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Historia da Arte Contemporanea Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti Caminhos para a Arte Contemporânea • Introdução • Gênios Rebeldes – Realismo abre Espaço para a Arte Moderna • As Vanguardas Históricas Europeias • Arte Moderna pede Passagem • Arte Moderna no Brasil • A Arte do Pós-Guerra · Conhecer os aspectos conceituais, históricos e estéticos da passagem da arte moderna para a arte contemporânea no mundo e no Brasil. · Apreciar, analisar significativamente, ler e criticar manifestações artísticas contemporâneas. · Valorizar a pesquisa sobre os aspectos conceituais, históricos e estéticos da arte contemporânea. · Valorizar a arte como construção de conhecimento e de cultura. OBJETIVO DE APRENDIZADO Caminhos para a Arte Contemporânea Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Contextualização Iniciamos o nosso material didático com uma citação do filósofo e sociólogo alemão Theodor Adorno (1903-1969), em sua Teoria estética (publicada postumamente, em 1970): “Hoje, aceitamos sem discussão, que, em arte, nada pode ser entendido sem discutir e, muito menos, sem pensar”. Essa é a essência daquilo que iremos mostrar a você a partir desta Unidade: é preciso pensar a arte em um mundo que incrementa vertiginosamente seus mecanismos de comunicação. Aliás, essa é a palavra-chave do tema da nossa disciplina: comunicação. Arte contemporânea é comunicação pura. Entretanto, para que haja efetivamente uma competência comunicativa será preciso que emissor (os artistas) e receptor (o público) se entendam. O artista cria, elabora, amplia, minimiza, extrapola, olha para dentro de si, olha para fora, vê, mostra, esconde... O público observa, interage, opina (não opina), fica espantado, fica inerte... E, os professores? São mediadores (mas, antes de tudo, são espectadores). Para que esse ciclo se desenvolva plenamente e tenha continuidade, é preciso que se conheça a história das coisas, a origem, a trajetória. É o passado influenciando o presente e o futuro. A História da Arte Contemporânea é isso: busca as causas do rompimento dos artistas com a arte acadêmica e o surgimento da arte moderna e, após, com o seu esgotamento, segue na passagem para a arte contemporânea, a partir dos anos 1950. Vamos, a partir de agora, juntos, viajar pelo tempo e conhecer movimentos, escolas, artistas, teóricos, críticos de arte. Aproveite a oportunidade! 8 9 Introdução Hoje, aceitamos sem discussão, que, em arte, nada pode ser entendido sem discutir e, muito menos, sem pensar. (Theodor Adorno, Teoria estética, 1961). No século XVIII, o pensamento dominante se resumia em uma indagação: o que torna uma obra uma obra de arte bela? A pintura e a escultura eram belas- artes com o predomínio da técnica em relação a outras questões. Já a expressão “obra de arte” é recente, ganhou força no século XX, especialmente a partir da sua segunda metade. Com o passar do tempo, houve uma dissociação entre esses conceitos: arte deixou de ser sinônimo de técnica e o belo deixou de ser um tema por excelência da arte, criando-se uma abordagem cada vez mais abrangente e em eterna redefinição. Atualmente, muitas teorias definem a arte como era no seu início: um produto de qualquer atividade humana resultado da criatividade, do fazer artístico. É a partir da fase de formação da arte moderna – por volta de 1860 / 1870 – que ganham importância no pensamento estético as teorias que destacam o fazer artístico da obra em detrimento da obra pronta. O certo é que os conceitos sobre obra de arte são mutantes como a própria arte. Gênios Rebeldes – Realismo abre Espaço para a Arte Moderna Com a mudança das condições sociais advindas pela rápida industrialização e pelas revoluções europeias em meados do século XIX, os artistas começaram a reconsiderar a autoridade da arte acadêmica. As sociedades como um todo começam a buscar suas próprias identidades e o significado da existência humana, tanto individual quanto coletivamente. Entre os primeiros artistas que se rebelaram ao conservadorismo e à estrutura inflexível das academias, bem como ao controle que elas exerciam sobre os clientes de arte, figuram os franceses como Gustave Coubert (1819-1877). Eles afirmavam que o acabamento esmerado das pinturas acadêmicas revelava falta de sinceridade e pobreza de conteúdo. Era o Realismo se configurando e tomando forma. Os pintores realistas reagiram às transformações sociais e políticas, optando por retratar pessoas e acontecimentos comuns em um estilo de pintura baseado em uma cuidadosa observação. Coubert é considerado o líder do movimento. Em sua obra O ateliê do artista (1854-1855), ele representa ricos e pobres, entre eles um padre, um comerciante, um caçador e um mendigo. 9 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Fig. 1 – O ateliê do artista (1854-1855), de Gustave Coubert, óleo sobre tela (3,61 m x 5,98 m) Fonte: wikimedia/commons As Vanguardas Históricas Europeias O contexto socioeconômico do final do século XIX e início do século XX estimulou a consolidação do conceito de vanguarda (do francês avant-garde), que significa “à frente da guarda”, subentende estar à frente, fazer algo novo, na expectativa, aguardando algo. Maior Liberdade de Criação e de Expressão Uma das grandes criações da era moderna, a fotografia – apresentada entre 1826 e 1827 pelo francês Joseph Niépce, e aprimorada a partir de meados dos anos 1930 por William Talbot e Louis-Jaques-Mandé Daguerre – contribuiu para a liberação de pintores e de escultores do registro de pessoas, paisagens e fatos históricos. A fotografia passou a cumprir, na maioria dos casos, essa função. Ex pl or Arte Moderna pede Passagem Impressionismo Claude Monet (1840-1926) estimulou seus colegas a abandonar o ateliê e a pintar sob a luz natural. Ele chegou a ter um barco-ateliê equipadopara poder observar as variações e os efeitos da luz sobre o rio Sena. Monet fazia parte de um grupo de artistas franceses da segunda metade do século XIX, rebelados contra os temas históricos e o refinado acabamento das obras de arte acadêmicas. Esse movimento, que rompeu decididamente com o passado e abriu caminho para a arte moderna, seria identificado como Impressionismo. As figuras de destaque do grupo são, além de Monet, Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), Edgar Degas (1834-1917) e Camille Pissarro (1830-1903), entre outros. 