações de direi- tos humanos. Neste momento surgem diversos movimentos sociais de apoio a minorias no país. Os anos 2000 são marcados por atentados terroristas, como os ocorridos no fatídico 11 de se- tembro de 2001 nos Estados Unidos – e que deram causa a diversos conflitos, principalmente no Oriente Médio, como é o caso da Guerra do Iraque. Também são marcas do século XXI crises econômicas e aquecimento global, ocorrendo grandes desastres naturais e ambientais. Os desastres ambientais ou ecológicos são aqueles que ocorrem em decorrência de atividade humana. O maior e mais recente envolve o rompimento da barragem de Brumadinho, no interior de Minas Gerais, causando impacto no ecossistema da região e mortes. Os desastres naturais ocorrem independente da vontade ou atividade humana, como o caso de terremotos e tsunamis. Um exemplo é o terremoto ocorrido no Haiti em 2010, que deu início às migrações haitianas, inclusive em direção ao Brasil – mais uma marca do século XXI: migrações. “O Sol é para todos”, livro da escritora Harper Lee, lançado em 1960 e vencedor do Prêmio Pulit- zer. Aborda preconceito e desigualdade racial em uma cidade dos Estados Unidos na década de 1930 ao retratar também o julgamento de Tom Robinson, personagem negro acusado de estupro e defendido por Atticus Finch. O livro foi adaptado para o cinema e estreou em 1962, levando Os- car de Melhor Roteiro Adaptado, além do Oscar de Melhor Ator de Gregory Peck, que interpretou o advogado Atticus Finch. Leia ao livro e/ou assista ao filme. LEITURA U N ID A D E 0 1 20 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS 2. A QUESTÃO ECONÔMICA Economia: do grego, oikonomos, como ensina Mankiw (2019, p. 3), “pode ser entendida como ‘aquele que administra um lar’” e essa é uma analogia extremamente válida, ora: quem administra o lar, tal qual uma sociedade, necessita tomar muitas decisões. Se no primeiro caso, por exemplo, são divididas as tarefas do lar entre os membros da família; no segundo caso devem ser defini- das quais as tarefas necessárias àquela sociedade e quem as executará – não sendo essa divisão realizada apenas por um único planejador central, mas por todos. Desse modo: “Uma vez que a REFLITA Compreendidas as mudanças no decorrer das Eras Históricas, interessante apresentar esta linha do tempo da agricultura: LINHA DO TEMPO DA AGRICULTURA. Fonte: Shutterstock (2020). Diante de tudo que vimos até agora, quais os três aspectos que mais saltam a seus olhos na linha do tempo acima? Além desses aspectos que você notou, reflita sobre: » A quantidade e a qualidade dos cultivos; » O espaço das áreas cultivadas e o tamanho da área cultivada por uma pessoa sozinha; » O número de culturas disponíveis em uma região; » A tecnologia desenvolvida e empreendida com o passar dos anos. U N ID A D E 0 1 21 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS sociedade tiver alocado as pessoas (assim como terras, prédios e máquinas) para realizar diversas tarefas,deverá também alocar os bens e serviços que as pessoas produzem” (MANKIW, 2019, p. 3). Isso se chama “gestão de recursos” e é primordial em razão da escassez de recursos. Mas, afinal, o que é economia? Mankiw (2019, p. 4) define a economia como sendo o “estudo de como a sociedade administra seus recursos escassos”, sendo a função do economista estudar: Esse conjunto envolve também o mercado, que, para Mankiw (2019, p. 54): O mercado é avaliado, estudado e discutido pela economia e, assim como ela, passou por diver- sas mudanças no decorrer de sua história. COMO AS PESSOAS TOMAM DECISÕES: QUANTO TRABALHAM, O QUE COMPRAM, QUANTO POUPAM E COMO INVESTEM SUAS ECONOMIAS. ESTUDAM TAMBÉM COMO AS PESSOAS INTERAGEM UMAS COM AS OUTRAS. [...] POR FIM, OS ECONOMISTAS ANALISAM AS FORÇAS E AS TENDÊNCIAS QUE AFETAM A ECONOMIA COMO UM TODO (MANKIW, 2019, p. 4). É UM GRUPO DE COMPRADORES E VENDEDORES DE DETERMINADO BEM OU SERVI- ÇO. OS COMPRADORES, COMO GRUPO, DETERMINAM A DEMANDA PELO PRODUTO, E OS VENDEDORES, TAMBÉM COMO GRUPO, DETERMINAM A OFERTA DO PRODUTO. OS MERCADOS ASSUMEM DIFERENTES FORMAS. ÀS VEZES SÃO ALTAMENTE ORGANIZA- DOS [...]. MAIS FREQUENTEMENTE, OS MERCADOS SÃO MENOS ORGANIZADOS. Para entender de mercado, é necessário entender de economia, e para melhor compreender isso tudo, a leitura extra de alguns materiais é pri- mordial. Assim, recomendo a leitura de: MANKIW, N. G. Introdução à Eco- nomia. 8. ed. São Paulo: Cengage, 2019. Combinada com: SAES, F. A. M. de; SAES, A. M., A. História Econômica Geral. São Paulo: Saraiva, 2013. Destaco: » Como leitura básica: capítulos 1 e 4 de Mankiw (2019), respectivamente sobre economia e mercado, bastante didáticos; » Como leitura complementar (ou básica, caso você tenha elevado inte- resse pela temática): Saes e Saes (2013), as três primeiras partes, sobre história econômica como disciplina acadêmica; fundamentos teóricos e metodológicos; e objeto e método da história econômica geral – essas três partes lhe fornecerão aporte histórico de relevância e indicarão im- portantes nomes a quem você poderá recorrer para orientar seus estu- dos nessa área, pois é apresentada atualizada e completa revisão biblio- gráfica do estado da arte da História Econômica. Os livros podem ser acessados através da Biblioteca Virtual da Unibrasil. LEITURA Fonte: am azon.com .br Fonte: am azon.com .br U N ID A D E 0 1 22 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Saes e Saes (2013) apontam como e quando a Economia passou a ser vista como ciência, apre- sentando sintética e cronologicamente nomes de destaque para os estudos realizados neste campo: Dada a relevância de Adam Smith, considerado o “‘fundador’ da Economia (Política)” (SAES; SAES, 2013, p. 4), e de seus estudos econômicos, interessante destacar algumas informações so- bre o modo como Smith via a história da economia: Apresentada essa breve base acerca da temática, avancemos. Neste capítulo veremos as transformações do mercado a partir da Idade Moderna, chegando à Contemporaneidade, passando pelas três fases do capitalismo, quais sejam: o mercantilismo; o industrialismo; e o capitalismo financeiro. 