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30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 1/33 A AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES COGNITIVAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Saber: Compreender a formação das funções cognitivas, sabendo observar e avaliar o processo de desenvolvimento de tais habilidades. Fazer: Observar como são formadas as funções cognitivas desde o nascimento do bebê, conseguindo avaliar as habilidades humanas que propiciam a autonomia intelectual, social e emocional. A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo nos destinaremos a avaliar as principais funções cognitivas. Desse modo, dividimos esse capítulo em três partes: funções cognitivas elementares, processamento sensorial e funções cognitivas superiores. O objetivo desse capítulo será de possibilitar que você possa identi�car os atrasos ou avanços no desenvolvimento cognitivo humano. Ao avaliar tais condições podemos estimular as habilidades em busca de um desenvolvimento integral humano. Na primeira parte, denominadas funções cognitivas elementares, identi�caremos a importância dos re�exos do bebê. Os re�exos são respostas neurológicas que demonstram que tudo está ocorrendo bem na parte funcional do cérebro de um Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 2/33 recém-nascido. Crianças que nascem com lesões neurológicas não correspondem bem aos re�exos e nesses casos há a necessidade de estimulação precoce. Nos desenvolvemos com a interação social, com as experiências que vivenciamos no mundo, com os objetos e pessoas que nos cercam. Recebemos as informações do mundo pelas vias sensoriais: tato cinestésico, olfato, paladar, visão, audição, vestibular e proprioceptivo. Ao processarmos as informações sensoriais que nosso cérebro se modi�ca e aprende, por isso, na segunda parte desse capítulo nos destinamos a explicar sobre o processamento sensorial sob a perspectiva de avaliar se o sujeito responde corretamente aos estímulos sensoriais. Um bom desenvolvimento no processamento sensorial é um pressuposto de um bom desenvolvimento cognitivo. Por �m, encerraremos esse capítulo tentando identi�car e avaliar as funções cognitivas superiores, destacando a percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas. As funções cognitivas superiores são as que nos identi�cam enquanto seres racionais, ou seja, seres capazes de re�etir, planejar e executar uma ação. As funções cognitivas superiores são o re�exo do nosso desenvolvimento intelectual. Saber avaliar tais condições é essencial para todos aqueles que lidam com o desenvolvimento e aprendizagem humana. Como podemos perceber, neste capítulo nos destinamos a avaliar as funções cognitivas desde o nascimento do ser humano, não no intuito de rotular um sujeito, mas na perspectiva de estimular suas habilidades e proporcionar sempre seu desenvolvimento integral. Saber avaliar é o primeiro passo para que possamos realizar uma intervenção adequada diante da necessidade de cada pessoa. Temos um cérebro plástico, moldável, portanto, todo estímulo, se bem realizado, é capaz de possibilitar um desenvolvimento amplo e integral para cada sujeito. 2 A AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES COGNITIVAS Avaliar as funções cognitivas é o primeiro passo para que possamos intervir e possibilitar novas aprendizagens. Saber como foi o desenvolvimento da pessoa desde seu nascimento, se teve integridade no desenvolvimento neurológico ou se teve alguma lesão nos possibilitará saber o foco da intervenção. O objetivo de uma avaliação nunca será para delimitar o desenvolvimento de alguém, mas sim, de possibilitar um olhar para um planejamento de intervenções que desenvolvam as Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 3/33 habilidades necessárias para cada um. Neste capítulo, pontuaremos as principais características no desenvolvimento cognitivo humano, desde o nascimento até as habilidades mais aprimoradas que podemos ter, visando possibilitar novos olhares perante o desenvolvimento humano. 3 FUNÇÕES COGNITIVAS ELEMENTARES Como visto no Capítulo 1, as funções cognitivas são desenvolvidas conforme os estímulos sociais e culturais que temos contato. Segundo Vigotski (2009) a criança nasce apenas com funções cognitivas elementares que se referem ao desenvolvimento biológico. Em contato com os estímulos sociais começa a se desenvolver as funções cognitivas superiores, que são as ações conscientes e voluntárias. É válido pontuar que o termo utilizado por Vigotski (2009) é de funções psicológicas e não cognitivas, no entanto, nesse contexto os termos são equivalentes. Primeiramente vamos falar das funções cognitivas elementares. Basicamente a estrutura mental biológica se refere aos re�exos com que o bebê nasce, sendo os mais conhecidos: re�exos de busca, esse re�exo ajuda o recémnascido a encontrar o seio, a começar a amamentação. Ao tocar qualquer região em torno da boca, ele vira o rosto para o lado estimulado. Re�exo de sucção é referente à quando o bebê abre a boca e suga o que aparece à sua frente. Re�exo de preensão palmar, quando há um estímulo perto dos dedos dos pés, estes se fecham e agarram o que tocou. Re�exo de preensão plantar, assim como o palmar, a partir de um estímulo perto dos dedos dos pés, se fecham e agarram o que tocou. Re�exo de Moro ocorre quando o recém-nascido se desloca do centro de gravidade se sentindo assustado ou desequilibrado. O bebê joga a cabeça para trás, estica as pernas, abre os braços e os fecha depois. Re�exo de Babinsk, a partir de um estímulo na sola dos pés há uma extensão do primeiro dedo dos pés e os outros dedos fazem movimento de leque. E o re�exo de Marcha, a partir da posição em pé, com apoio nas axilas, o bebê ergue uma perna dando a impressão de estar andando (BEZIERS; HUNSINGER, 1994). Re�exo signi�ca movimento automático, portanto, a estrutura mental biológica não é consciente, são ações involuntárias que nosso cérebro encaminha para todo o corpo. Esses re�exos são também conhecidos como re�exos primitivos (BEZIERS; HUNSINGER, 1994). Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 4/33 As funções cognitivas elementares são base para a formação das funções cognitivas superiores. É por meio desses re�exos que o bebê começa a interagir com o mundo e a formar novas conexões sinápticas, ou seja, novas aprendizagens. Quando o bebê reage por meio desses re�exos ele nos mostra que seu cérebro está com uma boa estrutura funcional. Uma criança que sofre uma lesão neurológica, por exemplo, pode não reagir com movimentos automáticos, sinalizando que algo errado está ocorrendo com seu cérebro, podendo causar prejuízos em seu desenvolvimento global (VIGOTSKI, 2009). Logo após o nascimento do bebê e nas primeiras consultas médicas o pediatra realiza alguns testes para ver suas reações re�exas, ou seja, para ver se a criança não possui nenhuma alteração neurológica. Caso note-se que o bebê não reage a esses re�exos, o pediatra encaminha a criança para acompanhamento com neurologista, com o intuito de identi�car a lesão para estimular adequadamente a criança (BEZIERS; HUNSINGER, 1994). Uma criança com paralisia cerebral, por exemplo, pode não apresentar o re�exo de marcha e de preensão plantar ou palmar. Necessitando de estímulos mais aprimorados para o desenvolvimento da motricidade que serão proporcionados pelos pro�ssionais de �sioterapia (POLONIO, 2015). A paralisia cerebral refere-se a uma lesão cerebral que prejudica o desenvolvimento motor da criança. Essa lesão pode ocorrer por problemas pré-natais, como hipertensão e diabetesgestacional, perinatais, como falta de oxigênio no parto ou pós-natais, como meningite ou outras infecções adquiridas (POLONIO, 2015). Por meio dos estímulos sociais e culturais, mesmo a criança com alguma lesão cerebral poderá desenvolver as funções psicológicas superiores, no entanto, esta Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 5/33 criança necessitará de estímulos diferenciados para almejar esse objetivo. Nesses casos, a estimulação precoce é indispensável para o desenvolvimento integral dessa criança. Os primeiros anos de vida da criança é um período rico com diversas modi�cações importantes e fundamentais para toda a vida, neste momento apresentam características de desenvolvimento das habilidades cognitivas e motoras. É nesta etapa de aprendizagem e desenvolvimento que o organismo se torna