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AULA 28 - Verbete Formas de governo - Dicionário Bobbio

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FORMAS DE GOVERNO 517 
 
mão-de-obra qualificada, produzem e exportam os 
manufaturados pelos quais a Itália goza das melhores 
posições no mercado internacional: confecções, 
tecidos, móveis, instrumentos musicais, objetos de 
ouro. As condições de desenvolvimento desta 
economia, "periférica" em relação à divisão 
internacional do trabalho, parecem ser: a 
disponibilidade de oferta de trabalho manual precário, 
mas qualificado, famílias dotadas de economias 
invisíveis de bens e serviços (hortas domésticas, 
mútua ajuda de parentes e vizinhos), elevada 
integração social, subculturas políticas homogêneas e 
hegemônicas (católicas ou socialistas). Bem diversas 
são as condições que existem nas Formações sociais 
"centrais" do Nordeste e "marginais" do Sul, 
favorecedoras da grande empresa ou do 
assistencialismo estatal. 
BIBLIOGRAFIA. - AUT. VÁR., in ""Quaderni di Critica 
Marxista" 1970, 4 e in "Critica Marxista" 1971, IX, 4; 
1972, X, 1, 2-3; S. AMIN, Sullo sviluppo ineguale delle 
formazioni sociali. in "Terzo Mondo" 1972, V, 18; 
ASSEMBLEA COSTITUENTE, COMMISSIONE PER LA 
COSTITUZIONE, Prima Sottocommissione: Discussioni e 
Assemblea Plenaria: Discussioni. Roma 1946 e 1947; 
A. BAGNASCO, Tre ltalie, Il Mulino. Bologna 1977; Id., 
"Quaderni" da Fundação G. Feltrinnelli 1981, 14 e 16; 
Z. BAUMAN, Lineamenti di sociologia marxista (1964), 
Editori Riuniti, Roma 1971; L. GALLINO, Personalità e 
mdustrializzazione. Loescher, Torino 1968; Id., 
L'evoluzione della strultura di classe in Italia. in 
"Quaderni di Sociologia" 1970, XIX, 2; ID., La società, 
perchè cambia, come funziona. Introduzione sistematica 
alla sociologia. Paravia, Turino 1980; M. GODELIER, 
Formazione economico-sociale, in Enciclopedia, 
Einaudi, Torino 1979, vol. VI; J. HABERMAS, La crisi 
della razionalità nel capitalismo maturo (1973), 
Laterza, Bari 1975; V. I. LENIN, Che cosa sono gli Amici 
del popolo (1894), Editori Riuniti, Roma 1972; C. 
LUPORINI, in "Critica Marxista" 1977, 3; K. MARX, Per 
la critica dell'economia política (1859), Editori Riuniti, 
Roma 1967; N. POULANTZAS, Potere político e classi 
sociali (1968), Editori Riuniti, Roma 1971; Id., 
Fascismo e dittatura (1970), Jaca Book, Milano 1971; 
P. RESCIGNO, Persona e comunità, Il Mulino, Bologna 
1966; G. SOFRI, Il modo di produzione asiatico. 
Einaudi, Torino 1969. 
[SERGIO SCAMUZZI] 
 Formas de Governo. 
I. PROBLEMÁTICA. — A análise das Formas de 
Governo é tida como conceptualmente distinta da 
análise referente às formas de Estado ou de regime. 
Estas, sejam definidas recorrendo aos critérios 
aristotélicos do poder de um, de poucos, 
de todos, exercido para utilidade de um, de poucos, ou 
de todos; sejam definidas em termos modernos como 
regimes autoritários, totalitários e democráticos; 
enfim, fiquem na simples distinção entre monarquia 
(cujo titular ocupa um cargo hereditário) e república 
(cujo titular ocupa um cargo eletivo), respeitam a 
problemas diversos dos evocados pelas Formas de 
Governo propriamente ditas. 
