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Cinema
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Esp. João Augusto Menoni Vieira
Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Cinema e Produção Cinematográfica
• Cinema – Indústria, Linguagem e Arte
• Produção Cinematográfica
• Direção
• Departamento de Arte
• Departamento de Fotografia
• Departamento de Som
• Gêneros Cinematográficos
 · Entender o que é o Cinema e como ele se constitui – produção, 
direção, profissionais e gêneros cinematográficos;
 · Conhecer e valorizar a estrutura de uma produção cinematográfica;
 · Capacitar o aluno a elaborar um projeto educacional sobre cinema 
que englobe as etapas e profissionais necessários para a realização 
de um filme.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Nesta Unidade, vamos conhecer de forma geral as etapas que envolvem uma 
produção cinematográfica.
Leia o conteúdo que disponibilizamos para você, com calma e atenção, não 
se esquecendo de aprofundar seus conhecimentos acessando o Material 
Complementar indicado, a Vídeoaula e a Apresentação Narrada. Lembre-se 
de que as dúvidas podem ser esclarecidas com o professor-tutor, que está à 
sua disposição. 
É importante também que você faça as atividades propostas. A Avaliação e a 
Atividade Reflexiva, além de pontuarem, são fundamentais para memorização 
e reflexão sobre o conhecimento que está à sua disposição.
Importante: respeite os prazos estabelecidos no cronograma.
Bom estudo!
ORIENTAÇÕES
Cinema e Produção Cinematográfi ca
UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
Contextualização
O francês André Malraux escreveu em um ensaio, em 1946, que “Além de tudo, o 
cinema é uma indústria”. O escritor resumiu todo o contexto que envolve a produção 
cinematográfica. Até assistirmos a um filme um longo caminho é percorrido, sendo 
necessárias muitas horas de trabalho, dedicação e profissionalismo durante as fases 
de pré-produção, produção e pós-produção.
Muitos filmes têm como temática o próprio cinema e que podem e devem ser 
utilizados para o estudo de seus conteúdos. Um exemplo é Saneamento Básico 
(2007), de Jorge Furtado, que apresenta a história de um grupo de moradores 
de uma pequena cidade da Serra do Rio Grande do Sul, que se reúne em busca 
de soluções para o problema do tratamento do esgoto da sua comunidade. A 
secretária da prefeitura sugere que façam um filme de ficção científica, já que há 
uma verba disponível para cultura. Assim, eles começam a desenvolver um projeto 
de vídeo. O filme é bastante interessante porque, além dos ótimos atores, Fernanda 
Torres, Camila Pitanga, Wagner Moura, Lázaro Ramos, entre outros, que fazem a 
trama bem divertida, a produção do vídeo se torna uma verdadeira aula sobre como 
fazer cinema.
Você, como professor, pode apresentar o filme na íntegra para seu grupo de 
alunos e, ao final, convidá-los a discutir sobre cada um dos elementos que aparecem 
no filme como roteiro, cenário, figurino, direção, montagem... Além disso, é 
possível propor aos alunos, que, em grupo, façam um pequeno vídeo, por meio 
do qual vivenciarão as diversas etapas da produção de um filme. Essa experiência 
pode ser prazerosa e bastante eficiente como ferramenta de ensino.
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Cinema – Indústria, Linguagem e Arte
Indústria
“De qualquer forma, o cinema é uma indústria”. (André Malraux, Esboço 
de uma psicologia do cinema (ensaio), 1946)
O que é Cinema? A pergunta tem sido feita desde que ele foi criado, no final do 
século XIX. Vários livros, ensaios e teses têm sido publicados e debates travados 
em busca dessa resposta.
Em síntese, podemos entender que Cinema é a conjugação de técnica, cultura, 
arte, divertimento e indústria. Como qualquer produto fabricado, depende de 
recursos financeiros, tecnológicos e humanos para prover resultados satisfatórios, 
assim como exigem os investimentos.
Hoje, são aplicadas vultosas quantias nas produções cinematográficas e exigido 
retorno. Como qualquer indústria, produz um bem para vender e, também, para 
vender os produtos de seus patrocinadores.
A indústria cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura de massa 
surgem do processo de industrialização desenvolvido a partir da metade do século 
XVIII, na Inglaterra.
Meio de comunicação de massa é um termo genérico que se refere a formas de 
comunicação “um para muitos”, como TV, rádio, jornais, revistas, livros, folhetos, 
cartazes, mídias sociais e até os telefones celulares. E, também, o Cinema.
No clássico do Cinema Tempos Modernos (1936), Charlie Chaplin critica as transfor-
mações causadas pela Revolução Industrial (Inglaterra, século XVIII) por meio de men-
sagens de cunho social. No filme, um operário de uma linha de montagem, que testou 
uma máquina revolucionária para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela 
monotonia do seu trabalho.
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Figura 1 – Cena de Tempos Modernos (1936), de Charlie Chaplin
Fonte: Wikimedia Commons
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
O cinema, originalmente, valorizava a arte da criação sem preocupação com a 
inserção de propagandas de cunho comercial. Hoje, grande parte da fonte de ren-
da da indústria cinematográfica vem do merchandising editorial – utilizado inicial-
mente no Cinema – e de patrocínios que o filme recebe de empresas ou pessoas.
São discretas aparições do herói dirigindo um carro, do vilão saindo de um 
Banco, do refrigerante servido no jantar, do shampoo utilizado no banho etc.
Na era moderna do Cinema, Bladerunner – O Caçador de Androides (1982), 
de Ridley Scott (1937-), é um dos primeiros exemplos de inserção maciça de 
merchandising; entretanto, cenas em Casablanca (Michael Curtiz, 1942), nas 
quais Humphrey Bogart aparece fumando, já teriam sido patrocinadas.
Merchandising: Citação ou aparição de uma marca, produto ou serviço, sem as caracte-
rísticas explícitas de anúncio publicitário, em TV, Rádio, Teatro, Cinema etc.Ex
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O filme Náufrago (2000), de Robert Zemeckis (1951-), com Tom Hanks, indicado 
a dois Oscar e ganhador do Globo de Ouro (2001), explora o merchandising de 
forma criativa com o famoso personagem Wilson (uma bola de voleibol) e a grande 
veiculação da marca Fedex.
Figura 2 – Bola de voleibol no filme Náufrago (2000), de Robert Zemeckis, 
com Tom Hanks, virou um personagem imaginário
Fonte: Wikimedia Commons
No ranking dos produtores mundiais de filmes, Bollywood – palavra derivada 
da união de Hollywood e Bombaim (oficialmente, Mumbai), nome da indústria 
do cinema na Índia – está no topo com a produção de mais de 1,1 mil filmes 
por ano. Mas, surpreendentemente, em segundo lugar está Nollywood, a indústria 
cinematográfica da Nigéria, na África, com cerca de mil filmes/ano. Hollywood, 
nos Estados Unidos, está em terceiro lugar, com a produção em torno de 700 
filmes/ano.
