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Alexsandre Pereira dos Santos Junior – RA 703 – Mestrado em Negócios Internacionais Macroeconomia – 03/11/2019 2008: A Grande Crise Financeira Global Alexsandre Pereira dos Santos Junior¹ RESUMO Este trabalho objetiva realizar uma análise da crise de 2008 nos EUA, gerada principalmente pelas hipotecas de alto risco (subprime) e seus efeitos na economia mundial. Este artigo busca compreender as razões que levaram uma crise imobiliária a se transformar numa crise econômica de proporções globais, envolvendo os principais bancos do mundo e seus investidores. Muitas das respostas para esse questionamento está no modelo adotado pelos EUA em seu sistema hipotecário, que envolveu os riscos assumidos pelos grandes bancos ao conceder créditos para pessoas com históricos ruins de pagamento, uma regulamentação frágil ou inexistente do sistema financeiro e as análises equivocadas das mais renomadas agências de classificação de risco no mundo. Além disso, é pretendido discorrer sobre as medidas de intervenção do Estado para frear e solucionar a crise em questão. Palavras-Chave: Crise de 2008. Sistema Hipotecário. Subprime. Economia Mundial. ABSTRACT This paper aims to perform an analysis of the 2008 US crisis, generated mainly by subprime mortgages and their effects on the world economy. This article seeks to understand the reasons why a real estate crisis turned into a global economic crisis, involving the world's leading banks and their investors. Many of the answers to this question lie in the model adopted by the US in its mortgage system, which involved the risks taken by large banks in lending to people with poor payment histories, weak or nonexistent financial system regulation, and the misguided analysis of the worst. world- renowned rating agencies. In addition, it is intended to discuss the State intervention measures to curb and solve the crisis in question. Keywords: 2008 Crisis. Mortgage System. Subprime World Economy. ________________________ ¹ SANTOS JUNIOR, A. P. Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e mestrando em Negócios Internacionais pela MUST University, alexsandre.jr@gmail.com 2 INTRODUÇÃO Em primeiro lugar, é necessário compreender o funcionamento do sistema de hipotecas nos EUA. Quando um cidadão americano resolve comprar uma casa através de hipoteca, essa mesma casa é dada como garantia para potenciais inadimplências do comprador. Em outras palavras, o título da propriedade pertence ao credor até a quitação da dívida. E no caso de o comprador não conseguir efetuar os pagamentos do imóvel, o credor passa a ter o direito de vender a casa, de modo a recuperar o dinheiro que foi emprestado. Vale ressaltar que as taxas de juros oferecidas pelos bancos nessa modalidade geralmente tendem a ser baixas, o que torna extremamente atrativa a compra de imóveis. E isso é o primeiro passo para a compreensão do tema deste artigo, onde ficará explícita a importância do sistema hipotecário na economia americana como um todo. A bolha imobiliária, que levou a maior economia do mundo a uma crise financeira sem precedentes, começou a crescer no início desse século e estourou em meados de 2007. Mas o estopim só aconteceu em setembro de 2008, quando um dos maiores bancos de investimento do mundo, Lehman Brothers, quebrou. A consequência disso foi a maior crise econômica já vista desde a crise de 1929. O mundo se viu totalmente mergulhado numa recessão. Logo após os ataques terroristas que assombraram os EUA em 11 de setembro de 2001, os mercados se encontravam receosos e assustados. Com o objetivo de escapar de uma crise e recuperar a confiança desses mercados, o governo americano tomou a decisão de baixar drasticamente os seus juros. Com juros baixos sendo praticados ao longo dos anos, certa confiança surgiu por parte dos bancos, que passaram a ver em clientes com baixa capacidade ou histórico ruim de pagamento a possibilidade de ofertar hipotecas (subprime, ou seja, de alto risco). Importante ressaltar que essa prática de compra a juros baixos se tornou tão intensa que um mesmo cliente realizava a hipoteca de vários imóveis. 