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Relacao Juridica de Trabalho privado

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Relação jurídica é o vínculo que o direito estabelece entre pessoas ou grupos, atribuindo-lhes poderes e deveres. Representa uma situação em que duas ou mais pessoas se encontram, a respeito de bens ou interesses jurídicos. (Delgado, 2010)
A relação jurídica é o conceito básico do direito privado, representando a situação jurídica de bilateralidade que se estabelece entre sujeitos, em posição de poder, e outros em correspondente posição de dever. Poderes e deveres estabelecidos pelo ordenamento jurídico para a tutela de um interesse, estendendo-se como interesse a necessidade de bens materiais que se constituem em razão de agir. Neste sentido, precisa a lição de Delgado (2010: 78) o direito do Trabalho é produto do capitalismo, actado à evolução histórica desse sistema, retificando-lhe distorções económico-sociais e civilizando a importante relação de poder que sua dinâmica econômica cria no âmbito da sociedade civil, em especial no estabelecimento e na empresa.
Com efeito, o ramo jurídico-laboral assumiu, pois, a relevante incumbência de equilibrar relações jurídicas naturalmente desequilibradas e, assim, promover condições dignas de trabalho. Contudo, “o direito não é um fenômeno estático. É dinâmico” (Nascimento, 2009: 3). Desse modo, cabe ao direito escoltar a transformação da sociedade, a fim de regular adequadamente as relações jurídicas nos diferentes contextos sociais e econômicos. O Direito do Trabalho, por sua vez, não está imune às transformações socioeconómicas. Ao contrário, deve acompanhar tais mudanças e se adequar à nova realidade. Com isso, observa-se que a premissa na qual foi construída a base normativa do Direito do Trabalho não mais subsiste, pois aquele contexto apresentava uma relação de emprego tipicamente industrial, em que o empregado era absolutamente submisso ao poder econômico do empregador. Porém, esta conjuntura não corresponde à realidade atual.
Por este motivo, cumpre ao jurista repensar o Direito do Trabalho com os olhos voltados à hodierna realidade do mercado de trabalho, observando as características marcantes das diversas relações de trabalho travadas na sociedade contemporânea. Neste aspecto, atento ao amadurecimento do ramo do trabalho, Nunes (2009: 37) pondera: o direito do Trabalho há de ser concebido, agora, não mais como um espaço normativo e dogmático de superproteção do trabalhador presumidamente incapaz, mas um direito humanístico que permite, além de uma proteção madura, também o pleno desenvolvimento da personalidade do trabalhador através da livre manifestação de sua liberdade de contratar.”
Por isso, ganha relevância a corrente da flexibilização do Direito do Trabalho, que sustenta a postergação dos direitos dos trabalhadores em razão das necessidades de natureza econômica (Nascimento, 2009). Neste particular, Ferraz (2003: 18) entende a flexibilização do trabalho como “a adequação das normas trabalhistas às exigências econômicas do mundo globalizado, que culmina com a precarização da relação formal de emprego”. Nessa perspectiva, “flexibilizar os tipos de contrato individual de trabalho é uma decorrência da transformação do cenário do trabalho na sociedade contemporânea, ampliando-se as formas de contratação” (Nascimento, 2009: 175). Surge, nesse contexto, uma forma de contratação pela qual o tomador de serviços determina que o trabalhador constitua pessoa jurídica, descaracterizando a relação de emprego. Diante dessa nova relação de trabalho, imprescindível analisar sua licitude, estudando o fenômeno numa perspectiva contemporânea, mediante o exame da aplicabilidade dos princípios tradicionais trabalhistas frente à concepção flexibilizadora do Direito do Trabalho.