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No Brasil, em 2014, foram lançados 114 filmes nacionais e, em 2013, 129 
películas, conforme dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Ainda de 
acordo com a agência, em 2014, as salas de cinema brasileiras tiveram alta de 
público de 4,1% em relação ao ano anterior, o que representa, no total, cerca de 
155 milhões de espectadores.
O professor e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas 
(FIPE), José Pastore, elencou alguns dados que traduzem a importância da indústria 
cinematográfica:
• Para se produzir um filme, gasta-se, em média, US$ 40 milhões na produção 
e cerca de US$ 20 milhões na sua divulgação.
• Apenas 30% dos filmes produzidos no mundo geram lucros compensadores, 
o que faz do cinema uma das atividades mais arriscadas no campo do 
entretenimento (Harold L. Vogel, Entertainment Industry Economics, 1998).
• Nos Estados Unidos, as atividades culturais e de entretenimento empregam 
17 milhões de pessoas. Só de artistas de cinema e TV, há cerca de 120 mil 
pessoas trabalhando (30 mil em cinema).No caso do cinema, em torno de 
cada artista trabalham cerca de 30 pessoas nas várias atividades de apoio na 
criação de equipamentos, roteiros, figurinos e vários outros serviços que são 
necessários na produção deum filme. A indústria cinematográfica nos Estados 
Unidos, portanto, mantém cerca de 900 mil empregos diretos.
• Depois de pronto, um filme cria uma infinidade de postos de trabalho para ser 
divulgado e assistido, incluindo-se atividades de marketing, transporte, casas 
de exibição, restaurantes e outras. O cinema é um grande gerador de empre-
gos indiretos.
• Na área da cultura, por unidade de capital investido, o cinema é a segunda 
maior fonte de emprego. A primeira é a televisão.
• No Brasil, as atividades culturais em geral empregam cerca de 500 mil pessoas 
(José Álvaro Moisés e Roberto Chacon de Albuquerque, A Economia da 
Cultura, 1998). Cerca de 3 mil pessoas estão ligadas às atividades do cinema.
Linguagem
Para estruturar sua linguagem única, o Cinema utiliza basicamente a câmera, 
a iluminação, o som, a montagem e a edição. Dentro desse contexto, temos o 
roteiro, os personagens, o cenário, o figurino, a maquiagem, a trilha sonora, as 
trucagens e os efeitos visuais, entre outros elementos.
Conforme Graeme Turner, no livro Cinema como Prática Social (Summus, 1997):
O cinema é um complexo de sistemas significadores e seus significados 
são o produto da combinação daqueles. A combinação pode ser realizada 
com sistemas complementares ou conflitantes entre si, mas nenhum por 
si só é responsável pelo efeito total do filme.
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
Dessa forma, o sentido de uma história que está sendo contada em um filme 
pode ser definido por vários fatores como, por exemplo, a velocidade com que 
a câmera se movimenta, se ele é em preto e branco ou em cores, o ângulo de 
filmagem, os planos – por exemplo, plano geral é uma imagem de grandes espaços, 
primeiríssimo plano é o close, plano de detalhe é uma parte de um objeto ou 
corpo, entre outros elementos.
Figura 3 – O imperador persa Xerxes (Rodrigo Santoro) diante 
de seu exército, em 300 (2007), exemplo de plano geral
Fonte: cinemaemserie.com.br
Vemos, frequentemente, a utilização de imagens em preto e branco em filmes 
coloridos para dar a impressão de lembranças do passado, ou de cores saturadas 
para oferecerem uma percepção distorcida da realidade relacionada, muitas vezes, 
a doenças mentais ou ao uso de drogas.
Alfred Hitchcock (1899-1980) foi mestre em contar histórias de suspense e 
mistério. O diretor utilizou como ninguém a memória de imagens chamando a 
atenção do espectador para objetos como um isqueiro, uma faca, uma luva...
Planos gerais são normalmente utilizados para a filmagem de batalhas ou cenas 
de guerras como em 300 (2007), de Zack Snyder (1966-) ou Coração Valente 
(1995), de Mel Gibson (1956-).
O ângulo de filmagem é outro elemento do sistema de significação do Cinema 
muito interessante. Quando uma pessoa é filmada de cima para baixo (plongée), as 
cenas dão a impressão de submissão, mas, se as tomadas forem realizadas de baixo 
para cima (contraplongée) é acentuada sua posição de poder.
Em Matilda (1996), de Danny de Vito (1944-), as tomadas em câmera baixa da 
rígida diretora da escola fazem com que ela pareça ainda maior e mais assustadora 
diante da menina Matilda, filmada de cima para baixo, que parece indefesa.
Tomadas de perspectiva mostram o ponto de vista do personagem e os 
movimentos de câmera – para cima e para baixo ou lateralmente, rotação, efeitos 
de aproximação e distanciamento também constituem elementos da linguagem 
cinematográfica, que buscam, em suma, oferecer a impressão de realidade.
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Figura 4 – Ângulo, um dos elementos do sistema de signifi cação do Cinema
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images
A iluminação também participa diretamente da estruturação da atmosfera do 
filme, auxiliando o público a entender os elementos de uma cena por meio da 
criação de noção de lugar, tempo, clima e estados mentais.
O Cinema nasceu mudo – embora sempre tivesse algum tipo de som acom-
panhando o filme: um piano, uma orquestra, um narrador..., mas logo percebeu 
que imagem e som eram indissociáveis. Diálogos, som de fundo, narração, efei-
tos sonoros e a música constituem verdadeiro arsenal que auxiliam a contextua-
lização das cenas.
Quando termina a produção de um filme, inicia-se a pós-produção com o editor 
colocando na ordem correta as imagens filmadas fora da sequência, dando, assim, 
sentido narrativo. É o momento da montagem.
O cineasta russo Sergei Eisenstein (1898-1948), um dos precursores da 
montagem, entendia que “a justaposição de dois planos isolados por meio de sua 
união não parece a simples soma de um plano mais outro plano, mas o produto”.
Em O Encouraçado Potemkin (1925), Eisenstein supera o ritmo de muitos dos 
atuais videoclipes com a sua montagem. Em poucos segundos intercala dezenas de 
planos de um mesmo movimento dos atores, criando uma realidade mais densa e 
profunda do que a produzida por câmeras fixas e montagens lineares.
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
Figura 5 – Cena de O Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein, 
um dos grandes filmes do Cinema mudo e notável pelo uso da montagem
Fonte: Wikimedia Commons
A Sétima Arte
Quem ainda não se deparou com a expressão que o Cinema é a sétima arte? O 
termo foi estabelecido pelo italiano Ricciotto Canudo, teórico e crítico de Cinema, 
no Manifesto das Sete Artes, em 1912 (publicado postumamente apenas em 1923).
Canudo inscreve o Cinema no domínio das outras disciplinas artísticas, conferindo-
lhe um caráter estético e como linguagem, capaz de renovar, transformar e difundir 
as outras Artes – Música, Artes Cênicas, Pintura, Arquitetura, Escultura e Literatura.