10 11 Fig. 2 – Claude Monet pintando em seu barco-ateliê (1874), de Edouard Manet, óleo sobre tela (0,82 m x 1 m) Fonte: wikimedia/commons Pós-Impressionismo O termo pós-impressionismo designa um grupo de artistas insatisfeitos, no final do século XIX, especialmente a partir do final dos anos 1880, com as limita- ções do Impressionismo. Os artistas pós-impressionistas se afastaram do natura- lismo e passaram a usar cores vivas, camadas grossas de tinta, temas cotidianos e pinceladas expressivas que enfatizavam as formas geométricas. Os franceses Paul Cézanne (1839-1906), Paul Gauguin (1848-1903), Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) e Georges-Pierre Seurat (1859-1891) – pioneiro do movimento Pontilhismo, ou Divisionismo –, e o holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) são seus maiores representantes. Fig. 3 – Fruteira, copo e maçãs (c.1879-82), de Paul Cézanne, óleo sobre tela (0,45 m x 0,54 m) Fonte: apontamentosdearte.blogspot.com.br 11 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Fauvismo O início do século XX foi marcado por mudanças sociais e tecnológicas. Em relação às artes, não foi diferente. Jovens pintores desenvolveram um estilo novo e radical com cores fortes e distorções ousadas chamado de Fauvismo (fauves, em francês: feras, selvagens), nome dado pela crítica, que se chocou com as obras apresentadas, a partir de 1905, no Salão de Outono, em Paris. O líder não oficial do movimento de vanguarda foi Henri Matisse (1869-1954). Fig. 4 – A dança (1910), de Henri Matisse, óleo sobre tela (2,6 m x 3,9 m) Fonte: wikimedia/commons Expressionismo O Expressionismo, em seu sentido amplo, caracteriza a arte criada sob o impacto da expressão da vida interior, das imagens que vêm do fundo do ser e se manifestam por meio de sentimentos. O que conta é a expressão, o ato de exprimir. O movimento, que atingiu seu auge entre 1910 e 1920, foi particularmente gestado na Alemanha. Um dos passos mais ousados e originais foi dado por um advogado russo de origem siberiana, que se tornou pintor: Wassily Kandinsky (1866-1944). Fig. 5 – Composição VII (1913), de Wassily Kandinsky, óleo sobre tela (2 m x 3 m) Fonte: wikimedia/commons 12 13 Cubismo Em 1907, o espanhol Pablo Picasso (1881-1973) produziu uma pintura que marcaria para sempre a arte: As senhoritas de Avignon. Picasso decompõe as formas em diferentes planos geométricos e ângulos retos, desestruturando as figuras para que, remontadas pelo espectador, deixassem transparecer uma outra estrutura. Fig. 6 – As senhoritas de Avignon (1907), de Pablo Picasso, óleo sobre tela (2,44 m x 2,34 m) Fonte: wikimedia/commons Surrealismo O movimento surrealista surgiu em Paris, no início da década de 1920, e se tornou uma das mais importâncias tendências artísticas do século XX. Originário de um estilo literário, descreve acontecimentos de natureza bizarra. O artista catalão Joan Miró (1893-1983) incorporou elementos do acaso em sua pintura com cores fortes e formas fantásticas. O também catalão Salvador Dali (1904-1989) é um de seus maiores representantes. Fig. 7 – A persistência da memória (1931), de Salvador Dali, óleo sobre tela (0,24 m x 0,33 m) Fonte: galeriadefotos.universia.com.br 13 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Importante! Duchamp: Fundamental para o Entendimento da Passagem da Arte Moderna para a Arte Contemporânea O francês Marcel Duchamp (1887-1968) integrou o movimento cultural Dadá, ou Dadaís- mo, surgido na Europa, que teve uma vida breve: 1916 a 1922, concomitantemente com grande parte da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Duchamp, um pacifista, e o tam- bém artista francês Francis Picabia (1879-1953), se exilaram nos Estados Unidos, onde conheceram o pintor-fotógrafo americano Man Ray (1890-1976). Juntos, começam a produzir obras que questionavam o processo artístico. Duchamp levou a iconoclastia do Dadaísmo ao extremo com seus ready-mades (termo criado por ele) – objetos funcion- ais fabricados industrialmente, exibidos como obras de arte em galerias e museus, com pouca ou nenhuma alteração. Ele questionava o que constituía a obra de arte e atacava as noções de valor material, tornando-se uma referência para inúmeros artistas. O nome do movimento foi escolhido ao acaso, em um dicionário alemão-francês. A palavra “dada”, em francês significa “cavalinho de madeira”. “Está na medida certa para os nossos propósitos. O primeiro som emitido pela criança expressa o primitivismo, o começar do zero, o novo em nossa arte”, afirmou Hugo Ball, poeta e filósofo alemão, um dos criadores do Dadaísmo. Essa ruptura provocou uma série de discussões sobre arte como, por exemplo, quem é o artista? O que é a arte? Quais os rumos que ela deve tomar? Quem decide o que e quando é arte? Embora tenha tomado emprestado ele- mentos de movimentos artísticos anteced- entes como o Cubismo, com as colagens, o Dadaísmo caminhou em um sentido próp- rio, promovendo a não-estética, o ilógico, a autocontradição e