Buscar

Morfofisiologia da Cavidade Oral

Prévia do material em texto

Morfofisiologia da Cavidade Oral 
Embriologia 
	 O sistema digestório se origina do intestino primitivo, que surge a partir da terceira 
semana de vida embrionária. O intestino primitivo é uma estrutura embrionária que é formado 
pelos três folhetos embrionários e percorre todo o corpo do embrião, desde a parte da cabeça ate 
a parte da cauda, e é dividido em três porções: anterior, médio e posterior. Essas três porções 
vão dar origem as diversas estruturas que fazem parte do sistema digestório.
- Intestino Anterior: origina estruturas de cabeça 
e pescoço (faringe primitiva → glândulas 
salivares, língua e faringe), esôfago, estômago, 
parte do duodeno (proximal à abertura do canal 
biliar), fígado, vias biliares e pâncreas;
- Intestino Médio: duodeno após abertura biliar, 
o resto do intestino delgado (jejuno e íleo), ceco 
e apêndice, colo ascendente e 2/3 do colo 
transverso;
- Intestino Posterior: 1/3 do colo transverso, 
colo descendente, colo sigmóide, reto e porção 
superior do canal anal.
	 Cada região do intestino primitivo tem uma 
vascularização diferente. O intestino anterior tem 
sua irrigação arterial vinda do tronco celíaco. O 
intestino médio é vascularizado pela artéria 
mesentérica superior. Já o posterior é pela 
artéria mesentérica inferior.
	 A porção final do canal anal surge a partir 
do ectoderma. Isso ocorre porque, devido a 
disposição dos três folhetos no intestino primitivo - endoderma dando 
origem aos epitélios de revestimento e glândulas, mesoderma dando 
origem a tudo que vem do tecido conjuntivo (musculatura, ossos e o 
próprio tc) e ectoderma originando a inervação. No intestino primitivo as 
duas extremidades são compostas apenas por ectoderma. Esse 
ectoderma forma uma boca primitiva: estomodeu e um ânus primitivo: 
proctodeu.
	 O intestino primitivo surge de fato na terceira semana de vida 
embrionária. Por volta do fim da terceira semana a faringe primitiva está se 
expandindo e se desenvolvendo. A faringe primitiva fica na porção mais 
cranial do intestino primitivo e possui quatro pares de arcos faríngeos. O 
quinto e sexto pares são rudimentares, muitas vezes 
considera-se parte do quarto. Em amarelo nas figuras 
temos endoderma, em rosa mesoderma e em azul 
ectoderma. As glândulas salivares são exceções a 
regra, visto que se originam de ectoderma porque a 
boca (antigo estomodeu) é revestida por ectoderma. 
	 Inicialmente o mesoderma da faringe primitiva 
é o original, chamado mesoderma esplâncnico, mas 
durante a terceira semana de vida embrionária as 
células da crista neural migram e invadem esse 
mesênquima, que acaba virando mesênquima das 
células da crista neural. O mesênquima é uma 
estrutura de tecido conjuntivo inicial que vai formar 
outros tecidos conjuntivos como ósseo e muscular. 
	 Justamente devido ao mesênquima das células da crista neural que o terço inicial do 
esôfago é composto por musculatura esquelética. Lembrando que o esôfago tem três porções 
diferentes em relação a músculo: primeira porção é 
composta por músculo esquelético, a segunda por 
uma mistura de musculatura esquelética e lisa e o 
último terço é composto de musculatura lisa. 
	 O primeiro arco faríngeo é inervado pelo 
nervo trigêmeo (V par), o segundo pelo facial (VII 
par), o terceiro pelo glossofaríngeo (IX par) e o 
quarto pelo vago (X par). Cada estrutura originada 
de cada arco vai ter essa inervação. 
Desenvolvimento da Língua 
	 A língua tem duas porções: uma anterior e 
uma posterior. A porção anterior representa 2/3 da 
língua enquanto a posterior representa 1/3. A porção 
anterior tem um sulco separando em duas partes 
chamado de sulco mediano, e atrás, na base da 
língua têm o sulco terminal (mais difícil de visualizar 
no adulto porque fica voltado para a faringe, enquanto 
a criança até quatro anos de idade toda a língua está 
na cavidade oral). Os 2/3 anteriores da língua surgem 
do primeiro arco faríngeo (inervação pelo trigêmeo), já 
o terço posterior surge, predominantemente, do 
terceiro arco faríngeo. 
	 No primeiro arco faríngeo surge uma elevação: 
broto mediano lingual. Depois surgem dois outros 
brotos lateralmente a esse mediano, chamados de 
brotos laterais linguais (ou distais). Esses dois 
brotos laterais começam a crescer e a medida que 
crescem se encontram e se fundem, formando os 2/3 
anteriores da língua. O local em que esses dois brotos 
se fundem é o sulco mediano. E o broto mediano 
desaparece, não se funde.
