Prévia do material em texto
Revista Científica UNAR (ISSN 1982-4920), Araras (SP), v.16, n.1, p.222-232, 2018. A FUNÇÃO DIAGNÓSTICA DA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA Marcia Maria Broetto UHLMANN ¹ Eva Sandra Monteiro CIPOLA² Ademir Pinto Adorno de Oliveira JÚNIOR³ RESUMO O presente Artigo tem por finalidade defender a necessidade de se buscar através de avaliação e do diagnóstico psicopedagógico, subsídios para uma intervenção junto ao aluno com intuito de identificar os fatores que desencadeiam as dificuldades de aprendizagem e identificar quais são as soluções possíveis de cunho psicopedagógico, identificando as necessidades de trabalhos multidisciplinares, levantando questões e sugerindo posturas. Proporcionar novas ideias para que se evidencie de fato a psicopedagogia como área de atuação voltada para complexos processos de aprendizagem. Apresentar a função da avaliação diagnóstica psicopedagógica, como investigação do indivíduo na busca de entender a origem da dificuldade ou distúrbio apresentado, com destaque para o trabalho em conjunto com as pessoas envolvidas com o aluno, com os recursos utilizados para diagnóstico e intervenção e a conclusão final frente ao problema apresentado pelo aluno. PALAVRAS CHAVE: Diagnóstico, aprendizagem, dificuldade. Abstract: The present article aims to defend the need to seek through evaluation and diagnosis psycho, allowances for an intervention with the student in order to identify the factors that trigger learning difficulties and identify what are the possible solutions of imprint psycho, identifying the needs of multidisciplinary work, raising issues and suggesting postures. Provide new ideas for that evinces the psychopedagogy as seating areas facing complex processes of learning. Introduce the function of the psycopedagogical diagnostic evaluation, such as investigation of the individual in seeking to understand the origin of the difficulty or disorder presented, with emphasis to the work in conjunction with the people involved with the student, with the resources used for diagnosis and intervention, and the final conclusion facing the problem presented by the student. KEY WORDS: Diagnosis, learning, difficulty. INTRODUÇÃO: A educação faz parte da especificidade humana, um ato de intervenção no mundo. Diz respeito à cidadania. Segundo Freire (2009), “a educação não é transferência de conhecimentos, mas criação de possibilidades para a sua própria produção ou construção”. ¹Pedagoga, formada pelo Centro Universitário de Araras Dr. Edmundo Ulson – Unar, Acadêmica de Pós Graduação em Psicopedagogia com Ênfase em Educação Especial – Unar. marciabroetto@hotmail.com ² Coordenadora e orientadora dos cursos de Pós Graduação e MBA do UNAR . e-mail: eva.cipola@unar.edu.br. ³ Coorientador mailto:marciabroetto@hotmail.com UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR, v.16, n.1, 2018. 223 Aprendizagem não é um meio para se obter outra coisa. É um fim em si mesmo. Nós humanos nascemos carentes. Somos os mais indefesos da espécie animal. Como todo bebê nasce imaturo biologicamente, sem os mínimos recursos próprios para sobreviver, precisa de outro humano que o ensine, que o reconheça como semelhante, que queira e que acredite que pode aprender. Todo aprender é problemático, porque inclui, no mínimo, três sujeitos: “o aprendente”, “o ensinante” e o sujeito social (a sociedade na qual está inserido). A aprendizagem ocorrerá de acordo com o ambiente, mais ou menos favorável no qual a criança se desenvolve. Se falamos de dificuldades de aprendizagem, falamos de dificuldades no ou para o meio familiar, e ou educativo. A psicopedagogia é um campo de conhecimento e atuação que trata de problemas de aprendizagem considerando a influência da família, da escola e da sociedade no desenvolvimento do sujeito, tendo como papel inicial o estudo do processo de aprendizagem, diagnóstico e tratamento dos seus obstáculos através da compreensão do indivíduo em suas várias dimensões para ajudá-lo a reencontrar seu caminho, superar as dificuldades que impeçam seu desenvolvimento harmônico e que estejam constituindo um bloqueio de comunicação dele com o meio que