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HOMEM E SOCIEDADE

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HOMEM E SOCIEDADE
A antropologia social é uma das ciências da sociedade, voltada à compreensão do comportamento humano orientado pela cultura.
Em nossa convivência com outros, podemos perceber como os objetivos pessoais ou dos grupos aos quais pertencemos se chocam o tempo todo com limites, conflitos ou falta de compreensão. Compreender a cultura leva a uma nova postura que permite perceber nossa vida em sociedade como uma fonte inesgotável de estabelecimento de regras e padrões, e suas constantes mudanças. A isso chamamos diversidade.
Conhecer o comportamento humano da perspectiva da cultura nos possibilita analisar muitas situações de uma perspectiva enriquecida pela diversidade. Trabalho em equipe, capacidade comunicativa e desenvoltura social são habilidades que podem ser desenvolvidas conforme ampliamos a compreensão sobre a cultura e a diversidade.
Objetivos gerais
Apoiada na antropologia, a disciplina Homem e Sociedade vai possibilitar o desenvolvimento de muitas habilidades profissionais e pessoais. A partir de seus conceitos será possível compreender a vida cotidiana, além de:
• Proporcionar enriquecimento social, cultural, afetivo e cognitivo ao estudante.
• Comparar, contrastar e desenvolver temáticas ou perspectivas presentes em outras áreas do conhecimento de sua formação específica.
• Proporcionar a integração e o aproveitamento de saberes, tradições e experiências dos vários membros componentes das comunidades de seu trabalho, moradia ou lazeres.
• Desenvolver capacidades como autonomia para a seleção, avaliação e utilização das informações obtidas, possibilitando uma maior capacidade crítica na tomada de decisões em vários contextos da vida.
• Ampliar a participação cidadã do estudante por meio de aprofundamento das capacidades críticas para avaliar a importância das mudanças e das reproduções de situações no mundo atual.
• Valorizar a importância da diversidade cultural, do conhecimento mútuo e da autonomia, visando incrementar a consciência da diferença e o respeito pela mesma.
INTRODUÇÃO
Nesta disciplina, o eixo é a compreensão da cultura como construtora do comportamento coletivo humano, vista através da antropologia.
O desafio que se coloca é confrontar o conhecimento da ciência antropológica com ideias muito comuns em nosso dia a dia que sequer percebemos, e que infelizmente, acabam nos conduzindo a atitudes preconceituosas.
A antropologia pode fazer parte de uma nova visão sobre o ser humano e seu comportamento cotidiano. Essa ciência nos mostra o quanto somos produto de nosso meio, mas não somos determinados por ele. Assim, ao tomar consciência sobre essa influência, abrese possibilidade de refletir sobre como agirmos, nos tornando responsáveis por construir em nossas relações sociais novos valores.
Valores esses que se pautem por evitar o preconceito com o outro e ter atitudes que levem à sua a exclusão. Esse processo de desumanização ou a recorrência a atitudes moralmente ofensivas a povos e setores da sociedade que possuem valores próprios e justos, deixou de ser aceitável como base das relações interpessoais no mundo de hoje.
SER HUMANO, CULTURA E SOCIEDADE
Para as ciências sociais, somos “animais culturais”, capazes de produzir conhecimento, mas dependentes do aprendizado social que é a socialização. Por meio da compreensão de conceitos como cultura, natureza e socialização é possível uma nova perspectiva do comportamento humano.
Desde o surgimento de nossa espécie no planeta, temos observado que o ser humano surpreende por suas capacidades de inteligência, de organização social e de adaptação em diferentes ambientes naturais. Essa diferença em relação às outras espécies foi garantida pelo desenvolvimento de nossas habilidades sociais e culturais.
Principais conceitos: Cultura, natureza e socialização.
Ser humano, cultura e sociedade
Atualmente, somos seis bilhões e oitocentos milhões de habitantes no planeta. Devemos essa condição aos nossos ancestrais que há milhões de anos desenvolveram a capacidade de se adaptar a novos ambientes e de vencer predadores mais fortes e velozes com armas sociais que os fizeram imbatíveis: a comunicação, a cooperação, a capacidade de estabelecer regras de convívio coletivo etc. Tudo isso só foi possível uma vez que o comportamento humano, diferentemente de outras espécies que vivem coletivamente, foi orientado pela cultura ao invés do instinto.
Atualmente, somos seis bilhões e oitocentos milhões de habitantes no planeta. Devemos essa condição aos nossos ancestrais que há milhões de anos desenvolveram a capacidade de se adaptar a novos ambientes e de vencer predadores mais fortes e velozes com armas sociais que os fizeram imbatíveis: a comunicação, a cooperação, a capacidade de estabelecer regras de convívio coletivo etc. Tudo isso só foi possível uma vez que o comportamento humano, diferentemente de outras espécies que vivem coletivamente, foi orientado pela cultura ao invés do instinto.
Atualmente, cercados pelas comodidades culturais em uma sociedade moldada pela tecnologia e pelo mercado, fica difícil nos imaginarmos como de fato somos: um animal cultural. Somos a única espécie a desenvolver um ambiente totalmente controlado para sobreviver, que são as cidades, e, talvez por isso, esquecemos uma dimensão constitutiva de nosso ser: os instintos.
Somos uma espécie modelada pela cultura. Substituímos o comportamento dos impulsos instintivos (preservação da espécie por meio da alimentação, reprodução e abrigo) pelas regras de conduta social. Apenas dessa forma nossos antepassados puderam deixar uma herança importantíssima baseada na acumulação de conhecimentos, nas tradições e nos laços sociais.
O comportamento humano baseado na cultura e na troca de conhecimento (aprendizagem) é o que nos distingue das demais espécies. Não dependemos apenas da herança biológica e do comportamento também herdado geneticamente para evoluir. Precisamos de história, das experiências das gerações passadas, da capacidade de nos educarmos mutuamente. Portanto, dependemos da cultura.
Antropologicamente, a cultura foi definida pela primeira vez no século XIX (1871), por Edward Tylor, como “um conjunto complexo que inclui os conhecimentos, as crenças, a arte, a lei, a moral, os costumes e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade”. É importante ressaltar, nessa definição já antiga de Tylor, que a caracterização da cultura é o resultado de processos de aprendizagem.