o descartável. A pro- moção da incoerência em detrimento do sentido era o modo como o movimento atacava a crença de que a sociedade po- dia usar a lógica e a ciência para resolver qualquer problema. Fig. 8 – Fonte (1917) é o ready made mais famoso de Marcel Duchamp. O artista comprou um urinol masculino em uma loja, assinou como “R. Mutt” e o enviou para a seleção do Salão dos Independentes, mostra de artes em Nova York. O objeto foi recusado, mas entrou para a história como uma das referências artísticas do século XX Fonte: wikimedia/commons Importante! Arte Moderna no Brasil Os movimentos artísticos modernistas europeus influenciaram fortemente o Brasil, especialmente por meio de artistas locais que trouxeram do exterior conceitos estéticos propostos pelas vanguardas. O lituano Lasar Segall (1891-1957), que 14 15 havia estudado na Alemanha, mostra suas obras no Brasil a partir de 1913, onde fixa residência em 1923 e passa a usar imagens da paisagem e de cenas brasileiras em seus trabalhos. A artist a brasileira Anita Malfatti (1889-1964) mostra, em uma polêmica exposição na capital paulista, em 1917, pinturas realizadas durante temporadas em Berlim e Nova York. Obras como A estudante russa e O homem amarelo, ambas produzidas entre 1915 e 1916, com uma relação dinâmica e tensa entre a figura e o fundo, pinceladas livres e cores fortes usadas de forma não convencional, causaram espanto e a ira dos críticos como Monteiro Lobato. A exposição de Anita foi suficiente para que amigos e colegas concebessem um momento fundamental para a arte brasileira: a Semana de Arte Moderna, de 1922. O grupo, cujos protagonistas foram Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Vicente do Rego Monteiro e Oswaldo Goeldi, buscavam uma nova forma de criar, diferente da maneira clássica e realista, com temas e cores brasileiros. Mas, afi nal, o que é Arte Contemporânea? A arte moderna, que buscava, principalmente, a experimentação sofre desgaste ao longo do tempo. É justamente esse fato que acaba por afastá-la do público e passa a ter dificuldade de compreendê-la. Diferentemente do período moderno, com suas correntes e tendências artísticas organizadas em grupos como as vanguardas e seus autores de manifestos, criadores derevistas e até escolas, a arte contemporânea avança, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em incontáveis direções e não linearmente. As obras passam a se apresentar como um desdobramento das anteriores e de maneira independente – algumas vezes semelhante, mas não iguais –, em um universo praticamente inesgotável. Uma das principais características deste período é a comunicação, materializando- se a partir de referências com a própria vida na busca de um sentido. Em um significado estrito do termo seria a “arte do agora”, que se manifesta no mesmo momento e, também, no mesmo momento em que o público a observa. Mas, aqui, cabe uma observação: nem tudo o que se produz em arte hoje pode ser classificado como arte contemporânea. A produção artística que resulta desse período em diante é considerada para alguns autores também como pós-moderna, como um desdobramento e um amadurecimento do Modernismo, rompendo limites e tornando-se eclética. Fig. 9 – Abaporu (1928), de Tarsila do Amaral, óleo sobre tela (0,85 m x 0,73 m) Fonte: wikimedia/commons 15 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea As manifestações contemporâneas da arte são um fenômeno cultural complexo, na medida em que indicam a possibilidade de interessantes experimentações nos processos comunicativos, como campo de circulação de valores e de signos. Dessa forma, a arte deixa marcas nas pessoas pela qualidade das experiências subjetivas que pode suscitar. É a era das experimentações com elementos da cultura e da sociedade, ora refletindo e reforçando seus valores – e concretizando-os –, ora problematizando-os ou rompendo com eles. Esse trabalho de experimentação consiste na apropriação e na ressignificação de objetos, imagens, discursos, textos, do corpo, além de tecnologias de comunicação, entre outros elementos. Artistas contemporâneos buscam na inter-relação entre as diferentes áreas do conhecimento humano respostas para seus dilemas, por meio de uma profusão de estilos, de formas, de práticas e de programas. Não há, também, limite de materiais. A arte tem se utilizado não apenas de tinta, de metal e de pedra, mas também de materiais pouco convencionais como ar, luz, som, palavras, pessoas, comidas, assim como não há barreiras de técnicas e de métodos de produção artística. Embora a pintura continue sendo importante, há artistas que se utilizam da fotografia, do vídeo, das novas tecnologias, que atuam em atividades como caminhadas, apertos de mãos ou cultivo de plantas. O resultado é uma riqueza e uma diversidade inesgotáveis da prática artística. Assim, identificamos um contexto bastante complexo que a contemporaneidade comporta no campo artístico, ora a arte sendo efêmera e fugidia, ora sendo eterna e imutável. Neste campo encontram-se os objetos; os happenings – o acontecimento é o próprio produto –; as performances – ação proposta pelo artista realizada por ele ou por um performer –; a body art – o corpo, ou os vestígios humanos, são o suporte da obra –; a videoarte, a web art, o cinema de artista, a instalação, o site specific – obras criadas de acordo com o ambiente e com um espaço determinado –; a land art – intervenção na natureza ou em áreas urbanas com as obras chegando ao grande público na forma de fotos, de mapas e de vídeos. Ainda há as manifestações artísticas híbridas, quando a obra não dá conta de se comunicar em apenas uma linguagem como, por exemplo, videoperformance e videoinstalação. Fig. 10 – Foto de Spiral Jetty (1970), de Robert Smithson (1938-1973), land art: lama, cristais de sal e basalto, 460 metros de comprimento; construída em Utah (Estados Unidos) Fonte: SMITHSON, Robert 16 17 A produção de arte, então, pode ser considerada não exatamente como um espelho de uma sociedade, mas como um mapa no qual seria possível identificar as formas como os homens produzem seus valores, problematizam sua existência e, ao mesmo tempo, como a transformam, assumindo um permanente estado de descontinuidade. A Arte do Pós-Guerra Expressionismo Abstrato – Action Painting (Pintura de Ação) e Color Field Painting (Pintura de Campo de Cor) Paris foi o centro do mundo artístico no fi- nal do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, mas o êxodo de artistas que fugi- ram da Europa em consequência da Segunda Guerra Mundial mudou esse eixo para Nova York, na América. Logo, a grande metrópole ocupou um lugar importante como centro de uma nova arte. O desenvolvimento acelerado de uma arte americana constituiu-se em um grande fenômeno a partir de então. Em pou- cas décadas, os museus americanos posicio- naram-se entre os principais do mundo, espe- cialmente com a contribuição dos triunfantes capitães da indústria, que queriam contribuir para a formação de uma sociedade realmente moderna, sem tradições vinculadoras. Assim, fundam universidades, centros de pesquisa e museus, que, além de ser um espaço de con- servação e de informação, atuaram, também, como impulsionadores da cultura artística. Dois artistas fundamentais nesse período são o armênio Arshile Gorky (1902-1948) e o holandês Willem de Kooning (1904-1997), que também imigraram para os Estados Unidos. Gorky deixou um impacto profundo sobre a arte americana como um dos últimos grandes pintores surrealistas e um dos primeiros expressionistas abstratos. Já De Kooning tem uma formação expressionista de origem. Aliás, o gesto expressionista de pintar, de colocar as tintas, de atirá-las e de manipulá-las na tela era, para o artista, um gesto explosivo, desintegrador da realidade. Fig. 11 – Noivado (1947), de Arshile Gorky, tela (1,27 m x 0,96 m) Fonte: GORKY, Arshile Fig. 12 – Porto no rio (1960), de Willem de Kooning, tela (0,80 m x 0,70 m) Fonte: KOONING, Willem de 17 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Pollock, o Pintor de Ação A nova geração de artistas norte-americanos – influenciada por seus pares europeus imigrantes e movimentos como Fauvismo, Futurismo e Surrealismo – também caminha em direção a uma linguagem pictórica mais abstrata como é possível se observar nas primeiras obras de Jackson Pollock (1912-1956), do início dos anos 1940. Mas, aos poucos os americanos abandonam os modelos europeus, adaptando as linguagens artísticas às suas interpretações da paisagem urbana de seu país. O Expressionismo Abstrato ganha força nos Estados Unidos, a partir da segunda metade da década de 1940 com o surgimento de dois estilos de pintura mais abrangentes: Action Painting (Pintura de Ação) e Color Field Painting (Pintura de Campo de Cor). Os pintores de ação como De Kooning buscavam revelar verdades fundamentais que se escondiam no inconsciente do artista. Eles não eram guiados pelos processos de tomada de decisão conscientes e se expressavam por meio de pinceladas amplas e gestuais. Pollock fez experiências com essa abordagem, mas passou a explorar cada vez mais linhas. O artista parte realmente do zero, do pingo de tinta que deixa cair na tela. Sua técnica de dripping (gotejamento e borrifos de tinta sobre a tela estendida no chão) deixa certa margem para o acaso. Ele testou os limites de sua arte nas telas que produziu entre 1947 e 1952, tornando-se o principal representante da Action Painting. O resultado desse trabalho pode ser resumido em Monstros azuis: número 11, de 1952. “Sem acaso, não há existência. O acaso é liberdade em relação às leis da lógica, porém é também a condição de necessidade devido à qual se enfrentam a cada momento, na vida, em situações imprevistas. A salvação não reside na razão que faz projetos, mas na capacidade de viver com lucidez a casualidade dos acontecimentos”, diz o historiador Giulio Carlo Argan (Arte Moderna, Companhia das Letras, 1992) sobre o trabalho de Pollock. A exposição Pintura e escultura abstrata na América, em 1951, realizadano MoMA (Museu de Arte Moderna), em NY, definiu o conceito do movimento Expressionismo Abstrato como uma importante força no mundo artístico. Fig. 13 – Monstros azuis: número 11 (1952), de Jackson Pollock, óleo, esmalte e tinta de alumínio com fragmentos de vidro sobre tela (2,18 m x 4,88 m) Fonte: wikimedia/commons 18 19 Importante! Argan faz uma Interessante Relação entre Action Painting e Jazz: “A action paiting e o jazz são duas contribuições de imenso alcance dos Estados Unidos à civilização moderna: estruturalmente, são muito parecidos. O jazz é a música sem projeto, que se compõe tocando, e rompe todos os esquemas melódicos e sinfônicos tradicionais, tal como a action paiting rompe todos os esquemas espaciais da pintura tradicional. No emaranhado de sons do jazz, cada instrumento desenvolve um plano rítmico próprio: o que os entrelaça é a excitação coletiva dos instrumentistas, a onda que se ergue do fundo do inconsciente chega ao auge do paroxismo. Tal como nos coros religiosos dos negros americanos, cada qual grita sua fé e sua fúria, e cada voz é dissonante da outra, mas é exatamente dessa lancinante dissonância que nasce o ritmo de uma coralidade dilacerada. Da mesma forma, na composição de um quadro de Pollock, cada cor desenvolve o seu ritmo, leva à máxima intensidade a singularidade de seu timbre. Todavia, tal como o jazz constitui não tanto uma