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Resenha Crítica - Adiana Inc e o Desenvolvimento de um Dispositivo de Esterelização Feminina - Anna Clara Pestana

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Pós-graduação em Direito Público: Constitucional, Administrativo e Tributário
Resenha do Caso de Harvard intitulado
“Adiana, Inc., e o Desenvolvimento de um Dispositivo de Esterilização Feminina”
 
Nome do aluno (a): Anna Clara Leite Pestana
Trabalho da disciplina 	
Constitucionalização do Direito
Tutor: Profa. Mariana Rasga
Recife 
2017
Caso de Harvard: “Adiana, Inc., e o Desenvolvimento de um Dispositivo de Esterilização Feminina”
Responsabilidade empresarial e direitos individuais na pesquisa clínica: o caso da Adiana
REFERÊNCIA: Adiana, Inc., e o Desenvolvimento de um Dispositivo de Esterilização Feminina. Caso BME-8. Stanford School of Business. Boston, 2004.
O artigo aborda o desenvolvimento, na década de 1990, pela empresa Adiana, Inc., de um novo dispositivo de esterilização feminina: um cateter descartável de aproximadamente trinta centímetros e extremamente fino, conectado a um gerador de energia. Durante o processo de autorização de testes, entretanto, a organização precisou encarar diversas questões éticas e legais, que ensejam um relevante debate acerca da responsabilidade empresarial no âmbito dos direitos individuais.
O procedimento Adiana oferecia diversas vantagens em relação ao método tradicional da ligadura de trompas cirúrgica: poderia ser feitaa em consultório médico, não havia necessidade de preparação pré-cirúrgica ou anestesia geral e era mais fácil e rápido de ser realizado. Ademais, o projeto indicava que o cateter teria um custo menor, estaria coberto por planos de saúde e sua efetividade na prevenção da gravidez seria maior. Havia, portanto, uma expectativa de que esse cateter permitiria uma esterilização muito mais segura e eficaz.
Assim, após concluir os experimentos em animais, a Adiana iniciou os testes em seres humanos. O objetivo era testar a segurança e perfeição das características mecânicas do dispositivo, e não sua eficiência, uma vez que os pacientes escolhidos eram aqueles sujeitos a peri-histerectomia, um procedimento em que o útero e as trompas de falópio eram removidos imediatamente após o período de testes. Para tanto, a empresa optou por realizar esses experimentos em instalações médicas ginecológicas localizadas no México.
As pesquisas de segurança mexicanas mostraram que o procedimento da Adiana não apresentava nenhum risco adicional nem complicações potenciais. Diante do bom desempenho do cateter, a organização começou a preparar seus experimentos clínicos de eficácia nos Estados Unidos. 
Nesse ponto, a Adiana se viu diante de algumas questões éticas e legais. Com efeito, seria preciso avaliar como deve ser conduzido o processo de recrutamento e consentimento, além da responsabilidade da empresa em relação às mulheres que engravidassem após se submeterem ao procedimento de esterilização experimental.
Primeiramente, essa discussão envolve o problema dos limites do direito à disposição sobre o próprio corpo a quem participe de pesquisa clínica, uma vez que esse direito é restringido pelos direitos de personalidade, considerados irrenunciáveis. Assim, diante da colisão de liberdades – o direito de disposição sobre o próprio corpo e a proteção à incolumidade física – imprescindível a aplicação da regra de proporcionalidade a cada caso específico. Deve-se, portanto, analisar as condições fáticas e jurídicas do caso concreto, em especial as peculiaridades do procedimento de experimentação clínica. Nesse sentido, a submissão de um cidadão a uma experimentação clínica exige que esta seja conduzida à luz de garantias éticas e jurídicas que resguardem e protejam a dignidade da pessoa humana, bem como, assegurem a segurança e a eficácia do tratamento clínico. [footnoteRef:1] [1: CACHAPUZ, Maria Cláudia; ANDREAZZA, Luís Paulo Petersen. Autonomia privada e experimentação pela pesquisa clínica de medicamentos: Ponderação acerca de um direito geral de liberdade. In: BRITO, Rodrigo Azevedo; VILLATORE, Marco Antônio; COSTA, Ilton Garcia. (Org.). Relações privadas e democracia. 1ª Ed. Florianópolis: CONPEDI, 2015, v., p. 215-234.] 
No tocante à responsabilidade empresarial, tanto a Declaração de Helsinque (conjunto de princípios éticos que regem a pesquisa com seres humanos) quanto a Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012 estabelecem indenização aos participantes de experimentos clínicos em caso de danos à vida e à integridade física e psíquica. Inclusive, é exigido que o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido contenha disposição expressa sobre tal direito do paciente, sendo proibida a inserção de cláusulas que exonerem ou limitem o pagamento de indenizações, sob a alegação de que o participante concordou com tal fato.[footnoteRef:2] [2: TOMASEVICIUS FILHO, Eduardo. O Código Civil brasileiro na disciplina da pesquisa com seres humanos. Revista de Direito Sanitário. São Paulo v.16 n.2, p. 116-146, jul./out. 2015.] 
Diante do exposto, no caso em exame, as mulheres devem ter acesso a toda informação sobre benefícios, riscos e compensação no Termo de Consentimento. Ademais, a Adiana deve ser responsável pelas eventuais gestações por falha na contracepção. Afinal, é preciso que seja estabelecida a segurança jurídica nas relações entre cientista, médico e paciente, para que desta forma a ciência possa avançar de forma ética e legal. 
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