A Relação de Emprego, a título de exemplo, trata-se de uma situação ou um conjunto de situações que, no Direito do Trabalho, merece atenção especial, pois representa uma coleção de fatos que desencadeiam um processo que irá tratar de uma relação jurídica específica do Direito do Trabalho, onde se verifica a presença das figuras do empregador e do empregado. Diz respeito a um núcleo básico que, quando presente, estabelece vínculo jurídico regrado pelas lei do trabalho. O propósito deste artigo é, antes de tudo, oferecer uma objetiva análise da jornada de trabalho dos Servidores Públicos da União, em particular do Judiciário Trabalhista, com vistas à apreciação da legitimidade dos atos referidos, com atenção aos princípios da legalidade e eficiência administrativa, de albergue constitucional (Goncalves filho, 2010:20).
2.1.Relação Jurídica 
Segundo Vasconcellos (2010) a relação jurídica consiste num vínculo entre pessoas, em razão do qual uma pode pretender um bem a que outra é obrigada. Basicamente, constitui-se a relação de quatro elementos essenciais: 
- Sujeito Ativo: O primordial de uma relação jurídica em virtude de ser o titular do direito e consequentemente o credor da obrigação principal a ser cumprida pela outra parte. 
- Sujeito Passivo: Obviamente, é o devedor ou o responsável pelo cumprimento da obrigação principal; é aquele que tem um dever a ser cumprido em relação a outrem. 
- Vínculo de Atributividade: “É o vínculo que confere a cada um dos participantes da relação o poder de pretender ou exigir algo determinado ou determinável.” (Miguel Reale) Tem origem na lei ou no contrato. 
- Objeto: É sobre o objeto que recai a exigência do sujeito ativo e o dever do sujeito passivo. Recai sempre sobre um bem. Pode ser patrimonial ou não-patrimonial, conforme apresente valor pecuniário ou não. 
A relação jurídica, embora tenha apenas dois sujeitos, um ativo e outro passivo, poderá possuir uma ou mais pessoas constituindo cada uma dessas partes ou até mesmo ambas as partes. Os sujeitos que compõem a relação jurídica tanto poderão ser pessoas físicas como jurídicas, indiferentemente. 
O vínculo jurídico está sempre alicerçado em algo, a que se denomina objeto. É em torno desse objeto que se estabelece o direito de um sujeito e a obrigação do outro, bem como todos os demais direito e obrigações secundários. 
Indaga-se, frequentemente, sobre a possibilidade de um ser humano vir a ser objeto de uma relação jurídica em casos como os de pátrio poder, adoção, tutela, curatela, etc. 
Miguel Reale admite que possa ser objeto de uma relação jurídica a própria pessoa, como nos direitos pessoais. E comprova: “Tudo está em considerar a palavra ‘objeto’ apenas no seu sentido lógico, ou seja, como a razão em virtude da qual o vínculo se estabelece. Assim, a lei civil atribui ao pai uma soma de poderes quanto à pessoa do filho menor, que é a razão do instituto do pátrio poder.” 
As relações jurídicas podem ser englobadas em apenas duas espécies: relativas e absolutas. 
As relações jurídicas são ditas relativas quando dizem respeito e vinculam aos seus efeitos apenas as pessoas diretamente envolvidas. As pessoas estranhas à relação não são abrangidas e não ficam absolutamente vinculadas. São chamadas relativas justamente porque somente envolvem as partes relacionadas entre si. São também chamadas: relações pessoais. As relações jurídicas são ditas absolutas quando vinculam aos seus efeitos todas e quaisquer pessoas e não apenas as pessoas diretamente envolvidas. A característica delas está exatamente na extensão dos seus efeitos a todos em geral. Por isso é que se diz que as relações jurídicas absolutas operam “erga omnes” (‘para com todos’). 
As relações jurídicas absolutas compreendem as relações de direito personalíssimos e as de direitos à honra, ao nome, à vida, à integridade corporal, e, do outro lado, o direito de propriedade, a enfiteuse, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, o penhor, a hipoteca. 
Quando a relação jurídica é absoluta, os seus efeitos são dirigidos indistintamente a todas as pessoas da sociedade que ficam implicitamente obrigadas a respeitar o direito de que alguém seja o titular. Difere, pois, da relação jurídica relativa na qual a obrigação somente recai sobre determinada pessoa, não tendo qualquer ingerência quanto às demais pessoas não envolvidas.