	 Atras do forame cego passa o segundo arco 
faríngeo, que forma uma estrutura chamada de 
cópula, que desaparece e não forma nenhuma 
estrutura conhecida. O terceiro e quarto arcos formam 
a eminência hipofaríngea, a parte de baixo dessa 
eminência forma a epiglote e a parte de cima o 1/3 
posterior da língua. Pelo fato das duas estruturas 
surgirem da eminência hipofaríngea, elas têm uma 
relação: a valécula. A junção do terço posterior com 
os terços anteriores que formam o sulco terminal.
	 A mucosa dos 2/3 anteriores é inervada pelo 
trigêmeo, mas as papilas (fungiformes, filiformes, foleada/foleácias) são inervadas pelo nervo 
facial, exceto as papilas circunvaladas (se localizam próximas ao sulco terminal na base da 
língua), que são inervadas pelo glossofaríngeo. O músculo esquelético da língua (e qualquer ME 
da cavidade oral) é inervado pelo hipoglosso (XII).
Glândulas Salivares 
	 As glândulas salivares surgem do ectoderma da 
maior para a menor na seguinte ordem: parótida, 
submandibular e sublingual. A primeira aparecer é a 
parótida no inicio da sexta semana, no fim da sexta 
semana aparece a submandibular e duas semanas depois, 
no fim da oitava semana, surge a sublingual. A semana de 
início da secreção varia muito.
	 As glândulas possuem duas porções: os ácinos e 
os ductos. As glândulas maiores possuem uma cápsula de 
tecido fibroso que envolve a glândula, penetra nela dividindo 
em lobos e lóbulos até que tem umas fibras reticulares que 
dão sustentação as células dos ácinos e têm um ducto 
principal. As sublinguais não têm essa capsula, por isso 
acredita-se que são varias glândulas, para liberar secreção ou 
elas se abrem em vários orifícios da mucosa ou no ducto da 
submandibular. Têm vários ductos, mas os mais importantes 
são o ducto intercalar e o ducto estriado. 
	 A junção desses três (ácinos + ducto intercalar + ducto 
estriado) é o salivon, a unidade funcional das glândulas 
salivares. Isso é muito importante porque o ácino produz uma 
saliva primária que, quando passa pelo ducto estriado, se 
transforma em uma saliva secundária que é a que a gente 
recebe na boca e utiliza como saliva. 
	 Nos ácinos podem ser encontradas células 
mioepiteliais, essa célula esta predominantemente em torno 
no ácino, divide a membrana basal das células acinares e 
podem se estender ate o ducto intercalar. Ela tem a 
capacidade de se contrair devido a presença de actina e 
miosina, então é atribuída a função de ejeção da saliva. Mas 
acredita-se que alem dessa função, tem função principal de evitar a distensão excessiva da 
glândula. Quando ela se contrai ela puxa o ducto intercalar e abre ele, diminuindo a resistência 
para saída da saliva. Como a gente produz uma quantidade de saliva muito alta, a produção da 
glândula salivar de saliva é semelhante ao seu peso, isso é possível porque ela é muito 
vascularizada (a vascularização das glândulas salivares em repouso é 10x maior que do músculo 
esquelético em atividade), ela é capaz de produzir 1ml por grama por minuto.
	 Glândulas têm uma porção secretora, ácinos, e uma porção condutora, ducto. As 
glândulas são classificadas de acordo com o tipo celular mais abundantes nos ácinos. Os ácinos 
podem ter células serosas ou células mucosas. Uma célula serosa é aquela que produz 
proteínas, ou seja, tem RER bem desenvolvido - o que dá uma marcação basófila (mais roxinha). A 
parótida é classificada como uma glândula serosa. A glândula submandibular é uma glândula 
mista, porque ela possui tanto células serosas como mucosas (90% composta deserosas). Já a 
sublingual é uma glândula mucosa, que aparece mais branca nas imagens histológicas, não 
possuem cápsula de tecido conjuntivo nem ducto, por isso às vezes não são consideradas 
glândulas.
	 A parótida é a maior glândula salivar que temos, pesa em torno de 20g. Mas, apesar de 
ser a maior, produz 30% do total de saliva produzida por dia. Por dia são produzidos cerca de 
700-1100ml. Ela é uma glândula serosa, mas sua produção mais importante é a de amilase 
salivar, ela também transporta e secreta IgA.
	 A submandibular pesa em torno de 10-15g, é mista, e sua secreção serosa é 
extremamente aquosa. Por isso a quantidade de saliva produzida pela submandibular é cerca de 
60% do total. Ela não tem de forma significativa de secreção 
serosa a amilase salivar, o que é importante de sua secreção 
são as lisozimas (quebra cápsula bacteriana) e as 
lactoferrinas (quelante de ferro, impede a proliferação 
bacteriana) - substâncias de defesa.
