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Intervenção do Estado na Propriedade

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AULA 1
Bom dia, Amanda!
Hoje, a postura genérica é a de que o Estado tem o domínio eminente sobre todos os bens situados em seu território, sejam eles públicos (o domínio aqui também será direto) ou privados. A CF reconhece expressamente a existência da propriedade particular (CF, 5°, XXII).
Logo após essa regra, vem a CF, 5°, XXIII, que estabelece que a propriedade deve cumprir sua função social e prevê a possibilidade da intervenção do Estado na propriedade para garantir que essa função social seja respeitada. Sobre os bens públicos, o Estado possui aquele controle já visto (ora como gestor, ora como proprietário).
Sobre os bens privados, o Estado pode intervir para garantir o cumprimento da função social da propriedade (exigido pelo CF, 5°, XXIII).
As mais importantes formas de intervenções do Estado na propriedade serão as limitações administrativas, ocupações temporárias, servidões administrativas, tombamento e requisição. Depois delas, chegamos à mais importante e drástica forma de intervenção na propriedade, que é a desapropriação.
Cada uma das cinco formas iniciais de intervenção do Estado na propriedade deverá passar pela análise de cinco indagações básicas: 1) quem é o sujeito ativo (quem vai intervir); 2) quem é o sujeito passivo (quem sofrerá a intervenção); 3) qual o objeto da intervenção; 4) se haverá ou não indenização; e 5) a forma com que ela é feita. Na desapropriação, que é mais importante, veremos mais coisas, portanto, não nos prenderemos só a essas cinco indagações.
Limitações administrativas – Introdução
A intervenção do Estado na propriedade (como um todo) ora atinge o caráter absoluto da propriedade (faculdades de usar, fruir e dispor), ora atinge a utilização exclusiva dela (só a faculdade de uso). As limitações administrativas atingem o caráter absoluto da propriedade, e são consideradas intervenções brandas do Estado na propriedade, pois não retiram do particular a propriedade daquele bem, apenas impõem algum gravame sobre ele, com base no interesse social, para atender a alguma finalidade pública.
Então, a limitação administrativa é uma intervenção branda do Estado na propriedade (não retira a propriedade do particular), que atinge o seu caráter absoluto. Ela limita o uso, o gozo e a disposição.
Sujeito ativo e passivo
Entenda a diferença entre sujeito ativo e passivo nas limitações administrativas:
ATIVO: serão todos os entes da federação, com nítido predomínio dos Municípios, já que esse assunto é eminentemente de direito urbanístico, e a CF diz que a política urbana cabe aos Municípios. Isso aparece na Lei Orgânica, no Plano Diretor e no Código de Obras. A mais famosa limitação administrativa é a fixação de gabaritos.
PASSIVO: é um grupo genérico, abstrato. As limitações geralmente atingem um grupo indeterminado de pessoas. Na fixação de gabarito de um certo bairro, não se atinge especificamente uma pessoa ou um grupo. Geralmente, é lei que cria a limitação administrativa. É a lei que prevê, mas é o decreto que especifica as incidências daquela limitação.
Limitações administrativas – Objeto
Geralmente, a limitação administrativa atinge bens imóveis (restrição ao direito de construir pela fixação de gabaritos), mas também pode atingir atividades. Exemplo: um determinado prefeito tentou limitar a venda de produtos de supermercado em farmácias. Essa seria uma limitação de atividade. Farmácia deveria vender só remédios. O Código de Posturas traz várias limitações administrativas, tanto para imóveis como para atividades.
Gasparini divide as limitações administrativas em três classes:
Limitações positivas - O Poder Público impõe ao particular uma obrigação de fazer. Exemplo: o particular tem a obrigação de manter a calçada em frente à testada do seu imóvel em ordem.
Limitações negativas - Impõe-se uma obrigação de não fazer. Exemplos: fixação de gabaritos, que obriga o particular a não construir acima de certo número de andares; obrigação de não desmatar o terreno além do permitido.
Limitações a permitir - Atingem mais as atividades do que as construções, e ocorrem com mais frequência através das vistorias. Exemplo: fiscal de salubridade das atividades, fiscal de posturas. Eles têm poder de polícia sobre aquilo que fiscalizam.
