Buscar

Apostila de C. Política

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 253 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 253 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 253 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UniCEUB – Centro Universitário de Brasíl ia 
 Curso Introdutório de Ciência Polít ica 
 
 Prof. Cleber Fernandes Pessoa 
 
ÍNDICE 
 
 
1- Política e Ciência Política................................................................................................................ 4 
 
2- Ciência Política e Direito................................................................................................................. 23 
 
3- O Estado ........................................................................................................................................... 31 
3.1 - Estado: definição do termo-conceito ................................................................................. 31 
3.2 - Estado: elementos constitutivos ........................................................................................ 35 
3.3 - Do Estado antigo ao Estado moderno ............................................................................... 36 
 
4- As tipologias de governo ................................................................................................................ 40 
4.1 - Aristóteles ......................................................................................................................... 43 
4.1.1 - As tipologias de governo segundo Aristóteles e Platão ..... . . .............................. 46 
4.2 - Maquiavel ......................................................................................................................... 51 
4.2.1 - A obra de Maquiavel: militância política e ciência política ................................. 52 
4.3 - Thomas Hobbes e John Locke: jusnaturalismo e juspositivismo ...................................... 68 
 4.3.1 - Thomas Hobbes.................................................................................................... 69 
 4.3.2 - Conclusão ............................................................................................................. 81 
4.4 – Etapas do surgimento, desenvolvimento e consolidação histórica e teórica do Estado 
liberal .................................................................................................................................................... 82 
4.4.1- John Locke .. ......................................................................................................... 84 
4.4.2 - A trinomia jusnaturalista de Locke: estado de natureza, contrato social e 
Estado ............................................................................................................................................. 85 
4.4.3 - O moderno significado de liberalismo .................................................................. 89 
 
 4.5 - Montesquieu e a Separação dos Poderes: mito e realidade ........................................ 94 
4.5.1 - Montesquieu e a Separação dos Poderes............................................................... 95 
3.5.2 - Separação dos Poderes: ascensão e decadência de um mito ................................. 98 
3.5.3 - Conclusão .............................................................................................................. 100 
 4.6 - Karl Marx ........................................................................................................................ 102 
4.6.1 - O materialismo dialético/dialética da história ....................................................... 103 
4.6.2 - A obra de Karl Marx como instrumento de análise a serviço da ideologia .......... 106 
 
 2 
4.6.3 - Conclusão: comunismo teórico e comunismo real................................................ 111 
5- Democracia....................................................................................................................................... 115 
5.1 - O uso indicriminado do vocábulo democracia ......................................................... ........ 116 
5.2 - Afinal, o que é a democracia social................................................................ ................... 117 
5.3 - A Democracia dos antigos................................................................ ................................. 122 
5.4 - A democracia dos modernos: 1a fase (Poliarquia = democracia formal/política) ............ 126 
5.5 - A república: divergência e convergência conceitual com a democracia .......................... 126 
5.6 - Do liberalismo individual à 1a fase da democracia: democracia política (Poliarquia) ...... 128 
5.7 - Evolução da democracia moderna: da 1a fase para a 2a fase ............................................ 129 
5.8- A crítica dos socialistas à democracia liberal e o aparecimento de uma 3a via: ascensão 
da social-democracia/Welfare state ou Estado do bem-estar..................................................... 132 
5.9 - Socialismo e democracia: a teoria marxista da democracia ............................................. 136 
5.9(a) - Democracia e governabilidade: influência de modelos eleitorais nas relações 
executivo/legislativo .................................................................................................................. 139 
5.9(b) - Avaliando a democracia: por que democracia? ........................................................... 141 
 
6- O neoliberalismo: reação à crise fiscal do Estado social............................................................. 150 
 
7- Sistemas de governo: presidencialismo, parlamentarismo e semipresidencialismo................. 154 
7.1 - O Presidencialismo .......................................................................................................... 157 
7.1.1 - Poderes constitucionais do presidente no Brasil e nos EUA: quem pode o quê, 
quando e como................................................................................................................................ 160 
7.1.2 - Presidencialismo norte-americano: o presidencialismo que funciona bem?......... 165 
7.1.3 - Brasil: presidencialismo de coalizão ..................................................................... 168 
7.2 - O Parlamentarismo ......................................................................................................... 170 
7.2.1 - Desenvolvimento do parlamentarismo: do parlamentarismo dualista ao 
parlamentarismo monista................................................................................................................ 170 
7.2.2 - Premissas do parlamentarismo .............................................................................. 172 
7.2.3 - Dinâmica do parlamentarismo: qual o mais estável e por quê.............................. 175 
7.2.3(a) - O parlamentarismo britânico (sistema de gabinete) ......................................... 175 
7.2.3(b) - O parlamentarismo sob controle partidário.................................................... 176 
7.2.3(c) - O parlamentarismo Assembleísta ................................................................... 178 
7.2.4 - Conclusão: presidencialismo, parlamentarismo e governabilidade................................ 180 
7.3 - O semipresidencialismo................................................................................................... 182 
 
 3 
7.3.1 - Uma terceira via? .................................................................................................182 
7.3.2 - A teoria tradicional do semipresidencialismo: por que o sistema recebe a 
denominação? ....................................................................................................................................... 183 
7.3.3 - O dinamismo do sistema semipresidencialista: oscilando entre presidencialismo e 
parlamentarismo?.................................................................................................................................. 185 
7.3.4 - Semipresidencialismo e governabilidade .......................................................................186 
 
8- Sistemas eleitorais e sistemas partidários .................................................................................... 187 
 8.1 - Sistemas eleitorais majoritários: eleições legislativas e executivas.............................. 189 
8.1.1 - O dilema da escolha do sistema eleitoral .............................................................. 193 
8.2 - Eleições majoritárias para prefeitos, governadores e presidente da república ......... 197 
8.3 - Sistemas proporcionais.................................................................................................... 201 
8.3.1 - Coligação para eleições de representantes no sistema proporcional..................... 205 
8.3.2 - A cláusula de exclusão e o quociente eleitoral...................................................... 206 
8.4 - Perspectivas e considerações sobre a reforma política: o sistema eleitoral e 
partidário no Brasil .......................................................................................................................... 208 
 
9- Partidos Políticos ............................................................................................................................ 215 
9.1 - De facção a partido: o surgimento dos partidos modernos................................................ 218 
9.2 - A tipologia dos partidos..................................................................................................... 221 
9.3 - A função dos partidos ........................................................................................................ 225 
 
10- Legalidade e Legitimidade do Estado e do poder político ......................................................... 229 
 10.1 - Legalidade ...................................................................................................................... 229 
 10.1.1 - Do princípio da legalidade: fundamentos do Estado de Direito/liberal........................ 229 
 10.1.2 - As cartas constitucionais: constituição formal e constituição material ........................ 231 
 10.2 - Legitimidade.................................................................................................... .............. 237 
 10.2.1 - Legitimidade e oposição ............................................................................................... 242 
 10.2.2 - O encontro entre legalidade e legitimidade.................................................................. 244 
 10.2.3 - Max Weber: as três formas de autoridade legítima...................................................... 245 
 
11 - Referências bibliográficas........................................................................................................... 248 
 
 
 
 4 
POLÍTICA E CIÊNCIA POLÍTICA 
 
 “As instituições e não o homem constituem 
 o tema de estudo próprio da política” 
 John Plamenatz. 
 
1.1 - A política 
 Em sentido etimológico a palavra política tem sua origem no vocábulo polis, um 
substantivo do grego clássico que na língua portuguesa é literalmente traduzido por cidade, mas 
que na Grécia Antiga também acolhia como significado o conceito moderno de Estado, posto 
que, via de regra, o que se entende hoje como Estado, naquele período se reduzia às dimensões 
de uma cidade, unicamente. De modo que, em sua ligação com a palavra polis, o termo política 
refere-se a tudo o que estiver associado à cidade (polis), ao que for positivo, para o bem da 
cidade, como dizia, por exemplo, Aristóteles. 
 Contudo, a necessidade de estrita observância a regras exigidas pelo assunto o dirige a uma 
definição mais metódica, de conteúdo epistemológico, adquirindo o significado de política uma 
conotação prática, como resultado de investigações filosóficas e também científicas e 
sociológicas. Assim, no plano da mais elevada abstração, na “quintessência” do racionalismo, 
“política é política e nada mais, é política pura (machtpolitik)”.1 É nesse aspecto que Hegel 
classificaria política como potência pura e simples, sob dimensão metafísica; sua intelecção 
conceitual de política foi desenvolvida por meio da argumentação dialética e idealista, cuja 
“razão absoluta” - síntese entre razão objetiva e razão subjetiva – manifesta-se pela 
compreensão do mundo inteligível e essencial (ideia) como fenômeno, e esta realidade 
(fenômeno) se traduz na política (matéria/coisa). 
 É oportuno advertir que política pura ou potência pura, em termos assim tão absolutos, 
essencialmente metafísicos, configura uma abstração absoluta da ideia de poder, realizável 
perfeitamente apenas no plano do intelecto; é uma tipologia de manifestação de um determinado 
modelo idealizado de universo, pois no mundo prático a política pura geralmente se converte em 
realismo político (realpolitik), e este, apesar de exibir toda uma fórmula de ação com base na 
objetividade, na racionalidade lógica, na insensibilidade e até no cinismo para alcançar os fins, 
consiste, na prática, em aplicar de forma não absoluta e inflexivelmente, mas com certa 
relativização, aquele poder político - a priori - implacável. De todo modo, o manual prático da 
 
1SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. São Paulo: Ed. Ática, 1994, vol. 1, p. 62. 
 
