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2 INTERPRETAÇAO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ - EMAP
DIREITO CONSTITUCIONAL - CARGA HORÁRIA: 32 HORAS/AULAS
PROFESSORA: ROBERTA PACHECO ANTUNES
(Destaca-se que a esquematização dos tópicos e a compilação dos textos de forma resumida é elaborada por esta professora, assim como alguns poucos tópicos são de autoria da mesma. Todavia, a maior parte é extraída das obras jurídicas ao final especificadas, devendo as mesmas serem consultadas para fins de citação. Por fim, destaca-se que o objetivo do presente material é apenas auxiliar o aluno à compreender inicialmente o conteúdo ministrado em aula, sendo indispensável a leitura da bibliografia indicada)
1. INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
INTERPRETAÇÃO = extrair da norma sua real vontade; seu significado.
Interpretar as normas constitucionais significa compreender, investigar o conteúdo semântico dos enunciados lingüísticos que formam o texto constitucional.
Desta forma, cumpre apontar que a Constituição de um Estado deve ser interpretada, função esta atribuída ao exegeta (intérprete), que buscará o real significado dos termos constitucionais.
Esta interpretação da Constituição é tarefa dos Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo.
Hermenêutica: Do latim hermenêutica (que interpreta ou que explica), é empregada na técnica judiciária para assinalar o meio ou modo por que se devem interpretar as leis, a fim de que se tenha delas o exato sentido ou o fiel pensamento do legislador. (Vocabulário Jurídico, De Plácido e Silva). 
Segundo Pedro dos Reis Nunes, a hermenêutica está associada à idéia de ciência, no seu dizer, a “ciência de interpretação” das normas jurídicas. No mesmo sentido, posiciona-se Maria Helena Diniz, que afirma tratar-se a hermenêutica da “teoria científica da arte de interpretar”. Ou seja, o conjunto de princípios e normas que norteiam a interpretação é uma ciência: a hermenêutica. 
Inaplicabilidade da tese in claris cessat interpretatio, que entendia ser desnecessária a interpretação se o conteúdo do dispositivo a ser aplicado fosse por demais evidente. Modernamente, é reconhecida a imprescindibilidade da interpretação em todos os casos, especialmente quando se trata de normas constitucionais.
1.1 Peculiaridades justificantes de uma hermenêutica constitucional
A interpretação constitucional é extremamente importante, na medida em que a Constituição dará validade para as demais normas do ordenamento jurídico. Assim, devemos decifrar o verdadeiro alcance da Constituição, a fim de sabermos, por conseqüência, a abrangência de uma norma infraconstitucional.
Ademais, considerando-se que a Constituição protege, simultaneamente, diferentes bens e direitos, pode ocorrer conflitos entre estes interesses. Desta forma, diante de um caso concreto, poderá haver um aparente conflito entre bens ou direitos constitucionalmente protegidos, razão pela qual torna-se indispensável a aplicação das técnicas de interpretação constitucional.
Todavia, a Constituição possui peculiaridades que impedem a realização de uma interpretação idêntica ao modo interpretativo das normas infraconstitucionais (gramatical, histórico, etc) e dentre estas peculiaridades, cumpre destacar quatro pontos principais, os quais justificam métodos hermenêuticos próprios:
Inicialidade: pertinente à formação originária do ordenamento jurídico em grau de superioridade hierárquica. A constituição deve ser interpretada a partir dela mesmo.
Sendo a Lei Suprema, a Constituição não encontra acima dela outros textos normativos que a vinculem. Daí esse caráter de inicialidade, que do ângulo estritamente interpretativo impõe que seus termos e vocábulos sejam interpretados a partir dela mesma. Se se tratar de palavras de uso comum é este que deverá prevalecer. Se se tratar, contudo, de um termo técnico, o que deve-se tomar em conta é toda tradição existente em torno dele. O que não se pode é erigir uma fonte normativa qualquer como especialmente credenciada a fornecer-lhe o verdadeiro sentido.
A Constituição é auto-refernte, o que se entende significar não poder a Constituição valer-se de parâmetros, critérios e princípios que não os nela mesmo substanciados.
