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DIREITO FINANCEIRO

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1 
CURSO MEGE 
 
Site para cadastro: www.mege.com.br 
Celular/Whatsapp: (99) 982622200 (Tim) 
Turma: 4ª Turma Regular de Advocacia Pública 
Material: Ponto 1 (Direito Financeiro) 
 
 
 
 
 
 
DIREITO FINANCEIRO 
PONTO 1 
 
 
 
 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ...................................................................................................3 
Finanças públicas na Constituição de 1988. ...................................................................... 4 
DOUTRINA ................................................................................................................................4 
LEGISLAÇÃO E ENUNCIADOS DE SÚMULA ..............................................................................25 
JURISPRUDÊNCIA ....................................................................................................................30 
QUESTÕES PARA RESOLUÇÃO ................................................................................................34 
QUESTÕES COMENTADAS ......................................................................................................34 
Orçamento. Conceito e espécies. Natureza jurídica. Princípios orçamentários. Normas 
gerais de direito financeiro (Lei nº 4.320/1964). Fiscalização e controle interno e externo 
dos orçamentos. ............................................................................................................ 36 
DOUTRINA ..............................................................................................................................36 
LEGISLAÇÃO E ENUNCIADO DE SÚMULAS ..............................................................................81 
JURISPRUDÊNCIA ....................................................................................................................92 
QUESTÕES PARA RESOLUÇÃO ................................................................................................94 
QUESTÕES COMENTADAS ......................................................................................................94 
 
 
 
3 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
(Conforme Edital Mege) 
 
 
 
DIREITO FINANCEIRO 
 
David Pinheiro (prof.davidpinheiro) 
 Advogado da União 
1. Finanças públicas na Constituição de 1988. Orçamento. Conceito e espécies. 
Natureza jurídica. Princípios orçamentários. Normas gerais de direito financeiro (Lei nº 
4.320/1964). Fiscalização e controle interno e externo dos orçamentos. 
https://www.instagram.com/prof.davidpinheiro/
 
 
4 
(conteúdo atualizado em 13-8-2019) 
Finanças públicas na Constituição de 1988. 
 
DOUTRINA 
Direito financeiro 
O Direito Financeiro no Brasil foi objeto de sistematização em 1964, mediante a 
edição da Lei nº 4.320/64, que delimitou o objeto desse ramo do direito, trazendo as 
primeiras normas gerais da matéria. 
Quais os debates anteriores? 
➢ Constituição de 1824: questões atinentes à discriminação de 
rendas e à divisão da arrecadação tributária entre o Governo Geral 
e as Províncias; 
➢ Temas centrais: relacionado com a necessidade de garantir 
receitas aos entes da Federação; 
➢ Melhor obtenção de receitas por parte do Estado: meio de 
viabilizar e assegurar a autonomia política administrativa dos Entes 
políticos. 
Qual o quadro antes da Lei nº 4.320/64? 
Ausência de separação clara e didática entre Direito Financeiro e Direito 
Tributário. Dois anos depois, o Código Tributário Nacional (CTN) foi publicado, deixando-se 
clara a distinção entre: 
➢ Exercício da tributação: Direito Tributário; 
➢ Finanças públicas: Direito Financeiro. 
Seguindo essa linha de garantir autonomia ao Direito Financeiro em relação ao 
Direito Tributário, a CRFB/88 dispôs, em seu artigo 24, I que “compete à União, aos 
Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I – direito tributário, 
financeiro (...)”. 
Quais as fontes do Direito Financeiro? 
Dividem-se em “primárias” (legislação e diplomas normativos que têm vigor de lei 
– inovam no Ordenamento Jurídico) e “secundárias” (demais estatutos regradores da 
conduta humana, porém com normatividade submetida à observância das disposições 
legais, podendo conter preceitos gerais e abstratos ou individuais e concretos – não 
inovam na ordem jurídica). 
 
 
5 
FONTES PRIMÁRIAS 
a) CRFB/88: há inúmeras previsões constitucionais sobre Direito Financeiro (arts. 
70 a 75; 157 a 162; 163; 164; 165 a 169). 
ATENÇÃO! Memorizar tais dispositivos, já que “despencam” em provas. 
b) Leis Complementares: a própria CRFB dispõe que, em determinados casos 
sobre Direito Financeiro (arts. 163 e 165, §9º), a matéria submete-se à reserva de lei 
complementar. Com o advento da CRFB/88, tanto o Código Tributário Nacional (Lei nº 
5.172/66) quanto a Lei 4.320/64 foram recepcionados com status de Lei Complementar 
(ADI 1726). Já com a LRF (LC nº 101/2000), a disciplina das finanças públicas passou a ter 
maior controle e transparência. 
ATENÇÃO! Nem todas as matérias de Direito Financeiro reservadas à regulamentação por 
lei complementar foram abarcadas pela LRF e pela Lei 4.320/64. 
Cite-se como exemplo a lei complementar de que trata o art. 165, §9º, I da CF/88 que 
exige a regulamentação da vigência, dos prazos, da elaboração e da organização das leis 
orçamentárias. Enquanto não regulamentada a matéria, devem ser aplicados os prazos de 
vigência contidos no art. 35 do ADCT. 
c) Leis Ordinárias: os seus principais exemplos são a Lei do Plano Plurianual (PPA), 
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei Orçamentária Anual (LOA). 
d) Leis Delegadas: tais instrumentos normativos são de pouca valia e incidência na 
atividade financeira do Estado, tendo em vista as seguintes vedações constitucionais: 
➢ Art. 68, § 1º, caput: proíbe a edição de leis delegadas sobre 
matérias reservadas à lei complementar; 
➢ Art. 68, § 1º, inciso III: veda a delegação alusiva aos planos 
plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos; 
Logo, considerando que substancial parcela do Direito Financeiro é reservada à lei 
complementar e gira em torno de PPA, LDO e LOA, tem-se que as poucas matérias 
restantes podem, em tese, ser objeto de leis delegadas, desde que, por óbvio, observados 
os impedimentos constitucionais supracitados. 
e) Medida Provisória: a leitura associada do preceito normativo inserido no art. 
62, § 1º, inciso II c/c (combinado com) o art. 62, § 1º, alínea “d”, ambos da CRFB/88, resulta 
na proibição de medidas provisórias sobre matérias reservadas à lei complementar e sobre 
matérias atinentes a PPA, LDO, LOA, créditos adicionais e suplementares, salvo nas 
hipóteses previstas no art. 167 § 3º (para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, 
como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública). 
 
 
6 
Em assim sendo, é forçoso concluir que, por via de regra, não se admite medida 
provisória em sede de Direito Financeiro, exceto em relação ao conteúdo normativo do art. 
167, § 3º da CRFB/88, dantes mencionado, o qual, aliás, traz situações inerentes à edição 
de “crédito extraordinário”. 
ATENÇÃO! ADI 4048 e ADI 4049: Em ambos os julgamentos foi analisada a mesma 
situação fático-jurídica, qual seja: “as medidas provisórias podem ser editadas em toda 
situação de relevância e urgência ou apenas nas estritas hipóteses declinadas no art. 
167, § 3º da CRFB? 
Firmou-se, nas duas ocasiões, a tese de que só serão cabíveis medidas provisórias para as 
situações semelhantes às previstas no art. 167, § 3º da CRFB. Note, aluno MEGE, que a 
tese vitoriosa exarou interpretação conforme a Constituição para aceitar a edição de 
medidas provisória “apenas para atender a despesas imprevisíveis e urgentes”, como as 
(leia-se situações semelhantes) “de guerra, comoção interna ou calamidade pública”. 
FONTES SECUNDÁRIAS 
a) Decretos: como cediço, são atos de competência exclusiva da lavrado chefe do 
Poder Executivo, insuscetíveis de delegação e vocacionados a emprestar fiel execução às 
leis despidas de autoexecutoriedade. Em outras palavras, representam-se por atos 
decorrentes do Poder Regulamentar da Administração Pública, uma vez que tendentes a 
regulamentar uma lei, característica que os posicionam abaixo da lei, portanto, têm 
natureza jurídica de atos infralegais e inaptos a inovar na ordem jurídica. 
ATENÇÃO! Grosso modo, há uma subdivisão em decreto regulamentar (art. 84, IV da 
CRFB) e decreto autônomo (art. 84, VI da CRFB). Levando em conta que este só pode 
tratar de “organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar 
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos” e/ou “extinção de 
funções ou cargos públicos, quando vagos”, não há espaço para se baixar decreto 
autônomo em matéria de Direito Financeiro. Por conseguinte, apenas será cabível o 
decreto regulamentar. 
b) Resoluções: são deliberações advenientes do Congresso Nacional ou, 
isoladamente, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados, que não observam o 
devido processo legislativo (rito para a elaboração de leis), desse modo, por evidente, não 
ostentam natureza jurídica de lei, tampouco são submetidas à sanção presidencial, cuja 
promulgação promana (tem origem) da Mesa da Casa legislativa que as expedir. 
Tais particularidades, no entanto, não retiram a sua importância para o Direito 
Financeiro, notadamente no que tange às Resoluções do Senado Federal, mediante o 
exercício de sua competência privativa para tratar das matérias pormenorizadas no art. 52, 
incisos V, VI, VII, VIII, IX da CRFB. Sublinhe-se, ainda, as Resoluções 42 e 43/Senado Federal 
sobre a regulamentação do limite de endividamento dos Estados e Municípios. 
 