o cerca. De acordo com Bossa (2000) o psicopedagogo também pesquisa as condições para que se produza a aprendizagem do conteúdo escolar, identificando quais são os obstáculos e os elementos que facilitam, quando se trata de uma abordagem preventiva. Dessa forma o trabalho de investigação e intervenção do psicopedagogo para intervenção no que está prejudicando o indivíduo é essencial. A função diagnóstica da avaliação serve como instrumento auxiliar da aprendizagem e não como instrumento de aprovação ou reprovação. Luckesi (1999) define avaliação da aprendizagem como um ato amoroso com sentido que a avaliação por si só deve ser um ato acolhedor e inclusivo, que integra, diferentemente do julgamento puro e simples, que não dá oportunidades, distingue apenas, o certo do errado partindo de padrões predeterminados. Assim, o verdadeiro papel da avaliação visa à inclusão, não à exclusão. Além disso, a avaliação deve ir além da sala de aula; diversos aspetos dos discentes devem ser levados em conta, como seus resultados em trabalhos individuais ou em grupo, em âmbitos afetivos, cognitivos, sociais, dentre outros. O exame desses elementos constitui um processo global que deve envolver todo o histórico escolar. O psicopedagogo, com sua visão diferenciada no contexto escolar, pode promover e desenvolver esse trabalho em equipe com todos os participantes do processo. UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR, v.16, n.1, 2018. 224 Segundo Bossa (2000), “a Psicopedagogia no Brasil hoje é uma área que estuda e lida com a aprendizagem e suas dificuldades e, numa ação profissional, deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os”. O sistema educativo que engloba tanto a instituição escolar como a família necessita de auxílio para compreender as diferenças individuais do sujeito, levando em conta seus interesses, aspectos cognitivos, afetivos e biológicos que interferem e atuam diretamente em sua individualidade e aprendizado. Conforme já citado, segundo Luckesi (1999) avaliar é um ato amoroso. Portanto, a avaliação tem grande significado para o professor; por meio dela ele pode reconhecer a importância de acolher os acertos e erros do aluno para ajudá-lo a progredir. Faz parte da tarefa docente não apenas ensinar conteúdos, mas ensinar a refletir, compreender a realidade e participar das suas mudanças. Nesse sentido, a avaliação psicopedagógica nos permite dispor de informações relevantes não apenas em relação ás dificuldades apresentadas por um determinado aluno ou grupo de alunos, por um professor ou alguns pais, mas também as suas capacidades e potencialidades. Desse modo, não falamos de deficiências nem de dificuldades, mas sim de necessidades educativas dos alunos que, necessariamente, devem ser traduzidas em situações passíveis de melhora e na concretização de auxílio e suporte. O psicopedagogo pode promover e desenvolver esse trabalho em equipe com todos os participantes do processo pode identificar possíveis causas de problemas com fatores orgânicos, psicológicos e sociais, entre outros, e elaborar junto aos docentes um plano de prevenção, utilização de recursos, métodos, conteúdos e objetivos a serem abordados para que a autoestima dos alunos e seus conhecimentos sejam valorizados, gerando bem-estar no ambiente escolar. A FUNÇÃO DIAGNÓSTICA DA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA O trabalho de Educação Escolar se desenvolve através do processo ensino/aprendizagem e de todos os seus determinantes, sendo assim há um ponto muito importante na prática psicopedagógica que é a busca do diagnóstico do porquê da criança (s) ou adolescente (s) não conseguirem aprenderdentro dos padrões pré-estabelecidos pela escola, família e sociedade. Quando remetemos ás dificuldades ou problemas de aprendizagem, alguns aspectos tem que ser levados em conta como : a constituição do sujeito (física, psicológica, necessidades especiais, afecções cerebrais – lesões herdadas ou adquiridas por distúrbios metabólicos, cromossômicos, etc); o desejo do sujeito (motivação pessoal, familiar ou social); a família do sujeito (estrutura e dinâmica familiar, nível de autonomia na família, nível sociocultural, relação