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Capitalização dos Juros e o Conceito de Anatocismo

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Capitalização dos Juros e o Conceito de Anatocismo
Capitalização dos juros significa o que conhecemos como juros compostos, em controvérsia aos juros simples. Enquanto nos simples, os juros se incorporam ao capital ao final de cada período de contagem, nos compostos não ocorre. No caso de se incorporar, a taxa de juro do novo período incidirá sobre o total de juros do período anterior, porque incide sobre o capital total (capital inicial mais o juro que a ele se incorporou). É chamada capitalização de juros porque é a ação de tornar os juros em capital.
Ensinou Carlos Roberto Gonçalves (Direito civil brasileiro, 8ª edição, São Paulo, Saraiva, 2011, pág. 409):
“O anatocismo consiste na prática de somar os juros ao capital para contagem de novos juros. Há, no caso, capitalização composta, que é aquela em que a taxa de juros incide sobre o capital inicial, acrescido dos juros acumulados até o período anterior. Em resumo, pois, o chamado ‘anatocismo’ é a incorporação dos juros ao valor principal da dívida, sobre a qual incidem novos encargos. ”
A matéria foi objeto da Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal, onde se dizia que: É vedada a capitalização de juros ainda que expressamente convencionada.
Em vários julgamentos o Supremo Tribunal federal ratificou a citada Súmula (RTJ 92/1; 341,89/608 e 99/854). Admitiu-se a sua não incidência quando lei especial adote critério de fixação e contagem de juros, como ensinou o Ministro Djaci Falcão, no julgamento do RE 96.875, RTJ 108/282. 
Na Súmula 596 do STF, que se dizia que as disposições do Decreto 22.626/33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privados, que integram o sistema financeiro nacional.
Entendeu-se que essa Súmula não afasta a aplicação da Súmula 121 (RE 100.336, Relator Ministro Néri da Silveira, DJU de 24 de maio de 1985).
A razão da Súmula 121/STF, vem para vedar a remuneração absurda que a fórmula financeira desenvolvida pelo pastor protestante inglês Richard Price, produz num contrato de empréstimo de qualquer espécie (cheque especial, CDC, financiamento habitacional, capital de giro, empréstimos, crédito consignado, etc.). O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, editou a Súmula 93 na matéria.
Porém, o Superior Tribunal de Justiça publicou a Súmula 539, onde se dizia que “É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31 de março de 2000, desde que expressamente pactuada”. A matéria foi objeto de julgamento nos REsp 1.112.879; REsp 1.112.880 e REsp 973.827.
Fazendo com que assim, firmasse o entendimento. 
De acordo com o Desembargador Federal Rogério Favreto, do TRF-4, ao julgar a Apelação Cível 5001337-74.2017.4.04.7216/SC:
“(...) o que a lei veda é a cobrança de juros sobre capital renovado, ou seja, sobre montante de juros não pagos, já resultante da incidência de juros compostos (capitalizados). Ter-se-ia, aí sim, a cobrança de juros sobre juros, prática de anatocismo, que se concretiza quando o valor do encargo mensal revela-se insuficiente para liquidar até mesmo a parcela de juros, dando causa às chamadas amortizações negativas (...)."
Para compreendermos, enfim, que o anatocismo consiste na incidência de juros sobre o capital renovado. Para melhor entendimento, um exemplo que é cotidiano: 
EX: o cheque especial é utilizado quando a conta bancária fica negativa; ou seja, o banco "cobre" o montante negativo na conta do cliente, mas lhe cobra altos juros por isso (em outras palavras, afastando-se da linguagem jurídica, o montante negativo não é quitado pelo banco; o banco apenas "aceita" que a conta fique negativa por um período, e cobra juros enquanto não houver depósito/transferência de valores que tornem o saldo positivo novamente). 
O problema é que se a conta já estava negativa, e sobre ela incidiram novos juros, caso não haja o depósito/transferência de valores que tornem o saldo positivo, muito possivelmente a conta ficará "ainda mais negativa", uma vez que contará com o montante coberto pelo cheque especial, somado aos juros que nele incidiram.
"(...) A adoção do sistema francês de amortização, conhecido como Tabela Price, não implica necessariamente capitalização indevida de juros, não havendo óbice à sua utilização quando expressamente pactuado. A prática de anatocismo é vedada nos contratos de financiamento quando o aporte dos juros remanescentes decorrentes de amortizações negativas para o saldo devedor, incidindo a cobrança de juros sobre juros". (TRF4, AG 5040455-11.2016.4.04.0000, TERCEIRA TURMA, Relator ROGERIO FAVRETO, juntado aos autos em 04/09/2018).
Ou seja, portanto, é permitida a aplicação de juros compostos, mas é vedada a pratica do anatocismo.
Referências
CALEGARI, Luiz Fernando. Juros compostos e anatocismo: prática ilegal ou permitida?. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 23, n. 5557, 18 set. 2018. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/69010. Acesso em: 13 mar. 2020.

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