A curta vida do Cinema produziu incontáveis obras-primas a partir de seu meio 
de expressão específico e autônomo, libertando-se, principalmente, do Teatro, ao 
longo do tempo.
Literatura, Música, Fotografia e outras importantes formas de Arte são partes 
da constituição do Cinema, que é capaz de condensar, assimilar, incorporar e de 
se apropriar de uma pluralidade de influências.Trata-se, portanto, de um complexo 
multidisciplinar composto de diferentes linguagens.
O Cinema vem em constante progresso, seja em nível técnico – som, cor, ilumina-
ção, mobilidade da câmara, efeitos especiais e, mais recentemente, com as tecnolo-
gias digitais de captação de imagens e montagem, seja em sua linguagem, enquadra-
mentos, escala de planos, montagem, montagem paralela, montagem rápida, elipse 
etc., ou em relação à sua diversidade temática. O Cinema evolui. Constantemente.
Produção Cinematográfica
Quando sentamos em uma poltrona de Cinema, ou em frente à TV, computador, 
tablet, ao ar livre, para ver um filme, não imaginamos o longo caminho que ele 
percorreu até estar à nossa frente.
A produção cinematográfica ocorre em três etapas: pré-produção, produção e 
pós-produção: “Com sorte, dinheiro em caixa, profissionais que cumprem prazos, 
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catástrofes naturais ausentes e estrelas tranquilas e estáveis, essa trajetória leva de 
18 a 24 meses”, afirma Ana Maria Bahiana, em seu livro Como ver um filme 
(Nova Fronteira, 2012).
A equipe de filmagem pode ter a seguin-
te configuração: roteirista, produtor, dire-
tor, diretor de arte ou designer (desenhista) 
de produção, diretor de fotografia, enge-
nheiro de som, continuísta, figurinista, ele-
tricista, microfonista, entre outros, sendo 
que todas as áreas contam com superviso-
res, assistentes e técnicos. O tamanho da 
equipe varia de acordo com o orçamento 
do filme e o gênero.
O produtor se envolve em todo o proces-
so, desde o desenvolvimento até a finaliza-
ção de um filme. Ele coordena, supervisio-
na e controla a logística, o financiamento, 
a contratação de pessoal, os equipamentos 
etc. Para ele, além da qualidade fílmica, im-
portam o orçamento e o cronograma de 
filmagem. Qualidade, custo, prazos, contri-
buem para a decisão de qual diretor e ato-
res contratar. Hoje, é comum produtores 
atuarem no mesmo projeto como diretores 
e vice-versa.
Figura 6 – Saneamento Básico (2007), 
dirigido e roteirizado por Jorge Furtado(1959-), é um exemplo de um fi lme 
sobre como produzir um fi lme
Fonte: Wikimedia Commons
A verdade é que para se chegar à pré-produção será necessário cumprir um 
estágio não menos importante: definir o que será filmado – uma ideia nova, um 
livro interessante, uma passagem histórica; o orçamento; o roteiro; o tipo de 
diretor – reconhecido, emergente ou estreante; o provável elenco; as locações, 
estúdios, se será filmado em película ou em meio digital etc. A redução de custos, 
a otimização dos processos de produção, a facilidade de armazenamento e de 
distribuição, entre outros fatores, inclusive o ambiental, estão “empurrando” o 
Cinema para o mundo digital.
Confi ra alguns fi lmes sobre o mundo do cinema:
• Oito e Meio (Federico Fellini, 1963): mostra um diretor de Cinema que ainda não tem 
ideia de como será o seu próximo fi lme;
• Ed Wood (Tim Burton, 1994): apresenta a vida de Edward Davis Wood Jr., considerado o 
pior diretor de todos os tempos;
• Dirigindo no Escuro (Woody Allen, 2002): retrata um cineasta que sofre de cegueira 
temporária, mas, mesmo assim, dirige o fi lme com a ajuda de amigos, sem que os 
produtores percebam.
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Pré-Produção
Definidas todas as questões relacionadas ao desenvolvimento do filme, é che-
gada a hora de arregaçar as mangas e partir para a ação. O roteirista – ou rotei-
ristas, pois pode haver mais de um na equipe, é responsável pela transformação 
da ideia em um roteiro, que é a descrição do filme, incluindo ambientação, diálo-
gos e ações dos personagens.
Dessa forma, o diretor e a sua equipe começam a imaginar e a contextualizar o 
roteiro para ter uma boa noção sobre o produto final. Para definir o conceito visual 
do filme, o diretor começa a trabalhar com o diretor de fotografia e o diretor de 
arte/designer de produção.
As cenas são decupadas, ou seja, são descritas em storyboards com anotações 
técnicas e cênicas para sua gravação. A produção fica encarregada de saber quem 
tem de fazer o que e quando. Cabe a ela a tarefa de transformar o roteiro em um 
plano de filmagem.
Storyboard: Ilustrações ou imagens produzidas pelo designer de produção ou um 
profissional especialmente contratado para esse fim desenvolvidas em sequência com o 
objetivo de pré-visualizar um filme ou animação. Não precisam ser artisticamente perfeitas, 
mas devem conter as informações sobre a cena para a equipe de gravação, como os planos 
principais, o enquadramento, os ângulos da câmera, o campo de visão e o movimento dos 
atores em cena.
Figura 7 – Storyboard do filme Bladerunner – O caçador de androides (Ridley Scott, 1982)
Fonte: Ridley Scott, 1982
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Na pré-produção, a equipe do diretor de arte – figurinista, maquiador, cenógrafo, 
entre outros, inicia a elaboração visual dos personagens e ambientes do filme. É a 
etapa na qual, normalmente, são pré-selecionadas as locações (locais onde serão 
realizadas filmagens) ou “criados” os locais previstos no roteiro com o auxílio de 
artistas conceituais.
O lago gelado, cenário de uma das batalhas de Rei Arthur (Antoine Fuqua, 
2004), por exemplo, foi criado inicialmente por artistas e, após, encontrado na 
Nova Zelândia. Montanhas, geleiras e nuvens foram “agregadas” digitalmente.
Repare nas locações de O Último Imperador (1987), Bernardo Bertolucci (1940-), fi lme que 
mostra a poética e dramática vida do último imperador da China, Pu Yi, nas claustrofóbicas 
paredes, corredores e pátios da Cidade Proibida, em Pequim.
Figura 8 – A Cidade Proibida, na China, locação de 
O Último Imperador (1987), de Bernardo Bertolucci
Fonte: iStock/Getty Images
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Produção
Bem, chegou a hora de “rodar” o filme. Ficaram para trás todas as etapas de 
pré-produção e, agora, com tudo pronto, ajustado e planejado é o momento de 
iniciar a filmagem.
Cada equipe, fotografia, arte e som têm espaços pré-definidos no set (ambiente) 
de filmagem e normalmente são gerenciados pelo produtor de set. O material 
filmado diariamente passa pelo crivo do diretor e pelos produtores. O desempenho 
de atores, da equipe técnica e do próprio diretor ainda pode ser corrigido e as 
tomadas de cenas podem ser alteradas.