Nenhum de nossos padrões de comportamento coletivo é herdado geneticamente, eles são adquiridos, e para isso dependemos do convívio com o meio social. Quando nascemos não temos “tendências naturais” em relação à crença, bem como a qualquer tipo de alimentação. Tudo em nossa vida coletiva, desde a língua com a qual nos comunicamos, os hábitos rotineiros de alimentação e vestuário, nossa noção de moral, enfim, tudo o que compartilhamos ao viver em sociedade e que podemos observar que se repete na maioria dos indivíduos de nosso grupo, é resultado de um processo de aprendizagem da cultura, e a isso denominamos socialização.
Vamos compreender melhor o importante conceito de socialização. Comecemos pela definição de autores importantes para as ciências da sociedade. Peter e Brigitte Berger afirmam que:
O processo por meio do qual o indivíduo aprende a ser um membro da sociedade, designado pelo nome de socialização, não tem fim e pode dividirse em socialização primária e socialização secundária. A família é tradicionalmente a instituição responsável pela socialização primária e a escola, o trabalho e as demais instituições são responsáveis pela socialização secundária. (BERGER, P., BERGER, B. apud FORACCHI, M.; MARTINS, 1977).
Esses autores exploraram os processos de aprendizagem da vida social, demonstrando que quase tudo em nosso comportamento precisa ser modelado desde os primeiros momentos de vida, e que esse processo não termina nunca. Em cada fase de nossa vida social, somos exigidos a adquirir novos padrões que nos permitem conviver em coletividade.Podemos concluir que a socialização compreende todas as formas de aprendizado em sociedade. Tem início com as exigências de condutas dentro da família, que é nossa primeira experiência de vida social, se estendendo depois aos contatos sociais cada vez mais amplos como a escola, a vizinhança, as amizades, o ambiente profissional, a vida religiosa, a participação em associações ou clubes, os lazeres etc.
Podese dizer, ainda, que a socialização é uma forma de educação, mas vai para além dela. Mesmo em contextos nos quais as pessoas não têm consciência de que estão se educando mutuamente, o contato social indica formas esperadas de comportamento.
Assim, podemos interagir com os outros sabendo seguramente que de acordo com nossa conduta pessoal podemos esperar um ou outro tipo de resposta. Por exemplo: se nos dirigimos com bons modos a alguém, esperamos ter o mesmo tipo de tratamento, ao passo que ao sermos agressivos, podemos esperar também uma reação agressiva. Quando, por exemplo, professamos determinada religião, entramos para uma nova turma de amigos ou um grupo praticante de determinado esporte, aprendemos como nos comportar, como pensar sobre aquele assunto, como interagir com os outros membros do grupo. Mesmo sem termos consciência, estamos sendo socializados nesses meios.
De acordo com a nossa cultura e a socialização, controlamos até mesmo os horários de fome, a postura corporal e os gestos, os hábitos de higiene pessoal e as formas de tratamento de saúde etc. Ou seja, cada cultura corresponde a um padrão diferente de realizar todas essas coisas necessárias à vida social, e que consideramos ser “normal” todos fazerem. E nenhuma dessas condutas é inata, ou seja, componente da nossa natureza. Aprendemos cada um dos procedimentos de conduta pessoal que possibilite o convívio coletivo de acordo com padrões herdados e modificados constantemente.
Todo mundo se recorda de experiências marcantes naquele momento da vida quando começamos a frequentar uma escola, não é mesmo? Então, tente se lembrar de momentos que você, ou algum conhecido, tenha enfrentado dificuldades em se adaptar à rotina e à disciplina escolar.
Pense como uma criança que foi “retirada” do mundinho de sua casa, onde parecia haver liberdade para deixar de fazer algo quando se tornava cansativo. Agora pense nessa criança, que de repente deve permanecer dentro de uma sala de aula, até que o “sinal” do intervalo ou do final das aulas a autorize a se retirar de sua cadeira; ou ainda sobre as regras de oferecer seu lanche aos outros, tentar dividir o que é seu, e quantas situações estranhas ao universo de uma criança que era tratada como o “centro das atenções”, e nesse ambiente escolar, precisa perceber que os outros existem.
Voltando ao conceito de cultura de Edward Tylor, podemos perceber que, apesar da cultura ser um todo complexo adquirido por cada um de nós “enquanto membros da sociedade, esquecemos que somos um “animal cultural”. A cultura tem uma influência tão profunda em nossa forma de encarar o mundo que pensamos, durante a maior parte do tempo, que tudo é muito “natural”. De fato, um indivíduo da espécie homo sapiens é dotado de potencialidades inatas, como linguagem, inteligência, postura bípede etc. Entretanto, nenhuma dessas características se desenvolve “naturalmente”. Precisamos, portanto, dos estímulos do meio para que cada uma delas seja utilizada, desenvolvida e lapidada.
Existem alguns exemplos históricos capazes de sugerir que nossa espécie é totalmente dependente da influência do meio para desenvolver comportamento humano, são as chamadas “crianças selvagens” ou “meninoslobo”. Essas crianças foram assim denominadas, pois em decorrência de razões desconhecidas, foram abandonadas em florestas ou lugares isolados, sem qualquer contato com nenhum outro ser humano, talvez desde que eram ainda bebês. Encontradas em idades mais avançadas, elas costumam apresentar um comportamento totalmente “animal”, sem nenhum traço que permita lembrar que são seres humanos.
Os casos mais conhecidos são as irmãs Amala e Kamala, encontradas na Índia em 1920. Ambas se alimentavam de carne crua ou podre, emitiam ruídos ao invés de utilizarem linguagem, andavam apoiadas nos quatro membros, usavam os cotovelos para trajetos curtos e não apresentavam sinais de afetividade.