Essa divisão de Gasparini vai contra aquela posição clássica (Diogo e Celso), segundo a qual o poder de polícia só atua negativamente, impondo obrigações negativas, de não fazer. Essa corrente chega a dizer que as obrigações positivas seriam impostas não pelo poder de polícia, mas pela função social da propriedade, que seria algo separado do poder de polícia. A função social imporia obrigações positivas, enquanto o poder de polícia imporia obrigações negativas. Há autores que não concordam, dizendo que a função social da propriedade é espécie do poder de polícia, portanto, pode impor obrigações positivas ou negativas, não se descaracterizando por isso.
Limitação administrativa é exemplo típico do exercício do poder de polícia. É limitação do direito individual em prol do coletivo. E há a previsão de obrigações positivas, de fazer, também impostas pelo poder de polícia. O CTN, 78, que conceitua o poder de polícia, já traz a previsão dessa atuação positiva.
Limitações administrativas – Quanto à indenização
A limitação administrativa só a prevê se houver dano. Essa é a regra para todas as cinco formas de intervenção branda do Estado na propriedade (na desapropriação é diferente). Deve-se comprovar o dano para que haja direito à indenização. Se não houver dano, não se indeniza.
Aqui, nem poderá haver prejuízo individual em razão da limitação em si, já que ela será fixada por lei, e o Estado não tem responsabilidade por seus atos legislativos. Posteriormente, poderá haver a responsabilização do Estado por ato legítimo e lícito (realizado com base naquela lei). A regra é não haver dano, mas, caso haja, a responsabilidade do Estado por ato lícito permite a indenização, mesmo que o ato que causou o prejuízo seja lícito.
Limitações administrativas – Forma
A forma pela qual surge no mundo jurídico uma limitação administrativa, como vimos, é a lei. Para saber sobre a natureza jurídica das limitações administrativas:
Para ser coerente com o que foi dito, devemos encarar as limitações administrativas como espécies de manifestação do poder de polícia em sentido amplo, já que incidem especificamente sobre a propriedade ou atividades que possam ser desenvolvidas nelas (ou com elas). 
Celso Antônio Bandeira de Mello define Polícia Administrativa como “a atividade da Administração Pública, expressa em atos normativos ou concretos, de condicionar, com fundamento em sua supremacia geral e na forma da lei, a liberdade e a propriedade dos indivíduos, mediante ação, ora fiscalizadora, ora preventiva, ora repressiva, impondo coercitivamente aos particulares um dever de abstenção (non facere) a fim de conformar-lhes os comportamentos aos interesses sociais consagrados no sistema normativo”. 
Se restringimos o alcance desse enunciado ao âmbito do direito de propriedade, poderemos enxergar a definição de limitação administrativa. Aliás, é o que o mesmo autor faz, linhas à frente, quando se refere às limitações administrativas como forma de expressão do Poder de Polícia. 
No mesmo sentido parece se expressar Lúcia Valle Figueiredo, para quem “a noção de ‘poder de polícia’ sempre foi ligada à ideia de limitações ou restrições à liberdade e à propriedade”. 3 
Diferentemente, entretanto, José dos Santos Carvalho Filho entende que a natureza jurídica das limitações administrativas é a de leis ou atos administrativos de caráter geral que dão o contorno do próprio direito de propriedade. E coloca o ilustre prof. da Universidade Estácio de Sá, o Poder de Polícia como fundamento dessa forma de intervenção do Estado na propriedade4 . Com isso, o que parece pretender destacar o autor citado é o tipo de ato que veicula as limitações
Distinção entre limitação administrativa e direito de vizinhança
Como tivemos a oportunidade de verificar anteriormente, as limitações administrativastêm como fundamento o interesse público e/ou coletivo, que se sobrepõem aos interesses meramente individuais. À vista de um conflito entre esses interesses de diferentes graus de relevância, haverão de prevalecer os interesses público e social.
No âmbito da propriedade, tal conflito resultará numa das formas de ingerência do Estado no domínio privado, seja restringindo ou suprimindo parte do patrimônio particular.
Tais considerações podem ser decisivas numa demanda em que um determinado Município tenha instituído pretensa limitação administrativa para defender não um interesse público ou social, mas um interesse privado, configurando verdadeira norma de vizinhança.
Obviamente que, ocorrendo essa hipótese, tal norma será inconstitucional, posto que cabe exclusivamente à União legislar sobre direito civil, ex vi do disposto no art. 22, I, da CRFB/88. E, consequentemente, não prevalecerá a limitação imposta.