apto ao aparecimento dos marcos que possibilitam as crianças o processo linear de seu crescimento global (PERIN, 2010). A carência da estimulação ou a falta dela nos primeiros anos de vida de uma criança pode interferir no ritmo do processo evolutivo e aumentar as chances de transtornos psicomotores, socioafetivos, cognitivos e da linguagem (PERIN, 2010). De acordo com a perspectiva histórico-cultural, a concepção de homem está relacionada à sua vida em sociedade, sua cultura e à relação com o trabalho, o qual é responsável pela sua formação e transformação. O homem compreende a realidade por meio das relações que estabelece com outras pessoas e por intermédio de signos e de instrumentos, essa relação favorece as formas de agir e transformar a natureza. Com relação a criança, a aprendizagem e o desenvolvimento acontecerão devido às trocas realizadas entre criança/criança, criança/objeto, criança/adulto. Garcia (2005) a�rma que os signos e os signi�cados culturais são internalizados, a consciência é dirigida pelas necessidades sociais, essa mediação é responsável por recriar a atividade psíquica e o que era antes coletivo passa a ser individual. Por meio das diversas formas de comunicação, a criança desenvolve características especí�cas que Vigotski (2009) chama de funções psicológicas superiores (FPS). Leontiev (1978) a�rma que o homem quando nasce é um candidato à humanidade, torna-se homem no convívio com outros homens. Com base neste pressuposto, o desenvolvimento das funções psicológicas superiores deve prevalecer sobre as funções elementares. Assim, a condição orgânica da criança Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 6/33 com fatores de risco não necessariamente vai interferir em seu desenvolvimento, vai depender das possibilidades de compensação concretizadas pelo grupo social (GÓES, 2002). Para Vigotski (1989), o desenvolvimento ocorre da mesma forma com todas as crianças. Mas, na condição de atrasos de aprendizagem ou até mesmo de�ciência, existem algumas especi�cidades na organização sociopsicológica. Essas especi�cidades requerem caminhos diversos e a utilização de recursos e metodologias diferenciadas. Góes (2002, p. 99) destaca que, [...] no homem, ocorrem compensações de ordem orgânica, pelas quais um órgão substitui outro ou realiza as funções deste. Mas, para compreender o funcionamento humano, é essencial considerar as compensações sociopsicológicas, que são distintas (embora possam ser vistas como análogas) das orgânicas. No plano sociopsicológico, as possibilidades compensatórias do indivíduo concretizam-se na dependência das relações com outros e das experiências em diferentes espaços da cultura. A re�exão que se faz neste sentido é que como a criança com fatores de risco pode apresentar atrasos signi�cativos, o trabalho de estimulação precisaria iniciar precocemente. Compreende-se, então, que a compensação é primordial na formação da criança com fatores de risco, seu desenvolvimento vai depender da qualidade de sua interação com o outro, ou seja, das condições concretas de estímulos. Nesta perspectiva, o não desenvolvimento da criança não está atrelado à condição de risco, mas ao trabalho a ser desenvolvido com ela, por meio de recursos e metodologias diferenciadas. As crianças que apresentam um histórico de fatores de risco pré, peri e pós-natal podem apresentar ritmos de aprendizagem diferenciados sem serem atendidas em suas necessidades de aprendizagem e como consequência, tardiamente serem diagnosticadas com de�ciência, principalmente intelectual (COLLARES; MOYSÉS,1994). Segundo Leontiev (1978), a criança quando inserida em ambientes adequados e com vivências de experiências novas e metodologias apropriadas, podem apresentar progressos signi�cativos, superando suas di�culdades. No entanto é importante um diagnóstico preciso, o qual vai considerar aspectos importantes, tais como: Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 7/33 [...] as disposições biológicas; as particularidades intelectuais (principalmente as referentes à atividade nervosa superior), a importância das particularidades emocionais; o campo das motivações da personalidade da criança. Além disso, as condições sociais em que a criança vive e se desenvolve, os métodos pedagógicos utilizados, a necessidade de ajuda especial são aspectos fundamentais (GARCIA, 2005, p. 48). Cabe, então, criar condições favoráveis para a aprendizagem com forças compensatórias, como, conforme já foi dito anteriormente, recursos e metodologias diferenciadas. É importante ressaltar que a criança com fatores de risco pode não aprender no ritmo e tempo de uma criança normal, cada criança tem ritmo e tempo de aprendizagem únicos, podem necessitar de um ensino em tempo mais prolongado e seus limites não devem ser predeterminados e nem subestimadas suas capacidades (FIERRO, 2004). Dessa forma, a qualidade da mediação e os estímulos corretos são fundamentais para o desenvolvimento da criança com fatores de risco. O trabalho com a Estimulação Precoce tem colaborado muito para amenizar ou superar sequelas e ou evitar de�ciência de grau mais acentuado. Perin (2010, p. 4) a�rma que: Há crianças que nascem com problemas que poderão gerar limitações no desenvolvimento em diferentes áreas e com intensidades variadas, esses se diferenciam dos outros tipos de problemas pela natureza de seus sinais e sintomas, pelas formas de tratamento e pelas possibilidades de intervenção no sentido de gerar ou não de�ciências nos seus portadores. Diante do que foi exposto surge a necessidade de um atendimento precoce e diferenciado nos primeiros anos de vida o que pode ser realizado pela Estimulação Precoce. Perin (2010, p.8) contribui destacando que: A identi�cação precoce é uma alternativa indispensável quando não houve prevenção pré, peri e pós-natal, podendo garantir um controle de desenvolvimento infantil através de estudos do crescimento, da nutrição, da maturação social e do desenvolvimento linguístico e psicomotor. O estímulo deve acontecer logo nos primeiros meses, tornando menores as probabilidades de se intensi�car problemas, minimizando assim danos a evolução da criança, danos esses decorrentes de fatores ambientais e orgânicos, tanto de ordem física como psicológica. Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 8/33 Fonseca (1995) defende que as intervenções de estimulação salvaguardam a integridade do potencial de aprendizagem e a não intervenção em períodos sensíveis pode acumular efeitos mais tarde irrecuperáveis. 4 PROCESSAMENTO E INTEGRAÇÃO SENSORIAL Conforme Vigotski (2009) o ambiente ao nosso redor é carregado de informações, que são o tempo todo captadas por nossos sentidos. Essa é a funçãodeles, porém só conseguimos signi�car essas informações por possuirmos um processamento sensorial. Sem um processamento sensorial adequado haveria somente um conjunto de informações brutas sem signi�cado. Essa signi�cação vai desde uma onda sonora que é compreendida como o latido de um cachorro, ou a luz que ao ser captada é entendida como cor ou forma, até mesmo a sensação de pressão ao apertar a mão de alguém durante um cumprimento. A essa organização das informações recebidas do ambiente damos o nome de processamento sensorial. Este processo é dinâmico, e para entendê-lo devemos ter em mente três palavras: cíclico, feedback e input. Sempre que realizamos alguma atividade os nossos sentidos recebem alguma informação, um input sensorial. Acontece que ao continuar a atividade o próprio movimento vai gerar mais input, que após ser compreendido será transformado em mais resposta, em um processo dinâmico chamado feedback. A última palavra que comentamos foi cíclico, pois todo o processamento sensorial é formado por rotinas que se repetem (AYRES, 2005). Uma forma interessante de compreender esse funcionamento é usando a visão de Ayres (2005), onde basicamente o cérebro é uma máquina com uma função especí�ca: o processamento sensorial. Para que uma pessoa possa interagir com seu ambiente e manter uma rotina é necessário que o cérebro receba e processe as sensações, e�cazmente, e gere respostas adaptativas. Imagine que cada estímulo, cada sensação tem por função alimentar o cérebro – da mesma forma que a comida alimenta o corpo. Mas o alimento, puro e simples, ao ser ingerido não nutre o corpo, a menos que seja digerido, da mesma forma acontece com nosso cérebro: os estímulos brutos não o alimentam, e nessa parte entra a �gura do processamento sensorial, que digere os estímulos para o cérebro e assim o alimenta (AYRES, 2005). Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 9/33 Começamos a interpretar e compreender as informações sensoriais na infância e, para os recém-nascidos, que vivem em um mundo principalmente sensorial, seu grande desa�o é se relacionar com toda essa carga sensorial que é recebida. Um bebê suga, ajusta o corpo ao colo de quem o segura e responde a sons. Ele também é balançado, acompanha uma pessoa em movimento, é tocado, segue com um olhar um determinado objeto e sente a relação de seu corpo com a gravidade, etc. todas essas atividades sensório-motoras simples, mas que sem a integração sensorial que acontece será impossível para ele, ao longo da vida, se desenvolver adequadamente (AYRES, 2005). Um ponto que demonstra ser crítico quando pensamos na relação da integração sensorial com interação social é a habilidade adaptativa que temos para perceber o evento de forma integral, ou seja, reunir os estímulos sensoriais que recebemos e com eles montar a sequência de eventos que se apresenta, bem como a nossa reação a eles. Por exemplo, uma pessoa está na cozinha lavando a louça e deixa um prato cair no chão. Ela não percebe o atributo auditivo de forma independente do atributo visual, e sim um objeto que se chocou com o chão emitindo um som. Através de diferentes modalidades sensoriais nós recebemos múltiplas sensações que correspondem a maioria das experiências sensoriais, e tem, conforme dito antes, relação direta com a interação social. Se, ao cruzar uma rua, ouvimos a buzina de um carro, primeiramente temos que fazer a integração desse som a imagem de um carro, após isso, para poder desviar, evitando o atropelamento, é necessário nos localizarmos espacialmente, sabendo tanto a nossa posição, quanto a do automóvel (SERRANO, 2016). O alto número de interações sensoriais que a vida cotidiana nos propicia torna a vivência diária praticamente impossível sem uma integração sensorial adequada. A cada instante recebemos um número de informações sensoriais que passa dos milhares, e que atinge todos os sentidos ao mesmo tempo. Um bebê não possui a habilidade, já presente nos adultos, de �ltrar os estímulos de maior relevância para uma determinada �nalidade, porém nos primeiros seis meses o recém- nascido desenvolve habilidades de processamento multissensorial, e ao longo do seu desenvolvimento continuam a aprimorar estas. Segundo Serrano (2016), essas são as precursoras das habilidades de comunicação e de interação social. No decorrer da vida, conforme demonstra Ayres (2005), existem vários processos motores e sensoriais que permanecem relativamente estáveis, isso ocorre, pois, as Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 10/33 interconexões neuronais que formam tais processos decorrem de estimulações sensoriais e motoras durante a infância. Assim, segundo a autora, habilidades acadêmicas, comportamentais ou emocionais, originam-se de uma base sensório- motora, e podemos relacionar a habilidade da criança de integrar informações sensoriais à grande parte de sua capacidade de aprendizagem, uma vez que lidar com essa gama de processos que ocorrem de forma simultânea é papel do processamento sensorial. Ao nos debruçarmos sobre esses processos nos depararemos com aqueles salientados por Palermo (2015): a integração, a modulação, a discriminação, as respostas posturais e a práxis. Destaquemos inicialmente o papel da integração sensorial, garantindo a percepção da experiência como uma coisa única, conforme nos lembra Ayres (2005), a�nal para fazer sentido, os impulsos elétricos, que são nossas sensações, devem ser integrados. Quando observamos uma laranja, a primeira ação do cérebro é integrar as sensações dos olhos, de forma que a luz seja experienciada como forma e cor, assim como através da integração das sensações do nariz podemos perceber o perfume cítrico da fruta. Ao tocar a laranja podemos perceber a rigidez externa e sua umidade interna através das pontas dos dedos ou da palma da mão. Enxergar a laranja, escutar o som que se faz ao descascar, sentir a textura e o gosto, saber a posição exata das mãos, qual deve ser a abertura da boca, a força e intensidade da mordida, são habilidades necessárias para comer a laranja e dependem da integração sensorial. Para Ayres (2005) modulação é aquela que, de forma imediata, equilibra, ajusta, no sistema nervoso o �uxo de informações sensoriais. A modulação é, no sistema nervoso, seu processo de autorregulação. Imaginemos que nosso cérebro tem uma sirene que dispara a cada informação sensorial que recebemos, assim toda vez que recebemos um impulso novo a sirene toca. Como já vimos antes recebemos estímulos, informações sensoriais, a todo momento, mas a maioria deles é irrelevante. Se não tivermos um tipo de �ltro perceptivo a sirene não parará de tocar não conseguiremos focar naquilo que é importante. Essa “sirene”, de fato existe, pois, toda sensação de que recebemos ativa receptores sensoriais, e a esse processo damos o nome de excitação (PALERMO, 2015). Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 11/33 Quando estamos andando descalço dentro de casa, com o chão molhado sob nossos pés, recebemos a informação que vem do toque do nosso pé com o piso, a água fria entre os dedos, a sensação da gravidade que mantém nosso equilíbrio, mas também estamos ouvindo o barulho de um carro passando na rua, a sensação da roupa tocando nossa pele, nossos olhos captam toda e qualquer imagem ao nosso redor. Como dito antes, a maioria desses estímulos é irrelevante para a tarefa de andar sobre um piso molhado, então, através de um processo chamado inibição, nosso cérebro �ltra as informações inúteis e foca no que é importante naquele momento. Se assim não fosse �caríamos atordoados e distraídos o tempo todo, sem condições de executarnenhuma tarefa (PALERMO, 2015). Excitação e inibição precisam estar em equilíbrio, causando uma modulação sensorial, e uma vez isso ocorrendo é possível por exemplo a alternância entre estados como sonolência/alerta, atenção/desatenção, uma vez que o cérebro �ltrará os estímulos e redirecionará a atenção do indivíduo para onde seu foco é necessário. Se assim não fosse, os impulsos que chegam ao cérebro seriam tratados com a mesma importância, e se espalhariam, de forma desorganizada e descontrolada, pelo sistema nervoso. Quando recebemos os estímulos somos capazes de distingui-los no tempo e espaço, de acordo com suas características. O responsável por isso, de acordo com Serrano (2016), é o componente do processamento sensorial chamado discriminação, que permite nos localizarmos espacialmente, entendendo a posição do corpo e velocidade do movimento, diferença entre palavras, altura da voz etc. Segundo Palermo (2015), esses processos são complexos e acontecem simultaneamente. Quando o cérebro recebe o estímulo sensorial ele envia mensagens de respostas, o que levará a pessoa a executar uma ação diante do estímulo recebido, mas para isso é necessário que o processamento sensorial seja e�ciente para que a resposta seja adequada. Imagine que nosso cérebro possui um �ltro, esse �ltro é a capacidade de processar as informações sensoriais. Quando recebemos todos os estímulos sensoriais que estão ao nosso redor, �ltramos as sensações para a atividade relevante naquele momento. Por exemplo, se estou em uma sala de aula e recebo vários estímulos sensoriais olfativos, auditivos, táteis, visuais, proprioceptivos e vestibulares, mas tenho que focar minha atenção para a atividade principal, que a Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 12/33 explicação do professor. Essa ação de focar minha atenção ao que o professor está falando chamamos de resposta sensorial adequada. Para ilustrar melhor essa situação trouxemos essa imagem: FIGURA 1 - FILTRO PERCEPTIVO TÍPICO FONTE: A autora. O cérebro só se desenvolve se recebe uma variedade de estímulos sensoriais, pois os neurônios necessitam ser estimulados para se interconectarem e assim estruturarem caminhos neurológicos de aprendizagem. Necessitamos de estímulos sensoriais adequados para desenvolver um sistema sensorial, por exemplo, desenvolveremos a visão se recebemos estímulos de luz, cores e formas, assim como só desenvolveremos as habilidades auditivas se tenho um repertório de variados tipos de sons, ou seja, sem os estímulos sociais não há