orquestra, e sim um conjunto de solistas que se apostrofam e respondem, estimulam-se e relançam um ao outro, analogamente o quadro de Pollock surge como um conjunto e quadros pintados na mesma tela, cujos temas se entrelaçam, interferem, divergem, tornam a se reunir num turbilhão delirante. O jazz é a música negra, dos negros americanos: são a miséria e o desespero do presente que, com notas estridentes de ternura pungente e sombria ameaça, evocam das profundezas a memória ancestral de um passado agora lendário. E elas se fazem, nas palavras de Faulkner, ‘som e fúria’. Em certo sentido, a pintura de Pollock também é ‘negra’: no período que precede os grandes spirituals da última década, é visível a busca de um sentido totêmico da imagem, numa miscelânea bárbara, mas extraordinariamente vital, de sacralidade e sensualidade. Pollock coloca o dilema à sociedade americana, orgulhosa de sua ordem e produtividade: contentar- se com a bela forma de seus automóveis e eletrodomésticos ou, desejando-se a arte, procurá-la na agitação do inconsciente, na obscuridade de seu indelével complexo de culpa”. (ARGAN, 1992, p. 533-4). Trocando ideias... Color Field Painting (Pintura de Campo de Cor) O outro estilo pictórico do Expressionismo Abstrato é uma estratégia oposta à Pintura de Ação. Em vez de telas preenchidas com uma configuração de diversas notas de tintas que supostamente se relacionavam com a psique do artista, a Pintura de Campo de Cor (Color Field Painting) buscava excluir completamente elementos irrelevantes, de modo que o espectador pudesse saber que está vivo, participante, como faz Barnett Newmann (1905-1970) em Vir Heroicus Sublimis (1950-1951), a maior tela de sua carreira com 2,42m x 5,42m. O óleo sobre tela funciona como um cenário cromático, oferecendo um campo visual saturado de cor, dentro do qual o espectador mergulha. “As pinturas imensas e tenebrosamente veementes de Newmann constituem talvez o ataque mais direto já feito à pintura de cavalete”, afirma Clement Greenberg (1909-1994), o mais influente crítico de arte do pós-guerra. Aliás, foi Greenberg quem denominou esse estilo de “pintura em campos de cor”. 19 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Fig. 14 – Vir Heroicus Sublimis (1950-51), de Barnett Newmann, óleo sobre tela (2,42 m x 5,42 m) Fonte: wikimedia/commons Greenberg inclui, também, a obra Sem título (Violeta, preto, laranja e ama- relo sobre branco e vermelho), de 1949, do russo Mark Rothko (1903-1970), outro imigrante. O óleo sobre tela (2,07m x 1,67m) tem na justaposição de lu- minosos retângulos de cor sua força expressiva e reforça a relação entre obra e espectador com sua escala semelhante ao corpo humano. Rothko atingia a maturi- dade de um estilo visual que abandonou todas as referências a imagens reconhe- cíveis. O artista tinha consciência da for- ça dramática de seus quadros. Em 1951, afirmou porque escolheu pintar quadros muito grandes: “Porque quero ser muito íntimo e humano. Pintar um quadro pe- queno é colocar a si próprio fora da ex- periência. Por mais que você pinte uma imagem mais ampla, você está sempre dentro dela”. Conforme Argan, “Um quadro de Rothko não é uma superfície, é um ambiente: procura espontaneamente a arquitetura. Seu objetivo é, de fato, envolver, ambientar o espectador, abrir um espaço para sua imaginação”. A ideia de que a pintura expressionista abstrata não tinha significado e só se preocupava com a inovação e o radicalismo técnico fez com que as instituições artísticas não a levassem a sério. Em 1950, 28 artistas assinaram uma carta ao presidente do Metropolitan Museum of Art, em Nova York. O grupo protestava contra critérios de escolha de um júri que iria definir obras para o aumento do acervo do museu. Conforme os artistas, o júri era hostil ao Expressionismo Abstrato. Assim, a fotógrafa Nina Leen reuniu 14 artistas do grupo e tirou uma foto para a revista Life. Posteriormente, a foto ficou conhecida como “Os irascíveis”. Fig. 15 – Sem título (Violeta, preto, laranja e amarelo sobre branco e vermelho), de 1949, de Mark Rothko, óleo sobre tela (2,07 m x 1,67 m) Fonte: ROTHKO, Mark 20 21 A efervescente cena artística de Nova York, com suas divergências entre formalistas e antiformalistas e seu interesse crescente em objetos e produtos, era sustentada pela onda de crescimento econômico e de dinamismo tecnológico marcado por uma corrida armamentista nuclear e também espacial contra a Rússia. Fig. 16 – Na fi leira de trás (da esquerda para a direita): De Kooning, Gottlieb, Reinhardt e Sterne. Na fi leira do meio (também da esq. para a dir.): Pousette-Dart, Baziotes, Pollock, Still, Motherwell e Tomlin. Na fi leira da frente (da esquerda para a direita): Stamos, Ernst, Newmann, Brooks e Rothko. Foto de Nina Leen, 1950 Fonte: LEEN, Nina Enquanto isso, na Europa... Na década de 1950, Londres não chegava aos pés de Nova York, mas conseguia escapar do traumático acerto de contas cultural que afligiu as cidades europeias com a chegada dos nazistas. Nesse contexto, emergem pintores figurativos como o alemão Lucian Freud (1922-2011), neto do criador da psicanálise Sigmund Freud. Lucian se notabilizou pelas suas pinturas cruas de corpos nus. Passava meses com um mesmo modelo, retratando-o por noites a fio, buscando suas nuances, em um trabalho de reconhecimento íntimo. Não por acaso, preferiu pintar pessoas próximas, pois afirmava que as reproduzir era uma maneira de entendê-las. Chegou ao fim da vida como o artista vivo mais caro da história: a tela Benefits Supervisor Sleeping, de 1994, foi vendida, em 2008, por 33,6 milhões de dólares, tornando-a a pintura mais cara de um artista vivo vendida em leilão. 