 
7 
Obs.: Para parte da doutrina, as resoluções do Senado Federal são atos normativos 
primários, pois têm fundamento direto na CF/88, não se limitando a regular um outro ato 
normativo primário. No caso das resoluções em matéria de Direito Financeiro, tratam de 
forma direta sobre matérias que a própria CF/88 lhes reservou, em especial referente a 
dívida pública dos entes. Desta forma, seriam formalmente primárias, por estarem inclusas 
no art. 59 da CF/88 e materialmente primárias, por inovarem no ordenamento jurídico. 
c) Atos normativos: são atos infralegais exarados por autoridades administrativas 
para o fito (objetivo) de complementar a lei ou o decreto, conferindo eficácia e adequação 
para as suas unidades administrativas. Não se pode perder de vista, por pertinente, a 
relevância das resoluções dos Tribunais de Contas, já que indicam, dentre outros, boas 
práticas de gestão administrativa, eficiência e transparência dos gastos públicos. 
d) Decisões administrativas: referem-se às decisões dos órgãos de controle 
interno (Controladorias, Procuradorias e afins) e externo (vide a expressiva atuação dos 
Tribunais de Contas neste particular) da Administração Pública. Todas elas servem de 
fontes orientadoras da atuação administrativa. 
e) Decisões judiciais – Judicialização das políticas públicas: é digna de nota a 
afirmação no sentido de que cresce a cada dia, de forma vertiginosa, o fenômeno da 
“judicialização das políticas públicas”, daí decorrendo verdadeira transmutação do 
orçamento aprovado pelo Poder Legislativo, este o qual, repise-se, detém natureza jurídica 
de lei. 
Impende elucidar, no ponto, que a temática subjacente (tema de fundo) é tratada 
rotineiramente no dia a dia dos Advogados Públicos de todas as esferas (federal, estadual, 
distrital e municipal). Não há réstia de dúvida de que o tema é palpitante e merece um 
preciso aprofundamento. 
Mege aprofundando: Judicialização de políticas públicas 
Quais os pressupostos da judicialização das políticas públicas? 
Nos termos do art. 2º da CF/88, são Poderes da União, independentes e 
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Cuida-se, portanto, do 
princípio da separação dos poderes, que, diga-se de passo, ostenta índole de cláusula 
pétrea, a teor da regra insculpida no art. 60, § 4º, III da CRFB. 
Remonta a Montesquieu a lição de que cabe ao Legislativo legislar, Executivo 
executar e Judiciário julgar. Logo, não se pode perder de vista que, tomando como 
exemplo a política pública da saúde, o art. 196 da CRFB prevê que a sua garantida de 
prestação pelo Estado será realizada mediante políticas sociais e econômicas. Desse 
comando normativo, verificam-se duas atuações: (i) a do Legislativo (mediante lei, 
regulamentar a política e emitir autorização orçamentária) (ii) e a do Executivo 
(implementar a política pública de saúde). 
Consequentemente, não se vislumbra (percebe) uma atuação direta e imediata do 
Poder Judiciário neste particular. No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) admite, 
excepcionalmente, a judicialização de políticas públicas, desde que observados os 
 
 
8 
seguintes requisitos (RE 440028/SP): (a) natureza constitucional da política reclamada; (b) 
manifesta omissão estatal ou prestação deficiente (vedação à proteção insuficiente), desde 
que não haja justificativa objetiva e razoável para o inadimplemento; (c) a política pública 
reclamada deve se revestir em direito fundamental. 
O Superior Tribunal de Justiça (STJ), por seu turno, também acolhe a 
“judicialização” e acrescenta um requisito: não houver comprovação objetiva (fática e não 
meramente jurídica) da incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal. 
“ADMINISTRATIVO. CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. 
POSSIBILIDADE EM CASOS EXCEPCIONAIS - DIREITO À SAÚDE. 
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. MANIFESTA NECESSIDADE. 
OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DE TODOS OS ENTES DO PODER PÚBLICO. 
NÃO OPONIBILIDADE DA RESERVA DO POSSÍVEL AO MÍNIMO 
EXISTENCIAL. NÃO HÁ OFENSA À SÚMULA 126/STJ. 1. Não podem 
os direitos sociais ficar condicionados à boa vontade do 
Administrador, sendo de suma importância que o Judiciário atue 
como órgão controlador da atividade administrativa. Seria uma 
distorção pensar que o princípio da separação dos poderes, 
originalmente concebido com o escopo de garantia dos direitos 
fundamentais, pudesse ser utilizado justamente como óbice à 
realização dos direitos sociais, igualmente importantes. 2. 
Tratando-se de direito essencial, incluso no conceito de mínimo 
existencial, inexistirá empecilho jurídico para que o Judiciário 
estabeleça a inclusão de determinada política pública nos planos 
orçamentários do ente político, mormente quando não houver 
comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira da 
pessoa estatal.” (STJ - AgRg no REsp: 1107511 RS 2008/0265338-9, 
Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 
21/11/2013, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 
06/12/2013) 
Noutro vértice, porém, a orientação institucional dos órgãos de representação 
judicial (Procuradorias) é de que a “judicialização das políticas públicas” implica grave 
ofensa ao princípio da harmonia e independência dos poderes (sinônimo do princípio da 
separação dos poderes). 
A propósito disso, segundo o STF, não há direito, valor ou princípio absoluto, 
notadamente em razão do princípio da unidade da constituição (inexistência de hierarquia 
entre princípios constitucionais). Com base nisso, caberá ao Estado formular as “escolhas 
trágicas” fundamentadas no princípio da reserva do possível. 
Aliás, já se disse com acerto que o reconhecimento de que todas as dimensões dos 
direitos fundamentais têm custos públicos empresta especial relevo ao tema da reserva do 
possível, pois a escassez dos recursos faz com que o Poder Público leve a cabo “escolhas 
alocativas”, é dizer: aferindo-se as necessidades públicas, consulta ao interesse público, 
que a formulação de políticas sociais e econômicas voltadas à implementação dos direitos 
sociais devem ser escolhas de quais demandas serão prestadas pelo Estado. Nesse viés é 
que surgem as “escolhas trágicas”, tendo em vista que a escolha da destinação de recursos9 
para uma política e não para a outra leva em consideração o número de cidadãos atingidos 
pela política eleita, a eficácia do serviço a ser prestado, a maximização dos resultados etc. 
Doutrinariamente, importa consignar que CANOTILHO questiona a validade do 
princípio da universalidade para os direitos sociais (p. ex., saúde e educação), porquanto as 
necessidades são infinitas ao passo que os recursos são escassos. 
Quais os conceitos-chave sobre a judicialização das políticas públicas? 
Alguns conceitos foram tratados pela primeira vez (de forma mais aprofundada) 
pelo STF na Suspensão de Tutela Antecipada 175 e pela doutrina nacional na 
consubstancial obra de Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco (in Curso 
de Direito constitucional). Aliás, é nelas que se podem consultar os significados de 
“macrojustiça”, “microjustiça”, “minimum core approach” e “metodologia fuzzy”. Vejamos 
um a um: 
• Macrojustiça: realizada pelo Poder Executivo com fulcro na 
“justiça distributiva”, consiste em típicas opções políticas em vista 
do bem comum, tomando por base a amplitude global da política 
pública e os seus potenciais destinatários. 
• Microjustiça: realizada pelo Poder Judiciário, que está 
vocacionado apenas a solucionar o caso concreto (em regra, 
individual) a partir de sua visão míope da realidade lato sensu da 
política reclamada e à míngua (despida) de aferição acerca do 
prejuízo à política pública como um todo, resultante da efetivação 
dos provimentos judiciais. 
• Minimum core approach: é o mínimo existencial ou 
abordagem do núcleo mínimo, é dizer, trata-se do núcleo essencial 
(portanto, mínimo) que é intangível, devendo-se manter incólume 
(ileso) quando em contraste com a reserva do possível (ratio 
decidendi da ADPF 45). Sem a garantia desse núcleo essencial, 
esvazia-se o conteúdo normativo do direito e há inadimplemento 
do Poder Público no que toca ao respectivo mandamento 
constitucional. 
• Metodologia fuzzy: também conhecida como “fuzzismo”. 
Cuida-se de expressão cunhada por José Joaquim Gomes 
CANOTILHO para criticar o avanço desmedido do ativismo judicial, 
que se imiscuindo (substituindo) ao Poder Executivo, promove a seu 
talante (arbítrio) e de forma míope, a implementação dos direitos 
econômicos, sociais e culturais. Entretanto, tal atuação é marcada 
pela nota da “imprecisão metodológica”, uma vez que os juristas 
não sabem o que fazem e desconhecem os impactos de suas 
decisões no que tange à universalidade da política pública, máxime 
(especialmente) quando abordam complexos problemas dos 
direitos econômicos, sociais e culturais (cf. Metodología ‘Fuzzy’ y 
 