Deixando de lado tanto a variedade de regimes 
autoritários, caracterizados pelo poder arbitrário de 
um chefe ou, consoante é dado observar mais amiúde, 
pela instituição militar, como a diversidade dos 
regimes totalitários, de poder centralizado num partido 
político, fixaremos principalmente a nossa atenção na 
distinção das diferentes Formas de Governo no âmbito 
das formas de Estado democrático. Fazendo assim, se 
verá, entre outras coisas, que a distinção 
monarquia/república perde toda a importância prática. 
Em síntese, a análise das Formas de Governo 
atende à dinâmica das relações entre o poder 
executivo e o poder legislativo e respeita, em 
particular, às modalidades de eleição dos dois 
organismos, ao seu título de legitimidade e à 
comparação das suas prerrogativas. Além disso, dada 
a natureza dos regimes democráticos modernos, 
assume uma importância fundamental na compreensão 
e explicação do funcionamento das diversas Formas 
de Governo a organização dos sistemas partidários 
neles presentes e operantes. 
II. A BIPARTIÇÃO CLÁSSICA. — A bipartição clássica 
distingue a Forma de Governo parlamentar e a Forma 
de Governo presidencial. É preferível manter estas 
expressões a usar, em vez delas, a distinção entre 
república parlamentar e república presidencial, uma 
vez que, enquanto o presidencialismo é apenas típico 
de um sistema republicano, a Forma de Governo 
parlamentar se encontra tanto no âmbito dos sistemas 
monárquicos quanto no dos sistemas republicanos. 
Mais: sob muitos pontos de vista, é de salientar que o 
Governo parlamentar nasceu, se desenvolveu e atingiu 
sua mais elevada expressão no âmbito das monarquias 
constitucionais, especialmente no da monarquia 
britânica. Mas há outros exemplos luminosos, os das 
monarquias escandinavas: Dinamarca, Noruega, 
Suécia. Segundo alguns autores, este desenvolvimento 
positivo seria devido ao fato de que a exclusão da 
competição política pela conquista do mais alto cargo 
do Estado — ao mesmo tempo que o Parlamento lhe 
limitava e contrastava o poder — exerceu um efeito 
moderador na luta política dos países acima 
mencionados. 
518 FORMAS DE GOVERNO 
 
A primeira e mais clara distinção que conhecemos 
das duas formas de Governo é a formulada por Walter 
Bagehot. No seu famoso estudo sobre a Constituição 
inglesa (1865-1867), este estudioso britânico punha em 
contraste a Forma de Governo parlamentar do Reino-
Unido, por ele definida como cabinet government, 
com a Forma de Governo dos Estados Unidos, 
também por ele definida como presidential 
government. Esta distinção, não obstante a publicação 
um pouco mais tardia do volume Congressional 
government (1885) por parte do futuro presidente dos 
Estados Unidos, Woodrow Wilson, continua 
conceptual e concretamente válida. A grande maioria 
das Formas de Governo contemporâneas remontam ou 
ao protótipo britânico ou ao estadunidense; mas essas 
duas formas mantiveram-se substancialmente intactas 
durante o século passado. Os países de emigração 
branca de língua inglesa, por exemplo, como a 
Austrália, o Canadá, a Nova Zelândia, a África do Sul 
e muitas ex-colônias da África e da Ásia, adotaram o 
cabinet government, enquanto a quase totalidade dos 
países do continente latino-americano introduziram o 
presidential government. Pelo que concerne à Europa 
continental, se excluirmos o Governo presidencial da V 
República francesa, que depois analisaremos, a forma 
dominante é a parlamentar. Por sua vez, as diferenças 
que existem entre o parlamentarismo inglês clássico e 
os vários tipos continentais, são quase inteiramente 
devidas às diferenças características dos sistemas 
partidários. 