2.1 CAPITALISMO COMERCIAL OU MERCANTILISMO Paralela à transição da Idade Média à Moderna, ocorre a gradual transição do sistema feudal de produção ao modelo capitalista, surgindo o capitalismo comercial. Nesse sentido, Araújo (2016, p. 28) aponta: “O comércio ganhava importância crescente na Europa desde os tempos do Renascimento Comercial e Urbano, mas com a formação do Estado Moderno Europeu torna- -se política de Estado”. A ECONOMIA ADQUIRIU PROGRESSIVAMENTE STATUS DE CIÊNCIA DEPOIS DA PUBLICAÇÃO, EM 1776, DE A RIQUEZA DAS NAÇÕES, DE ADAM SMITH. NO SÉCU- LO XIX, UMA VASTA PRODUÇÃO DE ESTUDOS DA ENTÃO CHAMADA ECONOMIA POLÍTICA CONSOLIDOU-A COMO UMA DISCIPLINA SOCIALMENTE RECONHECIDA: THOMAS MALTHUS, DAVID RICARDO, JEAN BAPTISTE SAY, JOHN STUART MILL SÃO ALGUNS DOS CHAMADOS ECONOMISTAS CLÁSSICOS AOS QUAIS SE AGRE- GA, EM VERTENTE DISTINTA, CRÍTICA, KARL MARX. A PARTIR DE 1870, HOUVE UMA MUDANÇA SUBSTANCIAL NO PENSAMENTO ECONÔMICO DOMINANTE: A CHAMADA REVOLUÇÃO MARGINALISTA ALTEROU O FOCO DA ANÁLISE ECONÔ- MICA, SENDO SINTOMÁTICA A TROCA DO NOME DA DISCIPLINA DE ECONOMIA POLÍTICA PARA ECONOMIA: O AUSTRÍACO KARL MENGER, O SUÍÇO LEON WALRAS E O INGLÊS STANLEY JEVONS FORAM PIONEIROS DESSA NOVA CORRENTE, QUE SE CONSOLIDOU COMO PRINCIPAL PARADIGMA DA TEORIA ECONÔMICA (E QUE, AO MENOS EM PARTE, SE MANTÉM ATÉ HOJE) (SAES; SAES, 2013, p. 3). SMITH VIA A HISTÓRIA DA ECONOMIA COMO UMA SEQUÊNCIA DE FORMAS DE ATIVIDADE ECONÔMICA: CAÇA E COLETA, PASTOREIO, AGRICULTURA, COMÉRCIO. ESSA SERIA A “ORDEM NATURAL” COMO DEVERIA TER ACONTECIDO OU ACONTE- CER EM CADA SOCIEDADE (SMITH, 1985, livro terceiro) (SAES; SAES, 2013, p. 4). U N ID A D E 0 1 23 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS O mercantilismo estava associado à ideia de política econômica – não constituindo mero sis- tema econômico –, tomando como base uma lógica intervencionista-monopolista que objetivava promover a primitiva acumulação de capitais (SAES; SAES, 2013; ARAÚJO, 2016). Por meio do intercâmbio proporcionado pelas grandes navegações, o mundo começou a se abrir para o comércio que, durante o mercantilismo, constituía atividade: FIGURA 3 - CRISTÓVÃO COLOMBO, O PRIMEIRO A CONDUZIR COM SUCESSO FROTA DE CARAVELAS DA ESPANHA AO CONTINENTE AMERICANO. Fonte: Shutterstock (2020). Conforme Frieden (2008, p. 18), o capitalismo comercial funcionava da seguinte maneira: REGULADA PELA FORÇA MILITAR EM BENEFÍCIO DO PODER DOMINANTE. OS DEFENSORES INTELECTUAIS DO SISTEMA PODERIAM JUSTIFICAR ESSA LÓGICA ECONÔMICA EXPLORADORA ARGUMENTANDO QUE OS DOMINADORES UTILIZA- VAM PARTE DAS RIQUEZAS ACUMULADAS PARA PROTEGER OS SUBJUGADOS, E QUE MUITOS NAS COLÔNIAS, DE FATO, APRECIAVAM A PROTEÇÃO. [HOUVE QUEM RECLAMASSE]. MAS, PARA MUITOS, PARECIA UMA TROCA JUSTA: O PODER MI- LITAR PERMITIA O CRESCIMENTO ECONÔMICO, E O CRESCIMENTO ECONÔMICO SOB O CONTROLE MERCANTILISTA FINANCIAVA O PODER MILITAR (FRIEDEN, 2008, p. 18). O PODER COLONIAL FORÇAVA SUAS POSSESSÕES A COMERCIALIZAR COM A METRÓPOLE PARA ENRIQUECER O GOVERNO E AQUELES QUE O APOIAVAM. OS PAÍSES DOMINADOS ERAM OBRIGADOS A VENDER EXCLUSIVAMENTE PARA A POTÊNCIA, QUE PAGAVA UM VALOR ABAIXO DO PREÇO DO MERCADO MUNDIAL POR PRODUTOS AGRÍCOLAS E MATÉRIAS-PRIMAS [...]. A POLÍTICA MERCANTILIS- TA TAMBÉM EXIGIA QUE AS COLÔNIAS COMPRASSEM MUITOS PRODUTOS DAS METRÓPOLES, GARANTINDO À PÁTRIA-MÃE O DIREITO DE VENDÊ-LOS ACIMA DO VALOR DO MERCADO MUNDIAL. U N ID A D E 0 1 24 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Araújo (2016, p. 29) sintetiza as seis principais práticas adotadas individualmente pelos Estados no mercantilismo a fim de obter para si recursos e riquezas: Ocorre que o sistema começa a não mais se sustentar com o passar dos anos, principalmente por não acompanhar o novo estilo de vida que se inicia com as inovações tecnológicas do século XVIII. É o que apresenta Frieden (2008, p. 19): FIGURA 4 – LOCOMOTIVA A VAPOR: UM DOS SÍMBOLOS DA 1ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Fonte: Shutterstock (2020) • BALANÇA COMERCIAL FAVORÁVEL: EXPORTAR UMA QUANTIDADE DE PRO- DUTOS MAIOR QUE AQUELES IMPORTADOS, ACUMULANDO A MAIOR QUANTI- DADE DE OURO E PRATA POSSÍVEIS. • PROTECIONISMO ALFANDEGÁRIO: COM O OBJETIVO DE DESESTIMULAR AS IMPORTAÇÕES, OS ESTADOS MODERNOS AUMENTAM A TARIFA ALFANDEGÁ- RIA PARA PRODUTOS ESTRANGEIROS. • COLONIALISMO: BUSCA POR TERRITÓRIOS NO ULTRAMAR. • EXCLUSIVO (OU TAMBÉM PACTO) COLONIAL: QUANDO A ECONOMIA DE UMA COLÔNIA ESTÁ SUBMETIDA AOS INTERESSES DA METRÓPOLE. • CORSO: ASSOCIAÇÃO ENTRE PIRATAS E ESTADOS NA INFORMALIDADE, É CLARO! OS CORSÁRIOS TINHAM CERTAS FACILIDADES EM TROCA DE PARTE DOS PRODUTOS ADQUIRIDOS MEDIANTE SEUS ATAQUES NO