2.1.1.ConsideraçõesPreliminares
Como toda pessoa jurídica, o Estado se faz presente através das pessoas físicas que atuam em seu nome. O regime jurídico mais adequado para disciplinar as relações entre os servidores públicos e a Administração, sem dúvida é o estatutário. A situação estatutária define-se pela existência de regras gerais, impessoais e abstratas que se aplicam a situações jurídicas objetivas, evitando, assim, situações díspares, baseadas em preferências pessoais ou restrições discriminatórias. Com isso, impõe-se a prevalência legal, de caráter público, em detrimento dos interesses pessoais deste ou daquele administrador.(Reale, 2000).
Historicamente, no entanto, as limitações impostas pelo regime estatutário não agradaram aos gestores públicos, especialmente o Poder Executivo, acostumado a seguir apenas as suas conveniências. A exigência de concurso, a necessidade de auscultar o Legislativo para a criação de novos cargos e a fixação dos estipêndios, os limites ao poder de despedir, tudo conspirava contra a liberdade quase absoluta desfrutada anteriormente.
A divisão entre Direito Público e Direito Privado decorre de uma necessidade do estudo do direito, sobretudo em relação ao conteúdo da norma jurídica. Trata-se da exigência de uma classificação ou de uma tópica jurídica. A divisão entre Direito Público e Direito Privado também é o eixo para a organização das Faculdades de Direito e dos programas de graduação e pós-graduação. (Ferraz Junior, 2003).
2.2.Origem da divisão entre Direito Público e Direito Privado
A origem da divisão entre Direito Público e Direito Privado remonta ao Direito Romano, sobretudo a partir da obra de Ulpiano, o direito público diz respeito ao estado da coisa romana, à polis ou civitas, o privado à utilidade dos particulares. A divisão também resulta da separação entre a esfera pública e a privada, do lugar da ação e do lugar do labor. Tércio Sampaio Ferraz corrobora o entendimento afirmando que, Quando Ulpiano, pois, distinguia entre jus publicum e jus privatum certamente tinha em mente a distinção entre a esfera do público, enquanto lugar da ação, do encontro dos homens livres que se governam, e a esfera do privado, enquanto o ligar do labor, da casa, das atividades voltadas à sobrevivência. (Ferraz Junior, 2003:134).
A tradição do Estado Moderno também representa a distinção a partir da separação entre o Estado e a sociedade. Sustenta-se, assim, que existem, na vida social, duas esferas com diferentes finalidades e regras de funcionamento: por um lado, a esfera privada, em que os indivíduos atuam livremente segundo sua vontade e interesse; por outro lado, a esfera pública, em que os cidadãos decidem de forma coletiva sobre assuntos de interesse geral.(Dimoulis, 2007).
2.2.1.Critérios para divisão entre Direito Público e Direito Privado
Para o fim de analisar e caracterizar a divisão entre Direito Público e Direito Privado, importa estabeceler uma série de critérios objetivos para compreender a relação jurídica em questão. Destacam-se os seguintes critérios:
· Quanto ao conteúdo da relação jurídica: importa para esse critério verificar qual é o interesse predominante na relação jurídica. De maneira geral, se o interesse tutelado se referir ao particular o domínio será do Direito Privado, ou caso seja o interesse público será pertencente ao domínio do Direito Público.
· Quanto ao tipo da relação jurídica: será considerada uma relação jurídica de Direito Privado quando ocorre uma relação de coordenação dos sujeitos, isto é, quando as partes se encontram em situação de igualdade. Caso contrário, caso seja uma relação de imposição, na qual uma das partes pode sujeitar a outra a sua vontade, será pertencente ao Direito Público.