 5 
realpolitik (realismo político) confirma que política é a capacidade de monopolizar o uso da 
força, portanto o exercício efetivo do poder, significando que quem detém o poder, monopoliza a 
possibilidade de limitar e de controlar as ações de todos os demais membros de uma comunidade. 
 Em linguagem simplificada, a tradução dessas especulações racionalistas pode ser descrita por 
algo como a capacidade que A possui sobre B de impor-lhe comportamentos sem a contrapartida 
de resistência, não importando se tratar de relações sociais, entre Estados soberanos ou não 
soberanos, ou relações no âmbito interno de um Estado-nação. São extensos os registros 
históricos das lutas entre facções objetivando a conquista do poder, que uma vez alcançado, 
eventualmente legitimava a facção vencedora a submeter impiedosamente os vencidos, quando 
não os eliminava. Resguardadas as exceções, tal lógica de ação vem sendo executada desde a 
antiguidade; na modernidade ocidental ocorria em praticamente todas as cidades-Estado 
mediterrâneas e nos países que se encontravam em processo de unificação; na 
contemporaneidade o déjà vu foi sendo reeditado com a exibição das mais bizarras ditaduras que, 
despreocupadamente, anulavam ou exterminavam seus adversários e/ou inimigos sem maiores 
escrúpulos com postulados do tipo “devido processo legal”, como era regra no stalinismo, no 
fascismo, no nazismo, nas ditaduras militares etc. 
 No campo teórico, Nicolau Maquiavel se consagrará como ícone do realismo político por 
desvendar, de forma sistematizada, os segredos da arte de governar; em seu catecismo, a difusão 
do aforismo “os fins justificam os meios” se converterá em mantra para os seguidores do 
realismo político e, consequentemente, como advertência, lembrando que política não é ética e 
nem envolve ideais, e sim força e poder recaindo indistintamente sobre todos, 
independentemente de valores morais, pois ainda que a moral seja a razão do indivíduo, é a 
política que é a razão do Estado. 
 No campo prático, as teses realistas de Maquiavel não tardariam a ser experimentadas. 
Ainda assim, alguns séculos mais tarde, o estrategista militar prussiano Carl von Clausewitz, fiel 
discípulo do realismo, reforçaria seus fundamentos com a obra “Da Guerra”, cujo conteúdo 
encontraria no aforismo “A guerra é a continuação da política por outros meios” o seu slogan, 
que,em suma, não seria muito mais que uma paráfrase do “mantra” maquiaveliano. Sob esta 
visão de mundo, a partir do século XIX uma nova realidade se impõe; a humanidade testemunha 
o espetáculo de novos “cavaleiros”, alguns dos quais se tornarão lendários, como o general 
francês Napoleão Bonaparte e Otto von Bismarck, o arquiteto da unificação alemã. Naquela 
etapa histórica, as cartilhas do realismo iriam se transformar em regras de conduta para os 
governantes em geral, bastando para isso conferir a curiosa listagem dos estadistas que leram e 
rabiscaram apontamentos em seus exemplares da obra O Príncipe, ainda que simulando 
 
 6 
divergências táticas e éticas, pois, de fato, não conseguiam disfarçar o mal-estar com seu 
conteúdo. Na verdade, como é de amplo domínio público acerca desta obra, o principal objetivo 
era o de desvendar a lógica do poder, incluindo todos os vícios e a corrupção que o cercam. A 
frase-lema da realpolitik (realismo político) representava, enfim, a justificativa simbólica e 
racional para a aplicação de suas doutrinas e, ao mesmo tempo, uma quase-sentença mortal para 
o mundo mágico e encantado do romantismo político dos politólogos utópicos. 
 Ocorre que, no jogo de xadrez da concertação política em âmbito internacional, desde a 
queda de Napoleão e de Bismarck as peças do tabuleiro se moveram numa velocidade que os 
competidores não ousariam prever. Após a explosão da primeira bomba atômica, verificou-se um 
esfriamento de ânimo das partes, e cada passo de cada ator era milimetricamente estudado, 
sempre com base nos atos e omissões dos demais jogadores. As potências que emergiram da 2a 
Guerra portando as amedrontadoras armas atômicas, se encontrariam forçadas, durante a Guerra 
Fria, a recuar e a refletir sobre a eventualidade de outra guerra-total. Mas com o colapso do 
comunismo e o consequente fim da Guerra Fria, o mundo começaria a respirar aliviado - embora 
desencantado e no ritmo contínuo do realismo – e a se comprometer em reordenar os termos do 
aforismo de Clausewitz, que a partir de então melhor se adequaria sob um cuidadoso lema de que 
a “política é a continuação da guerra por outros meios”. Ato contínuo, o dogmatismo 
maquiaveliano seria objeto de correção conjuntural, encontrando em Max Weber um de seus 
revisores, que apesar de adepto do realismo, marcou sua atuação pela crítica sóbria e pela 
sintonia com a realidade de seu tempo. Weber, que legou ao pensamento político sua visão de 
mundo adequada à nova concertação liberal e democrática, que estava cooptando corações e 
mentes no Ocidente, julgava que “política pura” é um padrão de conduta tão irreal quanto a 
política puramente idealista. Entendia ele que política, no sentido mais objetivo, se realizaria 
dentro do Estado, devendo este ser o sujeito ativo do legítimo monopólio do exercício da 
violência física sobre toda a comunidade política de um determinado território, e que tal 
legitimidade só encontra fundamentação na ideia de que a violência física (o poder político) 
jamais poderá ser exercida indiscriminadamente. Assim, uma conjunção de fatores explicaria a 
razão de o estadista esculpido por Maquiavel, cujo ethos se resumiria à ética dos fins últimos ou 
ética da convicção, sair de cena e ceder seu posto para um novo protagonista da história, o 
estadista weberiano – por Weber chamado de líder ou chefe carismático - cujas regras de conduta 
seriam orientadas, dali em diante, pela ética da responsabilidade.2 
 
2 Este tema encontra-se desenvolvido no capítulo dedicado a Maquiavel. 
 
 7 
 As constantes referências a termos e conceitos ocidentais sugere uma pretensa supremacia 
eurocêntrica que, de fato, parece ser pouco questionável. Em contrapartida, não há como ignorar 
a contribuição de estrategistas da política e da guerra na antiguidade oriental, tais como Sun Tzu 
na China (544 a 496 a.C.) e Kautilya na Índia (370 a 283 a.C.). Contudo, com a evolução da 
civilização greco-romana, a filosofia política e do direito adquiriram um refinamento ímpar, 
sendo responsáveis pelo advento de uma sofisticada teoria de Estado. Dentre tantos pensadores 
importantes da Era Clássica, na filosofia política sobressai Aristóteles (384 a 322 a.C.), cuja 
teoria é considerada precursora dos regimes democráticos e liberais prevalecentes na 
contemporaneidade. Para este pensador grego, o significado de política está positivamente 
relacionado a polis (cidade), no sentido de que tudo o que for bom para a cidade (polis), tudo o 
que for para o bem da comunidade pode ser traduzido como política. Desta acepção deriva a 
universalização do termo aristotelismo, que define a natureza humana como sociável e, portanto, 
política por excelência, elevando o homem à condição de zoom politikós, um animal 
naturalmente político e social. De acordo com esta argumentação, a sociedade seria um construto 
anterior ao surgimento do próprio indivíduo, derivando a explicação filosófica do porquê de estar 
o homem, em todos os lugares, sempre em busca da companhia dos outros homens para viver em 
comunidade. E não é sem razão que provavelmente a política e os políticos não existiriam se o 
homem não necessitasse dos outros homens para sobreviver ou para poder usufruir seu tempo de 
vida de maneira mais cômoda. Se todos os homens fossem deuses, bastando-se a si mesmos, a 
luta cotidiana que todos travam pela alocação de recursos para satisfazer seus interesses 
particulares ou comunitários perderia a razão de ser, bem como não teria sentido a luta pela 
supremacia do poder político em nome da integração da comunidade política e da resolução de 
conflitos eventuais. 
 Distante da pretensão de esgotar o assunto, um breve exame do acervo conceitual de 
Thomas Hobbes pode ser selecionado para reforçar a dedução aristotélica, ainda mais por se 
tratar de um pensador cujas convicções acerca do homem, da sociedade e do modo de exercer o 
poder, além de paradigmáticas, são abertamente antagônicas às teses de Aristóteles. No entanto, 
pode-se comprovar sem maiores esforços, uma curiosa convergência de pensamento que 
conjunturalmente aproxima Aristóteles de Hobbes – um moralista e um realista, respectivamente 
–, os quais, apesar das visíveis diferenças, certamente concordariam que a política é o fator 
condicionante para a sobrevivência em comunidade. A despeito de suas concepções francamente 
antitéticas acerca da natureza humana, da sociedade, do Estado e, enfim, do método de exercício 
do poder político, ambos compreendiam que as aspirações humanas só poderiam ser 
 