Nesse sentido é que o prof. Diógenes Gasparini diz não poder “prevalecer a limitação que impede a construção de motel ou drive-in, com a finalidade de prestigiar a política da igreja”. Essa é, então, a mais importante consequência prática que se pode verificar a partir da distinção do que seja limitação administrativa e direito de vizinhança.
Servidão administrativa – Considerações
É uma intervenção branda sobre a propriedade do particular, pois só atinge o uso exclusivo da propriedade. Ela força o proprietário a dividir o uso do bem com o Poder Público. A grande maioria das intervenções na propriedade é branda.
Todos os entes da federação podem instituir servidão administrativa, especialmente porque a lei que regula a desapropriação nos fala da possibilidade da servidão (DL 3365, art. 40). O “expropriante” pode ser qualquer ente da federação, conforme diz o art. 2°. Em regra, a servidão recai sobre bem imóvel (a servidão seria um direito real).
Exemplo: servidão administrativa instituída para o transporte gratuito de militares e carteiros uniformizados em ônibus de empresas particulares. Essa seria uma espécie de servidão, onde o serviço militar ou postal seria a coisa dominante, e o serviço de transporte coletivo seria a coisa serviente. Seria um exemplo de servidão administrativa não limitada a bens imóveis. Mas a ideia predominante é que a servidão só recai sobre imóveis, tendo até caráter de direito real.
Vale observar que o passe livre de idosos e estudantes não pode ser servidão, pois eles não são servidores. Isso é mera liberalidade da legislação.
Servidão Administrativa – Natureza jurídica e indenização
Natureza jurídica: no Direito Civil, a servidão tem sempre natureza de direito real. No Direito Administrativo, entretanto, alguns acreditam que a servidão poderia ser direito pessoal em certos casos (como esse do transporte), sempre em favor da Administração.
Indenização: quanto à possibilidade de indenização na servidão administrativa, em regra, o mesmo art. 40 do DL 3365 fala que o expropriante pode instituir servidões mediante indenização. A servidão administrativa (como quase todas as formas de intervenção do Estado) só dará ensejo à indenização se ela causar algum dano ou prejuízo ao proprietário.
Exemplo: passagem de fio de alta tensão por terrenos particulares. Se aquilo não afeta a atividade econômica do dono do terreno, não há porque haver indenização. Se afeta, se ele tiver de interromper a exploração econômica daquela área, isso será um prejuízo, que deverá ser indenizado pelo Poder Público.
Forma A servidão administrativa é instituída de forma bem semelhante à desapropriação. Ela também deve ser objeto de um decreto, declarando a utilidade pública de um bem para fins de servidão. O próprio decreto diz se haverá prejuízo ou não ao proprietário, e se será paga ou não indenização. O particular pode concordar ou não com isso. Se concordar, faz-se um acordo e pronto. Se ele não concordar em exigir indenização (maior), fazendo surgir o impasse, parte-se para as vias judiciais. A servidão não será autoexecutória, pois a Administração não poderá impô-la. Havendo dúvida sobre se há ou não indenização, ou sobre o valor da eventual indenização, o particular não celebra o acordo administrativo, e a Administração terá que ir a juízo para sacramentar a servidão. Em juízo, até por meio de perito, discute-se sobre o valor da indenização a ser paga. 
Para a servidão administrativa, portanto, deve também haver decreto declarando a utilidade pública do bem e, se não houver acordo sobre o cabimento ou o montante de indenização, a servidão só pode ser imposta ao particular por sentença judicial. A feitura da servidão segue o mesmo caminho da desapropriação. A Administração indireta não pode declarar a servidão, mas pode efetivá-la. Há raros casos em que a servidão decorre de lei, como a que institui o tombamento. Um dos efeitos do tombamento é a criação de uma servidão administrativa. O DL 25/37, que trata de tombamento, diz em seu art. 18 que, com o tombamento, surgem servidões do bem tombado (que será o dominante) sobre os vizinhos (que serão os servientes), que ficarão limitados em sua possibilidade de fazer obras que impeçam a visibilidade do imóvel. 
Havia outro exemplo de servidão administrativa criado por lei, no DL 9760/46, art. 4°, que atinge os terrenos marginais de rios. Até 15 metros da margem, havia servidão administrativa, não para que qualquer do povo entrasse lá, mas para que a polícia hídrica (polícia administrativa de águas públicas) possa agir 2 mais eficazmente. Com a nova CF, os terrenos marginais transformam-se bens da União (o que mata nosso exemplo), mas antes eles eram servidões administrativas. 