· Quanto à forma da relação jurídica: de maneira geral, a norma que apresenta um caráter imperativo, portanto, obrigatória para todos deverá pertencer ao domínio do Direito Público. Ao contrário, caso prevaleça a autonomia da vontade e dos interesses dos particulares será o domínio do Direito Privado.
2.2.2.Críticas da divisão entre Direito Público e Direito Privado e críticas aos critérios da divisão
A dicotomia entre Direito Público e Direito Privado tornou-se um lugar-comum ao estudo do direito, não conferindo bases sólidas e rigorosas para uma orientação. As principais críticas da divisão são: 
· A divisão entre Direito Público e Direito Privado como um conceito abrangente: essa crítica indica a falta de precisão ao distinguir o direito em dois grandes ramos e, ao mesmo tempo, sustenta a necessidade de uma melhor classificação dos ramos dogmáticos capazes de se ajustar às suas finalidades próprias.
· A inexistência da divisão entre Direito Público e Direito Privado: essa crítica se baseia na ideia dos direitos meta individuais, sobretudo tendo em vista a necessidade de especificar os direitos de uma dada coletividade. A compreensão é que a distinção entre interesses públicos de privados, que em certa época era o suficiente para expressar toda a gama de interesses da coletividade, acabou por se tornar insuficiente para abranger o espectro de interesses que a sociedade moderna manifestava.
· A divisão do Direito Público e Direito Privado como simplificação do direito como fenômeno jurídico complexo: essa crítica se fundamenta na simplificação da divisão a partir dos manuais de Direito (ou apostilas de cursos preparatórios para ingresso em carreiras públicas). O fato é que nesses materiais de estudo, são apresentados aos estudiosos simplificações de um de um fenômeno complexo como o direito, eliminando as importantes porosidades e a real dinâmica e prática do direito.
A grande maioria das críticas apresentadas se fundamentam a partir da insuficiência de critérios claros para justificar a divisão entre Direito Publico e Direito Privado. Destacam-se as seguintes críticas aos critérios apresentados:
· Crítica do critério quanto ao conteúdo da relação jurídica: distinguir a relação a partir do interesse predominante é insatisfatório já que existem inúmeros interesses particulares albergados pela Constituição Federal e integrantes no domínio do Direito Público (p. ex., proteção dos direitos fundamentais).
· Crítica do critério quanto ao tipo da relação jurídica: a dificuldade desse critério resulta na análise da sujeição das partes, isto porque em muitos casos no Direito Privado há imposição de obrigações às partes (p. ex, contrato de adesão).
· Crítica do critério quanto à forma da relação jurídica: Em muitas normas de Direito Privado possuem o caráter imperativo e em outras normas de Direito Público possuem certo respeito e atenção à autonomia da vontade.
2.3. Relação de emprego e relação de trabalho: elementos diferenciais
A Relação de Trabalho tem caráter genérico, referindo-se às relações jurídicas que tratam da contratação do trabalho humano para determinada prestação. Esse caráter genérico permite inferir que a Relação de Trabalho é uma expressão utilizada para referir-se a todas as formas de prestação de trabalho, incluindo a Relação de Emprego, a relação de trabalho autônomo, a relação de trabalho eventual, a relação de trabalho avulso, bem como outras modalidades de prestação de trabalho, como é o exemplo do estágio. 
A Relação de Emprego, por sua vez, é uma das modalidades específicas da relação de trabalho, correspondendo a um tipo legal próprio e específico, que não se confunde com as demais modalidade de Relação de Trabalho. Do ponto de vista económico-social, trata-se da mais relevante modalidade de prestação de trabalho, através da qual emoldurou-se o Direito do Trabalho. Demarcou uma tendência voltada a submeter as diversas formas de utilização da força de trabalho da economia contemporânea às suas regras, estabelecendo um sistema de regras, princípios e institutos jurídicos próprios e específicos denominado Direito do Trabalho. (Delgado, 2004).