Conteúdo marcantemente político, visto ser a Constituição o “estatuto político do fenômeno político” na feliz síntese conceitual de Canotilho.
Na regulação do poder reside, sem dúvida, o seu objeto principal. No entanto, não é fácil o disciplinar juridicamente da atividade política. Faz-se necessário incorporar ao texto uma série de princípios que tem mais um caráter ideológico do que uma exata precisão jurídica. Assim acontece com a Federação, a República, a separação dos poderes, a democracia, a liberdade etc.
Estrutura de Linguagem caracterizada pela síntese
A Constituição é vazada em linguagem marcadamente lacônica. Este seu laconismo faz com que as regras constitucionais suscitem problemas hermenêuticos não encontráveis nos demais ramos do direito, ao menos com igual nível de dificuldade.
O caráter sintético das Constituições eleva o nível de abstração de suas preposições, expressando as idéias matrizes da consciência jurídica nacional.
O efeito imediato desse fenômeno é o sentido de maior unidade de que se reveste a Constituição. Este fator, por sua vez, contra-indica, uma interpretação isolada das normas.
Predominância das chamadas normas de estrutura, tendo por destinatário o próprio legislador ordinário.
Ainda que nos defrontemos com uma Constituição de condutas, não há duvida que, o núcleo das Constituições é formado por um conjunto de normas com caráter eminentemente organizatório, isto é: normas que conferem ou outorgam competências.
Obs.: Constituição – tem papel fundamental de estruturar o Estado.
1.2 Fontes Interpretativas
Fontes interpretativas são os vários modos de onde nascem, ou surgem, as formas de interpretação das normas constitucionais.
Assim, no tangente as fontes interpretativas (ORIGEM), verifica-se que podemos classificar a interpretação como autêntica, judicial ou doutrinária.
Autêntica = é chamada de ‘autêntica’ – e também de ‘legal’, ‘legislativa’ ou ‘pública’ – a interpretação realizada pelo próprio órgão que editou a norma a ser interpretada, declarando seu sentido, alcance e conteúdo, por meio de outra norma jurídica. É chamada de contextual quando vem inserida no próprio texto interpretado, ou posterior, quando elaborada para esclarecer o sentido duvidoso da lei já publicada.
Obviamente, uma norma constitucional somente poderá receber interpretação autêntica por outra norma constitucional, tendo-se assim a vontade do Poder Constituinte.
Judicial = será ‘judicial’ ou ‘jurisprudencial’ a interpretação realizada por órgão jurisdicional, demonstrando a orientação que os juízos e tribunais vêm dando à norma.
Doutrinária = este método, também chamado de interpretação ‘científica’, se refere à interpretação feita por estudiosos e cultores do direito.
1.3 Objeto da Interpretação Constitucional
O objeto da interpretação é a norma constitucional.
1.4 Finalidade da Interpretação Constitucional
A interpretação constitucional é necessária, primordialmente, para solucionar, nos casos concretos, o conflito entre bens e direitos constitucionalmente protegidos, bem como para conferir eficácia e aplicabilidade a todas as normas constitucionais.
Vicente Ráo expõe a idéia de que a interpretação, por meio de regras e processos especiais, tem por objeto realizar, praticamente, os princípios científicos e leis decorrentes.
O objeto da interpretação é o de achar o resultado constitucionalmente "correto", através de um procedimento racional e controlável, fundamentar este resultado de modo igualmente racional e controlável, criando deste modo certeza e previsibilidade jurídica e não o acaso, ou a decisão pela decisão.
Para Maria Helena Diniz, as funções da interpretação são as seguintes: 
a) conferir a aplicabilidade da norma jurídica às relações sociais que lhe deram origem; 
b) estender o sentido da norma a relações novas, inéditas ao tempo de sua criação; 
c) temperar o alcance do preceitonormativo, para fazê-lo corresponder às necessidades reais e atuais de caráter social, ou seja, aos seus fins sociais e aos valores que pretende garantir. 
1.5 Métodos de Interpretação 
Conforme anota Canotilho, a interpretação das normas constitucionais é um conjunto de métodos, desenvolvidos pela doutrina e pela jurisprudência com base em critérios ou premissas (filosóficas, metodológicas, epistemológicas) diferentes mas, em geral, reciprocamente complementares. 