Servidão administrativa é, então, uma intervenção branda do Estado na propriedade, que atinge o uso exclusivo dela, instituída da mesma forma que a desapropriação (decreto declarando a utilidade pública, seguido de acordo ou de sentença judicial, dispondo sobre a existência e o montante da indenização, que deve ser levado(a) ao Registro de Imóveis), por qualquer dos entes da federação.
Em concursos, uma famosa “casca de banana” é o questionamento sobre a diferença entre servidão administrativa e limitação administrativa.
Há um exemplo de servidão administrativa criada por lei que é confundida com limitação administrativa, que é a fixação de gabaritos em torno de um aeroporto. Gabarito lembra limitação administrativa, mas, sendo em torno de aeroporto, isso será uma servidão, onde a coisa dominante será o serviço público de navegação aérea, e a coisa serviente será os imóveis vizinhos ao aeroporto.
Essa servidão é instituída por lei. Ela não será limitação administrativa. Os gabaritos geralmente são fixados em limitação, mas, nesse caso, existe servidão, pois há uma coisa dominante e outras servientes.
Questão da magistratura
Há quatro diferenças entre servidão administrativa e limitação administrativa que podem ser apresentadas:
1 – Quanto ao caráter de intervenção na propriedade
A servidão atinge o caráter e o uso exclusivo da propriedade; a limitação é mais ampla, atingindo o caráter absoluto da propriedade, abrangendo todas as faculdades da propriedade (uso, gozo e disposição).
2 – Quanto ao sujeito passivo
A servidão atinge um sujeito determinado (o dono do imóvel serviente), enquanto a limitação tem sujeito passivo indeterminado (atinge toda uma rua ou um bairro igualmente), ou seja, é limitação genérica.
3 – Quanto à forma de criação
Em razão do fato de não ter sujeito passivo determinado, a limitação é instituída em regra por lei, que tem efeito genérico e abstrato. Já a servidão, tendo sujeito passivo determinado (o dono do imóvel serviente), é feita por decreto. Há exceções a isso, pois há servidões instituídas por lei, e limitações fixadas em decreto, obviamente respeitando lei autorizativa.
4 – Quanto ao fim de cada uma delas
A limitação administrativa defende interesses públicos genéricos, abstratos (melhoria da qualidade de vida, diminuição da poluição). Já a servidão tem um fim específico, voltada para uma atividade concreta (passagem de fio de alta tensão ou gasoduto,fixação de placa com nome de rua em casas de esquina).
Indenização 
No primeiro contato que se tem com o tema “intervenção do Estado na propriedade”, via de regra posterior às tradicionalistas lições de direito civil sobre o dominium, a perplexidade toma conta de nossa mente. A noção do absoluto direito de propriedade se esvai e os publicistas nos tentam mostrar por que não é mais bem assim. 
Quando nos contam, então, sobre aquela evolução conceitual e passamos a aceitar isso, que, inicialmente, nos parecia uma violência, a primeira indagação que nos vem é sobre a indenização pelo desfalque no patrimônio das pessoas atingidas. Ora, se uma ou algumas pessoas têm a sua propriedade limitada em favor do interesse público ou social, nada mais justo que tal ônus seja repartido por todos, como uma medida de respeito ao valor de igualdade, núcleo do conceito de justiça, como já anunciado por Gustav Radbruch. Daí se pensar, ipso facto, no direito à indenização. 
E esse tem sido um importante argumento utilizado para fundamentar a tese do direito à indenização nessas hipóteses. Entretanto, na maioria das vezes, só tem encontrado acolhida nos casos de intervenção drástica do Estado na propriedade. 
Via de regra o que se afirma é que, nas modalidades de intervenção branda, que são aquelas em que não há supressão do direito de propriedade, só será o particular indenizado se comprovar efetivo dano causado pela atuação estatal. Essa é a posição predominante na doutrina. 