 
10 
‘Camaleones Normativos’ en la Problemática Actual de los Derechos 
Económicos, Sociales y Culturales). 
Quais as premissas do Direito Financeiro? 
Segundo o famoso conceito de orçamento público talhado por Ricardo Lobo 
Torres, sobrelevam-se 2 (dois) pressupostos do Direito Financeiro: 
a) Recursos limitados: é ressabido que as necessidades públicas 
são infinitas, mas os recursos financeiros são escassos. 
Paralelamente a isso, não se pode negar que a satisfação daquelas 
passam pelo gerenciamento destes, visto que toda política social 
tem um custo. A partir dessa constatação, a doutrina germânica 
engendrou (produziu) a teoria da “reserva do possível”. 
Inicialmente, a referida teoria foi importada para o Brasil, sem os 
necessários temperamentos, de modo a conformá-la à realidade 
social brasileira. 
Hodiernamente, um pouco mais amadurecida, a “reserva do possível” continua 
sendo aplicada pelos Tribunais brasileiros, mas, essencialmente, desde que atendidas 
algumas condicionantes impostas pelo STF e pelo STJ, já tratadas em linhas anteriores. 
Relembre-se: 
➢ diante de manifesta omissão estatal ou prestação deficiente, 
deve haver justificativa objetiva e razoável para o inadimplemento 
(STF, RE 440028/SP); 
➢ não esvazie o núcleo intangível do direito fundamental, ou 
seja, desde que reste assegurado o mínimo existencial (STF, ADPF 
45); 
➢ houver comprovação objetiva (fática e não meramente 
jurídica) da incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal. 
(STJ, AgRg no REsp: 1107511-RS, 2ª Turma). 
b) Escolhas trágicas: já suficientemente abordado acima nos 
pressupostos da judicialização das políticas públicas. 
Quais as recentes conclusões do STF na temática “judicialização da saúde”? 
Inicialmente, devemos partir da premissa de que o STF trouxe à colação 2 (duas) 
conclusões alusivas à matéria ao concluir os julgamentos do (i) RE 657718/MG, rel. orig. 
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em 22.5.2019. (RE-
657718) e do (ii) RE 855178 ED/SE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, 
julgamento em 23.5.2019. (RE-855178). 
Por apreço à didática, vejamos, separadamente, cada decisum, com o 
enfrentamento de cada partícula de alicerce: 
(i) RE 657718/MG 
 
 
11 
1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos 
experimentais. 2. A ausência de registro na Agência Nacional de 
Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como regra geral, o 
fornecimento de medicamento por decisão judicial. 3. É possível, 
excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem 
registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em 
apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), 
quando preenchidos três requisitos: (i) a existência de pedido de 
registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos 
órfãos para doenças raras e ultrarraras);(ii) a existência de registro 
do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; 
e (iii) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 
4. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem 
registro na Anvisa deverão necessariamente ser propostas em face 
da União. 
“1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.” 
“Lei do SUS (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990) 
Art. 19-Q. A incorporação, a exclusão ou a alteração pelo SUS de 
novos medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a 
constituição ou a alteração de protocolo clínico ou de diretriz 
terapêutica, são atribuições do Ministério da Saúde, assessorado 
pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. 
(Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) 
 (...) 
§ 2o O relatório da Comissão Nacional de Incorporação de 
tecnologias no SUS levará em consideração, necessariamente: 
(Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) 
I - as evidências científicas sobre a eficácia, a acurácia, a efetividade 
e a segurança do medicamento, produto ou procedimento objeto 
do processo, acatadas pelo órgão competente para o registro ou a 
autorização de uso; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)” 
Como se vê, é de clareza meridiana que a Lei do SUS fundamenta-se na tese das 
evidências científicas, para o fim de direcionar os processos de incorporação, exclusão ou 
alteração de novos medicamentos, logo, nos estritos termos legais, o Estado não pode ser 
obrigado a fornecer medicamentos experimentais, tendo em vista que a ausência de 
“evidências científicas” obsta a sua disponibilização pelo Poder Público. 
Demais disso, o próprio STF ponderou que o registro é meio para garantir 
proteção à saúde pública, atestado de eficácia, segurança e qualidade dos fármacos 
comercializados no País, além de assegurar o devido controle de preços. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12401.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12401.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12401.htm#art1
 
 
12 
Entendeu-se, portanto, que no caso de medicamentos experimentais, sem 
comprovação científica de eficácia e segurança e ainda em fase de pesquisas e testes, não 
há nenhuma hipótese em que o Poder Judiciário possa obrigar o Estado a fornecê-los. Isso 
não interfere, porém, com a dispensação desses fármacos no âmbito de programas de 
testes clínicos,acesso expandido ou de uso compassivo, sempre nos termos da 
regulamentação aplicável. 
“2. A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) 
impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial.” 
Consoante descrito em linhas anteriores, a regra geral emana da norma insculpida 
no art. 19-Q, § 2º, inciso I da Lei do SUS, segundo a qual, repita-se, adota a tese das 
evidências científicas. 
Ocorre que não se pode perder de vista que inexiste regra, direito ou princípio 
absoluto, razão pela qual – muito embora se admita que a citada regra abrange a maioria 
das situações – tem-se, por certo, que existem algumas situações-limite, que dada a sua 
excepcionalidade intrínseca, a aplicação da encimada regra legal resultaria em verdadeira 
extirpação do direito à saúde e, quiçá, à vida do indivíduo. Assim, para tais situações 
excepcionais, a jurisprudência do STF, ancorada no “ativismo judicial”, construiu uma nova 
conformação jurídica, nos moldes a seguir delineados. 
“3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem 
registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo 
superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: (i) a 
existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de 
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); (ii) a existência de registro do 
medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e (iii) a inexistência de 
substituto terapêutico com registro no Brasil.” 
Neste particular, impende revolver à premissa de que o Estado não pode ser 
obrigado a fornecer medicamentos experimentais. Doutra sorte, há situações em que a 
Anvisa demora em demasia para concluir o procedimento de registro de medicamentos 
com eficácia e segurança comprovadas e testes concluídos. 
Nesse sentido, há um critério objetivo para apurar essa mora irrazoável da Anvisa 
pertinente ao registro, a saber: são os prazos previstos no art. 2º da Lei 13.411/2016. 
“Art. 2º A Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976 , passa a vigorar 
acrescida do seguinte art. 17-A: 
“ Art. 17-A . Os prazos estabelecidos para a decisão final nos 
processos de registro e de alteração pós-registro de medicamento 
levarão em conta os seguintes critérios: 
I - complexidade técnica; 
II - benefícios clínicos, econômicos e sociais da utilização do 
medicamento objeto do requerimento. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6360.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6360.htm#art17a
 
 
13 
§ 1º A aplicação dos critérios previstos no caput , de acordo com 
metodologia disposta em ato da Anvisa, determinará o 
enquadramento do medicamento sob avaliação nas seguintes 
categorias de precedência: 
I - prioritária; 
II - ordinária. 
§ 2º Os prazos máximos para a decisão final nos processos de 
registro e de alteração pós-registro de medicamento serão, 
respectivamente: 
I - para a categoria prioritária, de cento e vinte dias e de sessenta 
dias, contados a partir da data do respectivo protocolo de 
priorização; 
II - para a categoria ordinária, de trezentos e sessenta e cinco dias e 
de cento e oitenta dias, contados a partir da data do respectivo 
protocolo de registro ou de alteração pós-registro. 
§ 3º Exceto nos casos em que houver recurso contra decisão 
anterior, a decisão final nos processos de alteração pós-registro 
poderá ser tomada por aprovação condicional, presumida pela não 
manifestação contrária da Anvisa nos prazos definidos no § 2º. 
§ 4º A aprovação condicional de que trata o § 3º só poderá ocorrer 
nas hipóteses de alteração pós-registro definidas em regulamento e 
será automaticamente revertida, a qualquer tempo, em caso de 
indeferimento da alteração pós-registro pela Anvisa. 
§ 5º Os prazos mencionados no § 2º poderão ser prorrogados por 
até um terço do prazo original, uma única vez, mediante decisão 
fundamentada da Anvisa expedida em, no mínimo, quinze dias úteis 
antes do término do prazo original. 
§ 6º As solicitações de esclarecimento ou de retificação pela Anvisa 
deverão ser consolidadas em um único pedido, exceto se forem 
necessárias para esclarecer ou retificar informações relativas a 
solicitação anteriormente atendida pela empresa requerente, e 
suspenderão a contagem dos prazos determinados neste artigo até 
que sejam atendidas. 
§ 7º O descumprimento injustificado dos prazos previstos neste 
artigo implica apuração de responsabilidade funcional do servidor 
ou dos servidores que lhe derem causa, nos termos da Lei nº 8.112, 
de 11 de dezembro de 1990 . 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8112cons.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8112cons.htm
 