 8 
concretizadas dentro da realidade estatal, isto é, com todos os membros de uma mesma 
comunidade pertencendo à uma específica organização política. 
 Ressaltando, isto é o que Aristóteles concebe como política: a capacidade dos homens de 
racionalizar a convivência em comunidade, ou seja, da obtenção do bem-comum, implicando na 
possibilidade de fruição de uma boa vida, o viver bem, prerrogativas que abrangiam o somatório 
de todos os membros da polis. Com referência a Thomas Hobbes, é pacificamente conhecido seu 
negativo juízo de valor acerca da natureza humana, valoração que se situa em espectro 
diametralmente oposto ao que se posiciona Aristóteles. Para Hobbes, o homem não apenas é a-
social como também antipolítico. Contudo, reconhecia que o homem, apesar de ser o lobo do 
homem em seu estado natural – portanto, na ausência do aparato estatal -, estaria habilitado a 
conviver comunitariamente, em paz e em harmonia com seus semelhantes, desde que sob o 
monopólio coercitivo do Estado, potência única e capaz de anular circunstancialmente a índole 
do “lobo-homem” e constrangê-lo a se comportar como um animal sociável. 
 Em síntese, sob a ótica aristotélica, a política se relaciona a tudo o que for positivo para a 
comunidade, a tudo o que for em prol da polis, civil enfim. E sob a perspectiva hobbesiana, emque pese sua defesa de métodos distintos de ação política, evidentemente mais ásperos, 
prevalecendo mais o poder de fato do que o poder de direito, mais a força do que o consenso, os 
fins a serem alcançados, contudo, são basicamente os mesmos, ou seja, tanto quanto Aristóteles, 
Hobbes também detecta na política um instrumento cuja finalidade é idêntica à do eminente 
pensador grego: o bem-comum. Esta convergência de fins últimos da política é quase uma 
unanimidade entre os teóricos do Estado, independentemente do modus operandi de executar o 
poder que irão propor e defender – se movidos por convicções moralistas, realistas ou puramente 
por convicções ideológicas. 
 Todavia, o aparente consenso, acomodado pela onipresença e generalidade do termo “bem-
comum”, contribui para despertar o interesse acerca de seus reais significados, que na verdade 
são imprecisos, por se tratar de um conceito absoluto no plano racionalista, mas no plano 
existencial, de tão relativo, diz tudo e pouco explica ao mesmo tempo. Consolidou-se como uma 
esfinge, cujo enigma vem se perpetuando dos primórdios da teoria política até a atualidade, sem 
que seja definitivamente decifrado. Sua explicação de política em seu aspecto teleológico, ou 
seja, de qual seria a conexão existente entre os meios de ação (poder político) e a obtenção dos 
fins desejados, ainda não foram delimitados, relativamente aos meios, em função dos 
intermináveis antagonismos ideológicos. Quanto aos fins, a retórica verborrágica dos políticos é 
unânime em apontar como alvo o bem-comum no seu eterno sentido genérico, delegando para a 
ciência política o desafio de especificá-las no tempo e no espaço. O problema, genérico, carece 
 
 9 
de ser diluído extensivamente em questões específicas, devendo se apresentar sob indagações 
mais objetivas, por exemplo: Como deve ser praticada a política? Como ela se relaciona com o 
poder? Quais são os agentes legitimados a praticá-la? E quais os seus fins? 
 Um primeiro indício que ecoa deste labirinto teórico, revela que o manual de operação da 
política ainda tem as suas respostas distantes da unanimidade, a despeito da contribuição de 
tantos sábios; o quebra-cabeças perdura, segundo os estudiosos, porque de tempos em tempos o 
dinamismo das civilizações opera gradativos up grades nos valores relacionados aos métodos de 
ação política, acarretando uma darwinista revisão de paradigmas do que vem a ser a política em 
seu significado genérico, incluso na questão quem seria o seu agente-protótipo (o modelo de 
político), executando, enfim, uma seleção natural da “espécie”. 
 Sem desconhecer que poder, política e poder político são comumente descritos como 
conceitos associados, sinalizando exprimir valores comuns, é prudente ressaltar que todo estudo 
que envolva a análise desses conceitos deve demonstrar suas consequências, qual seja, os 
resultados práticos do exercício do poder político. Simultaneamente à tarefa de identificar, 
classificar e definir sujeitos e objetos da política, sobrevive o debate, estéril para alguns, 
produtivo e didático para outros, referente à esfera de alcance da política, ou seja, a partir de que 
ponto um ato de poder já pode ser considerado um ato de poder político? Lembrando que poder é 
a faculdade que alguém tem para coagir o outro em fazer ou deixar de fazer algo em seu 
benefício, do contrário resultando em sanções, questiona-se acerca da possibilidade de existir 
política no âmbito das relações sociais; se, em havendo poder entre dois agentes não-estatais, 
podendo ser eles dois indivíduos ou dois grupos, estando, portanto, ausente o elemento Estado, 
poderá existir, naquela relação, poder político. 
 Na percepção analítica dos puristas, somente existirá política quando na presença do 
Estado; quando o exercício do poder for operado por agentes que monopolizam a autoridade de 
governo, sob suposta existência de soberania do ente estatal, portanto. Desta delimitação 
exclusivista do foco de análise, deriva a noção de que somente será político o poder que for 
exercido a partir da supremacia estatal, isto é, no vértice da pirâmide sociológica, que 
compreende o indivíduo, a sociedade e o Estado, prevalecerá a decisão deste último, 
condicionando aos demais inescapável conduta de subordinação. Por exemplo, este poder 
decisional pode ser constatado na esfera da administração pública (poder executivo) pela 
monopolização discricionária da repartição dos bens públicos aos seus administrados; na esfera 
judiciária, pelo poder de proferir sentenças punitivas (jus puniendi), sobressaindo o caráter 
heterônomo do Estado, em razão de sua posição hierarquicamente superior e desigual com 
relação aos seus jurisdicionados; na esfera legislativa, em função de sua soberana autoridade para 
 
 10 
expedir (promulgar, outorgar, decretar) normas e leis que tenham eficácia erga omnes, isto é, que 
sejam válidas para todos. 
 Em contraposição, correntes flexíveis entendem que praticamente toda relação social 
expressa uma situação de poder, consequentemente relações políticas, desde que constatada a 
assimetria de influência nas relações entre esses particulares, seja uma relação de amigo para 
amigo, de pai para filho, entre o médico e seu paciente, o marido e a mulher, o líder religioso e 
seus seguidores etc., consumando, portanto, a onipresença do poder político. Nessas relações 
bilaterais, sempre estarão presentes interesses conflitantes, resultando na tentativa de imposição 
dos objetivos de cada um, por ação ou omissão, procurando influenciar a parte antagônica a fazer 
ou deixar de fazer algo em seu benefício, constituindo relações políticas e, por extensão, a 
ocorrência do poder político. Nesta corrente, situam, também, os adeptos da ocorrência do poder 
político no âmbito das relações internacionais que, tanto quanto na esfera interna de um Estado, 
admitem que entre Estados ocorrem intromissões e interferências de alguns sobre outros, 
influenciando-os a se comportarem de modo contrário aos seus interesses. Considerada nesses 
termos mais genéricos, a interpretação do que é política se confunde com a ideia de influência, 
como explica Bertrand de Jouvenel: “É político todo esforço sistemático, realizado em qualquer 
ponto do campo social, de mobilizar outros homens na procura de algum desígnio definido por 
aquele que realiza a mobilização (....)não há diferença de natureza entre as relações sociais e as 
relações políticas: trata-se simplesmente de uma questão de relações entre os homens”3. 
 No sentido de expor as teses para uma eventual avaliação dialética, Peter Nicholson relata 
pontos de vista abrangentes e antagônicos, que adotam tanto concepções próximas do 
“anarquismo”, ao admitir a política em sociedades sem Estado, quanto outras mais ortodoxas, 
que somente admitem a política se diretamente associada ao Estado “e tudo o que tem a ver com 
ele”.4 Estes, rejeitam a tese de que exista poder político pelo simples fato de haver “governos 
privados” nas firmas, sindicatos, associações profissionais, igrejas, universidades, classificando 
essas estruturas de agrupamentos “para-políticos” ou de “quase-políticos”.5 Para contornar o 
problema, apresenta como recurso uma argumentação conciliatória, admitindo, em outras 
palavras, que o poder político é produto da dominação de um homem sobre o outro, dominação 
que pode se apresentar também sob a espécie de relação entre o Estado e seus súditos 
(governados). Nesses termos, sua solução seria a “alternativa[...]de aceitar que há governo em 
 
3NICHOLSON, Peter. Política e Ciência Política. Cadernos da UnB, p.25. Brasília: EdUnB, [?]. 
4 Política e Ciência Política, op. cit., p.25. 
5 Idem, ibidem, p.25 
 
