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OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS

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OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS 
Se a obrigação tem apenas um credor e um devedor a prestação é simples. Essa situação interessa 
quando há mais de um credor e mais de um devedor, ou seja: a) vários credores e um devedor; b) 
vários devedores e um credor; c) vários credores e vários devedores, chama-se composta. E, pode 
ser divisível ou indivisível conforme o objeto O Código Civil vigente não conceituou propriamente 
a obrigação divisível. Para tanto, deve-se ter em mente a noção de bem divisível e indivisível (arts.87 
e 88). 
O divisível é o que pode ser fracionado em partes homogêneas e distintas, sem alteração das 
qualidades essenciais do todo e sem desvalorização (DINIZ, 2011, p. 170). Ex.: a divisão de uma 
saca de café. (art. 87 c.c art. 257) 
A obrigação indivisível é aquela que pela própria natureza, for insuscetível de divisão (um animal) 
ou por motivo de ordem econômica ( um diamante fracionado tem valor inferior ao diamante inteiro) 
ou por determinação legal (herança, servidões, hipoteca) e ainda, por vontade das partes expressa 
em testamento ou contrato ) ( Ob., Cit., p. 48). A obrigação indivisível tem seu conceito no art. 258 
do CC/02. Será indivisível por natureza, quando não puder ser partido sem alteração em sua 
substância ou em seu valor. Ex.: um cavalo, um carro, um livro, uma casa(p. 170). 
Pode haver indivisibilidade da coisa por natureza ( ex.: um animal), por motivo de ordem econômica 
(ex.: uma pedra preciosa), ou dada a razão determinante do ato negocial ( ex.: reforma de prédio por 
vários empreiteiros, em que o dono da obra pode exigi-la por inteiro de qualquer um deles (art. 258). 
Havendo vários devedores: Se a obrigação for divisível, cada devedor responde apenas por sua quota 
parte (art. 257). 
Se a coisa for indivisa, cada um dos devedores se obriga pela coisa toda (art. 259) (p. 48) 
Havendo vários credores: Havendo vários credores, cada um receberá somente a sua parte, contudo 
poderá cada um exigir a dívida inteira, desde que esteja autorizado pelos demais ou ofereça caução 
(art. 260, II) (p. 49) 
A indivisibilidade: 
a) Física ou material (ex.: obrigação de restituir uma casa alugada, no término da locação; obrigação 
de exibir um documento, entregar um cavalo de corrida; 
b). Legal ou jurídica quando a prestação for indivisível em virtude de lei, que por motivos 
econômicos impede sua divisão, embora possa ser naturalmente divisível. Ex.: a obrigação de 
entregar um imóvel agrário, contendo apenas um módulo rural, que não pode ser fracionado por 
força da Lei 4504/64; 
c) Convencional ou contratual, quando a indivisibilidade advém da vontade das partes (arts. 88 e 
314), apesar de ser materialmente divisível. 
d) Judicial quando a indivisibilidade de sua prestação é proclamada pelos Tribunais. Ex.: obrigação 
de indenizar nos acidentes de trabalho. 
EFEITOS DA OBRIGAÇÃO DIVISIVEL E INDIVISVEL 
A obrigação divisível não oferece dificuldades; oferece presunção iuris tantum de que está repartida 
em tantas obrigações iguais e distintas, quantos forem os credores e devedores (art. 257) iuris tantum 
= admite prova em contrário. Trata-se de uma obrigação múltipla ou conjunta, em que o credor terá 
seu direito restrito a uma parte, só podendo exigir do devedor o que for de sua responsabilidade. 
Trata-se da regra concursu partes fiunt, pela qual as partes se satisfazem pela divisão. Diz respeito à 
presunção juris tantum porque as partes podem dispor que os seus respectivos quinhões não sejam 
equivalentes. 
 
OBRIGAÇÕES CIVIS E NATURAIS 
Quanto à exigibilidade, as obrigações dividem-se em civis e naturais. A ciência jurídica chama de 
“obrigação civil”, a obrigação que é exigível e cujo cumprimento pode ser exigido por via judicial. 