 
14 
§ 8º A Anvisa regulamentará o disposto neste artigo, em especial a 
especificação dos critérios de que trata o caput, com vistas ao 
enquadramento nas categorias de prioridade. 
§ 9º Expirado o prazo de cento e oitenta dias contados do início da 
vigência deste artigo sem que tenha sido publicada a 
regulamentação prevista no § 8º, e enquanto a matéria permanecer 
não regulamentada, o prazo máximo para a decisão final será de 
trezentos e sessenta e cinco dias nos processos de registro e de 
cento e oitenta dias nos de alteração pós-registro.” 
De tal sorte, conclui-se que é possível, excepcionalmente, a concessão judicial 
alusiva a medicamento sem registro sanitário – desde que não seja em relação a 
medicamentos experimentais – e em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o 
pedido, quando preenchidos três requisitos: 
(i) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil 
(salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e 
ultrarraras)*; 
(ii) a existência de registro do medicamento em renomadas 
agências de regulação no exterior; e 
(iii) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 
ATENÇÃO! No caso de doenças raras e ultrarraras, é possível, excepcionalmente, que o 
Estado forneça o medicamento independentemente do registro. Isso porque, nesses casos, 
muitas vezes o laboratório não tem interesse comercial em pedir o registro. 
 “4. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na 
Anvisa deverão necessariamente ser propostas em face da União.” 
Partindo-se do pressuposto básico de que exsurge a obrigação estatal com o 
advento da mora da agência, as ações que demandem fornecimento de medicamentos 
sem registro na Anvisa deverão ser necessariamente, ou seja, obrigatoriamente, e não 
exclusivamente, propostas em face da União. 
(ii) RE 855178 ED/SE 
1. Os entes da Federação, em decorrência da competência comum, 
são solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na 
área da saúde. 2 Diante dos critérios constitucionais de 
descentralização e hierarquização, compete à autoridade judicial 
direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição de 
competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o 
ônus financeiro. 
“1. Os entes da Federação, em decorrência da competência comum, são 
solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde.” 
 
 
15 
A referida competência comum advém do art. 23, II da CRFB, que assim prescreve: 
“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios: 
(omissis) 
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das 
pessoas portadoras de deficiência;” 
Logo, em face dessa competência comum, o STF entendeu que daí ressoa a 
solidariedade dos entes federados no que atine às demandas prestacionais na área da 
saúde. 
Desse modo, por via de regra, o autor de uma demanda prestacional no âmbito da 
saúde poderá propor a sua ação indicando, a seu critério, as subjacentes hipóteses de 
sujeitos passivos: 
(i) União; 
(ii) Estado; 
(iii) Município; 
(iv) União e Estado; 
(v) União e Município; 
(vi) Estado e Município; 
(vii) União, Estado e Município. 
Caro #megeano, perceba que a conclusão também secoaduna com a premissa de 
que a União, obrigatoriamente, deverá compor o polo passivo das “ações que demandem 
fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa” (RE 657718/MG), uma vez que, 
especificamente nesse tipo de demanda na área da saúde, tem-se a “obrigatoriedade”, e 
não “exclusividade” de incluir a União no polo passivo da demanda. Em bom vernáculo, 
portanto, em sede de demandas que requeiram o fornecimento de medicamentos sem 
registro na Anvisa o autor pode incluir os seguintes sujeitos passivos em sua petição inicial: 
(i) União, Estado e Município; 
(ii) União e Estado; 
(iii) União e Município; 
(iv) União. 
Assim, em todos esses cenários, a União estará, “obrigatoriamente”, no polo 
passivo da demanda. 
 
 
16 
À guisa de conclusão, o #megeano deverá se atentar se o enunciado de questão 
objetiva/subjetiva/oral traça o cenário genérico de uma demanda prestacional no âmbito 
da saúde (RE 855178 ED/SE) ou se há a narrativa, especificamente, de uma demanda em 
que se requer o fornecimento de medicamento não registrado na Anvisa (RE 657718/MG). 
“2 Diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização, 
compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de 
repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus 
financeiro.” 
Neste particular, a Lei do SUS traz a divisão de atribuições de cada ente federado, 
nos seguintes termos: 
“Art. 16. A direção nacional do Sistema Único da Saúde (SUS) 
compete: 
I - formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição; 
II - participar na formulação e na implementação das políticas: 
a) de controle das agressões ao meio ambiente; 
b) de saneamento básico; e 
c) relativas às condições e aos ambientes de trabalho; 
III - definir e coordenar os sistemas: 
a) de redes integradas de assistência de alta complexidade; 
b) de rede de laboratórios de saúde pública; 
c) de vigilância epidemiológica; e 
d) vigilância sanitária; 
IV - participar da definição de normas e mecanismos de controle, 
com órgão afins, de agravo sobre o meio ambiente ou dele 
decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana; 
V - participar da definição de normas, critérios e padrões para o 
controle das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar a 
política de saúde do trabalhador; 
VI - coordenar e participar na execução das ações de vigilância 
epidemiológica; 
VII - estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, 
aeroportos e fronteiras, podendo a execução ser complementada 
pelos Estados, Distrito Federal e Municípios; 
 
 
17 
VIII - estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle 
da qualidade sanitária de produtos, substâncias e serviços de 
consumo e uso humano; 
IX - promover articulação com os órgãos educacionais e de 
fiscalização do exercício profissional, bem como com entidades 
representativas de formação de recursos humanos na área de 
saúde; 
X - formular, avaliar, elaborar normas e participar na execução da 
política nacional e produção de insumos e equipamentos para a 
saúde, em articulação com os demais órgãos governamentais; 
XI - identificar os serviços estaduais e municipais de referência 
nacional para o estabelecimento de padrões técnicos de assistência 
à saúde; 
XII - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de 
interesse para a saúde; 
XIII - prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao 
Distrito Federal e aos Municípios para o aperfeiçoamento da sua 
atuação institucional; 
XIV - elaborar normas para regular as relações entre o Sistema 
Único de Saúde (SUS) e os serviços privados contratados de 
assistência à saúde; 
XV - promover a descentralização para as Unidades Federadas e 
para os Municípios, dos serviços e ações de saúde, 
respectivamente, de abrangência estadual e municipal; 
XVI - normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema Nacional de 
Sangue, Componentes e Derivados; 
XVII - acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de 
saúde, respeitadas as competências estaduais e municipais; 
XVIII - elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no âmbito do 
SUS, em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito 
Federal; 
XIX - estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a 
avaliação técnica e financeira do SUS em todo o Território Nacional 
em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito 
Federal. (Vide Decreto nº 1.651, de 1995) 
Parágrafo único. A União poderá executar ações de vigilância 
epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais, como na 
ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do 
 
 
18 
controle da direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou 
que representem risco de disseminação nacional. 
Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) 
compete: 
I - promover a descentralização para os Municípios dos serviços e 
das ações de saúde; 
II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do 
Sistema Único de Saúde (SUS); 
III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar 
supletivamente ações e serviços de saúde; 
IV - coordenar e, em caráter complementar, executar ações e 
serviços: 
a) de vigilância epidemiológica; 
b) de vigilância sanitária; 
c) de alimentação e nutrição; e 
d) de saúde do trabalhador; 
V - participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agravos do 
meio ambiente que tenham repercussão na saúde humana; 
VI - participar da formulação da política e da execução de ações de 
saneamento básico; 
VII - participar das ações de controle e avaliação das condições e 
dos ambientes de trabalho; 
VIII - em caráter suplementar, formular, executar, acompanhar e 
avaliar a política de insumos e equipamentos para a saúde; 
IX - identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir 
sistemas públicos de alta complexidade, de referência estadual e 
regional; 
X - coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública e 
hemocentros, e gerir as unidades que permaneçam em sua 
organização administrativa; 
XI - estabelecer normas, em caráter suplementar, para o controle e 
avaliação das ações e serviços de saúde; 
 