da família com a escola e papéis assumidos na configuração familiar); e a escola (estrutura, organização material, de conteúdo e pessoal). Dessa forma o cabe ao psicopedagogo vasculhar cada “canto” da pessoa, enxergando não apenas o que a criança mostra, mas saber perceber que a mesma pode ter algum problema imperceptível que está dificultando sua aprendizagem e saber conduzi-la a outros profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, etc., com intuito de investigar múltiplos fatores que influenciam o não aprender dessa criança. UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR, v.16, n.1, 2018. 225 O psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando solucioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta fundamental é investigar todo o processo de aprendizagem levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para valendo-se desta investigação entender a constituição da dificuldade de aprendizagem (RUBINSTEIN, 1987, p. 51). É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo, porém uma vez iniciado esse processo, deve-se lançar mão de todos os instrumentos diagnósticos necessários. Essa busca terá o intuito de descobrir as razões que impedem o sujeito de aprender, situação essa levantada por uma queixa seja do educador, da família, da escola ou até mesmo do próprio sujeito. Caberá, portanto, ao psicopedagogo “ouvir” essa queixa, analisá-la, interpretá-la e seguir com seu processo de avaliação como função diagnóstica na busca em atender as necessidades educativas traduzidas em situações passíveis de melhora e com a concretização de auxílio e suporte. OS RECURSOS PARA DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA Conforme Vygotsky (1993) o que decidirá o destino e a personalidade de uma criança será sua realização sócio-pedagógica. Nesse contexto o trabalho psicopedagógico será de extrema importância aliado ao espaço social oferecido pela escola, afinal as potencialidades não nascem prontas, é o meio social que vai ajudar o sujeito a encontrá-las e desenvolvê-las. Para tanto os profissionais de psicopedagogia precisam ter ciência da importância de seu trabalho como agente facilitador, aos educadores, por meio de uma avaliação diagnóstica adequada ao educando para promover os suportes necessários para minimizar ou sanar as problemáticas que desencadeiam a deficiência em aprendizagem. Para a realização da avaliação diagnóstica não existe um modelo pronto, já que o sujeito é composto de aspectos cognitivos, afetivos, sociais, pedagógicos e corporais, portanto, devendo ser tratado como um todo e não por partes. Rubstein (1996) destaca que o psicopedagogo pode usar como recursos a entrevista com a família investigando o motivo da queixa, conhecer melhor a história de vida da criança através da realização da Anamnese, entrevistar também o sujeito, a escola e outros profissionais que atendam a criança, mantendo sempre os pais cientes sobre o estado atual da criança e da intervenção que está sendo realizada bem como da necessidade se houver, da intervenção de outros profissionais, onde caberá ao pscicopedagogo o encaminhamento. UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR, v.16, n.1, 2018. 226 Já Bossa (2000) aponta outros recursos e metodologias, como as Provas de Inteligência (WISC); Avaliação perceptomorota (Teste de Bender); Teste de Apercepção Temática (TAT); Teste de Apercepção Infantil (CAT); Avaliação de nível Pedagógico (nível de escolaridade); Provas de nível de pensamento (Piaget); desenho da família; da figura humana; Testes psicomotores; Estruturas rítmicas; Lateralidade, etc. Ou seja, existem diferentes modelos de sequência diagnóstica, mas no presente Artigo trabalharemos com a propositura do modelo desenvolvido por Weiss (1992) cujas etapas de avaliação diagnóstica compreendem: 1) Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S); 2) Entrevista da Anamnese; 3) Sessões Lúdicas centradas na aprendizagem; 4) Provas e testes; 5) Síntese Diagnóstica – Prognóstico; 6) Entrevista de Devolução e Encaminhamento. Estas etapas podem ser modificadas quanto a sua sequência, e maneira de aplicá-las, como, por exemplo, entrevistas