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BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 1 BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 2 SUMÁRIO SUMÁRIO Introdução O que é blockchain? Aplicações de blockchain O que são criptomoedas O que um investidor precisa saber Como trabalhar com blockchain Startups que usam blockchain no Brasil Livros, TED Talks e webinars sobre o tema Glossário de blockchain e criptomoedas Prepare-se para uma carreira em blockchain 03 04 11 17 23 29 34 37 41 43 BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 3 INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO Em outubro de 2008, sem alarde, um artigo chegou na caixa de entrada de criptógrafos do mundo inteiro unindo uma rede descentralizada e uma moeda digital e anônima. Quase dez anos depois, a criação de Satoshi Nakamoto, o misterioso inventor (ou inventora ou inventores) da Bitcoin, se mostra mais forte e revolucionária do que nunca. Uma a cada cinco instituições financeiras pretende investir em criptomo- edas ainda em 2018, de acordo com uma pesquisa da Thomson Reuters. Segundo o grupo, trata-se de um segmento de nicho que está se tornando mainstream e deve entrar de vez no portfólio de grandes players de Wall Street – e, portanto, do dia a dia do setor financeiro global. É a tecnologia por trás das criptomoedas, o blockchain, que permite essa em ascensão e guarda todo tipo de potencial para revolucionar o comércio global em grande escala. Empreendedores e desenvolve- dores já enxergam diversas aplicações da rede, de controle da cadeia produtiva a armazenamento de dados médicos, para tornar transações mais seguras e transparentes. Para quem quer participar desse universo, seja ao desenvolver, empreender ou investir, entender como essas tecnologias funcionam e que conhecimentos exigem é fundamental. Boa leitura! BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 4 Afinal, o que é blockchain? BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 5 AFINAL, O QUE É BLOCKCHAIN O blockchain é um sistema que, em sua forma atual, literalmente nasceu junto com a Bitcoin. Os dois foram apresentados, de maneira concomitante, em um white paper publicado pelo misterioso Satoshi Nakamoto – até hoje não se sabe a verdadeira identidade dessa pessoa ou grupo de pessoas. Embora sem utilizar o nome em questão, artigo explica o blockchain como uma tecnologia capaz de dar confiabilidade a um sistema descentraliza- do de dinheiro virtual, que funciona através de uma rede peer-2-peer. “A rede registra data e hora das transações transformando as em um hash em uma corrente contínua de prova de trabalho codificada, formando um registro que não pode ser alterado sem que a prova de trabalho seja refeita”, escreve Satoshi. “Enquanto a maior parte do poder de processamento for controlado por nós [nodes] que não estão cooperando para atacar a rede, eles irão gerar a corrente mais longa e superar os invasores.” Em tradução livre, “blockchain” significa “cadeia de blocos”. Por conta própria, isso não quer dizer muita coisa. Mas os blocos que formam essa cadeia são, na verdade, conjuntos de transações. E a soma desses blocos é chamada de “cadeia” porque cada bloco contém, em si, informações conectadas a todos os anteriores. Pense primeiro em seu extrato bancário, em que aparece uma série de informações referentes a entrada ou saída de dinheiro de sua conta. As transações que compõem os blocos do blockchain – que não precisam necessariamente ser valores monetários – são semelhantes: elas contém a informação de algo que foi transferida da carteira de uma pessoa para a carteira de outra. A grande diferença aqui é que este “extrato” é público e todos têm acesso ao histórico de transações. Você já deve ter ouvido a comparação com um livro contábil (ledger, em inglês) e este é um dos jeitos mais fáceis de entender o princípio de blockchain. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 6 É como se todos os computadores que fazem parte dessa rede – e pode ser qualquer um que tenha o software instalado – tivessem uma cópia exata do mesmo livro contábil, que se atualiza sempre que há uma nova transação. Dessa maneira, é praticamente impossível forjar ou alterar uma transação. Para entender em um nível detalhado como isso funciona, é necessário esclarecer primeiro dois conceitos fundamentais: as funções hash e as assinaturas digitais. Funções hash Funções hash, ou funções de espalhamento ou resumo, são um tipo muito específico de função matemática. Ela aceita, como entrada, qualquer sequência de bits: pode ser um pedaço de texto, uma foto, um arquivo de 200 gigabytes, não importa. Tudo que é composto por bits (ou seja, qualquer coisa digital) pode passar por uma função hash. Essa função pega essa sequência de entrada e a processa de maneira a gerar uma sequência de saída de comprimento fixo. Ou seja: você pode usar como entrada da função hash desde uma linha de texto até um arquivo de 2 terabytes: a saída sempre terá o mesmo tamanho, que varia conforme a função (pode ser 128 bits, pode ser 256 bits). Essa saída é chamada de “hash”. Além disso, a sequência de saída (ou hash) é completamente dependente da sequência de entrada. Mudar um bit na sequência de entrada muda completamente o hash resultante. E se dois hashes são parecidos, isso não permite concluir que as entradas que geraram essas saídas são parecidas também. Finalmente, as funções hash também são funções de mão única. Isso significa que gerar um hash a partir de uma entrada é um processo simples, mas descobrir a entrada que resultou em um determinado hash é extremamente difícil. Atualmente, esse cálculo para um único hash é um processo que levaria milhares de anos. AFINAL, O QUE É BLOCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 7 Assinaturas digitais Assinaturas digitais, por sua vez, são resultados de operações de criptografia. A criptografia funciona por meio de chaves públicas e privadas. Cada pessoa que participa de um sistema criptografado possui uma chave pública e uma chave privada. O aplicativo WhatsApp é um ótimo exemplo de sistema criptografa- do. Quando você envia uma mensagem para alguém, o app cifra essa mensagem com sua chave pública e envia junto a sua chave privada. O destinatário, munido tanto da sua chave pública quanto da sua chave privada, consegue decifrar a mensagem. Alguém que intercepte a mensagem no meio do caminho mas não tenha acesso à sua chave privada não conseguirá lê-la. Se você cifrasse uma mensagem com sua chave privada (em vez da chave pública), qualquer pessoa que tivesse acesso à chave pública de quem cifrou a mensagem pode lê-la. Cifrar uma mensagem com a sua chave privada, portanto não dá nenhuma garantia de sigilo à mensagem. Por outro lado, nesse caso, a cifra só vale como comprovação de que a sua chave privada foi usada e que, portanto, você foi o responsável pela transação - afinal, só você tem acesso a ela. Por esse motivo, fazer isso permite garantir que foi você que escreveu aquela mensagem. Dessa forma, cifrar uma mensagem com a sua chave privada equivale a uma assinatura digital. Voltemos à blockchain do Bitcoin Existem diversos tipos de blockchain (mais sobre isso adiante), mas vamos nos ater por enquanto o blockchain de Bitcoin. Quando você tem uma carteira virtual com Bitcoins, você tem na verdade uma série de pares de chaves públicas e privadas. As chaves privadas são as que você usa, mesmo sem saber, sempre que faz uma transação com acarteira. Como explicado acima, elas funcionam como sua assinatura digital. Por isso, elas precisam estar sempre protegidas. Alguém que tenha acesso às suas chaves privadas têm, essencialmente, acesso à sua carteira, e pode fazer o que quiser com os conteúdos dela. As chaves públicas, por outro lado, são o seu endereço. Alguém que queira enviar dinheiro para a sua carteira virtual precisará saber a sua chave pública. Ela pode ser compartilhada de diversas formas: QR Code, código de barras, etc. Mas é sempre uma chave pública que faz par com a sua chave privada. AFINAL, O QUE É BLOCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 8 AFINAL, O QUE É BLOCKCHAIN Assim, se você envia algo como Bitcoins para outra pessoa via blockchain, o que faz é assinar, com a sua chave privada, uma transação endereçada à chave pública de outra pessoa. Esse sistema garante que as transações sejam autênticas (ou seja, não possam ser forjadas). Quando uma transação em Bitcoin é feita, ela é enviada a um dos nós da rede de Bitcoins. Todos os computadores do mundo responsáveis pela “mineração” de Bitcoins são nós nessa rede descentralizada e cada carteira tem o endereço de vários nós. Assim, também se garante que a transação seja feita mesmo que um dos nós não responda. Cada transação da rede do Bitcoin pode pagar uma taxa para quem conseguir minerar o bloco e, quanto maior a taxa, maior será a priorida- de da transação. Ou seja: se você precisa que uma transação de Bitcoins seja aprovada rapidamente, precisa estar preparado para pagar