ATLÂNTICO SUL. • INDUSTRIALISMO: INCENTIVO À EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS MANUFATURA-DOS. PRÁTICA ESTA ADOTADA PRINCIPALMENTE POR AQUELAS POTÊNCIAS QUE NÃO OBTIVERAM NUMEROSAS CONQUISTAS ULTRAMARINAS NA PRIMEI- RA FASE DA EXPANSÃO MARÍTIMA. À ÉPOCA DAS GUERRAS NAPOLEÔNICAS, O MERCANTILISMO JÁ COMEÇAVA A SE ENFRAQUECER. A PARTIR DE 1750, OS INDUSTRIAIS BRITÂNICOS INTRODUZIRAM UMA ENXURRADA DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS QUE REVOLUCIONARAM A PRO- DUÇÃO. EMPREGADORES JUNTARAM DEZENAS – E ATÉ MESMO CENTENAS – DE TRABALHADORES EM GRANDES FÁBRICAS, UTILIZANDO NOVAS MÁQUINAS, FONTES DE ENERGIA E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO. [...] AS FÁBRICAS BRITÂNICAS PODIAM VENDER MAIS BARATO QUE A CONCORRÊNCIA PARA QUASE TODOS OS MERCADOS. OS INTERESSES ECONÔMICOS CRIADOS PELA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRITÂNICA CONSIDERAVAM O MERCANTILISMO IRRELEVANTE OU DANOSO. U N ID A D E 0 1 25 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Esse desenvolvimento faz surgir nos fabricantes britânicos o anseio pela eliminação das barrei- ras comerciais, permitindo que estrangeiros também vendessem à Grã-Bretanha. Frieden (2006, p. 19) expõe a lógica dos fabricantes: O vislumbramento do livre-comércio atrelado ao fortalecimento de Londres como centro finan- ceiro mundial, bem como aos acontecimentos ocasionados pela Revolução Industrial, foram modi- ficando a visão mercado, que de mercantilista acabou desembocando no capitalismo industrial – o que juntamente acarretou reformas nas instituições políticas britânicas e no sistema eleitoral; bem como a diminuição do poderio rural com relação ao da cidade, favorecendo a classe média que nesta habitava (FRIEDEN, 2008). 2.2 CAPITALISMO INDUSTRIAL OU INDUSTRIALISMO Com a 1ª Revolução Industrial em curso, a manufatura passa a ser substituída pela maquinofatu- ra – apesar de nunca desaparecer. Igualmente, o caráter corporativo é trocado pelo industrial, mais rápido e eficiente na produção, distribuição e desenvolvimento de mercadorias (SAES; SAES, 2013). Interessante destacar que é também nesse período que ocorre a transição da Idade Moderna à Idade Contemporânea, conforme mencionado no primeiro capítulo desta unidade. Saes e Saes (2013, p. 99) apresentam como a manufatura corporativa funcionava e passou a representar entraves ao comércio: OS FABRICANTES DA NAÇÃO PODERIAM REDUZIR SEUS CUSTOS DE FORMA DIRETA, COMPRANDO MATÉRIAS-PRIMAS A PREÇOS MAIS BAIXOS, E INDIRETA, UMA VEZ QUE A IMPORTAÇÃO DE COMIDA BARATA PERMITIA QUE OS DONOS DAS FÁBRICAS PAGASSEM SALÁRIOS MENORES SEM QUE HOUVESSE UMA REDUÇÃO NO PADRÃO DE VIDA DOS EMPREGADOS. AO MESMO TEMPO, SE OS ESTRANGEIROS GANHASSEM MAIS AO VENDER PARA A GRÃ-BRETANHA, TERIAM CONDIÇÕES DE COMPRAR MAIS PRODUTOS DO PAÍS. OS INDUSTRIAIS BRITÂ- NICOS TAMBÉM SE DERAM CONTA DE QUE SE OS ESTRANGEIROS PUDESSEM COMPRAR TODOS OS PRODUTOS MANUFATURADOS QUE PRECISASSEM DOS BARATOS PRODUTORES BRITÂNICOS, AQUELES TERIAM MENOS NECESSIDADE DE DESENVOLVER UMA INDÚSTRIA PRÓPRIA. POR ESSES MOTIVOS, AS CLASSES E AS REGIÕES FABRIS DA GRÃ-BRETANHA DESENVOLVERAM UMA ANTIPATIA PELO MERCANTILISMO E UM FORTE DESEJO PELO LIVRE-COMÉRCIO. ENQUANTO A PRODUÇÃO SE DESTINOU AO MERCADO LOCAL POUCO DESEN- VOLVIDO, A ORGANIZAÇÃO CORPORATIVA NÃO GEROU MAIORES TENSÕES. NO ENTANTO, EM ALGUMAS CIDADES, DESDE CEDO (COMO NA REGIÃO DE FLAN- DRES E EM ALGUMAS CIDADES ITALIANAS), A PRODUÇÃO LOGO SE DESTINOU AO COMÉRCIO DE EXPORTAÇÃO. ESTE COMÉRCIO JÁ NÃO ERA FEITO PELOS PRÓ- PRIOS ARTESÃOS E SIM POR COMERCIANTES ESPECIALIZADOS QUE, EM GERAL, PASSARAM A ESTABELECER UMA RELAÇÃO DE CLIENTELA COM OS ARTESÃOS Continua > U N ID A D E 0 1 26 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS DA CIDADE. EMBORA A FORMA CORPORATIVA FOSSE MANTIDA E OS ARTESÃOS CONTINUASSEM A TRABALHAR EM SUAS PRÓPRIAS OFICINAS, MUITAS VEZES O COMERCIANTE JÁ CONTROLAVA A PRODUÇÃO AO FORNECER MATÉRIA-PRIMA AO ARTESÃO, OBRIGANDO ESTE A VENDER O PRODUTO – NA VERDADE, AGORA APENAS O PRODUTO DE SEU TRABALHO – AO MESMO COMERCIANTE. MESMO NESSES CASOS, A ESTRUTURA CORPORATIVA APARECIA COMO UM OBSTÁCULO À EXPANSÃO DO PRODUTO (COMO MEIO DE ATINGIR UM MERCADO MAIS AMPLO) E À REDUÇÃO DOS CUSTOS (COMO MEIO DE ALCANÇAR UM LUCRO MAIS ELEVADO). Continuação > FIGURA 5 – FÁBRICA DE ALGODÃO: O ALGODÃO PRODUZIDO ERA NEGOCIADO POR COMERCIANTES, OS ARTESÕES PASSAM A SER ASSALARIADOS Fonte: Shutterstock (2020) As distâncias e custos são encurtados com as novas tecnologias, mas essas melhorias trazem sérias consequências, como destaca Araújo (2016, p. 79): Araújo (2016) apresenta ainda as consequências sociais dessa nova organização de trabalho e sistema de mercado, com uma nascente estrutura e divisão social, a de burgueses e proletários (ou assalariados): A ENERGIA A VAPOR E O FERRO TAMBÉM FORAM UTILIZADOS NOS MEIOS DE TRANS- PORTE, COM A CRIAÇÃO DA LOCOMOTIVA E DO NAVIO A VAPOR, NÃO APENAS DIMI- NUINDO AS DISTÂNCIAS, MAS TAMBÉM OS CUSTOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL. NA ESTEIRA DESTES ACONTECIMENTOS, A IMIGRAÇÃO E OS PROBLEMAS AMBIENTAIS EM DECORRÊNCIA DA POLUIÇÃO TRAZIDA PELAS FÁBRICAS AMPLIAM-SE. NO QUE DIZ RESPEITO ÀS QUESTÕES SOCIAIS, COM O CAPITALISMO INDUSTRIAL DUAS CLASSES SÃO CLARAMENTE DEFINIDAS. OS BURGUESES SERIAM AQUE- LES QUE DETÊM CAPITAL PARA OBTER A PROPRIEDADE PRIVADA DOS MEIOS DE