Epistemologia jurídica: é o segmento da Filosofia do Direito voltado ao estudo das fontes jurídicas (Vocabulário Jurídico, De Plácido e Silva).
a) Método jurídico (hermenêutico clássico): consoante este método a Constituição deve ser encarada como uma lei e, assim, todos, os métodos tradicionais de hermenêutica deverão ser utilizados nas tarefa interpretativa, valendo-se dos seguintes elementos de exegese:
elemento genético = busca-se investigar as origens dos conceitos utilizados pelo legislador;
elemento gramatical ou filosófico = análise literal da norma;
elemento lógico = procura a harmonia lógica das normas constitucionais;
elemento sistemático = busca a análise do todo;
elemento histórico = analisa o projeto de lei, a sua justificativa, exposição de motivos, pareceres, discussões, as condições culturais e psicológicas que resultaram na elaboração da norma
elemento teleológico ou sociológico = busca a finalidade da norma;
elemento popular = a análise se implementa partindo da participação da massa valendo-se de instrumentos como plebiscito, referendo, etc;
elemento doutrinário = parte-se da interpretação feita pela doutrina;
elemento evolutivo = segue a linha da mutação constitucional.
Segundo este método, o papel do intérprete resume-se a descobrir o verdadeiro significado da norma, o seu sentido e, assim, atribuí-se grande importância ao texto da norma.
Plebiscito e Referendo são formas de consulta popular previstas na Constituição Federal (Art. 14, incisos I e II) e regulamentados pela lei n º 9.709, de 18 de novembro de 1998, a qual dispõe:
Art. 2º: Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa.
§ 1o O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido.
§ 2o O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição.
b) Método tópico – problemático
Por meio deste método, parte-se de um problema concreto para a norma, atribuindo-se à interpretação um caráter prático e na busca da solução dos problemas concretizados.
c) Método hermenêutico concretizador
Por meio deste método, parte-se da Constituição para o problema, destacando-se os seguintes pressupostos interpretativos (pressupostos hermenêuticos - constitucionais):
· Pressupostos subjetivos: o intérprete vale-se de suas pré-compreensões sobre o tema para obter o sentido da norma;
· Pressupostos objetivos: o intérprete atua como mediador entre a norma e a situação concreta, tendo como “pano de fundo”a realidade social.
· Círculo hermenêutico: é o “movimento de ir e vir” do subjetivo para o objetivo, até que o interprete chegue a uma compreensão da norma.
d) Método cientifico – espiritual
A análise da norma constitucional não se fixa na literalidade da norma, mas parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da Constituição.
Assim, a Constituição deve ser interpretada como algo dinâmico o que se renova constantemente, no compasso das modificações da vida em sociedade.
e) Método normativo – estruturante
Este método dá relevância ao fato de não haver identidade entre norma jurídica e texto normativo. Entende que a norma constitucional abrange um “pedaço da realidade social” e que ela é conformada pelas atividades legislativa, jurisdicional e administrativa.
Conseqüentemente, o interprete deve identificar o conteúdo da norma constitucional mediante a análise de sua concretização normativa em todos os níveis. A tarefa da investigação compreende a interpretação do texto da norma e também a verificação dos modos de sua concretização na realidade social.
f) Método de comparação constitucional
A interpretação comparativa pretende captar a evolução de institutos jurídicos, normas e conceitos nos vários ordenamentos jurídicos, identificando suas semelhanças e diferenças com o intuito de esclarecer o significado que deve ser atribuído a determinados enunciados lingüísticos utilizados na formulação de normas constitucionais.
Por meio dessa comparação é possível estabelecer uma comunicação entre várias Constituições e descobrir critérios aplicáveis na busca da melhor solução para determinados problemas concretos.