Veja o trecho de um artigo científico de resenhas que trata do desenvolvimento da linguagem humana: Em 1920, chamado por um vilarejo a sudoeste de Calcutá para exorcizar fantasmas, o reverendo Singh teria descoberto que os “fantasmas” não passavam de duas meninas, que dormiam, comiam e, enfim, viviam para todas as finalidades com um grupo de lobos. Tendoas seguido até a toca em que moravam, Singh teria cavado um buraco até resgatar as duas crianças. A mais velha teria por volta de oito anos e a mais nova, um ano e meio. O reverendo as levou para viver no orfanato que administrava juntamente com sua esposa, e protegeu as crianças da curiosidade da imprensa e da ciência enquanto pôde. Mas ele próprio coletou e registrou muitas informações sobre as meninas.
Segundo ele, elas não tinham senso de humor, tristeza ou curiosidade e nem senso de ligação afetiva a outras pessoas. Elas nunca riam; e as únicas lágrimas derramadas pela mais velha, Kamala, aconteceram na ocasião da morte de sua pequena irmã, devido a uma grave diarreia causada por uma infestação de vermes.
Para o casal Singh, embora se parecesse fisicamente com qualquer outra criança de oito anos, Kamala se comportava como um bebê de um ano e meio. Mas, apesar de seu silêncio, começou pouco a pouco a entender palavras. Logo depois, começou a pronunciar algumas dessas palavras: Kamala estava adquirindo linguagem.
Por oito anos, Kamala viveu no orfanato; mas, como nos relatos (reais ou fictícios, que acabaram por inspirar a criação da personagem Mogli, de Rudyard Kipling) de outras criançaslobo indianas e como no caso de sua irmã Amala, ela não estava destinada a uma vida longa. Em 1928, sua saúde começou misteriosamente a declinar, culminando seu sofrimento em sua morte, no ano seguinte (MASSINICAGLIARI, 2003).
Cada um de nós ao ser socializado em uma cultura, passa a aprender sempre e gradativamente como utilizar coisas como o corpo, o intelecto, a emoção e as regras de convívio social. Quando esse aprendizado funciona de forma interativa, faz com que cada um de nós saiba como se comportar.
Quanto mais somos expostos a situações, mais as compreendemos, e nos tornamos pessoas mais seguras de nossas atitudes.
As pessoas aprendem como e em que momento podem utilizar as emoções. Durante uma cerimônia de casamento as pessoas não agem da mesma forma como em uma torcida de jogo. Em cada uma dessas situações é necessário saber como e em que momento expressar as emoções (como rir, chorar, gritar, levantar, sentar etc.).
Em cada cultura, esses padrões de comportamento coletivo variam imensamente, e quase não temos exemplos que nos permitam afirmar que cultura faz parte da nossa natureza. Se fosse “natural” o nosso comportamento, ele não sofreria tanta variação de um lugar para o outro, e de uma época para a outra, pois seguiríamos uma orientação única.
Entretanto, a imensa diversidade cultural humana reforça a tese segundo a qual a cultura é resultado da interação do indivíduo com seu grupo social. Ao mesmo tempo em que aprendemos e reproduzimos nossa cultura, colaboramos para suas mudanças ou para manter hábitos e tradições.
As fronteiras entre o inato e o adquirido são extremamente tênues e vacilantes. Podese dizer que todo comportamento humano, do mais simples ao mais complexo, contém um pouco de cada uma dessas duas dimensões. Geertz1 nos traz o exemplo da anatomia humana: natural e fisiologicamente preparada para a fala, de nada serviria se vazia de cultura, uma vez que é ela que nos fornece as línguas, os idiomas e os dialetos a falar.
Vamos ver alguns exemplos:
• “Tal pai, tal filho.” – Não parece que há uma crença na herança genética como fator que determina, e, portanto, que nosso comportamento é inato?
• “É de pequeninoque se torce o pepino.” – Há uma defesa da importância do comportamento adquirido, e, portanto, do aprendizado.
• “Digame com quem andas, e direi quem és.” – Novamente percebemos a importância da influência da sociedade e da socialização.
• “A fruta nunca cai longe do pé.” – Esse exemplo retoma a defesa das características inatas.
Portanto, quando você tiver a sua próxima atitude social, seja ir buscar um café para dar uma pausa nos estudos ou no trabalho, seja responder a um pedido de seu chefe, você poderá se lembrar que somos resultado de uma cultura, e que compreender seus mecanismos nos possibilita uma nova visão sobre os fenômenos humanos.
Síntese
Perceber que não somos apenas guiados pela genética e pelas chamadas características inatas e que é muito importante para valorizar os processos de convívio social. Aprender a conviver em grupo e conhecer as regras desse convívio é essencial para desenvolvermos nossas potencialidades como humanos. Muito pouco de nossas habilidades são comprovadamente inatas, ou seja, herança de uma carga genética. A maior parte do que realizamos ao longo de nossas vidas dependem de processos de convivência em grupo e de troca de conhecimentos.
· A relação entre indivíduo e sociedade
É possível afirmar que cada indivíduo é produto do meio, ou o produto de uma herança genética? Bem, qualquer cientista da área das ciências médicas e biológicas tende a dar uma resposta com ênfase às nossas características inatas, ou seja, que nascem conosco e podem definir tendências de comportamento.
Por outro lado, as ciências humanas procuram enfatizar a importância do meio social como modelador das capacidades inatas, que podem ou não ser desenvolvidas ao longo da vida de cada um. Para resolver esse impasse, precisamos considerar que nenhuma dessas ciências pode afirmar com plena certeza a respeito de todas as características do comportamento humano, pois ainda há muito a ser pesquisado e compreendido. Uma posição que pondere ambos os pontos de vista pode responder de forma satisfatória nossos questionamentos.
Sem dúvida cada um de nós carrega potencialidades diferentes para esta ou aquela tarefa, mas precisamos fazer escolhas ao longo de nossas vidas, e elas sempre são limitadas por condições socioeconômicas, oportunidades, contatos sociais etc.
Nosso comportamento é resultado da combinação entre a influência de nossa cultura, nossas capacidades inatas e a história de vida pessoal. Para nos desenvolvermos plenamente como seres humanos, precisamos da referência de comportamento dado pela sociedade. É a partir dessa perspectiva que podemos reconhecer que cada um de nós é um “indivíduo social”.