Com relação às limitações administrativas, especificamente, José dos Santos Carvalho Filho nos ensina que a inexistência do direito de indenização decorre do fato de a lei, que é seu veículo, por ser genérica e abstrata, não atingir uma propriedade determinada. Vejamos suas palavras: 
“As normas genéricas, obviamente, não visam a uma determinada restrição nesta ou naquela propriedade. Abrangem quantidade indeterminada de propriedades. Desse modo, podem contrariar interesses dos proprietários, mas nunca direitos subjetivos. Por outro lado, não há prejuízos individualizados, mas sacrifícios gerais a que se devem obrigar os membros da coletividade em favor desta”. 
 Veja-se que, com isso, utiliza-se, ainda que implicitamente, o princípio da igualdade para fundamentar a tese contrária àquela utilizada anteriormente, que se vale, curiosamente, do mesmo valor jurídico-constitucional. 
O que se tem admitido, por outro lado, é a possibilidade de uma intervenção drástica na propriedade se disfarçar de limitação administrativa para não gerar o dever do Poder Público de indenizar os atingidos pela norma. Isso ocorre quando a pretensa limitação retira do bem toda ou quase toda a possibilidade de utilização, anulando ou diminuindo significativamente o seu valor econômico. 
Na prática, essa hipótese tem ocorrido com muita frequência e os tribunais, nesses casos, têm abraçado a tese do dever de indenizar. Vejamos, a esse respeito, a seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro: 
“Desapropriação indireta. Área florestal abrangida por parque estadual de reserva ecológica. Vigilância permanente do Poder Público, privando o uso, gozo e livre disposição do bem. Indenização devida”. 
As limitações administrativas, como regra, não dão direito à indenização por serem de caráter geral, impostas com fundamento no poder de polícia do Estado, gerando para os proprietários obrigações positivas ou negativas, com o fim de condicionar o exercício do direito de propriedade ao bem estar social. Mas, se a pretexto de limitação administrativa ou tombamento, a Administração impõe à propriedade particular restrição que afeta integralmente o direito de uso, gozo e livre disposição do bem, tratar-se-á de desapropriação, à qual deve corresponder a devida indenização, sob pena de configurar-se o confisco. Assim, provado que a área de terras pertencentes aos embargantes está incluída no Parque Estadual do Desengano e que, em razão disso, perderam o uso, gozo e livre disposição da mesma, impõe-se o dever de indenizar. Provimento dos embargos”. 
O Supremo Tribunal Federal abraça esse entendimento, mas adverte para o fato de que, se a limitação administrativa é imposta anteriormente à data de aquisição do imóvel atingido pelo comando legal, não assistirá ao proprietário adquirente o direito de cobrar indenização do Estado, ainda que seja notado aquele esvaziamento do conteúdo econômico do bem. Vejamos a ementa do seguinte Acórdão, que julgou o Recurso Extraordinário nº 140.436-SP: 
“Constitucional. Administrativo. Civil. Limitação administrativa. Indenização. 
I - Se a restrição ao direito de construir advinda da limitação administrativa causa aniquilamento da propriedade privada, resulta, em favor do proprietário, o direito à indenização. Todavia, o direito de edificar é relativo, dado que condicionado à função social da propriedade. Se as restrições decorrentes da limitação administrativa preexistiam à aquisição do terreno, assim já do conhecimento dos adquirentes, não podem estes, com base em tais restrições, pedir indenização ao poder público. II - R. E. não conhecido”. 
 Portanto, não nos parece suficiente afirmar, simplesmente, que as limitações administrativas não rendem direito à indenização. Não que isso esteja incorreto, mas ignora o fato de outras modalidades interventivas vestirem a roupa de limitação para liberar-se o ente político instituidor do dever de pagar a devida indenização pela desapropriação indireta.
Atividade proposta
Leia o CASO CONCRETO a seguir e responda à questão formulada:
João é proprietário de um hotel em Nova Friburgo e pretende ampliá-lo com a construção de mais três andares sobre os quatro já existentes. No entanto, foi surpreendido pela denegação do poder público municipal de seu pedido de ampliação do prédio, sob a alegação de que o espaço aéreo de seu imóvel será utilizado para a instalação de um teleférico, o qual passará a integrar o sistema de transporte coletivo urbano – consoante lei municipal – de modo a viabilizar a locomoção da população de baixa renda de um bairro de difícil acesso ao centro da cidade. Procurado por João, na condição de seu advogado, diga a espécie de intervenção que restou caracterizada e se o proprietário do hotel terá direito ao recebimento de indenização em razão da instalação do teleférico.