uma taxa alta. Transações feitas sem taxa podem ser rejeitadas, ou podem demorar dias para serem processadas. Sempre que um nó recebe uma nova transação, ele transmite essa transação a todos os demais. A ideia é que todos os nós da rede blockchain da Bitcoin tenham acesso a todas as transações. Mas neste momento, a transação ainda não foi validada pelos outros – ela é como um cheque que ainda não caiu. É nesse momento que começa a construção do blockchain em si. Os nós da rede da Bitcoin tentam juntar um determinado número de transações para formar um “bloco”. O tamanho desse bloco, e o número de transações que ele contém, pode variar entre diferentes blockchains. No blockchain da Bitcoin, cada bloco tem cerca de 1 megabyte. Nesse espaço, podem ser colocadas em média 400 transações. A mineração Para formar esse bloco, os nós precisam juntar uma série de informações sobre as transações contidas nele: a identidade (a chave) de quem envia os valores, a identidade de quem os recebe, os valores em si, a data e hora das transações e – muito importante! – o hash referente ao bloco anterior. Esses dados todos precisam ser processados por uma função hash para gerar outro hash, que identificará o novo bloco e assim por diante. Acontece que os nós não podem gerar qualquer hash. Para que o bloco resultante dessa operação seja reconhecido como parte do blockchain da Bitcoin, é necessário que o começo do hash dele contenha um determina- do número de zeros. O número exato de zeros varia: quanto maior for, mais “difícil” será minerar aquele bloco. Esse sistema é conhecido como “proof of work”. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 9 AFINAL, O QUE É BLOCKCHAIN A ideia é que cada bloco da cadeia do Bitcoin leve cerca de 10 minutos para ser minerado, e o sistema ajusta sua “dificuldade” de acordo com essa média de tempo. Ou seja: se os nós estiverem demorando muito para minerar os blocos, a rede diminui a “dificuldade” para agilizar o processo; se eles estiverem rápidos demais, a dificuldade aumenta. Para gerar um hash apropriado, portanto, os nós da rede da Bitcoin precisam somar um número àqueles dados contidos no bloco. Esse número, no entanto, é desconhecido e produto de um complicado quebra-cabeça matemático. Os nós precisam ir testando números diferentes até que um deles gere o hash desejado. É esse o processo conhecido como “minerar Bitcoins”, algo que hoje em dia exige tanto poder computacional que há “fazendas” de servidores inteiras dedicadas a isso. Mineração, vale lembrar, é quando um computador ou conjunto de computadores resolvem o quebra-cabeça para adicionar novos blocos à rede. O nó que conseguir encontrar esse número e gerar o hash é o nó que efetivamente minera o bloco. Ele ganha a propriedade de todas as taxas referentes às transações contidas no bloco, mais uma quantia de Bitcoins determinada pela rede (atualmente, os nós ganham 12,5 Bitcoins por bloco minerado). E assim que um nó consegue minerar o bloco, ele “avisa” todos os demais. A rede toda então começa a tentar formar o próximo bloco de transações. Como cada bloco contém o hash do bloco anterior, todos os blocos estão conectados entre si. Por isso, é praticamente impossível adulterar uma transação do blockchain da Bitcoin. Cada bloco grava, de maneira praticamente indelével, as informações referentes a todos os blocos anteriores. Diferentes cadeias de blocos O que foi descrito acima é o funcionamento do blockchain do Bitcoin. No entanto, quando falamos de “blockchain” de maneira mais genérica, não estamos falando necessariamente desse sistema. Outros blockchains podem ter blocos de outros tamanhos. As regras de qual nó minera qual bloco podem ser diferentes. Os nós podem ordenar as transações por outro critério que não as taxas que elas pagam. O tempo médio de processamento de cada bloco pode ser superior (ou inferior) a dez minutos. Enfim, cada blockchain pode ter suas próprias características. No entanto, hoje em dia muitas vezes usa-se a palavra “blockchain” para referir-se, especificamente, ao sistema por trás da Bitcoin. Isso tem uma série de motivos, um dos quais é o fato de que a Bitcoin e a ideia de blockchain, como já mencionado, nasceram praticamente juntas. Fora isso, a segurança, a eficácia e a confiabilidade do sistema da Bitcoin fizeram com que ele ganhasse amplo reconhecimento. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 10 Mas há outros blockchains semelhantes – mas não iguais – ao da Bitcoin. O melhor exemplo deles é o Ethereum. O blockchain do Ethereum se destaca principalmente por facilitar a criação de “smart contracts”, contratos completamente digitais que funcionam basicamente como um pequeno programa de computador dentro do blockchain. A ideia aqui também é eliminar intermediários entre duas partes interessadas. Com um contrato inteligente, é possível programá-lo para que segure um número X de fundos até que um objetivo Y seja alcançado. Quando todas as “cláusulas” estiverem preenchidas, o contrato será cumprido automaticamente. Se isso não ocorrer, ele não será validado. De maneira resumida, isso significa que o blockchain do Ethereum é muito mais programável e cheia de recursos do que a da Bitcoin, o que a torna mais popular entre setores que querem aplicar blockchain em outras áreas importantes. Essa abertura traz uma série de vantagens. Por exemplo: a rede Ethereum permite que qualquer pessoa capacitada crie uma nova criptomoe- da sem precisar criar um novo blockchain. Assim, ela pode utilizar o blockchain da Ethereum – que também tem sua criptomoeda, a ether –, que se encarrega de processar as transações dessa nova criptomoe- da. Isso facilita muito a criação de novas moedas e, ao mesmo tempo, fortalece a rede. Por outro lado, traz também uma desvantagem em relação à segurança. Enquanto o blockchain do Bitcoin nunca teve um caso registrado de fraude, a rede Ethereum já foi palco de pelo menos três. O aumento da flexibili- dade e da programabilidade de um blockchain, via de regra, acabam tornando-a menos previsível e, justamente por isso, menos segura. Agora que você tem uma ideia geral de como essa tecnologiafunciona, talvez já tenha começado a vislumbrar a miríade de possibilidades, seja para bancos, seguradoras, correios lojas ou diversos outros tipos de negócio. Num mundo em que a privacidade é cada vez mais escassa, o blockchain demonstra que essa característica pode ter um lado positivo dentro de um dado sistema, incluindo maiores graus de confianças e transparência – e quem sabe pode até revolucionar a maneira que o mundo faz negócios. AFINAL, O QUE É BLOCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 11 As aplicações de blockchain BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 12 AS APLICAÇÕES DE BLOCKCHAIN Embora o blockchain seja usado tradicionalmente para processar transações monetárias e seja quase sempre associado a criptomoedas, ele não precisa ser necessariamente usado nesse contexto. Como foi desse meio que ele surgiu, acaba sendo o foco de boa parte das iniciati- vas atuais na área. Mas transações financeiras não são, de maneira alguma, o único jeito de aplicá-lo. Além da Ethereum, a plataforma de blockchain multiuso mais popular atualmente, há uma série de novidades constantemente, incluindo lançamentos de grandes players e como SAP, Oracle e IBM. Em resumo? Blockchain tem um potencial que só agora começa a ser explorado em grande escola. Cartórios Um exemplo de uso da tecnologia é em cartórios. Em vez de manter registros físicos em papel de quais imóveis pertencem a quais pessoas, por exemplo, será possível usar um blockchain para guardar essas informações. A possibilidade já vem sendo aventada ao menos desde a metade de 2017. Há inúmeras vantagens envolvidas. Primeiro, a confiabilidade do sistema. Se as informações cartoriais forem inseridas em um blockchain, estarão extremamente seguras caso um incêndio em um cartório afete os documentos ali contidos. Isso porque a destruição de informações contidas em um blockchain é extremamente difícil. Para tanto, seria necessário destruir, ao mesmo tempo, todos os nós da rede. Em redes pequenas, isso pode até ser factível. Mas em redes maiores, como a da Bitcoin, é praticamente impossível. Além disso, se o blockchain do cartório permitisse a consulta pública dos blocos (como acontece no blockchain do Bitcoin), os dados não perderiam nada em termos de transparência. Qualquer pessoa interessada poderia “abrir” os blocos do cartório e ler as transações contidas neles. Medicina Nessa mesma linha, seria possível usar um sistema de blockchain para guardar prontuários e dados médicos, por exemplo. Nesse caso, em vez de armazenar os dados médicos dos pacientes, os hospitais e as institui- ções médicas poderiam armazenar apenas os hashes dos prontuários nos blocos. Assim, algum bisbilhoteiro que visse os blocos não seria capaz de acessar esses dados. Essa é uma das ideias por trás da empresa Medicalchain, que pretende usar a tecnologia de blockchain para trazer melhorias ao setor da saúde. A ideia é criar um método seguro e resiliente de armazenar os dados médicos de seus pacientes. Trata-se de uma iniciativa interessante uma vez que, com o avanço de dispositivos vestíveis e da Internet das Coisas, a quantidade de dados gerados por pacientes só deve aumentar. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 13 Além de garantir a segurança dos dados médicos e de tornar praticamen- te impossível sua remoção, um blockchain do tipo que opere com chaves de criptografia ainda teria outra vantagem: ele poderia constituir-se num sistema único de armazenamento. Isso permitiria que qualquer paciente levasse consigo todo o seu histórico a qualquer instituição de saúde. Identidade E se em vez de ter um CPF, um RG, uma CNH, um título de eleitor e um cartão do SUS, cada brasileiro tivesse um par de chaves criptográ- ficas e um hash referente ao local de armazenamento de seus dados num blockchain? Da mesma maneira que um cartório poderia garantir a autenticidade e a segurança de seus documentos, seria possível garantir a autenticidade de documentos pessoais. Um sistema desses facilitaria a consulta e a comprovação de identidade: por meio de um aplicativo, a pessoa poderia garantir que é ela mesma. Quando houvesse necessidade de comprovar sua identidade, ela usaria sua chave privada para dar à pessoa ou instituição demandante o acesso a seus documentos. Em último caso, poderia existir até uma chave eletrônica física. Além da praticidade desse sistema, o armazenamento desses dados em blockchain garantiria que não pudessem ser adulterados. Isso dificulta- ria enormemente casos de fraude de identidade. Haveria, naturalmente, o risco de perda ou roubo da chave privada de uma pessoa. Esse risco, no entanto, seria menor do que o risco de perda ou roubo de documentos atualmente. Alguém que obtenha o seu RG pode tentar falsificá-lo para usar sua identidade, mas alguém que obtivesse a sua chave criptográfica privada não seria capaz de alterar seus dados no blockchain. Bastaria uma verificação fotográfica para que a fraude fosse detectada. Já há empresas pensando nessa possibilidade. A ShoCard, por exemplo, oferece sistemas de identidade calcados em blockchain para empresas, instituições financeiras e linhas aéreas, por exemplo. Embora de menor escala, essas aplicações podem ser o primeiro passo na construção de um sistema nacional – talvez até global – de registros de pessoas físicas por blockchain. Pagamentos via smart contract Embora o blockchain da Bitcoin não seja compatível com smart contracts (contratos inteligentes), há outros que são, como o do Ethereum. “Smart contracts” essencialmente são programas que rodam dentro do blockchain e levam à realização de uma tarefa. Num nível mais imediato, isso permitiria automatizar pagamentos, por exemplo: quando você pagasse sua conta e a transação tivesse sido validade, o contrato seria cumprido e o serviço, liberado. AS APLICAÇÕES DE BLOCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 14 Mas a ideia vai muito além dessa possibilidade: por tratar-se de um sistema descentralizado, os termos do smart contract se executam de maneira automática, sem a necessidade de aprovação de qualquer um dos envolvidos. Imagine, por exemplo, alugar um imóvel usando essa tecnologia. O proprietário e o inquilino poderiam assinar um contrato inteligente de um banco que funcionasse com blockchain para garantir que o aluguel seria pago na mesma data todo mês. Uma vez assinado, o contrato se executaria automaticamente sem que qualquer uma das partes precisasse pensar nisso, como um débito automático melhorado. E o banco poderia automaticamente emprestar dinheiro ao locatário caso ele não tivesse o valor na data de vencimento. Em outro exemplo: um prestador de serviços e o tomador desses serviços assinam um contrato inteligente. Dependendo da natureza do serviço, é possível determinar por meio de um sistema digital quando o trabalho estiver concluído. Nesse momento, o contrato inteligente se aciona automaticamente e envia o pagamento ao prestador. Como se vê, essa tecnologia teria o potencial de praticamente acabar com casos de inadimplência. Armazenamento de dados e privacidade Serviços de armazenamento de dados na nuvem como os oferecidos pelo Google, Apple, Amazon e Microsoft permitem que arquivos sejam armazenados remotamente em servidores da empresa. E por mais que esse armazenamento seja seguro, há sempre o risco de que ele seja acessado. Uma autoridade estatal, por exemplo, pode forçar o Google a mostrar os dados que um de seus usuários armazenou no serviço. Isso não seria possível se os dados estivessem armazenados em um blockchain descentralizado e criptografado. A união desses dois fatores tornariaimpossível encontrar a localização e o conteúdo preciso dos arquivos de um usuário sem que ele explicitamente o autorizasse mediante o fornecimento de sua chave privada de criptografia. As possibilidades não param por aí. Se o blockchain fosse tão descentra- lizado quanto o do Bitcoin, qualquer pessoa poderia oferecer espaço em seu computador para que o sistema armazenasse arquivos. Isso abriria as portas para a criação de um “marketplace” de armazenamento. O espaço vago no HD do seu computador poderia gerar alguns trocados a mais no fim do mês. Já há uma empresa chamada Storj fazendo justamente isso. O serviço que eles oferecem é o de armazenamento descentralizado de dados via blockchain – e está fazendo sucesso. No momento de redação desse texto, a página de criação de novas contas mostra o seguinte aviso: “Devido à demanda extrema, estamos limitando a ativação de novas contas”. AS APLICAÇÕES DE BLOCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 15 Escassez digital Dentre todas as mudanças que a internet trouxe, uma das mais marcantes foi o fato de que alguns bens físicos (como livros ou discos musicais) passaram a circular digitalmente. E em seu formato digital, eles podiam ser copiados e compartilhados de maneira muito rápida, levando a uma situação de abundância desses bens. No entanto, o blockchain traz uma nova possibilidade para bens digitais: que eles sejam escassos. Por conta da natureza descentralizada e compartilhada dos registros feitos em um blockchain, é possível que uma pessoa compre um bem virtual (uma criptomoeda, por exemplo) e não seja capaz de reproduzir indiscriminadamente o bem que ela comprou. Embora moedas sejam a aplicação mais óbvia dessa possibilidade, ela pode ser usada de outras maneiras muito interessantes. Uma delas é o jogo CryptoKitties, criado pela empresa Axiom Zen em 2017 e que já arrecadou mais de US$ 23 milhões desde seu lançamento apenas comercializando “gatinhos” que vivem em um blockchain. Inicialmente, a empresa criará 50 mil gatinhos (um novo a cada 15 minutos) que podem ser comprados usando ether, a moeda virtual da rede Ethereum. Quem compra um desses gatinhos é o único dono dele e é dono de um gatinho diferente de todos os demais. Isso traz um apelo de bem colecionável que, antes do blockchain, era impensável em um produto digital. Os donos desses gatinhos também podem cruzá-los com outros, gerando seres novos e únicos. As características do gatinho gerado, chamadas de “cattributes”, dependem das características de seus pais, como se fossem heranças genéticas. Isso leva alguns colecionadores (há cerca de 1600 atualmente) a fazer cruzamentos selecionados em busca de um “gatinho ideal” que eles queiram ter ou vender. A tendência é que esses e outros tipos de bens colecionáveis se multipliquem. Supply chain Pense em um diamante: como é possível se assegurar de que não se trata de um “diamante de sangue”, como são conhecidos aqueles extraídos de zonas de guerra? Ao longo dos anos, essa se tornou uma grande preocupação da indústria de joias como um todo. Foi pensando nisso que a joalheria De Beers Group, uma das maiores do mundo, resolveu desenvolver uma nova plataforma de blockchain, a Tracr, para acompanhar as pedras preciosas desde o começo e evitar que isso aconteça. Recentemente, a Signet Jewelers, a maior varejista global de diamantes, se juntou ao programa. AS APLICAÇÕES DE BLOCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 16 Ainda em desenvolvimento, a plataforma acompanhará a jornada de um diamante ao longo de toda a cadeia de produção. Cada diamante registra- do na plataforma terá seu próprio certificado digital, o que permitirá que ele seja acompanhado da mina à vitrine. Segundo a De Beers, a versão beta da Tracr já acompanhou com sucesso uma centena diamantes de alto valor – e não é difícil imaginar como um sistema do tipo pode ser útil para acompanhar cadeias de produção de outras indústrias. Gestão pública Em maio de 2018, o governo do Piauí anunciou que Teresina será a primeira cidade do mundo a implementar blockchain para a gestão de transporte público. O sistema será acessível a todos e guardará todas as informações sobre transporte coletivo, como relatórios de viagens e ordens de serviços. A implementação será feita em parceria com a Organização