 11 
toda organização e já que a política constitui de fato o governo, todos estes seriam políticos e 
formariam parte do domínio da ciência política”. 6 Contemplando o problemade modo 
semelhante, o cientista político Philippe Schmitter se debruça imparcialmente sobre o tema, 
também apresentando as duas faces da moeda, uma realista e, em seguida, outra de tendência 
pluralista, explicando que “Para alguns, a política é essencialmente uma luta, um combate em 
que o poder permite a alguns que o têm, assegurar a sua dominância sobre a sociedade e desta 
tirar partido. Para outros, a política é um esforço para fazer governar a ordem e a justiça em que o 
poder permite a proteção do interesse geral e do bem comum contra a pressão das reivindicações 
particulares”.7 
 Da vertente pluralista aparece uma instigante reflexão do sociólogo Talcott Parsons, que 
enobrece o debate ao adicionar o elemento sociológico à questão política e introduzir uma 
inovadora e não menos controvertida descrição de poder político, instrumentalizando o método 
estruturalista/funcionalista. Interpretando-o, acerca de sua compreensão do problema, 
provavelmente não deixaria de afiançar a parábola a seguir, estruturada na ideia de que a 
locomotiva do poder não é um trem desgovernado descendo montanha abaixo devastando tudo e 
todos que estiverem à sua frente, como um rolo compressor. Então, como contraponto à teoria da 
machtpolitik ou da realpolitik, Parsons vislumbrou a presença permanente de mecanismos 
institucionais de contenção à tendências absolutizantes do poder, classificando-os de Imperative 
Control8, esclarecendo que a dominação política não é um fim em si mesmo, o poder pelo poder 
apenas, pois a sua existência pressupõe uma constelação de valores impossíveis de serem 
violados aleatoria e arbitrariamente, razão pela qual considera que “o poder não é, basicamente, 
estar em condições de impor a própria vontade contra qualquer resistência. É, antes, dispor de um 
capital de confiança tal que o grupo delegue aos detentores do poder a realização dos fins 
coletivos”.9 O germe desta interpretação deriva dos primórdios da formação da civilização 
ocidental, pois entre os gregos do período clássico o exercício dos cargos públicos configurava 
mais encargo do que gozo de poder propriamente, já que desempenhar uma função pública, além 
de constituir obrigação, não conferia privilégios que distinguisse o magistrado dos outros 
cidadãos, pois os cargos eram exercidos por todos, em rodízio, e a permanência no cargo se 
 
6 Política e Ciência Política, op. cit., p.25. 
7 Idem, ibidem, p. 49. 
8Ainda que ausente de uma tradução conceitual para a língua portuguesa, literalmente a expressão quer dizer 
“Controle Imperativo”. 
9LEBRUN, Gérard. O que é poder, p. 14. Ed. Brasiliense: São Paulo, 1984. 
 
 12 
distinguia pela brevidade, não existindo entre eles a percepção de dominação política. Como 
argumenta Hannah Arendt, complementando a definição daquela atividade tradicional, “A 
distinção entre governantes e governados pertence a uma esfera que precede o domínio político, e 
o que distingue este da esfera econômica do lar é o fato de a cidade (polis) basear-se no princípio 
de igualdade, não conhecendo diferenciação entre governantes e governados”.10 Em posição 
diametralmente oposta a essas, o pensamento marxista se mostra contundente e irredutível ao 
expor o Estado como nada mais nada menos que um instrumento de dominação de uma classe 
sobre outra para a manutenção do domínio, que se expressa especialmente em termos 
econômicos e por meio da classe mais poderosa, resultando na opressão de senhores sobre 
escravos (Estado escravista), da nobreza sobre camponeses (Estado feudal), da burguesia sobre o 
proletariado/assalariados (Estado burguês/capitalista). Como visto, o fator econômico e o fator 
histórico (matéria + história = materialismo histórico) formam o substrato crítico-analítico de 
Karl Marx e seu parceiro Friedrich Engels, por eles chamados de dialético, método que lhes 
fornecem elementos para interpretar as relações sociais e políticas como em O Manifesto 
Comunista: “O poder político [Estado] é o poder organizado de uma classe para a opressão de 
outra”.11 A essa forma de poder, sob a hegemonia do Estado, Marx denominava de ditadura, não 
importando a espécie de poder exercido; porém há que se lembrar que Marx identificava poder 
também nas relações sociais, o poder senhorial com relação aos escravos no Estado escravista, 
com relação aos servos no feudalismo, e ao proletariado no capitalismo, todos definidos por ele 
como despotismo. 
 Nos tempos atuais, ainda que considerando as prerrogativas e privilégios das funções 
governativas, marcas que a modernidade política imprimiu, talvez definitivamente, não há como 
ignorar, enfim, que quem dirige o governo - insistindo na linguagem simbólica -, não é muito 
mais que o maquinista da composição, pois apesar de detentor da chave que dá a partida e de 
dirigir o comboio, está ele irremediavelmente comprometido com regras norteadoras 
determinadas, das quais dificilmente poderia se libertar. Por mais paradoxal que possa parecer, 
ditadores aparentemente impulsivos como Mussolini, Stálin, Hitler, Mao Tsé-tung, Fidel Castro e 
Pinochet sempre estiveram vinculados aos “princípios” que os alçaram ao poder, estando, 
portanto, permanentemente forçados a ratificar fidelidade aos regimes que implantaram em seus 
países, caso contrário, os custos de uma aventura mal calculada poderia lhes trazer prejuízos 
 
10ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro, p. 158. Apud Gérard Lebrun, op. cit., p. 26. 
11MARX Karl. O manifesto comunista. Edição eletrônica: “Ridendo Castigat Mores”, p. 43. Ebooksbrasil.org 
(www.jahr.org), 1999. 
 
 13 
irreparáveis. Com semelhante interpretação, Max Weber alerta que “O chefe não é senhor 
absoluto dos resultados de sua atividade, devendo curvar-se também às exigências de seus 
partidários, exigências que podem ser moralmente baixas. Ele terá seus partidários sob domínio 
enquanto fé sincera em sua pessoa e na causa que defende (...)”.12 
 Independentemente das características com que se apresentem, o poder e a política evocam 
direta conexão com a ideia de autoridade. Havendo obediência sem maiores resistências, mais 
ainda, com espontaneidade, ao comando de um agente, diz-se que o poder adquirido e exercido, 
realizou-se sob a égide da autoridade, manifestando, cumulativamente, fortes vestígios de 
legitimidade, uma vez que a obediência prestada se efetivou mais claramente a partir do contexto 
de um poder de direito, e não basicamente de um poder de fato, embora seja notório que o poder 
de fato - a possibilidade de recorrer ao uso da força – sempre persistirá, ainda que 
implicitamente, tornando real sua probabilidade de ser exercido, mesmo que apenas em casos 
extremos, pois do contrário, o poder de direito, mais espontâneo e baseado em valores e crenças, 
vinculado ao princípio da legitimidade e, portanto, da autoridade, perderia sua própria razão de 
ser. 
 A evolução do Estado, desde a antiguidade, vem tornando cada vez mais complexo o 
significado de política e de poder, definidos pela capacidade de agregar em torno de si gradativa 
e contínua sofisticação de fundamentos como autoridade, dominação e legitimidade. E para 
desenvolver a conceituação desses fundamentos, inevitavelmente há de se recorrer à 
compreensão sociológica de poder em Max Weber, cuja formulação resultou em um dos mais 
notáveis construtos de sua sociologia: a tipologia ideal da autoridade legítima. A consequência 
dessa abstração encontra no termo dominação (herrschaft) a elaboração conceitual mais 
depurada para exprimir um cenário em que a autoridade exerce seu poder de forma legítima, 
quase incontestável, podendo a legitimidade da autoridade ser derivada de uma fonte tradicional, 
carismática, ou racional-legal. Em um cenário de dominação, repousa o pressuposto de elevado 
grau de consenso quanto à obediência aos que exercem o poder, oriundoda parte dos dominados, 
que agem orientados por uma disciplina derivada de múltiplas fontes, que podem advir de 
crenças e valores difusos (fé religiosa, tradição, estatutos legais, devoção à pessoas, motivações 
econômicas, altruísmo). Ainda que o tipo ideal seja um arquétipo mental do cientista social, via 
de regra tem sua idealização com base em um parâmetro comparativo do que acontece na 
realidade, podendo o fenômeno da dominação ser analisado, porque constatado, em qualquer 
instância: nas relações de dominação entre indivíduos e grupos de indivíduos, e não apenas nas 
 
12 In: Política e Ciência Política, op. cit., p.119. 
 
 14 
relações de dominação institucionais (de governo, de Estado e também nas relações 
internacionais). Comparadas as condições de poder, e constatadas sua efetividade, quem o exerce 
detém autoridade e, se esse exercício se efetivar com legitimidade, ocorrerá o fenômeno da 
dominação, que em termos de tipologia ideal, seria a essência do poder político: a síntese do 
poder de fato (obediência como temor à possibilidade de uso da violência física ou poder 
coercitivo) com o poder de direito (obediência com base em crenças e valores em estatutos: 
sagrados, legais, pessoais). Em suma, o nível mais consistente possível de consentimento e de 
obediência dos governados a quem governa eleva a dominação ao ápice da legitimidade, porém 
com a devida lembrança de que no mundo das coisas, da razão prática, a expectativa de 
legitimidade plena, até o presente momento, é um assunto que somente na esfera de uma 
metafísica de tipo platônica é que poderá encontrar a sua concretização. 
 