conexão neurológica e assim não há aprendizagem (SERRANO, 2016; PALERMO, 2015).A percepção é formada quando o estímulo sensorial é processado adequadamente. Pessoas com de�ciência sensorial não desenvolvem a percepção sensorial de�ciente, ou seja, o cego não desenvolve as habilidades de visão, e o surdo não desenvolve as habilidades de audição. Eles compensam suas necessidades com Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 13/33 outros estímulos sociais que são dispostos pelas vias sensoriais que não são comprometidas (LURIA, 1981). Pessoas com di�culdades no processamento sensorial também apresentam di�culdades na formação das percepções. As di�culdades no processamento sensorial se referem a pessoas que recebem os estímulos sensoriais e o processam de forma diferente, ou de forma muito intensa, se caracterizando como uma hiperresposta sensorial, ou de forma muito lenta se caracterizando como uma hiporresposta sensorial (SERRANO, 2016; PALERMO, 2015). A hiperresposta se caracteriza pela forma do cérebro �ltrar a informação sensorial de forma intensa, até agressiva. Por exemplo, uma pessoa com hiperresposta auditiva não tem tolerância sensorial para determinados sons, tampando seus ouvidos rapidamente para �ltrar essa reação. Ou pessoas com hiperresposta tátil podem não aceitarem a �bra do tecido da roupa, sentido um grande desconforto ao se vestir com determinados tecidos (SERRANO, 2016; PALERMO, 2015). O �ltro perceptivo dessas pessoas é diferente, não apresentando uma resposta adequada para a sensação ativada, como vemos ilustrado na �gura a seguir: FIGURA 2 - FILTRO PERCEPTIVO HIPERRESPONSIVO FONTE: A autora. Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 14/33 As pessoas que apresentam hiporresposta sensorial possuem di�culdades de �ltrar essa percepção, não conseguindo identi�car a sensação. Para imaginar essa situação, imagine que você dormiu em cima do seu braço e acordou com ele dormente, naturalmente você irá buscar estímulos táteis e proprioceptivos para ativar a sensação ausente. A sensação da pessoa que tem hiporresposta sensorial é como se fosse um estímulo que se apresenta de forma fraca, insu�ciente. Nesses casos a pessoa busca o estímulo sensorial a todo momento. Por exemplo, pessoas com hiporresposta tátil buscam estímulo de texturas, temperaturas e tremores táteis a todo momento. (SERRANO, 2016; PALERMO, 2015). O �ltro perceptivo dessas pessoas também é diferente, não apresentando uma resposta adequada para a sensação ativada, como vemos ilustrado a seguir: FIGURA 3 - FILTRO PERCEPTIVO HIPORRESPONSIVO FONTE: A autora. Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 15/33 Sujeitos com essas di�culdades apresentadas necessitaram de um trabalho de integração sensorial para regularem as respostas sensoriais. Terapeutas ocupacionais, �sioterapeutas habilitados na área de integração sensorial poderão realizar um trabalho que facilitará a percepção sensorial adequada para essas pessoas. 4.1 FUNÇÕES COGNITIVAS SUPERIORES As funções cognitivas superiores são delimitadas como as funções conscientes do ser humano, ou seja, aquelas ações que necessitam de planejamento mental para serem executadas. Somente o ser humano possui o desenvolvimento dessas funções, pois esse é o único ser que age racionalmente. No entanto, quais seriam as funções cognitivas superiores? Vigotski (2009) refere-se à percepção, atenção, concentração, memória, raciocínio lógico, linguagem e pensamento, criatividade, imaginação etc. Percepção Perceber é mais do que sentir, mas é o fato de atribuir signi�cado aos estímulos que recebemos sensorialmente. Perceber os estímulos auditivos, por exemplo, exige que a pessoa compreenda que existem vários tipos de sons e ruídos e consiga comparar as semelhanças e diferenças de cada som para identi�car a função de cada um. Quando estou em uma sala de aula, preciso perceber que tem sons da natureza fora da sala, passos no corredor, ruídos provocados por meus colegas e a fala do professor. Preciso compor e classi�car cada som, para poder �ltrar minha atenção para o som que naquele momento é relevante (MOMO, 2017). Demos o exemplo da percepção auditiva, mas isso caberia a todos os sentidos. Também a válido ressaltar que o desenvolvimento da percepção é integrado, não sendo composto por sentidos sensoriais isolados. Quando vamos atravessar a rua, preciso perceber o meu corpo, ter noção do meu corpo para posicionar a velocidade de meus passos, ter equilíbrio, também preciso ter percepção auditiva e visual para ouvir o barulho dos carros, das pessoas que estão a minha volta, dos animais, todas essas percepções integradas te permitem atravessar a rua. Algo que para você pode parecer tão rotineiro exige uma consciência de todos os seus sentidos. A percepção é de extrema importância para o desenvolvimento das outras funções cognitivas (SERRANO, 2016; MOMO, 2017). Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=216/33 Percepção auditiva Percepção visual Como identi�car que a pessoa possui um bom desenvolvimento perceptivo? Iremos pontuar agora aspectos relevantes de cada percepção. Novamente destacamos que para �ns acadêmicos iremos separar as funções, mas que nenhuma função perceptiva ou cognitiva se sobrepõe a outra, é na integração de todas elas que o ser humano é formado integralmente (MOMO, 2017). A linguagem oral e a produção da fala só são possíveis graças a função sensorial denominada audição. De acordo com Palermo (2015) função auditiva se desenvolve à medida que as habilidades auditivas surgem e se interligam na rotina diária da criança. Para que ocorra um desenvolvimento das habilidades auditivas é necessário que a criança faça a integração das estruturas do sistema auditivo da porção periférica central, e também que estas estruturas estejam funcionando plenamente. Para tanto a criança passará por uma sequência de quatro etapas auditivas: detecção auditiva (perceber presença/ausência do som), discriminação auditiva (perceber a intensidade e frequência do som), reconhecimento auditivo (reconhecer de onde vem o estímulo, nomear e repetir o que ouviu), compreensão auditiva (ao receber os estímulos sonoros entender sem necessidade de repetição). Palermo (2015) nos recorda que a audição nos bebês é re�exa (se produz sem a participação da vontade, a partir de alguma excitação), e que as respostas comportamentais aos sons e as experiências auditivas têm início a partir da exposição da criança a uma variedade de estímulos auditivos. Ao nascer o sistema auditivo do bebê já está formado, ocorrendo um amadurecimento das vias auditivas tanto em nível de córtex auditivo quanto de tronco encefálico. Até os dois anos de idade é o momento com maior plasticidade neuronal, no que diz respeito a via auditiva, sendo assim todo estímulo resultará em uma modi�cação, de acordo com qualidade e quantidade de estímulos apresentados. Por causa disso, detectar possíveis alterações que possam existir devem ser feitas o mais cedo possível, para que essa plasticidade seja aproveitada (SERRANO, 2016). O processo de desenvolvimento da visão começa ainda durante o período de gestação, e continua após o nascimento (MOMO, 2017). O bebê passa por etapas Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 17/33 de desenvolvimento da visão que seguem o contato de olho, movimentar os olhos para buscar estímulo visual, sorrir para as pessoas, reconhecimento dos pais, respostas para expressões faciais, reagir para objetos que se aproximam do olho, imitação, compreensão de gestos e apontar ao que necessita. Podemos observar na �gura a seguir as etapas do desenvolvimento da visão do bebê: FIGURA 4 - ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA VISÃO DO BEBÊ FONTE: <http://bit.ly/2MF8bTX>. Acesso em: 11 jun. 2019. Veri�car se o sujeito possui um bom desenvolvimento visual requer observar as estruturas oculares, como: acuidade visual (capacidade de enxergar objetos de perto e de longe com nitidez e detalhes), campo visual (área especí�ca na qual os objetos são vistos simultaneamente), adaptação visual (habilidade de se adaptar a diferentes condições de iluminação), visão binocular (visão de profundidade e a visão tridimensional) sensibilidade aos contrastes (capacidade que o sistema visual possui em detectar a diferença de brilho entre duas superfícies adjacentes), visão de cores, entre outras. Tais funções geralmente são avaliadas por oftalmologistas, por meio de exames