Tradicionalmente fala-se em “obrigação natural” para denominar as obrigações cuja exigibilidade 
atinge somente o plano moral e não o jurídico. A obrigação natural, na preleção do prof. Elpidio 
Donizetti, é a oriunda da dívida de jogo ou de aposta, de dívida já prescrita ( vide art. 882). O contrato 
de jogo e de aposta consta do CC/02. Para ser considerada prática “moralmente condenável”, não 
permite o direito que o credor busque a sua satisfação pela via judicial. O art. 814. 
Obrigações de meio, de resultado, de garantia: 
Para o Prof. Elpidio Donizetti, fala-se em obrigações de meio, no caso das obrigações de fazer cujo 
resultado não pode ser garantido pelo devedor, o qual se obriga tão somente a realizar diligentemente 
a atividade a que se obrigou ( DONIZETTI, 2016, p. 317). Exs.: são de meio as obrigações dos 
advogados, tanto ao prestar consultoria quando ao litigar. 
Obrigações de resultado, são as obrigações de fazer em que não basta ao devedor realizar 
diligentemente a atividade a que se obrigou, mas também atingir um determinado resultado. 
Esclarece o autor que, “nos casos de obrigação de fazer em que não se estipula se a obrigação é de 
meio ou de resultado, presume-se ser de “meio”, pelo fato de ser menos onerosa para o devedor e, 
sendo a obrigação de fazer, liberta-se o devedor pela realização da atividade, independentemente do 
resultado. A necessidade de se atingir o resultar deve advir da vontade das partes, ou de alguma fonte 
do direito, como a lei, a doutrina e a jurisprudência ou outra” (p. 318). 
As obrigações de garantia são as que decorrem do contrato ou da lei e visam reduzir ou eliminar os 
riscos que recaiam sobre a coisa, aumentando a segurança do credor, como a do segurador em relação 
a terceiros, a do fiador ou do avalista em relação ao credor, a do transportador cuja tarefa é levar a 
pessoa ou mercadoria incólume do ponto de ingresso até o final da jornada (art. 734) (p. 62) 
Obrigações de execução instantânea, diferida e continuada: 
A classificação refere-se ao momento em que a prestação deve ser cumprida: 
Se for imediatamente – instantânea = se no futuro de uma só vez; diferida = se no futuro, porém em 
prestações periódicas e continuada ou de trato sucessivo. 
A obrigação de execução instantânea é aquela que se cumpre num só ato, sendo adimplida logo após 
a sua criação, como na compra e venda à vista. 
A obrigação de execução diferida é aquela cujo cumprimento deve ocorrer em uma única prestação, 
porém em determinado momento futuro, como por exemplo, a compra de uma geladeira em que a 
entrega da mesma é feita, mas o vendedor aceita que o comprador faça o pagamento no prazo de 30 
dias depois da entrega. 
Obrigação de execução continuada ou de trato sucessivo, o que a caracteriza são os atos que serão 
praticados no tempo e no espaço, tais como: a compra e venda a prazo, a locação de imóveis ou 
mesmo a aquisição de serviços públicos como a agua, a luz. 
Obrigações puras, condicionais a termo, com encargo ou modal: 
Será pura a obrigação que puder ser cumprida sem qualquer condicionante, produzindo efeitos 
imediatamente após o ato de sua elaboração. 
Obrigação condicional é aquela cuja eficácia fica na dependência de um acontecimento futuro e 
incerto, derivado da vontade das partes e expressa em contrato. 
Obrigação a termo a eficácia da obrigação fica na dependência de um acontecimento futuro, porém 
certo, ou pelo menos determinável. Assemelha-se com a condição, mas dela difere. Aqui, o 
acontecimento é certo, mas fica na dependência de uma data que pode ser determinada ( o contrato 
de locação é assinado hoje, mas a locação só começa no próximo mês) ou determinável ( o 
apartamento será da Jojolina quando usufrutuário falecer). 