Não existe relação hierárquica fixa entre os diversos critérios de interpretação da CF, pois todos os métodos supramencionados conduzem sempre a um resultado possível, nunca a um resultado que seja o unicamente correto. Essa pluralidade de métodos se converte em veículo de liberdade do intérprete, mas essa liberdade é objetivamente vinculada, pois não pode o intérprete partir de resultados preconcebidos e, na tentativa de legitimá-los, moldar a norma aos seus preconceitos, mediante a utilização de uma pseudo-argumentação.
1.6 Princípios da Interpretação Constitucional
Além dos métodos de interpretação acima transcritos – e como diretrizes de sua aplicação -, a doutrina identifica a existência de determinados princípios específicos de interpretação constitucional.
Para CANOTILHO, merecem destaque os seguintes princípios: princípio da unidade da Constituição; princípio do efeito integrador; princípio da máxima efetividade; princípio da justeza; princípio da harmonização; princípio da força normativa da Constituição; princípio da interpretação conforme a constituição.
Aludidos princípios, à semelhança dos métodos interpretativos, também devem ser aplicados conjuntamente.
a) Princípio da unidade da Constituição: a Constituição deve sempre ser interpretada em sua globalidade como um todo e, assim, as aparentes antinomias deverão ser afastadas.
As normas deverão ser vistas como preceitos integrados em um sistema unitário de regras e princípios.
As Normas Constitucionais se inter-relacionam, acarretando em uma vontade única, sendo esta vontade obtenível por meio de uma interpretação sistemática
.
É necessário que o interprete procure as recíprocas implicações de preceitos e princípios até chegar a uma vontade unitária da Constituição.
b) Princípio do efeito integrador: muitas vezes associado ao princípio da unidade da Constituição, o princípio integrador significa que, na resolução de problemas jurídico-constitucionais, deve-se dar primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política.
c) Princípio da máxima efetividade: este princípio reza que o intérprete deve atribuir à norma constitucional o sentido que lhe confira maior eficácia, mais ampla efetividade social. Em outros termos, no caso de dúvida, deve preferir-se a interpretação que reconheça maior eficácia aos direitos fundamentais.
Todas as normas constitucionais produzem algum efeito, pois são normas jurídicas (mesmo que não sejam aplicadas a um caso concreto impedem que o legislador disponha contra ela)
d) Princípio da justeza ou da conformidade funcional: o intérprete máximo da Constituição, no caso brasileiro, o Supremo Tribunal Federal, ao concretizar a norma constitucional, será responsável por estabelecer a força normativa da Constituição, não podendo alterar a repartição de funções constitucionalmente estabelecidos pelo Constituinte originário.
e) Princípio da concordância prática ou harmonização: este princípio é decorrência lógica do princípio da unidade da Constituição, exigindo que os bens jurídicos constitucionalmente protegidos possam coexistir harmonicamente, sem predomínio, em abstrato, de unssobre os outros.
Partindo-se da idéia de unidade da Constituição, os bens jurídicos constitucionalizados deverão coexistir de forma harmônica na hipótese de eventual conflito ou concorrência entre eles, buscando-se, assim, evitar o sacrifício (total) de um princípio em relação a outro em choque. O fundamento da idéia de concordância decorre da inexistência de hierarquia entre os princípios.
Em outros termos, o princípio da harmonização fundamenta-se na idéia de igualdade de valor dos bens constitucionais que, no caso de conflito ou de concorrência, impede, como solução, a aniquilação de uns pela aplicação de outros, e impor o estabelecimento de limites e condicionamentos recíprocos de forma a conseguir uma harmonização ou concordância prática entre esses dispositivos.
f) Princípio da força normativa da Constituição: segundo este postulado, o intérprete deve valorizar as soluções que possibilitem a atualização normativa, a eficácia e a permanência da Constituição. Enfim, o intérprete não deve negar eficácia ao texto constitucional, mas sim lhe conferir a máxima aplicabilidade.
