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G R A D U A Ç Ã O ESP. MYLENE MANFRINATO DOS REIS AMARO Bioética e Responsabilidade Civil Híbrido GRADUAÇÃO Esp. Mylene Manfrinato dos Reis Amaro Bioética e Responsabilidade Civil ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2809 FICHA CATALOGRÁFICA CDD - 22 ed. 372.357 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-65-5615-014-7 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Fotos: Shutterstock Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar Diretoria de Design Educacional Equipe Produção de Materiais NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. AMARO, Mylene. Bioética e Responsabilidade Civil. Mylene Manfrinato dos Reis Amaro. Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. 104 p. “Graduação - EaD”. 1. Bioética 2. Responsabilidade 3. Civil. EaD. I. Título. BOAS-VINDAS Reitor Wilson de Matos Silva Neste mundo globalizado e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer educação de qualidade, mas também, acima de tudo, gerar a conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em quatro pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos para os cursos híbridos, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão, que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. MEU CURRÍCULO MINHA HISTÓRIA Esp. Mylene Manfrinato dos Reis Amaro Oi, meu nome é Mylene. Eu sempre quis ser professora. Quando criança, montava um “cenário” com meu singelo quadro negro e passava a tarde dando aula aos meus alunos imaginários. Os anos passa- ram, e meu sonho de ser professora só au- mentava, porém, eu também possuía mui- ta admiração pela carreira jurídica, e foi quando decidi cursar Direito e me tornei advogada. Já fui professora de crianças na igreja que frequento, realizando Escola de Férias, para as crianças ao redor da igreja. No entanto, foi na graduação que meu sonho de lecionar foi consolidado. Por meio dos grandes mestres e doutores com quem tive o prazer de estudar, a cha- ma da docência foi definitiva e desde en- tão meus passos são todos na direção da docência. Além de advogada e professora, sou voluntária em projetos sociais, parti- cipo de grupos que visam ações em prol da população carente da sociedade. Sinto que essas atitudes tão pequenas podem ser muito significantes para a vida das pessoas alcançadas. É dessa forma, seja lecionando, advogando, seja trabalhando em uma missão, que eu posso espalhar o conhecimento, principalmente em prol da importância da dignidade da pessoa hu- mana e da própria bioética, pois é com os seres humanos que lidamos todos os dias. Portanto, minha maior missão é difundir o conhecimento e transformar vidas! Dese- jo que você usufrua deste estudo, não só para adquirir conhecimentos, mas, tam- bém, para transformar a vida das pessoas que passarem por seus caminhos. Quer conhecer mais sobre meus projetos? En- tão me siga no instagram: @dra_mylenemanfrinato. Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim, além das informações do meu currículo. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2860 Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o apli- cativo Unicesumar Experience. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recursos em Realidade Aumentada. Explore as ferramentas do App para saber das possibilidades de interação de cada objeto. PODCAST: professores especialistas e convidados, ampliando as discussões sobre os temas. PÍLULA DE APRENDIZAGEM: uma dose extra de conhecimento é sempre bem- vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o código, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido. PENSANDO JUNTOS: ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! EXPLORANDO IDEIAS: com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do assunto discutido, de forma mais objetiva. EU INDICO: enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliam a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tecnologia a seu favor. Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store IMERSÃO RECURSOS DE APRENDIZAGEM CAMINHOS DE 9 53 37 79 7 Bioética e sua Aplicabilidade na Área da Saúde BIOÉTICA E RESPONSABILIDADE CIVIL Responsabilidade Civil na Saúde Ética e Biossegurança para os Profissionais da Saúde Espécies de Responsabilidade Civil e os Profissionais Liberais 1 3 2 4 PROVOCAÇÕES INICIAIS INICIAIS PROVOCAÇÕES Imagine a seguinte situação: você, um profissional da saúde, habilitado para o exercício de sua profissão, recebe em sua clínica uma paciente de 25 anos com lesões cutâneas nos pés e na face, que afirma que procurou o seu trabalho devido a sua credibilidade como profissional renomado na cidade, ela acredita que as erupções seja de fundo emocional e que o seu serviço poderá curá-la. Diante disso, qual seria a sua conduta? Em caso de realização dos procedimentos e condutas descritas, você estaria violando algum princípio da bioética? Em caso de negativa por sua parte, alegando que não é habilitado(a) para realizar o procedimento ou conduta que seus pacientes insistem em fazer, você estará ferindo algum direito de seus pacientes? À vista disso e como forma de busca pelas respostas, convido você a visitar uma clínica de estética, po- dologia ou terapias interativas e complementares, para compreender e visualizar melhor o cotidiano e os eventuais problemas que podem surgir. Topa o desafio? A dignidade humana de seus pacientes será violada na hipótese de realização do procedimento de aplicação de botox, ou procedimento ineficiente paradesencravar a unha de pessoa diabética, ou a conduta de receitar medicamentos alopáticos que não se encaixa em suas habilidades profissionais. Dessa forma, o princípio da não maleficência também será violado, pois se estará causando dano aos pacientes, pois o profissional estará agindo de forma irresponsável e perigosa por não possuir capacidade técnica para realização dos procedimentos descritos. Isso ocasionará, também, a responsabilidade civil que obriga o profissional a reparar danos ocasionados em seus pacientes. Com o estudo desta disciplina, você estará apto a criar elementos capazes de solucionar o problema do profissional não habilitado para determinadas ações dentro da prática profissional e identificar situações que você não seja capaz de lidar e solucionar, como exemplo de procedimentos que não são da com- petência do profissional de bem-estar para manusear ou em casos em que o resultado não dependa exclusivamente de sua ação profissional. Além disso, você será capaz de encontrar as respostas da bioética e da responsabilidade civil que servem como parâmetro para o profissional da saúde não cometer erros que gerem prejuízos aos seus pacientes e aplicar isso no seu dia a dia profissional. Ficou empolgado(a)? Então, convido você a mergulhar neste universo do conhecimento. Vamos lá? BIOÉTICA E RESPONSABILIDADE CIVIL 1 OPORTUNIDADES DE APRENDIZAGEM Bioética e sua Aplicabilidade na Área da Saúde Esp. Mylene Manfrinato dos Reis Amaro Olá, aluno, esta unidade será essencial para sua trajetória profissional no campo da estética, podologia e terapias integrativas e complementares. Por meio dela, você terá a oportunidade de compreender o papel da bioética no campo da saúde e quais as condutas éticas que devem ser praticadas em prol do exercício profissional de qualidade. Primeiro, terá contato com a evolução e conceitos básicos da Bioética. Após, você se aprofundará nos princípios norteadores deste campo de estudo. Aqui, também terá, situa- ções da vida humana e saúde em que a Bioética é responsável por traçar os limites de intervenção e manipulação. 