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PROFA DRA RENATA COSTA FORTES UNIP TERAPIA NUTRICIONAL NO PACIENTE CRÍTICO E QUEIMADO “Quando a febre é contínua, a superfície externa do corpo está fria e existe internamente uma grande sensação de calor e sede, a afecção é mortal ”. Hipócrates, 400 a.C. Paciente crítico Sem conhecer os meandros bioquímicos, metabólicos e clínicos atuais sobre a SRIS e as suas consequências sobre as reservas do organismo, Hipócrates já descrevia os sintomas e sinais clínicos de uma agressão orgânica grave. Trauma com ou sem sepse Resposta metabólica sistêmica Ausência de ingestão de nutrientes Perda de massa muscular GI e hepática Patogenicidade de bactérias intraluminais Síntese de citocinas pro inflamatórias Ativação dos macrófagos e neutrófilos + consumo de O2 Translocação bacteriana Aderências na mucosa ID FASE DE HIPOFLUXO (Imediata) FASE DE HIPERFLUXO (Catabólica) Hipoperfusão tecidual, vasoconstricção, diminuição da atividade metabólica Restauração das ofertas de O2 e substratos metabólicos Hiperglicemia secundária à glicogenólise hepática por estímulo das catecolaminas Duração: Pico – 3 a 5 dias Duração: 12 a 24 horas ou mais na dependência de: • Gravidade da agressão ou • Qualidade da ressuscitação Regressão: 7 a 10 dias, na dependência de: • Gravidade da agressão ou infecção • Desenvolvimento de complicações FASE DE FLUXO (Anabólica) – Semanas Agressão/ Trauma Agressão/ Trauma/ Sepse FASE DE HIPERFLUXO (Estimulação Intensa da Atividade Metabólica) Aumento de: GER Consumo de oxigênio (VO2) Débito Cardíaco Produção de gás carbônico (VCO2) Mobilização de: CHO e LIP (suprir a demanda de energia) PTN AAs (gliconeogênese – suprir a síntese de proteína) Consequências metabólicas imediatas: hiperglicemia hipertrigliceridemia hiperlactacemia uremia pré-renal perda intensa de nitrogênio urinário. http://www.sepsisnet.org/pdf/SSCDiretrizes.pdf Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) Presença de disfunção orgânica ameaçadora à vida causada por resposta desregulada do organismo à infecção. Disfunção orgânica é definida pela variação de dois pontos no escore SOFA. Atualmente... SEPSE PONTO POSITIVO SIMPLIFICAÇÃO DA NOMENCLATURA E DA DEFINIÇÃO Sepse grave não mais deve ser utilizada e a nova definição é o que era a sepse grave na definição antiga Atualmente... CHOQUE SÉPTICO Subgrupo de pacientes cuja anormalidade circulatória/ celular/metabólica são graves o suficiente para levar a aumento importante da mortalidade. Definida pela presença de hipotensão persistente requerendo o uso de vasopressores para manter pressão arterial média acima de 65 mmHg e lactato sérico > 2 mmol/L (18 mg/dL) a despeito de adequada ressuscitação volêmica. Choque Séptico Reanimação volêmica adequada Drogas vasoativas e lactato > 2 mmol/L Mantém HIPOTENSO Disbiose no paciente crítico Desnutrição no paciente crítico Outra condição comum: Hiperglicemia BRASPEN, 2018 Risco Nutricional no Doente Crítico (NUTRIC) Triagem de Risco Nutricional-2002 (NRS-2002) Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ASG) Mini Avaliação Nutricional (MAN) Ferramenta de triagem de Desnutrição (MST) Instrumento Universal de Triagem de Desnutrição (MUST) Triagem e Avaliação