PRODUÇÃO (MÁQUINAS, MATÉRIA-PRIMA E INSTALAÇÕES), CONSEGUINDO LUCROS CRESCENTES COM O DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA. CHAMAMOS DE PROLETÁRIO TODO AQUELE QUE, SEM CONDIÇÕES DE CONTROLAR OS MEIOS DE PRODUÇÃO, SOBREVIVE DA VENDA DE SUA FORÇA DE TRABALHO (ARAÚJO, 2016, p. 79). U N ID A D E 0 1 27 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Burgueses e proletários passam a compor uma nova estrutura social baseada no poderio eco- nômico, ora, aquele que controlasse financeiramente quem vendia sua mão de obra (força de trabalho), detinha a maior parcela de poder comercial, pois poderia negociar os produtos, definir os salários e ficar com o lucro (mais-valia). Araújo (2016, p. 79-80) contextualiza: Inicia então o que ficou conhecido como “luta de classes”, quando os operários reagem, de diversas formas, contra o patronato. São exemplos estudados por Marx e Engels no “Manifesto Comunista”, o ludismo; o cartismo; e o unionismo (ARAÚJO, 2016). Saes e Saes (2013, p. 179) sintetizam comparativamente a evolução que significou a Revolução Industrial: SERIA MEDIANTE A MAIS-VALIA QUE OS LUCROS PASSAM A SE REALIZAR A PARTIR DE ENTÃO. O TRABALHADOR, AGORA APENAS UM OPERÁRIO, ERA OBRIGADO A CONVIVER COM PÉSSIMAS CONDIÇÕES DE TRABALHO: LONGAS JORNADAS (14 A 18 HORAS POR DIA), BAIXOS SALÁRIOS, FALTA DE SEGURANÇA, EXPLORAÇÃO DO TRABALHO FEMININO E INFANTIL E DESEMPREGO, QUE DESEMBOCAVAM NA MISÉ- RIA DOS TRABALHADORES, MORADIAS PRECÁRIAS E EPIDEMIAS CONSTANTES. TAIS CONDIÇÕES AGRAVAVAM-SE NO CONTEXTO DE CRISES ECONÔMICAS, RECONHECI- DAS JÁ NAQUELA ÉPOCA COMO FENÔMENOS PERIÓDICOS REGULARES, COMO AS QUE ASSOLARAM A EUROPA ENTRE 1836-1837, 1846-1848 E 1873. Araújo (2016) explica esses movimentos da luta de classes: » O ludismo era baseado na quebra das máquinas, quando os trabalhadores invadiam as fábricas à noite para realizar a quebradeira. A estratégia ficou conhecida como “negociação coletiva através da arruaça”. » O cartismo consistia no envio de cartas (chamadas “Cartas do Povo”) peticionando ao Parlamento inglês por reformas de base; melhores condições de trabalho; questões eleitorais e de representa- ção, uma variedade de temas, visando maior participação política dos trabalhadores. » O unionismo representava o que hoje conhecemos como associação de trabalhadores. A primeira articulação foi a criação de “caixas de assistência”, que de ilegais passaram a ser legalizadas pelo governo e foram se tornando os primeiros sindicatos. Fonte: ARAÚJO, D. de. História Geral, São Paulo: Saraiva, 2016. SAIBA MAIS A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL PROVOCOU SUBSTANCIAL MODIFICAÇÃO NOS FLU- XOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL. AS TROCAS INTERNACIONAIS, ATÉ O SÉCU- LO XV, COMPORTAVAM O VELHO COMÉRCIODE ESPECIARIAS COM O ORIENTE, AO Continua > U N ID A D E 0 1 28 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS QUAL SE ACRESCENTOU, A PARTIR DO SÉCULO XVI, O COMÉRCIO COM A AMÉRICA (POR EXEMPLO, AÇÚCAR, FUMO, COUROS E PELES) E O TRÁFICO DE ESCRAVOS. ALÉM DISSO, HAVIA O COMÉRCIO INTRAEUROPEU EM QUE PREDOMINAVAM AS MANUFATURAS, EM ESPECIAL OS TECIDOS, ALÉM DE ALGUMAS MATÉRIAS-PRIMAS E ALIMENTOS. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL EXIGIU NOVOS FLUXOS COMERCIAIS PELA PRÓPRIA NATUREZA DE SUA PRODUÇÃO; PARALELAMENTE, O AUMENTO POPULA- CIONAL AMPLIOU A DEMANDA POR ALIMENTOS DE MODO A ALTERAR AS FORMAS TRADICIONAIS DE SUPRIMENTO DESSES BENS. EM SUMA, AO LONGO DO SÉCULO XIX, O COMÉRCIO INTERNACIONAL SOFREU PROFUNDAS MUDANÇAS TANTO EM RELAÇÃO ÀS PRINCIPAIS MERCADORIAS QUE O COMPUNHAM COMO EM RELAÇÃO AOS PAÍSES OU REGIÕES PRODUTORES ENVOLVIDOS NESSE COMÉRCIO. Continuação > O imperialismo (ou neocolonialismo) guiava o desenvolvimento ou não das colônias, minando as produções coloniais quando conveniente, mas havia um “outro lado da moeda”: O imperialismo já não se sustentava mais em meio à globalização nascente e à acumulação de capital concentrado fruto dos excedentes industriais. Todo esse contexto ocorre após a 2ª Revolu- ção Industrial, na segunda metade do século XIX, com as produções em massa e o uso da energia elétrica; motores a explosão; e petróleo (ARAÚJO, 2016). Sobre a 2ª Revolução Industrial, Araújo (2016, p. 82) ainda informa: “Economicamente, a 2ª Re- volução Industrial colocava fim à abstenção governamental, à ortodoxia do livre comércio e à era do individualismo, onde grandes empresários e banqueiros controlavam as ações”. Culminando, mais tarde, na 1ª Guerra Mundial e no fim do imperialismo, transitando gradativa- mente ao terceiro modelo capitalista, o Capitalismo Financeiro, ou Capitalismo Monopolista, fruto do pós 2ª Guerra Mundial. Neste mesmo período também passam a ser mais fortemente difundidas as ideologias da es- querda (socialismos, por exemplo), que objetivavam mudanças econômico-sociais por meio da diminuição ou fim das diferenças de classes (ARAÚJO, 2016). 