dos Estados Americanos e a Fundação Hyperledger, que tem diversas blockchains de código aberto e ferramentas relacionadas. A ideia é facilitar o monitora- mento e controle de operação de infraestrutura – e estar atento a qualquer modificação. O céu é o limite Por se tratar de um campo muito novo, cujas implicações ainda não são totalmente compreendidas, aplicações de blockchain para melhorar serviços que já usamos compõem uma área com enorme potencial de crescimento. Além dos exemplos já citados, essa tecnologia pode ser usada também para as áreas de logística, hospedagem de sites, garantia de autenticidade de obras de arte e uma série de outras utilidades. Via de regra, os blockchains podem ser usados de maneira vantajosa em qualquer situação em que seja desejável armazenar de maneira distribuída informações importantes e que nunca devem ser alteradas ou apagadas. No entanto, cabem dois avisos. Primeiro, justamente por sua novidade, as limitações do blockchain ainda não são bem compreendidas. Ainda não há casos de problemas graves que apareceram em serviços inovadores, mas isso não significa que esses problemas não existam, apenas que ainda não tiveram a chance de ser identificados. Segundo, embora os blockchains possam ser criados de acordo com as necessidades de seus criadores, precisam reter suas características de distribuição e segurança para que retenham também seus benefícios. Um blockchain centralizado e totalmente sob monopólio de uma única organização nada mais é do que um banco de dados – no máximo, é um banco de dados distribuído com um nome bem famoso. AS APLICAÇÕES DE BLOCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 17 O que são criptomoedas? BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 18 O QUE SÃO CRIPTOMOEDAS Uma “quimera tecnológica”. É assim que os jornalistas do Quartz descrevem o sistema por trás da Bitcoin, a primeira moeda global descentralizada da história, no livro The objects that power the global economy. À primeira vista, parece mesmo algo que só existe em contos. “Uma versão puramente peer-to-peer (P2P) de dinheiro eletrônico [que] permitiria o envio de pagamentos online diretamente de uma pessoa para outra sem ter que passar por uma instituição financeira”, resume o white paper do engenhoso criador da Bitcoin, Satoshi Nakamoto. Não foi a primeira tentativa de moeda virtual da história, mas foi a primeira a vingar. “A ideia era um sistema digital que simulasse dinheiro vivo e fizesse pagamentos pequenos com grande facilidade e de maneira anônima”, diz Marco Aurélio Amaral Henriques, professor livre-docente da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da Unicamp. “É como enviar uma mensagem de e-mail”, continua, explicando as transações em si. “É preciso saber o endereço – o que, no caso da Bitcoin, significa a chave pública da pessoa.” Cada usuário tem uma carteira digital, que funciona como um banco de dados de endereços e chaves alfanuméricas. As chaves, por sua vezes, vêm em pares: públicas (todos podem ver) e privadas (que funcionam como senhas e devem ser secretas). Hoje, há cerca de 28,5 milhões de carteiras de Bitcoin com mais de 0,001 da moeda pelo mundo. Há diversas empresas que oferecem esse serviço gratuitamente e é possível guardá-las no computador, celular, nuvem ou num hardware.E esta criptomoeda é de fato um objeto que alimenta a economia, como sugere o título da obra? Alguns dados indicam que sim: nos primeiros dias de junho de 2018, o valor de mercado global das criptomoedas – aquelas que podem ser usadas para compra e venda de diversos produtos e serviços e excluem os tokens, criptomoedas que só funcionam dentro de ambientes específicos e são oferecidas a investidores desses negócios – ultrapassava US$ 291 bilhões. A Bitcoin sozinha era responsável por US$ 130 bilhões. Claramente, não é só ela que existe, embora seja responsável por quase metade do montante total. O restante é a soma de mais de 800 altcoins, como são conhecidas as outras criptomoedas. Destaque para Ether (US$ 59,3 bilhões), Ripple (US$ 25,3 bilhões), Bitcoin Cash (US$ 18,7), EOS (US$ 13), Litecoin (US$ 7), Cardano (US$ 5,9), Stellar (US$ 5,5), IOTA (US$ 5,2) e Tron (US$ 4) – só para ficar no top 10 de junho de 2018. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 19 Comprando uma bicicleta com Bitcoins Saber como transações em criptomoedas funcionam é importante para entender porque elas valem tanto e quais são seus desafios de hoje e além. Trata-se, essencialmente, de um dinheiro digital capaz de comprar e vender coisas em transações online, que por sua vez são conduzidas por sistemas descentralizados que usam uma tecnologia chamada blockchain para acompanhar e certificar cada transação. E como é possível usá-las na prática? Suponha que a Maria queira comprar uma bicicleta do João e pagar em Bitcoins, assim como pagaria em reais, dólares ou euros. Assim como João, ela tem uma carteira – há diversos jeitos de ter uma, de armazenamento em corretoras a um software no seu computador – em que guarda sua chave pública (seu “cofre”) e sua chave privada (sua “senha”). Através de um app ou pelo computador, Maria acessa suas Bitcoins com suas chaves e usa a chave pública de João como endereço para fazer a transação em si, que é compartilhada com todos os computadores que estão na rede blockchain da Bitcoin (qualquer um pode participar, basta instalar o programa). Essencialmente, Maria publicou para todos sua intenção de enviar as Bitcoins para João. A rede então valida se ela tem as Bitcoins em primeiro lugar e se não as mandou para mais ninguém, o que evita algo como um cheque sem fundo online. Depois dessa confirmação, essa e outras transações recentes ao redor do mundo formam um bloco – com número de transações, total transacio- nado, hora e data e chaves públicas dos participantes –, que é então verificado por mineradores, participantes da rede que se voluntariam para resolver um complicado problema matemático que leva em conta a identidade (hash) do bloco anterior. É também uma competição: o computador que resolver primeiro, ganha Bitcoins de recompensa. A cada 10 minutos, em média, surge um novo bloco já com seu próprio hash, que é o resultado do problema. Esse hash permite que o resto da rede confira e valide as informações rapidamente ao checar se aquele é o resultado mesmo, um processo bem mais rápido do que descobri-lo. O QUE SÃO CRIPTOMOEDAS 20 BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO Como todos têm uma cópia exata do mesmo “livro” compartilhado, em que tudo que já foi transacionado na história da rede está anotado, se uma transação trouxer uma informação fraudada, é praticamen- te impossível passar por tudo isso impune. Ao transformar uma única informação de um bloco, transforma-se seu hash – e aí seria preciso transformar todos os seguintes, o que exige um poder computacio- nal veloz inexistente atualmente, pelo menos no caso da Bitcoin. (Este processo é explicado detalhadamente no primeiro artigo deste ebook.) Assim, quando tudo estiver OK, o bloco validado é então adicionado à cadeia de blocos (o famoso blockchain) e se torna uma transação oficial, pública e indelével. João recebe suas Bitcoins e Maria, sua bicicleta. E apesar de toda essa sofisticação, o esforço que ambos fizeram para tanto foi apenas digitar algumas informações. Nada fora do comum para quem usa banco online. Como Satoshi Nakamoto ofereceu o mapa do mina, diversas companhias aproveitaram para criar suas próprias criptomoedas, redes de blockchain e diferenciais que compõem esse ecossistema crescente. Há altcoins que focam em Internet das Coisas, outras em contratos inteligentes e outras ainda em pagamentos em parceria com instituições financeiras. Enfim, há criptomoedas para todos os gostos e necessidades. Desafios e oportunidades Repare que, no exemplo anterior, não houve uma pessoa ou instituição específica intermediando a transação. Ninguém questionou se Maria estava no Japão e João, no Chile. Não tem um imposto tipo IOF que chegará com essa bicicleta. A pioneira Bitcoin nasceu para ser um tipo de dinheiro que não era controlado por nada nem ninguém – seja uma instituição financeira ou um governo – e que poderia estar na carteira de qualquer um, em qualquer lugar. É sua razão de ser: sustentar uma economia que opera além de fronteiras. Os grandes benefícios que defensores da Bitcoin apresentam estão ligados a isso: oferecer serviços financeiros àqueles que não são atendidos por bancos; tornar transferências internacionais mais baratas; trazer uma alternativa a populações que vivem em países instáveis e que correm o risco de perder todo seu dinheiro em crises econômicas, O QUE SÃO CRIPTOMOEDAS BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 21 entre outros. No entanto, há críticos que afirmam que, para que ela realmente finque raízes, deve ser guiada para algo específico e uma aplicação principal capaz de dominar um segmento, como transferências internacionais ou sistemas de pagamento baratos. Desfocada, ela