clínicos. Já a visão funcional pode ser avaliada por pro�ssionais que atual na habilitação, reabilitação e educação. A visão funcional Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 18/33 A pessoa reage a luz? avalia a e�ciência na realização de atividades cotidianas que necessitam da visão, como olhar nos olhos de outra pessoa, �xar e seguir um objeto em movimento, discriminação e reconhecimentos de formas, tamanhos, cores etc. (PALERMO, 2015). A avaliação funcional refere-se à observação do comportamento da pessoa. Tal avaliação deve ser feita em um processo lúdico e acolhedor, levando em consideração todas as vivencias experimentadas pelo sujeito, bem como seu desenvolvimento socioafetivo, motor e linguístico, pois como já dissemos, o desenvolvimento humano é integrado, não existindo de maneira isolada (PALERMO, 2015). Ao observar o comportamento da pessoa podemos avaliar alguns pontos, como: Movimentando uma lanterna na direção superior, inferior, lateral e central na distância de 30 cm podemos observar se o sujeito observa a luz os diferentes campos visuais, ou seja, se ele movimenta seu corpo em busca da luz, se ele localiza o foco luminoso, se reage protegendo os olhos diante de uma luz forte, se pisca em excesso diante da luz ou se olha excessivamente para luz (PALERMO, 2015). - A pessoa �xa o olhar e segue um campo visual? Com a pessoa sentada e a coluna ereta, apresentar um objeto colorido ou de alto contraste a uma distância aproximada de 30 centímetros dos olhos da pessoa, na linha média, e veri�car se ela �xa visualmente o objeto e mantem o olhar. Também é importante observar se ela segue visualmente o objeto nas trajetórias horizontais e verticais (PALERMO, 2015). - A pessoa possui acuidade visual, percebe detalhes de uma imagem ou objeto? Para veri�car essa função, escolha objetos de tamanhos e cores diferenciados e disponha em uma distância em que eles possam ser vistos. Perceba se a pessoa localiza e reconhece o objeto. Faça perguntas como: qual é a cor? Para que serve? Está perto ou longe? É pequeno ou grande? Note se o sujeito pedir para se aproximar muito do objeto, levando muito próximo ao olho, ou se busca tatear para dar função ao objeto (PALERMO, 2015). - A pessoa possui campo visual, ou seja, percebe o que está a sua frente? Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 19/33 Disponha objetos no chão e solicite que a pessoa os guarde em uma caixa. Observe se ele encontrará todos os objetos a sua frente. Mostre uma imagem grande na frente da pessoa e note se ela observa as �guras centrais e periféricas da imagem. Alterne a localização da imagem, dispondo ela mais para esquerda ou direita e veja como será a resposta (PALERMO, 2015). - A pessoa percebe as cores? Apresente objetos iguais com cores diferenciadas e veja se a pessoa reage a uma cor especí�ca. Por exemplo, apresente bolas de cores diferenciadas e veja se ela mantém a preferência por uma determinada cor. Mostre a ela uma bola da mesma cor que está a sua disposição e solicite que ela encontre o igual. Você pode fazer essa atividade com imagens e outros objetos que preferir também. Todas as atividades de pareamento igual com igual ou igual com semelhante irão veri�car essa função visual (PALERMO, 2015). - A pessoa se adapta bem com mudanças visuais? Veri�que se a pessoa possui adaptação visual ao mudar a luminosidade de um ambiente, por exemplo, a luz apagada depois acesa. Observe se a ela se expressa com grande incomodo ou desconforto visual (PALERMO, 2015). - A pessoa possui sensibilidade ao contraste? Disponha a pessoa imagens com contraste, alternando o fundo a �gura principal em preto e branco, amarelo e preto, refere-se à habilidade de detectar diferenças de brilho entre superfícies próximas. Depois veri�que imagens de baixo contraste, por exemplo, fundo laranja e imagem em vermelho, ou fundo azul e imagem verde. Utilizando objetos e �guras de alto e baixo contraste, veri�camos se a pessoa pode perceber as diferenças e identi�car os objetos e as �guras de baixo contraste, ou se ela necessita de alto contraste para a percepção e identi�cação (PALERMO, 2015). Apessoa possui visão binocular, ou seja, percebe imagens pelos dois olhos? Atividades de acerto o alvo e circuito motor (subir escadas, engatinhar, andar em uma linha reta) são capazes de nos indicar se a pessoa possui di�culdades com a visão binocular (PALERMO, 2015). Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 20/33 Desenvolvimento viso motor Tátil/ Cinestésica Segundo Palermo (2015), a avaliação funcional da visão nos permite identi�car as di�culdades de aprendizagem que pessoa possa possuir devido a visão. É válido ressaltar que o processamento visual não se dá somente pelo olho, mas também pelo cérebro. Algumas pessoas não possuem di�culdades oculares, e isso pode ser detectado por um exame clínico oftalmológico, no entanto pode possuir di�culdades no processamento neurológico visual, ou seja, como o cérebro percebe a imagem. Nesses casos a estimulação visual é essencial para que ela desenvolva tais habilidades. Se na avaliação visual funcional notar di�culdades na percepção visual é importante encaminhar o sujeito para um médico oftalmologista em busca de uma avaliação clínica. Caso seja veri�cado di�culdades visuais o médico indicará as adaptações e intervenções que poderão ser feitas. Se não for identi�cado nenhum problema ocular, é importante que seja estimulado as habilidades visuais para que ocorra a plasticidade neural a pessoa não tenha tantas di�culdades no futuro. O desenvolvimento visomotor refere-se à capacidade de coordenar a visão com os olhos. A visão está relacionada tanto com a motricidade �na (movimentos precisos com as mãos) como a grossa (movimento amplo do corpo). Atividades como desenhar, copiar de um quadro, jogar bola, pular corda exigem a habilidade visomotora. É válido veri�car se a pessoa possui di�culdades de perceber a esquerda e à direita, inverter letras ou números ao escrever ou copiar, di�culdade com as atividades que envolvam ritmo, não cruzar a linha média ao fazer tarefas (objetos muda de mão em mão), não usar a mão dominante não para o apoio ao escrever ou copiar e gira corpo ao escrever ou copiar (mais uma vez para não cruzar a linha média), lê movimentando a cabeça e não movimentando somente o olhar, entre outras habilidades. Para tais di�culdades é importante trabalhar com a integração da visão com o movimento, reforçando nas atividades motoras a percepção visual (MOMO, 2017). O tato é a sensação mais aguçada que o ser humano tem ao nascer. É por meio deste sistema que podemos interagir direta e �sicamente com o mundo. Mesmo sendo a habilidade mais avançada de um bebê, o mesmo ainda irá aprender a perceber as diferentes experiencias táteis (SERRANO, 2016). Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 21/33 Percepção Vestibular Ao nascer, deixar o bebê tocar e ser tocado são extremamente importantes e determinantes para seu desenvolvimento. No início, será apenas uma habilidade de percepção tátil que será desenvolvida, mas essa desencadeará o desenvolvimento motor e a compreensão do mundo físico. Segundo Palermo (2015), as experiências táteis primárias são determinantes no desenvolvimento integral do cérebro. possuem um papel fundamental na qualidade do desenvolvimento do cérebro. O autor explica que a variedade da estimulação tátil é essencial não só para o desenvolvimento da sensibilidade ao toque, como também para o desenvolvimento cognitivo em geral. Palermo (2015), pontua que estudos com bebês sugerem que o toque, além de ser essencial para o desenvolvimento motor, também desencadeia o desenvolvimento social, emocional e cognitivo. Ao tocar o bebê a adulto cria vínculo emocional e social. Começa a surgir as relações e trocas sociais. O toque do outro permite a percepção da própria criança e do outro. É essencial que crianças de zero a três anos vivenciem as mais diferentes experiencias táteis para obterem um desenvolvimento integral. Também Momo (2017) a�rma que estudos com prematuros indicam que o toque pode acelerar o crescimento e desenvolvimento desses bebês. Em um dos estudos, bebês ganharam o dobro do peso ao serem tocados em comparação com outros bebês que não recebiam o toque. O sistema tátil é dividido em duas partes: o sistema protetor que alerta sobre perigo e o sistema discriminativo que permite discriminar o que tocamos. Para que o tato funcione de forma apropriada o sistema discriminativo e o sistema protetor devem trabalhar bem juntos e de forma independente (PALERMO, 2015). Pessoas com di�culdades na percepção tátil reagem negativamente ao toque; evitam contato físico com outras crianças, evitam e �cam irritadas em �las, empurram ou batem nos colegas por não suportarem a proximidade, evitam atividades que evitam texturas e toques, não gostam de sentar em cadeiras, sentam-se sobre as pernas, não gostam de determinados alimentos por causa da textura, parecem não conseguir brincar sozinhas, não exploram o brinquedo e não criam brincadeiras (SERRANO, 2016). Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 22/33 A percepção vestibular permite a discriminação e sensação do movimento e do equilíbrio corporal. É graças a essa percepção que conseguimos andar em uma linha reta, a rodopiar, rolar e pular sem nos machucarmos. Bailarinos possuem essa percepção extremamente estimulada e desenvolvida (PALERMO, 2015). Desde o nascimento os bebês adoram a sensação de movimento. Eles encontram conforto na sensação de movimentos repetitivos, sejam eles balanços ou simples caminhadas no colo, isso se deve ao fato dos bebês nascerem com essa percepção altamente aguçada. Depois do tato, a sensibilidade vestibular é a habilidade sensorial mais precoce, o que permite ao feto seus primeiros re�exos (PALERMO, 2015). A percepção vestibular possui um papel fundamental nas habilidades de manter a postura da cabeça e do corpo, especialmente os olhos, em movimentos. O sistema sente a direção da gravidade e do movimento, o que permite que o corpo ajuste sua posição para manter o equilíbrio. É, por exemplo, graças ao sistema vestibular que uma pessoa, ao correr, não enxerga o mundo pulando a sua frente. O sistema detecta o movimento vertical do corpo da pessoa e automaticamente direciona os músculos dos olhos para que se movam para compensar e manter o campo visual na frente da pessoa constante (SERRANO, 2016). Segundo Palermo (2015), embora não se discuta muito sobre a percepção vestibular, ele possui um importante papel no desenvolvimento cognitivo e neurológico. Como o sistema vestibular é um dos primeiros sentidos a amadurecer, ele possui grande participação nas primeiras experiências sensoriais do bebê. Essas experiências por sua vez são extremamente importantes para organizar as habilidades sensoriais e motoras, que consequentemente in�uenciam no desenvolvimento de habilidades emocionais e cognitivas. Pessoas com di�culdades na percepção vestibular apresentam desorganização espacial, desconforto ao locomover-se, problemas com espaçamento de palavras, di�culdades com a diagramação e a localização espacial das letras, caligra�a desarmônica, demora ou impossibilidade de discriminação e determinação da preferência lateral, di�culdade da compreensão de conceitos como “dentro-fora”, “em cima – embaixo”, O movimento da pessoa (velocidade, intensidade e duração), di�culdade em dosar a força muscular (ou muito fraco ou muito forte), alterações no estado de alerta e na regulagem de sono vigília, di�culdades de controlar os dois lados do corpo (MOMO, 2017). Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 23/33 Percepção ProprioceptivaA percepção proprioceptiva se refere ao fato de percebemos o nosso próprio corpo, mesmo sem visualizar determinadas situações. Você já viu a situação em que a pessoa comeu algo, sujou o rosto e não percebeu a sujeira do seu rosto? Pois bem, essa pessoa pode ter di�culdades na percepção proprioceptiva. O sistema proprioceptivo é responsável pela informação sobre a localização das partes do corpo, e pela sinalização do quanto de contração muscular é necessária para que o movimento aconteça. É por meio da propriocepção que sabemos se estamos mexendo as pernas, cruzando os braços, mesmo sem olhar. Também é por meio desse sentido que sabemos onde temos alguma dor, mesmo sem visualizar o órgão. Por exemplo, pessoas que não possuem a percepção proprioceptiva bem desenvolvida não conseguem identi�car o local onde sente dor. Algumas pessoas com autismo, por exemplo, possuem di�culdades na percepção proprioceptiva, quando sentem dor as vezes não conseguem discernir onde dói e expressam que dói o corpo todo (MOMO, 2017). A propriocepção usa tanto informações da pele quanto sinais dos músculos e das articulações para informar ao cérebro sobre onde os membros estão posicionados a qualquer instante. É a propriocepção que permite com que a pessoa saiba se seus braços estão cruzados ou se suas pernas estão se mexendo, mesmo com os olhos fechados (SERRANO, 2016). Pessoas com o processamento da sensação proprioceptiva sempre buscam a pressão do próprio corpo. É comum que elas busquem estímulos se apertando entre colchões, se sentem bem com abraços bem apertados, gostam de cantos de cômodos para se sentirem pressionados (PALERMO, 2015). Um exemplo interessante está no �lme Temple Grandim (2010), que retrata a vida de uma autista de alto desempenho, mostrando sua necessidade proprioceptiva. Quando Temple tinha di�culdades para �ltrar as informações sensoriais ela buscava conforto em estímulos proprioceptivos. Devido a isso, a personagem inventou uma máquina do abraço, onde conseguia conforto sensorial ao perceber o próprio corpo. A seguir vemos uma foto do �lme que mostra a máquina de abraço desenvolvida por Temple. FIGURA 5 – FILME TEMPLE GRANDIM Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 24/33 Percepção Olfativa FONTE: <https://particionando.wordpress.com/2015/07/24/temple-grandin-diferente-mas- nao-inferior/>. Acesso em: 11 jun. 2019. Pessoas com di�culdades proprioceptivas apresentam movimentos incoordenados, quedas frequentes, quebra de objetos ao segurá-los, inabilidade em segurar objetos sem olhar para eles, di�culdades em vestir-se e despir-se, di�culdades em manter a postura sentada, di�culdade em subir e descer degraus, necessidade de olhar os pés ao se locomover e tropeçam com facilidade, incoordenação espacial, que os levam a derrubar objetos ao redor quando se movimentam (MOMO, 2017). Segundo Palermo (2015) o olfato é um sentido considerado maduro ao nascer. O bebê é capaz de sentir o cheiro de tudo o que está a seu redor, no entanto o mesmo ainda não identi�car e discriminar esse cheiro. Esse processo é consciente Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 25/33 Percepção Gustativa e necessita de tempo e experiencias para serem desenvolvidas, assim como os outros sentidos. Quando a criança nasce o sistema olfativo e tátil permite a criança ter suas primeiras experiencias sociais e afetivas. Ao sentir o cheiro do leite materno ou próprio cheiro da mãe a criança já se acalma e cria vínculo emocional com seu cuidador. Até que a visão e a audição e a audição estejam plenamente desenvolvidas é pelo olfato e tato que a criança irá estabelecer laços essenciais para sua sobrevivência com seus familiares e cuidadores, promovendo a base para seu desenvolvimento emocional (PALERMO, 2015). Sob o aspecto neurológico, Palermo (2015) explica que o olfato possui uma conexão curta e direta com os centros de memória no cérebro. Isso faz com que a pessoa se recorde de experiências já vivenciadas. Um mesmo odor remete as pessoas a situações diferentes e singulares, ou seja, um determinado cheiro pode ter reações distintas para pessoas diferentes. Por exemplo, o cheiro do álcool pode remeter a uma lembrança de limpeza agradável ou de cheiro de hospital, que não é tão agradável assim. Assim como os outros sentidos, a percepção olfativa deve ser desenvolvida. Se a pessoa não é exposta a determinados odores durante seu desenvolvimento inicial, ela pode perder a capacidade de reconhecê-los. Um especialista em perfume, por exemplo, tem o olfato muito estimulado e consegue perceber conscientemente diversos aromas em uma mesma fragrâncias, comparando-os e classi�cando-os (MOMO, 2017). O paladar além de ter um signi�cado de sobrevivência, devido a sua base nutricional, está ligado também a experiencias emocionais e sensoriais que vivenciamos. Desde a gestação o feto pode sentir o gosto dos alimentos que a mãe experimenta. Mesmo assim, essa percepção deve ser desenvolvida durante toda vida (PALERMO, 2015). Segundo Serrano (2016) a alimentação tem um fator emocional importante. O leite materno, primeiro alimento do ser humano, possui um efeito analgésico, desenvolvendo o controle emocional da criança. Além disso, muitos alimentos nos remetem a memórias afetivas, ou seja, a vivências que nos afetaram, nos marcaram de alguma forma, seja positiva ou negativamente. Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 26/33 Atenção A atenção está diretamente ligada ao �ltro perceptivo. A todo momento somos mergulhados em estímulos sensoriais, nesse mar de estímulos alguns itens ganham mais destaque em detrimento de outros. Segundo Luria (1981) prestar atenção signi�ca dar foco a determinados aspectos em e ao mesmo tempo ignorar vários outros que estão ao nosso redor. Como já mencionamos quando explicamos sobre o �ltro perceptivo, a capacidade do cérebro de processar a informação sensorial é mais limitada do que a capacidade de seus receptores para mensurar o ambiente. A atenção, portanto, funciona como um �ltro, selecionando alguns objetos para processamento adicional, de acordo com Luria (1981). Segundo Luria (1981) existem dois tipos de atenção: a voluntária e a involuntária. A atenção involuntária é sustentada por processos neurais automáticos e é particularmente evidente na memória implícita. É aquela atenção ao estímulo chamativo, como coisas grandes, brilhantes e que se movimentam. A voluntária está ligada a capacidade consciente de �ltrar os estímulos perceptivos e focar em um único estímulo em detrimento a outro. Por exemplo, ao ler esse texto sua atenção está focada no texto em detrimento aos outros estímulos que te cercam, podendo ser o barulho da rua, o cheiro de um alimento, ou o desconforto tátil de uma roupa. A atenção, assim como todas as funções psicológicas pode ser desenvolvida. É certo que algumas pessoas possuem alterações neuronais e apresentam grandes di�culdades na captação da atenção sustentada, em permanecer em um mesmo foco durante um determinado momento, mesmo assim, expondo a pessoa a situações que a levem a focar em uma determinada ação a levará ao desenvolvimento de sua atenção voluntária e consciente (FONSECA, 2008) Para saber se uma pessoa possui atenção consciente, perceba quanto tempo ela fala sobre um determinado assunto de forma persistente, ou seja, começando e terminando sua exposição sem mudar o foco. Observe também se a pessoa consegue ouvir uma música e dizer o assunto a que se refere ou repetir a melodia. Também podemos ver se a pessoa consegue identi�car um determinado objeto em meio a outros que estão espalhados no chão (FONSECA, 2008). Capítulo 2 30/05/202421:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 27/33 Memória Sem atenção o sujeito não consegue realizar atividades simples do dia a dia, de iniciar e concluir uma tarefa. É necessário que seja desenvolvida essa habilidade desde bebês, para que não haja prejuízos maiores durante sua vida. Um bebê de 2 meses, por exemplo, já consegue se acalmar ao ouvir a voz da mãe mantendo o foco ao som que a mãe produz. Com 6 meses já �xa o olhar no cuidador durante uma troca ou uma brincadeira. A capacidade de ater a uma questão é social e em sociedade deve ser estimulada e desenvolvida. Quando falo: Ei, preste atenção nisso aqui, já começo a desenvolver sua atenção, já começo a �ltrar os estímulos a sua volta para o meu objetivo (LURIA, 1981). A memória desenvolve-se na relação do cérebro com as vivencias sociais. Tal desenvolvimento se inicia na fase pré-natal. É por meio dessa função que conseguimos retomar as aprendizagens e recuperar o passado. É por meio da memória que nos adaptamos a cada dia com as mudanças e novas experiencias cotidianas, que associamos ideias e agregamos novos conceitos (LURIA, 1981). Se eu te falar, o que é pitaya? Se você não conhece irá buscar na sua memória conceitos semelhantes a essa palavra. Mas se eu te falar, Pitaya é uma fruta rosa de sabor doce, você automaticamente irá associar a ideia dessa nova palavra com conceitos que você já memorizou, que é a fruta doce. Esta função cognitiva possibilita modi�cações associadas à extensão do vocabulário, ampliação de conceitos e elaboração de melhores estratégias para resolver problemas. Nesse contexto de desenvolvimento da memória, cabem algumas distinções. Para Luria (1981) a memória é uma função cognitiva complexa composta por sistemas distintos, mas que se relacionam entre si. Didaticamente, a memória pode ser dividida em estágios, que se classi�cam conforme o tempo de retenção ou armazenamento de uma informação. A memória de curto prazo é aquela que apresenta armazenamento temporário de poucas informações por curto intervalo de tempo advindas da memória sensorial ou da memória de longo prazo. Cabe ressaltar que dentro do contexto de curto prazo há a memória de trabalho ou operacional. Segundo Fonseca (2008) a memória de trabalho subdivide-se em quatro subsistemas: Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 28/33 o Alça fonológica (armazenamento temporário e manipulação das informações verbais, sejam auditivas, de leitura, ou de repetição de estímulos linguísticos). Observe se a pessoa possui tal habilidade ao contar um determinado fato e peça para ela repetir. O discurso pode ser algo corriqueiro que faça parte do cotidiano dessa pessoa (FONSECA, 2008). o Esboço visuoespacial (armazenamento e manipulação visual e espacial, como detalhes de um objeto). Para veri�car se a pessoa possui tal habilidade, mostre para a pessoa visualizar por um minuto uma imagem simples, um retrato ou uma paisagem sem muitos detalhes, depois esconda a imagens e peça para elencar o que visualizou (FONSECA, 2008). o Retentor episódico (subsistema estudado mais recentemente, recupera a informação de forma consciente e trabalha as atividades cognitivas mais complexas). Para observar tal habilidade, explique um conceito, por exemplo, como é formada a chuva, depois peça para ela reexplicar para você (FONSECA, 2008). o Executivo central (sistema atencional que atua na seleção e manipulação da informação nos outros subsistemas, para também ser enviada à memória de longo prazo, agindo como um controlador e buscando informações já armazenadas na memória de longo prazo). Para veri�car se a pessoa possui essa habilidade desenvolvida, disponha algumas imagens para ela e peça para escrever outras palavras que vem a sua mente quando olha essa imagem. Por exemplo: Mostre uma imagem que represente a pipoca, depois peça para ela escrever o que vem a sua mente ao lembrar essa palavra. Ela pode escrever “cinema, �lme, casa, cobertor, frio, galinha, milho etc.” (FONSECA, 2008). A memória de longo prazo tem a capacidade de armazenar informações por períodos de tempo bem mais longos, na ordem de minutos, horas, dias, semanas, meses, anos. Essa memória pode ser classi�cada como explícita ou declarativa depende de processos conscientes e é passível de verbalização. Ela se subdivide em episódica e semântica. Segundo Fonseca, (2008) a memória episódica tem relação com as experiências vividas e que se pode delimitar no tempo e espaço. Já a memória semântica tem relação com conhecimentos gerais, que nem sempre têm ligação com os fatos vividos, como conceitos e teorias. Já a memória implícita caracteriza-se pelo fato de não depender de processos conscientes e de difícil verbalização. Envolve procedimentos, habilidades motoras, e hábitos. • Linguagem Como discutimos no primeiro capítulo, a linguagem e a motricidade são base para as funções cognitivas humanas, pois por meio dessas funções estruturamos, Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 29/33 organizamos e expressamos o nosso pensamento. A linguagem tem como papel principal a comunicação, interação social e a possibilidade de categorizar ideias e racionalizar (VIGOTSKI, 2009; LURIA, 1979; LEONTIEV, 1978). Por exemplo, se vou ao mercado e quero comprar sabonete, onde encontrarei? Você deve ter traçado um caminho na sua mente. Entre no mercado e procuro os materiais de higiene. Pois bem, tal habilidade só é possível por meio da linguagem. Ninguém procura comprar graxa em um açougue, pois não compete a classi�cação da função de um açougue (VIGOTSKI, 2009; LURIA, 1979; LEONTIEV, 1978). A linguagem é capaz de organizar suas ações mentais. Quando acorda você pensa em tudo que irá fazer: levantar, escovar os dentes, trocar de roupa e tomar café. Essa sequência mental é feita por meio da habilidade cognitiva da linguagem. Outra habilidade se dá ao relatar qualquer fato que aconteceu na sua vida com coerência. Parece habilidades insigni�cantes, mas possuem um papel fundamental em nosso desenvolvimento (VIGOTSKI, 2009; LURIA, 1979; LEONTIEV, 1978). De acordo com Luria (1981), observamos o desenvolvimento da linguagem de um sujeito em experiências cotidianas citadas a seguir: - Consegue imitar uma outra pessoa; - Brinca de faz conta; - Compreende piadas e metáforas; - Reconta uma história com suas próprias palavras com coerência; - A pessoa relata uma história da sua própria vida com começo, meio e �m. - A pessoa sabe localizar uma informação por meio de categorias. Por exemplo: separar os objetos de uma casa por cômodos: cozinha, sala e banheiro. - A pessoa explica um conceito relacionando o mesmo com outros conhecimentos, ou seja, se pedir para ela explicar o que é um abacaxi, ela falará que é uma fruta, que pode ser azedo ou doce, que possui uma coroa, tem casca grossa etc. - Consegue associar ideias, explicando uma situação com exemplos do seu cotidiano. Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 30/33 Todas essas habilidades fazem parte do desenvolvimento da linguagem, ou seja, da habilidade de organizar o pensamento diante das experiências sociais. A linguagem não é só a fala. A fala inclusive é um recurso da linguagem, mas não o único. Símbolos, imagens, gestos podem ser incluídos como processos linguísticos. Por exemplo, a placa “Pare” é um símbolo linguístico, assim como os gestos que compõem a língua de sinais também é uma língua. Inclusive, pessoas que possuem limitações da fala podem utilizar de recursos de comunicação alternativa para desenvolverem a linguagem (VIGOTSKI,2009; LURIA, 1979; LEONTIEV, 1978). Caso a pessoa tenha di�culdades no desenvolvimento linguístico ela apresentará di�culdades em diversas situações de sua vida, das mais básicas às mais complexas e que afetará suas habilidades cognitivas, como memória, raciocínio lógico, imaginação e criatividade (VIGOTSKI, 2009; LURIA, 1979; LEONTIEV, 1978). • Funções Executivas As funções executivas são as habilidades cognitivas que nos permitem controlar e regular nossos pensamentos, nossas emoções e nossas ações diante dos con�itos ou das distrações. Segundo Fonseca (2008) as funções executivas são classi�cadas nas categorias de autocontrole, memória de trabalho e �exibilidade. O autocontrole está ligado a capacidade de �ltrar informações conscientemente e permanecer em uma determinada atividade. Por exemplo, uma criança se manter atenta a fala de um adulto ou um adulto controlar seus impulsos emocionais diante de uma situação con�ituosa (FONSECA, 2008). Já a memória de trabalho está vinculada com a capacidade de conservar as informações na mente, o que permite utilizá-las para fazer o vínculo entre as ideias, calcular mentalmente e estabelecer prioridades. A �exibilidade cognitiva é a capacidade de pensar de forma criativa e de se adaptar a situações novas. Seabra (2014) explica que as funções executivas devem ser ensinadas e estimuladas. São extremamente conscientes e de controle de quem as possui. É importante que desde a infância elas sejam desenvolvidas, no intuito de garantir o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos. Tais funções permitem a habilidade necessária para a autorregulamentação de sua conduta. Para Fonseca (2008) é por meio das funções executivas que as pessoas avaliam e planejam suas ações, reformulam ideias e executam uma atividade com plena Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 31/33 A) Pessoas com de�ciência sensorial não desenvolvem a percepção sensorial de�ciente, ou seja, o cego não desenvolve as autonomia. Este grupo de habilidades cognitivas estão principalmente indexadas às estruturas pré-frontais do cérebro. O córtex pré-frontal dorsolateral, o córtex pré-frontal ventromedial, o córtex pré-frontal orbitofrontal e o córtex anterior cingulado são as áreas cerebrais mais vinculadas às funções executivas. Segundo Fonseca (2008), observamos se uma pessoa possui di�culdades nas funções executivas se a mesma: - Tem di�culdade de tomar decisões; - Não consegue se ater voluntariamente a uma situação; - Tem di�culdades de organizar mentalmente as informações; - Não consegue encontrar solução para um simples problema cotidiano; - Não aceita novas aprendizagens; - Não consegue perceber seus erros; - Não aceita a opinião do outro. Tais habilidades podem ser desenvolvidas e aprendidas por meio de recursos lúdicos e que fazem parte do seu dia a dia. Atividade de Estudo: O cérebro só se desenvolve se recebe uma variedade de estímulos sensoriais, pois os neurônios necessitam ser estimulados para se interconectarem e assim estruturarem caminhos neurológicos de aprendizagem (SERRANO, 2016; PALERMO, 2015). Com base no exposto e sobre o �ltro perceptivo, assinale a alternativa INCORRETA: FONTE: PALERMO, J. R. Análise Sensorial: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Atheneu, 2015. SERRANO, P. A Integração Sensorial no Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança. Lisboa: Editora Papa Letras, 2016. Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 32/33 habilidades de visão, e o surdo não desenvolve as habilidades de audição. B) As di�culdades no processamento sensorial se referem a pessoas que não recebem os estímulos sensoriais, se caracterizando como uma hiperresposta sensorial, ou recebem de forma pouco intensa, de forma muito lenta se caracterizando como uma hiporresposta sensorial C) Pessoas com di�culdades no processamento sensorial também apresentam di�culdades na formação das percepções. D) A hiperresposta se caracteriza pela forma do cérebro �ltrar a informação sensorial de forma intensa, até agressiva. Por exemplo, uma pessoa com hiperresposta auditiva não tem tolerância sensorial para determinados sons, tampando seus ouvidos rapidamente para �ltrar essa reação. E) As pessoas que apresentam hiporresposta sensorial possuem di�culdades de �ltrar essa percepção, não conseguindo identi�car a sensação. Responder ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, vimos as características do desenvolvimento cognitivo desde o nascimento do bebê. Observar tais características nos permite pensar em possíveis estratégias para que o desenvolvimento cognitivo seja almejado integralmente. Para melhor compreensão, o capítulo foi dividido em quatro partes, nas quais discutimos sobre as funções cognitivas elementares, processamento sensorial e funções cognitivas superiores. Na primeira parte, vimos sobre as funções cognitivas elementares, que se referem aos re�exos do bebê ao nascer. Tais re�exos são necessários de serem observados, pois sua integridade mostra um cérebro com um bom funcionamento orgânico. É por meio dos re�exos que o bebê começa a interagir com seus cuidadores e a processar as informações sensoriais que o mundo lhe oferece. É Capítulo 2 30/05/2024 21:37 Livro Digital - FUNÇÕES COGNITIVAS https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/funcoes_cognitivas/conteudo.html?capitulo=2 33/33 Capítulo 1 Capítulo 3 Conteúdo escrito por: por meio dessas vivências que a criança formará suas funções cognitivas superiores. Todas as informações que nosso cérebro recebe, planeja e executa vem por meio do repertório sensorial. A informação sensorial permite o desenvolvimento das funções cognitivas. Pessoas com di�culdades nesse processamento necessitam de intervenções diferenciadas para que a aprendizagem ocorra. Avaliar o processamento sensorial é de extrema importância para identi�car as di�culdades no desenvolvimento cognitivo humano. Por �m, vimos sobre as funções cognitivas superiores. Tais funções são as que nos caracterizam como seres racionais. Todas as funções cognitivas superiores exigem ações voluntárias e conscientes, devido a isso são as funções cognitivas mais bem elaboradas. Por meio destas temos a possibilidade de pensar de forma abstrata, memorizar voluntariamente, se ater a uma informação, planejar, tomar decisões, ser autônomo, se expressar com clareza. En�m, são essas funções que nos permitem pensar, agir e modi�car o contexto social que vivemos. As funções cognitivas superiores se desenvolvem se forem estimuladas adequadamente, dentro de um contexto social e cultural. A avaliação das funções cognitivas é fundamental para sabermos intervir de acordo com a necessidade de cada pessoa. O objetivo da avaliação não é de rotular a pessoa com uma determinada di�culdade, mas, sim, saber o estímulo necessário para que o desenvolvimento aconteça. Todos os direitos reservados © 2020 Fernanda de Carvalho Polonio Rosa Capítulo 2