Para refletir sobre a imensa variedade de comportamentos individuais, que levam algumas pessoas a se revelarem “gênios”, outras “heróis”, outras “criminosos”, temos que recorrer tanto às ciências sociais quanto às biociências. Sob o enfoque da perspectiva antropológica, obviamente nossa herança genética é importante e deve ser considerada como um fator que pode facilitar ou impedir certos comportamentos. Entretanto, essa herança por si só, não garante necessariamente a tendência aos indivíduos desenvolverem hábitos e características tão marcantes.
Podemos desdobrar esse exemplo para outras características tais como o Q.I. (Quociente de Inteligência), habilidade para expressão corporal, memória etc. Podemos citar também características, tais como o gene da obesidade ou da dependência química. O fato de um indivíduo ser portador de qualquer uma dessas heranças genéticas não é suficiente para garantir que ele vá desenvolver um comportamento para utilizar bem esses recursos.
Assim, para a antropologia, a experiência estimulada e garantida pelo meio social pode ser muito mais determinante do que qualquer característica inata. O aprendizado, o reforço, o estímulo e o reconhecimento de nossas atitudes e habilidades por parte do grupo social são de extrema importância para o desenvolvimento de características desejadas. Todos gostam de ser premiados, elogiados e reconhecidos, assim buscamos demonstrar empenho no desenvolvimento de habilidades esperadas pelo grupo social. Mas, ao contrário, quando somos reprimidos, repreendidos, tolhidos em certos comportamentos, sendo excluídos do bom convívio social, procuramos evitar esse comportamento.
A sociedade está o tempo todo nos apoiando ou reprimindo, e isso é necessário para que possamos ter uma garantia de que todos se comportem de forma ética e dentro dos padrões aceitos. Certamente, os padrões mudam de uma época para outra, pois a sociedade é dinâmica e está em constante mudança. Portanto, temos que ter bom senso em relação à aceitação ou não de certas repressões e também de certos estímulos. Como indivíduo, cada um de nós passa a vida sendo influenciado e influenciando a sociedade. É um processo recíproco do qual não temos como fugir, pois precisamos do convívio social.
Isso é muito interessante. A resposta é sim. O grupo sofre a interferência de seus indivíduos. Uma sociedade que cria condições favoráveis, por meio de instituições e de sua determinação coletiva, ou de seus valores, para permitir que um número cada vez maior de indivíduos possa desenvolver plenamente suas potencialidades, se tornará uma sociedade melhor.
Isso acontece em qualquer grupo social, assim como na família ou nas empresas. As características de um grupo dependem das características de seus indivíduos, mas um e outro não podem fazer muita coisa isoladamente.
As realizações de uma coletividade estão sempre relacionadas com a possibilidade de seus indivíduos realizarem conquistas, que vão interferir diretamente na condição de todos. Claro que há os “gênios” que surgem em todos os momentos da história. Gênios dos esportes, da intelectualidade, das artes, da religião, da política etc. Mas essa não é a realidade de todos os dias para todos os povos.
Para finalizar, portanto, consideramos “indivíduo” e “sociedade” aspectos inseparáveis para falarmos de seres humanos.
Para ilustrar essa discussão, leia um trecho do livro de Roque de Barros Laraia: Em outras palavras, não basta a natureza criar indivíduos altamente inteligentes, isto ela o faz com frequência, mas é necessário que coloque ao alcance desses indivíduos o material que lhes permita exercer a sua criatividade de uma maneira revolucionária. Santos Dumont (18731932) não teria sido o inventor do avião se não tivesse abandonado a sua pachorrenta Palmira, no final do século XIX, e se transferido em 1892 para Paris. Ali teve acesso a todo o conhecimento acumulado pela civilização ocidental. Em Palmira, o seu cérebro privilegiado poderia talvez realizar outras invenções, como, por exemplo, um eixo mais aperfeiçoado para carros de bois, mas jamais teria tido a oportunidade de proporcionar à humanidade a capacidade da locomoção aérea. Albert Einstein (18791955) não teria desenvolvido a teoria da relatividade se tivesse nascido em uma distante localidade do Himalaia e lá permanecido. Mas, por outro lado, se Alberto Santos Dumont tivesse morrido em sua primeira infância, fato comum no lugar e época em que nasceu, e se Albert Einstein tivesse sido consumido pela voragem de uma das guerras europeias do final do século XIX, a humanidade teria que esperar um pouco mais, talvez, pelas suas descobertas. Mas certamente não ficaria privada da teoria da relatividade e do aeroplano, pois outros cientistas e inventores estariam aptos para utilizar os mesmos conhecimentos e realizar as mesmas façanhas (LARAIA, 2006, p. 4647).
Síntese
Portanto, para as ciências da sociedade, a herança genética dos indivíduos não é garantia para determinar seu desenvolvimento ao longo da vida. Essa natureza que dá características únicas a cada indivíduo depende de sua condição social e de sua interação com o meio. Os indivíduos sofrem interferência de seu meio social, e, por outro lado, o meio sofre a influência de cada um. Por isso, quanto mais a sociedade der condições de desenvolvimento das potencialidades de cada um, mais irá realizar feitos e conquistas.
· Aquestão da influência da natureza sobre a cultura
É bastante comum a ideia de que o comportamento de um povo possa sofrer influências de elementos da natureza, como a genética ou o meio ambiente.
Há uma grande polêmica na ciência, mas de uma forma geral, há também um consenso que gira em torno da afirmação que elementos naturais podem influenciar, mas nunca são os únicos fatores a determinar o comportamento de um povo.
Apesar desse consenso, existem ainda aqueles que retiram a importância da cultura e explicam o comportamento humano apenas por fatores que não fazem parte de escolhas humanas, como a genética ou o ecossistema. Para os que defendem que a cultura é um mero reflexo das condições naturais de um povo (sua genética e seu ecossistema), há as teses que chamamos de “determinismo biológico” ou, ainda, o “determinismo geográfico”.
Roque de Barros Laraia, antropólogo brasileiro, demonstra em seus capítulos iniciais do livro Cultura: um conceito antropológico, que essas teses são equivocadas e não consideram dados importantes. A antropologia preocupase em demonstrar a importância da cultura e minimizar coisas como nossas características físicas ou o clima e a geografia do lugar em que nascemos.