Entretanto, acontecimentos fora do padrão podem desestabilizar um set de 
filmagem ou, em alguns casos, até contribuir.
Ana Maria Bahiana lembra que um tufão de grandes proporções destruiu os 
cenários de Apocalipse Now (Francis Ford Coppola, 1979), nas Filipinas; na 
véspera do início das filmagens de Chinatown (Roman Polanski, 1974), a atriz Ali 
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
McGraw se divorcia do produtor Robert Evans e é substituída por Faye Dunaway; 
ou durante a filmagem de abertura de O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola, 
1972), quando um gato vira-lata pula no colo de Marlon Brando – o gato foi 
incorporado ao personagem.
Figura 9 – A presença do gato, de Don Corleone (Marlon Brando), em 
O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola, não estava no roteiro
Fonte: imdb.com
Pós-Produção
É o momento no qual o filme se torna um produto audiovisual completo e 
recebe a sua forma final por meio da montagem (editor), da sonorização e dos 
efeitos visuais e sonoros. Se o montador não dispuser dos planos necessários, não 
poderá fazer muita coisa. Filmes podem literalmente renascer na pós-produção.
Assim que o negativo do filme – se foi produzido em película – chega ao 
laboratório, ele é revelado e “telecinado”, ou seja, escaneado para o computador. 
É iniciada, então, a edição, quando são escolhidas as melhores cenas e planos.
 Nessa fase, som e imagem são sincronizados e acrescentados os ruídos 
ambientais. Caso alguma fala dos atores não tenha ficado boa, é realizada a 
dublagem. A trilha sonora também é aplicada na pós-produção.
Depois de concluído, há as fases de divulgação, distribuição e exibição no circuito 
comercial e o circuito alternativo de festivais, mostras e exibições cinematográficas, 
sejam longas ou curtas-metragens, documentários e filmes experimentais. Há, 
também, o mercado de vídeo, no qual, muitas vezes, filmes acabam gerando 
grandes lucros.
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Importante!
Confi ra o making off de um fi lme – conteúdo extra ou especial que está incluído em 
DVDs. É uma forma muito interessante de conhecer o que aconteceu nos bastidores 
durante a fi lmagem.
Importante!
Figura 10 – O ator Robert Downey Jr. aguarda enquanto os técnicos 
preparam a armadura do Homem de Ferro, em Os Vingadores (2012)
Fonte: imdb.com
Existem inúmeros exemplos da importância da pós-produção no Cinema, etapa 
que, literalmente, contribui para o sucesso de um filme.
Walter Murch (1943-), editor/montador, designer de som (termo cunhado por 
ele), diretor e roteirista, é um bom exemplo.
Parceiro constante de diretores como George Lucas e Francis Ford Coppola, 
editou o som em American Graffiti (1973) e em O Poderoso Chefão: Parte 
II (1974), foi indicado pela primeira vez ao Oscar por A Conversação (1974), 
ganhou seu primeiro Oscar com Apocalypse Now (1979) e é protagonista de um 
fato sem precedente: ganhou dois Oscar para Melhor Som e Melhor Montagem 
por seu trabalho em O Paciente Inglês (1996).
“A essa altura, você provavelmente nota que está vendo um filme, e não uma 
imitação da vida real. Até mesmo os sonhos, em seu peculiar surrealismo, não são 
assim. É isso que torna nosso trabalho tão especial e único.” A afirmação da Murch 
se refere à fantástica sequência inicial de Apocalypse Now (Francis Ford Coppola) 
na qual, ao som de The End, do The Doors, o capitão Willard (Martin Sheen) 
aguarda, em um quarto em Saigon, sua próxima missão secreta no Vietnã.
Murch recebeu de Coppola 16 meses conturbados de filmagens, que poderiam 
resultar em um tremendo caos, mas, em suas mãos, transformaram-se em ordem, 
em um dos mais marcantes filmes do cinema mundial.
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
Direção
Nas primeiras décadas do Cinema, final do século XIX e início do século XX, o 
público praticamentedesconhecia o diretor dos filmes e o seu trabalho. O chamariz 
eram o tema e os astros.
Em meados dos anos 1950, jovens críticos da 
revista francesa Cahiers Du Cinéma utilizaram a 
expressão “teoria do autor” com o argumento de 
que, apesar de coletivo, um filme sempre leva a 
assinatura do diretor.
A partir de então, o diretor foi reconhecido 
como o “criador” do filme. Hoje, grande parte do 
público comenta sobre o último filme de Tarantino, 
Spielberg... ou sobre grandes diretores do passado 
como Bergman e Fellini. É o cinema de autor.
O diretor é essencial para a percepção de um 
filme; é o responsável pelo resultado final das 
imagens, supervisionando os aspectos criativos, 
dirigindo atores e como eles devem se movimentar 
e interpretar suas falas em cada cena e decide 
também a movimentação da câmera com o objetivo 
de registrar de maneira eficaz cada ação e cada 
detalhe. Entretanto, o trabalho do diretor inicia 
muito antes de sua atuação no set de filmagem.
Figura 11 – A revista francesa 
Cahiers du Cinéma foi criada, em 
1951, por André Bazin, Jacques 
Doniol-Valcroze e 
Joseph-Marie LoDuca
Fonte: tudosobreseufilme.com.br
A preparação é fundamental para a execução de um bom filme. O roteiro 
técnico, resultado de sua decupagem de direção (visualização do filme por meio dos 
planos), a planta baixa do set com os planos e movimento dos atores e, também, 
o storyboard, são capitais.
Decupagem de direção é um diagrama dos planos no qual o diretor define a sua 
forma de filmagem do roteiro, incluindo movimentos de câmera e o ângulo. Cada 
plano é utilizado para uma finalidade específica.
Os tipos de planos descrevem a distância da câmera em relação ao objeto/
personagem, variando de plano próximo (close-up) a plano geral, comunicando 
mensagens para o espectador. Já a planta baixa do set é uma visão octogonal, 
de cima, do set de filmagem. Nela, o diretor define o movimento dos atores, da 
câmera, os planos e as lentes que utilizará.
A seleção do elenco do filme exige, por parte do diretor, total compreensão de 
quem são as personagens e qual ator se adapta melhor. A aparência nem sempre é 
importante, vez que maquiagem e figurino estão aí para fazer os ajustes necessários.
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Os primeiros ensaios geralmente são de leitura dramática do roteiro, quando 
o elenco passa os diálogos em conjunto. Na próxima etapa, são introduzidas as 
ações, quando são planejados os movimentos dos atores.
Figura 12 – Federico Fellini (1920-1993) é um dos diretores que fazem cinema de autor
Fonte: Wikimedia Commons
No set, as principais funções do diretor são: instruir a equipe técnica sobre 
como filmar cada plano, monitorando o movimento dos atores em cena e as 
suas atuações, com assessoria dos diretores de fotografia e de arte e, ainda, 
administrar questões como pressões de diversas partes e se atualizar sobre o 
orçamento do filme, entre tantas outras funções. O diretor também acompanha a 
primeira cópia, resultado da primeira montagem – supervisionada por ele, e todo 
o processo de finalização.