10 UNICESUMAR Você sabia que a profissão da saúde sempre foi extremamente importante para a sociedade? Imagino que devem estar passando muitas coisas agora em sua cabeça, certo? Pois é, devido ao valor e à res- ponsabilidade que esta atividade tem para a vida humana trazendo o bem-estar, as reflexões na área da Filosofia aprofundaram a preocupação com o ser humano e, por meio do estudo das ciências médicas, a Bioética surge com o propósito de nortear as condutas dos profissionais da saúde em prol dos indivíduos. Diante disso, você deve respeitar a autonomia do seu paciente de decidir ou buscar o que ele acre- dita ser melhor para si mesmo; contudo, como profissional habilitado para a função, nunca poderá realizar qualquer tipo de procedimento que não esteja dentro de suas competências profissionais e, principalmente, que coloque a vida, saúde e integridade física de seu cliente em risco, mesmo que ele insista na realização do procedimento. Dessa forma, os problemas que surgem em decorrência da prática dos profissionais da estética, podologia e terapias integrativas e complementares, como é seu caso, podem ser solucionados por meio da Bioética. A bioética é simplesmente a ética da vida aplicada à saúde e em todas as áreas que atuam no campo médico. Inclusive, na área da promoção da saúde, ela segue uma lista do que pode ou não pode ser feito, associando os riscos e consequências que um procedimento poderá causar na vida dos pacientes submetidos às técnicas que você realiza no exercício de sua profissão. Isto é, a bioética é um aparato de princípios que devem ser exercidos a fim de evitar prejuízos e danos à saúde e à vida dos seus clientes, pois nem sempre o que é praticado é eticamente aceito. Muitas vezes, seus clientes desejam realizar procedimentos que violam a dignidade da pessoa humana e da própria bioética. Por outro lado, como profissional da saúde e bem-estar, você também está sujeito a realizar condutas que podem acarretar prejuízos para vida e saúde de seus clientes. Por meio dos princípios norteadores da bioética, os quais são representados pela beneficência, au- tonomia, justiça e não maleficência, você terá todo aparato ético para respeitar a integridade de seus clientes, realizando suas condutas profissionais dentro dos limites estabelecidos pela bioética, para que 11 UNIDADE 1 você não venha sofrer consequências advindas da responsabilidade civil, que podem gerar seríssimos problemas ao seu futuro profissional. Portanto, você deve proporcionar um serviço de qualidade e segurança para seus clientes, fornecen- do todos os meios capazes de gerar bem-estar físico e mental a eles e, principalmente, você deve estar apto e autorizado para realizar apenas os procedimentos que estão dentro do rol de suas competências. Imagine a seguinte situação: uma cliente chega até você com algumas solicitações, tais como realizar um pacote de massagens modeladoras, extrair completamente uma lâmina ungueal (unha) que ela acredita que está torta e que nascerá mais bonita e realizar sessões de Hipnoterapia para diminuir a ansiedade, com intuito de perder algumas medidas até o fim do ano. Ao realizar a anamnese, você constata que essa paciente realizou uma cirurgia de retirada de apên- dice em menos de trinta dias e que os outros procedimentos não são a melhor indicação para ela, dessa forma, você explica que não será possível realizá-los, pois os protocolos não se aplicam, que a cirurgia que submetida é recente e que a paciente ainda se encontra em fase de recuperação. No entanto, sua cliente insiste na realização do procedimento, mas você se nega a realizar. Diante disso, qual será a solução com base na bioética para justificar sua negativa ao realizar o serviço que sua paciente solicita? Sabemos que você, como profissional da promoção da saúde e do bem-estar, em contexto geral, necessita de uma relação de confiança e sinceridade com seus clientes. Nem sempre o que seu cliente solicitar que seja realizado, realmente será o melhor na prática. É nesses momentos que você deve agir com ética para que suas condutas, mesmo que sejam de acordo com a vontade do cliente, não venham ferir a integridade física ou a vida dos seus pacientes. Dessa forma, a bioética é fundamental para que você obtenha as respostas do que pode ser realizado no ser humano, para que suas condutas, além de não ferirem o indivíduo, não gerem responsabilidade civil a você. Portanto, é prudente que não realize as massagens modeladoras em sua cliente recém-operada. Diante de toda reflexão até o momento, convido você, aluno, para realizar suas anotações no Diário de Bordo, como forma de fixação de suas primeiras impressões até o momento sobre o assunto abordado. D IÁ R IO D E B O R D O 12 UNICESUMAR A bioética emerge de uma reflexão das interações humanas entre sociedade, meios científicos e ambiente, possuindo três funções básicas, entre elas: Função Descritiva, Função Normativa e Função Protetora. A primeira função corresponde ao meio pelo qual irá relatar conflitos e questões; a segunda função é o modo que indi- ca condutas consideradas reprováveis ou aprováveis; e, por fim, a terceira função corresponde à maneira pela qual a bioética conduz seus objetivos, mediando conflitos que surgem e submetendo a ela. Diante das funções da Bioética, podemos adentrar em seu con- ceito e evolução. Você sabia que foi por meio da Segunda Guerra Mundial que a história reflete a exagerada liberdade das práticas no campo da ciência, mais especificamente na área da saúde, vida e a integridade física e psíquica do homem. Por meio dos avanços tecnológicos interventivos, conformados pela existência de uma relação de natureza médica, científica e interventivas nos seres humanos, surge a necessidade de compreensão de tais ditames das ciências (DURANT, 1995). Neste sentido, a ética toma papel de protagonista,com principal função de percorrer caminhos em consenso com as conjecturas morais, para compreensão das intervenções praticadas nos seres humanos. Com intuito de inibir práticas que venham a violar o direito à vida e saúde do homem, valores éticos se exteriorizam, no ordenamento jurídico brasileiro. Nesse cenário, surge a Bioética, sendo apresentada como uma resposta às demandas sociais, marcadas pelo surgimento dos processos científicos, que apresentam, a cada novo passo, possibilidades de ma- nipulações no homem. A Bioética é a área do conhecimento responsável por atestar os delineamentos éticos em torno dos procedimentos biológicos e médicos, incluindo os procedimentos estéticos, que se associam com a vida. As primeiras manifestações do termo Bioética possuem feições bastante recente, decorre do início dos anos 70, sendo concebida como uma nova maneira de se vislumbrar e enfrentar o mundo e a vida a partir da ética. Especificamente, o termo Bioética é usado pela primeira vez pelo oncologista nor- te-americano Van Rensselaer Potter, no seu livro Bioethics: Bridge tothe Future. A bioética, segundo Potter (1971, p. 2), “é a ponte entre a ciência e as humanidades”. O autor tinha como objetivo salientar os dois pontos mais importantes para se conquistar uma nova sabedoria, que compreendia em alcançar o conhecimento biológico e os valores humanos (POTTER, 1971). Entretanto, em meados de 1988, Van Rensselaer Potter apresenta outra definição para o termo bioética, no qual diz que é "a combinação da biologia com os conhecimentos humanísticos diversos constituindo uma ciência que estabelece um sistema de prioridades médicas e ambientais para a sobrevivência aceitável" (POTTER, 1988, p. 186), desenvolvendo uma Bioética com foco nas preocu- pações ecológicas, para prevenção da destruição dos elementos da biosfera, elemento essencial para vida humana. Segundo o autor, a bioética é vista como a ciência da sobrevivência, com objetivo de compatibilização dos valores éticos e os aspectos biológicos (SGRECCIA, 2002). https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2761 13 UNIDADE 1 Por sua vez, o holandês obstetra André Hellegers, na Universidade de Georgetown, em Washington, alinhou o estudo da Bioética como uma área da ética empregada às demandas da biomedicina, que se relacionam com aspectos científicos que envolvam os seres humanos, temas relacionados com a vida humana (FERRER; ÁLVAREZ, 2005). Deste modo, a gênese da palavra bioética (do grego bios: vida), que traduz a origem biológica, mais especificamente a ciência da vida, ao passo que ética (do grego ethos: ética) exprime os valores humanos. Portanto, a bioética pode ser definida como a ciência da vida ou ética da vida, que regula as condutas humanas na esfera da vida e saúde com base nos valores e princípios morais (LUCAS LUCAS, 2002). Ainda na década de 70, outro teórico, mais conhecido como Warren Reich (1978, p. 116), esclareceu que bioética é “ o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e da atenção à saúde, enquanto que esta conduta é examinada à luz dos princípios e valores morais. Segundo o autor, a base de atuação primordial da bioética é a pesquisa e atenção na área da saúde. Nesse aspecto, o esteticista M. Vidal evidencia a concepção apresentada por Reich, apresentando a bioética de modo formal como: “ una rama o subdisciplina del saber ético, del que recibeel estatuto epistemológico básico y com el que mantiene uma relación de dependencia justificadora y orientadora. Los contenidosmaterialesleson proporcionados a la bioética por la realidaddel ‘cuidado de la salud’ y por losdatos de las ‘ciencias de la vida’ como labiología, la medicina, la antropología, la sociología (VIDAL, 1991, p. 303). Portanto, a bioética se estabelece por uma intensa interdisciplinaridade com referência à ciência que trata sobre a vida e saúde. Pouco tempo depois, David J. Roy (1979, p. 59-75), diretor do Centro de Bioética da Universidade de Montreal, anunciou que bioética é “o estudo interdisciplinar do conjunto das condições exigidas para uma administração responsável da vida humana, ou da pessoa humana, tendo em vista os progressos rápidos e complexos do saber e das tecnologias biomédicas” . O pesquisador é um dos autores pioneiros em inserir o avanço das pesquisas tecnológicas em prol da saúde, como propulsor da reflexão ética. Nesse sentido, Pessini e Barchifontaine (2014, p. 205) dispõem que: “ A bioética estuda os avanços recentes da ciência em função, sobretudo, da pessoa humana. A referência central é o ser humano, especialmente considerado em dois momentos básicos: o nas- cimento e a morte. É sobre essas duas fases da vida que hoje a ciência está fazendo seus melhores progressos e, obviamente colocando problemas éticos inimagináveis antes dessas descobertas. Maria Helena Diniz (2010, p. 11) conceitua bioética como “uma vigorosa resposta aos riscos inerentes à prática tecnocientífica e biotecnocientífica”. Por outro lado, Francisco Lima Neto (1997, p. 46) entende que a bioética é o “ramo do saber ético que se ocupa da discussão e conservação de valores morais de respeito à pessoa humana no campo das ciências da vida”. 