Obrigação com encargo ou modal é a obrigação cujos efeitos ficam subordinados à realização de 
uma tarefa imposta ao devedor consistente numa obrigação de fazer. É muito usada nas declarações 
unilaterais de vontade (doações, testamentos) e também pode ocorrer nas declarações de vontade e 
muito raramente nos contratos onerosos. 
Obrigação liquida e ilíquida: 
Trata-se da classificação das obrigações a partir de sua liquidação. Isso se faz emjuízo ou por acordo 
entre as partes, assevera o autor. 
Obrigação líquida é a obrigação certa quanto a sua existência e determinada quanto ao seu objeto, 
podendo ser dinheiro (determinada quantia) ou um cavalo. 
Obrigação Ilíquida é a obrigação que, embora certa quanto a sua existência, há indeterminação 
quanto aos exatos contornos de seu objeto, depende de uma prévia apuração. 
Se a dívida for liquida e certa, constitui o devedor em mora em seu vencimento. Se for ilíquida, isto 
é, não houver data ou valor estipulado, somente constituirá o devedor em mora assim que o credor 
apresentar a liquidação por via judicial ou extrajudicial (art. 397) 
Obrigação principal e acessória: 
As obrigações classificam-se em principais e acessórias quando consideradas umas em relação às 
outras: a principal existe por si só; a acessória existe porque decorre da principal. 
Obrigação principal é a obrigação que não depende de outro fato existindo por si mesmas, como na 
obrigação de entregar o veículo no contrato de depósito. 
Obrigação acessória é aquela obrigação cuja existência é subordinada a uma outra relação jurídica, 
dependendo da obrigação principal. 
O princípio que rege bens reciprocamente considerados: “o acessório sempre segue o principal”, o é 
também perfeitamente aplicável às obrigações. 
Consequências I. Anulação da obrigação principal: anulada a obrigação principal também é anulada 
a obrigação acessória, agora, o inverso não é verdadeiro. II. Prescrição da obrigação principal: 
prescrita a obrigação principal, também estará prescrita a obrigação acessória. 
 
OBRIGAÇÃO CUMULATIVA OU CONJUNTIVA, ALTERNATIVA OU DISJUNTIVA. 
A obrigação pode recair sobre: a) sobre uma coisa certa e incerta; b) sobre um comportamento de 
fazer e de não fazer. 
Nesse caso a obrigação é simples, em que o devedor está obrigado a cumprir um único efeito. 
Maria Helena Diniz conceitua a obrigação simples como “aquela que recai somente sobre uma coisa 
certa e incerta, ou sobre um ato de fazer e de não fazer”. Quando envolve mais de uma prestação 
(ex: entregar um cavalo e uma vaca; entregar um cavalo ou uma vaca), dizemos que a obrigação é 
composta. 
Obrigação Cumulativa ou Conjuntiva: 
Para os autores, esta ocorre quando uma relação obrigacional envolve duas (02) ou mais prestações 
(positivas e negativas), todas decorrentes da mesma causa, obrigando-se o devedor a cumpri-las 
totalmente. Ex.: Entregar um carro e dinheiro em troca de um sítio. É, portanto, uma obrigação com 
objeto múltiplo. Trata-se de obrigação composta, ou seja, todas as prestações devem ser cumpridas. 
As prestações têm origem na mesma causa, no mesmo título, nas quais o credor quer receber o 
conjunto das prestações por inteiro e o devedor só estará desobrigado se as cumprir em sua totalidade. 
Christiano Cassetari, em sua Elementos de Direito Civil, São Paulo: Saraiva Editora, p. 137, leciona 
que: Obrigação Cumulativa ou Conjuntiva é a obrigação composta quanto ao objeto. Tais obrigações 
se apresentam unidas pelo conectivo “e”. Ex.: dar-lhe-ei um livro e uma sacola. 