III. O GOVERNO PARLAMENTAR. — A Forma de 
Governo parlamentar é caracterizada pelo fato de as 
articulações governativas surgirem do seio do 
Parlamento (tanto que Bagehot punha na boa eleição do 
Governo a função mais importante do Parlamento) e de 
ele ser responsável perante esse mesmo Parlamento 
que, em caso extremo, pode decretar a sua queda. Por 
sua vez, nos sistemas parlamentares, o Governo tem o 
poder de dissolver o Parlamento ou de pedir a sua 
dissolução ao chefe do Estado, quando não obtiver o 
seu voto de confiança ou, em certos casos, como no 
típico caso inglês, para convocar novas eleições em 
circunstâncias melhores. 
O elemento diferenciador de maior relevo entre os 
vários tipos de Governo parlamentar está na natureza 
do sistema partidário. De fato, onde existem só dois 
partidos ou, então, um partido obtém sozinho a 
maioria absoluta das cadeiras, a Forma de Governo 
parlamentar apresenta características de solidez e de 
estabilidade maiores que quando o Governo é formado 
por coalizões de vários partidos. Do mesmo modo, o 
funcionamento de um sistema será positivamente 
influenciado com a presença de um partido de 
oposição que possa apresentar-se,por si só, como 
alternativa legítima e acreditável de Governo. 
O modelo inglês é precisamente caracterizado pelo 
revezamento periódico, recentemente tornado um 
pouco mais difícil, de um ou outro dos maiores 
partidos na condução do Governo. Dadas as 
características da competição eleitoral em 
circunscrições uninominais de um só turno e a 
existência de dois únicos partidos com possibilidades 
de obter a maioria absoluta das cadeiras, a 
incumbência de formar Governo é automaticamente 
confiada, pelo chefe do Estado (no caso inglês, o 
monarca), ao líder do partido de maioria. Esta praxe, 
entre outras, torna obsoleta a afirmação que se cita de 
Bagehot sobre a função mais importante do Parlamento 
e acentua a primazia do party government sobre a 
assembléia, até quanto aos limites da quantidade e 
qualidade da produção legislativa que dela provém. 
Nos sistemas parlamentares formados segundo o 
modelo britânico, o primeiro-ministro o é enquanto 
líder do partido da maioria. Esta coincidência de 
cargos é de decisiva importância para manter a coesão 
e a disciplina do grupo parlamentar e, por conseguinte, 
para garantir a tradução do programa governamental 
em leis. Não é só o grupo parlamentar do partido da 
maioria que tem interesse em manter a sua unidade de 
ação. Por seu turno, o partido da oposição constitui em 
seu interior um Governo fantasma (shadow cabinet), 
com o duplo objetivo de exercer um estreito controle 
sobre as atividades e decisões governamentais e de 
apresentar ao eleitorado uma articulação ministerial 
alternativa, de algum modo já consistente. 
Ao lado do sistema do cabinet government de tipo 
britânico, baseado no Governo exclusivo do partido de 
maioria e na sua coesão, existem os Governos de 
coalizão, característicos das democracias continentais 
européias. Nestas, o problema fundamental é o da 
formação de uma maioria governativa entre vários 
partidos que dê garantias de uma suficiente 
homogeneidade e de uma adequada duração. Nestes 
sistemas multipartidários, particularmente nos 
escandinavos, a consistência política e eleitoral dos 
partidos social-democráticos e a reduzida distância 
ideológica entre os partidos "burgueses" da oposição 
têm permitido a formação de uniões ministeriais 
estáveis. Em outros sistemas, especialmente nos da 
Europa meridional (incluída a França da IV 
República), a instabilidade das coalizões 
governamentais parece endêmica, embora raramente 
leve à mudança da classe política e dos ministrables, 
justamente por não conseguir fazer circular o pessoal 
político. 