Ao discordar das teses deterministas, ele argumenta que mesmo em ambientes muito semelhantes, mas distantes geograficamente, os grupos humanos desenvolvem hábitos muito diferentes.
A princípio esse raciocínio pode nos enganar. Muitas vezes pensamos: “oras, se um povo vive no frio deve construir uma casa com matériasprimas quentes, forradas de peles, com paredes bem grossas”. Mas as coisas humanas não seguem um padrão tão lógico. Os esquimós vivem em um clima de extremo frio, mas constroem casas com blocos de gelo, os famosos iglus. Em compensação, em outro continente, mas na mesma latitude, estão povos tradicionais conhecidos como “lapões”. Também conhecidos como “sami”, ocupavam territórios que hoje correspondem à Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. Ao invés de iglus, eles viviam até o início do sec. XX em tendas feitas de pele de rena.
Relação natureza versus cultura:
São velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades específicas inatas a “raças” ou a outros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica; que os judeus são avarentos e negociantes; que os norteamericanos são empreendedores e interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses.
Os antropólogos reforçam a tese de que não existem determinismos, a cultura não é uma mera herança natural e a espécie humana é mais complexa do que a combinação entre genes e clima.
De todas as pesquisas desenvolvidas pela antropologia entre diferentes povos, há uma única e primeira proposição que nos faz pensar que eles têm razão. Por exemplo, tome um bebê de qualquer origem genética, mas o leve a ser criado em uma cultura, entre um povo bem diferente de sua origem.
O comportamento cultural é um conjunto complexo de conhecimentos desenvolvidos ao longo de gerações, como necessidades, crenças, valores e ética de vida coletiva, entre outras coisas. Por isso, julgar uma cultura é uma operação que requer, antes de mais nada, que se conheça suas razões. O julgamento sem conhecimento de causa se chama preconceito.
Para enriquecer esse debate, leia o trecho abaixo em que os autores demonstram os erros do pensamento determinista.
O determinismo biológico
No século XIX e na primeira metade do século XX, o conceito de raça fazia parte da centralidade do debate em torno do determinismo biológico. Nessa época, fervilhavam teorias que defendiam a existência de capacidades específicas, inatas de determinadas raças. Assim, era comum a defesa de teorias que se baseavam na existência da superioridadeinferioridade dos povos, ignorando por completo as suas diferenças como elemento fundamental da diversidade humana. Essa condição se reproduziu dentro de lógicas racistas e de intolerância face às diferenças culturais, políticas, sociais, econômicas e ambientais.
Apesar da perplexidade de parte da sociedade, foi possível, em pleno século XX, o redescobrimento de atitudes refletindo o velho pensamento sobre inferioridadesuperioridade das raças. Mas existem aqueles que ainda acreditam na diferença inata entre “povos do norte” e “povos do sul”.
Baseados em concepções em que os fatores de ordem biológica determinam o comportamento humano, muitos chegaram a defender verdadeiros absurdos que, drasticamente, ganharam corpo e ressonância em nível mundial. Na Alemanha, a concepção da superioridade da raça adquiriu status de uma ideologia de Estado (o nazismo), atingindo proporções avassaladoras a partir de 1939. Uma concepção de cultura local ou regional que se elevou a um sistema de explicação justificando uma doutrina de Estado. (CANTO; ALMEIDA, 2008).
As ciências, de forma geral, e as ciências humanas, em particular, exigem atitudes de imparcialidade. Julgar populações inteiras e seus costumes não faz parte de uma atitude científica. Grande parte do conhecimento da antropologia procura demonstrar a falta de fundamentos válidos em atitudes preconceituosas que estão presentes no costume de “julgar os outros”
Até mesmo a “guerra dos sexos”, que é uma reação feminina ao machismo predominante em nossa sociedade, usa a tese do determinismo biológico para desfavorecer o sexo feminino. Vale lembrar que, muitas vezes, há um reforço de que “a natureza feminina” e a “natureza masculina” sejam a explicação para situações criadas ao longo da história, e que servem para reforçar a ideia de que deve existir um sexo submisso (feminino) e um sexo dominante (masculino).
Mas, mesmo sobre essas ideias preconceituosas, a antropologia procura demonstrar que não há verificação válida para sustentar a relação desigual entre os sexos.
Um trecho do livro de Roque de Barros Laraia: A verificação de qualquer sistema de divisão sexual do trabalho mostra que ele é determinado culturalmente e não em função de uma racionalidade biológica. O transporte de água para a aldeia é uma atividade feminina no Xingu (como nas favelas cariocas). Carregar cerca de vinte litros de água sobre a cabeça implica, na verdade, um esforço físico considerável, muito maior do que o necessário para o manejo de um arco (arma de uso exclusivo dos homens). Até muito pouco tempo, a carreira diplomática, o quadro de funcionários do Banco do Brasil, entre outros exemplos, eram atividades exclusivamente masculinas. O exército de Israel demonstrou que a sua eficiência bélica continua intacta, mesmo depois da maciça admissão de mulheres soldados (LARAIA, 2006, pg. 19).
É importante lembrar que todo tipo de tese que procura explicar características de comportamento humano por meio de uma única explicação pode ser questionada.
O ser humano é um fenômeno bastante complexo para ser explicado apenas por meio de sua biologia, ou de sua localização geográfica, de sua influência em relação aos outros. A antropologia procura demonstrar que a vida social permite uma grande riqueza de interpretações e abordagens sobre o comportamento humano.
A diversidade cultural demonstra essa complexidade. Em todos os lugares em que se forma um grupo humano há a tendência à inovação, à criação de novas condutas e formas de pensar o mundo.
O que são as teses “deterministas”?
• São teses que procuram explicar o comportamento de populações humanas, a partir da determinação de um ou dois únicos fatores.
• Chamamse deterministas porque pretendem que a biologia ou a geografia de um povo determine todo o seu comportamento.
A antropologia e todas as ciências da sociedade discordam dessas teses deterministas e procuram demonstrar que, na maior parte das vezes, a biologia e a geografia influenciam certos comportamentos, mas nuncaos determinam.