Obrigação Alternativa ou Disjuntiva é obrigação composta quanto ao objeto, e que tem várias 
prestações. Nessa espécie, o devedor se libera entregando apenas uma das prestações. As obrigações 
se encontram unidas pela conjunção alternativa “ou”. Ex.: entregarei uma toalha de renda ou um 
vestido de festa. Trata-se de obrigação composta com multiplicidade de objetos, em que o devedor 
exonera-se pela possibilidade da satisfação de uma única prestação, que foi escolhida para 
pagamento (PANTALEÃO, 2005, p. 96). 
Observação: Não haverá obrigação alternativa se o credor autorizar o devedor a lhe entregar um bem 
em substituição de outro (dação em pagamento). A obrigação alternativa não se confunde com a 
obrigação de dar coisa incerta, embora apresentem em ambas há “o direito de escolha”. 
Na obrigação de dar coisa incerta, o objeto é único, porém indeterminado quanto à qualidade. 
Nas obrigações alternativas, há vários objetos, e a escolha deve recair em apenas um. 
Em qual pessoa deve recair o direito de escolha? Direito de Escolha Pelo art. 252, como regra geral, 
a escolha é do devedor, a não ser que: Seja pactuado de forma diferente, podendo as partes 
estabelecer que a escolha fique a cargo do credor ou mesmo determinar que a escolha ficará a cargo 
de terceira pessoa estranha ao pacto. 
Escolha por terceiros, a escolha poderá ficar a cargo de terceira pessoa, de confiança dos contratantes 
e, em último caso, também poderá ser realizada pelo juiz em duas situações: quando houver 
pluralidade de optantes e entre eles não houver acordo ou quando a escolha couber a terceiro e este 
se recusar a fazê-lo (p. 43) 
Observação: 
Obrigações alternativas decorrentes de lei, geralmente, a maioria das obrigações alternativas decorre 
da vontade das partes. Porém, é possível que tal obrigação surja em virtude de lei, tal como ocorre, 
pela redação do §1º do art. 18 do CDC (lei nº 8.078/90), que “defere ao lesado, no caso de vicio de 
produto não sanado no prazo de 30 dias, a opção de escolha quanto à solução do problema: a troca 
do produto por outro igual, ou o desfazimento do negócio, ou o abatimento do preço” (MELO, 2016, 
p. 45). 
Da impossibilidade das prestações, se uma das prestações se tornar inexequível pelo art. 253, se tal 
ocorrer, independente de culpa ou não do devedor, o credor estará obrigado a receber a prestação 
que sobrou. Ex.: se um dos produtos opcionais a que estava obrigado o devedor, não é mais 
importado pelo representante da empresa no Brasil, logo só a outra prestação se poderá cumprir 
(MELO, 2016, p. 45). 
Quando a escolha couber ao devedor, se por culpa do devedor não for possível cumprir nenhuma 
das prestações, este se obriga a pagar o valor da última impossibilitada mais as perdas e danos; se 
por culpa ou sem culpa do devedor uma das prestações não puder ser cumprida, o débito subsiste 
quanto à outra por culpa ou quanto às outras; se todas se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, 
a obrigação será extinta; 
Quando a escolha couber ao credor, se por culpa do devedor uma das prestações se tornar impossível, 
pode o credor exigir a prestação subsistente ou o valor da impossível mais as perdas e danos; se por 
culpa do devedor todas as prestações se tornarem impossíveis, o credor pode reclamar qualquer uma 
delas mais as perdas e danos; se sem culpa do devedor todas as prestações se tornarem impossíveis, 
a obrigação será extinta. 
Obrigação facultativa o ordenamento civil pátrio não as prevê, talvez por ser ela um tipo de obrigação 
alternativa sui generis, pela qual o devedor se exonera da obrigação mediante a escolha de uma opção 
que lhe pareça melhor no cumprimento da obrigação, leciona o Prof. Nehemias Domingos de Melo.

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