Chave de resposta: Creio na caracterização de servidão administrativa, porque o espaço aéreo é parte do imóvel, e a finalidade da intervenção restritiva em apreço será a de viabilizar a prestação de serviço público (transporte coletivo previsto em lei municipal). O fato de existir a possibilidade de a propriedade continuar a ser utilizada, afasta, em meu sentir, a necessidade da desapropriação com fundamento no art. 2º, § 1º, do Decreto-Lei nº 3365/41, porque o prejuízo patrimonial a que se refere o dispositivo não deve ser interpretado literalmente. Todavia, a argumentação por parte do aluno no sentido da necessidade da desapropriação (em vez de servidão), com fundamento no referido dispositivo, poderá ser aceita, porque não se apresenta fora dos limites do razoável.
Quanto ao direito à indenização, a resposta é positiva diante da configuração de servidão administrativa (ou mesmo para aquele acredita na necessidade de desapropriação). Não restam dúvidas de que o proprietário ficou prejudicado, do ponto de vista econômico e patrimonial, pela restrição provocada pelo novo transporte coletivo municipal.
Questões:
1 - O imóvel de José foi objeto de um ato administrativo, segundo o qual, sobre o referido imóvel, foi constituída uma servidão administrativa para a afixação, bem ao centro, de um equipamento eletrônico de telefonia. O citado ato administrativo, fundado em argumentos técnicos, restringia a utilização do seu imóvel, de maneira que José passou a não mais poder utilizá-lo para qualquer fim. Diante da situação hipotética de José, assinale a alternativa correta:
José terá direito à indenização em razão da servidão administrativa configurada.
José terá direito à indenização em razão da ocupação temporária, que, arigor, configurou-se no caso.
José terá direito à indenização, em razão da caracterização de desapropriação indireta.
A instituição da servidão administrativa acarreta ao particular uma restrição de uso e gozo de sua propriedade de forma plena, pois este deverá dividir seu bem com o Poder Público para o beneficiamento da coletividade. Mas tal restrição não pode acontecer, pois limita todo o direito do particular, de forma que ele só permaneça com a titularidade do bem, mas sem dele poder dispor de nenhuma forma. Neste caso, portanto, terá o Estado praticado verdadeira desapropriação da propriedade sem ter se valido do devido procedimento para tanto, sem decreto expropriatório e sem a consequente indenização ao particular (desapropriação indireta), o que é rechaçado pelo ordenamento, verdadeiro esbulho possessório, ato ilegal da Administração Pública.
José não terá direito à indenização por falta de previsão legal para as situações da espécie.
José não terá direito à indenização em virtude da preponderância do princípio da supremacia do interesse público.
2 - Um imóvel de 500 m², onde funcionava um posto de gasolina, foi desapropriado para alargamento de uma estrada, restando ao proprietário uma área de 50 m², beirando o acostamento da rodovia. O proprietário:
Poderá pleitear a inclusão da área de 50 m² no preço da indenização, remanescendo com a propriedade dela.
Não terá êxito em eventual demanda judicial proposta, vez que, não havendo fundamento legal para questionar judicialmente os motivos da desapropriação, não há como pretender discutir a dimensão da área desapropriada.
Deverá ajuizar ação de desapropriação indireta, buscando indenização pela área remanescente de 50 m², que restou inutilizável.
Poderá contestar a ação de desapropriação, questionando o cabimento da medida.
Poderá invocar, em contestação, direito de extensão, pretendendo a inclusão dos 50 m² remanescentes na área expropriada, porque a área restou economicamente inaproveitável.
A corrente dominante no STJ e no STF tem afirmado estar substituído tal direito pela disposição do art. 37 do Decreto-lei n0 3.365/41, que é a seguinte:
“Art. 37 – Aquele, cujo bem for prejudicado extraordinariamente em sua destinação econômica pela desapropriação de áreas contíguas, terá direito a reclamar perdas e danos do expropriante”.
3 - O Estado do Acre ocupa, há mais de 15 anos, uma propriedade rural denominada Reserva Boi-Bumbá. Essa área não foi desapropriada, estando registrada em nome de particulares, muito embora haja uma lei estadual transformando a referida propriedade em área de proteção ambiental.
Considerando a situação hipotética acima, assinale a opção correta acerca da intervenção estatal na propriedade e dos precedentes dos tribunais superiores.