separadas para casais separados que não se relacionam amigavelmente; duas Anamneses, uma no início e outra antes da devolução, quando há necessidade de maior investigação junto à família; primeira sessão com o sujeito, no caso de adolescentes; sessões lúdicas com membros da família convocados, quando há necessidade de analisar a relação entre estes sujeitos e suas implicâncias no processo de aprendizagem. De acordo com Weiss (1992), todo o diagnóstico psicopedagógico em si é uma investigação do que não vai bem com o sujeito em relação a um rendimento esperado torna-se importante o esclarecimento da queixa pelos pais, pelo próprio sujeito avaliado e também pela escola. Segue etapas de avaliação diagnóstica conforme propositura desse artigo: ENTREVISTA FAMILIAR EXPLORATÓRIO SITUACIONAL ( E.F.E.S) E.F.E.S é uma entrevista realizada com a criança e a família. Pode ser realizada primeiramente objetivando abordar assuntos relacionados as expectativas, as queixas nas dimensões familiares, as relações e expectativas familiares com relação à aprendizagem e terapeuta; a aceitação e engajamento da família no diagnóstico; esclarecer o que é um diagnóstico psicopedagógico; criação de um clima de segurança. Um ambiente atrativo (lúdico) facilitará o retorno da criança ao terapeuta contribuindo para que ela fique a sós com o mesmo. É também durante a E.F.E.S, que o psicopedagogo fará o registro juntamente aos pais ou responsáveis sobre os horários, quantidades de sessões e a importância da frequência. De acordo com Guimarães, Rodrigues e Ciasca (2003), na primeira consulta deve-se perceber que a queixa trazida pelos pais como o motivo do encaminhamento para a avaliação às vezes não descreve só o “sintoma”, como traz também indícios da direção para o início da investigação. UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR, v.16, n.1, 2018. 227 Assim sendo a atitude que o profissional psicopedagogo acolhe o primeiro contato com a família e com o próprio sujeito da aprendizagem é muito importante para a continuidade do processo. É necessário o registro fiel dessa entrevista, pois ao longo do processo diagnóstico fatos omitidos ou esquecidos podem ser acrescentados posteriormente o que modificara também a construção de hipóteses que variam ao longo do processo diagnóstico. Os dados colhidos durantes as E.F.E.S devem ser posteriormente comparados com os materiais trabalhados durante o diagnóstico. ENTREVISTA DE ANAMNESE Considerada como um dos pontos principais de um bom diagnóstico, busca colher dados significativos sobre a história do sujeito na família, integrando passado, presente e com projeções para o futuro. Permite entender a inserção do mesmo na família. O trabalho da Anamnese se inicia com dados das primeiras aprendizagens, da historia clinica, da historia familiar do núcleo que o sujeito está inserido, na historias das famílias maternas e paternas e a influencia dessas gerações passadas sobre a família nuclear. É necessário que todos estejam bem a vontade“...para que todos se sintam com liberdade de expor seus pensamentos e sentimentos sobre a criança para que possam compreender os pontos nevrálgicos ligados á aprendizagem.” (Weiss, 1992,p.62). Anamnese permite a obtenção e analise de dados desde a concepção até a vida escolar atual do aluno, considerando que se trata de uma investigação profunda e detalhada. Leva em consideração como foi o processo gestacional, se a gravidez foi desejada ou não por ambos os pais assim como por toda a família, qual opção de parto, posteriormente analisar sobre as primeiras aprendizagens como usar mamadeira, copo, a colher, quando aprendeu a sentar, engatinhar, a andar, controlar seus esfíncteres, com objetivo de descobrir como a família possibilita e participa do desenvolvimento cognitivo da criança. Se os pais não permitem o descobrimento ou bloqueiam novas experiências da criança por si só evitando por exemplo, comer sozinha para não se sujar, não tiram a fralda para não urinar em casa, também não permitem que haja o processo de desenvolvimento do equilíbrio entre assimilação e acomodação, causando o processo chamado de hipoassimilação, onde os pais acabam retardando o