 
19 
XII - formular normas e estabelecer padrões, em caráter 
suplementar, de procedimentos de controle de qualidade para 
produtos e substâncias de consumo humano; 
XIII - colaborar com a União na execução da vigilância sanitária de 
portos, aeroportos e fronteiras; 
XIV - o acompanhamento, a avaliação e divulgação dos indicadores 
de morbidade e mortalidade no âmbito da unidade federada. 
Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete: 
I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de 
saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde; 
II - participar do planejamento, programação e organização da rede 
regionalizada e hierarquizada do Sistema Único de Saúde (SUS), em 
articulação com sua direção estadual; 
III - participar da execução, controle e avaliação das ações 
referentes às condições e aos ambientes de trabalho; 
IV - executar serviços: 
a) de vigilância epidemiológica; 
b) vigilância sanitária; 
c) de alimentação e nutrição; 
d) de saneamento básico; e 
e) de saúde do trabalhador; 
V - dar execução, no âmbito municipal, à política de insumos e 
equipamentos para a saúde; 
VI - colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente que 
tenham repercussão sobre a saúde humana e atuar, junto aos 
órgãos municipais, estaduais e federais competentes, para controlá-
las; 
VII - formar consórcios administrativos intermunicipais; 
VIII - gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros; 
IX - colaborar com a União e os Estados na execução da vigilância 
sanitária de portos, aeroportos e fronteiras; 
 
 
20 
X - observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contratos e 
convênios com entidades prestadoras de serviços privados de 
saúde, bem como controlar e avaliar sua execução;XI - controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de 
saúde; 
XII - normatizar complementarmente as ações e serviços públicos 
de saúde no seu âmbito de atuação. 
Art. 19. Ao Distrito Federal competem as atribuições reservadas aos 
Estados e aos Municípios.” 
Pois bem, diante da divisão de atribuições, legalmente prevista, mediante a qual 
cada ente federado possui o seu âmbito preestabelecido de competência para o 
cumprimento de uma obrigação sanitária, o juiz deverá direcionar a determinação de 
cumprimento da decisão, conforme a repartição de competências prevista na Lei do SUS. 
Nesse vértice, caso um ente estatal cumpra a obrigação que, nos termos da Lei do SUS, seja 
incumbência de outro ente, o juiz da causa deverá determinar o correlativo ressarcimento. 
Assim, vejamos um exemplo prático para clarear o entendimento: Maristoscleudo 
pretendia obter do Poder Público uma prestação sanitária dada a gravidade de seu 
estado de saúde. Diante da urgência, ajuizou uma ação em face do Estado e do 
Município, mesmo sem saber ao certo de quem era a competência para satisfazer a sua 
pretensão. O juiz, em sede de provimento de urgência, determinou que o Município 
cumprisse a obrigação, o que, de pronto, restou atendido. Após as apresentações das 
contestações pelos 2 (dois) entes, o juiz entendeu que, legalmente, o cumprimento da 
obrigação sanitária deveria ter sido realizado pelo Estado, razão pela qual determinou ao 
Estado o ressarcimento dos valores disponibilizados pelo Município para o cumprimento 
da decisão judicial. 
Por conseguinte, o exemplo acima deixa claro o que o STF entendeu como 
adequado, o que, diga-se de passo, perfilha-se, mutatis mutandis, ao Enunciado 60 da II 
Jornada de Direito da Saúde: 
“Enunciado 60: A responsabilidade solidária dos entes da Federação 
não impede que o Juízo, ao deferir medida liminar ou definitiva, 
direcione inicialmente o seu cumprimento a um determinado ente, 
conforme as regras administrativas de repartição de competências, 
sem prejuízo do redirecionamento em caso de descumprimento.” 
Premissas da atividade financeira do Estado 
O Estado de Direito contemporâneo pode ser conceituado como uma organização 
engendrada em um âmbito de observância, aplicação e submissão a um ordenamento 
jurídico, com o fito de realizar o bem comum, a paz e a ordem social. Nesse viés, o seu 
objetivo se perfectibiliza no atendimento das “necessidades públicas” de sua sociedade, ou 
seja, na realização das necessidades individuais, coletivas e transindividuais de seu povo. 
 
 
21 
Entretanto, para fins de realização desse mister, ressoa óbvio que o Estado 
depende de recursos financeiros oriundos de seu próprio patrimônio ou do patrimônio dos 
seus cidadãos, o que, aliás, provém de múltiplas fontes de receitas públicas. 
Ocorre, porém, que os recursos são sabida e induvidosamente limitados e 
escassos, razão pela qual devem ser competentemente geridos, sob pena de não 
atendimento da finalidade estatal (atividade-fim), repise-se: atendimento das 
“necessidades públicas” dos membros de sua sociedade. A propósito, essa tarefa do Estado 
destinando as receitas públicas para atender as mencionadas “necessidades públicas” deve 
atender a regras, políticas e diretrizes impostas pelo ordenamento jurídico vigente (e 
cogente), elaborado e executado pelos correlativos Poderes Legislativo e Executivo. 
Assim, para regular essa relação Estado-cidadão, exsurge o Direito Financeiro, que 
fixará as regras e princípios para arrecadação, gestão e aplicação dos recursos públicos. 
Nessa tangente, portanto, a bússola da atividade financeira do Estado se direciona, como 
atividade-meio (função instrumental), à tarefa de consubstanciação/materialização da 
atividade-fim do Estado, consistente na obtenção de recursos financeiros aptos e 
suficientes para atender as “necessidades públicas”, mediante as atividades de 
arrecadação, gestão e aplicação desses recursos. 
 
Conceito de Direito Financeiro 
 
 
ESTADO 
Atividade-fim: 
atender às 
necessidades públicas 
de sua sociedade 
Atividade-meio: 
atividade financeira 
(arrecadação, gestão 
e aplicação dos 
recursos públicos) 
Obs.: na busca da 
atividade-fim, o 
Estado se vale de 
vários instrumentos 
(atividades-meio). Ex.: 
atividade financeira, 
atividade regulatória 
etc. 
 
 
22 
“O direito financeiro consiste no ramo do direito público que estuda as finanças 
do Estado em sua estreita relação com a atividade financeira. Ou seja, é o conjunto de 
regras e princípios que estuda a atividade financeira do Estado, compreendida esta como 
receita, despesa, orçamento e crédito públicos.” (LEITE, Harrison) 
“O direito financeiro visa à disciplinar a atividade financeira do Estado, 
estabelecendo regras relativas aos três pilares dessa atividade: orçamento, receita e 
despesa públicos.” (PISCITELLI, Tatiane) 
ATENÇÃO! Há divergência doutrinária em relação aos pilares do Direito financeiro, pois, 
para HARRISON LEITE são 4 (quatro) enquanto para TATHIANE PISCITELLI são 3 (três). 
Objeto 
Tratamento da atividade financeira do Estado, a partir de seus pilares (receita, 
orçamento, despesa, crédito públicos). 
Direito financeiro na CRFB/88 
Estudaremos, neste ponto, a constitucionalização do Direito Financeiro, a 
repartição da competência legislativa e as normas gerais sobre finanças públicas. Os 
demais dispositivos constitucionais ínsitos ao Direito financeiro (arts. 70 a 75; 157 a 162; 
165 a 169) serão versados juntamente com o seu respectivo tema. 
O que se entende por Constitucionalização do Direito Financeiro? 
Com o advento da CRFB de 1988, houve um intencional movimento de alçar a 
dispositivos constitucionais um sem-número de regras e princípios de variadas disciplinas 
do Direito, incluindo o Direito Financeiro. Portanto, a esse processo se intitula 
Constitucionalização do Direito Financeiro, que até então continha uma prevalência de 
normas previstas em lei (plano legal). 
Com isso, é forçoso concluir que temos uma verdadeira Constituição Financeira, 
porquanto a CRFB torna-se o primeiro e mais importante fundamento de validade das 
normas de Direito Financeiro, rompendo, por consectário, a então prevalência das normas 
legais sobre a matéria. A partir de 5 de outubro de 1988, destarte, inaugurou-se a nossa 
Constituição Financeira, já que passamos a ter uma constitucionalização de regras e 
princípios outrora previstos tão somente no plano legal. 
Constituições estaduais financeiras e leis orgânicas municipais financeiras? 
Existe isso mesmo? 
Claro que sim! Caro #megeano, cumpre registrar que dispor, mediante lei, sobre 
Direito financeiro e orçamento, insere-se na competência concorrente da União, dos 
Estados e do Distrito Federal, conforme a regra vazada no art. 24, incisos I e II da CRFB. 
Logo, em face do princípio da simetria, os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios devem obedecer aos princípios (financeiros) consagrados na CRFB, conforme 
 