Nutricional Avaliação laboratorial, medidas antropométricas: não são validadas em UTI. Indicadores laboratoriais: albumina, pré-albumina, transferrina: refletem resposta de fase aguda e não estado nutricional na UTI. Avaliar perda de peso, nutrição prévia, gravidade da doença, função TGI. Mesmo assim a avaliação nutricional deve ser realizada de rotina na UTI. Triagem e Avaliação Nutricional Terapia Nutricional Minimizar o catabolismo; Impedir a instalação da DEP ou agravamento; Minimizar a perda de MM e fornecer energia; Imunomodulação: - minimizar a SIRS. Algoritmo - Indicação da TN, escolha da via de acesso e administração. • Via Oral • Enteral com auxílio de Bombas de Infusão • Via jejunal: sem evidências de benefícios • TNE sem metas → NP • 7 a 10 dias → não atendimento 100% metas → NP Terapia Nutricional: Vias de Administração Quando iniciar a terapia nutricional? Nutrição Enteral Precoce Alimentação deve alcançar o VET até as primeiras 48 a 72h Nutrição Enteral Precoce Pré requisitos básicos: Nutrientes Especiais: Glutamina Piores desfechos clínicos em pacientes críticos Nutrientes Especiais: Glutamina BRASPEN, 2018 Não recomendamos o uso rotineiro de suplementação de glutamina enteral em pacientes críticos. Em pacientes traumatizados e queimados, o uso de glutamina enteral pode ser considerado. Nível de Evidência: Baixo. *Guidelines da ADA 2010: não recomendam o uso rotineiro de fórmulas imunomoduladoras em pacientes críticos. **Guidelines da ESPEN 2006: recomendam o uso de fórmulas imunomoduladoras na sepse leve, mas não em queimados, diferentemente dos guidelines da ASPEN 2009. Terapia Nutricional Nutrientes Especiais: Probióticos INDICAÇÕES CONTRA INDICAÇÕES Imunonutrientes com óleo de peixe, borragem, antioxidantes BRASPEN, 2018 Sugerimos que formulações enterais imunomoduladoras não devem ser utilizadas rotineiramente em UTI. Em pacientes cirúrgicos hemodinamicamente estáveis em pós- operatório de grandes cirurgias por câncer, sua utilização deve ser considerada. Nível de Evidência: Baixo. BRASPEN, 2018 Não existe evidência que suporte o uso rotineiro de fibras para o doente grave. Em pacientes com diarreia persistente que estejam hemodinamicamente compensados e não tenham dismotilidade, o uso de fibras solúveis pode ser considerado. Nível de Evidência: Opinião de especialista. Nutrientes Especiais: Fibras Hiperalimentar risco de hiperglicemia risco de complicações metabólicas ao longo do tempo. De acordo com a ESPEN: • Oferta energética deve ser iniciada em 25 kcal/kg/dia nos primeiros 3 dias de TN e evoluída conforme as NN e a tolerância do paciente. Evidências Científicas e Recomendações dos Guidelines BRASPEN, 2018 Recomendamos iniciar com uma oferta energética mais baixa, cerca de 15 a 20 kcal/kg/dia e progredir para 25 a 30 kcal/kg/dia após o quarto dia dos pacientes em recuperação. Caso disponha de CI, ofertar na fase inicial entre 50 e 70% do gasto energético aferido. Nível de Evidência: Baixo. Evidências Científicas e Recomendações dos Guidelines Recomendamos evitar uso de nutrição parenteral precoce só ou combinada com enteral (mas deve-se iniciar com nutrição enteral precoce) nos pacientes críticos com sepse ou choque séptico onde a nutrição enteral