21 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Fig. 17 – Benefits Supervisor Sleeping (1994), de Lucian Freud, óleo sobre tela (1,5 m x 1,6 m) Fonte: FREUD, Lucian Na escultura, o suíço Alberto Giacometti (1901- 1966) atraiu a atenção para seu trabalho a partir de 1951, ao exibir uma nova arte criada com base no que ele via quando olhava para as outras pessoas. Os corpos eretos de pessoas – mirrados – parecem meros filamentos em bronze, ganhando substância quando seus pés se unem à base. O trabalho do artista teria alguma correspondência às considerações do filósofo Jean-Paul Sartre, amigo de Giacometti, sobre como as pessoas existem no mundo em sua doutrina do existencialismo – a moda intelectual na Europa,na época. Nela, os indivíduos sempre existem em uma determinada situação, sempre aos olhos dos outros, nunca podem ser completos em si mesmos. Em um mundo no qual emergiam revelações sobre o Holocausto e o advento do terror nuclear, havia uma necessidade de praticar algo que demonstrasse essa preocupação com as pessoas. Fig. 18 – O homem que caminha (1960), de Alberto Giacometti, bronze (1,83 m x 0,25 m x 0,95 m) Fonte: GIACOMETTI, Alberto Informalismo A questão da matéria surgiu a partir do momento em que a forma artística deixou de ser a representação da realidade, para apresentar-se como realidade autônoma. A partir de meados dos anos 1940, até o final da década de 1950, um tipo de pintura abstrata gestual dominou a arte internacional. Na Europa, ela foi denominada Arte Informal (sem forma) ou Informalismo – embora o nome tivesse de competir com outros termos como Abstração Lírica, Pintura Matérica e Tachismo (do francês tâche: borrão, mancha). 22 23 A pintura matérica enfatiza os poderes evocativos dos materiais – frequentemente inusitados – usados por artistas europeus como os franceses Jean Dubuffet (1901- 1985), com a sua Arte Bruta, e Pierre Soulages (1919-) com o Tachismo, e do catalão Antoni Tàpies (1923-2012). O crítico de arte Giulio Argan comenta sobre matéria pictórica: A matéria tem, sem dúvida, extensão e duração, mas ainda não tem, ou já deixou de ter, uma estrutura espacial temporal. Sua disponibilidade é ilimitada; manipulando-a, o artista estabelece com ela uma relação de continuidade essencial, de identificação. É verdade que não tem, nem pode adquirir um significado definido, isto é, torna-se objeto; todavia por ser e permanecer problemática, o artista nela identifica sua própria problemática, a incerteza quanto ao próprio ser, a condição de estranhamento em que é posto pela sociedade (...). A matéria pictórica não é apenas o meio com que se explicam as sensações, e sim uma substância sensível ou impressionável que absorve e apropria-se da extensão e da duração das sensações. (ARGAN, 1992, p.542). A Arte Bruta de Dubuff et Dubuffet era agudo e crítico e um questionador: “Por que procurar a matéria além da linguagem, como se a linguagem fosse algo espiritual ou racional?”. Se- gundo ele, a linguagem também é matéria, e, como tal, suscetível a transformações e corrupções. Seu objetivo era destruir o mito da imunidade, da espiritualidade e da incorruptibilidade da linguagem e, a pintura, conforme ele, não representa, não ex- prime, não comunica; é existência em estado bruto. Para Dubuffet, não há porque mitificar a arte, forçá-la a se relacionar com as atividades superiores ou “sublimes”. O artista duvida de todo o acade- mismo, rejeita o elitismo em arte, recusa tudo o que cerceia a criati- vidade, e, por isso, procura as suas referências culturais nas artes primi- tivas, no desenho das crianças ou na produção de uma “arte bruta”. Em 1948 cria, com outros pintores, a Companhia da Arte Bruta, usando o termo L´Art Brut para descrever a arte dos doentes mentais, das crian- ças ou mesmo das pessoas sem for- mação artística. Dubuffet dá grande importância aos materiais, usa-os de forma crua e rude, tritura massas (pastas, barro, asfalto, areia), usan- do-as de modo a criar relevos, traços impulsivos e figurações elementares. Fig. 19 – Trois personnages de peu de présence (1957), de Jean Dubuff et (1901-1985), técnica mista sobre tela (1,24 m x 1 m) Fonte: DUBUFFET, Jean 23 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Na Espanha, o sentido trágico da situação política do país está presente no trabalho do catalão Antoni Tàpies (1923-2012). Sua matéria é muro, cimento, porta fechada, persiana baixa, em busca da liberdade. Ele acredita que a noção de matéria também deve ser entendida do ponto de vista do misticismo medieval como a mágica e a alquimia e que seus trabalhos buscam o poder de transformar o interior das pessoas. Nos anos 1950/1960, Tàpies criou uma série de imagens, que sobrepostas umas às outras, tem significados diferentes. Sua mensagem centra-se sobre a reavaliação do que é considerado material insignificante, repugnante (não é por acaso que muitas vezes ele escolhe assuntos desagradáveis ou fetichistas). A pintura matérica de Tàpies possui forte sentido trágico. Os muros intransponíveis, as janelas e as portas fechadas que negam qualquer acesso se relacionam diretamente à situação política espanhola. No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, coincidindo com o flores- cimento da Arte Povera (arte pobre, que utilizava materiais baratos e aces- síveis) na Europa e Pós-minimalismo nos Estados Unidos, o artista passa a trabalhar mais com objetos, não mos- trando como eles são, mas oferecen- do uma nova interpretação. No início dos anos 1980, uma vez que a demo- cracia havia retornado para a Espa- nha, retomou o seu interesse na tela como suporte. Na época, produziu trabalhos com espuma de borracha e a técnica de spray, usou vernizes e objetos criados e esculturas em argila