1.2 – Ciência Política: a ciência na política 
 O que é a ciência política? Para ser obtida uma resposta razoavelmente adequada, o 
primeiro passo deveria ser acionado em direção a uma análise introdutória do conceito de ciência 
em si; ato contínuo, seria recomendável a descrição do processo evolutivo das ciências sociais, 
do advento da ciência política e de seu processo de autonomia científica, finalizando com uma 
abordagem teleológica, qual seja, a relação entre meios e fins na ciência política. 
 É de domínio público que na antiguidade, tanto no Oriente quanto no Ocidente, houve uma 
seleta categoria de estudiosos empenhados na missão de desvendar os mistérios da natureza 
objetivando, na medida do possível, controlá-la e subjugá-la, para que dela o homem pudesse 
usufruir de seus benefícios. Toda ciência atual, praticamente, incluindo aquelas de estágio mais 
avançado e sofisticado, tem suas primeiras noções na antiguidade, basicamente no Oriente, 
porém revestido de um viés fortemente intuitivo e especulativo. Nessa medida, a ciência, 
enquanto detentora de atributos específicos para ser reconhecida como tal, tem seu advento 
exclusivamente no Ocidente, caso da arquitetura, engenharia, biologia, química, astronomia, 
física, etc., e todas as ciências humanas, como explicaria Max Weber em sua obra magna, de 
1905, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo: “Apenas no Ocidente existe uma ciência 
em estágio de desenvolvimento que reconhecemos, hoje, como válido (...) a busca racional, 
sistemática e especializada da ciência por parte de pessoal treinado e especializado existiu 
somente no Ocidente (...)”.13 
 
13 Pp. 23 e 25. São Paulo: Martin Claret, 2006. 
 
 15 
 Do período clássico ocidental, Platão e Aristóteles se destacam como os exemplos mais 
expressivos de personalidades que elegeram o conhecimento na verdade como compromisso de 
suas vidas intelectuais, embora adotando concepções e metodologias distintas. Platão, o 
precursor da filosofia propriamente dita, deslocou as indagações cosmológicas do período pré-
socrático para um novo eixo de preocupações: as questões antropológicas. Em suas especulações 
acerca do homem e seu lugar neste mundo, dedicou extrema devoção às suas convicções 
filosóficas, cujos fundamentos racionalistas transcendiam o mundo natural, priorizando o mundo 
inteligível (ideias) - sem nenhuma interferência dos sentidos e das opiniões - em detrimento, 
portanto, do mundo sensível (das coisas); sua matriz filosófica fundamentada no mundo 
inteligível, cuja comprovabilidade de teses se realiza em objetos e formas ideais, tem seu 
processamento pela via da formulação e do emprego preponderante do método prescritivo, 
normativo, do dever-ser, deontológico, enfim. Por intermédio de sua narrativa sedutora, Platão 
estruturou um extraordinário modelo racionalista de responder a todas as indagações, invertendo 
o paradigma do pensamento convencional e apresentando o seu como originalmente ontológico 
(do verdadeiro ser), por meio de uma complexa reflexão teórica derivada da dialética em que 
confronta o ser com o não-ser, resgatando, portanto, de forma sutil, o verdadeiro ser a partir de 
uma intuição deontológica, porém apresentada como legitimamente ontológica, demonstrando 
que o não-ser pode também se constituir em algo - por ser sensível - e não puramente o nada, 
como sustentava Parmênides, precursor do método e da tese. Portanto, sendo um falso-ser, o 
não-ser não deixaria de ser algo, no caso uma sombra ou cópia imperfeita; é o aparente 
(sensível), embora não a essência, o inteligível. 
 Um indício da convicção de Platão, de que não se sentia alienado e nem tangenciando a 
realidade factual, pode ser comprovado em sua magistral reflexão desenvolvida na obra A 
República, na qual descreve a alegoria do “mito da caverna”, cujo protagonista é um filósofo, 
que nesta condição se sente responsável por conduzir os homens à luz do sol. Como explica Max 
Weber, “o sol representa a verdade da ciência, cujo objetivo é o de conhecer não apenas as 
aparências e as sombras, mas também o ser verdadeiro”.14 Esta e outras alegorias platônicas 
simbolizam o esplendor da filosofia grega e de seu significado para o futuro, pois naquele 
momento germinava um processo evolutivo para o conhecimento, que em Platão se caracteriza 
pelo racionalismo e a dialética como meios para tal. Ao avaliar seus métodos como científicos, 
Platão exalta a ciência pelos recursos que “elevam a parte mais sublime da alma até a 
 
14 In: Ciência e Política, op. cit., p. 32. 
 
 16 
contemplação do mais excelente de todos os seres”; e que a ciência representa a “libertação das 
correntes, a [sua] conversão das sombras (...) a [sua] a ascensão para o Sol (...)”.15 
 Adiante de Platão, Aristóteles já se antecipava como protótipo do futuro cientista moderno, 
pois antes de formular suas retumbantes teorias sociais, já havia enveredado no caminho das 
investigações científicas dos fenômenos da natureza, descrevendo experimentos na área de 
botânica, realizando observações em astronomia e formulando conjecturas em física, química, 
em suma, dominando o processo analítico (lógica) como instrumento - ainda que com meios 
incipientes – para atingir o conhecimento (ciência). Seu método de entender e de explicar o 
mundo era diverso da intelecção platônica, pois para Aristóteles a origem do conhecimento e da 
verdade residia nas coisas e objetos reais e no homem, sendo passíveis de verificação e podendo 
ser testados a partir da instrumentalização lógico-analítica de suas teorias, materializadas em 
recursos hoje reconhecidamente científicos, como a proposição, o planejamento e a coleta de 
dados, a observação factual, a experimentação, a comprovação. 
 Para atingir níveis confiáveis de comprovabilidade científica, a experimentação foi o mais 
significativo vetor de indução para o advento da ciência; e este evento ímpar da humanidade só 
teve lugar no Ocidente Moderno, germinando na Renascença. Tudo isso, graças a uma casta de 
cérebros privilegiados, principiando por Galileu Galilei, que determinava como regra de pesquisa 
a experimentação e o rigor nasistematização, sendo secundado pela obstinação de Francis 
Bacon, com sua filosofia experimental, que recusava toda forma de conhecimento intelectual que 
não tivesse origem no empirismo, isto é, na experiência sensitiva. No entanto, o caráter de 
cientificidade das pesquisas foi definitivamente consumado quando da divulgação da lei da 
gravidade de Isaac Newton que revolucionou a concepção de mundo da época, demonstrando 
que, por métodos científicos, o universo pode ser conhecido, explicado e explorado, portanto 
sendo previsíveis seus movimentos, porquanto guiado por leis físicas determinadas. Em adição à 
pluralidade de premissas acima elencadas, o racionalismo preconizado por René Descartes, cujo 
método indutivo de conhecimento se baseava em rigorosos enunciados matemáticos, foi decisivo 
para contribuir com a complementação estruturante das ciências. A consequência de todo este 
colossal acervo de proposições teoréticas foi a emergência das ciências factuais, primeiramente 
as exatas e a seguir - no ainda futuro e distante século XIX - as ciências sociais ou humanas. 
 A evolução das ciências abstratas (matemática, lógica) e das ciências factuais (física, 
biologia, química etc.), forneceram subsídios mais do que suficientes para que as teorias sociais 
pudessem evoluir para o âmbito científico. Antes restritas ao universo da filosofia, as teorias 
 
15Platão. A República. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 246. 
 
 17 
sociais foram se emancipando, adquirindo o status de ciência a partir do momento em que 
começam a empregar as ferramentas da metodologia científica. Desse modo, a sociologia, em 
decorrência da perseverança de Auguste Comte em adaptar e aplicar, de forma sistematizada, os 
métodos científicos aos seus trabalhos sociológicos, veio a se tornar a primeira de todas as 
ciências sociais, com a obra Sistema de Política Positiva, de 1851. A partir de então, os demais 
campos do conhecimento, filiados aos estudos da área de humanidades, evoluem paulatinamente 
até que sejam reconhecidos o seu status científico, como a economia, a administração, a 
psicologia, o direito etc. 
 Fato semelhante ocorreu com a Ciência Política, malgrado sua dificuldade de se 
transformar em ciência independente, pois seu caráter sui generis no modo de interagir e 
coexistir com as outras ciências humanas, de excepcional naturalidade, impôs-lhe a árdua missão 
de ter de provar que não seria um simples apêndice daquelas ciências, já então estruturadas. No 
posto de teoria sociológica, ou melhor, categorizada como uma ciência geral das sociedades, 
desfruta de íntimas ligações com todas as ciências humanas, como não poderia ser de maneira 
diversa, tanto que, como objetos de interesse investigativo da Ciência Política, atualmente tais 
ciências estão relacionadas como seus subsistemas. De fato, o status de ciência de síntese, é 
ratificado pela atuação da Ciência Política produzindo pesquisas simultaneamente em todos as 
áreas das ciências sociais, como a História, a Filosofia, a Economia, a Psicologia, a 
Administração, a Sociologia, a Antropologia, as Relações Internacionais, o Direito. Como 
ciência de síntese, converte-se em disciplina dinâmica, o que explica o fato de continuamente 
recorrer às outras ciências sociais para melhor desenvolver suas teses, uma vez que estas ciências 
foram acumulando valiosos acervos ao longo do tempo. Os frutos da comunhão entre a Ciência 
Política e as demais ciências humanas constituíram uma pluralidade de subsistemas no âmbito da 
Ciência Política, como exemplo o seu livre trânsito na Sociologia para extrair dela conhecimento 
associado à política, que resultou na denominada Sociologia Política; atitude semelhante com 
relação à Economia originou a Economia Política; no campo da Psicologia, de sua área mais 
correlata à Ciência Política, seu derivativo foi a Psicologia Social; da Administração, a 
Administração Pública; e da Filosofia a Filosofia Política. Enfim, todas as sub-áreas das demais 
ciências humanas relacionadas a fenômenos políticos e do poder, são, indubitável e 
simultaneamente, campos de interesse investigativo para a Ciência Política explorar e, então, 
produzir suas teorias científicas. 
 Nesse contexto tão vasto para pesquisa, em razão da amplitude do campo de teoria social, e 
tão promissor para oferecer resposta a inúmeras e nunca antes respondidas indagações, em razão 
da disponibilização de avançados métodos científicos, após o estabelecimento da sociologia 
 