FORMAS DE GOVERNO 519 
 
Contra a estabilidade do Governo parlamentar nos 
sistemas multipartidários têm sido tentados diversos 
corretivos. Baseando-se na dramática experiência da 
instabilidade governativa da República de Weimar e 
na preocupação de evitar o vácuo do poder, a lei 
fundamental da República Federal Alemã 
(Grundgesetz) ratifica a necessidade de que a 
desconfiança relativa a um chanceler não possa ser 
declarada senão através de um voto de desconfiança 
construtivo, um voto com o qual se eleja um novo 
chanceler. Embora se duvide que em condições de 
crise real tal mecanismo possa assegurar a estabilidade 
da Forma de Governo, ele pode operar como elemento 
de dissuasão, principalmente em relação aos 
componentes turbulentos da maioria governativa, e 
também como instrumento de esfriamento de tensões 
emergentes. 
Há ainda uma observação necessária. A análise 
comparada das variedades concretas das Formas de 
Governo parlamentar revela que o caso italiano é hoje 
o único a fazer exceção à norma generalizada de que o 
líder do partido ou da coalizão de partidos vitoriosos 
nas eleições se torne automaticamente primeiro-
ministro, uma prática que confere assim maior peso e 
importância imediata à escolha dos eleitores e atribui, 
ao mesmo tempo, uma clara responsabilidade ao 
partido da maioria, relativa ou absoluta, e ao seu líder. 
IV. O GOVERNO PRESIDENCIAL. — A Forma de 
Governo presidencial é caracterizada, em seu estado 
puro, pela acumulação, num único cargo, dos poderes 
de chefe do Estado e de chefe do Governo. O 
presidente é eleito pelo sufrágio universal do 
eleitorado, subdividido ou não em colégios. Nesta 
forma de Governo, o presidente ocupa uma posição 
plenamente central em relação a todas as forças e 
instituições políticas. Pelo que se refere ao caso 
estadunidense, o presidente é ali, pelo menos 
nominalmente, o chefe do seu partido; é o chefe do 
Governo ou administration, escolhe pessoalmente os 
vários ministros ou secretários de departamentos, que 
terão de abandonar o cargo a seu pedido e não são 
responsáveis perante o Congresso. O presidente 
representa a nação nas relações internacionais; 
estipula, se bem que sujeito ao advice and consent do 
Senado, os tratados internacionais; é a ele que cabe o 
poder de declarar a guerra. Além disso, é ele quem tem 
a iniciativa e é fonte das decisões e das leis mais 
importantes. 
A centralidade do seu papel lhe advém do fato de 
haver sido eleito pela totalidade do corpo eleitoral. A 
ele contrapostos estão os representantes da Câmara, 
eleitos em circunscrições uninominais de tamanhos 
similares e porta-vozes de interesses 
setoriais, e os senadores, eleitos em colégios que 
cobrem todo o território dos diversos Estados, dois por 
cada um dos cinqüenta Estados da União. Observe-se, 
além disso, que a duração ou tenure do executivo e dos 
membros do legislativo é significativamente diferente. 
Enquanto os Congressmen se submetem a novas 
eleições de dois em dois anos e os senadores 
permanecem no cargo seis anos, com renovação de um 
terço do Senado também de dois em dois anos, o 
mandato presidencial é de quatro anos, renovável uma 
só vez (emenda expressamente introduzida, depois que 
Franklin D. Roosevelt obteve a eleição por quatro 
mandatos sucessivos). 
A centralidade do presidente dentro do sistema de 
tipo norte-americano ressalta ainda mais claramente se 
considerarmos o papel exercido pelas outras 
instituições. Pelo que respeita aos partidos políticos 
americanos, seu momento de maior relevo, 
visibilidade e dinamismo, a única fase em que 
cumprem uma função nacional, está no processo de 
seleção do candidato presidencial, a chamada 
nomination, e no folclore, muito mais que debate 
político, que caracteriza as respectivas conventions. A 
seguir às recentes reformas que ampliaram e 
reforçaram a democraticidade do processo de eleição e 
escolha dos delegados à Convention, o declínio dos 
mecanismos partidários nacionais mais se veio a 
acentuar. 