desenvolvimento da criança. Por outro lado, existem pais que forçam as crianças a realizarem sozinhas atividades para as quais ainda não possuem maturidade em seu organismo, não estando portando a criança pronta para assimilar, é o chamado hiperassimilação, que acaba desrealizando negativamente o pensamento da criança, tornando as precoces. Dando continuidade ao processo investigatório, o psicopedagogo por meio da Anamnese também abordará a história clinica da criança, abordando as possíveis doenças, como foram diagnosticadas e tratadas, se resultaram em alguma consequência. É também de grande relevância saber a história escola do sujeito, desde quando começou a frequentar a escola, como foi o primeiro dia de aula, se existiram frustrações, entusiasmos, UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR, v.16, n.1, 2018. 228 porque os pais escolheram aquela escola, se houve alguma troca de escola, quais são os aspectos positivos e negativos e as possíveis consequências para o processo de aprendizagem. As informações obtidas na Anamnese deverão ser registradas para levantar hipóteses que poderão justificar a defasagem do indivíduo, bem como auxiliar na seleção de outros instrumentos de diagnóstico. SESSÕES LÚDICAS CENTRADAS NA APRENDIZAGEM Há muito tempo vem-se discutindo as questões dos jogos e das brincadeiras, principalmente quais efeitos positivos podem trazer a vida das crianças. [...] o brinquedo exerce enorme influência na promoção do desenvolvimento infantil, apesar de não ser o aspecto predominante na infância. [...] o termo brinquedo refere-se essencialmente ao ato de brincar, à atividade. (VYGOTSKY, 2007, p.2) O lúdico como instrumento de aprendizagem na atuação do psicopedagogo, tem a importância de se compreender as dificuldades de aprendizagem, observando individualmente na sessão diagnóstica e por meio de orientação correta fornecer o desenvolvimento em relação a essa dificuldade apresentada onde o sujeito estará naturalmente desenvolvendo a coordenação motora, a atenção, a expressão corporal, estimulando a iniciativa, trabalhando a oralidade, o raciocínio lógico, dentre outros aspectos. O momento em que a criança esteja em contato com o lúdico, torna-se precioso, pois expõe suas aptidões, mantém a concentração e produtividade. Mesmo que não se obtenha resultado final esperado, é por meio da forma como a criança brinca que o psicopedagogo estará analisando-a, conhecendo o comportamento e interagindo com a mesma. Segundo Alves, (1987, p.1), “o lúdico privilegia a criatividade e a imaginação, por sua própria ligação com os fundamentos do prazer. Não comporta regras preestabelecidas, nem velhos caminhos já trilhados, abre novos caminhos, vislumbrando outros possíveis”. A atividade lúdica mostrará o que se sabe de forma descontraída, sem a necessidade de comandos com aplicação de atividades adequadas a idade do sujeito objetivando a exposição das dificuldades relatadas, ou evidenciando que talvez não existam, faltando apenas estímulo ou forma correta para se trabalhar com a aplicação dos processos de aprendizagem. É na sessão lúdica onde observamos a conduta do sujeito como um todo, colocando também um foco sobre o nível pedagógico e trabalhando as questões que precisam ser desenvolvidas para a autonomia do sujeito. O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança, aquilo que na vida real passa despercebido por ser natural, torna-se regra quando trazido para a brincadeira. (VYGOTSKY, 1989, p.19). Baseados nisso podemos perceber o quanto a ludicidade que abrange os jogos, os brinquedos e as brincadeiras, tem relevância em função de serem tão característicos à infância e em função UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR, v.16, n.1, 2018. 