 
23 
preceitua o art. 11 do ADCT, entendimento este já chancelado pelo STF na ADI 568-MC, 
Rel. Celso de Melo, j. 20/09/1991. Nesse sentido, os Estados terão Constituições estaduais 
financeiras e o DF e os Municípios Leis Orgânicas financeiras, tendo em vista que deverão 
atender aos princípios insertos na Constituição financeira (CRFB). 
Como funciona o regramento da competência legislativa concorrente? 
Neste aspecto, os parágrafos do art. 24 da CRFB são autoexplicativos: 
“§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União 
limitar-se-á a estabelecer normas gerais. 
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não 
exclui a competência suplementar dos Estados. 
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados 
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas 
peculiaridades. 
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a 
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.” 
Adite-se, a propósito,que a partir da “competência suplementar dos Estados”, 
estes, uma vez respeitadas as normas gerais da União, podem estabelecer normas 
específicas sobre Direito financeiro. 
Por derradeiro, é questão reiterada de concurso a afirmação no sentido de que a 
superveniência de lei federal sobre normas gerais tem o condão de suspender a eficácia da 
lei estadual ou distrital, no que lhe for contrária, não ocorrendo a sua revogação. Isso se 
justifica em virtude da adoção, pela CRFB/88, do federalismo de cooperação, no qual 
inexiste hierarquia entre os entes federados, mas sim repartição de competências, com 
base no princípio da preponderância do interesse (União: interesse nacional; Estados/DF: 
interesse regional; Municípios: interesse local). 
Qual a competência dos Municípios em Direito financeiro? 
Muito embora repouse importante celeuma doutrinária a respeito, em razão de os 
Municípios não estarem elencados expressamente no art. 24, incisos I e I da CRFB, a 
doutrina majoritária e o CESPE (CEBRASPE) consideram correta a assertiva de que compete 
aos Municípios legislar concorrentemente sobre Direito financeiro, com fulcro no art. 30, 
incisos I e II da CRFB. Desse modo, é isso que importa para a sua prova! 
Quais são as normas gerais sobre Finanças Públicas? 
Estão previstas nos arts. 163 e 164 da CRFB, senão vejamos. 
CAPÍTULO II 
DAS FINANÇAS PÚBLICAS 
 
 
24 
Seção I 
NORMAS GERAIS 
Art. 163. Lei complementar disporá sobre: 
I - finanças públicas; 
II - dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, 
fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público; 
III - concessão de garantias pelas entidades públicas; 
IV - emissão e resgate de títulos da dívida pública; 
V - fiscalização financeira da administração pública direta e indireta; 
VI - operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; 
VII - compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito 
da União, resguardadas as características e condições operacionais 
plenas das voltadas ao desenvolvimento regional. 
Art. 164. A competência da União para emitir moeda será exercida 
exclusivamente pelo banco central. 
§ 1º É vedado ao banco central conceder, direta ou indiretamente, 
empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade 
que não seja instituição financeira. 
§ 2º O banco central poderá comprar e vender títulos de emissão 
do Tesouro Nacional, com o objetivo de regular a oferta de moeda 
ou a taxa de juros. 
§ 3º As disponibilidades de caixa da União serão depositadas no 
banco central; as dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e 
dos órgãos ou entidades do Poder Público e das empresas por ele 
controladas, em instituições financeiras oficiais, ressalvados os 
casos previstos em lei. 
Ao reservar à lei complementar a disposição sobre “finanças públicas”, a CRFB cria 
a chamada “reserva de lei complementar” para os assuntos compreendidos no conceito de 
finanças públicas: a saber: receitas, despesas, orçamento e crédito público. 
Já a dívida pública se relaciona com a questão dos entes públicos na qualidade de 
devedor. Neste particular, a lei complementar fixará o montante em que cada entidade 
federada poderá contrair de dívida, seja interna ou externamente. 
Além disso, o banco central foi alçado ao caráter de autoridade monetária do 
Brasil, tendo sido criado pela Lei 4.595/64, ostentando índole de autarquia federal, de 
 
 
25 
natureza especial, integrante do Sistema Financeiro Nacional (SFN). É muito importante 
que o aluno MEGE memorize esses pormenores constitucionais acerca do banco central, 
pois costumam ser corados em provas de concurso. 
As “disponibilidades de caixa” consistem em valores pertencentes aos entes 
federados, mas não comprometidos nem atrelados a fazer face a nenhuma despesa 
pública, ou seja, é dinheiro púbico ainda não afetado a fim específico. Com base nessa 
conclusão, o STF assentou em vários precedentes que o depósito de salário ou 
remuneração de servidor público em instituição financeira privada não desatende o 
disposto no § 3º do art. 164 da CRFB, pois o citado depósito não se inclui no conceito de 
“disponibilidade de caixa” (por todos, cita-se o AI 836.677-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, j. 
3/4/2012). 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
ALMEIDA, Ricardo Damasceno de; LISBOA, Marcelo Jucá. Direito Financeiro (Leis especiais 
para concursos, v. 13). Salvador: Juspodivm, 2017. 
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Julgados resumidos Dizer o direito 2012/2015. Manaus: 
Dizer o direito editora, 2016. 
LEITE, Harrison. Manual de Direito Financeiro. Salvador: Editora Juspodivm, 2019. 
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito constitucional. 
São Paulo: Saraiva, 2016. 
PISCITELLI, Tathiane. Direito Financeiro Esquematizado. São Paulo: Editora Método, 2018. 
ABRAHAM, Marcus. Curso de Direito Financeiro Brasileiro. 4. ed. rev. atuali. e ampl. Rio de 
Janeiro, Forense, 2017. 
 
LEGISLAÇÃO E ENUNCIADOS DE SÚMULA 
➢ Ler e marcar os seguintes dispositivos da CRFB: 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente 
sobre: 
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; 
II - orçamento; (...) 
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar 
medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso 
Nacional. 
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: 
 
 
26 
I – relativa a: 
(...) 
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e 
suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; (...) 
Seção IX 
DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA 
Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da 
União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, 
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será 
exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle 
interno de cada Poder. 
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou 
pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza 
pecuniária. 
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do 
Tribunal de Contas da União, ao qual compete: 
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante 
parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento; 
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e 
valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades 
instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a 
perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público; 
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer 
título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo 
Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem 
como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias 
posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório; 
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de 
Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, 
orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes 
Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II; 
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União 
participe, deforma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; 
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, 
acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a 
Município; 
 
 
27 
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas 
Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, 
orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções 
realizadas; 
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de 
contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa 
proporcional ao dano causado ao erário; 
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato 
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade; 
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à 
Câmara dos Deputados e ao Senado Federal; 
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados. 
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso 
Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis. 
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar 
as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito. 
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de 
título executivo. 
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório de 
suas atividades. 
Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art. 166, §1º, diante de indícios de 
despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de investimentos não programados ou de 
subsídios não aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsável que, no 
prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos necessários. 
§ 1º Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes insuficientes, a Comissão 
solicitará ao Tribunal pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias. 
§ 2º Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão, se julgar que o gasto possa 
causar dano irreparável ou grave lesão à economia pública, proporá ao Congresso Nacional 
sua sustação. 
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito 
Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, 
no que couber, as atribuições previstas no art. 96. . 
§ 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que 
satisfaçam os seguintes requisitos: 
I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade; 
 
 
28 
II - idoneidade moral e reputação ilibada; 
III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de 
administração pública; 
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija 
os conhecimentos mencionados no inciso anterior. 
§ 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão escolhidos: 
I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sendo dois 
alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, 
indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antigüidade e 
merecimento; 
II - dois terços pelo Congresso Nacional. 
§ 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas, 
impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, 
aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40. 
§ 4º O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas garantias e 
impedimentos do titular e, quando no exercício das demais atribuições da judicatura, as de 
juiz de Tribunal Regional Federal. 
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, 
sistema de controle interno com a finalidade de: 
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos 
programas de governo e dos orçamentos da União; 
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão 
orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, 
bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; 
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e 
haveres da União; 
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. 
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer 
irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena 
de responsabilidade solidária. 
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na 
forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da 
União. 
 
 
29 
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, 
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem 
como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. 
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas 
respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros. 
Seção VI 
DA REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS 
Art. 157. Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal: 
I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer 
natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas 
autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; 
II - vinte por cento do produto da arrecadação do imposto que a União instituir no exercício 
da competência que lhe é atribuída pelo art. 154, I. 
(...) 
Art. 160. É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos 
atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, neles 
compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos. 
Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de 
condicionarem a entrega de recursos: 
I – ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias; 
II – ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III. 
Art. 161. Cabe à lei complementar: 
I - definir valor adicionado para fins do disposto no art. 158, parágrafo único, I; 
II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159, especialmente 
sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover o 
equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre Municípios; 
III - dispor sobre o acompanhamento, pelos beneficiários, do cálculo das quotas e da 
liberação das participações previstas nos arts. 157, 158 e 159. 
Parágrafo único. O Tribunal de Contas da União efetuará o cálculo das quotas referentes 
aos fundos de participação a que alude o inciso II. 
Art. 162. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios divulgarão, até o último dia 
do mês subseqüente ao da arrecadação, os montantes de cada um dos tributos 
arrecadados, os recursos recebidos, os valores de origem tributária entregues e a entregar 
e a expressão numérica dos critérios de rateio. 
 