2.2.1 LIBERALISMO ECONÔMICO O Capitalismo Industrial é permeado pelas ideias do liberalismo econômico, tendo em seu prin- cipal teórico, Adam Smith, sua base. AO LONGO DO SÉCULO XIX, A GRÃ-BRETANHA TAMBÉM PASSOU A DEPENDER DE OUTRAS MERCADORIAS IMPORTADAS EM VIRTUDE DO RITMO DE CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA E DO AUMENTO DA POPULAÇÃO. METAIS, MADEIRAS, FIBRAS TÊXTEIS, ALIMENTOS COMO GRÃOS E MESMO PERECÍVEIS COMO FRUTAS E CARNE FORAM INCLUÍDOS NA PAUTA DE IMPORTAÇÕES. EM PARTE, ISSO RESULTAVA DAS NOVAS NECESSIDADES DA ECONOMIA BRITÂNICA; PORÉM HOUVE TAMBÉM UMA REALO- CAÇÃO DE FATORES PRODUTIVOS NA ESFERA INTERNACIONAL QUE AFETOU A BALANÇA COMERCIAL BRITÂNICA (SAES;SAES, 2013, p. 182). U N ID A D E 0 1 29 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Em 1776, Adam Smith publicou o livro “A riqueza das Nações: uma investigação sobre a nature- za e as causas da riqueza das nações”, considerado o primeiro tratado completo sobre economia política. Coincidentemente ou não, como aponta Mankiw (2019), no mesmo ano da Declaração da Independência dos Estados Unidos, um marco das liberdades. Mankiw (2019, p. 8) afirma: Conceituando economia de mercado como “uma economia que aloca recursos por meio das decisões descentralizadas de muitas empresas e famílias quando estas interagem nos mercados de bens e serviços” (MANKIW, 2019, p. 8), o autor sintetiza a ideia de maneira clara, que facilita sua diferenciação com relação à economia planificada – na qual essas decisões vêm do governo, como era o caso na Alemanha Oriental e União Socialista Soviética (URSS), durante a Guerra Fria. Quem está por trás da economia de mercado são os agentes econômicos da iniciativa privada, que contam com liberdade para atuar, organizando suas empresas, estratégias e funcionários da maneira que acreditam ser mais conveniente (e lucrativa), desde que dentro da lei, cabendo ao Estado apenas legislar e fiscalizar, também sem extrapolar seus limites. Esses agentes econômicos podem ser famílias e empresas que, ao interagir, de acordo com Adam Smith, são conduzidos por uma “mão invisível” que os leva a resultados de mercado dese- jáveis (MANKIW, 2019). A economia de mercado obedece à lei natural da oferta e da procura, que também acirra a livre concorrência, outra ideia basilar do liberalismo, ao lado da liberdade de comércio (entre países) e produção – bem como a propriedade privada. Ainda no século XVIII, Adam Smith conseguiu desenvolver uma teoria que se mantém atual e explica muitos dos erros cometidos em nosso passado recente: OS DOIS DOCUMENTOS COMPARTILHAM UM PONTO DE VISTA PREDOMINANTE NA ÉPOCA: OS INDIVÍDUOS TOMARÃO MELHORES DECISÕES SE PUDEREM AGIR POR CONTA PRÓPRIA, SEM A MÃO OPRESSIVA DO GOVERNO PARA CONDUZIR SUAS AÇÕES. ESSA FILOSOFIA POLÍTICA PROPORCIONA A BASE INTELECTUAL PARA A ECONOMIA DE MERCADO E, DE MANEIRA MAIS GERAL, PARA A SOCIEDADE LIVRE. A VISÃO DE SMITH APRESENTA UM IMPORTANTE COROLÁRIO: QUANDO O GOVER- NO IMPEDE QUE OS PREÇOS SE AJUSTEM DE FORMA NATURAL À OFERTA E À DEMANDA, IMPEDE QUE A MÃO INVISÍVEL COORDENE AS DECISÕES DE FAMÍLIAS E EMPRESAS QUE COMPÕEM A ECONOMIA. ESSE COROLÁRIO EXPLICA POR QUE OS IMPOSTOS TÊM UM EFEITO ADVERSO SOBRE A ALOCAÇÃO DE RECURSOS: ELES DISTORCEM OS PREÇOS E, COM ISSO, AS DECISÕES DAS EMPRESAS E FAMÍLIAS. EXPLICA TAMBÉM O MAL AINDA MAIOR QUE PODE SER CAUSADO POR POLÍTICAS DE CONTROLE DIRETO DOS PREÇOS, COMO A DE CONTROLE DOS ALUGUÉIS. E EXPLICA O FRACASSO DO COMUNISMO. NOS PAÍSES COMUNISTAS, OS PREÇOS NÃO ERAM DETERMINADOS PELO MERCADO, MAS DITADOS PELOS PLANEJADORES CENTRAIS. OS PLANEJADORES NÃO TINHAM AS INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS Continua > U N ID A D E 0 1 30 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS SOBRE O GASTO DOS CONSUMIDORES E OS CUSTOS DOS PRODUTORES QUE, EM UMA ECONOMIA DE MERCADO, SÃO REFLETIDAS NOS PREÇOS. OS PLANEJADORES CENTRAIS FALHARAM PORQUE TENTARAM CONDUZIR A ECONOMIA COM UMA MÃO AMARRADA NAS COSTAS – A MÃO INVISÍVEL DO MERCADO (MANKIW, 2019, p. 9). Continuação > As ideias do liberalismo econômico seguem aplicáveis; algumas delas coexistem com o capi- talismo financeiro atual, apesar da diminuição dos adeptos quando da Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. É por isso que o pensamento liberal sobrevive até hoje e o livro escrito por Adam Smith é considerado um clássico. 2.3 CAPITALISMO FINANCEIRO OU CAPITALISMO MONOPOLISTA A década de 1930 foi particularmente difícil para a economia contemporânea em razão da Crise de 1929. Nela, as restrições ao comércio internacional ganhavam destaque como medida prote- cionista aos estragos causados pela Quebra da Bolsa de Nova Iorque. A livre iniciativa constitui um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, figu- rando nos artigos 1º e 170 da Constituição. O artigo 170 da Carta Magna trata da ordem econômica brasileira, pautada por ideais liberais, in verbis: ART. 170. A ORDEM ECONÔMICA, FUNDADA NA VALORIZAÇÃO DO TRABALHO HUMANO E NA LIVRE INICIATIVA, TEM POR FIM ASSEGURAR A TODOS EXISTÊN- CIA DIGNA, CONFORME OS DITAMES DA JUSTIÇA SOCIAL, OBSERVADOS OS SEGUINTES PRINCÍPIOS: I - SOBERANIA NACIONAL; II - PROPRIEDADE PRIVADA; III - FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE; IV - LIVRE CONCORRÊNCIA; V - DEFESA DO CONSUMIDOR; VI - DEFESA DO MEIO AMBIENTE, INCLUSIVE MEDIANTE TRA- TAMENTO DIFERENCIADO CONFORME O IMPACTO AMBIENTAL DOS PRODUTOS E SERVIÇOS E DE SEUS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO E PRESTAÇÃO; VII - REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES REGIONAIS E SOCIAIS; VIII - BUSCA DO PLENO EMPREGO; IX - TRATAMENTO FAVORECIDO PARA AS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE CONSTI- TUÍDAS SOB AS LEIS BRASILEIRAS E QUE TENHAM SUA SEDE E ADMINISTRAÇÃO NO PAÍS. PARÁGRAFO ÚNICO. É ASSEGURADO A TODOS O