 18 
como ciência a ciência política iria se equipar de metodologias a fim de solucionar as dúvidas 
que anteriormente excitava a inquietude dos filósofos, dúvidas que não podiam ser 
definitivamente resolvidas porque ausentes os instrumentos para tal. É certo, pois, que o 
desenvolvimento científico se estrutura com base na filosofia, e importantes descobertas da 
ciência aconteceram como resposta aos mais instigantes questionamentos filosóficos. 
Coincidência ou não, alguns dos mais sofisticados pensadores, que já instrumentalizavam 
avançadas técnicas em suas teorias sociais/filosóficas, conquistaram a reputação de cientistas 
sociais/políticos, como Aristóteles, Maquiavel, Montesquieu, Tocqueville. Entretanto, somente 
no final do século XIX (1896), com a obra Elementi di Scienza Politica, de Gaetano Mosca, que 
apareceria oficialmente a primeira obra de ciência política estritamente considerada. 
 A partir da afirmação e consequente justificativa de que há uma linha que separa ciência de 
não-ciência, naturalmente despontaria o questionamento acerca da localização da faixa divisória 
que a demarca: Como identificar se uma obra de teoria social seria ou não científica? Até que 
ponto uma obra de teoria política seria delimitada como filosofia política e uma outra descrita 
como ciência política? 
 O Contrato Social, famoso livro de Jean-Jacques Rousseau, por se tratar de uma obra de 
filosofia política, e por se destacar como uma obra bastante lida, comentada e discutida, se 
encaixa como protótipo e poderia ser objeto do exame que a proposta requer. Como obra de 
teoria social, é também teoria política, e como teoria política, é também teoria de Estado, assim 
como uma obra de ciência política. Contudo, O Contrato Social não se filia na categoria de obra 
científica, porque ausentes pré-requisitos imprescindíveis para caracterizar o trabalho científico, 
como a neutralidade e a ausência de posicionamento ideológico etc. Em verdade, nesta obra de 
Rousseau estão presentes alguns dos mais elementares postulados que levam à desqualificação 
do valor de cientificidade de uma obra, postulados que são interligados, inclusive: o elemento 
prescritivo, relativo ao dever ser e o deontológico, que se apresentam no propósito de formatar 
um modelo de sociedade, que seria perfeita, e o juízo de valor, elemento subjetivista que sintetiza 
no pensamento do escritor um conjunto de crenças e sentimentos morais composto de energia 
suficiente para orientá-lo em suas prescrições. Outro elemento, aparentemente secundário, 
porque formal, vem a ser o modelo teórico adotado, o jusnaturalismo, cuja fundamentação se 
sustenta em uma hipotética forma de convivência social dos homens em seu estado natural - sua 
fase pré-estatal -, baseado puramente no racionalismo, sem comprovação histórica e 
experimental, portanto. Em situação análoga, várias publicações de pensadores fundamentais 
para a compreensão da história política ocidental podem ser apontadas, como o Leviatã de 
Thomas Hobbes, O Segundo Tratado sobre o Governo Civil de John Locke e o vasto acervo de 
 
 19 
escritos políticos de Karl Marx. Nestas obras é possível detectar com relativa facilidade alguns 
critérios inerentes ao método científico, como o empirismo, análise histórica, dados quantitativos 
e estatísticos, mas em contrapartida, percebe-se neles um viés de inegável comprometimento 
ideológico,como a devoção ao absolutismo com relação a Hobbes; a defesa inflexível do 
liberalismo com relação a Locke, e, sob o signo cientificista, uma religiosa retórica doutrinária ao 
socialismo/comunismo com relação a Marx. Em comum, a defesa aberta de todos eles aos 
valores éticos e morais que, caso a caso, compõe o sustentáculo de suas ideologias. 
 Em posição diversa à dos princípios deontológicos (ética/moral) que se identificam com o 
dever ser e, portanto, com os postulados autênticos da filosofia, situam as premissas relativas aos 
preceitos ontológicos, associados ao ser, ao que concretamente é, portanto à verdade, ainda que 
esta verdade não seja um paradigma absoluto, eterno e imutável, mas que seja uma verdade que 
contenha validade, isto é, que seja exposta sob o signo da neutralidade, da comprovabilidade, da 
confiabilidade e que resista a testes de hipóteses; que sejam verificáveis no seu tempo de 
vigência. Neutralidade, verificabilidade, confiabilidade, testes de hipótese, são termos-conceitos 
inseparáveis dos pré-requisitos da cientificidade. Qualificam-se como instrumentos formais da 
experimentação de conjecturas e hipóteses cientificamente estimadas, e processadas por meio da 
observação empírica, da indução, da dedução, sob argumentação racional dos fatos etc., e jamais 
militar a serviço de uma causa, como legitimamente podem atuar os filósofos. Tanto quanto a 
filosofia, especialmente a filosofia política, a ciência política tem como finalidade produzir teses 
relativas aos fenômenos do poder político, às instituições do Estado em geral, como exemplo a 
abordagem funcionalista do Estado (explicação e previsão das consequências do seu 
funcionamento) relativamente ao processo decisório, às políticas públicas, ao comportamento 
político de eleitores e de parlamentares, à investigação sobre os fundamentos do poder, da 
autoridade, da dominação, da legitimidade, porém se abstendo de emitir juízos de valor, portanto, 
dispondo da singularidade de atuar com imparcialidade, de forma sistematizada e com rigor, 
arquitetando para edificar, pensando, observando, explicando e prevendo, sem a interferência de 
ideologias; tanto quanto possível submetendo-se aos comandos da neutralidade, instrumentos 
esses que não são propriamente necessários à existência da filosofia como teoria social em si. 
 Contudo, se o fim último da ciência política é demonstrar de forma sistematizada as suas 
proposições (descobertas), como as relacionadas acima, também é oportuno advertir que a 
ciência política, como qualquer ciência, não é absolutamente imune à apropriação indevida de 
suas “descobertas”, podendo ser manipulada inescrupulosamente por agentes movidos por 
interesses inconfessáveis, portanto vulnerável ao risco de ser empregada com fins moralmente 
 
 20 
reprováveis por detentores de cargos públicos, partidos políticos, grupos de pressão e associações 
representativas em geral. 
 
1.3 - O político 
 Delinear o “estadista” é a tarefa conclusiva deste estudo de ordenação e análise dos 
elementos fundamentais da engrenagem política. Depois de especificados seus sujeitos (ativos e 
passivos), objetos e fins, o momento requer a identificação do protótipo do “homem político”, a 
descrição do que seria o ator protagonista da política. Este sujeito - o “homem político” – vem a 
ser nada mais nada menos que o indivíduo predestinado a pôr a mão no leme da história, segundo 
Max Weber. E quem ou como seria ele, afinal? Seria o politís da Grécia Clássica? O homem de 
virtù esculpido por Maquiavel? Ou o cosmo-histórico descrito por Hegel? Ou teria o perfil do 
líder carismático projetado por Weber? 
 Antes de adentrar em considerações específicas, convém observar preliminarmente que no 
universo da interpretação sociológica de Max Weber prolifera uma multiplicidade de definições e 
conceitos adequados para proporcionar conclusões efetivas acerca da personalidade ideal do 
estadista; daquele que reuniria, afinal, as qualidades do dirigente habilitado a conduzir o destino 
de multidões. De fato, há reais indícios de que o tipo ideal recairia sobre o estadista weberiano (o 
chefe carismático), sugerindo ser ele produto de uma simbiose de todos os demais 
conjuntamente, encontrando no politís grego seu ponto de partida e seu protótipo. Este seria a 
matriz da convergência do “DNA” do zoom politikós aristotélico, o animal político por 
excelência, com o rei-filósofo platônico, rigidamente formado pelo Estado para este fim, que, em 
sequência, seria plasmado ao homem de virtù maquiaveliano por suas qualidades pessoais 
(coragem, valor, capacidade) e a fortuna (sorte), e ao hegeliano, como o homem-síntese fundador 
das grandes nações. 
 Iniciando a análise específica por Platão, cabe lembrar que em sua missão de construir a 
polis (cidade) ideal não descuidou da tarefa imprescindível de “reproduzir” o seu arquétipo de 
estadista. A elaboração de seu complexo projeto de “engenharia social”, tão ousado quanto 
controvertido, contemplava a “cidade” perfeita conjugada com a reforma do homem inteiramente 
conduzida pelo Estado. Além da formação rigorosamente especializada do homem para atender a 
todas as demandas estruturais da cidade-Estado, como guardiães, negociantes e artesãos, o 
Estado cuidaria de educar seus futuros estadistas sob um ordenamento que excluía a intervenção 
de particulares e da família. A rigidez moral e política exigida para esculpir o estadista, chamado 
de rei-filósofo, seria obtida pela dedicação aos estudos filosóficos, que preencheriam estes 
indivíduos com valores como virtude da alma, coragem, conhecimento do bem, sabedoria, 
 