refratária ou bronze, mantendo-se ati- vo no campo da arte gráfica. Fig. 20 – Palha e madeira (1969), de Antoni Tàpies (1923-2012), técnica mista sobre tela (1,5 m x 1,16 m) Fonte: TÁPIES, Antoni Outro artista europeu significativo nesse período foi o abstrato Pierre Soulages (1919-), um dos mais importante artista contemporâneo francês e representante do Tachismo. A cor preta domina a sua obra, ele ficou conhecido como “o pintor do preto”. Progredindo, por meio da experimentação, aceita o acaso e também acidentes em suas obras. Pintor, gravador, litógrafo e designer tem grande interesse na criação de múltiplos e em reproduções. Os trabalhos impressos (gravuras, litografias, serigrafias) representam uma importante parte de sua produção artística. Em 2001, Soulages foi o primeiro artista vivo a expor no Museu Hermitage, em São Petersburgo, na Rússia. 24 25 Fig. 21 – Sem título (1956), de Pierre Soulages (1919-), impressão em papel (0,24 m x 0,17 m) Fonte: SOULAGES, Pierre Enquanto isso, na América do Sul... A vanguarda de Buenos Aires (Argentina) dos anos 1940 incluía o escultor Lucio Fontana, que regressara da Itália, onde havia trabalhado. Em 1946, redigiu o seu Manifesto branco no qual observava questões sobre arte: “A velocidade se tornou uma constante na vida da humanidade. Deixamos para trás todas as formas de arte conhecidas e iniciamos o desenvolvimento de uma arte baseada na união do tempo e do espaço”. As vanguardas sul-americanas, como o grupo liderado por Lygia Clark, no Brasil, defendiam avanços rumo a formas de atividades artísticas puramente interativas, enquanto outros como o venezuelano Jesús Rafael Soto (1923-2005), apresentavam trabalhos com cunho cinético (movimento) e óptico em Paris. O próprio Fontana regressou à Milão para lançar, em 1949, Ambiente spaziale a luce nera, uma instalação temporária com uma forma orgânica gigante e dinâmica suspensa no vazio em uma sala escura que recebe flashes de luz negra. Originada de sua ação sobre a matéria de suas esculturas, nesse mesmo ano, Fontana toma uma atitude radical: fura o plano bidimensional da tela em busca de uma terceira dimensão real na pintura. Ele passa a representar para a arte europeia do pós-guerra uma incessante busca pela descoberta de uma nova di- mensão de mundo. 25 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Fig. 22 – Concetto spaziale: attese (1965), de Lucio Fontana|, aquarela sobre tela, cinco incisões (1 m x 0,81 m) Fonte: FONTANAL, Lucio ...e, no Brasil Ao longo dos anos 1950, as artes visuais brasileiras transformam-se rapidamente devido ao impulso dado pelas criações do Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 1947, do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), em 1948, e da Bienal de São Paulo(1951), que instaura o debate sobre arte abstrata de maneira mais efetiva. Deve ser lembrada ainda a importante exposição Do Figurativismo ao Abstracionismo, que inaugurou o MASP, realizada pelo seu primeiro diretor, o crítico belga Leon Degand, em 1949. A produção artística brasileira, no período, não era grande, mas alguns nomes se destacaram como Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Victor Brecheret, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Alberto Guignard, Iberê Camargo, Milton Dacosta, Alfredo Volpi, entre outros. Na passagem dos anos 1950 para 1960, com o debate sobre o Expressionismo Abstrato e, sobretudo, sobre o Abstracionismo Geométrico, o Brasil passa a se emancipar nas artes visuais e a trilhar um caminho próprio – fértil. Em 1959, o crítico e o escritor Ferreira Gullar (1930-) aborda o tema Neocroncretismo no artigo Teoria do não-objeto, no qual identifica novas formas de manifestações artísticas, além da pintura e da escultura. É o caso de artistas como Lygia Clark, Hélio Oiticica e Mira Schendel, Amilcar de Castro, Tomie Ohtake, Franz Weismann, Arcângelo Ianelli e Franz Krajberg, que expandiram o objeto artístico especialmente pela apropriação de coisas e de imagens extraídas do cotidiano, resultando em obras complexas e, muitas vezes, radicais, voltadas ao plano intelectual do espectador em uma relação mais próxima com o público. 26 27 Fig. 23 – Sala Especial de Lygia Clark na Bienal de Veneza de 1968 Fonte: Acervo do Conteudista Abstração Pós-Pictórica O termo Abstração Pós-pictórica foi criado em 1964, por Clement Greenberg para uma exposição da qual ele foi o curador, realizada no Los Angeles County Museum of Art. O termo incorporava estilos individuais como pintura de man- cha, pintura sistêmica, pintura minimalista, entre outros. Todos esses diferentes tipos de pintura abstrata americana derivaram do Expressionismo Abstrato (final da década de 1950 e início dos anos 1960). Os novos artistas abstratos evitavam o emocionalismo escancarado expressionis- ta abstrato e rejeitavam as pinceladas expressivas e as superfícies táteis da Action Painting em favor de esti- los menos exacerbados e mais anônimos. O grupo, formado por Kenneth No- land (1924-2010), Frank Stella (1936-) e Ad Rei- nhardt (1913-1967), entre outros, tendia a enfatizar a pintura como objeto e não como ilusão. Fig. 24 – O alcance de Sarah (1964), de Kenneth Noland, tinta acrílica sobre tela (2,38 m x 2,33 m) Fonte: NOLAND, Kenneth 27 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Fig. 25 – Nunca passa nada (1964), de Frank Stella, óleo sobre tela (2,70 m x 5,40 m) Fonte: STELLA, Frank As telas com listras negras de Stella foram expostas no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), em 1959. Ao apresentar objetos pintados e não experiências existenciais, descartando as qualidades pictóricas do Existencialismo Abstrato, o artista não foi considerado por alguns