A utilização das expressões relação de trabalho e contrato de trabalho desejando referir-se, respectivamente, a relação de emprego ou relação empregatícia, e a contrato de emprego ou contractoempregatício. Trata-se de uma impropriedade linguística que não merecerá neste estudo atenção específica, pelo que chamamos à atenção apenas para a necessidade de entendimento de que, o aluno ou aquele que se deparar com as referidas expressões, tenha entendimento acerca do que pretendem se referir, vale dizer, relação de emprego e contrato de emprego. Ainda quanto a isto, a utilização da expressão relação de trabalho pode estar sendo empregada corretamente quando se referir a um pacto laboral que diga respeito a outro que não enquadrado na especificidade da relação de emprego, o que, por sua vez, merece maior atenção antes de se inclinar à conclusão de quem a utilizou pretendia referir-se a esta última.
2.3.1. Caracterização da relação de emprego
São diversas as formas de prestação de trabalho que uma pessoa física pode exercer em favor de uma outra pessoa, física ou jurídica. No entanto, conforme já mencionados acima, essa prestação de trabalho não está restrita à formação do vínculo jurídico denominado Relação de Emprego.
A caracterização da relação empregatícia é procedimento essencial do Direito do Trabalho que através de suas normas, exige, para a configuração da relação de emprego, a presença de determinados pressupostos que são: execução do trabalho por pessoa física, pessoalidade na execução do trabalho, não-eventualidade, onerosidade e subordinação.
A relação jurídica de trabalho que não acusa a presença desses cinco requisitos ou pressupostos, também chamados de elementos, não configura Relação de Emprego e tampouco se encontra sob a égide da legislação trabalhista, não podendo, em se verificando conflitos na Relação de Trabalho, submetê-los à apreciação da Justiça do Trabalho, cada um dos elementos fático-jurídicos que compõem a relação de emprego:
· Trabalho Executado por Pessoa Física
A vida, a saúde, a integridade moral e física, o lazer e outros bens afins, por estarem diretamente vinculados à pessoa física, trata-se de bens jurídicos tutelados pelo Direito do Trabalho. O facto desses bens dizerem respeito somente à pessoa física, inviabiliza qualquer intenção de vincular a pessoa jurídica ao estabelecimento de uma Relação de Emprego com outra pessoa jurídica. 
· Pessoalidade
Elemento fático-jurídico que sugere muita proximidade com o do Trabalho por Pessoa Física, vez que a ele se vincula, mas dele difere, vez que podemos ter configurada uma situação em que o trabalho é prestado por pessoa física, no entanto sendo manifesta a ausência da pessoalidade.
Tenha-se como exemplo o trabalhador que se faz substituir de forma intermitente por outro trabalhador para a concretização dos serviços que foram pactuados. Por se tratar de uma circunstância que torna o trabalho impessoal, com substituição da figura do trabalhador em enfoque, tem-se a descaracterização da Relação de Emprego.
Torna-se indispensável à configuração o fato de que a prestação do trabalho seja executada com caráter de infungibilidade, ou seja, sem que o trabalhador seja substituído no exercício de suas obrigações. Trata-se de uma prestação intuitu personae, pessoal.(Reale, 2000).
As Férias, licença-gestante, doença do trabalho e afastamento para cumprimento de mandato sindical são exemplos de situações que exigem a substituição do trabalhador por exigência legal ou normativa, não comprometendo o estabelecimento da Relação de Emprego, pois não afastam o elemento fático-jurídico da pessoalidade, e ainda se tratam de situações que provocam a suspensão ou interrupção do contrato de trabalho.
· Não-eventualidade
Outra atenção que se deve dispensar ao vínculo sugestivo da Relação de Emprego é a que diz respeito ao caráter de permanência do trabalho prestado.
Não há espaço na legislação trabalhista clássica para o trabalhador eventual, devendo a prestação de serviço ser contínua para que se veja caracterizada a Relação de Emprego. O trabalhador eventual, tem a sua prestação de serviços efetuada de forma esporádica e intermitente, vinculando-se a distintos tomadores de serviço. Razão pela qual falta, a essa relação, o caráter de permanência, impedindo a sua qualificação como empregado.