LIVRE EXERCÍCIO DE QUALQUER ATIVIDADE ECONÔMICA, INDEPENDENTEMENTE DE AUTORIZAÇÃO DE ÓRGÃOS PÚBLICOS,SALVO NOS CASOS PREVISTOS EM LEI. Fica claro pelo texto do artigo supracitado quais são as restrições à livre iniciativa em território nacional. Tais garantias e restrições ocorrem em razão do reconhecimento de que: “O ser huma- no, na concepção capitalista vigente, garante a sua subsistência e a de sua família com o trabalho” (SIQUEIRA JUNIOR, 2016, p. 139), merecendo esse quesito atenção especial do Estado. SAIBA MAIS U N ID A D E 0 1 31 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Ficam em voga os acordos bilaterais entre os Estados; “como reação à depressão, os governos procuravam limitar as importações a fim de manter o nível de produção e de emprego dentro de seus países (ou ao menos evitar sua queda mais acentuada)” (SAES; SAES, 2013, p. 473), mas ainda conseguir “promover a expansão das trocas internacionais” (SAES; SAES, 2013, p. 474). Após a 2ª Guerra Mundial, já em cenário de globalização, ocorre a 3ª Revolução Industrial, ba- seada na automação e nos eletrônicos, com novos e variados eletrodomésticos chegando às casas e, mais adiante, os computadores. Na década de 1950 ocorre o que ficou conhecido como “Revolução Verde”, um grande salto tecnológico na questão de sementes, insumos e maquinário agrícolas, que ocasiona grande au- mento na produção de alimentos. No Brasil, essa Revolução ocorreu mais tarde, apenas durante o Regime Militar (entre as décadas de 1960 e 1970), tendo contribuído para o chamado “milagre econômico”. A Revolução Verde representou o boom da mecanização do campo, rompendo com o estilo de vida rural tradicional, ocasionando acelerada urbanização (FRIEDEN, 2008). Frieden apresenta um cuidado maior tomado pelas potências mundiais no pós 2ª Guerra Mun- dial com relação às suas economias: O autor menciona as novas indústrias surgidas ou mais bem desenvolvidas ainda no período entreguerras, que vão ganhando cada vez mais destaque ao longo dos séculos XX e XXI. Elas que representavam, para as pessoas da sociedade daquela época, um verdadeiro sinal do desenvolvi- mento tecnológico: DO MESMO MODO QUE O COMÉRCIO INTERNACIONAL, O SISTEMA FINANCEIRO INTERNA- CIONAL HAVIA SOFRIDO O IMPACTO DA GRANDE DEPRESSÃO DOS ANOS 1930. FALÊNCIA DE BANCOS, MORATÓRIA DE DÍVIDA EXTERNA DE MUITOS PAÍSES E PERDAS NAS BOLSAS DE VALORES DESORGANIZARAM O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL PRIVADO. AO FIM DA SEGUNDA GUERRA, HOUVE A PREOCUPAÇÃO DE RECONSTITUIR MECANISMOS DE FINANCIAMENTO INTERNACIONAL DE ACORDO COM AS CONDIÇÕES PECULIARES DA ÉPOCA (FRIEDEN, 2008, p. 477). PARA A MAIOR PARTE DAS PESSOAS, O PRINCIPAL INDÍCIO DO AVANÇO TECNOLÓGICO FOI O APARECIMENTO DE NOVOS ELETRODOMÉSTICOS. ALGUNS JÁ EXISTIAM ANTES DE 1914, MAS APENAS COMO NOVIDADES; MUITOS JÁ ERAM LUGAR-COMUM EM 1939 E, PORTANTO, ALGUNS HISTORIADORES FALAM DE UMA REVOLUÇÃO DOS BENS DE CONSUMO DURÁVEIS NOS ANOS ENTREGUERRAS. A PRODUÇÃO E A UTILIZAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS ULTRAPASSARAM AS DO RESTO DO MUNDO. ANTES DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, CERCA DE 10% DOS PRODUTOS FINAIS COMPRADOS PELOS NORTE-AMERICANOS ERAM BENS DE CONSUMO DURÁVEIS. EM 1929 ESSA PROPORÇÃO CAIU PARA 25%. QUASE TODO ESSE AUMENTO DEVEU-SE AOS VEÍCULOS MOTORIZADOS E AOS ELETRODOMÉSTICOS, COMO RÁDIOS E GELADEIRAS. ALGUNS PAÍSES DESENVOLVIDOS NÃO ESTAVAM TÃO ATRÁS DOS ESTADOS UNIDOS NO QUE DIZ RESPEITO À OFERTA DE BENS DURÁVEIS, APESAR DE A RENDA MENOR, A INSTABI- LIDADE POLÍTICA E AS GUERRAS RESTRINGIREM AS OPERAÇÕES DE MERCADO (FRIEDEN, 2008, p. 174). U N ID A D E 0 1 32 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS Passa a surgir aqui a noção de “sociedade de consumo”, em que cada vez mais as pessoas se veem compelidas a comprar. O consumo desmedido é marca do desenvolvimento do capitalismo financeiro, que também conta com o crescimento do mercado consumidor. O cenário é de crescente globalização – desenfreada a partir da Internet – que rompe barreiras fronteiriças e diminui distâncias, aproximando mercados e pessoas. A globalização também au- menta a concorrência internacional, pois facilita o comércio entre empresas de diferentes países e, mais recentemente, entre pessoas e pessoas e empresas de diferentes países. As primeiras empresas multinacionais começam a surgir de modo significativo ainda na década de 1920, conforme Frieden (2008, p. 183), que adiciona: “A liderança, novamente, era dos Estados Unidos, e o automóvel, mais uma vez, foi a quintessência desse tipo de empresa. Empresas norte- -americanas estabeleceram, ou compraram, milhares de subsidiárias na Europa, no Canadá e na América Latina”. Lentamente o modelo das multinacionais (empresas globais) foi ganhando mais forma e expandindo para outros segmentos, constituindo hoje, ao que tudo indica, um caminho sem volta, pois há além de empresas, bancos globais que funcionam sob esse conceito. Com a chegada dos anos 2000, as tecnologias cibernéticas ganham des- taque. Termos como “nuvem”, “big data” e “smart”, tornam-se parte do co- tidiano. Eletroeletrônicos sem fio, assim como a internet “wi-fi”, tornam-se imprescindíveis. Conexões remotas por meio de um aparelho celular, por exemplo, são possíveis tanto entre pessoas, como entre pessoas e máquinas. Tudo isso faz parte do que começa a ser chamado de 4ª