Em um sistema industrial de produção, não são todos os diretores que têm o 
direito sobre a palavra final da edição do filme. O direito, normalmente, é reservado 
aos produtores que, por meio de pesquisas ou de pré-apresentações, constatam o 
que o público quer.
O diretor conta, dependendo do porte do filme, com uma equipe de profissionais 
que o auxiliam na função de dar vida ao roteiro como, por exemplo:
• 1º assistente de direção: Assessora o diretor em suas tarefas criativas e 
administrativas, fazendo a ligação com a equipe técnica; administra, no set de 
filmagem, os recursos da produção e o cumprimento diário de filmagem; é o 
elo entre a produção e a direção;
• 2º assistente de direção: Cuida para que os atores estejam no set nos 
horários previstos, bate o texto com os atores quando necessário e substitui o 
1º assistente de direção;
• Continuísta: Representa o montador/editor junto ao diretor, assessorando-o 
na continuidade dos planos, movimentos dos atores, figurinos, cenografia etc. 
Produz boletins diários de continuidade;
• Coreógrafo: Profissional responsável pela coreografia das danças dos artistas;
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
• Diretor de dublês: Contrata e coordena o trabalho dos dublês. Pode dirigir as 
cenas nas quais a atuação dos dublês constitui perigo para esses profissionais;
• Produtor de elenco: É o responsável pela escolha dos atores que serão levados 
para a aprovação do diretor;
• Técnico de efeitos especiais: Assessora o diretor na execução de efeitos 
mecânicos durante as filmagens como incêndios, tiros, bombas, armas etc.;
• Técnico de efeitos visuais: A presença desse profissional ganhou importância 
com a sofisticação e a adoção cada vez maior dos efeitos visuais e digitais nos 
filmes. Também, em alguns casos, pode assumir a direção da cena quando 
atores contracenam com objetos, pessoas e animais que serão inseridos por 
computação gráfica.
Importante!
Os dublês são atores que substituem os artistas em cenas perigosas. São escolhidos 
pela semelhança física e caracterizados de forma idêntica ao astro substituído nas 
cenas. Jackie Chan (A Hora do Rush, 1998, e O Mestre Invencível, 1978) é famoso por 
dispensar dublês.
Figura 13 – Jackie Chan em ação, sem dublês
Fonte: cinemaemcena.com.br
Você Sabia?
Departamento de Arte
Ligado diretamente ao diretor, o Departamento de Arte tem a tarefa de criar e 
produzir a identidade visual do filme, de transmitir as ideias do roteiro ao ambiente 
dos personagens, juntamente com o diretor e o diretor de fotografia. 
O chefe do Departamento de Arte é o designer (desenhista) de produção – no 
início do Cinema, essa função era desempenhada pelo diretor de arte. Hoje, em 
grandes produções, o diretor de arte reporta-se ao designer de produção e cuida 
20
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da realização dos cenários e preparação de locações. Em produções menores, o 
diretor de arte acumula as duas funções.
Ao designer de produção/diretor de arte cabe encontrar a forma visual do filme 
e como isso se expressa na realização de cenários, na escolha das locações e no 
desenho dos figurinos, por exemplo. Também são funções desses profissionais 
a adequação da linguagem visual aos diferentes momentos do filme e como os 
ambientes se relacionam com os personagens e a narrativa. É o momento no qual 
a imaginação se transforma em realidade.
Ao departamento de arte cabe auxiliar o diretor na escolha das locações e 
adequá-las às demandas do projeto, conceber e supervisionar a construção de 
cenários, definir com o diretor de fotografia a paleta de cores do filme, conceber, 
desenhar e executar o aspecto visual dos personagens, entre outras funções.
Grandes diretores de cinema formaram duplas com diretores de arte que 
se tornaram famosas como Fellini e Danilo Donati; Scorsese e Dante Ferretti; 
Bergman e Marik Vos-Lundh; e os irmãos Joel/Ethan Coen e Dennis Gassner.
Em Onde os Fracos Não Têm Vez (Joel e Ethan Coen, 2007), os tons naturais do deserto – bege, 
areia, ocre, azul – dominam a paleta de cores durante a primeira parte do fi lme. A partir do 
momento em que o personagem de Javier Bardem assume o comando da história, as cores 
dominantes passam a ser laranja e vermelho, acompanhando um mundo sangrento.
Figura 14 – Cena de Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), de 
Joel e Ethan Coen, mostra a paleta de cores do deserto
Fonte: revistamoviola.com
Ex
pl
or
O Departamento de Arte geralmente conta com os seguintes profissionais:
• Cabeleireiro: Cuida dos penteados e perucas dos atores; trabalha em conjunto 
com o maquiador;
• Cenógrafo: Responsável pela planta baixa do cenário criado pelo designer de 
produção/diretor de arte; acompanha a execução do cenário pelo cenotécnico;
• Cenotécnico: Sua equipe constrói o cenário conforme as especificações 
do cenógrafo;
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
• Contrarregra de cena: Auxilia a decoração do set de filmagem, sendo o 
responsável pela guarda dosobjetos que serão utilizados nas cenas;
• Designer de produção (desenhista de produção): Responsável, junto ao 
diretor, pelo visual e ambientação do filme. Em uma primeira instância, cabe 
a ele escolher as locações, a ambientação e as cores. É o responsável pela 
criação do storyboard do filme quando solicitado pelo diretor, ou delega essa 
função a um profissional de arte sob sua supervisão;
• Diretor de arte: Atua diretamente com o designer de produção, executando 
suas instruções como o desenho e ambientação dos cenários e supervisão de 
sua execução junto ao cenógrafo;
• Figurinista: Responsável pelo desenho das roupas usadas pelos atores, 
seguindo orientação do designer de produção. É auxiliado pelo supervisor de 
figurino, que gerencia o guarda-roupa, cuida e organiza os figurinos;
• Gerente de locações: Profissional encarregado de obter as locações sob a 
supervisão do designer de produção, tratando as questões administrativas 
relacionadas às contratações dos locais onde as cenas serão filmadas;
• Maquiador: Responsável pela maquiagem dos atores sob a supervisão do 
designer de produção e do diretor de fotografia;
• Maquiador de efeitos: Atua quando as cenas exigem efeitos cênicos 
de maquiagem como, por exemplo, sangue, envelhecimento dos atores, 
machucados etc.
Departamento de Fotografia
Outro parceiro fundamental do diretor é o diretor de fotografia, responsável 
por tudo o que se relaciona com a câmera – localização, movimento, lentes, filme, 
foco etc.
O Departamento de Fotografia também tem sob sua responsabilidade a 
iluminação do set de filmagem ou da locação. Cabe à área, após o Departamento 
de Arte definir a atmosfera visual do filme e suas alterações, captar as imagens de 
forma que contemplem as expectativas do diretor e do designer de produção.