precoce é possível. (Forte recomendação, moderada qualidade de evidência). RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS The Surviving Sepsis Campaign: 2016/2018 Recomendamos evitar administração de NPT só ou em combinação com nutrição enteral (mas, preferir iniciar com glicose EV progredir nutrição enteral conforme tolerância) antes de 7 dias, naqueles pacientes com sepse ou choque séptico onde o início precoce de nutrição enteral não é possível. (Forte recomendação, moderada qualidade de evidência). Nós recomendamos evitar uso de ácidos graxos ômega 3 como imunomodulação nos pacientes com sepse e choque séptico. (Forte recomendação; baixa qualidade de evidência) Nós recomendamos evitar selênio EV para tratamento de sepse e choque séptico. (Forte recomendação; moderada qualidade de evidência). RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS The Surviving Sepsis Campaign: 2016/2018 Sugerimos evitar uso de arginina no tratamento de sepse e choque séptico. (Fraca recomendação, baixa qualidade de evidência). Recomendamos evitar glutamina para tratamento de sepse e choque séptico. (Forte recomendação; moderada qualidade de evidência). • Adultos e idosos: SCQ > 20%; Crianças com SCQ > 15% • Necessidade de suporte ventilatório • Múltiplas intervenções cirúrgicas • Estado nutricional comprometido anterior • PP > 10% durante tratamento • TCE • Não iniciar em instabilidadehemodinâmica: - PAM < 60 mmHg - doses crescentes de DVA - atentar para acidose metabólica indeterminada e hemorragias digestivas → risco isquemia. PACIENTE QUEIMADO • Início: 20 – 25 kcal/kg/d • Primeiros 4 – 7 dias → 25 – 30 kcal/kg/d → anabolismo • Benefícios TNE → oferta > 50 – 65% 1ª sem PACIENTE QUEIMADO: NECESSIDADES NUTRICIONAIS • A depender do grau de catabolismo - Moderado: 1,2 – 1,5 g/kg/d - Grave: 1,5 – 2,0 g/kg/d - Situações especiais: fístulas, queimadura, diálise diária → > 2,5 g/kg/d • Relação kcal não PTN: gN → 80 a 100:1 PACIENTE QUEIMADO: NECESSIDADES PROTEICAS SOCIEDADE ENERGIA PROTEÍNA LIPÍDEOS CARBOIDRATOS VIT./MIN. ASPEN, 2007 ---- 20-25% VET 1,5-2,0 g/kg/dia Grandes queimados: até 3-4g/kg/ dia 10-30% do VET (2-4% AGE) Taxa de infusão de lipídeos: 0,1g/kg/hora 3-4mg/kg/min. ou 50-60% do VET No mínimo as DRIs ASPEN, 2016 25-30 kcal/kg/dia IMC 30-50: 11-14 kcal/kg PA/dia; IMC>50: 22-25 kcal/kg PI/dia IMC<30: 1,2-2,0g/kg PA/dia IMC 30-40: >2,0 g/kg PI/dia IMC > 40: >2,5 g/kg PI/dia RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS SOCIEDADE ENERGIA PROTEÍNA LIPÍDEOS CARBOIDRATOS VIT./MIN. ESPEN, 2006 Fase inicial e aguda: 20-25kcal/kg de peso/dia Fase de recuperação anabólica e desnutridos: 25-30kcal/kg/dia ESPEN, 2009 25 kcal/kg peso/dia 1.3–1.5 g/kg peso ideal/dia NP: 0.7- 1.5 g/kg durante 12 a 24 horas Mínimo de 2 g de glicose/kg/dia Máximo de 7 g de glicose/kg/dia Casos graves, em NP: 5mg/kg/minuto Dose diária de multivita- mínicos e elementos traço ESPEN, 2013 1,5-2g /kg de PA/dia para adultos queimados e 1,5 a 3g/kg/PA/dia para crianças gravemente queimadas <35% VET para queimados (adultos e crianças) Comunicação anormal entre dois epitélios através de um trajeto, em geral unindo um órgão interno e a superfície corporal. Localização: Pancreática; Gástrica; Duodenal; Jejunal; Ileal; Colônica