14 UNICESUMAR Em sentido amplo, a Bioética corresponde ao resultado da ética aos novos contextos da ciência no âmbito da saúde, dedicando-se aos problemas éticos ocasionados pelas tecnologias biomédicas e atinentes à vida e saúde humana. Com essas reflexões, em 1978, o Congresso Americano instituiu uma comissão, denominada National Commission for the Protection of Human Subjects of Biomedicaland Behanvioral Resarch (Comissão Nacional para a proteção dos seres humanos em pesquisas biomédicas e comportamentais) responsável por criar o relatório Belmont, que trouxe em seu bojo, três princípios que possuem como escopo de iluminar a nova caminhada da humanidade (GAMA, 2003). Estes são chamados “trindade bioética”, conhecidos como princípio da beneficência, da autono- mia e da justiça. Entretanto, em meados de 1979, com base na ética katiana, o princípio da não maleficência foi acrescentado ao rol de princípios bioéticos. Apesar de não serem os únicos que guiam a bioética, são os mais importantes, pois são os grandes responsáveis por guiar todas as demais normas jurídicas que tratam do tema (GAMA, 2003). O princípio da beneficência possui suas raízes na instrução da ética de fazer o bem sem esperar por algo em troca, o qual “[...] deita suas raízes no reconhecimento do valor moral do outro, conside- rando-se que maximizar o bem do outro, supõe diminuir o mal” (BARRETO, 1998, p. 31). Dessa forma, requer o entendimento dos envolvidos nas técnicas da saúde e o interesse das pessoas envolvidas nos “tratamentos”, para que o respeito seja considerado e não ocorra danos ao indivíduo. O princípio da beneficência deve ser mentor principal das regras que tentam regulamentar a bioética, a autora Daury Fabriz (2003, p. 108) dispõe: “ O princípio da beneficência deve servir como horizonte para uma normatização jurídica, a fim de que possa ser compreendido em situações específicas, preceituando e assegurando os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa, aos médicos e pacientes, bem como ao Estado. O princípio da autonomia corresponde ao direito de escolha que cada indivíduo possui, ou seja, cada pessoa tem o direito de se autodeterminar. Dessa forma, os profissionais da saúde devem respeitar a vontade do “paciente” ou de seu representante. Pirâmide Principiológica da Bioética REALIDADE AUMENTADA 15 UNIDADE 1 A autonomia traz a ideia de que as pessoas devem ser livres em decidirem o que irão realizar ou se submeter. O vocábulo autonomia deriva do grego Autos (próprio) e Nomos (norma/regra/lei), ou seja, é a autodeterminação, autogoverno que o ser humano possui sobre suas escolhas (MUÑOZ; FORTES, 1998). Na concepção de Dary Fabriz (2003, p. 109) a autonomia proporciona o exercícioda própria auto- nomia, vejamos: “princípio da autonomia justifica-se como princípio democrático, no qual a vontade e o consentimento livres do indivíduo devem constatar como fatores preponderantes, visto que tais elementos ligam-se diretamente ao princípio da dignidade da pessoa humana”. A autonomia se manifesta no consentimento livre e esclarecido, que advém do exercício de sua autonomia, para recusar ou consentir, com diagnósticos, terapias ou procedimentos interventivos que venham afetar sua vida, saúde e integridade física (MUÑOZ; FORTES, 1998). Portanto, respeitar a autonomia inerente de cada ser humano é prezar pela opinião e escolhas, evi- tando, dessa forma, violações ao livre arbítrio de cada indivíduo, a não ser que suas escolhas venham causar prejuízos para si mesmo ou para outrem (BIZATTO, 2003). Por sua vez, o princípio da justiça, criado por Aristóteles, liga-se à ideia de justiça social distributiva, sendo o mais elevado princípio (FABRIZ, 2003). Tem como objetivo regular as condutas dos profissio- nais da área da saúde e os pacientes, com propósito de fornecer os mesmos serviços de saúde a todos os indivíduos, sem concepção de raça, sexo e classe social. Com base nesse princípio, a exigência de proteção prevalece sobre as classes vulneráveis, para que não sejam alvo de pesquisas e ações médicas contra sua vontade. O princípio da não maleficência corresponde dizer que “não devemos infringir mal ou danos a outros, sendo apenas um ponto de partida muito rudimentar como orientação acerca das condições nas quais as ações danosas são proibidas” (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002, p. 45). Portanto, o princípio da não maleficência determina que os profissionais da saúde devem se respon- sabilizar em evitar danos previsíveis. Esse princípio se distingue do princípio da beneficência, pois sua aplicação em prol de garantir sua proteção se estende a todos e não apenas aos profissionais da saúde. 16 UNICESUMAR Entendendo estes quatro princípios, podemos utilizá-los como estratégias para análise e compreen- são de situações do cotidiano que os profissionais da saúde estão submetidos diariamente. Portanto, a relação entre os pacientes e os profissionais da saúde se deve fundamentar na confiança e respeito, para que os primeiros possam determinar suas escolhas e os profissionais possam compreender as escolhas do “paciente”. E é diante desse cenário que a Bioética e a Responsabilidade com a vida humana começa ganhar enfoque. O início da vida humana é um assunto complexo e presente na ciência dos profissionais da saúde. Os contextos científicos e biológicos têm se manifestado em determinar quando se inicia a vida humana, para que a área da saúde saiba quais são seus limites. Sabemos que a vida consiste em um direito protegido em âmbito nacional e internacional. Em âmbito nacional, a vida é tutelada pela Constituição Federal, por meio do art. 5°, vejamos: “Art. 5º: To- dos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)” (BRASIL, 1988). Isto é, define a vida como um direito que não pode sofrer limitações. Em âmbito internacional, porém, as normas que tutelam a vida consistem na Declaração Universal dos Direitos do Homem (BRASIL, 1948) e o Pacto de São José da Costa Rica (BRASIL, 1992). A pri- meira norma revela que todo homem possui o direito à vida, e a segunda dispõe que a vida deve ser assegurada desde o momento da concepção (fecundação do óvulo com sêmen). Antônio Mesquita Galvão (2004) dispõe que, no campo da ciência genética, a vida possui sua gênese no momento da fecundação, que equivale ao momento do encontro do material genético masculino e feminino, por meio das seguintes etapas: célula-ovo, célula-fecundada, pré-embrião, feto e criança. Christian de Paul Barchifontaine (2010, p. 14), de forma didática, traz os cincos posicionamentos diferentes que tentam explicar o início da vida humana, vejamos: “ a) A visão genética, que disciplina que a vida se inicia a partir da fertilização do óvulo pelo esperma- tozóide; b) A visão neurológica, que dispõe que a vida se inicia apenas com a atividade cerebral viável; c) A visão metabólica, que assegura não existir um momento único para a vida ter início; d) A visão embriológica, que defende ser fundamental que a gestação alcance a 3a semana para que a individualização humana seja alcançada, pois até 12 dias após a fecundação existe a possibilidade de divisão de células que podem dar origem a mais um “bebê” e; e) A visão ecológica, que defende a capacidade de sobrevivência extrauterina. Além das teorias apresentadas, existem outras que também possuem o escopo de definir o início da vida humana, como a teoria concepcionista, natalista, a teoria da nidação e a teoria do desenvolvimento do sistema nervoso central. Para a teoria concepcionista, a vida tem seu início no momento da fecundação, que compreende a junção do material genético masculino e feminino. O material genético feminino corresponde ao zigoto que corresponde à primeira célula formada após a fecundação, que possui toda carga genética necessária para formar o novo ser (MARTINS, 2005). 