Revolução Industrial, quem sabe em uma nova modalidade de capitalismo: o Capitalismo Informa- cional ou Capitalismo Cognitivo. Atualmente vivemos a “Era do Grande Enriquecimento”, denominação criada pela economista Deindre McCloskey, com uma economia de mercado baseada no predomínio da livre iniciativa; especulação financeira; crescente investimento em ações, inclusive por parte de pessoas comuns e famílias; e a fusão entre empresas e entre capital bancário e industrial. Na contramão, baixos salários e elevadas taxas de desemprego persistem. Estudadas as três fases do capitalismo e seus contextos, interessante reparar essa sintética linha do tempo representando as quatro revoluções industriais: Recomendo a leitura das seções “Trabalho e Educação” e “Trabalho e Gênero” do livro “Gestão, Trabalho e Cidadania: novas Articulações”, organizado por Pimenta e Corrêa (2001), para reflexão acerca de questões atuais afetas a essas temáticas. PIMENTA, S.M.; CORRÊA, M.L. Gestão Trabalho e Cidadania: Novas articulações. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. LEITURA Fonte: Shutterstock.com U N ID A D E 0 1 33 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS FIGURA 6 – REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS Fonte: Shutterstock (2020) CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos nesta primeira Unidade da disciplina de Demandas Contemporâneas, no primeiro item, um breve panorama histórico do desenvolvimento da humanidade, que serviu e servirá de apoio em nossos estudos. O segundo tópico apresentou a questão econômica da modernidade à contemporaneidade por meio dos principais conceitos e funcionamento organizacional. Esses dois tópicos viabilizam a discussão e reflexão de variadas demandas que serão apresen- tadas no decorrer desta disciplina e, somadas a outros conceitos e vieses que ainda serão vistos, possibilitarão a você um olhar mais amplo e apurado na análise das mais variadas demandas con- temporâneas que surgirem em seu cotidiano – sejam demandas pessoais ou profissionais. Com base em tudo o que vimos nesta Unidade e na linha do tempo da Figura 6, quais as principais mudanças sofridas? Evoluímos, apenas melhorando ou há retrocessos? Se você concorda que há retrocessos, enu- mere três que lhe chamam atenção. Você consegue perceber em qual momento eles passaram a ocorrer? Algo tem sido feito para que esses retrocessos cessem ou sejam reduzidos? REFLITA U N ID A D E 0 1 34 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS A análise e discussão do todo, o global (macro), deve ser aliada às questões regionais (micro) e vice-versa. Ora, a parte não se dissocia do todo e o todo não é todo sem uma parte. Compreender qualquer sistema de formageral nos permite entender que qualquer ação gera efeitos que impac- tam no todo. Essa engrenagem global só funciona porque mudanças que começam de modo local vão, com o passar do tempo e sucesso do movimento, alterando o funcionamento da engrenagem até quem sabe alterá-la por completo. De modo geral, normalmente as mudanças são para melhor e objetivando o progresso, mas retrocessos fazem parte do processo e é com relação aos perigos dos retrocessos que devemos estar atentos ao pensar qualquer demanda contemporânea. A próxima Unidade apresentará a visão de importantes sociólogos no que diz respeito à Socio- logia e à sociedade; além de pensar questões que afetam à cidadania e variados aspectos do meio ambiente. Essa Unidade lhe ajudará na formação de um pensamento mais crítico e sistematizado para a formulação de questionamentos e reflexões acerca das demandas contemporâneas, tiran- do-o do lugar comum e apresentando ideias e métodos científicos de estudo que fortalecerão seus argumentos. Vamos juntos! ANOTAÇÕES UNIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM VÍDEOS DA UNIDADE https://qrgo.page.link/bVccL https://qrgo.page.link/U7bgt https://qrgo.page.link/ZZESm 02 SOCIEDADE E CIDADANIA » Caracterizar a sociologia de Durkheim, Marx e Weber de modo a compreender o século XIX e a visão da sociedade como objeto. » Avaliar as mudanças de atitude frente à natureza, à produção e ao consumo, a partir do Renascimento. » Elucidar a construção da cidadania a partir dos estudos de Thomas Marshall. U N ID A D E 0 2 36 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS INTRODUÇÃO Olá! Seja bem-vindo à segunda Unidade da disciplina de Demandas Contemporâneas! Na Unidade anterior vimos um breve panorama histórico da humanidade na Idade Média à Idade Contemporânea, bem como as variadas formas de capitalismo em paralelo a seu contexto histórico-econômico pautado pelas Revoluções. Nesta Unidade analisaremos mais algumas questões basilares à discussão de demandas con- temporâneas; também começaremos a apontar e questionar algumas demandas, o que seguirá com maior destaque nas próximas duas Unidades da disciplina. O primeiro tópico apresentará a Sociologia em Marx, Durkheim e Weber, com o objetivo de que se compreenda o pensamento desses sociólogos do século XIX e a visão da sociedade como objeto. O segundo tópico trará questões de mercado e meio ambiente debatendo questionamentos re- lativos à natureza; à produção; e ao consumo, sem descuidar da contextualização desses conceitos atrelados a seus principais momentos históricos a partir do Renascimento. Por fim, o terceiro tópico elucidará a construção da cidadania a partir dos estudos realizados pelo sociólogo Thomas Marshall, mostrando a relevância do conceito. Principalmente, a partir desta Unidade, o sucesso na disciplina de Demandas Contemporâneas depende de você! É necessário que você tenha bem estabelecidos em mente os períodos históricos e suas dife- renças; os principais fatos históricos; e as correntes econômicas e sociais. Com esse mapa mental bem definido, você terá a contextualização das demandas contemporâneas, o que facilitará sua compreensão, organização e debate da temática, sempre pautado pela equidade – objetivo maior da disciplina. A compreensão e discussão das demandas contemporâneas permitirá seu desenvolvimento pessoal e profissional. (Re)Pense conforme caminhamos. Vamos juntos! 