não vai conseguir ser preferencial em nenhuma modalidade. De qualquer maneira, por limites tecnológicos e debates na comunida- de, essas opções futuras não parecem tão próximas. Enquanto a Visa processa em média cerca de 3674 transações por segundo com seu sistema, o blockchain da Bitcoin geralmente faz apenas 3,3. Portanto, é preciso melhorar seu sistema para que ele funcione mais depressa. Há também as taxas cobradas por mineradores de Bitcoin para validar uma transação. Elas são opcionais, mas garantem prioridade em um processo que pode levar, de outra maneira, horas ou mesmo dias para ser concluído. Uma transação pode levar 10 minutos e exigir uma taxa média de US$ 20 dólares, 24 horas e US$ 3 dólares ou ninguém sabe quanto tempo e zero dólares. Para transações cotidianas como pagar um pão de queijo ou transferências de pequenos valores, não é nada atraente. Por fim, essas taxas estão subindo por um motivo alarmante: a infraestru- tura necessária para minerar os blocos do blockchain. Por ser uma rede peer-to-peer com 10 mil nós, ela é tecnicamente limitada. Quem quer levar a mineração a sério precisa investir em conjuntos de computadores poderosos e consumir enormes quantidades de energia elétrica e hardware para mantê-los funcionando. De verdade: estima-se que, em janeiro de 2017, o processo de mineração tenha consumido mais eletricidade que nações como Estônia, Costa Rica e Guatemala no mesmo período. Em resumo? O potencial das criptomoedas na era digital é imenso e praticamente inexplorado. Para que ela atinja este potencial, no entanto, há uma série de melhorias que precisam ser feitas pelo caminho. O QUE SÃO CRIPTOMOEDAS BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 22 O futuro das criptomoedas Atualmente, há quase 17 milhões de Bitcoins em circulação pelo mundo e cada bloco minerado gera outras 12,5 Bitcoins. E há um limite para o número de Bitcoins que vão existir no mundo, determinadohá muito tempo por Nakamoto: serão emitidas 21 milhões de moedas no total. Parece próximo, mas no ritmo atual, este número será atingido apenas em 2140, o que dá amplo espaço para que esse mercado cresça. E oferece também bastante tempo para que desenvolvedores e empreendedores na área criem alternativas e novas tecnologias que facilitem o processo de mineração ou tornem os softwares mais ágeis e potentes. Pode ser que, daqui cem anos, o valor de mercado da Bitcoin – ou outra criptomoeda que entre em seu lugar – não esteja tão alto. Ou esteja mais alto ainda. Ou que surja um novo meio de pagamento por completo. Portanto, manter-se atento às mudanças no futuro do dinheiro, que agora inclui as criptomoedas, é questão de bom senso. E se isso parece improvável, basta pensar que ninguém acreditaria no PayPal ou num caixa eletrônico mesmo se fosse há cem anos. As ideias surgem, as pessoas executam, as coisas mudam – e não vai parar por aqui. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 23 O que um investidor precisa saber BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 24 O QUE UM INVESTIDOR PRECISA SABER Nos últimos meses de 2017, foi praticamente impossível passar uma semana sem ouvir falar sobre Bitcoin. É provável que algum conhecido tenha investido (ou queria ter investido) e perdeu (ou teria perdido) dinheiro. Do outro lado, estava outro conhecido: alguém que, por dias de diferença, lucrou com a movimentação. Também era possível ouvir grupos diversos conversando sobre o assunto pelas ruas, tentando entender como esse mercado funcionava, o que era essa “moeda nova”, criando conjunturas e, vez ou outra, declarando que claramente aquilo se tratava (ou não) de uma bolha. Seis meses depois, o mercado de Bitcoins, que já foi avaliado em 275 bilhões de dólares, caiu pela metade e atualmente está na casa dos 128 bilhões, segundo o CoinMarketCap. Comprar uma única Bitcoin inteira (ela pode ser vendida em frações) custa mais de US$ 7,5 mil. É uma queda de quase 10 mil dólares em relação ao seu pico, mas ainda é um número impressionante. E mesmo que as discussões no metrô, no bar ou na fila do supermer- cado tenham se arrefecido, estima-se que ainda existam entre 700 mil e 1,4 milhão de brasileiros cadastrados em corretoras especializadas em criptomoedas – uma palavra que o Microsoft Word aponta como irregular, mas que faz bem em aprender. Afinal, o que as pessoas procuram ao investir em criptomoedas como a Bitcoin ou, pelo menos, o que deveriam procurar? Quais são as boas práticas que devem ser seguidas por investidores individuais, principal- mente aqueles que ainda não entendem as minúcias das tecnologias que impulsionam esse boom? A primeira lição é consenso entre especialistas: não perca sua chave privada. Justamente por eliminar intermediários como instituições financeiras, o universo das criptomoedas não oferece um SAC que vá ajudá-lo a emitir novas documentações, estornar transações se for roubado ou, caso você seja o inglês James Howells, que sem querer jogou um hard drive com o equivalente a US$ 9 milhões em Bitcoins no lixo, recuperá-las. Agora que você sabe que precisa manter suas chaves privadas – utilizada por você para validar suas transações, como uma senha – seguras em algum lugar, pode seguir em frente. A segunda lição: tenha certeza que você está preparado para a volatili- dade intrínseca de investir em algo não convencional e que tem seu preço decidido pelo mercado aberto. A habilidade de não entrar em pânico e vender suas Bitcoins quando o preço se altera rapidamente tem até um nome na comunidade: “hodling”, um erro de digitação feito por um investidor ansioso ao garantir aos colegas que estaria “segurando” (ou “holding”) o que tinha. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 25 Essa volatilidade esteve especialmente à mostra no segundo semestre de 2017, na época do boom da Bitcoin, quando hedge funds, investidores institucionais e especuladores começaram a entrar no mercado de vez. Em dezembro daquele ano, a Bolsa de Chicago também começou a negociar contratos futuros de Bitcoin, um produto financeiro que permite que investidores apostem se o preço de uma moeda vai subir ou não. E no começo de 2018, o Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimentos do mundo, anunciou que criaria uma unidade de negociação de Bitcoins. Em poucas palavras? Este agora é um mercado cheio de grandes players de Wall Street e outros centros financeiros internacionais, e eles chegaram para ficar. Investir em criptomoedas é para você? Com isso em mente, ainda é um território interessante para investido- res individuais, sejam eles brasileiros, chineses, japoneses, sul-coreanos ou americanos, para mencionar apenas alguns dos entusiastas? Para quem tem clareza sobre como este produto funciona e o que esperar dele, sim. “Investir é um meio para um fim, e este fim é nosso objetivo financeiro”, esclarece Carl Richards, consultor financeiro e colunista do jornal The New York Times. “Objetivos financeiros são coisas como ter dinheiro para pagar a faculdade dos seus filhos, comprar uma casa, viajar ou se aposentar.” E embora o mercado em si não esteja sob seu controle, continua, há uma coisa que está: o processo de identificar e definir esses objetivos e, com estudo e atenção, construir um portfólio que combine com eles. “Aí é preciso mantê-lo por muito tempo, mesmo quando é difícil ou assustador.” O segredo de investimentos lucrativos, dizem especialistas como ele, é diversificar e entender no que se está investindo: quem investe de maneira inteligente não coloca todos os seus ovos numa mesma cesta, nem monta a cesta às pressas. E já que criptomoedas – sejam elas Bitcoins, Ethers, Litecoins ou outros diversos tipos de altcoins, diversificar aqui também é uma boa ideia – são consideradas investimento de alto risco, a dica é usar até 5% da quantia geral que você tem para investir nesse segmento. “Antes de comprar criptomoedas, pergunte-se: ‘O que estou tentando conquistar?”, aconselha Jay Shah, CEO do fundo Personal Capital. “Se você quer colocar algum dinheiro especulativo no jogo, trate-o como gasto ao invés de economia.” Ou seja, você deve estar preparado tanto para lucrar quanto para perder – nada de imaginar que vai ficar milionário ali. O QUE UM INVESTIDOR PRECISA SABER BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 26 Como investir em criptomoedas? Para investir em criptomoedas, o caminho mais fácil é através de corretoras especializadas, como a Coinbase, nos EUA, e a Mercado Bitcoin, no Brasil, onde é possível começar com 50 reais e comprar uma fração de Bitcoin, Litecoin ou Bitcoin Cash. De maneira geral, essas corretoras conectam quem quer comprar com quem quer vender. Uma vez que o dinheiro convencional esteja em sua conta na corretora, é possível definir um valor para pagar por uma moeda. Quando um vendedor quiser vendê-la pelo mesmo preço, a condição é cumprida, a transação é feita e as criptomoedas vão parar em sua carteira digital, que pode ser armazenada pela própria corretora ou, se o investidor preferir, em seu próprio