17 UNIDADE 1 Renata Rocha (2008, p. 75) demonstra ainda que: “ A teoria concepcionista, considerando a primeira etapa do desen- volvimento embrionário humano, entende que o embrião possui um estatuto moral semelhante ao de um ser humano adulto, o que equivale a afirmar que a vida humana inicia-se, para os concepcionis- tas, com a fertilização do ovócito secundário pelo espermatozóide. A partir desse evento, o embrião já possui a condição plena de pessoa, compreendendo, essa condição, a complexidade de valores inerentes ao ente em desenvolvimento. A teoria natalista, por sua vez, dispõe que a vida tem início com o advento do nascimento com vida. No qual, o nascituro (criança que está sendo gerada) possui apenas expectativa de vida (PARISE, 2003). Por sua vez, a teoria da nidação define o início da vida no momento da junção do gameta feminino e masculino por meio da fecundação que acontece na trompa de falópio (cavidade que liga os ovários da mulher no útero) proporcionando a concepção, que será responsável por fixar o óvulo no útero materno, iniciando-se a vida (DOURADO, 2009 apud SILVA, 2010). 18 UNICESUMAR A última teoria que tenta explicar o início da vida humana é a teoria do sistema nervoso central, que determina existir vida apenas no momento em que o cérebro humano estiver formado; para essa teoria, é necessário que existam ligações nervosas para que se tenha vida. Fernanda dos Santos Souza (2009 apud SILVA, 2010, p. 100) dispõe: “ Esta teoria sustenta como principal defensor o biólogo contemporâneo Jaques Monod, prêmio Nobel de Biologia em 1965, o qual defende que, por ser o homem um ser fundamentalmente consciente, não é possível admiti-lo como tal antes do quarto mês de gestação, quando se pode constatar, eletroen- cefalograficamente, a atividade do sistema nervoso central diretamente relacionado à possibilidade de possuir consciência. Por meio das teorias apresentadas, surgem algumas situações em que a vida humana é colocada em risco, como exemplo as técnicas do mundo contemporâneo, como a medicina reprodutiva, transplante de órgãos, pesquisas com células-tronco, eutanásia e aborto. Na área da medicina reprodutiva, os problemas que eles estão inseridos corresponde aos danos que os profissionais de saúde podem gerar ao embrião por meio das técnicas de reprodução humana assistida. – são meios que possibilitam a gestação em pessoas inférteis/estéreis. Por meio da fertilização in vitro e da injeção de espermatozoides, novas vidas podem ser criadas. A primeira situação corresponde ao uso de um tubo de ensaio, para que o óvulo seja fecundado pelo espermatozoide fora do útero materno, que posteriormenteserá implantado na mulher, e a segunda situação corresponde ao processo que injeta os espermatozoides diretamente no óvulo que esteja no corpo da mulher (MORAES, 2019). As consequências que essas técnicas podem gerar são os problemas de saúde nas pessoas nascidas por meio dessas modalidades. Um estudo coordenado pela Universidade Norueguesa declarou que as técnicas de reprodução humana assistida são capazes de desencadear doenças como leucemia nos indivíduos nascidos por meio dessas técnicas (MORAES, 2019). O transplante de órgãos lida com valores fundamentais da vida humana. A evolução da medicina trouxe mudanças significativas a ponto de solucionar problemas relacionados à vida e à morte. Con- tudo, os profissionais da saúde, precisam procurar respostas jurídicas e eticamente aceitas para essas evoluções do progresso científico. A norma legal que regulamenta o transplante de órgão é estabelecida por meio do Decreto n° 9.175/2017, que, entre suas maiores inovações, traz a necessidade de comprovação da morte encefálica que só poderá ser comprovada por meio de médico que seja “especificamente qualificado”, não podendo ser médicos integrantes das equipes de transplante (BRASIL, 2017). Essa conduta de precaução quanto à capacidade médica e sua restrição ao envolvimento com equipes de procedimentos de transplante mostra a preocupação da lei em objetivar um procedimento seguro, que não terá interesses particulares envolvidos, para que seja bioeticamente respeitadas todas as fases do transplante de órgão e, consequentemente, os indivíduos envolvidos. 19 UNIDADE 1 O princípio da autodeterminação também é apresentado nas situações que envolvam o transplante de órgãos, uma vez que a autonomia da vontade do doador deve ser respeitada; em caso que o doador esteja sem vida e não tenha expressado sua vontade, é a família que terá o direito de determinar em positivamente ou negativamente a doação. Portanto, o médico deve ter certeza da vontade do “paciente” ou da “família”, pois caso seja feita a doação e o doador, na situação de estar vivo, venha falecer, serão responsabilizados o médico e sua equipe, tanto na esfera civil quanto penal. Contudo, é necessário que seja comprovado a ausência de consentimentos do doador (DALVI, 2008). Quanto às células-tronco embrionárias, os maiores problemas que surgem diante das pesquisas realizadas são o conflito existente entre o início da vida humana e a liberdade das pesquisas com esse tipo de material genético. A ética e, principalmente, a bioética devem permear os pesquisadores e, sobretudo, os profissionais de saúde que irão lidar com os problemas do cotidiano que envolvam os limites de manipulações genéticas. A Lei n° 11.105/2005 é responsável por disciplinar a pesquisa com células-tronco e por meio do art. 5° é disposto: “ Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam embriões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. § 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. § 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa. § 3º É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. Como analisado, é permitido, com algumas observações, o uso e pesquisas com células-tronco. No entanto, Maria Helena Diniz (2005, p. 10) argumenta que a utilização de células-embrionárias para o fim de pesquisas é conduta que “viola o direito à vida e o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana, consagrados constitucionalmente” . Pois se o material genético da pesquisa advém de embriões, e eles são considerados vida, a violação se torna perceptível e a máxima da bioética é vislumbrada, no qual não se deve praticar condutas que gerem danos ao ser humano. Por sua vez, em âmbito da eutanásia, ela é considerada como abreviação da vida de um paciente que se encontra em estado de dores e intoleráveis sofrimentos físicos ou psíquicos. O termo Eutanásia vem do grego eu + thanatos, boa morte, sendo utilizada pela primeira vez, em meados do século II d.C., para descrever a morte tranquila do Imperador Augusto (BRANDÃO, 2007). 20 UNICESUMAR Em âmbito nacional, a prática da eutanásia é proibida e enquadrada como crime de homicídio ou auxílio ao suicídio na situação que o paciente solicitar ajuda para findar com sua vida. O Código de Ética Médica dispõe sobre a vedação da prática da eutanásia, vejamos: “ Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, le- vando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal (BRASIL, 1988). Não há dúvidas que o tema é complexo e que envolve valores morais e éticos, desse modo, a prática da eutanásia por profissionais é conduta antiética e proibida expressamente no ordenamento jurí- dico brasileiro. Por fim, o aborto é outra prática que gera consequências aos profissionais da saúde que praticarem o ato. Julio Fabbrini Mirabete (1986) disciplina que o aborto consiste na interrupção da gravidez, com a destruição do produto da concepção. A legislação penal que criminaliza as práticas de aborto está prevista no Código Penal, por meio do art. 124 ao art. 128. Os art. 125 e 126 dispõe sobre o terceiro provocar o aborto na gestante, e é neste cenário que os profissionais da saúde ganham destaque. “ Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência (BRASIL, 1940). Além dessas hipóteses de crime com suas determinadas penas, o art. 127 traduz uma consequência ainda maior, que corresponde ao aborto praticado na forma qualificada: “ Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em con- sequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte (BRASIL, 1940). No entanto, na hipótese de aborto necessário ou em caso de gravidez resultante de estupro, a mesma norma legal não criminaliza a conduta, vejamos: 21 UNIDADE 1 “ Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal (BRASIL, 1940). Portanto, além de ferir o direito à vida e os próprios princípios da bioética, a prática do aborto gera consequências criminais aos profissionais que praticam o crime. Assim, diante do contexto de inúmeras teorias que tentam definir o início da vida humana, é importante destacar que ela possui respaldo legal e moral para que seja respeitada, desde sua menor manifestação, seja em fase embrionária