Uma cultura é sempre o conjunto de muitos fatores, como a história desse povo, suas necessidades e formas de suprilas; os valores e conhecimentos transmitidos; o conjunto de hábitos e regras sociais etc.
Síntese
O ser humano depende da cultura para realizar suas capacidades inatas, como inteligência e comunicação. É por meio da socialização que nos tornamos membros de uma sociedade. Não existem indivíduos que não sejam parte de uma sociedade. Somos, ao mesmo tempo, modelados por ela e podemos transformála, pois a cultura é dinâmica e está sempre sendo modificada pelos indivíduos.
Apesar de nascermos com algumas características inatas, ao longo de nossas vidas, as oportunidades sociais para desenvolvêlas serão extremamente importantes. Não adianta nascer com um Q.I. de gênio e, por necessidade ou opção, desenvolver uma carreira que depende do desempenho físico e não do cérebro.
A antropologia recusa as teses deterministas, pois afirma que somos seres complexos, pois nossa espécie é resultado de influências biopsicossociais. Ou seja, nossa composição inata (herança biológica e características que “nascem” com cada um de nós) é influenciada e influencia nossas características psicológicas e, finalmente, as características psicológicas influenciam e são influenciadas pela nossa experiência social.
Você consegue perceber como esses três aspectos que definem o comportamento humano atuam em uma complexa relação de interferências mútuas? Nosso corpo, que é orgânico, interfere em nossas emoções, que por sua vez interferem em nossa vida social. Nossas emoções, que são os aspectos psicológicos, interferem em nosso organismo e em nossa vida social. Nossa vida social, que não está sob nosso controle pessoal, interfere em nosso organismo e em nossas emoções. É um exercício quase infinito de exemplos que poderíamos trabalhar, demonstrando como apenas o componente biológico, ou apenas o psicológico, ou apenas o social não determinam nada. A interferência entre os três aspectos é que produz o ser humano.
O ser humano é uma espécie moldável e criativa. Em cada grupo social, as respostas às necessidades resultam em uma história que é única para aquele grupo. Portadores das marcas da história, das experiências coletivamente vividas, das soluções criadas, os grupos vão construindo um conjunto absolutamente único que é sua cultura.
A cultura é um processo e não resultado de um único fator.
O SURGIMENTO DA CULTURA
· Objetivos
Voltar às origens da cultura é também voltar à origem da humanidade. Ter costumes e hábitos aprendidos é um comportamento relacionado com a nossa sobrevivência e evolução enquanto espécie.
O tema possibilita uma abordagem que ressalta a importância da compreensão do ser humano como um ser biopsicossocial, ou seja, somos seres cujo comportamento é determinado ao mesmo tempo por nossas características orgânicas (o tipo de aparelho físico que temos e como podemos utilizálo), por nossas experiências pessoais racionais ou afetivas de mundo, e, finalmente, pelo meio social onde vivemos.
Introdução
Parece que todo ser humano tem como qualidade inata (que nos pertence desde o nascimento) certos comportamentos, como preferir alguns tipos de roupas ou alimentos, e ainda se comunicar por meio desta ou daquela língua.
Pois a antropologia, junto com outras ciências como a arqueologia, a paleontologia e a história, explorou profundamente essa questão sobre a diferença do homem em relação ao resto do mundo animal, e pôde concluir que nosso comportamento é fruto de um processo histórico no qual a biologia e a cultura modelaram nossos ancestrais. Esse trabalho conjunto entre nosso desenvolvimento biológico e a cultura foi responsável por tamanhas mudanças em nossa espécie, que hoje achamos um fato “natural” não necessitarmos entrar na “luta pela sobrevivência”, na “lei da selva”.
· Principais conceitos
Biologia, cultura, evolução, adaptação, troca, reciprocidade, sociedade.
A teoria da evolução
No século XIX Charles Darwin (biólogo), afirmou que todas as espécies vivas resultam de uma evolução ao longo do tempo. Isso significa, que se retornássemos em nosso planeta milhões de anos atrás não encontraríamos as espécies conforme as vemos hoje.
Cada ser vivo, para chegar até hoje, passou por sucessivas e pequenas transformações que possibilitaram sua sobrevivência; esse processo de mudanças orgânicas ocorre por necessidade de adaptação ao meio. Essas mudanças ocorrem em conjuntos em populações de uma espécie, então é necessário considerar cada uma delas como grupo, e não apenas as características individuais.
Junto com a necessidade de adaptação ao meio vem a outra exigência para uma espécie evoluir, que é a seleção natural. A seleção natural significa que sobrevivem por mais tempo os indivíduos mais aptos a sobreviver. Como são mais aptos, por estarem mais adaptados, eles têm mais chances de reproduzir e deixar essa carga genética para a próxima geração. Assim, os indivíduos gerados pelos que passaram por essa seleção, serão ainda mais privilegiados a sobreviver, pois já nascem com “vantagens genéticas” e passam mais uma geração adiante essa vantagem adaptativa.
Falar em evolução e adaptação não significa que sempre sobrevivem os mais fortes. A força pode ser uma necessidade para sobreviver, mas muitas vezes são outras as exigências. Pode ser a habilidade para enxergar no escuro, ou a capacidade de voar mais alto, ou mesmo ter que voar bem baixinho. Pode, ainda, ser a habilidade de pensar.
Veja que da perspectiva evolucionista, adaptação significa basicamente ser dotado de uma habilidade qualquer, mas que é fundamental para os indivíduos de uma população sobreviverem de forma ótima. E ainda por cima, transmitirem seus genes para a próxima geração.
A possibilidade da geração de uma prole com características que permitam a adaptação ao meio é, para os evolucionistas, chamada de “seleção natural” – sobrevivem apenas aqueles indivíduos com traços que os permitam sobreviver. Ao lado da seleção natural, as mutações aleatórias também são responsáveis pelas modificações de um organismo ao longo do tempo.
Uma das dificuldades do senso comum em aceitar as ideias evolucionistas está no fato de que não podemos “ver” a evolução acontecendo – apesar de ela estar sempre acontecendo – isto é, não testemunhamos alterações expressivas, pois as mudanças são muito sutis e ao longo de um período de tempo que é muito longo do ponto de vista do ser humano.