3 No entanto, o Federal Reserve (Banco Central americano), também conhecido como Fed, começou a elevar os juros no ano de 2004. Em 2006, os juros chegaram a 5,25%. A partir disso, o preço dos imóveis ficou estagnado e o valor do financiamento aumentou consideravelmente, impossibilitando que os clientes de baixo poder aquisitivo conseguissem pagar. Começava então o início de um calote cuja bolha estouraria no ano de 2007, quando os principais bancos que financiavam essas hipotecas começaram a quebrar. Além disso, essas hipotecas de alto risco tiveram seus fundos vendidos pelos bancos para investidores de todo o mundo. Com a quebra desses bancos, um efeito dominó se alastrou. Nesse sentido, o governo americano precisou injetar bilhões de dólares (ou seja, dinheiro do contribuinte) para salvar os maiores bancos e gerenciar a compra e venda de outras empresas. No entanto, nenhuma injeção de dinheiro foi capaz de salvar o Lehman, marcado por ser o primeiro grande banco a fechar as portas em 2008 por causa da crise (conhecida hoje como a Grande Recessão). METODOLOGIA Este trabalho possui caráter qualitativo e se baseou em pesquisas bibliográficas para sua realização, tendo como enfoque a análise e os desdobramentos da maior crise econômica já vivida no mundo desde 1929: a crise de 2008. 1929 E 2008: DUAS CRISES, DUAS REALIDADES De uns anos para cá, muitos são os estudiosos que tentam analisar as principais diferenças entre as duas grandes crises econômicas geradas nos EUA e com efeitos catastróficos em todo mundo. Pode-se dizer que a grande diferença esteja nas razões que levaram à recessão. O crescimento acelerado dos EUA era muito elevado em 1929, a ponto de o mercado interno não conseguir dar conta da alta capacidade de produção. A alternativa lógica disso foi a exportação. Mas logo em seguida veio a Europa, que retomou sua capacidade 4 de produção e elevou o grau de competição do mercado externo. Com isso, os EUA tiveram que frear, gerando assim a crise. No caso de 2008, o governo americano baixou radicalmente as taxas de juros ao perceber uma desaceleração da economia do país logo após os ataques de 11 de setembro, a fim de evitar um colapso econômico. Com isso, os bancos passaram a ser menos rígidos na oferta de empréstimos imobiliários (hipotecas), dando oportunidade de compra aos clientes com baixo poder aquisitivo. Quando os juros voltaram a subir, esses clientes não tinham como pagar as prestações corrigidas pela inflação, gerando inadimplência numa proporção macro, que levou grandes bancos a quebrarem e abalarem o sistema financeiro americano e mundial. Pode-se dizer que se existe uma semelhança entre as duas crises é o fato de ambas envolverem forte queda na bolsa de valores, prejuízo exponencial aos investidores internos e externos, além do alto índice de desemprego gerado. A CRISE, SUAS CONSEQUÊNCIAS GLOBAIS E SOLUÇÕES Nas palavras de José Roberto Castro (2013): “Em um primeiro momento, parte dos empréstimos deixaram de ser pagos, e os bancos começaram a executar as garantias tomando os imóveis. Com esse movimento ocorrendo, o preço dos imóveis, que sempre subiu, passou a cair. Os títulos que pareciam dar retornos garantidos perderam valor. Tudo acontecia ao mesmo tempo e os papéis, já sabidamente sem valor (títulos podres), continuaram sendo revendidos, incluídos em pacotes e recebendo notas altas. O mecanismo só parou de rodar quando o Lehman Brothers faliu. (...) Todo o processo foi potencializado pela grande alavancagem dos bancos, ou seja, vários dos agentes tinham apenas uma parte da quantia que deviam. Como vários agenteseconômicos tinham dívidas entre si, a inadimplência das hipotecas gerou uma reação em cadeia.” (Castro, 2013) Apesar da falência do maior banco de investimento do país, o governo americano ainda tinha outros bancos e instituições que necessitavam de sua intervenção para serem salvas. Grandes montadoras, seguradoras e outros grandes bancos de investimento só não faliram graças à injeção de 2,6 trilhões de dólares pelo governo americano. Em 5 outras palavras, o então presidente George W. Bush salvou grandes empresas do país com dinheiro público. Paralelamente, os outros países desenvolvidos tiveram que adotar suas próprias medidas de modo a evitar impactos ainda maiores em suas economias: aumento dos investimentos, diminuição da taxa de juros com o intuito de aquecer a atividade econômica, injeção de um maior volume de dinheiro para circulação e incentivo ao consumo. De 2008 a 2013, por exemplo, os EUA aumentaram em 5 vezes o volume de dinheiro em circulação. Portanto, o alto volume de dinheiro circulando no mercado somado à volta dos baixos juros levou à desvalorização do dólar, fazendo a roda da economia mundial voltar a girar com mais tranquilidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS 11 anos se passaram desde a falência do Lehman Brothers, ou seja, desde a última grande crise econômica mundial, que levou à falência de