ou pessoa já nascida. Esse respeito pautado nos princípios da bioética será capaz de garantira aplicação da dignidade da pessoa humana em qualquer situação que o profissional da saúde estiver envolvido. Dessa forma, a dignidade humana é vista como princípio comum da Bioética e da Saúde, pois, ao defrontar-se com os temas da ética, a dignidade da pessoa humana é o princípio maior de todo sistema de proteção ao ser humano (PERELMAN, 1996). Suas raízes fundamentam-se nos cernes da filosofia, que afirma ser um atributo intrínseco e insígnia de cada ser humano, que potencializa a proteção do homem de não sofrer qualquer tipo de violação que venha lhe causar danos. Com a era do Iluminismo, a dignidade humana ganhou brilho por ser defendida categoricamente por Immanuel Kant. O filósofo dispõe que o homem se constitui por ser racional, capaz de regular-se por meio de leis que a si mesmo impõe. Essa imposição gera o dever e, por meio dele, nasce uma lei universal, que, por meio da ética e razão, o ser humano irá regular a si e a convivência com seu próximo, tratando o outro sempre como fim e nunca como meio (KANT, 2004). O princípio da dignidade da pessoa humana, mais do que exercer papel fundamental na aplica- ção de procedimentos de saúde e beleza, subsiste como alicerce da República Federativa Brasileira e fundamento do Estado Democrático de Direito. Portanto, “a legislação elaborada pela razão prática, a vigorar no mundo social, deve levar em conta, como sua finalidade suprema, a realização do valor intrínseco da dignidade da pessoa” (MORAES, 2003, p. 81). 22 UNICESUMAR O Brasil, por meio do art.1°, III da Constituição Federal, estabeleceu o Estado Democrático de Direi- to, fundamentado no princípio da Dignidade da Pessoa Humana e o elegeu como centro dos demais direitos fundamentais (SARLET, 2001). Zulmar Fachin leciona que “os direitos fundamentais [...] são direitos que valem em todos os lugares, em todos os tempos e são aplicáveis à todas as pessoas” (FACHIN, 2008, p. 212). Luiz Edson Fachin argumenta que a dignidade da pessoa humana pertence ao “ [...] princípio estruturante, constitutivo e indicativo das idéias diretivas básicas de toda ordem cons- titucional. Tal princípio ganha concretização por meio de outros princípio e regras constitucionais formando um sistema interno harmônico, e afasta de pronto, a ideia de predomínio do individualismo atomista do Direito. Aplica-se como leme a todos o ordenamento jurídico nacional compondo-lhe o sentido e fulminando de inconstitucionalidade todo preceito que com ele conflitar. É de um princípio emancipatório que se trata (FACHIN, 2006, p. 180). A aplicação das tecnologias da saúde pode representar reais possibilidades de afronta à tutela do ser humano, caso se proceda de modo arbitrário. Assim, é necessário o amplo respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, essencialmente por parte dos profissionais da saúde, que lidam com vidas em todos seus atos profissionais. Conforme esse entendimento, Cleber Alves (2001, p. 118) argumenta: “ A questão da proteção e defesa da dignidade da pessoa humana e dos direitos da personalidade, no âmbito jurídico, alcança uma importância proeminente neste final de século, notadamente em virtude dos avanços tecnológicos e científicos experimentados pela humanidade, que potencializam de forma intensa riscos e danos a que podem estar sujeitos os indivíduos, na sua vida cotidiana. O campo de aplicação do mencionado princípio é o eixo condutor das práticas humanas, principal- mente quando essas podem interferir na vida humana e na saúde. As tecnologias da saúde, como é o caso dos procedimentos estéticos, devem submissão ao princípio estruturante das condutas humanas. Por meio da 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986, foram estabelecidas normas condutoras para a Constituição Federal de 1988, dispondo do direito à saúde para todo cidadão. Segundo a referida conferência, por meio do seu item “3 ” Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação de saúde, em todos os seus níveis (...)” (BRASIL, 1986), é evidente que o direito à saúde não está atrelado apenas a doenças, mas também à plenitude do ser humano. O direito à saúde, assim como a dignidade da pessoa humana, constitui-se como direito fundamental previsto na Constituição Federal de 1988. Qualquer pessoa, independentemente de sua cor, sexo e raça, possui o direito ao acesso aos serviços de saúde que o Estado e as tecnologias médicas podem ofertar. No âmbito da bioética, o princípio da dignidade da pessoa humana e o direito ao acesso dos meios de saúde constituem-se como vetor legitimador do conteúdo de valores indispensáveis ao ser humano. 23 UNIDADE 1 A noção de dignidade da pessoa humana assevera os princípios cuja observância é indispensável no campo da estética, podologia e terapias integrativas e complementares, que correspondem às bio- tecnologias aplicadas à vida, que necessitam de limites por meio dos princípios da bioética, a fim de proteger o ser humano. Tendo em vista os novos questionamentos advindos pelos avanços da ciência que, profundamente, supera o campo interno dos estados, a contemplar toda a humanidade, a dignidade da pessoa humana deve ser compreendida como o “núcleo moral, político e jurídico do estado democrático de direi- to”(BARRETO, 2001, p. 222). A ideia de dignidade da pessoa humana possui conteúdo tão amplo que permite englobar todas as ações em prol do ser humano, principalmente aquelas que lidam diretamente com a vida e saúde humana, como é o caso da estética, podologia e terapias integrativas e complementares, exigindo a proibição de práticas que violem o corpo humano, como o exemplo de aplicação de substâncias não permitidas ao esteticista, a exemplo do silicone. Pois, “as coisas têm preço; as pessoas, dignidade. O valor moral se encontra infinitamente acima do valor de mercadoria, porque, [...] não admite ser substituído pelo equivalente” (MORAES, 2003, p. 81). A dignidade é um valor, uma fonte, aos profissionais da estética, podologia e terapias integrativas e complementares que, em conjunto com bioética, é capaz de proteger os pacientes submetidos aos procedimentos de saúde e nortear os profissionais que manuseiam as técnicas da beleza. Isso porque é responsabilidade de todos os profissionais que atuam no segmento da saúde, seja em prol da beleza ou outra intervenção humana, garantir o direito do paciente de ter acesso às técnicas que geram proteção à saúde de qualidade por um preço justo. E isso só, possível se todos os envolvidos estiverem respaldados pela ética e moral, encontradas na bioética. Neste podcast, você poderá aprofundar seus conhecimentos sobre fatos importantes da Bioética e sanar suas principais curio- sidades sobre o assunto. Confira! BETIOLI, A. B. Bioética, a ética da vida: (onze temas). São Paulo: LTr, 2013. Ao longo desta unidade, você aprendeu que a Bioética possui papel funda- mental quando o assunto é a vida humana. Agora você poderá aprofundar seus conhecimentos em prol dos problemas éticos no campo da vida e saúde humana. Neste livro, você poderá encontrar mais exemplos de si- tuações que a bioética possui efetividade para resolver, como exemplo da manipulação do genoma humano, o uso das células-tronco para pesquisa e outros meios que o homem vem intervindo na vida dos seres humanos. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2765 24 UNICESUMAR O Sistema jurídico brasileiro passa por constantes modificações. As mudanças ocorridas no contexto científico, principalmente no aspecto da estética, podologia e terapias integrativas e complementares, devem acompanhar todas essas modificações que envolvem a vida e saúde dos indivíduos envolvidos em algum procedimento advindo dessas áreas, sendo imprescindível o uso da dignidade humana como fator limitador das intervenções nos seres humanos e os próprios princípios da bioética que norteiam as condutas em prol da vida humana. Aqui, vimosos problemas atuais a que a bioética é submetida, como exemplo de manipulações genéticas e da eutanásia. Portanto, após essa imersão de conhecimento, você está apto a solucionar as problemáticas advindas do exercício de sua profissão no campo da saúde e bem-estar. Imagine comigo, você, como profissional habilitado com todos seus conhecimentos em dia e com vasta habilidade profissional, está diante de um paciente/cliente que possui uma depressão profunda, advinda de um histórico familiar. No entanto, você percebe que não detém habilidade técnica para sanar com a problemática de seu paciente. Neste sentido, qual será a melhor atitude a ser tomada por você, diante de tal situação? Sabemos que os princípios da bioética são capazes de lhe ajudar para encontrar a solução para essa problemática. O que pode ser feito? Qual será sua fundamentação para sua decisão? Em