A hipótese trata de desapropriação indireta. Caso o pedido indenizatório do proprietário seja julgado procedente, o estado do Acre deve ser condenado a pagar juros compensatórios contados desde a efetiva ocupação do imóvel, à taxa de 6 % ao ano.
A desapropriação indireta pode ser obstada, oportunamente, por meio de ação possessória, reivindicando o proprietário a reintegração da posse do bem. Esse momento oportuno é de suma importância para a manifestação do proprietário do imóvel pretendido pelo Poder Público, se expirando a partir do momento em que a Administração confere um fim público ao bem expropriado.
A partir desse momento, esse bem não será mais suscetível de retornar à esfera de domínio do particular, partindo-se da premissa de que os bens expropriados, uma vez incorporados no patrimônio público, não mais serão objeto de reivindicação pelo particular, conforme expõe o art. 35 do Decreto-lei nº 3.365/41.
A responsabilidade pelo pagamento do IPTU incidente sobre um imóvel urbano que esteja localizado no interior da propriedade é do proprietário, independentemente da ocupação pelo Estado.
A ação de desapropriação indireta tem prazo prescricional de cinco anos, na forma da lei.
A criação, por lei estadual, da referida área de proteção ambiental importa apenas em limitação administrativa, pela qual não há indenização, mesmo que haja prejuízo econômico em face da referida lei.
Por se tratar de assunto de interesse regional, prevalece à lei do Estado do Acre.
4 - A Constituição Federal prevê, como instrumento da reforma urbana, em relação ao proprietário do solo urbano e não edificado subutilizado ou não utilizado, a faculdade de o Município, mediante lei específica para a área incluída no plano diretor, nos termos de lei federal, exigir o seu adequado aproveitamento, sob pena de:
Imediata desapropriação, com prévia e justa indenização em dinheiro.
Alternadamente, parcelamento ou edificação compulsória; IPTU progressivo em função da área do imóvel; desapropriação com pagamento mediante títulos de dívida pública especiais, de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até 10 (dez) anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas.
Sucessivamente, IPTU progressivo no tempo; parcelamento ou edificação compulsórios; desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública especiais, de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até 5 (cinco) anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas.
Sucessivamente, parcelamento ou edificações compulsórios; IPTU progressivo no tempo; desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública especiais, de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até 10 (dez) anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas.
O fundamento ocorrerá por força do poder de polícia, posto que se trata de uma desapropriação punitiva.
O valor real da indenização a que se refere o inciso III do parágrafo 4º do art. 182 reflete o único caso na legislação brasileira em que a indenização não precisa ser justa. O texto desse artigo não faz menção à expressão de justa indenização em nenhum momento. Essa justificativa se dá pelo fato de que, sendo esta modalidade de desapropriação punitiva, caso o Poder Público pagasse o valor justo, descaracterizaria a punição, ocorrendo uma desapropriação normal, não punitiva, prevista no parágrafo anterior, parágrafo 3º do art. 182. Nessa hipótese, e somente nessa, o valor real de indenização não será o valor justo. Simplesmente será preservado o valor econômico das parcelas estabelecidas para pagamento pelo Poder Publico, incidindo tão somente a correção monetária e os juros sobre esse valor.
Imediata desapropriação, com prévia indenização em moeda corrente.
5 - A fim de permitir o escoamento da produção até uma refinaria, uma empresa pública federal, que explora a prospecção de petróleo em um campo terrestre, inicia a construção de um oleoduto. O único caminho possível para essa construção atravessa a propriedade rural de Josenildo, que, em razão do oleoduto, teve que diminuir o espaço de plantio de mamão e, com isso, viu sua renda mensal cair pela metade.
Assinale a afirmativa que indica a instrução correta que um advogado deve passar a Josenildo.
Não há óbice à constituição da servidão administrativa no caso, mas cabe indenização pelos danos decorrentes dessa forma de intervenção na propriedade.
É possível a constituição da servidão, cabendo indenização em razão dos danos decorrentes dessa forma de intervenção na propriedade.
A servidão administrativa é ilegal, e Josenildo pode desconstituí-la, pois o instituto só tem aplicação em relação aos bens públicos.
A servidão administrativa é ilegal, pois o nosso ordenamento veda a intervenção do Estado sobre propriedades produtivas.
Não há óbice à constituição da servidão administrativa e não há de se falar em qualquer indenização.
A servidão é ilegal, por ter aplicação somente em relação aos bens públicos.

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