computador. (Para tanto, é preciso instalar um software open source para ter o serviço de blockchain e se tornar um “nó” na rede.) No auge do boom, o Mercado Bitcoin, que tem cerca de 1 milhão de clientes, via 10 mil cadastros por dia e R$ 120 milhões em movimentações diárias. Um de seus maiores desafios, que é generalizado no mercado, ainda é educar os investidores para que entendam como funciona o sistema em que estão inseridos. Robson Coelho, que trabalha na equipe de atendimento da corretora, explica que as dúvidas mais comunsentre os usuários costumam ser sobre os preços das negociações e o funcionamento da própria Bitcoin. No painel do Mercado Bitcoin, por exemplo, clientes têm acesso às informações das últimas 24 horas, que incluem o maior e o menor preço daquele período, assim como a última ordem do dia. “Muitas pessoas acham que o menor valor é aquele que precisa estar disponível”, fala. E a aquisição da moeda em si é motivo de vários questionamentos. “Não somos uma casa de câmbio, mas sim uma plataforma que aproxima compradores e vendedores. Não compramos as moedas para o cliente”, explica. “É preciso interagir com a plataforma e suas funcionalidades e muitas vezes as pessoas não sabem disso.” Um exemplo extremo dessa falta de conhecimento surgiu no fim do ano passado, quando alguns clientes de longa data da corretora descobri- ram que, apesar de terem depositado seus valores na plataforma, nunca tinham investido, ou seja, nunca tinham feito uma ordem de compra e adquirido as Bitcoins de fato. O saldo tinha ficado ali parado – às vezes por anos – e perdido a chance de valorizar no boom. O QUE UM INVESTIDOR PRECISA SABER BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 27 As boas práticas para investir em criptomoedas André Franco é analista de criptomoedas na Empiricus, uma publicado- ra de conteúdo financeiro que trabalha com a venda de relatórios para assinantes. Ele se lembra bem de agosto de 2017, quando um relatório sobre criptomoedas fez tanto sucesso que se tornou uma série e, eventualmente, resultou numa equipe interna dedicada na empresa. “Foi uma coisa insana”, lembra. Nessa época, os brasileiros começaram a inundar as corretoras, numa espécie de corrida do ouro digital, e corriam atrás também de informações sobre o mercado. “As corretoras chegavam a registrar 100 mil pedidos de novos cadastros em uma hora e tiveram até que interrompê-los.” O efeito em seu dia a dia de trabalho foram longas horas de trabalho para atender a demanda repentina, que chegou aos 50 mil clientes. “As pessoas tinham muita confiança e a maioria não entendia [do que se tratava a Bitcoin]”, fala. “Não sabiam no que estavam investindo mas queriam comprar porque o amigo disse que ia dar dinheiro, porque outros estavam comprando.” Ele mesmo tinha ouvido falar do assunto pela primeira vez em 2015, quando buscava outras formas de investimento. “E não foi amor à primeira vista”, diverte-se André. “Mas você vai entendendo a tecnologia e se apaixonando. É por isso que é tão importante buscar boas fontes de informação.” E encontrar conteúdos de alta qualidade não é difícil, continua ele, que recomenda portais como CryptoPanic.com, CriptoBuzz.com.br, CoinDesk.com e o artigo original de Satoshi Nakamoto, disponível em português. Outro conselho é conversar com pessoas do mercado para tirar dúvidas, saber de suas boas práticas e refinar técnicas de análise. A boa notícia? Esse esforço pode compensar bastante no médio a longo prazo. “Ao contrário do mercado de ações ou de renda fixa, em que é preciso ter muito tempo e bagagem para se tornar um especialista, o mercado de criptomoedas nasceu em 2009. Não existem grandes especialistas: se você estudá-lo por um ano, já poderá competir com quem está na ativa”, afirma. O QUE UM INVESTIDOR PRECISA SABER BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 28 O que é um ICO? Você já deve ter ouvido falar de Initial Coin Offering (ICO). Trata-se de um tipo de campanha em que empresas arrecadam fundos para construir novas plataformas tecnológicas ou criar negócios por meio de suas próprias criptomoedas, nesse caso também conhecidas como tokens. Em troca de capital, investidores recebem tokens virtuais que funcionam dentro daquele sistema em particular e podem assim garantir acesso a produtos ou serviços que serão construídos com o financiamento, ou mesmo vender estes tokens para outros. É um mercado tão aquecido que uma startup americana que anunciou a construção de um browser anônimo conseguiu conseguiu US$ 35 milhões em menos de 30 segundos. E não é só isso: a consultoria E&Y analisou mais de 370 ICOs e descobriu que, dos US$ 3,7 bilhões captados até janeiro de 2018, US$ 400 milhões tinham sido roubados por hackers. Toda essa movimentação fez com que o governo americano prestasse mais atenção no setor e investigasse o tema e especialistas apostam que, para proteger investidores, ICOs sejam regulamentados por governos num futuro próximo. O QUE UM INVESTIDOR PRECISA SABER BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 29 Como trabalhar com blockchain BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 30 COMO TRABALHAR COM BLCKCHAIN Com tantas coisas acontecendo, pode ser lógico imaginar que o mercado de trabalho para pessoas interessadas em desenvolver smart contracts e plataformas de blockchain estaria prosperando. Diante das inúmeras aplicações potencialmente disruptivas dessa tecnologia, as empresas estariam correndo atrás de profissionais capacitados para entrar como pioneiras nessa área. No entanto, de acordo com Marison Souza, blockchain architect da TruBR, startup que recentemente começou a oferecer soluções de blockchain para empresas, a realidade é mais desafiadora. Segundo ele, o blockchain como tecnologia ainda está em um período de mostrar ao mercado seu valor, algo semelhante ao que a área de data science enfrentou na última década. Por isso, quem quiser entrar no segmento precisa se preparar. Um dos desafios é justamente uma curva de entrada relativamen- te alta. Segundo Souza, o trabalho com blockchain em pequenas empresas acaba exigindo um conhecimento mais holístico da área de tecnologia da informação (TI): é necessário entender da infraestrutura ao desenvolvimento. E para algumas questões, como a implementação de contratos inteligen- tes em blockchains já existentes, é necessário o conhecimento de linguagens relativamente específicas. Por esse motivo, ele acredita que alguém que acaba de sair da faculdade dificilmente conseguirá se colocar no mercado sem antes adquirir alguma bagagem profissional. Em empresas maiores, a amplitude de conhecimento exigido acaba sendo menor, já que cada profissional pode se especializar em uma área específica. Nesses casos, o perfil esperado de um profissional de TI, de acordo com Souza, não difere muito do resto do mercado: saberes técnicos à parte, espera-se comprometimento, boa comunica- ção e proatividade. Mas o número de vagas ainda é limitado, o que torna se diferenciar da concorrência ainda mais importante. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 31 As áreas de atuação de um profissional de Blockchain Souza lista três áreas distintas de atuação na qual um profissional de TI pode se encaixar dentro de um trabalho de desenvolvimento de Blockchain: arquitetura, operação e desenvolvimento. O trabalho do profissional de cada uma assemelha ao de alguém nessas posições em outros setores de TI, mas com as particularidades da tecnologia blockchain. O arquiteto de blockchain é o profissional responsável por idealizar a maneira como o blockchain funcionará. Todas as questões referentes à estrutura da rede, seus nós, o tamanho dos blocos, a criptografia, enfim: todas as “regras” com base em que o blockchain funciona serão determinadas por esse profissional. Por isso, ele precisa ser alguém com um conhecimento profundo de infraestrutura. Nessa capacidade, o profissional precisa ter um sólido conhecimen- to teórico de redes distribuídas e descentralização. De certa forma, é possível considerar que Satoshi Nakamoto (quem quer que ele, ela ou eles sejam) foi o primeiro arquiteto de blockchain:em seu artigo pioneiro, ele delineou a arquitetura dentro da qual uma moeda virtual descentra- lizada funcionaria. Mas quando a Bitcoinfoi implementada, isso foi o trabalho de um operador de blockchain. Se o arquiteto é quem idealiza a maneira como o blockchain funcionará, o operador é o responsável por “tirar do papel” aquela arquitetura. Ele é o responsável pela implementação e pela manutenção do blockchain, e nesse sentido precisa dialogar bem com o arquiteto para que a visão dos dois não tenha divergências – que poderiam ser fatais para o sistema. Para realizar bem seu trabalho, segundo Souza, um operador de blockchain deve ter um conhecimento pleno de Linux e entender muito bem de Docker, já que tudo no blockchain roda em containers. Também por esse motivo, é desejável que ele tenha experiência com Kubernetes, o sistema de gerenciamento de containers. Conhecimento de