caso de atendimento ao paciente/cliente, você estará exercendo de forma literal todo conhecimento adquirido nesta unidade? Já que você não pode oferecer o tratamento para depressão profunda, qual sugestão você daria ao seu paciente/cliente? E, em caso de atendimento, mesmo sem habilidade técnica, quais as consequências dessa conduta? Com base nos princípios da bioética, na sua atitude de tentar contribuir para cura dessa pessoa, você não está agindo de acordo com esses princípios, pois, a partir do momento em que você não possui habilidade técnica para tanto, automaticamente, o princípio da não maleficência não está sendo aplica- do no caso relatado, pois ele tem como objetivo não ocasionar prejuízos ou danos aos seres humanos. Bom, nossa primeira unidade chegou ao fim e é preciso resgatar a ideia central aqui estudada que refletirá no conhecimento de todo este material. Para tanto, trago uma proposta que deve ser realizada com afinco para a fixação do conteúdo. No espaço reservado em seu livro, você deverá criar um mapa mental com base nas palavras-chave a seguir: 25 M A P A M EN TA L Fonte: a autora. Por meio das palavras expostas, monte um mapa mental com uso de flechas indicativas, relacionando o tema e explicando cada caraterística da bioética. Bons estudos! ORIGEM CONCEITO PRINCÍPIOS APLICABILIDADE BIOÉTICA A G O R A É C O M V O C Ê 26 1. A Bioética consiste em um ramo que possui o objetivo de fornecer respostas éticas aos profis- sionais da saúde que lidam com a vida humana. Nesse sentido, assinale a alternativa que defina a bioética e demonstre qual sua aplicabilidade. a) A bioética é apresentada como uma resposta às demandas sociais, marcadas pelo surgimento dos processos científicos, que apresentam, a cada novo passo, possibilidades de manipulações no homem. A Bioética é a área do conhecimento responsável por atestar os delineamentos éticos em torno dos procedimentos biológicos e médicos, incluindo os procedimentos estéticos, que se associam com a vida. b) A bioética é apresentada apenas como as respostas às demandas que envolvam a vida dos seres humanos. Os animais e vegetais não fazem parte da bioética. c) A bioética é tida como o ramo da ciência que se preocupa apenas com a vida das pessoas aco- metidas por doenças ou moléstias, advindas da manipulação genética. d) A bioética é apresentada como a resposta às demandas sociais, marcadas pelo surgimento de processo mecanizados, que representam, a cada novo ano, inúmeras possibilidades de inter- venção no homem. e) A bioética nada tem a ver com o ser humano, é apenas um ramo de limites éticos para nortear a atuação do profissional da saúde. 2. A bioética apresenta uma grande evolução na sociedade e foi por meio de muitas pesquisas de grandes profissionais que surgiram os princípios que norteiam a bioética. Nesse sentido, assinale a alternativa que contemple os princípios da bioética. a) Esses princípios são conhecidos como princípio da beneficência, da autonomia, da justiça e da não maleficência. b) Os princípios da bioética são conhecidos como a dignidade da pessoa humana e justiça. c) A bioética não possui princípios objetivos, pois todos os princípios são capazes de nortear a conduta do ser humano. d) A bioética possui apenas três princípios bases, sendo que nunca foi incluído um quarto princípio ao rol dos mais importantes na evolução da bioética. e) Os princípios da bioética são conhecidos como autonomia, justiça e bem-estar. A G O R A É C O M V O C Ê 27 3. A dignidade da pessoa humana é consagrada na Constituição Federal de 1988 como fundamento da República Federativa do Brasil. Contudo, esse princípio também é disposto em outras nor- mas legais e estatutos que servem para regular e nortear as condutas humanas. Nesse sentido, assinale a alternativa que melhor defina a função do princípio da dignidade da pessoa humana. a) A dignidade da pessoa humana possui apenas a função principiológica que não pode ser aplicada na realidade. b) A dignidade da pessoa humana possui a mais nobre das funções, que representa a proteção do profissional que lida com a vida humana. c) A dignidade da pessoa humana é o princípio maior de todo sistema de proteção ao ser humano,- sendo atributo intrínseco e insígnia de cada ser humano, que potencializa a proteção do homem de não sofrer qualquer tipo de violação que venha lhe causar danos. d) A dignidade da pessoa humana é o princípio maior de todo sistema de proteção ao ser humano e possui como atributo a não proteção dos indivíduos, para que eles possam exercer seu livre arbítrio. e) A dignidade da pessoa humana é princípio menor de todos os estados, que potencializa a pro- teção do ser humano de não sofrer qualquer tipo de violação. 4. A Bioética emerge uma reflexão das interações humanas entre sociedade, meios científicos e ambiente, possuindo três funções básicas. Escolha a alternativa que melhor expressa as três funções da bioética. a) Função descritiva é o meio pelo qual irá relatar conflitos e questões; função normativa é o modo que indica condutas consideradas reprováveis ou aprováveis; e função protetora é a maneira pela qual a bioética conduz seus objetivos, mediando os conflitos que surgem e submetendo a ela. b) Função escrita é o meio pelo qual irá relatar conflitos e questões; função paulatina é o modo que indica condutas consideradas reprováveis ou aprováveis; e função protetora é a maneira pela qual a bioética conduz seus objetivos, mediando os conflitos que surgem e submetendo a ela. c) Função descritiva é o meio pelo qual irá relatar conflitos e questões; função normativa é o modo que indica condutas consideradas reprováveis ou aprováveis; função auxiliar é a maneira pela qual a bioética conduz seus objetivos, mediando os conflitos que surgem e submetendo a ela. d) Função descritiva é o modo que indica condutas consideradas reprováveis ou aprováveis; função protetora é a maneira pela qual a bioética conduz seus objetivos, mediando os conflitos que surgem e submetendo a ela. e) Função descritiva é o meio pelo qual irá relatar conflitos e questões; função normativa é a maneira pela qual a bioética conduz seus objetivos, mediando os conflitos que surgem e submetendo a ela; e função protetora é o modo que indica condutas consideradas reprováveis ou aprováveis. A G O R A É C O M V O C Ê 28 5. A Bioética é apresentada como uma resposta às demandas sociais, marcadas pelo surgimento dos processos científicos, que apresentam, a cada novo passo, possibilidades de manipulações no homem. A Bioética é a área do conhecimento responsável por atestar os delineamentos éti- cos em torno dos procedimentos biológicos e médicos, incluindo os procedimentos estéticos, que se associam com a vida. Nesse sentido, assinale a alternativa que dispõe sobre o período de surgimento da bioética. a) Surge no final dos anos 60, sendo concebida como uma velha maneira de se vislumbrar e en- frentar o mundo e a vida a partir da ética. b) Surge na década de 50 por meio de pesquisas científicas, com objetivo de nova maneira dese vislumbrar e enfrentar o mundo e a vida a partir da ética. c) Surge do início dos anos 70, sendo concebida como uma nova maneira de se vislumbrar e enfrentar o mundo e a vida a partir da ética. Especificamente, o termo Bioética é usado pela primeira vez pelo oncologista norte-americano Van Rensselaer Potter, no seu livro Bioethics: Bridge to the Future. d) Nasce nos anos 80, sendo concebida como maneira de se vislumbrar e enfrentar o mundo e a vida a partir da ética. e) Nasce do início dos anos 70, sendo concebida como uma nova maneira de se vislumbrar e enfrentar o mundo e a vida a partir do direito. Especificamente, o termo Bioética é usado pela segunda vez pelo oncologista norte-americano Van Rensselaer Potter, no seu livro Bioethics: Bridge to the Future. A G O R A É C O M V O C Ê 29 6. Imagine a seguinte situação: você recebe em sua clínica um paciente que apresenta algumas manchas em sua face e procura você, como profissional da saúde e bem-estar, para solucionar o problema. Durante a anamnese desse paciente, você detecta que ele apresenta queimaduras advinda do uso de ácido. Nessa ocasião, você receita medicamento alopático para solução do problema desse indivíduo. Nesse sentido, após estudo do conteúdo, assinale a resposta correta que apresente qual deveria ser sua conduta diante da atitude de indicação do medicamento. a) Como profissional da estética, podologia e terapias integrativas e complementares, você pode realizar procedimentos que visem a indicação de medicamentos alopáticos, pois tal conduta está relacionada às suas competências profissionais. b) Como profissional da estética, podologia e terapias integrativas e complementares, você não pode realizar procedimentos que visem a indicação de medicamentos alopáticos, pois tal conduta não está