Reflexo imediato deste processo, o presidente acaba 
por ser o chefe visível de um partido evanescente (o 
dos delegados à Convention), enquanto os 
representantes do seu próprio partido na Câmara e no 
Senado não estão muitas vezes a ele ligados por 
qualquer orientação específica, não apresentam 
características de homogeneidade ideológica ou 
política, nem possuem uma disciplina de voto. A 
crescente impossibilidade de o presidente fazer passar 
o seu programa legislativo é uma das mais relevantes 
conseqüências deste estado de coisas. Uma vez que o 
Congresso reage às iniciativas presidenciais, mas 
raramente tem a capacidade ou a vontade de assumir 
ele próprio a iniciativa, o que daí se origina é a 
paralisia institucional. E isso se deve, em grande parte, 
à decadência dos partidos, causa e efeito da 
fragmentação da representação política, e à sua falta 
de coesão. 
Contudo, o presidente é, no bem e no mal, o fulcro 
do sistema. Além de escolher os membros da 
administration, em tempos mais recentes ele criou 
para si, ampliando-o, um verdadeiro e autêntico staff 
na Casa Branca, incumbido não só de manter contatos 
com o Congresso, desempenhar a atividade de relações 
públicas e de controlar o próprio desempenho dos 
vários departamentos, mas também de fazer funcionara máquina da 
520 FORMAS DE GOVERNO 
 
reeleição. Enfim, ele possui amplos poderes de 
nomeação, alguns particularmente importantes como 
os relativos ao judiciário e, mais especificamente, à 
escolha dos juizes da Corte Suprema. Embora o 
Senado exerça às vezes, com vigor e rigor, os seus 
poderes de confirmation, a discricionariedade do 
presidente mantém-se bastante ampla e os casos de 
rejeição são limitados, freqüentemente clamorosos, 
raras vezes devido ao facciosismo do Senado. 
Devido precisamente a que o sistema gira em torno 
da figura do presidente, a sua capacidade e 
personalidade têm influído, de forma decisiva, tanto 
na evolução da instituição como no funcionamento 
global do sistema. Historicamente, o sistema 
presidencial norte-americano se consolidou graças ao 
primeiro presidente, Washington, e a outro dos que lhe 
sucederam, Andrew Jackson; aumentou 
consideravelmente seus poderes primeiro com Lincoln, 
que afirmou a preeminência do Governo federal sobre 
os direitos dos Estados, depois com Theodore 
Roosevelt, Woodrow Wilson e, principalmente, em 
virtude também dos desafios internos e externos, na 
paz e na guerra, com Franklin D. Roosevelt, até à 
chegada da tão criticada presidência imperial de 
Lyndon Johnson. 
Que a instituição depende grandemente, tanto em 
seu funcionamento como em seus poderes efetivos, de 
quem ocupa o cargo revela-o claramente a passagem, 
em menos de dez anos, da preocupação predominante 
da imperial à imperiled presidency (presidência em 
perigo). Uma Forma de Governo como a presidencial, 
que depende, em tão larga medida, da capacidade do 
sistema em escolher uma leadership à altura dos 
tempos e dos problemas, não pode deixar de 
experimentar as conseqüências fortemente negativas 
dos contragolpes derivados do mau funcionamento do 
processo de seleção. Então, o passo do credibility gap 
johnsoniano ao escândalo nixoniano do Watergate é 
deveras curto. E a reforma total da administração, 
fenômeno sem precedentes decidido por Carter no 
verão de 1979 para reforçar o seu vacilante mandato e 
para fazer subir o seu índice de popularidade, parece 
um subterfúgio que não consegue fazer desaparecer os 
sintomas de uma crise que, de política, pode tornar-se 
institucional. 
A mais importante e conhecida das variantes do 
Governo presidencial é a do modelo constitucional da 
V República francesa. As diferenças formais e 
substanciais em relação à forma presidencial norte-
americana são muitas; mas também existem algumas 
semelhanças importantes. Destas, a mais relevante é a 
que respeita à eleição direta do presidente da 
República por parte da população (processo 
introduzido sob emenda constitucional em 1962, 
depois que a eleição de De Gaulle, em 
1958, tinha sido obra de um colégio de notáveis) e, 
conseqüentemente, a sua legitimação por parte de um 
corpo eleitoral nacional. O contraste é com a 
Assembléia Nacional, composta de representantes 
eleitos em circunscrições uninominais com votação 
majoritária e desempate. 