1. ESTUDOS SOCIAIS: SOCIEDADE E SOCIOLOGIA O termo “sociologia”, foi utilizado pela primeira vez pelo francês Auguste Comte (1798- 1857), mas apenas com Émile Durkheim – considerado um dos “pais fundadores” – a sociologia ganhou status de disciplina científica, é o que apresenta Castro (2014, p. 19) ao relatar como se deu esse início: U N ID A D E 0 2 37 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS O FRANCÊS ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) FOI UM DOS PRINCIPAIS “PAIS FUN- DADORES” DA SOCIOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA. FOI PERSONAGEM FUNDAMENTAL DE SUA “INSTITUCIONALIZAÇÃO” NA FRANÇA – ISTO É, NA CRIAÇÃO, FORMALIZAÇÃO E CONTINUIDADE DA SOCIOLOGIA NO ESPAÇO ACADÊMICO. ESSE PROCESSO PASSOU PELA CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS CURSOS, REVISTAS E DIPLOMAS DE SOCIOLOGIA. DURKHEIM OCUPOU A PRIMEIRA CADEIRA UNIVERSITÁRIA COM ESSE NOME (EM BORDÉUS, 1887) E FUNDOU, EM 1896, O L’ANNÉE SOCIOLOGIQUE (ANUÁRIO SOCIOLÓGICO), QUE SE TORNOU A PRINCIPAL REVISTA DE SOCIOLOGIA DA FRANÇA, DIVULGANDO O PENSAMENTO DA “ESCOLA” DURKHEIMIANA, QUE TEVE MUITOS DISCÍPULOS. ESSE NÃO FOI, TODAVIA, UM PROCESSO SIMPLES NEM FÁCIL. PARA FUNDAR A DISCIPLINA NA FRANÇA, DURKHEIM PRECISOU EM PRIMEIRO LUGAR SE DIFERENCIAR TANTO DE FILÓSOFOS QUE PUBLICARAM TEXTOS A RESPEITO DO QUE CHAMARAM TAMBÉM DE “SOCIOLOGIA”, COMO AUGUSTE COMTE E HERBERT SPENCER, BEM COMO DISPUTAR RECONHECIMENTO E LEGITIMIDADE COM CON- TEMPORÂNEOS COMO GABRIEL TARDE E ARNOLD VAN GENNEP. ESSE PROCESSO ENVOLVEU TAMBÉM, E ACIMA DE TUDO, A DEFESA DA EXISTÊNCIA DE UM OBJETO EXCLUSIVA E PROPRIAMENTE SOCIOLÓGICO – O “FATO SOCIAL”, DISTINTO DO OBJETO DE OUTRAS ÁREAS DO CONHECIMENTO, COMO A BIOLOGIA, A FILOSOFIA, A PSICOLO- GIA, O DIREITO, A ECONOMIA ETC. ESSE OBJETO DEMANDARIA A CODIFICAÇÃO DE UM MÉTODO ESPECÍFICO PARA TRATÁ-LO E DE UMA CIÊNCIA DISTINTA E AUTÔNOMA – A SOCIOLOGIA – PARA DESCOBRIR AS LEIS DE SEU FUNCIONAMENTO. O fato social de que Durkheim tratava compreendia a sociedade ou parcelas dela, por isso a novidade com relação às ciências até então existentes à época (CASTRO, 2014). Reside nisso tam- bém a “crise de identidade” – conforme define Johnson (1997) – da Sociologia enquanto ciência. O autor explica que a ideia de “sociedade” é bastante genérica para definir o objeto da disciplina, por isso deve-se pensar em “fato social”. Ora: Além dessa compreensão amplificada de sociedade que se deve ter, também não cabe diminuir o objeto da sociologia ao estudo de grupos ou ao estudo do comportamento social – este não porque pode levar à confusão entre sociologia e psicologia; aquele não porque nem tudo que A DISCIPLINA É MUITAS VEZES DESCRITA COMO O “ESTUDO DA SOCIEDADE”, MAS ESSA DEFINIÇÃO EXCLUI A VASTA MAIORIA DE VIDA SOCIAL QUE OCORRE EM SIS- TEMAS MUITO MENORES DO QUE SOCIEDADES. ESTUDOS DE GRUPOS, EMPRESAS, SALAS DE AULA E FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS ESTÃO TODOS, EM ÚLTIMA HIPÓTESE, LIGADOS À SOCIEDADE, EMBORA POSSAMOS FORMULAR NUMEROSAS PERGUNTAS SOBRE ELES, SEM JAMAIS NOS REFERIRMOS AO MAIOR DOS SISTEMAS SOCIAIS NOS QUAIS ELES SE ENCARTAM. NA OUTRA EXTREMIDADE DO ESPECTRO, É OUVIDA A OBJEÇÃO DE QUE PROBLEMAS CADA VEZ MAIS INTERESSANTES OCORREM EM NÍVEIS MAIS AMPLOS DO QUE SOCIEDADES, EM NÍVEIS QUE ABRANGEM SISTEMAS ECONÔMICOS E POLÍTICOS MUNDIAIS (JOHNSON, 1997, p. 217). U N ID A D E 0 2 38 UN IB RA SI L EA D | D EM AN DA S CO NT EM PO RÂ NE AS pode ser analisado pela sociologia se enquadra no critério de grupo, como por exemplo, sistemas econômicos e políticos (JOHNSON, 1997). Assim sendo, em suma, sociologia estuda também a sociedade, mas esse não é seu único objeto, que, em verdade, é o fato social, pois este, sim, enquadra sociedade e todo o restante mencionado. Neste item analisaremos respectivamente os estudos realizados por Marx, Durkheim e Weber – a ordem adotada não é de importância (até porque não há razão de se discutir isso), mas cronológica de nascimento, bem como da publicação da principal obra de cada um deles, critérios que coincidem. O estudo desses três pensadores e de suas obras é de extrema relevância, pois são conside- rados autores clássicos. Seus trabalhos inspiraram e inspiram gerações de sociólogos e cientistas sociais, sendo considerados os principais representantes da sociologia histórica 1 – pois aliaram análises desses dois ramos para realizar seus estudos sociais –, além de serem considerados “pre- cursores da sociologia moderna” (JOHNSON, 1997, p. 218). 1 Sobre o objeto da sociologia histórica, Johnson aponta: “Atualmente,
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