infraestru- tura de redes também é importante, e nesse sentido é bom ter experiên- cia com Java. Finalmente, o desenvolvedor de blockchain é a pessoa responsável pelo desenvolvimento de smart contracts e de outras aplicações que rodem em cima do blockchain. Se a ideia é usar blockchain para algumas das aplicações já descritas neste especial, como armazenamento de dados ou a criação de programas e jogos que rodam em blockchain, o papel desse profissional será central aos trabalhos. Os requisitos para ser um desenvolvedor de blockchain variam de acordo com o sistema em que ele trabalhará. Alguém que pretenda COMO TRABALHAR COM BLCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 32 atuar como desenvolvedor no blockchain do Ethereum, por exemplo, precisará entender bem de Solidity, a linguagem usada para programa- ção na plataforma. Se a plataforma for Hyperledger, outro blockchain popular, será necessário conhecer Java, Go ou pelo menos JavaScript com Node.js. Com relação à remuneração, Souza considera que ela fica acima da média do mercado. A TruBR, por exemplo, não costuma realizar contratações CLT, mas trabalha com profissionais que têm pessoas jurídicas ou em esquema de consultoria. Nesse caso, segundo Souza, a hora avulsa de trabalho do profissional custa de R$ 250 a R$ 300. Para um “mês fechado” de 160 horas de trabalho, cobra-se de R$ 25 mil a R$ 30 mil. COMO TRABALHAR COM BLCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 33 Características do mercado de trabalho Como já foi mencionado, ainda não está totalmente claro para as empresas o valor que o blockchain pode agregar aos seus negócios. Por isso, nesse momento, os profissionais que pretendem atuar nessa área têm também o papel de comunicadores desse valor. É necessário que eles sejam capazes de explicar com clareza as vantagens que um investimento nesse setor pode trazer, não apenas saibam trabalhar com a tecnologia. A TruBR é uma empresa que realiza projetos em blockchain para outras empresas. E de acordo com Souza, que é CIO da empresa, é comum que haja uma confusão de seus clientes quanto à aplicabilidade. “Muita gente quer usar blockchain porque ouviu falar, pela força da buzzword mesmo, mas não entende direito para quê aquilo serve”, conta. Por exemplo: algumas empresas veem o blockchain meramente como uma maneira de aumentar a segurança de seu banco de dados, o que fica muito longe do potencial total da tecnologia. Um profissional de TI interessado em blockchain tem muito a ganhar se for capaz de deixar claro, para o gerente da área que a cadeia de blocos pode fazer muito mais que isso. Situações desse tipo acabam gerando problemas para a TruBR, já que a companhia gasta um tempo considerável entendendo o projeto proposto pelo cliente até dar-se conta de que não se trata de uma boa aplicação de blockchain. Na percepção de Souza, portanto, ainda existe uma falta de informação no mercado sobre blockchain que acaba dificultando sua expansão. Por outro lado, essa situação também pode ser vista como oportunida- de. Profissionais que conseguirem deixar claro o valor que seu trabalho pode agregar aos serviços de empresas ou que sejam capazes de recrutar esse valor para seus projetos colherão os benefícios de uma tecnologia pioneira, muito cobiçada e que oferece salários acima da média. E é sempre bom levar em conta que, em meio a toda essa comoção, o white paper de Satoshi Nakamoto não completou nem dez anos de publicação, o que acontecerá em outubro de 2018. Quem sabe o que a próxima década reserva para os profissionais que saírem na frente dessa transformação? COMO TRABALHAR COM BLCKCHAIN BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 34 Startups que usam blockchain no Brasil BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 35 STARTUPS QUE USAM BLOCKCHAIN NO BRASIL Se você tem algum interesse em tecnologia, já deve ter ouvido falar em “blockchain” antes de abrir este especial. Provavelmente, o que você ouviu falar sobre o assunto não tinha nada a ver com mulheres da zona rural do Brasil. Mas há uma empresa que está usando o blockchain justamente para empoderar essas mulheres. Trata-se da Moeda, uma fintech fundada por Taynaah Reis que levantou US$ 20 milhões por meio de uma oferta inicial de moeda (ou ICO, na sigla em inglês) em 2017. Esse capital será usado na concretização da missão da empresa, que é dar a pequenos produtores rurais brasileiros o acesso a crédito e serviços bancários dos quais muitos deles ainda estão excluídos. Como funciona a Moeda? A Moeda permite que qualquer pessoa do mundo invista nos pequenos produtores com os quais a empresa está conectada. Os investidores fazem isso comprando a criptomoeda da empresa, chamada de MDA. Comprando uma MDA, os investidores podem escolher precisamente em que projeto querem investir, com o adicional de saberem que são projetos alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Mais do que isso: graças ao blockchain, conseguem também ver exatamen- te como aquele projeto que eles estão apoiando usa o investimento que foi feito. E a pessoa apoiada, por sua vez, sabe exatamente de onde vem o dinheiro que ela agora pode investir em seu projeto. É quase uma plataforma de crédito peer-to-peer, com a diferença de que há uma instituição financeira envolvida no meio, no caso o CRESOL, fundo de crédito solidário também voltado para pequenos produtores. Para a empreendedora rural que recebe o investimento, trata-se de uma oportunidade que antes não existia. Por meio da Moeda, os projetos conseguem captar recursos e investir em seus negócios, seja por meio de tokens MDA ou moedas físicas – nesse ponto, o CRESOL também ajuda a dar mais liquidez ao token em questão, um ativo digital específi- co da Moeda. Para os investidores, trata-se de uma oportunidade bastante interessan- te: eles investem em uma causa socialmente importante, mas retêm toda a liquidez de um investimento em criptomoedas. Se em algum momento quiserem revender seus tokens, podem fazê-lo de maneira praticamente imediata via blockchain. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 36 OriginalMy O objetivo da OriginalMy, como o nome sugere, é usar blockchain para garantir autenticidade. A startup começou com a ideia de ser um registro de autenticidade de obras artísticas e, com o tempo, passou a considerar o uso da tecnologia para a identificação de pessoas, assinatu- ra de contratos e outros casos em que a garantia de autenticidade é imprescindível. 88Insurtech A startup 88Insurtech atua no mercado de seguros. Por um lado, ela funciona como um marketplace de seguros, facilitando o acesso de clientes a diferentes planos e tornando o processo de contratação de planosmais simples. Por outro, usa a transparência e a segurança do blockchain para validar a identidade dos clientes e registrar suas informações sobre scoring e rating. A Star Labs Blockchain é uma tecnologia com diversas aplicações, e a startup A Star Labs atua ajudando outras empresas e instituições a implementar essa tecnologia em seus projetos. Ela atua com educação de mercado, arquitetura de soluções e desenvolvimento de projetos sob medida para seus clientes. Paratii A ideia da Paratii é ser uma plataforma de vídeos como o YouTube, mas com blockchain por trás. Os vídeos colocados nela ficam armazenados num sistema de blockchain que, por ser um sistema distribuído, tem o potencial de ser ainda mais rápido do que o site de vídeos do Google. Além disso, os criadores da plataforma ficam com 100% da receita gerada pelos seus vídeos, que é paga usando uma moeda virtual ligada ao site. STARTUPS QUE USAM BLOCKCHAIN NO BRASIL Blockchain à brasileira: 4 startups que utilizam a tecnologia BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 37 Livros, TED Talks e webinars sobre o tema BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 38 LIVROS, TED TALKS E WEBINARS SOBRE O TEMA É natural (e um bom sinal!) se, ao longo deste ebook, você tiver vontade de mergulhar mais profundamente em algum assunto. Pensando nisso, a Udacity reuniu referências diversas, de livros a TED Talks e webinars com especialistas, para que você se aprofunde no tema. LIVROS Digital Gold: Bitcoin and the Inside Story of the Misfits and Millionaires Trying to Reinvent Money, por Nathaniel Popper O autor, um repórter de finanças e tecnologia do jornal The New York Times, conta a história do investimento em Bitcoins desde o começo, de Satoshi Nakamoto aos gêmeos Winklevoss (que se tornaram os primeiros “cripto-bilionários”), passando por diversos altos e baixos. O livro é de 2015 e ganhou elogios de Larry Summers, ex-Secretário do Tesouro americano. Saiba mais aqui. Blockchain Revolution, por Don Tapscott e Alex Tapscott Os autores, que são pai e filho, cofundaram o Blockchain Research Institute, um think tank canadense que tem o apoio de grandes empresas como Microsoft, IBM e PepsiCo. Com este know how, ambos escreveram um livro que explora o potencial de impacto dessa tecnologia nos sistemas globais – e o que fazer para prosperar