Além desta semelhança, importante pelo título de 
legitimidade que o presidente adquire, existe uma 
gama de diferenças que o modelam globalmente como 
um sistema não assimilável ao de tipo norte-
americano. Antes de tudo, o presidente da República 
não é, ao mesmo tempo, chefe do Governo. Contudo, é 
da sua competência a nomeação do primeiro-ministro, 
que dependerá dele de fato, tal como os ministros 
escolhidos mediante minuciosa consulta e acordo. 
Teoricamente, o Governo não tem necessidade de um 
voto explícito de confiança da Assembléia; esta, não 
obstante, pode votar uma moção de desconfiança. 
Neste caso, o presidente da República poderá decidir 
se aceita a demissão do Governo ou dissolve a 
Assembléia. Mas à dissolução só se poderá recorrer 
um ano após as eleições legislativas. 
O mandato do presidente francês dura sete anos e é 
renovável. Não é de excluir uma evolução do sistema 
em sentido presidencialista, nem tampouco uma 
reafirmação do poder da Assembléia. O período de 
pouco mais de vinte anos de vigência da Constituição 
da V República, com a sucessão de quatro presidentes 
(De Gaulle, Pompidou, Giscard e Mitterrand) tão 
diferentes pela origem e personalidade, não permite 
aventar hipóteses fundadas. O mandato da Assembléia 
é de cinco anos. A primazia do presidente no sistema 
foi muitas vezes reafirmada no confronto com as 
articulações governamentais, com o primeiro-ministro 
e com a Assembléia, tanto por De Gaulle como por 
Giscard d'Estaing. 
Diversamente do que ocorre no sistema norte-
americano, o papel dos partidos na eleição do 
presidente francês e na formação de uma maioria 
parlamentar é muito importante, talvez decisivo. 
Especialmente depois do desaparecimento de De 
Gaulle que, pela sua personalidade e pelo seu passado, 
pôde, até um certo ponto e um certo momento (o 
desempate com Mitterrand em 1965 constituiu uma 
reviravolta), desempenhar o papel de representante, 
super partes, as sucessivas eleições presidenciais de 
Pompidou, em 1969, e, sobretudo, de Giscard, em 
1974, e de Mitterrand, em 1981, puseram a descoberto 
a divisão do corpo eleitoral em dois campos opostos, 
de acordo com as linhas partidárias. De igual modo, as 
eleições legislativas de 1973 e 1978 tiveram de passar 
por uma segunda votação em cada uma das 
circunscrições para uma decisão entre o candidato da 
maioria e o da oposição. Coisa inteiramente 
FRAÇÕES 521 
 
diversa de meros agrupamentos de tendências 
particularistas, mas, ao mesmo tempo, não tão 
disciplinados e coesos como os partidos britânicos e, 
de qualquer modo, obrigados a recorrer à formação de 
coalizões governativas, os partidos franceses 
constituem o suporte indispensável de qualquer 
maioria presidencial. 
Mantém-se, contudo, aberto o problema, 
constitucionalmente muito delicado, da convivência 
entre um presidente de uma facção política e uma 
maioria parlamentar suficientemente forte e unitária 
de outra facção. Enquanto no caso norte-americano, 
onde não existe o poder de dissolução das Câmaras, a 
ampla discricionariedade do voto de cada um dos 
representantes e os meios de negociação de que 
dispõe o presidente permitem levar adiante pelo 
menos parte do programa legislativo e, de qualquer 
modo, evitar um confronto institucional; no caso 
francês não só existe o risco de provocar choques 
frontais, como também de que as coisas declinem para 
uma verdadeira e autêntica crise constitucional. 