g) Princípio da interpretação conforme a Constituição: preceitua que, diante de normas plurissignificativas ou polissêmicas (que possuem mais de uma interpretação), deve-se preferir a interpretação que mais se aproxima da Constituição e, portanto, não seja contrária ao texto constitucional, de onde surgem várias dimensões a serem consideradas:
· Prevalência da Constituição = deve se preferir a interpretação não contrária a Constituição;
· Conservação de normas = percebendo, o intérprete que uma lei pode ser interpretada em conformidade com a Constituição, ele deve assim aplicá-la para evitar a sua não continuidade;
· Exclusão da interpretação contra legem = o interprete não pode contraria o texto literal e sentido da norma para obter a sua concordância com a Constituição;
· Espaço de interpretação = a interpretação conforme a Constituição só é admitida quando existe, de fato, um espaço de interceptação em que sejam admissíveis várias propostas interpretativas, estando pelo menos uma delas em conformidade com a Constituição, que deve ser preferias às outras, em desconformidade com ela;
· Rejeição ao não aplicação de normas inconstitucionais = uma vez realizada a interpretação da norma, pelos vários métodos, se o juiz chegar a um resultado contrário a Constituição, em realidade, deverá declarar a inconstitucionalidade da norma, proibindo a sua correção contra a Constituição.
· O intérprete não pode atuar como legislador positivo = não se aceita a interpretação conforme a Constituição quando, pelo processo de hermenêutica, se obtiver uma regra nova e distinta daquela objetivada pelo legislador e com ela contraditória, seja em seu sentido literal ou objetivo, devendo-se, portanto, se afastar qualquer interpretação em contradição com os objetivos pretendidos pelo legislador.
1.7 Força da realidade face a norma jurídica
A realidade do mundo dos fatos também influencia diretamente a interpretação constitucional. Konrad Hesse afirma que “A norma constitucional não tem existência autônoma em face da realidade”
. Pode-se concluir que a hermenêutica constitucional procura a concretização da norma constitucional, ou seja, a interpretação constitucional considera os fatos do mundo real além objeto do texto (relevância da realidade concreta do mundo).
1.8 Efeitos da interpretação constitucional na unidade do sistema jurídico
A tarefa de hermenêutica constitucional trará conseqüências para toda a sociedade. 
A Constituição confere validade para as demais normas do ordenamento jurídico. Assim, a partir da interpretação constitucional deciframos o verdadeiro alcance da Constituição, descobrindo-se, por conseqüência, a abrangência de uma norma infraconstitucional, ou seja, descobrindo-se o real significado das normas jurídicas.
Também é por meio da interpretação constitucional que o intérprete soluciona eventuais conflitos de direitos e bens.
1.9 Mutações Constitucionais
As mutações constitucionais são alterações no significado e sentido da interpretação de um texto constitucional. A transformação não está no texto em si, mas na interpretação daquela norma enunciada, sendo que o texto permanece inalterado.
As mutações constitucionais, portanto, exteriorizam o caráter dinâmico e de prospecção das normas jurídicas, por meio de processos informais. Informais no sentido de não serem previstos dentre aquelas mudanças formalmente estabelecidas no texto constitucional.
Conceitos de mutações constitucionais:
Uadi Lammêgo Bulos: mutação constitucional é o processo informal de mudança constitucional, por meio do qual são atribuídos novos sentidos, conteúdos até então não ressaltados à letra da constituição, quer através da interpretação, em suas diversas modalidades e métodos, quer por intermédio da construção (construction), bem como dos usos e dos costumes constitucionais.
Diferença entre Reforma e Mutação Constitucional: “A primeira consiste nas modificações constitucionais reguladas no próprio texto da Constituição, pelos processos por ela estabelecidos para sua reforma (Emenda Constitucional); a segunda consiste na alteração, não da letra ou do texto expresso, mas do significado, do sentido e do alcance das disposições constitucionais através ora da interpretação judicial, ora dos costumes, alterações essas, em geral, se processam lentamente e só se tornam perceptíveis quando se compara o entendimento atribuído as cláusulas constitucionais em momentos diferentes, cronologicamente afastados um dos outros, ou em épocas distintas ou diante de circunstâncias diversas”.
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� RÁO, Vicente. O direito e a vida dos direitos. 5. ed. anotada e atualizada por Ovídio Rocha Barros Sandoval. São Paulo: RT, 1999. p. 456.
� Interpretação do sistema de Normas, e não de um dispositivo isoladamente.
� HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição: Die normative Kraft der Verfassung. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991, p.14. 
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