 
30 
Parágrafo único. Os dados divulgados pela União serão discriminados por Estado e por 
Município; os dos Estados, por Município. 
CAPÍTULO II 
DAS FINANÇAS PÚBLICAS 
Seção I 
NORMAS GERAIS 
Art. 163. Lei complementar disporá sobre: 
I - finanças públicas; 
II - dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais 
entidades controladas pelo Poder Público; 
III - concessão de garantias pelas entidades públicas; 
IV - emissão e resgate de títulos da dívida pública; 
V - fiscalização financeira daadministração pública direta e indireta; 
VI - operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios; 
VII - compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União, 
resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao 
desenvolvimento regional. 
Art. 164. A competência da União para emitir moeda será exercida exclusivamente pelo 
banco central. 
§ 1º É vedado ao banco central conceder, direta ou indiretamente, empréstimos ao 
Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira. 
§ 2º O banco central poderá comprar e vender títulos de emissão do Tesouro Nacional, 
com o objetivo de regular a oferta de moeda ou a taxa de juros. 
§ 3º As disponibilidades de caixa da União serão depositadas no banco central; as dos 
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades do Poder Público e 
das empresas por ele controladas, em instituições financeiras oficiais, ressalvados os casos 
previstos em lei. 
➢ Não há súmulas sobre o ponto. 
 
JURISPRUDÊNCIA 
 
 
31 
INVASÃO DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO: LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL 
(STF, Plenário. ADI 5449, 10.3.2016 – Informativo 817) 
• DECISUM (Decisão): É inconstitucional lei estadual que amplia os limites máximos 
de gastos com pessoal estipulados nos arts. 19 e 20 da Lei de Responsabilidade 
Fiscal (LRF – Lei complementar 101/200). 
• RATIO DECIDENDI (Fundamentação jurídica): A teor do art. 169 da CRFB/88, a 
despesa com pessoal da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios 
não poderá exceder limites fixados em lei complementar. A par disso, é sabido que, 
no âmbito da competência legislativa concorrente, a União disporá sobre as normas 
gerais (art. 24, I da CRFB), as quais já estão traçadas na LRF, motivo que ensejou a 
declaração de inconstitucionalidade por usurpação de competência da União para 
tratar a respeito. 
INVASÃO DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO: DEPÓSITOS JUDICIAIS 
(STF, Plenário. ADI 5409, 25.11.2015 – Informativo 809) 
• DECISUM (Decisão): É inconstitucional lei estadual que prevê a permissão de o 
Poder Executivo utilizar os valores constantes dos depósitos judiciais não apenas 
relacionados com os processos em que os Estados sejam parte, mas também 
oriundos de outros processos em que estejam litigando somente particulares. 
• RATIO DECIDENDI (Fundamentação jurídica): Leis dessa natureza (obs.: o STF já 
declarou a inconstitucionalidade várias delas) são inconstitucionais por violarem o 
seguinte: (i) o princípio da separação dos poderes; (ii) a iniciativa privativa 
legislativa da União (art. 22, I da CRFB/88), e (iii) a Lei complementar federal 
151/2015, que apenas autoriza o levantamento de 70% dos valores que sejam 
objeto de depósitos vinculados a processos em que os entes federados sejam parte. 
DESPESAS ORÇAMENTÁRIAS E VÍCIO DE INICIATIVA 
(STF, Plenário. ADI 2072/RS, 4.2.2015) 
• DECISUM (Decisão): É inconstitucional norma estadual que, mediante emenda 
parlamentar, ao tornar o governo estadual devedor principal de obrigações que 
agricultores daquele Estado-membro assumiram, inicialmente, com o governo 
Federal, altera a natureza do pacto originalmente firmado. 
• RATIO DECIDENDI (Fundamentação jurídica): A emenda parlamentar em questão 
dispõe sobre despesa orçamentária, afrontando a competência do Poder Executivo 
prevista nos arts. 84, XXIII e 165, III, ambos da CRFB, além de não se adequar a 
nenhuma das hipóteses admitidas de “emenda parlamentar ao projeto de lei 
relativo ao orçamento anual” (art. 166, §3º, CRFB). 
JUDICIALIZAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: ESTOQUE MÍNIMO DE MEDICAMENTOS 
(STF, 1ª Turma. RE 429903/RJ, 25.6.2014 – Informativo 752) 
 
 
32 
• DECISUM (Decisão): O Poder Executivo pode ser obrigado – por força de decisão do 
Poder Judiciário –, a manter estoque mínimo de determinado medicamento 
utilizado no combate a certa doença grave, para o fim de evitar (reiteradas) 
interrupções no tratamento. 
• RATIO DECIDENDI (Fundamentação jurídica): Para o STF, inexiste ofensa ao 
princípio da separação dos poderes, uma vez que a decisão do Poder Judiciário não 
interfere nas metas e prioridades do Estado, pois sequer transmuta a gestão 
orçamentária. Logo, tendo-se comprovado a ilegalidade ou o abuso por parte da 
Administração Pública ao deixar “zerado” o estoque de medicamentos de um 
tratamento contínuo de doença grave, há apenas e tão somente controle judicial do 
serviço público, apto a manter a higidez do núcleo essencial do direito fundamental 
à saúde (mínimo existencial), justificativa que afasta a incidência da teoria da 
reserva do possível. 
JUDICIALIZAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: ACESSIBIDADE EM PRÉDIOS PÚBLICOS 
(STF, 1ª Turma. RE 440028/SP, 29/10/2013 – lnformativo 726). 
• DECISUM (Decisão): A CRFB/88 e a Convenção Internacional sobre Direitos das 
Pessoas com Deficiência asseguram o direito dos portadores de necessidades 
especiais ao acesso a prédios públicos, sendo dever da Administração Pública a 
adoção de providência que viabilizem tal direito de acessibilidade a prédios 
públicos. 
• RATIO DECIDENDI (Fundamentação jurídica): O Poder Judiciário, em situações 
excepcionais, pode determinar que o Poder Executivo adote medidas assecuratórias 
de direitos constitucionalmente dispostos como essenciais, desde que se limite a 
garantir o núcleo intangível do direito essencial (mínimo existencial), pois assim 
procedendo, estará zelando pelo princípio da harmonia e independência dos 
poderes, que foi talhado como meio de garantia de direitos, e não como escusa de 
responsabilidades. 
JUDICIALIZAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: REFORMA DE CADEIA PÚBLICA OU 
CONSTRUÇÃO DE NOVA UNIDADE PRISIONAL 
(STJ, 2ª Turma. REsp 1.389.952-MT, 3.6.2014 – lnformativo 543) 
• DECISUM (Decisão): Se forem constatadas inúmeras irregularidades em cadeia 
pública (ex.: superlotação, celas sem condições mínimas de salubridade para a 
permanência de detentos, especialmente em razão de defeitos estruturais, de 
ausência de ventilação, de iluminação e de instalações sanitárias adequadas, 
desrespeito à integridade física e moral dos prisioneiros, havendo, ainda, relatos de 
que as visitas íntimas seriam realizadas dentro das próprias celas e em grupos, 
outrossim que existiriam detentas acomodadas improvisadamente), a alegativa de 
ausência de previsão orçamentária não obsta que seja julgado procedente o pedido 
de Ação civil Pública (ACP) que, dentre outros, tenha por objeto determinar ao 
Estado que adote as providências administrativas e aloque as respectivas rubricas 
orçamentárias para fazer face à reforma ou à construção de unidade prisional, 
 
 
33 
notadamente quando inexistir comprovação objetiva da incapacidade econômico-
financeira da pessoa estatal. 
• RATIO DECIDENDI (Fundamentação jurídica): Não prospera a invocação da reserva 
do possível quando não houve comprovação objetiva (fática, e não meramente 
jurídica) da incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal, já que prevalece 
a garantia do mínimo existencial dos presos. 
JUDICIALIZAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: OBRAS EMERGENCIAIS EM ESTABELECIMENTO 
PRISIONAL 
(STF, Plenário. RE 592581/RS, 13.8.2015 – lnformativo 794) 
• DECISUM (Decisão): Admite-se ao Poder Judiciário determinar ao Poder Executivo o 
cumprimento de obrigação de fazer consistente em promover medidas tendentes à 
execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais. 
• RATIO DECIDENDI (Fundamentação jurídica): Prevalece, na espécie, a garantia à 
integridade física e moral dos detentos (art. 5º, XLIX, CRFB) e o postulado da 
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CRFB), não sendo oponível à decisão o 
argumento da reserva do possível, tampouco o princípio da separação dos poderes. 
JUDICIALIZAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: SISTEMA CARCERÁRIO E ESTADO DE COISAS 
INCONSTITUCIONAL 
(STF, Plenário. ADPF 347 MC/DF, 9.9.2015 – lnformativo798) 
• DECISUM (Decisão): O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando se constata 
a existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos 
fundamentais, causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das 
autoridades públicas em modificar a conjuntura. Portanto, apenas transformações 
estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma pluralidade de 
autoridades podem modificar a situação inconstitucional. Reconheceu-se que o 
sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas Inconstitucional", com 
uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos 
• RATIO DECIDENDI (Fundamentação jurídica): Entendeu-se que as penas privativas 
de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e desumanas 
(vedadas pelo art. 5º, XLVII, alíneas “d” e “e”, CRFB). Outrossim, asseverou-se que a 
responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes (Legislativo, 
Executivo e Judiciário), em nível de União, de Estados-membros e de Distrito 
Federal. Aliás, a ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias 
eficazes representa uma verdadeira "falha estrutural", que gera ofensa aos direitos 
dos presos, além da perpetuação e do agravamento da situação. Em assim sendo, 
cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações, 
colimando (objetivando) resolver o problema e monitorar os resultados alcançados. 
 