 21 
justiça, como expressou o próprio Platão: “quando tiverem vislumbrado o bem em si mesmo, 
usá-lo-ão como um modelo para organizar a cidade, os particulares e a sua própria pessoa, cada 
um por sua vez, pelo resto de sua vida. (...)suportarão trabalhar nas tarefas de administração e 
governo, por amor à cidade, pois que verão nisso não uma ocupação nobre, mas um dever 
indispensável”.16 
 Na sequência, são expostas as teses de Aristóteles e Max Weber, duas referências cardeais 
no assunto em apreciação, não obstante a notória inclinação otimista de ambos no modo enxergar 
a política, com as devidas ressalvas. Para Aristóteles, a política vem a ser o instrumento capaz de 
promover o bem da polis, o bem-comum, ideia convergente com os postulados de Weber, que 
compreendia a política como a arte de atingir o possível a partir de tentativas do impossível; 
ambos definiam a política como uma nobre atividade humana, porém advertindo que tal 
atividade pode absorver, simultaneamente, o germe para torná-la uma profissão vil, dependendo, 
pois, dos meios de ação. Mas, em termos estritamente realistas, Weber consegue identificar no 
universo da política, simultaneamente aos princípios da objetividade, o seu ângulo subjetivista, 
descrevendo-a como “aspiração à participação no poder, ou a influência sobre a distribuição do 
poder, quer seja entre Estados ou, no interior de um Estado, entre os grupos humanos que 
compreende”, complementando com a definição do homem diretamente envolvido com a 
política, nos termos seguintes: “Aquele que faz política aspira ao poder, quer seja como meio a 
serviço de outros fins – ideais ou egoístas – ou o ‘poder pelo próprio poder’, ou seja, para gozar 
do sentimento de prestígio que confere”.17 (Weber, 1999, p. 544). 
 A distinção entre a boa e a má política, foram delimitadas por ele em uma de suas 
monumentais palestras, proferida logo após o fim da I Guerra Mundial e publicada em conciso 
ensaio,18 obra que permanece até os dias atuais como referência na área de metodologia 
científica, pois ali Weber demarcou a linha distintiva entre ciência e política, ou seja, estabeleceu 
os limites que separam o homem vocacionado para a ciência daquele que possui o dom para a 
arte da política. No campo específico da política, Weber distinguiuo político autêntico do 
politiqueiro, que é o diletante da política, ou seja, traçou com clareza a linha que separa o político 
de vocação, o líder político por excelência, classificado por ele como líder carismático, daquele 
espécime de indivíduo que atua na política movido por um tipo de paixão que se restringe apenas 
à paixão pelo poder; o politiqueiro é uma variedade de político que vive da política mas não vive 
 
16 Platão, op. cit., p. 255. 
17Economia e Sociedade, 4a ed., p. 544. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1999, 2 vols. 
18WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Ed. Cultrix, 1967/68. 
 
 22 
para a política. Este diletante não possui o senso de proporção que compõe o caráter do político 
de vocação. Sua paixão pela política é apenas uma paixão frívola, assim como sua ética é apenas 
uma ética baseada em convicções meramente subjetivas, que Weber considera inimiga mortal de 
qualquer devoção a uma causa: a vaidade. A vaidade, que afeta a qualidade psicológica do 
homem político, pela ausência de distanciamento das pessoas e das coisas, traz amargas 
consequências, ela é “o pecado do desejo de poder, que, sem qualquer objetivo, em vez de se 
colocar exclusivamente ao serviço de uma ‘causa’, não consegue passar de pretexto de exaltação 
pessoal. Em verdade e em última análise, existem apenas duas espécies de pecado mortal em 
política: não defender causa alguma e não ter sentimento de responsabilidade”.19 
 Na extremidade oposta do político deslumbrado emerge o político de vocação, o genuíno 
homem de Estado que, embora podendo viver da política, essencialmente vive para a política. Ao 
lado de suas convicções subjetivas, prevalece o senso de proporção, cujo comportamento conduz 
a ações objetivas que traduzem a conjunção da ética da convicção (coragem, valor, capacidade) 
com a ética da responsabilidade, característica distintiva do político autêntico: “Neste sentido 
profundo, todo homem sério, que vive para uma causa, vive também dela (...) Aquele que esteja 
convencido de que não se abaterá nem mesmo que o mundo, julgado de seu ponto de vista, se 
revele demasiado estúpido ou demasiado mesquinho para merecer o que ele pretende oferecer-
lhe, aquele que permaneça capaz de dizer ‘a despeito de tudo!’, aquele e só aquele tem a 
‘vocação’ da política”.20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 Idem, ibidem, p. 107. 
20 Idem, ibidem, p. 65; 124. 
 
 23 
2 - CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO 
 
 “Quem só sabe Direito, não sabe (d)Direito”. Esta frase, independente de quem a proferiu, 
não deixa de ser, à primeira vista, uma provocação. Mas, o provocador, ninguém mais ninguém 
menos que o eminente jurista Pontes de Miranda, não parou por aí. Complementou, dizendo que 
‘não deve transpor as portas de uma faculdade de Direito aquele que não for um sociólogo’. 
Apoiado em seu elevado prestígio acadêmico, este jurista, que além de diplomata, era filósofo, 
professor, advogado, ensaísta, e até matemático, permanece sendo uma das mais expressivas 
autoridades do direito brasileiro de todos os tempos, mesmo passados mais de 30 anos de sua 
morte, por isso concentrando em si credibilidade suficiente para pronunciar palavras tão ásperas. 
 Em face do impacto dessas declarações, resta legítimo ao noviço universitário de Direito 
questionar se as impiedosas impressões de Pontes de Miranda são mesmo dotadas de fundamentos 
racionais, e se não seriam injustas ante o pragmático interesse daquele que deseja, acima de tudo, 
obter seu diploma na área jurídica. Assim considerando, o perplexo estudante calouro se depararia 
com um enigma a ser decifrado: O que quer dizer o Jurista com ser ‘sociólogo’? Será que ele 
estava definitivamente convencido de que só após concluir um curso de Sociologia é que alguém 
estaria apto a ingressar em uma faculdade de Direito? Com a devida vênia, não parece razoável 
que um intelectual da expressão de Pontes de Miranda tivesse convicções tão ortodoxas e 
conservadoras assim, pois a problemática por ele abordada não é de ordem puramente formal, mas 
sim material, ou seja, de conteúdo. Explicando melhor: a essência de sua preocupação tinha 
origem na frágil bagagem intelectual que portavam os estudantes daqueles tempos, em grande 
maioria; fragilidade que comprometia irremediavelmente a qualidade do sistema judicial 
brasileiro, com reflexos negativos no sentimento de justiça de toda a comunidade nacional, por 
inundar o “mercado” com profissionais de capacidade tão duvidosa que, ao invés dos ilustres 
juristas com os quais a sociedade deveria ser contemplada, na verdade aqueles profissionais do 
Direito não seriam mais que genuínos “rábulas” a infestar os tribunais e os escritórios de 
advocacia. Infelizmente, o cenário crítico denunciado por Pontes de Miranda não faz parte de um 
passado de triste memória apenas. Pelo contrário, não só não desapareceu como vem contribuindo 
para a degeneração do setor educacional brasileiro, porquanto a proliferação das faculdades de 
Direito mais se assemelha a um complexo organizacional cujo objetivo principal parece ser o de 
fabricar diplomas em escala industrial, reproduzindo uma nova tipologia de rábulas, que são os 
milhares de novos bacharéis em direito despreparados até mesmo para obter a qualificação mínima 
e poder exercer a advocacia. 
 