229 disto devem ser de atuação do psicopedagogo tanto nas atividades avaliativas como nas interventivas. PROVAS E TESTES O uso de provas e testes não é indispensável em um diagnóstico psicopedagógico, porém representa um recurso á mais a ser utilizado quando avaliado necessário na especificação do nível pedagógico, estrutura cognitiva e ou emocional do sujeito. Provas operatórias, testes psicométricos e técnicas projetivas poderão ser relacionados de acordo com a necessidade de confirmação de aspectos levantados ao longos das sessões anteriores (E.F.E.S, Anamnese, Sessões Lúdicas centradas na Aprendizagem, etc). Existem diversos tipos de testes e provas para serem atrelados a um diagnóstico, como as provas de inteligência (WISC é o mais conhecido, porém de aplicação exclusiva por psicólogos), avaliação perceptomotora (Teste de Bender, cujo objetivo é avaliar o grau de maturidade visomotora do sujeito também só podendo ser aplicado por psicólogos); testes projetivos (CAT, TAT, desenho da família, desenho da figura humana, também de uso apenas para psicólogos). Os psicopedagogos devem ser criativos e desenvolver atividades que atendam a mesma propositura dos testes apenas administrados por psicólogos, ou trabalhar em conjuntos com uma equipe multidisciplinar objetivando levantar todos os aspectos que envolvem a hipótese do diagnostico inicial lembrando sempre que a psicopedagogia não é um ramo da medicina, mas sim da educação acoplado com a saúde. Dessa forma prioriza-se o conhecimento sobre o qual o processo que se dá a aprendizagem. Lembrando também que algo padronizado não vai servir para todos os “aprendentes”, os testes são apenas umas das alternativas de uso. Na concepção de Weiss: “as provas operatórias tem como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções chave do desenvolvimento cognitivo, detectado o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognitiva que opera”. (2012, p.106). Os psicopedagogos podem aplicar diretamente os testes de TDE (que busca oferecer de forma objetiva a avaliação das capacidades fundamentais para o desempenho escolar, mais especificamente da escrita, aritmética e leitura); Teste ABC (para verificar nas crianças de escola primária o nível de maturidade requerido para a aprendizagem da leitura e da escrita); Provas de nível de pensamento (Piaget, como alvo principal crianças na fase escolar, com objetivos de investigar e avaliar o nível cognitivo da criança e constatar se realmente corresponde a sua idade cronológica ou se existe alguma defasagem), testes psicomotores e jogos psicopedagógicos. SÍNTESE DIAGNÓSTICA – PROGNÓSTICO A síntese diagnóstica possui uma grande relevância tanto quanto o tratamento. È um processo pelo qual o profissional irá compilar as hipóteses levantadas anteriormente e analisará se foram UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR,v.16, n.1, 2018. 230 ou não confirmadas ao longo da trajetória proposta, recorrendo para isso é conhecimentos práticos e teóricos, formulando então uma única hipótese que por sua vez apontarão para um prognóstico e indicação de como reverter ou melhorar o quadro evidenciado. O objetivo da síntese diagnóstica conforme Weiss (1992) é de identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem que o impedem o sujeito de crescer dentro do esperado pelo meio social. ENTREVISTA DE DEVOLUÇÃO E ENCAMINHAMENTO É o momento em que o psicopedagogo irá relatar o motivo da avaliação (encaminhamento), período e número de sessões, instrumentos utilizados, descritivo das dimensões do sujeito, síntese dos resultados que concluiu, articulando as queixas, os sintomas, os obstáculos e as possíveis causas bem como o prognóstico, ou seja, as indicações. É perfeitamente normal que esse momento seja norteado por muita ansiedade dos envolvidos, ou seja, o psicopedagogo, o paciente e os pais e que deve ser bem conduzida para que haja efetiva participação de todos na eliminação das dúvidas, não se deve ater somente a apresentação das conclusões, é necessário sensibilizar os pais para que tomem todas as rédeas e assumam o problema em todas as suas dimensões, procurando afastar rótulos e fantasmas. Inicialmente o ideal é que se toque nos aspectos mais positivos do paciente, para que o mesmo se sinta valorizado e somente depois deverão ser mencionados os pontos causadores dos problemas de aprendizagem. Weiss (1992) orienta organizar os dados sobre o paciente em três áreas: pedagógica, cognitiva e afetivo-social, com um roteiro, para que o psicopedagogo não se perca e não deixe os pais confusos. A atitude do psicopedagogo deve ser compreensiva e