Mas, como isso é feito?
A partir da escolha dos tipos de câmeras, filmes, lentes, filtros e se será captado 
em meio digital ou película, entre outras decisões.
O Departamento de Fotografia tem, em sua composição, os seguintes profissionais:
• Cameraman (operador de câmera): Responsável, junto ao diretor de 
fotografia, pelos enquadramentos e planos com movimentos de câmera. O 
profissional também pode manusear o steadycam, equipamento utilizado 
junto ao corpo, que permite movimentar a câmera de maneira estável, mesmo 
em movimento;
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• Diretor de fotografia: Profissional responsável pela escolha dos ângulos, 
movimentação e enquadramento da câmera e pela iluminação;
• Eletricista-chefe: Seleciona o equipamento de iluminação necessário, 
direciona o foco de luz dos refletores para o ambiente a ser filmado e posiciona 
os filtros nos refletores;
• Gaffer: Coordena o plano de iluminação de cada cena, tendo conhecimento 
de onde cada ponto de luz deve estar e que intensidade deve ter, entre outras 
funções; reporta-se diretamente ao diretor de fotografia;
• Maquinista-chefe: Seleciona o equipamento e disponibiliza os meios 
necessários para o trabalho do eletricista e do câmera;
• Marcador de cena: Opera a claquete no início de cada tomada.
Claquete: Quando a gravação de uma tomada (take) é iniciada, uma pessoa segura a 
claquete na frente da câmera e lê as informações que foram escritas na lousa da claquete, 
como o número da cena e da tomada e, em seguida, bate a claquete. O som causado pela 
batida da claquete possibilita sincronizar imagem e som, fi cando mais fácil editar as cenas. 
Hoje, existem as claquetes digitais.
Ex
pl
or
 
Figura 15 – Claquete tradicional e claquete digital
Fonte: iStock/Getty Images
Departamento de Som
O som é um dos elementos fundamentais na composição de um filme, embora 
ainda possamos produzir filmes mudos. Hoje, estamos tão acostumados a sons de 
passos, portas rangendo, cascos de cavalo batendo no solo, gritos, freadas, carros 
derrapando em alta velocidade que, muitas vezes, não os percebemos. Por sua vez, 
a trilha sonora amplifica o estado emocional do espectador, fazendo com que as 
emoções sejam reforçadas em determinadas cenas.
O engenheiro (ou técnico) de som é o chefe do Departamento de Som no 
set, sendo responsável pela gravação de todos os sons durante a filmagem. O 
profissional seleciona e combina diferentes tipos de microfones, opera dispositivos 
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
de gravação e, algumas vezes, mixa sinais de áudio em tempo real. A função 
ganhou, recentemente, a denominação de desenhista de som.
Complementam a equipe o técnico de captação de som, responsável pela 
gravação no set dos diálogos, ruídos ambientais e playbacks – música gravada 
anteriormente que serve de guia para canto e dança dos atores. E, por fim, o 
microfonista, que posiciona o microfone, geralmente com uma vara chamada 
boom, o mais próximo possível dos atores, para que o equipamento não interfira 
no enquadramento da câmera, nem apareça na imagem.
Figura 16 – O som é um dos elementos fundamentais na composição de um filme
Fonte: iStock/Getty Images
Gêneros Cinematográficos
O conceito de gênero surgiu na era dos estúdios de Hollywood, nos anos 1930, 
facilitando decisões de produção e de comercialização dos filmes, além de servir de 
modelo a roteiristas.
Na época, os estúdios se especializaram em gêneros como, por exemplo, 
Universal e Hammer com terror e Paramont e Ealing com comédia.
 Alguns diretores também vincularam seus nomes aos gêneros como Alfred 
Hitchcock, com seus filmes de suspense. Atualmente, existem gêneros, subgêneros, 
tipos, uma infinidade não tão rígida de classificações e definições. 
Genre (gênero, em francês) significa tipo. O termo traduz uma forma rápida 
e prática de categorizar e identificar filmes que têm enredos, personagens, 
ambientação e temas semelhantes. Muitos filmes misturam vários gêneros como 
Bladerunner – O Caçador de Androides (Ridley Scott, 1982), com ficção científica 
e suspense. Ao aderirem a uma série de convenções narrativas representativas dos 
gêneros, os filmes facilitam o reconhecimento do público e a sua aceitação.
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Um gênero, conforme Ana Maria Bahiana (Como Ver um Filme, Nova 
Fronteira, 2012), pode ser definido pela narrativa (tramas, premissas e estruturas 
parecidas; obstáculos, conflitos e resoluções previsíveis), pela caracterização dos 
personagens, temas básicos, ambiente, iconografia (uso de ícones semelhantes 
como objetos, atores, cenários, linguagem), técnicas e estilo (iluminação, paleta 
de cores, movimentação da câmera e enquadramento). Dessa forma, chegamos a 
cinco gêneros cinematográficos: drama, comédia, ação/aventura, ficção científica/
fantasia e thriller – suspense e terror).
A classificação de Bahiana leva em consideração os princípios básicos de cada 
gênero, possibilitando que um western, por exemplo, que muitos autores indicam 
como gênero, encaixe-se em drama, comédia, ação/aventura.
Banzé no Oeste (1974), dirigido por Mel Brooks (1926-), é um dos representantes 
da comédia caubói norte-americana e o western Rastros de Ódio (1956), de John 
Ford (1894-1973), de um drama. Aliás, a grande maioria dos faroestes são dramas.
A mesma relação pode ser feita com 
os musicais, que tanto podem ser dramas, 
quanto comédias, filmes de terror, como 
A Pequena Loja de Horrores (1986), de 
Frank Oz (1944-), ou fantasia, como O 
Mágico de Oz (1939), de Victor Fleming 
(1889-1949) e Pink Floyd – The Wall 
(1982), de Alan Parker (1944-). A autora 
também não inclui os filmes de animação 
entre os gêneros que, segundo ela, “podem 
ser absolutamente tudo”.
A partir desse conceito, podem ser 
realizadas inúmeras associações para a 
identificação de subgêneros ou estilos como 
local, época, subtemas.
Dessa forma, um drama sobre conflito 
armado pode tornar-se o subgênero drama 
de guerra e assim por diante, tendo, cada 
um, seu próprio conjunto de normas e 
elementos-chave.
Figura 17 – Pink Floyd – The Wall (1982), 
de Alan Parker: musical/fantasia
Fonte: Wikimedia Commons
Drama – Questões Éticas e Morais
O drama é, certamente, o mais abrangente e difícil gêneropara ser definido. 
Nele, diversas obras se cruzam com os mais variados estilos. Por outro lado, é quase 
impossível que um filme narrativo, de qualquer tipo, não possua algum conteúdo 
dramático de maior ou menor densidade, em maior ou menor grau.
A seriedade dos fatos é uma das qualidades que o drama procura salientar, sendo 
objeto o ser humano comum em situações quotidianas com implicações afetivas ou 
em polêmicas sociais.