· Onerosidade
A disponibilização da força de trabalho pelo trabalhador possui valor econômico e, como tal, exige uma correspondência, ou seja, uma contrapartida também com valoração econômica, o que possibilita interpretar o contrato de trabalho como um contrato economicamente mensurável. Essa contrapartida, por sua vez, para que se caracterize a Relação de Emprego, deve ser consubstanciada nas verbas salariais. A onerosidade do contrato de trabalho manifesta-se através do pagamento, pelo empregador, de parcelas salariais que visam remunerar o empregado. 
Tem-se então, que a contraprestação econômica do empregador ao empregado, representada pelo complexo salarial que é a somatória de parcelas que visam remunerar o empregado, é um elemento fático-jurídico indispensável à Relação de Emprego. No entanto, é importante observar que, de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (Nascimento, 1989:103), o salário do trabalhador pode ser pago em dinheiro, parcialmente em utilidades, por dia, semana, quinzena ou mês, tornando tais situações contribuidoras para que o elemento onerosidade se manifeste. Assim, um tanto quanto dificultoso se torna o processo que pretenda ocultar a presença da onerosidade.
Verifica-se, no entanto, a presença de situações em que há a prestação do trabalho sem que se verifique a presença do elemento onerosidade. Não nos referimos aqui àqueles casos em que é subtraído do trabalhador o pagamento do salário nas situações em que este esperava recebê-lo, ou, menos ainda aos regimes de escravidão ainda presentes em algumas regiões do nosso país. (Dimoulis, 2007).
Nestes casos há que se observar, se apurar qual a intenção contraprestativa do prestador de serviços. Ou seja, é preciso que se verifique se o prestador de serviços, ao ser contratado, tinha ou não intenção de receber salário e se assim foi pactuado com o tomador. Se a prestação de serviços tiver sido pactuada pelo trabalhador com a intenção de auferir ganho econômico pelo trabalho disponibilizado, tem-se a presença do elemento fático-jurídico da onerosidade que somados aos outros elementos fático-jurídicos, implicará no estabelecimento da Relação de emprego entre as partes, e, por assim dizer, em vínculo empregabilidade. É então o animus contrahendi, expressão que traduz a intenção ou não do prestador de serviço de se vincular ao tomador do serviço pela via onerosa ou empregatícia.
Com relação à prestação de serviço voluntário, o fato de o prestador do serviço ofertar o seu trabalho em face de uma causa benevolente, supõe-se que não havia intenção empregatícia onerosa. Conforme menciona o ilustre doutor Maurício Godinho Delgado, a simples circunstância de alguém laborar para certa entidade política, filantrópica, religiosa, etc., por longo período, sem jamais ter recebido qualquer pagamento, tende a ser indicativo importante da intenção não onerosa (intenção graciosa) com que o prestador se vinculou àquela relação social. (Dimoulis, 2007).
· Subordinação
A subordinação, entre os cinco elementos que reunidos caracterização a Relação de Emprego, é o que entre os juristas tem maior relevância, pois permite ao operador jurídico, após a verificação desse elemento fático-jurídico, vislumbra outras situações fático-jurídicas próximas. Através de uma avaliação etimológica, chega-se à conceituação do termo subordinação como sendo um estado de dependência ou obediência em relação a uma hierarquia de posição ou de valores. Reflete uma ideia de submetimento, sujeição ao poder de outros, às ordens de terceiros, uma posição de dependência (Delgado, 2004:303). De acordo com Amauri Mascaro do Nascimento, a subordinação traduz-se “na situação em que se encontra o trabalhador, decorrente da limitação contratual da autonomia da sua vontade, para o fim de transferir ao empregador o poder de direção sobre a atividade que desempenhará” (Delgado, 2004).