críticos. Entretanto, para os artistas e outros críticos, Stella oferecia uma saída para o impasse do existencialismo. Para Greenberg, o defensor mais entusiasta do novo estilo de abstração, a história da arte moderna, partindo do Cubismo, passando pelo Expressionismo Abstrato e chegando à Abstração Pós-pictórica, era a história de uma redução purista. Ele acreditava que cada forma de arte deveria se restringir àquelas qualidades que lhe fossem essenciais, ou seja, a pintura deveria limitar-se a experiências ópticas ou visuais, evitando associações com a escultura, a arquitetura, o teatro, a música ou a literatura. Obras da Abstração Pós-pictórica, que exploravam as qualidades puramente ópticas do pigmento, enfatizando o formato da tela e a bidimensionalidade do plano pictórico representavam para o crítico a forma de arte superior dos anos 1960. A influência de Greenberg foi fundamental para o domínio da Abstração Pós- pictórica nas exposições nos Estados Unidos nos anos 1960 e 1970. Entretanto, ainda na década de 1970, houve um recuo do movimento com a ascensão de várias correntes do Pós-modernismo. 28 29 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Museu de Arte Moderna de Nova York – MoMA Um dos mais famosos e importantes museus de arte moderna e arte contemporânea do mundo. http://www.moma.org/ Enciclopédia Itaú Cultural Obra de referência virtual que reúne informações sobre artes visuais, arte e tecnologia, literatura, teatro, cinema, dança e música produzidos no Brasil. http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ 30 Filmes para entender a História da Arte https://goo.gl/6MeyZP Livros Ducahmp – Uma biografia TOMKINS, C. São Paulo: Cosac & Naify, 2004. A biografia relata os amores, as ami- zades e as oscilações do prestígio de Marcel Duchamp, artista que muitos consideram o mais instigante – e enigmático – do século XX. Seu modo de encarar as coisas o man- teve a uma certa distância dos diversos “ismos”, que caracterizaram a arte moderna, embora seja considerado precursor do Dadaísmo, Surrealismo e da Arte Conceitual. Dalí – A Obra Pintada DESCHARNES, R. e NÉRET, G. Colônia/Alemanha: Taschen, 2013. A publicação apresenta toda a obra pintada de Salvador Dalí. Depois de muitos anos de pesquisa, Robert Descharnes e Gilles Néret localizaram todas as pinturas do artista extremamente prolífico. Muitas obras estiveram inacessíveis durante anos, tanto que quase metade das ilustrações do livro raramente foi vista. Filmes Pollock Direção: Ed Harris, 2001, cor, 2h03min, Estados Unidos. Conhecido no mundo da arte de Nova York, Pollock passa a ser conhecido nacionalmente como a primeira celebrida- de americana no mundo das artes visuais. Seu estilo corajoso e radical de pintura ditava os rumos da arte moderna. Mas, lutando contra si mesmo, Pollock entra em uma espiral decadente, destruindo seu casamento, a promissora carreira e sua própria vida. Vincent & Theo – Vida e Obra de um Gênio Direção: Robert Altmann, 1990, cor, 2h18min, Reino Unido. O filme aborda a trágica história familiar de Vincent Van Gogh, concentrando-se em seu irmão Theodore, que o ajudou e apoiou. O filme também mostra as belas vistas dos locais que Van Gogh pintou. 29 UNIDADE Caminhos para a Arte Contemporânea Visite Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP) Primeiro museu moderno do país, o MASP foi criado em 1947, pelo empresário brasileiro Assis Chateaubriand. A coleção do museu reúne mais de 8 mil obras, incluindo pinturas, esculturas, objetos, fotografias e vestuário de diversos períodos, abrangendo a produção europeia, africana, asiática e das Américas. Avenida Paulista, nº 1578, Bela Vista, São Paulo/SP, telefone: 11 3149 5959. Entrada gratuita às terças-feiras, das 10h às 18h. www.masp.art.br Museu de Arte do Rio de Janeiro Eu, você e o MAM é o novo educativo do museu sob a direção do artista plástico Luiz Pizarro, tem como objetivo a dinamização da cultura do seu espaço e do cotidiano como instrumento de potencialização para a integração e transformação participativa de sujeitos no seu tempo. Av. Infante Dom Henrique, nº 85, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro/RJ, telefone: 21.3883.5600. www.mamrio.org.br. Fundação Iberê Camargo Espaço dedicado à obra do pintor gaúcho Iberê Camargo (1914-1994). Realiza, também, mostras de artistas modernos e contemporâneos. A Fundação possui um Programa Educativo que tem como intuito promover o estudo e a divulgação da obra e do pensamento de Iberê Camargo, bem como dos artistas participantes das exposições temporárias, por meio de atividades interdisciplinares que incentivam a produção de conhecimento e a reflexão. Av. Padre Cacique, nº 2000, Porto Alegre/RS, telefone: 51.3247.8000. www.iberecamargo.org.br 30 31 Referências ARCHER, M. Arte contemporânea – Uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. AVELAR, A. C de. Do moderno ao informal: contribuições para uma história da arte expressiva brasileira. VIS – Revista do Programa de Pós-Graduação em Arte da Universidade de Brasília. V.13, nº 1, jan/jun 2014, Brasília. Disponível em: http://periodicos.unb.br/index.php/revistavis/article/view/15215 BELL, J. Uma nova história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2007. CANTON, K. Do moderno ao contemporâneo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. CAUQUELIN, A. Arte contemporânea – Uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005. DEMPSEY, A. Estilos, escolas e movimentos – Guia enciclopédico da arte moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. FARIAS, A. Arte brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002. FARTHING, S (org.). 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