 
 
34 
QUESTÕES PARA RESOLUÇÃO 
1. (CESPE – PGE-PI/2014): A Lei nº 
4.320/1964, apesar de ser lei ordinária, 
foi recepcionada pela CF com status de lei 
complementar, só podendo, hoje, ser 
alterada por lei dessa estatura. ( ) 
2. (CESPE – PGE-PI/2014): Ao tratar da 
competência concorrente para legislar 
sobre orçamento, a CF não se referiu aos 
municípios, estando a doutrina 
majoritária posicionada no sentido de 
que, apesar de o constituinte ter 
silenciado a respeito, os municípios 
podem reivindicar tal competência. ( ) 
3. (CESPE – TCE-PR/2016): A competência 
legislativa da União sobre direito 
financeiro limita-se ao estabelecimento 
de normas gerais. 
4. (CESPE – PGE-BA/2014): O instrumento 
legislativo exigido pela CF, na esfera 
federal, para dispor sobre normas de 
finanças públicas é sempre a lei 
complementar. ( ) 
5. (CESPE – PGE-BA/2014): Os estados 
podem legislar sobre direito financeiro e, 
sempre que o fizerem, estarão revogando 
qualquer norma preexistente, ainda que 
editada pela União. ( ) 
6. (CESPE – PG-DF/2013): O Distrito 
Federal tem competência exclusiva para 
dispor sobre normas gerais de direito 
financeiro. ( ) 
7. (CESPE – PG-DF/2013): Enquanto a Lei 
n.º 4.320/1964, que tem hoje status de 
lei complementar, dispõe sobre normas 
gerais sobre a elaboração do orçamento, 
a LRF procura estabelecer normas de 
finanças públicas para a responsabilidade 
na gestão fiscal. ( ) 
8. (CESPE – Procurador do TC-DF/2013): 
Um estado brasileiro pretende 
reorganizar seu sistema de finanças 
públicas, para melhorar a eficiência do 
planejamento e do gasto público; para 
isso, deverá, entre outras ações, 
modificar o aparato jurídico que ordena a 
matéria. Entretanto, o referido estado 
não poderá editar norma geral dispondo 
sobre orçamentos, diretrizes 
orçamentárias e plano plurianual. ( ) 
9. (CESPE – PGM/FORTALEZA – 2017): A 
adoção do federalismo cooperativo 
equilibrado pela CF visa à redução das 
desigualdades regionais. ( ) 
10. (CESPE – PGM/FORTALEZA – 2017): 
No que diz respeito ao Direito Financeiro, 
a CF pode ser classificada como 
semirrígida, uma vez que restringe a 
regulação de certos temas de finanças 
públicas a lei complementar e deixa 
outros à disciplina de lei ordinária. ( ) 
 
QUESTÕES COMENTADAS 
1. (CERTO) Justificativa: é conclusão da 
ADI 1726 associada ao princípio do 
paralelismo das formas, segundo o qual a 
alteração da lei deve se efetivar pelo 
mesmo instrumento que a originou ou 
outro de maior amplitude. À vista disso, 
uma lei ordinária só pode ser alterada por 
outra lei ordinária ou por uma lei 
complementar ao passo que uma lei 
complementar só pode ser modificada 
por outra lei complementar. Apesar de 
não existir hierarquia entre lei ordinária e 
 
 
35 
lei complementar (o que há é uma 
reserva de matérias a serem tratadas 
apenas por lei complementar), o quórum 
de aprovação da primeira é de maioria 
relativa enquanto da segunda é de 
maioria absoluta, razão pela qual torna a 
lei complementar de maior amplitude. 
Técnica de resolução da questão 
“PARECE, MAS NÃO É”: geralmente, o 
uso de expressões “absolutizadoras” 
(excluem as exceções. No enunciado, 
utilizou-se o termo “só”) torna a assertiva 
errada, visto que o Direito é conformado 
de inúmeras exceções. Todavia, não se 
trata de regra absoluta, já que existem, 
sim, raras assertivas que não admitem 
exceções. Portanto, a assertiva está 
CORRETA, apesar de parecer errada por 
conta da utilização do “só”. Por isso, o 
aluno MEGE deve ficar atento a tal 
detalhe. 
2. (CERTO) Justificativa: Muito embora 
repouse importante celeuma doutrinária 
a respeito, em razão de os Municípios não 
estarem elencados expressamente no art. 
24, incisos I e I da CRFB, a doutrina 
majoritária e o CESPE (CEBRASPE) 
consideram correta a assertiva de que 
compete aos Municípios legislar 
concorrentemente sobre Direito 
financeiro, com fulcro no art. 30, incisos I 
e II da CRFB. 
3. (CERTO) Justificativa: art. 24, § 1º, 
CRFB. Nos casos de competência 
concorrente, a União editará normas 
gerais e os Estados podem suplementar a 
legislação nacional, que se limita às 
normas gerais. 
Técnica de resolução da questão 
“PRECEITO NORMATIVO, E NÃO TEXTO 
NORMATIVO”: diferentemente da 
maioria das bancas examinadoras, o 
CESPE (CEBRAPE) não cobra a literalidade 
da legislação, a qual é conhecida como 
texto normativo. Nesse sentido, a maior 
parte das bancas apenas faz o famoso 
“copia e cola” em relação ao texto 
normativo e cobra na prova. Porém, o 
estilo CESPE (CEBRASPE) de cobrança é 
prezar pela solidez do conhecimento do 
candidato, logo não cobrará a literalidade 
da lei ou da Constituição, e sim o seu 
preceito normativo, que nada mais é do 
que o conteúdo da norma. E qual o 
preceito normativo cobrado na questão? 
Quando se tratar de competência 
legislativa concorrente, a União só 
poderá dispor sobre normas gerais! 
4. (CERTO) Justificativa: Art. 163, inciso I, 
CRFB (“Artigo 163. Lei complementar 
disporá sobre: I - finanças públicas. (...)” 
Técnica de resolução da questão 
“PARECE, MAS NÃO É”: geralmente, o 
uso de expressões “absolutizadoras” 
(excluem as exceções. No enunciado, 
utilizou-se o termo “sempre”) torna a 
assertiva errada, visto que o Direito é 
conformado de inúmeras exceções. 
Todavia, não se trata de regra absoluta, já 
que existem, sim, raras assertivas que não 
admitem exceções. Portanto, a assertiva 
está CORRETA, apesar de parecer errada 
por conta da utilização do “sempre”. Por 
isso, o aluno MEGE deve ficar atento a tal 
detalhe. 
5. (ERRADO) Justificativa: não há 
hierarquia entre os entes federados, e 
sim repartição de competências 
(federalismos de cooperação), com base 
no princípio da preponderância do 
interesse (União: interesse nacional; 
Estados/DF: interesse regional; 
Municípios: interesse local). Por isso, 
inexiste revogação, no caso, já que a 
superveniência de lei da União sobre 
normas gerais resultará em suspensão da 
eficácia da lei estadual, no que lhe for 
contrária (art. 24, § 1º, CRFB). 
6. (ERRADO) Justificativa: a competência 
legislativa para editar normas gerais 
 
 
36 
pertence à União (art. 24, § 1º, CRFB). 
Esse é o preceito normativo. 
7. (CERTO) Justificativa: é exatamente a 
ementa de cada uma das leis citadas. 
8. (CERTO) Justificativa: a competência 
legislativa para a edição de normas gerais 
de Direito financeiro e orçamento é da 
União (art. 24, incisos I e II c/c §1º, CRFB). 
É esse o preceito normativo! 
9. (CERTO) Justificativa: A assertiva 
corresponde

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