relacionada às suas competências profissionais. Por meio dos princípios da vontade, você deve agir com base na ética. c) Como profissional da estética, podologia e terapias integrativas e complementares, você não pode realizar procedimentos que visem a indicação de medicamentos alopáticos, pois tal conduta não está relacionada às suas competências profissionais. Por meio dos princípios da ética, você deve agir conforme a vontade de seu cliente. d) Como profissional da estética, podologia e terapias integrativas e complementares, você não pode realizar procedimentos que visem a indicação de medicamentos alopáticos, pois tal conduta não está relacionada as suas competências profissionais. Por meio dos princípios da beneficência e não maleficência, deve agir com base na ética para que haja respeito ao paciente e não ocorra danos a ele e, por meio da não-maleficência, deve agir de forma irresponsável por seus atos a fim de evitar previsíveis danos. e) Como profissional da estética, podologia e terapias integrativas e complementares, você não pode realizar procedimentos que visem a indicação de medicamentos alopáticos, pois tal conduta não está relacionada às suas competências profissionais. Por meio dos princípios da beneficência e não-maleficência, deve agir com base na ética para que haja respeito ao paciente e não ocorra danos a ele e, por meio da não-maleficência, deve agir de forma a se responsabilizar por seus atos a fim de evitar previsíveis danos. A G O R A É C O M V O C Ê 30 7. Em sua clínica, um paciente relata que vem sofrendo de uma determinada patologia. Você, ao realizar a análise no cliente, indica determinado tratamento. No entanto, seu cliente não deseja ser submetido ao tratamento indicado. Nesse sentido, escolha a alternativa que expresse a me- lhor conduta a ser tomada diante da situação apresentada. a) A melhor conduta consiste no respeito à vontade individual de cada paciente ou cliente, mesmo que ele deseje realizar procedimentos que possam ferir sua integridade física. b) O profissional deve, de qualquer forma, realizar sua vontade em situações que chegam até suas clínicas, pois é ele o detentor de todo conhecimento técnico e responsável. c) A conduta correta a ser tomada é aquela que o profissional tomar, pois é ele quem sabe o me- lhor para seu cliente. d) A conduta correta a ser tomada encontra resposta no princípio da autonomia, ou seja, a von- tade do paciente, nesse caso, deve ser respeitada. E em caso de realização do procedimento, a dignidade da pessoa humana do paciente estará obviamente sendo ferida. e) A conduta correta a ser tomada encontra resposta no princípio da determinação, ou seja, a vontade do paciente nesse caso deve ser respeitada. C O N FI R A S U A S R ES P O ST A S 31 1. a. A bioética possui um dos papéis mais importantes entre as ciências que tratam da vida e saúde dos seres humanos, pois é por meio de seus princípios que os profissionais conseguem se nortearem para uma boa prática em prol de cada indivíduo. 2. a. A bioética é apresentada por meio de alguns princípios eficazes para amenizar violações e danos contra os seres humanos. Entre esses princípios, temos: da beneficência, da autonomia, da justiça e da não-ma- leficência. 3. c. a principal função da dignidade da pessoa humana é de proteger o ser humano contra violações que lhe causem dor e sofrimento. 4. a. Ao se falar em bioética, algumas funções são apresentadas como forma de viabilizar a proteção do ser humano e, entre essas funções, temos as citadas nessa afirmativa. 5. c. Os primeiros estudos sobre bioética possuem sua gênese nos anos 70, por meio do médico Van Rensse- laer Potter, que criou uma obra com o título: Bioethics: Bridge to the Future, para discorrer sobre o assunto. 6. e. Os profissionais de estética, podologia e terapias integrativas e complementares só podem prescrever medicamentos de natureza homeopáticos. 7. d. Conforme o princípio da autonomia, o paciente tem o direito de ter sua vontade respeitada, desde que seja condizente com o princípio da dignidade da pessoa humana. R EF ER ÊN C IA S 32 ALVES, C. F. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: o enfoque da doutrina social da igreja. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. BARCHIFONTAINE, C. de P. Bioética e início da vida. Dignidade da vida humana. São Paulo: LTr, 2010. BARRETO, V. P. As relações da bioética com o biodireito. In: BARRETO, V. de P.; BARBOZA, H. H. (org). Temas de biodireito e bioética. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. BARRETO, V. P. Bioética, biodireito e direitos humanos. Ethica Cadernos Acadêmico, Rio de Janeiro, n. 1, v. 5, p. 31, 1998. BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS J. F. Princípios de bioética médica. São Paulo: Loyola, 2002. BIZATTO, J. I. Eutanásia e responsabilidade médica. São Paulo: Editora de Direito, 2003. BRANDÃO, J. L. Páginas de Suetónio: a morte de Augusto ou o “mimo da vida”. Boletim de estudos clássicos. Coimbra, v. 59, 2007. BRASIL. 8ª Conferência Nacional de Saúde - Relatório Final. 1986. Disponível em: http://portal.saude.gov. br/portal/arquivos/pdf/8_CNS_Relatorio%20Final.pdf. Acesso em: 23 mar. 2020. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Código de Ética Médica. Resolução CFM nº 1.246/88. Rio de Janeiro: CFM, 1988. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 23 mar. 2020. BRASIL. Decreto n.º 678, de 06 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) de 22 de novembro de 1969. Brasília: Presidência da República, 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm. Acesso em: 23 mar. 2020. BRASIL. Decreto nº 9.175, de 18 de outubro de 2017. Regulamenta a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, para tratar da disposição de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano para fins de transplante e trata- mento. Brasília: Presidência da República, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2017/Decreto/D9175.htm.Acesso em: 16 abr. 2020. BRASIL. Lei n° 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Presidência da República, 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-lei/Del2848compilado.htm. Acesso em: 02 jan. 2020. BRASIL. Lei n°. 11.105, de 24 março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1º do art. 225 da Cons- tituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacio- nal de Biossegurança – PNB, revoga a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória nº 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5º , 6º , 7º , 8º , 9º , 10 e 16 da Lei nº 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm. Acesso em: 02 abr. 2020. BRASIL. Resolução 2.168/2017 do Conselho Federal de Medicina. Adota as normas éticas para a utilização http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9175.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9175.htm R EF ER ÊN C IA S 33 das técnicas de reprodução assistida - sempre em defesa do aperfeiçoamento das práticas e da observância aos princípios éticos e bioéticos que ajudam a trazer maior segurança e eficácia a tratamentos e procedimentos mé- dicos -, tornando-se o dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos brasileiros e revogando a Resolução CFM nº 2.121, publicada no DOU. de 24 de setembro de 2015, Seção I, p. 117. 2017. Disponível em: https://www. normasbrasil.com.br/norma/resolucao-2168-2017_352362.html. Acesso em: 02 abr. 2020. DALVI, L. Curso avançado de biodireito: doutrina, legislação e jurisprudência. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. DINIZ, M. H. Código Civil anotado. 11. ed. rev., aum. e atualizada de acordo com o novo Código Civil (Lei n° 10.406, de 10.01.2002). 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A biossegurança, como já foi visto em outras disciplinas, consiste em um conjunto de procedimentos que visa não apenas abordar as normas e pontuar os equipamentos de proteção, mas também desempenha um papel fundamental na importância da preservação da saúde dos seres humanos por meio da ética profissional. 38 UNICESUMAR Você já sabe que, como futuro profissional da saúde, estará sujeito a adquirir e transmitir doenças oriundas de agentes infecciosos! Pois, algumas práticas de seu dia a dia são envoltas por vírus, bactérias, fungos e protozoários, o que é normal ao se falar em procedimentos que envolvam saúde e bem-estar. O campo da atuação do profissional da saúde ou mesmo da beleza vem crescendo de forma ace- lerada nas últimas décadas, e você, como futuro profissional dessa área, deve conhecer os riscos a que estará exposto em sua profissão. Esses riscos podem advir de vários fatores, como físicos, químicos, e biológicos, que podem intervir em sua vida e saúde, bem como de seus pacientes. No entanto, esses riscos podem ser eliminados por meio do uso da ética profissional e das normas de biossegurança. Os profissionais do bem-estar são expostos aos mais diversos tipos de agentes causadores de doen- ças. É possível adquirir doenças apenas pelo toque por meio das mãos. No entanto, como forma de diminuir os riscos à saúde, tanto do profissional quanto do cliente/paciente, as normas de segurança surgiram para nortear as condutas responsáveis a fim de evitar a proliferação de moléstias. É impor- tante, porém, que você, antes de compreender quais são os meios eficazes para combater a transmissão de anomalias, haja de forma ética e responsável, pois essa atitude corresponde ao primeiro passo na prevenção de doenças. 