	 As sublinguais pesam entre 2 e 3g e produzem 5% do 
total de saliva. Células mucosas produzem a mucina que é 
um lubrificante. 
	 Os 5% restantes são produzidas por glândulas 
salivares menores espalhadas pela boca, é uma saliva 
mucosa. Exceto as glândulas da base da língua - glândulas 
de Von Ebner - que produzem a lipase lingual. Elas estão 
presentes próximas as papilas circunvaladas, na base da 
língua, e são as únicas glândulas salivares menores que são 
serosas. 
	 Existem dois tipos de saliva em dois locais diferentes. Ao ser produzida pelo ácino é 
chamada de saliva primária, ela é uma secreção isotônica. Essa saliva primaria sai do ácino e 
entra no ducto, ao passar pelo ducto intercalar não acontece nada, mas quando ela passa pelo 
ducto estriado ocorre uma modificação. O ducto estriado é chamado assim porque suas células 
têm diversas estriações em sua porção basal, essas estriações correspondem a dobras na 
membrana basal com mitocôndrias alongadas, o que indica alto gasto energético e produção 
grande de ATP, quanto mais ATP mais transporte iônico acontece. Ou seja, essa célula é estriada 
justamente porque é uma célula que faz transporte iônico intenso. 
Quando essa saliva primária passa por esse ducto ela vai perder 
íons (reabsorção de sódio e cloreto, não acompanhada pela 
água), fazendo com que ela perca sua característica isotônica, 
passando a ser hipotônica. Além disso, adiciona-se 
bicarbonato, a deixando levemente alcalina. Ou seja, a saliva 
secundária é hipotônica e levemente alcalina.
Processo de Produção da Saliva 
	 Quando a bomba de sódio e potássio está ativada, ela 
joga sódio para fora e potássio para dentro. O sódio fica em alta 
concentração fora da célula, fazendo com que seu gradiente 
favoreça a sua entrada. Esse sódio vai entrar pelo transportador 
1Na⁺ 2Cl⁻ e 1K⁺, também presente na alça de Henle espessa 
(furosemida). A concentração de cloreto aumenta dentro da 
célula, favorecendo sua saída, e “puxa” o sódio por via 
paracelular. A água pode entrar por via paracelular ou transcelular 
(pela aquaporina do tipo 5). No fim desse processo a saliva fica 
isotônica.
	 Ao chegar no ducto há reabsorção de sódio e cloreto, sem 
troca de água. Quando a bomba de sódio e potássio está ativa, 
aumenta a concentração de Na no meio extracelular, o sódio 
tende a entrar. Ao entrar sódio sai hidrogênio, o que forma 
bicarbonato dentro da célula (isso é mediado pela anidrase 
carbônica), que vai querer sair da célula. Quando o bicarbonato 
sai da célula, entra o cloreto, quando ele entra na célula, aumenta 
a concentração e ele sai por canal iônico. Quando isso acontece a 
água tende a seguir, mas não há presença de aquaporinas e as 
junções são oclusivas fortes, impedindo a passagem da água. Por 
isso a saliva fica hipotônica e levemente alcalina. 
	 Estudos mostram que quando a saliva é alcalina ela 
impede ou reduz as chances de proliferação bacteriana, ou seja: 
cáries. Além do pH ótimo para funcionamento da amilase salivar 
ser de neutro para alcalino. E por fim: esse bicarbonato ajuda a 
neutralizar o refluxo fisiológico e impedir que esse refluxo lese a 
mucosa da cavidade oral.
	 Dentro do fisiológico existe a possibilidade da saliva ser um pouco diferente. Se o fluxo 
salivar estiver muito elevado, essa saliva passa muito rápido pelo ducto e não dá tempo de fazer 
as trocas corretamente e a saliva acaba saindo isotônica. A literatura cita que mesmo assim ela 
continua alcalina porque tem outros fatores que estimula a produção de bicarbonato.
Estimulação para Secreção da Saliva 
	 A estimulação para secreção salivar é exclusivamente neural. Outras glândulas do nosso 
corpo podem ser estimuladas por hormônios, mas não as salivares. A saliva é o tempo todo 
produzida, já que a bomba de sódio e potássio está continuamente ativa. Mas ao comer algo é 
preciso aumentar a secreção de saliva, e esse estímulo é exclusivamente neural. E a liberação de 
enzimas e muco tambem precisa de estimulação porque estão em vesículas e para que elas se 
fundam é necessário que haja estimulação. 
	 Quem estimula as glândulas salivares é o SNA, tanto o simpático quanto o parassimpático 
são excitatórios das glândulas salivares. Apesar disso, a estimulação parassimpática é mais 
importante por que o TGI é universalmente excitado por esse estimulo. O simpático estimula 
predominantemente células mucosas, portanto produz saliva mais viscosa/grudenta. Já o 
parassimpático estimula mais as células serosas, normalmente a saliva que ele produz é mais 
aquosa/fluida e o volume é maior.

Continue navegando