Em conclusão, este sistema de Governo 
presidencial que, na aparência, parece responder 
eficazmente à dupla exigência dos modernos 
Governos constitucionais — estabilidade e eficiência 
do executivo — mas que tira grande autoridade à 
iniciativa e ao próprio poder de controle da 
assembléia parlamentar (que o presidente pode 
suspender com os poderes extraordinários que lhe 
concede o art. 16), apresenta alguns inconvenientes, 
potencialmente bastante sérios. Enquanto não for 
experimentado com êxito em situação de crise, 
continuará a não inspirar inteira confiança. 
V. NOTA SOBRE O GOVERNO DIRETORIAL. — Esta 
resenha das Formas de Governo ficaria incompleta, se 
não se examinasse, se quer sumariamente, a chamada 
forma diretorial que caracteriza o Governo da 
Confederação Helvética. Por um conjunto de motivos 
históricos (guerras entre cantões protestantes e 
católicos), étnicos (diferenças profundas entre os 
grupos lingüísticos que formam a Confederação) e 
constitucionais (natureza confederativa do sistema), o 
Conselho Federal, rigorosamente oriundo do poder 
legislativo, é de natureza colegial. Não pode dissolver 
as Câmaras, é eleito tida em conta a representação 
proporcional da consistência dos diversos partidos e 
funciona com o revezamento periódico rotativo do 
presidente do Conselho. 
Alguns autores quiseram ver na forma de Governo 
suíço apenas a racionalização específica deum 
fenômeno ou, pelo menos, de uma tendência que se 
manifesta também em outras pequenas democracias 
ocidentais (particularmente na Áustria e na Holanda): 
o enfraquecimento do poder 
da oposição e o surgimento de acordos básicos de tipo 
consociativo, chamem-se eles Proporzdemokratie ou 
agrément amical. Continuar nesta linha de pesquisa 
relativa aos tipos de regimes democráticos — de 
alternância, centristas não rotativos, consociativos — 
seria ir muito longe. É útil, contudo, observar a este 
propósito como é o papel dos partidos, a sua base 
subcultural e o tipo de competição em que se 
empenham que diferenciam os tipos de regimes 
democráticos, tal como têm servido para diferenciar, 
para além da própria ordem constitucional, as várias 
formas de Governo democrático. Uma vez que a 
democracia moderna se baseia no sistema de partidos, 
será a evolução e transformação destes que 
introduzirá as mais importantes variações nas formas 
de Governo que conhecemos e que aqui brevemente 
analisamos. 
BIBLIOGRAFIA. - P. AVRIL, Le régime politique de la V 
Republique. Libraine Générale de Droit, Paris 1964; 
N. BOBBIO, La teoria delle forme di governo nella storia 
del pensiero político. Giappichelli. Torino 1976; L. 
ELIA, Forme di governo, in Enciclopedia del Diritto, 
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Executives. in Handbook of political science, ao 
cuidado de F. I. GREENSTEIN e N. W. POLSBY, Addison-
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Quarterly", I, fevereiro 1976; J. LINZ, Totalitarian and 
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Lezioni di diritto costituzionale italiano e comparato. 
Edizioni Ricerche, Roma 1962; R. NEUSTADT, 
Presidential power: The politics of leadership. Wiley, 
New York, 1976
3
 ; Presidents and prime ministers. ao 
cuidado de R. ROSE e E. N. SULEIMAN, American 
Enterprise Institute, Washington D. C, 1980; A. M. 
SCHLESINGER, JR., The Imperial Presidency, Houghton 
Mifflin, Boston 1973. 
[GIANFRANCO PASQUINO] 
Frações. 
I. DEFINIÇÃO. — As Frações são grupos que se 
organizam autonomamente no interior de um partido a 
fim de impor a própria linha política e/ou de 
conquistar uma parte maior de postos-chaves de 
"despojos'" para os próprios membros. Se 
consideramos a organização autônoma como uma 
característica distintiva das Frações, poderemos 
identificar sua presença focalizando não somente os 
grupos que competem abertamente nas eleições 
internas, mas também aqueles grupos que

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