outras grandes empresas. O resultado foi catastrófico: elevado índice de desemprego e impactos muito negativos ao redor do mundo. A atual economia dos EUA, no entanto, se apresenta de forma estabilizada: o sistema bancário passou a ser regido por uma regulamentação mais rigorosa, o desemprego diminuiu radicalmente e as ações não cansam de bater novos recordes todos os dias. Além disso, o cenário mundial vem apresentando forte crescimento, segundo dados do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Contudo, algumas ações do atual presidente, Donald Trump, são vistas com olhos de desconfiança frente à estabilidade econômica mundial, como é o caso da guerra comercial entre EUA e China. Paralelamente, o congresso americano abriu inquérito de impeachment contra Trump, acusando-o de utilizar poder estrangeiro para seu favorecimento nas eleições de 2020. Além disso, vale ressaltar as crises política e econômica que se agravaram recentemente no Chile e na Argentina, bem como a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). 6 Todas essas questões podem gerar impactos negativos ao cenário mundial que, uma vez não solucionados agora, podem desencadear crises econômicas futuras e de proporções inimagináveis. Para o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Maurice Obstfeld (2018), “o risco de que as tensões comerciais se intensifiquem (…) representa no curto prazo a maior ameaça para o crescimento mundial”. Cabe agora aguardar os desdobramentos de todos esses eventos, a fim de que busquem as melhores soluções possíveis e evitem novas crises catastróficas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MICHELETTI, B. 2008. A crise das hipotecas subprime nos EUA e os seus desdobramentos. Unicamp – CEDOC - IE [online]. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?view=000437693 [acesso em 01/11/2019] Comprar Casa em Orlando, 2017. Comprar imóvel nos EUA: Como funciona a hipoteca. Flórida: Talent [online]. Disponível em: http://www.comprarcasaemorlando.com.br/florida-2/comprar-imovel-nos-eua-como- funciona-a-hipoteca/ [acesso em 01/11/2019] MARTINS, G. 2018. Entenda a origem e os desdobramentos da crise global de 2008. Rio de Janeiro: Globo Economia [online]. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/entenda-origem-os-desdobramentos-da-crise- global-de-2008-23067036 [acesso em 02/11/2019] CASTRO, J. 2018. Dez anos da crise de 2008: colapso, consequências e lições. São Paulo: Nexo Jornal [online]. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/09/13/Dez-anos-da-crise-de-2008- colapso-consequ%C3%AAncias-e-li%C3%A7%C3%B5es [acesso em 02/11/2019] http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?view=000437693 http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?view=000437693 http://www.comprarcasaemorlando.com.br/florida-2/comprar-imovel-nos-eua-como-funciona-a-hipoteca/ http://www.comprarcasaemorlando.com.br/florida-2/comprar-imovel-nos-eua-como-funciona-a-hipoteca/ http://www.comprarcasaemorlando.com.br/florida-2/comprar-imovel-nos-eua-como-funciona-a-hipoteca/ http://www.comprarcasaemorlando.com.br/florida-2/comprar-imovel-nos-eua-como-funciona-a-hipoteca/ https://oglobo.globo.com/economia/entenda-origem-os-desdobramentos-da-crise-global-de-2008-23067036 https://oglobo.globo.com/economia/entenda-origem-os-desdobramentos-da-crise-global-de-2008-23067036 https://oglobo.globo.com/economia/entenda-origem-os-desdobramentos-da-crise-global-de-2008-23067036 https://oglobo.globo.com/economia/entenda-origem-os-desdobramentos-da-crise-global-de-2008-23067036 https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/09/13/Dez-anos-da-crise-de-2008-colapso-consequ%C3%AAncias-e-li%C3%A7%C3%B5es https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/09/13/Dez-anos-da-crise-de-2008-colapso-consequ%C3%AAncias-e-li%C3%A7%C3%B5es https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/09/13/Dez-anos-da-crise-de-2008-colapso-consequ%C3%AAncias-e-li%C3%A7%C3%B5es https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/09/13/Dez-anos-da-crise-de-2008-colapso-consequ%C3%AAncias-e-li%C3%A7%C3%B5es 7 CHEDE, A. 2018. 10 Anos depois de 2008, a economia mundial caminha rumo a uma nova fase? Curitiba: PHI Investimentos [online]. Disponível em: https://phiinvestimentos.com.br/10-anos-depois-2008-nova-crise-economica/ [acesso em 03/11/2019] https://phiinvestimentos.com.br/10-anos-depois-2008-nova-crise-economica/ https://phiinvestimentos.com.br/10-anos-depois-2008-nova-crise-economica/
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