As alterações podem ser consideradas em intervalos de tempo não inferiores a cem ou duzentos mil anos. Portanto, muito além de qualquer evento que possamos acompanhar. Mas podemos acompanhar a luta pela sobrevivência e a mudança de hábitos em muitas espécies, como os pombos que povoam as cidades, mas não estão tão concentrados demograficamente nos campos. Essa espécie encontrou um ambiente ótimo nas cidades construídas pelos seres humanos, aprendendo rapidamente como obter abrigo e alimento, com a vantagem de estar livre de predadores como nas florestas e campos. Faz parte de sua evolução esse novo ambiente.
Assim, entendemos que a evolução biológica de todas as espécies vivas não acontece sem a influência de muitos fatores, não acontece de forma “mágica” e independente do tipo de meio e hábitos que podemos observar.
Hoje em dia o darwinismo está com uma nova roupagem e temos teorias como o pósdarwinismo ou neodarwinismo, que são consequência do desenvolvimento de nossa tecnologia de pesquisa, e do próprio conhecimento, cujas portas foram abertas por Charles Darwin para seus sucessores.
O aparecimento do Homo Sapiens – uma espécie que trabalha
O homem descende do macaco. Essa foi a afirmação polêmica de Darwin na segunda metade do século XIX e que dividiu opiniões na sociedade moderna. Essa polêmica permanece até hoje, pois encontrou como opositor o ponto de vista de uma prática humana muito mais antiga que a teoria da evolução: a religião.
Para os evolucionistas, todas as espécies vivas foram surgindo das transformações de outras já existentes, dando origem a novas espécies,enquanto outras se extinguiram. Os primeiros humanos, chamados cientificamente de hominídeos, surgiram das transformações de algumas famílias de símios que fazem parte dos chimpanzés.
A ciência entende o desenvolvimento da vida biológica como algo sobre o qual não cabe fazer juízo de valor. Ou seja, não existem formas de vida “melhores” ou “piores”. Não existe uma hierarquia que seja comprovável e que permita dizer que uma espécie seja “superior” às outras.
Mas essas características como inteligência, fala e indústria não teriam surgido em nossos ancestrais se não fosse a presença de um tipo de comportamento que ajudou a modelar o corpo de nossos ancestrais, que é o comportamento baseado na cultura. Ou seja, a necessidade de comunicação, cooperação e divisão de tarefas facilitou o desenvolvimento dessas características biológicas.
• Características biológicas: forma, funcionamento e estrutura do corpo. É a nossa anatomia, características herdadas biologicamente e que não são resultado da nossa escolha pessoal.
• Características culturais: todo comportamento que não é baseado nos instintos, mas nas regras de comportamento em grupo que nos permite transformar a natureza para a sobrevivência (trabalho), e nos permite atribuir significados e sentidos ao mundo por meio dos símbolos (a cor branca, por exemplo, simboliza a paz, ou um tipo de vestimenta que simboliza status).
Durante muito tempo pensouse que o ser humano já teria surgido plenamente dotado dessas características em conjunto.
A evolução humana ou antropogênese é a origem e a evolução do Homo Sapiens como espécie distinta de outros hominídeos, dos grandes macacos e mamíferos placentários. O estudo da evolução humana engloba muitas disciplinas científicas, incluindo a antropologia física, primatologia, arqueologia, linguística e genética.
O termo “humano” no contexto da evolução humana, referese ao gênero Homo, mas os estudos da evolução humana usualmente incluem outros hominídeos, como os australopitecos. O gênero Homo se afastou dos australopitecos há cerca de 2,3 e 2,4 milhões de anos na África. Os cientistas estimam que os seres humanos ramificaramse de seu ancestral comum com os chimpanzés – o único outro hominins vivo – cerca de 57 milhões anos atrás. Diversas espécies de Homo evoluíram e agora estão extintas. Estas incluem o Homo erectus, que habitou a Ásia, e o Homo neanderthalensis, que habitou a Europa. O Homo sapiens arcaico evoluiu entre 400.000 e 250.000 anos atrás (WIKIPEDIA).
É importante compreender que nossa espécie não é fruto de coisas inexplicáveis, mas resulta de um longo e lento processo de evolução, que significa mudanças ao longo do tempo. Essas mudanças, por sua vez, são fruto de uma dura luta por parte de nossos ancestrais para sobreviver em condições pouco favoráveis e convivendo com espécies mais fortes e predadores mais bem preparados fisicamente para tal. Nossos ancestrais não tinham a mesma caixa craniana que temos hoje, e não eram tão inteligentes; não tinham a postura totalmente ereta, e não viviam em cidades. Eram mais uma espécie entre tantas outras, e o pouco que puderam fazer então determinou sua sobrevivência, e mais que isso, determinou como somos hoje.
Principais mudanças que surgiram no período Neolítico – aproximadamente de 12.000 a 6.000 a.C.
•a sociedade se divide em camadas sociais;
•primeiras manifestações religiosas, crenças em divindades;
•sedentarismo;
•surgem a cerâmica e a tecelagem;
•surge o comércio e o uso de moeda (inicialmente eram sementes e não metal cunhado); •começa a divisão sexual do trabalho, que determina as tarefas masculinas e as femininas; •fundição de metais;
•surge a propriedade privada. O período Neolítico termina quando surge o domínio da escrita.
Durante quase toda a história social da humanidade a prática pedagógica existiu sempre, mas imersa em outras práticas sociais anteriores. Imersa no trabalho: durante as atividades de caça, pesca e coleta, depois, de agricultura e pastoreio, de artesanato e construção. Ali os mais velhos fazem e ensinam e os mais moços observam, repetem e aprendem. lmersa no ritual: seja no enterro de um morto (os homens do paleolítico superior já faziam isto com todo o cuidado), num rito de iniciação, ou em outra qualquer celebração coletiva, as pessoas cantam, dançam e representam, e tudo o que fazem não apenas celebra, mas ensina. E não ensina apenas as artes do canto, da dança e do drama. Ritos são aulas de codificação da vida social e de recriação, através dos símbolos que se dança, canta e representa, da memória e da identidade dos grupos humanos. Imersa nos diferentes trabalhos do viver o cotidiano da cultura: aparentemente espontâneas e desorganizadas, as situações de brincadeiras de meninos, as tropelias de adolescentes e as trocas do amor entre jovens são momentos de trocas de condutas e significados, regidas por regras e princípios que, aos poucos, incorporam à pessoa de cada um os códigos das diferentes outras situações da vida social. Incorporam, no seu todo, a própria estrutura simbólica da sociedade no universo pessoal de ideias, ações e sentimentos de cada pessoa. (BRANDÃO, 1997).