 24 
Despreocupados, em um primeiro momento, inúmeros estudantes calouros de Direito ao 
iniciarem suas atividades acadêmicas se põem a questionar acerca do porquê de estudar 
disciplinas propedêuticas, como exemplo a Ciência Política, e do porquê de matérias assim 
“abstratas” serem obrigatórias no Curso. Como é notório, a conquista da redemocratização 
brasileira tem despertado um positivo sentimento de cidadania na população nacional, gerando 
um volume crescente de demanda por justiça, especialmente porque a reaquisição da cidadania 
política encoraja os recentes cidadãos a também reivindicar por mais direitos sociais e civis, 
devido a suas prerrogativas de peticionar perante o judiciário. A consequência da maior 
participação e procura por garantia de direitos, na ausência de adaptação do aparato judicial, será 
o congestionamento do sistema, pois a crescente demanda da sociedade pela prestação 
jurisdicional do Estado tem sobrecarregado a capacidade deste em oferecer respostas satisfatórias 
à sociedade, levando autoridades de maior destaque e compromisso, de todas as instituições 
estatais, a manifestar preocupação com o quadro caótico que abrange todo o sistema judiciário 
(segurança pública, sistema prisional, poder judiciário), em cujos pronunciamentos se constata a 
reafirmação da intenção programática de aparelhá-lo adequadamente, o que vem ocorrendo, mas 
em magnitude aquém do desejável e do possível. 
Não obstante tudo isso, é fato incontestável que a carreira jurídica vem se transformando 
numa área cada vez mais atraente porquanto promissora, encerrando poder de abrir portas para o 
mercado de trabalho com mais facilidade aos seus profissionais do que a maioria das outras 
profissões acadêmicas. Então, o estudante de Direito, recém-ingressado na faculdade, ali se 
encontra, teoricamente, a fim de preparar-se para ser advogado, delegado, analista judiciário, 
juiz, procurador, defensor público, eventualmente ministro de tribunal, para seu deleite particular 
ou, ainda, quem sabe, para prestar contas à sociedade, posto que nos dias atuais, em quase todas 
as “tribos”, das mais diferentes classes sociais, quase todos se encontram matriculados em um 
curso de nível superior. “Mas... política - dirá o acadêmico de Direito - não é a minha praia, pois 
além de não gostar de política, não gosto dos políticos e, mais que isso, não tenho a menor 
pretensão de me envolver com política e, menos ainda, de ser um político”. 
Enfim, considerando uma argumentação dessa natureza,argumentação que contesta a 
existência de efetiva convergência de atuação, interesse e objetivos da Ciência Política em 
relação ao Direito, cabe insistir no questionamento: deveria a Ciência Política realmente ser 
matéria obrigatória para o curso de Direito? 
Esse questionamento é parte de uma série de outros tantos, no vasto cabide de dúvidas 
que abalam a estrutura dos valores do universitário. Desse modo, no que respeita à Ciência 
 
 25 
Política em particular, considerações acerca da posição e finalidade da matéria no curso de 
Direito devem ser elencadas e discutidas. 
Em primeiro lugar, torna imprescindível resgatar a abordagem inicial acerca do conceito 
de “sociólogo”, cuja definição, não por coincidência, expõe as ligações da Ciência Política com o 
próprio Direito, haja vista que ambos os cursos, em sua substância, estão umbilicalmente ligados 
aos fenômenos sociológicos, à sociologia, enfim. Portanto, em sentido amplo, o “sociólogo” em 
referência muito se assemelha ao que Aristóteles classificou como sendo o zoom politikós, o 
homem político e social por excelência, dotado de capacidade bastante para tecer análise crítica 
acerca da comunidade em que vive; reter sensibilidade suficiente para refletir sobre seu papel 
social e de ser elemento constituinte do processo de resolução dos problemas e conflitos 
produzidos pela dinâmica das sociedades contemporâneas, pois entre os objetivos gerais de um 
curso de Direito destaca-se o de “formar bacharéis aptos ao exercício ético das diversas 
profissões jurídicas, atuantes na construção da cidadania, implementação da democracia e 
proteção do Estado Democrático de Direito”.21 
Neste contexto, a Sociologia e a Ciência Política se vêem conceitualmente associadas, 
podendo ser definidas, tanto uma quanto a outra, em poucas palavras, como uma ciência geral 
das sociedades, cujos objetos de estudo interagem com os mais variados fenômenos 
sociopolíticos, portanto disciplinas constituídas de vasto interesse do conhecimento acadêmico, 
além de marcante natureza dinâmica quanto à duração de seus paradigmas científicos. Os 
fenômenos sociopolíticos são movimentos que muitas vezes ocorrem de forma conflituosa, e 
esses conflitos geralmente objetivam transformações, mas também produzem profundas marcas 
nas estruturas do Estado, podendo levá-lo a um estágio de debilidade, até mesmo ao colapso, 
repercutindo decisivamente no papel estatal de atuar como árbitro capaz de assegurar a 
estabilidade, independente de qual seja a ordem ideológica dominante. Por essa razão, o 
progresso dos conhecimentos da política como arte e como ciência, legou ao Estado, por meio da 
evolução de suas instituições, o papel de sujeito legitimado a monopolizar os instrumentos de 
coerção, a fim de assegurar a ordem e pacificar a sociedade, em que pese todos os seus 
antagonismos – legítimos ou não -, por meio do Direito. 
Na sequência dessa ordem de ideias, o Direito legislado viria a ser uma decorrência da 
imposição do poder, que é o poder político. Ao longo do processo civilizatório, o poder político 
vem se tornando cada vez mais sofisticado, sendo que o suporte para seu desenvolvimento se 
realiza por meio da acumulação do saber dos estudiosos da área, cujo processo evolutivo avança 
 
21 In: Proposta Pedagógica do Curso de Direito: Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, p. 4. 
 
 26 
do estágio de fetiche ou mera arte para o estágio filosófico e deste para o científico que, 
surpreendentemente, só irá se materializar na área de humanidades quando surge a Sociologia, a 
primeira de todas as ciências sociais. Então, a política enquanto ciência, com suas ferramentas 
investigativas e explicativas, possui mecanismos para apontar meios mais eficazes e eficientes de 
alcançar a justiça a partir da construção de consensos, promovendo, enfim, a paz, a segurança e o 
desenvolvimento social. 
Não obstante, os diagnósticos não surpreendem quando se detecta em parte considerável 
dos acadêmicos profunda deficiência da necessária capacidade de abstração dos fatos. A 
deficiência se torna evidente quando operadores do Direito são indiscretamente flagrados 
confessando suas paixões obsessivas pelos dogmas jurídicos, assumindo posições em causas sem 
o necessário exame dos fatos e das consequências, não raro danosas para todo o corpo social. 
Trata-se de paixão cega, semelhante àquela “denunciada” em certa canção, cujo autor, ao tentar 
expressar a intensidade e a pureza de sua paixão, comparava-a, ironicamente, com igual 
intensidade de “paixão” que um calejado pescador não escondia seu encantamento por sua 
moderna e reluzente rede de pesca. Aquele trabalhador, alienado pela rudeza de seu cotidiano, 
devotava mais atração à engenhosa ferramenta de subsistência do que a uma eventual atitude de 
contemplação da exuberância e imensidão do oceano, que todos os dias apresentava diante de si, 
impávido e eterno. Para ele, a utilidade daquela ferramenta era tão dogmática que dispensava 
qualquer ato de reflexão comparativa, e por isso lhe causava um sentimento de indiferença 
perante a presença majestosa do mar, embora fosse ele a fonte de seu sustento; com semelhante 
comportamento, o rábula contempla o exercício da profissão jurídica como um fim em si mesmo, 
absorvendo do significado de “justiça” nada mais que um instrumento de sua sobrevivência 
material. 
Em trincheira oposta alinhou-se Rui Barbosa. Poucos brasileiros foram tão abnegados 
quanto este eminente jurista na defesa da construção de um Estado que fosse capaz de distribuir 
justiça com equidade, ainda que tais significados sejam demasiado complexos para uma 
compreensão universal. Lutou na contramão da ideologia corrente num Brasil em que a justiça 
vigente era a justiça da oligarquia, haja vista que no campo político foi uma vítima do implacável 
esquema coronelista, quando candidato à presidência da república. O reflexo desse esquema 
operava igualmente no âmbito do direito, uma vez que, naquele estágio, a ciência jurídica, já 
reconhecida como dogmática, justificava sua supremacia na irresistível lei posta pelo recente 
modelo de Estado ocidental, então resultante das revoluções burguesas. A nova ordem 
individualista, de privilégios direcionados aos detentores da grande propriedade, exprimia 
presunçosamente a “legitimidade” da vontade do legislador (ideologia das classes dominantes) 
 
 27 
no exercício do papel de ditar a ordem legal registrada em estatutos sistematicamente 
positivados, independente da apreciação do significado do que é o justo ou o não-justo. Como 
apóstolo da justiça, manejava sabiamente o aspecto teleológico do Direito (correlação entre 
meios e fins: e.g. a lei posta pelo Estado e seus objetivos), que é um dos eixos basilares da 
ciência jurídica. Ao operador do Direito e ao estudante das ciências jurídicas, irradiava palavras 
de ordem ao seu engajamento na luta contra a opressão e a iniquidade, ressalvando que, em caso 
de eventual conflito entre o direito e a justiça, o “cidadão-sociólogo”, guardião do direito, jamais 
deverá vacilar em somar suas forças pela promoção dos valores supremos da justiça. 
Em contraste a esta forma de ação organizada, uma força reativa e inorgânica, porém 
poderosa, opera sistemática e silenciosamente no sentido de enfraquecer o sistema judicial. Por 
exemplo, bacharéis mal-formados, são parte dos efeitos colaterais perceptíveis entre militantes do 
direito, muitas vezes privados do necessário discernimento para se comportar de modo que não 
um “rábula”, aquele temerário “aplicador autômato da lei que se posiciona acriticamente em 
relação às soluções jurídicas criadas pelo Estado”.22 Por isso, um dos pré-requisitos ao estudante 
de Direito, além do comprometimento acadêmico, diz respeito à absorção de valores éticos 
inerentes à carreira jurídica, que requer do acadêmico, tanto quanto exige do jurista, a

Outros materiais