O que se verifica, é quea subordinação atua sobre o modo de realização da prestação e não sobre a pessoa do trabalhador. É então fenômeno jurídico porque deriva de contrato estabelecido entre o trabalhador e o tomador de serviços, onde o primeiro acolhe o direcionamento objetivo do segundo sob a forma de efetuação da prestação de trabalho (Delgado, 2004).
2.4. Legitimidade da relação de emprego: elementos jurídicos-formais do contrato de trabalho
A presença dos cinco elementos fático-jurídicos é o passo inicial para a verificação da presença da relação de emprego em um vínculo que se estabeleceu entre o prestador de serviços e o tomador desses serviços. Por outro lado, a pesquisa que se volta para a verificação da presença dos elementos jurídico-formais do contrato de emprego visa responder sobre a validade e extensão dos efeitos jurídicos da relação estabelecida entre as partes. Esses últimos “constituem construções teóricas e normativas efetuadas pela ordem jurídica, cuja presença passa a ser considerada relevante à validez jurídica do próprio fenômeno a que se integram” (Delgado, 2004).
Segundo Delgado (2004) os elementos jurídico-formais do contrato são aqueles constitutivos da relação contratual padronizada, senão vejamos:
· Capacidade das partes contratantes;
· Licitude do objeto contratado;
· Forma contratual determinada em lei ou por ela não proibida;
· Legítima manifestação da vontade das partes.
A relação de emprego então, só se dará completa, do ponto de vista da produção de efeitos jurídicos, a partir da verificação da presença dos elementos fático-jurídicos que a evidenciam, cumulada com a presença dos elementos jurídico-formais acima descritos. Os elementos fático-jurídicos evidenciam a existência da relação de emprego, mas a capacidade de que a reunião desses elementos venha a produzir efeitos na ordem jurídica, só ocorre a partir da presença de todos os elementos jurídico-formais do respectivo contrato de emprego.
A fim de esclarecimento, servimo-nos de um exemplo de situação em que os efeitos jurídicos da Relação de Emprego se verão prejudicados: o tráfico de drogas. Ainda que presentes todos os elementos fático-jurídicos (trabalho efetuado por pessoa física, pessoalidade, não-eventualidade, onerosidade e subordinação) ter-se-á o não reconhecimento dessa relação pelo Direito do Trabalho, vez que atinge frontalmente um dos elementos jurídico-formais, qual seja, a licitude do objeto contratado. (Delgado, 2004).
Conclusão 
O exemplo apresentado trata de uma situação extremada em que a suposta relação de emprego não será tutelada pela legislação trabalhista. No entanto, é importante frisar que, a ausência dos elementos jurídico-formais, dependendo da situação em que sejam verificados, não implicarão em desprezo total pelo Direito do Trabalho, cabendo a aplicação de suas normas a fim de se resguardar direitos das partes. Conforme maior ou menor gravidade do vício que atinge os elementos jurídico-formais do contrato, irá o operador do Direito aplicar uma diferenciada extensão dos efeitos da relação empregatícia que se apresenta defeituosa. 
Referência Bibliográfica
VASCONCELLOS, Armando Cruz.(2010) A eficácia horizontal dos direitos fundamentais nas relações privadas de subordinação (em português). Página visitada em 20 de janeiro de 2010.
Delgado, Maurício Godinho. (2004).Curso de Direito do Trabalho. 3ª Edição. São Paulo: LTr, 2004, p.305.
DIMOULIS, Dimitri.(2007). Manual de introdução ao estudo do direito: definição e conceitos básicos, norma jurídica, fontes, interpretação e ramos do direito, sujeitos de direitos e fatos jurídicos, relações entre direito, justiça, moral e política, direito e linguagem. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. (2003) Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas, p. 134.
GONÇALVES FILHO, Edilson Santana. (2010) A eficácia horizontal dos direitos fundamentais (em português). Página visitada em 20 de janeiro de 2010.
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Nascimento, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 14ª ed. São Paulo: LTr, 1989, p.103.
REALE, Miguel. (2000). Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, p. 341-372.
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