FÍSTULAS ENTEROCUTÂNEAS - Baseada no débito diário da fístula. Alto débito: ≥ 500 mL/dia Baixo débito: ≤ 500 mL/dia Gástricas, duodenais e do ID proximal: são consideradas altas, por sua localização, e de grande débito: drenam secreções salivar, gástrica, biliar, pancreática e do intestino delgado. Cólon: são chamadas baixas e de pequeno débito - as secreções digestivas são absorvidas antes do orifício fistuloso. FÍSTULAS ENTEROCUTÂNEAS Em caso de desconhecimento de débito e origem da fístula: NPT Início imediato ao diagnóstico em pacientes hemodinamicamente estáveis NE SEMPRE QUE POSSÍVEL TERAPIA NUTRICIONAL: FÍSTULAS ENTEROCUTÂNEAS TERAPIA NUTRICIONAL: FÍSTULAS ENTEROCUTÂNEAS • Arginina, Glutamina, Ácidos Nucléicos, ω-3, antioxidantes • Especificidade - grandes cirurgias abd eletivas - trauma abd - queimados: SCQ > 30% - pós-op CA cabeça e pescoço - graves em Ventilação Mecânica SEM SEPSE TERAPIA NUTRICIONAL: DIETAS IMUNOMODULADORAS Reintrodução da VO = fístula fechada ou débito <100 mL/dia • Doses maiores de antioxidantes: vit. C e E, Zn, Se e Cu. • Glutamina: 0,3 a 0,5 g/kg/d → redução de infecções e morte (Queim). Associar à NPT. • Atenção Injúria Renal ou DRC. QUEIMADOS E POLITRAUMATIZADOS • Paciente procedente de um hospital público onde encontrava-se internado com quadro de DPOC agudizado, falência respiratória e poliglobulia a esclarecer. • Trata-se de obeso (IMC: 35,9 kg/m2) com história de tabagismo e etilismo, que iniciou há cerca de oito meses com astenia progressiva associada a edema de MMII depois tosse com expectoração amarelada e dispneia que vinha se intensificando no último mês. • Foi encaminhado a um hospital particular para investigar poliglobulia (Hb.: 23,0 e Ht: 70,8). Lá evoluiu com rebaixamento do nível de consciência e hipercapnia havendo necessidade de intubação e assistência ventilatória, sem choque ou necessidade de aminas vasoativas, porém sob sedação com midazolam e fentanil. • Foi introduzido Nipride por HAS. Vem com VJID puncionada, SVD e SNE. Caso clínico • Deu entrada conduzido por equipe dos Bombeiros, intubado, sedado, sob respiração artificial, em VM com O2 a 100% . • PA: 177 x 119 mmHg – PAM = 138 mmHg • FC: 110 bpm • FR: 24 ipm • PT: 4,7 g/dL (6,0 - 8,0) • Albumina : 2,8 g/dL (3,4 - 5,0) Relação A/G: 1,4 (>1,0) • Globulina : 1,9 g/dL (2,5 - 3,6) • Leucócitos: 13.000 (4.000 – 11.000) • Membros: edema em tornozelos • Problemas: 1. DPOC agudizado (pneumonia)=> falência respiratória 2. Policitemia a esclarecer (DPOC?) 3. Obesidade + HAS Caso clínico 1. Antropometria: Peso maca: 97 kg Peso seco estimado: 90 kg Estatura: 1,64m 2. Exame físico: Sem sinais de perda de massa magra e tecido adiposo. 3. Sintomas gastrointestinais Resíduo gástrico: sem registro. Evacuação: sem registro. 4. Controle 24 h Diurese: 7900 mL Glicemia: 119- 150 mg/dL Caso clínico 1) Qual o estado nutricional do paciente? 2) De acordo com as diretrizes estudadas, qual seria sua conduta nutricional para o paciente: via de administração, consistência, fracionamento, VET, quantidade de PTN, CHO, LIP e micronutrientes. 3) Você utilizaria fibras na dieta? 4) Qual a necessidade hídrica do paciente? Caso clínico
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