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
Ao contrário da comédia, que sublinha as fragilidades ou vícios do ser humano, 
o drama aborda consequências emocionais inusitadas e profundas.
Essa propensão ao realismo mostra os problemas da sociedade com suas normas 
e valores, bem como o lugar do indivíduo nesse contexto. Assim, a tensão dramática 
se apresenta sobre aqueles personagens que se confrontam com situações de 
adversidade.
A prevalência do drama como gênero-mestre do cinema está relacionada 
ao fato de que emocionar e chorar é universal, ultrapassa fronteiras, idiomas e 
peculiaridades culturais, enquanto a comédia, por exemplo, é, em grande parte, 
específica e cultural.
Uma comédia em um país pode ser recebida como ofensa em outro. Dessa 
forma, o cinema tratou de codificar o gênero drama em torno de alguns temas-
chave como superação, heroísmo, destino (fatalidade, acaso, missão), descobertas 
interiores e grandes questões morais (dilemas).
Podemos identificar, a partir do seu núcleo temático, subdivisões – que podem 
ser quase inesgotáveis – relacionadas ao gênero drama:
• Drama social: Personagens em confronto com uma concepção do mundo na 
qual eles têm dificuldade em encontrar o seu lugar e as suas referências, sendo 
muitas vezes vítimas de contextos que negam ou agridem os seus direitos 
elementares. Exemplos: Pequena Miss Sunshine (Jonathan Dayton e Valerie 
Faris, 2006) e Clube de Compras Dallas (Jean-Marc Vallée, 2013); 
• Drama de guerra: Circunstâncias de elevada violência, como são necessa-
riamente os cenários de guerra ou as suas consequências; perante o inimigo 
e perante a morte, o indivíduo questiona ou descobre a sua plena e autêntica 
humanidade (ou a sua ausência). Exemplos: O Resgate do Soldado Ryan 
(Steven Spielberg, 1998) e Soldado Anônimo (Sam Mendes, 2005);
• Drama psicológico: O indivíduo está em confronto consigo mesmo, com os 
seus medos ou incertezas, com a sua insegurança ou com as suas convicções. 
Exemplos: Um Estranho no Ninho (Milos Forman, 1975) e Cisne Negro 
(Darren Aronofsky, 2010);
• Drama romântico: Volta a atenção para as relações afetivas de maior intimi-
dade ou cumplicidade, com as suas dificuldades. Suscita grande envolvimento 
do espectador. Exemplos: Romeu e Julieta (Franco Zeffirelli, 1968) e Titanic 
(James Cameron, 1997);
• Drama familiar: Vai do filme independente, centrado frequentemente na de-
sagregação familiar, ao melodrama, com o conflito de gerações ou o precon-
ceito moral, passando pelo teen age movie, voltado às dificuldades de amadu-
recimento do indivíduo. Exemplos: Kramer versus Kramer (Robert Benton, 
1979) e Álbum de Família (John Wells, 2013);
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• Drama político: Questiona ou promove paradigmas ou valores políticos 
vigentes e as suas implicações, retratando épocas ou acontecimentos decisivos 
na história das sociedades ou das nações. Exemplos: Todos os Homens do 
Presidente (Alan J. Pakula, 1976) e Pra Frente Brasil (Roberto Farias, 1982);
• Drama histórico/biografias: Retrato de fatos históricos ou de personalidades 
de elevada importância. Políticos, artistas, desportistas e personalidades 
malditas ou proscritas, são os temas. Exemplos: Alexandre Nevsky (Sergei 
Eisenstein, 1938) e Maria Antonieta (Sofia Coppola, 2006);
• Drama de crime/policial: Sua expressão se dá por meio da violência e 
de emoções extremas em um mundo no qual as leis da normalidade não 
vigoram e os valores podem ser revertidos com consequências fatais. No 
final, geralmente, o bem supera o mal e o bandido é punido ou descoberto. 
Exemplos: The Musketeers of Pig Alley (D. W. Griffith, 1912) e Scarface 
(Brian de Palma, 1982).
Figura 18 – Cena de Scarface (1982), de Brian de Palma: drama de crime (policial)
Fonte:imdb.com
Comédia – Diversão Garantida
Rir de tudo, até mesmo rir do mal e da desgraça alheia (muitas vezes da própria 
desgraça) é uma característica do ser humano, e a comédia, seja visual ou verbal, 
é uma prova disso.
O gênero tende a ressaltar as fragilidades das pessoas como o vício, a 
negligência, a pompa, a presunção ou a insensatez, por exemplo. A comédia não 
exige protagonistas complexos ou nobres, ao contrário, eles podem ser simples, 
inocentes e simpáticos, como Jerry Lewis, Buster Keaton, Três Patetas, Oscarito, 
Grande Otelo, Gordo e o Magro, Inspetor Clouzot e, claro, Charlie Chaplin e o seu 
sábio mendigo Carlitos.
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
A comédia no cinema recorre a diversos recursos como estratégia humorística. 
Confira alguns delas:
• Absurdo: É o nonsense (substantivo em inglês, que significa sem sentido, 
absurdo ou contrassenso), que tende a acentuar a vulnerabilidade da lógica 
causal dos acontecimentos;
• Agravamento: Peripécias se sucedem em uma lógica desconcertante crescente;
• Descontextualização: Retira ideias ou fatos do contexto, para expor no- 
vos significados;
• Equívoco: Divergência de interpretação entre os participantes ou interlocutores 
em relação a um mesmo fato;
• Exagero: Fundamenta-se na lógica do excesso e tende a despertar no 
espectador uma sensação de incredulidade;
• Imprevisto: Desilude ou contraria 
todas as expectativas criadas para 
uma dada situação;
• Insólito: Nega qualquer desfecho 
vislumbrado ou previsível para uma 
situação.
Desde a criação do Cinema, a comé-
dia apresenta longa relação com o espec-
tador com, por exemplo, Georges Méliès 
(ilusionismo), Charlie Chaplin (mímica), 
Buster Keaton (humor pela inexpressi-
vidade), e o ciclo de paródias (imitação 
satírica de uma obra séria) que, desde os 
anos 1970, acentuam cada vez mais o 
seu tom de farsa e refinam sua ironia.
A comédia pode igualmente se desdo-
brar em várias modalidades, dependendo 
do tom ou do propósito com que o hu-
mor é utilizado. Vejamos algumas modali-
dades de comédias:
Figura 19 – Marinheiro por Descuido (1924), 
de Buster Keaton e Donald Crisp, foi eleito 
pelo American Film Institute como uma das 100 
melhores comédias de todos os tempos
Fonte: Wikimedia Commons
• Sátira: Produz um discurso crítico altamente contundente, que pode mesmo 
conduzir à humilhação;
• Ironia: Divergência do sentido literal e do sentido figurado, afirmando algo 
para insinuar o seu contrário;
• Ridículo: Releva a insignificância de valores ou sublinha a hipocrisia de certas 
convenções;
• Espirituoso: Utilização elegante do humor, aliando sabedoria, ironia, subtileza 
e perspicácia.