acolhedora com os pais, promovendo a articulação e a integração coerente dos dados e de seus significados. A devolutiva deve fazer com que a visão dos pais, em relação ás suas práticas educativas se amplie. Posteriormente o psicopedagogo menciona as recomendações como estimular leitura em casa, amenizar superproteção dos pais ou responsáveis, aumento das responsabilidades á criança ou até a troca da escola ou turma e indicar os atendimentos que julgue necessários como psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. Além disso, o psicopedagogo também deve fazer a devolutiva na escola, e traçar com a equipe pedagógica as estratégias necessárias para sanar as dificuldades. Dessa forma a integração entre escola, família, sujeito e profissionais caminharão em conjunto. Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo de aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades, dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação (BOSSA, 2000, p.23). CONDISERAÇÕES FINAIS UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR, v.16, n.1, 2018. 231 Todo processo de aprendizagem é composto por três elementos: em primeiro lugar há a pessoa que aprende, que traz consigo os órgãos dos sentidos, seu sistema nervoso, seu sistema muscular e também o conjunto de habilidades e capacidades que adquiriu anteriormente. Em segundo lugar, existe a situação estimuladora, compreendendo o conjunto de fatores que estimulam os órgãos dos sentidos como a família, a escola e a sociedade que a pessoa está inserida e finalmente, há a ação ou resposta que resulta da estimulação e da atividade nervosa subsequente. O primeiro elemento corresponde à condição interna e o segundo, à condição externa, graças aos quais, o terceiro elemento se manifesta, ou seja, a resposta. As dificuldades de aprendizagem interferem consideravelmente na vida do cidadão, dessa forma quanto mais precocemente forem observadas melhor será o seu diagnóstico e tratamento, dando importância e atenção devida que o compreende. Sabe-se que o déficit de aprendizagem pode ter causas das mais diversas, como um simples elo afetivo, um suporte pedagógico precário, além de distúrbios de ordem físio-motora do sujeito, o importante é que o psicopedagogo saiba introduzir os meios para um diagnóstico cuidadoso, evitando rotular ou marginalizar o sujeito aprendiz. Cabe, portanto, ao psicopedagogo diante das dificuldades apresentadas, ser capaz de ouvir, falar, propor, intervir diagnosticar e encaminhar corretamente o sujeito á profissionais especialistas quando realmente necessário, envolvendo nesse trabalho todos os que se relacionam diretamente ou indiretamente com o individuo, ou seja, a família, escola, amigos, etc. Dessa forma o trabalho do mesmo deverá ser um trabalho de dedicação, de atenção, acolhimento e sensibilidade para redescobrir o indivíduo, aprimorar e transformar sua vida, através do respeito a si próprio e ao próximo, tornando – o ativo, capaz e único dentro da sociedade onde vive. REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. 19ª ed. São Paulo: Cortez, 1987. BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2009. GUIMARÃES, Inês Elcione; RODRIGUES, Sônia D.; CIASCA, Sylvia Maria. Diagnóstico do distúrbio de aprendizagem. In: CIASCA, Sylvia Maria. (Org). Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. Cap.04, p.67-90. UHLMANN et al (2018) Revista Científica UNAR, v.16, n.1, 2018. 232 LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1999. RUBINSTEIN, Edith. A psicopedagogia e a Associação Estadual de Psicopedagogia São Paulo. In SCOZ, Beatriz Judith Lima (et al). Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Medicas, 1987. RUBINSTEIN, Edith. A Especificidade do diagnóstico Psicopedagógico. In: Atuação Psicopedagógica e Aprendizagem Escolar. Petrópolis: Vozes, 1996. VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993. VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007. WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clinica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clinica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 14ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2012.