39 UNIDADE 2 Imagine a seguinte situação: um cliente comparece em sua clínica com o diagnóstico de onicomi- cose plantar. Durante a anamnese, a paciente informou que há, aproximadamente, três anos possui uma infecção fúngicano primeiro pododáctilo esquerdo que acredita ser de fundo emocional, pois sempre está deprimida e sua imunidade fica debilitada. Você realizou a avaliação e constatou a pre- sença de onicomicose e onicogrifose na unha relatada, e hiperqueratoses no hálux esquerdo. Como você também é um Terapeuta Integrativo, percebe instabilidade emocional por parte de sua cliente durante a sua anamnese. O procedimento indicado para tratamento consiste na eliminação do onicomicoses, melhoramento da estética podal e ungueal, realização da hidratação da pele, massagens relaxante e aplicação de Reiki. Após alguns meses de tratamento, você consegue o resultado tão esperado pela paciente e, agora, ela possui unhas e pés totalmente livres de anomalias e está mais centrada e feliz. No entanto, alguns dias depois de findado o tratamento da cliente, você apresenta infecção fúngica na unha do dedo indicador da mão direita, resultado dos procedimentos realizados sem o uso de luvas de proteção. Em que isso implicaria? Essa contaminação foi devido à falta de observância às normas de proteção? Além disso, essa situação é capaz de por a vida de outras pessoas em risco? É evidente que, como profissional, você foi imprudente ao realizar todo tratamento de seu cliente sem o uso da luva de proteção, ou seja, a própria biossegurança não foi evidenciada, o que ocasionou seu contágio. Como profissional da saúde e promoção do bem-estar, em todas suas condutas, é necessário agir de forma ética, pautado nas normas de biossegurança, como prevenção de doenças aos seus clientes e para você também. Dessa forma, a ética e as normas de biossegurança são de extrema importância para nortear suas condutas, como forma de proteção de todos os envolvidos. Para ser um bom profissional na área da saúde e bem-estar, é necessário que você tenha noções de ética e de biossegurança para saber lidar com os problemas que surgem no dia a dia. É muito importante investir em conhecimento e se respaldar de cuidado com sua saúde e de seus clientes. Pense nisso: a prevenção é a melhor ferramenta para lidar com as situações que sua profissão irá gerar. E quais mais podem ser essas situações? E formas de pre- venção? Qual você acha que a biossegurança exerce sobre os profissionais da saúde e bem-estar. Como forma de fixação do conteúdo apreendido até o momento, convido você a realizar suas anotações no Diário de Bordo, como forma de reflexão de suas primeiras impressões até o momento. 40 UNICESUMAR Seguindo nosso estudo, você sabe o que é ética? A palavra ética vem do grego êthos, que significa hábito/costume, e ethos, que possui o sentido morada, abrigo protetor. A ética é a soma de valores e princípios que norteiam o comportamento dos indivíduos entre si. Dessa forma, para o profissional da saúde e bem-estar, corresponde ao uso desses valores e princípios no ambiente de trabalho (BONIS; COSTA, 2009). Compreender o que é a ética empregada na saúde é de extrema importância para qualquer pro- fissional desta área, seja ele o tecnólogo em estética, o podólogo, seja qualquer outro profissional que lida com o bem-estar dos seres humanos. De forma mais específica, a ética na saúde se refere aos princípios éticos que conduzem o com- portamento do profissional ao respeito ao paciente. Os princípios éticos que os profissionais da saúde devem se pautar corresponde ao respeito, prudência, temperança, humildade, honestidade e paciência para um bom relacionamento entre profissional e paciente. O bom profissional da saúde zela por esses princípios e dissemina esses valores, prezando pelo respeito aos seus pacientes. Nair de Souza Motta (1984, p. 67) dispõe que os profissionais devem agir de forma ética para uma harmonização das relações entre eles e seus pacientes, vejamos: “ Ética profissional é conjunto de normas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. E tem como objetivo o relacionamento do profissional com sua clientela e vice-versa, tendo em vista, principalmente a dignidade do homem e o bem estar do contexto sócio- -cultural em que atua sua profissão. No entanto, não é só isso. Ao exercer suas atividades de forma ética, os profissionais devem se pautar pelos padrões de segurança com a finalidade de prevenir riscos, seja nos hospitais, clínicas, ou em salões de beleza. D IÁ R IO D E B O R D O 41 UNIDADE 2 É nesse ponto que a biossegurança vira protagonista, pois além de ditar sobre os cuidados necessá- rios para a prática profissional, também irá respaldar os profissionais por meio da ética. Logo, a ética e biossegurança são fatores importantíssimos para proteção do indivíduo e para manutenção da própria dignidade humana (BONIS; COSTA, 2009). Confira as dicas a seguir para que você, como futuro provedor do bem-estar possa, praticar condutas éticas na saúde e conseguir colocá-las em prática em sua profissão, para agir de forma digna e respeitosa com seus pa- cientes. A primeira dica essencial é ter cuidado na relação com o paciente: é importante que você exerça sua profissão com base no cui- dado, seja quanto às técnicas utilizadas nos procedimentos, como forma de garantir o bem-estar do paciente, mas também agir de forma cautelosa quanto à aproximação emocional. Quando se fala em procedimentos e condutas que intervêm de forma direta ou indireta na vida, saúde e integridade do ser humano, é preciso que haja uma clara separação entre sentimentos de amizade ou afeto, para que se tenha uma relação profissional de qualidade. A segunda dica corresponde ao respeito necessário à equipe multidisciplinar: é de grande valia que os profissionais, seja em qualquer procedimento que forem realizar, prezem pela harmonia com os demais membros da equipe. É necessário valorizar o trabalho de todos e, na existência de qualquer problema, é importante que seja discutido entre a equipe, antes de qualquer parecer ao paciente. Por outro lado, a terceira dica está no respeito às normas internas e externas: a maioria das atividades que envolvem a vida e bem-estar humano possui associações, códigos e estatutos, com a finalidade de regular as práticas e condutas que interferem no ser humano e, de outro lado, defender e proteger os direitos dos profissionais. Portanto, é necessário respeitar todas as normas e regras que giram em prol dos estabelecimentos clínicos e hospitalares e outros espaços que lidam com a saúde. Por sua vez, a quarta dica compreende o uso responsável das mídias sociais. Você deve estar se perguntando: o que tem a ver mídias sociais com ética na saúde? Pois é, a tecnologia está presente em todas as esferas da vida, até mesmo nos procedimentos do bem-estar humano que envolvam saúde. No entanto, essa tecnologia traz alguns problemas, a exemplo na divulgação de promessas de resultados e até mesmo de fotos que não compreendam a realidade, apenas como forma de captação de pacientes. Por fim, a quinta dica que será abordada de forma mais completa mais adiante é a preservação do sigilo do paciente. Essa conduta é um princípio ético inegociável, mesmo que seja em situações que o profissional apenas deseja demonstrar resultados como forma de estímulo a outros pacientes. É necessário que o sigilo seja preservado e que você, como profissional da saúde, tome os cuidados necessários para não divulgar qualquer informação que sejam provenientes de procedimentos reali- zados em seus pacientes. 42 UNICESUMAR Por meio dessas dicas simples, você, futuro profissional da saúde, estará pronto para atuar de forma mais ética em qualquer atividade relacionada à saúde e bem-estar do seres humanos. Além disso, os princípios da bioética e da dignidade da pessoa humana estarão sendo preservados. Gostou das dicas? Então, convido você a mergulhar na Bioética e Biossegurança para os profissio- nais da saúde. A biossegurança está presente no dia a dia de qualquer profissional da saúde e possui um significado muito amplo, que abarca conhecimentos de diversos
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