nesse ambiente de disrupção. Don Tapscott também apresentou uma TED Talk sobre o tema, listada na próxima seção. Saiba mais aqui. Mastering Bitcoin: Programming the Open Blockchain, por Andreas Antonopoulos Livro-referência escrito pelo tecnólogo Andreas Antonopoulos, este bestseller foi feito para curiosos, investidores e empreendedores. Há um pouco de tudo: introdução aos conceitos essenciais de Bitcoin e blockchain, seus fundamentos técnicos, as inovações da área e detalhes sobre a rede descentralizada, arquitetura peer-2-peer e princípios de segurança, entre outros assuntos. Saiba mais aqui. BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 39 TED TALKS O futuro do dinheiro, por Neha Narula Em 2016, a pesquisadora de moedas digitais Neha Narula explicou conceitos de valor, como dinheiro digital já se faz presente no dia a dia e como, no caso de criptomoedas, não ter um intermediário pode fazer diferença. “Dinheiro programável democratiza o dinheiro”, afirmou. Assista aqui. Como o blockchain está mudando o dinheiro e mundo dos negócios, por Don Tapscott O estrategista digital Don Tapscott, uma figura célebre no mundo corporativo, apresenta o impacto que a tecnologia de blockchain pode ter no dinheiro, negócios, governo e sociedade ao retirar intermediários de transações. Uma indústria financeira baseada em blockchain, em sua opinião, poderia significar maior mobilidade econômica e proteção de dados e a chance de “reescrever a velha ordem das coisas”. Assista aqui. Nós paramos de confiar em instituição e começamos a confiar em estranhos, por Rachel Botsman Observando o lado comportamental, a pesquisadora de confiança Rachel Botsman argumenta que a tecnologia trouxe novas percepções de confiança para a sociedade. Hoje há um enorme número de pessoas capaz de ficar na casa de estranhos (no Airbnb), entrar em carros de estranhos (no Uber) e fazer transações com estranhos e à vista de estranhos (blockchain). Botsman apresenta as implicações de uma “revolução da confiança em escala global”. Assista aqui. LIVROS, TED TALKS E WEBINARS SOBRE O TEMA BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 40 WEBINARS Ao longo de maio e junho de 2017, Udacity organizou três webinars sobre blockchain e investimento em criptomoedas em parceria com a corretora Mercado Bitcoin. É possível assisti-los gratuitamente a qualquer momento. Como investir em Bitcoins Luiz Calado, economista-chefe da Mercado Bitcoin, fala sobre quem pode investir em Bitcoins, quais são as vantagens deste tipo de in- vestimento e quais são os conhecimentos essenciais para realmente aproveitar a oportunidade. Assista aqui. Blockchain: o que é e como funciona Wendel Silva, product owner de criptomoedas do Mercado Bitcoin e especialista em blockchain, explica como funciona essa tecnologia, quais são suas principais aplicações e quem trabalha com ela no dia a dia. Assista aqui. Bitcoin: como funciona essa criptomoeda e quais são suas vantagens Dos conceitos fundamentais ao boom de 2017, entenda como Bitcoin funciona, o que é mineração, quais são as diferenças entre Bitcoin e Bitcoin Cash e quais são as vantagens das criptomoedas. Quem explica é Lucas Pinsdorf, responsável por business development no Mercado Bitcoin. Assista aqui. LIVROS, TED TALKS E WEBINARS SOBRE O TEMA BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 41 GLOSSÁRIO DE BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS Bagholder: um investidor que está segurando seus investimentos há tempo demais. BearWhale: um grande trader que acha que os preços vão cair. Bitcoin: a primeira moeda global e descentralizada do mundo, que funciona em uma rede peer-to-peer global. Bits: subunidade de uma Bitcoin. Há 1.000.000 bits em uma Bitcoin. Bloco: uma coleção de transações que ocorreram ao longo de um dado período em um blockchain; é registrado permanentemente na rede. Blockchain: tecnologia que funciona como um livro compartilhado, é capaz de registrar permanentemente todas as transações no formato de cadeia de blocos. BTC: abreviação de Bitcoin. Carteira: arquivo que contém as chaves privadas; também pode ser um software utilizado por usuários para administrar essas chaves e fazer transações na rede. Carteira de papel: quando sua chave privada está num papel ou outro meio físico; podem ser QR codes. Chave privada: série única de letras e números associada a um endereço específico e que funciona como senha. Chave pública: série única de letras e números associada a um endereço específico e que funciona como endereço público. Cold wallet: uma carteira que não está conectada à internet. Consenso: acontece quando todos os participantes de uma rede concordam em relação à validade de transações e, assim, todos têm exatamente o mesmo registro. Contratos inteligentes: programas de computador que contêm regras, funcionam no blockchain e são cumpridos por participantes da rede. Criptomoeda: um tipo de moeda que usa criptografia ao invés de uma instituição financeira para verificar transações. Endereço: geralmente uma série de caracteres alfanuméricos, é usado para receber ou mandar transações em uma rede; é possível ter mais de um endereço. Ethereum: uma plataforma baseada em blockchain que tem sua própria moeda, a Ether, epermite contratos inteligentes e diversas aplicações. LIVROS, TED TALKS E WEBINARS SOBRE O TEMA BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 42 Hardware wallet: quando a chave privada está em um dispositi- vo externo, como um pen drive ou algo específico para criptomoedas (exemplos: Ledger e Trezor). Hash: número que identifica um bloco no blockchain; uma função matemática que mineradores devem resolver para adicionar uma transação e verificar um bloco no blockchain. Hodl: gíria que investidores usam quando vão continuar firmes apesar das quedas no preço. Vem de um erro de digitação num post do fórum Bitcointalk que lia “I am HODLING”. Hot wallet: uma carteira conectada à internet. Mineração: ato de um computador ou conjunto de computadores para adicionar novas transações aos blocos e verificar blocos criados por outros mineradores. Nó (node): um computador ou conjunto de computadores que participa de uma rede blockchain e tem uma cópia dos registros de transações. Rede distribuída: rede projetada para que não haja um servidor ou entidade central e que depende da conexão direta entre participantes. Satoshi: a menor unidade divisível de um Bitcoin, equivale a 0.0000001 Bitcoins. Uma homenagem a Satoshi Nakamoto, inventor(a) da Bitcoin. Taxa de transação (taxa de mineração): valor incluído em cada transação de criptomoedas; é coletado por mineradores que processam o bloco. Transação: entrada num blockchain que descreve uma transferência entre partes. LIVROS, TED TALKS E WEBINARS SOBRE O TEMA BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 43 PREPARE-SE PARA UMA CARREIRA EM BLOCKCHAIN Depois de tantas páginas, você deve ter se dado conta de que o campo é novo, mas sem dúvida tem potencial – e bastante espaço para quem dominar as habilidades necessárias. A Udacity surgiu para capacitar profissionais que queiram trabalhar com tecnologia e logo enxergou essa oportunidade. Por isso, em 2018 dedicou-se a criar o programa Nanodegree Desenvolvedor Blockchain. Construído em parceria com especialistas, este curso online abrange o que há de mais moderno nessa tecnologia. Aprenda de forma estrutura- da desde fundamentos de blockchain até programação de contratos inteligentes e arquitetura do sistema, além de descobrir suas diferentes aplicações – como supply chain, armazenamento de dados e medicina. Durante o curso, você terá acesso a mentoria, suporte e canais exclusivos para interagir e aprender com outros alunos, como fóruns e Slack. Além disso, desenvolverá projetos para aplicar tudo o que aprendeu e receberá feedback personalizado. Ao final, será um profissional capacitado para trabalhar com blockchain e terá construído um portfólio completo para mostrar suas novas habilidades ao mercado. LIVROS, TED TALKS E WEBINARS SOBRE O TEMA SAIBA MAIS BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO 44 Fontes The objects that power the global economy, Quartz Explainer: What is a blockchain?, MIT Technology Review Blockchain e os Cartórios, JUS.com.br Bitcoin Glossary, Coinbase Bitcoin: Um sistema ponto-a-ponto de dinheiro eletrônico, Satoshi Nakamoto Ethereum fixes serious “eclipse” flaw that could be exploited by any kid, ARS Technica Thomson Reuters survey finds one in five financial institutions considering cryptocurrency trading in 2018, Thomson Reuters Blockchain: the new technology of trust, Goldman Sachs How blockchains could change the world, McKinsey & Co. Blockchain-Based Transformation, Gartner Should you buy Bitcoin?, The New York Times FONTES BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS: A CARREIRA EM TECNOLOGIAS QUE VÃO MUDAR O MUNDO INTRO 45 Tudo para trilhar sua carreira em Inteligência Artificial udacity.com.br Blockchain e criptomoedas: a carreira em tecnologias que vão mudar o mundo