Até os dias de hoje utilizamos essas habilidades de trabalho em grupo para viabilizar nossa existência social. A capacidade de dividir tarefas, cooperar e se especializar permite atingir objetivos com resultados mais efetivos e também possibilita um conjunto social com melhor qualidade de vida.
Entretanto, nenhuma dessas características nos valeria muita coisa se não tivéssemos desenvolvido um tipo de comportamento baseado em regras de convivência social, divisão de grupos em parentesco, divisão do trabalho e uma mente dotada de raciocínio lógico e abstrato ligado à criatividade e à imaginação. Foram nossas capacidades de organização e comunicação que definiram tal resultado, afastando nossa espécie do comportamento instintivo e determinando essa longa e rica viagem chamada humanidade.
A cultura do homem – uma espécie que troca e se organiza
Um antropólogo francês muito famoso, Claude LéviStrauss, defende que a proibição do incesto (relações sexuais entre indivíduos com parentesco próximo) foi a primeira “atitude cultural” do ser humano, e que permitiu uma mudança fundamental no comportamento do animal humano: as trocas.
Que tipo de trocas?
Quando nós vamos às compras, trocamos dinheiro (valor) por mercadorias. Essa é uma das muitas formas de troca que nos permite afirmar que o mundo do mercado é o mundo das trocas. Mas o mundo do mercado e dos negócios só passou a existir a partir do momento em que o ser humano, em sua evolução, começou a praticar esse tipo de atitude como algo rotineiro. Então, é necessário que tenha havido um tipo de troca original, que fundou na sociedade essa atividade como algo aceito por todos, como uma convenção. Foi necessário fundar a lógica das trocas.
Vamos refletir sobre outras formas de troca para chegar à origem delas. Quando presenteamos alguém, estamos fazendo uma “troca simbólica”: damos algo e recebemos amizade, consideração, carinho. Muitas vezes, ao dar estamos sinalizando que esses sentimentos são mútuos. As trocas simbólicas estão muito presentes em nosso dia a dia. Além dos presentes, podemos nos lembrar dos cumprimentos que trocamos, das orações seguidas de pedidos, dos grandes e pequenos favores, entre tantas outras.
A seguir vamos relacionar todo esse processo de reciprocidade, troca e parentesco com a ideia inicial de LéviStrauss sobre o incesto ter sido, simbolicamente, a “primeira” regra cultural da humanidade.
A proibição do incesto indica que em determinado momento da nossa evolução começou a existir a noção de família e parentesco. Os outros mamíferos não possuem essa noção e, eventualmente, pode haver cruzamentos entre irmãos ou entre pais e filhos.
Ao proibir o incesto, os bandos eram obrigados a abrir mão de suas fêmeas, pois muitas eram irmãs ou filhas com quem já não era mais permitida e tolerada a relação sexual. Assim, eram obrigados a “trocar mulheres” com outros bandos. Sim, segundo a Antropologia,as mulheres foram as primeiras “coisas” trocadas pela humanidade, muito antes de qualquer mercadoria. Questão de sobrevivência, pois sem sua presença não haveria descendentes.
Síntese
Somos resultado de uma longa evolução que modelou nossas características biológicas e nosso comportamento em grupo. Somos seres naturalmente gregários, precisamos conviver em grupo para sobreviver. A cultura representou uma conquista evolutiva importante em nossa espécie, e é por meio dela que podemos realizar plenamente nossas potencialidades humanas que envolvem as trocas sociais, a organização coletiva e o comportamento baseado em regras e não no instinto.
A organização social do trabalho e os princípios que orientam nossa conduta para uma parcela maior de coletivismo e menor de individualismo são importantes traços das culturas humanas.
Você já deve ter ouvido falar em diferentes formas de organização coletiva do ser humano. Termos como “bando”, “tribo”, “grupo”, “comunidade”. Alguns estudiosos conceituam esses termos para diferenciar coletividades humanas com menor ou maior rigor de regras de participação ou de envolvimento pessoal. Independente da teoria sociológica ou antropológica mais específica, é interessante que você saiba distinguir no seu dia a dia essas diferentes formas de agregação social. Há um interessante trecho abaixo o qual torna muito fácil identificar agrupamentos comuns do cotidiano.
Hordas – os corredores de supermercado, num sábado à tarde, são um bom exemplo de horda. Grupamento de pessoas que não têm vínculo entre si, não se relacionam, nem desempenham papéis interativos.
Bandos – aglomerados de pessoas que têm alguma interação e papéis complementares, há regras rígidas e não se permite alteração. O Congresso Nacional e os torcedores em um estádio de futebol são exemplos.
Grupos – certamente, sua equipe de trabalho é um exemplo perfeito de grupo. Uma união de pessoas, onde há troca de papéis e objetivos comuns, alem de dinâmica flexível. Na atualidade, a palavra grupo tem sido substituída por equipe ou time ou team, entretanto, entendo que a definição é a mesma (FAILDE, 2007, p. 55).
Vejo que a antropologia é a ciência que tem como objeto o estudo sobre o ser humano e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões.
Englobando as formas físicas primitivas e atuais do homem e suas manifestações culturais. ... Antropologia Cultural: abrange o estudo do homem como ser produtor de cultura. Investiga as culturas humanas no tempo e no espaço, suas origens e seu desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças.
Dividindo-se em duas grandes áreas de estudo, com objetivos definidos e interesses teóricos próprios: a antropologia física (ou biológica) e a antropologia cultural, para alguns autores sinônimo de antropologia social, que focaliza, talvez, o principal conceito desta ciência, a cultura.

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