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A comédia, como todos os gêneros, também tem as suas subdivisões, que alguns 
autores consideram subgêneros:
• Comédia romântica: Tendo como tema principal o amor, apresenta, 
basicamente, desencontros, entre um momento inicial de desprezo e eventual 
ruptura do casal a um momento de aproximação e reconciliação no final. 
Exemplos: Não me mandem Flores (Norman Jewison, 1964), com Doris Day 
e Rock Hudson, e Quatro Casamentos e um Funeral (Mike Newell,1994);
• Comédia dramática: Concilia o tom da comédia com a gravidade da abordagem 
do drama, criando uma alternância de registros discursivos que se apossa da 
seriedade e da solenidade das situações e dos personagens para exibir o seu 
reverso irônico. Exemplos: Bonequinha de Luxo (Blake Edwards, 1961), com 
Audrey Hepburn, e Quem quer ser um Milionário? (Danny Boyle, 2009);
• Comédia negra/sinistra: Inverte os valores vigentes, exibindo o absurdo 
da existência humana de forma contundente em situações extremas como 
violência, morte e outros temas sombrios. O tom é quase sempre de farsa. 
Exemplos: Arizona Nunca Mais (Joel e Ethan Coen, 1987) e Matadores de 
Velhinhas (Joel e EthanCoen, 2004);
• Comédia de costumes: É uma co-
média cerebral, na qual ideias, iro-
nias, sarcasmo e referências culturais 
provocam o riso, sem necessidade 
de situações ou gestos exagerados, 
por meio de jogos de linguagem, tro-
cadilhos, insinuações e sentidos ocul-
tos. É fundamental a qualidade da es-
crita dos diálogos. Exemplos: Noivo 
Neurótico, Noiva Nervosa (Woody 
Allen, 1977) e Eu quero ser John 
Malkovitch (Spike Jonze, 1999);
• Comédia slapstick (pastelão): Hu-
mor físico, sendo o corpo e a mímica 
fundamentais. Representação exage-
rada da violência sem consequências, 
acompanhada de sons irreais. Paste-
lão: nome decorrente da tradicional 
cena da torta na cara. Exemplos: 
Papagaiadas (Preston Black, 1936), 
com os Três Patetas, e O Sentido 
da Vida (Terry Jones, 1983), com o 
grupo britânico Monty Python.
Figura 20 – Em O Sentido da Vida (1983), de Terry 
Jones, o grupo de comédia britânico Monty Python 
apresenta vários esquetes (pequenas cenas) que 
mostram os prazeres de comer até estourar
Fonte: imdb.com
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
Ação e Aventura – A Jornada do Herói 
O filme de ação é, basicamente, um drama no qual a narrativa são os feitos e os 
atos – e não o diálogo. E o filme de aventura é um filme de ação que se passa em 
um local exótico, imaginário ou em outra época.
O gênero é nitidamente voltado ao entretenimento, não objetivando discutir 
temas controversos ou problematizar situações ambíguas. Sequências como Duro 
de Matar e Máquina Mortífera são típicos filmes de ação e franquias como Indiana 
Jones e Piratas do Caribe, aventuras. Ação e aventura podem ser mesclados com 
drama, comédia ou ficção científica.
Os filmes do gênero costumam atrair grandes públicos a partir de uma fórmula 
simples, convencional e facilmente reconhecível: tramas eletrizantes, proezas 
físicas – herói musculoso de poucas palavras – e efeitos especiais como explosões, 
perseguições e fugas intermináveis.
O ritmo trepidante da montagem serve ao desenvolvimento da ação e à 
intensificação dos momentos dramáticos, assim como a utilização da música, que 
salienta emocionalmente o tom de uma situação ou o estado de um personagem, 
além do uso da fotografia, que está a serviço da fácil decodificação da narrativa.
O gênero versa sobre o herói e a sua 
capacidade de superação de obstáculos 
invocando o nosso herói interior – des-
perta recursos de coragem, resistência, 
abnegação, engenho.
O herói está permanentemente exposto 
a testes de virtudes como força de vontade, 
persistência, inteligência, bravura e capaci-
dade de autossacrifício, entre outros.
Se ele tiver uma frase-chave ou um 
bordão, melhor, como “Hasta la vista, 
baby”, dita pela primeira vez por Arnold 
Schwarzenegger, em O Exterminador do 
Futuro 2: O Julgamento Final (James Ca-
meron,1991), ou “Bond, James Bond”, 
em 007 Contra o Satânico Dr. No (Te-
rence Young, 1963) e o nacional “Pede 
pra Sair”, frase do capitão Nascimento em 
Tropa de Elite (José Padilha, 2007).
Figura 21 – O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento 
Final (1991), de James Cameron, apresentou efeitos 
computadorizados inovadores e popularizou a 
clássica frase “Hasta la vista, baby”
Fonte: imdb.com
O triunfo do bem contra o mal é uma das características dos filmes de ação 
e aventura. Os heróis e os vilões são claramente caracterizados e contrapostos 
com pouco espaço para uma caracterização densa, ambígua ou complexa 
dos personagens.
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Alguns elementos são essenciais para uma boa ação nas telas como heróis 
extraordinários, inimigo à altura, obstáculos igualmente extraordinários e violência, 
muita violência.
No final dos anos 1960, Bonnie and Clyde (Arthur Penn, 1967) e Meu Ódio 
será a tua Herança (Sam Peckinpah, 1969) marcam o gênero, especialmente pelo 
uso da câmera lenta (slowmotion) e pelos esguichos de sangue na representação 
da violência. Mas, foi na década de 1980 com Rambo – Programado para Matar 
(Ted Kotcheff, 1982), com Sylvester Stallone, e Conan, o Bárbaro (John Milius, 
1982), com Schwarzenegger, que o gênero decolou.
Mel Gibson e Bruce Willis engordam a lista de atores-destaque do gênero, 
assim como Tom Cruise, Keanu Reeves, Uma Thurman, Jet Li e Lucy Liu. Clint 
Eastwood e Charles Bronson, nos anos 1960 e 1970, não ficam para trás. A lista 
parece interminável.
Ficção Científi ca e Fantasia – O Poder da Imaginação
Estamos prestes a nos aventurar por territórios além do plano físico, no qual a 
imaginação e o inconsciente dominam as cenas, e as narrativas estão mais ligadas 
a processos psicoanalíticos e filosóficos do que à dramaturgia.
É um mundo no qual o rigor do saber científico está intimamente ligado à 
liberdade da imaginação. Ficção científica e fantasia tomam como premissas o 
conhecimento científico vigente ou as expectativas de um determinado fato ou 
fenômeno a partir de elementos comuns como a elaboração de questões atuais, 
a resolução de problemas difíceis e o poder da imaginação. Mesmo que um filme 
inicie com “em uma terra distante a milhares de anos luz”, invariavelmente algum 
tema estará relacionado ao tempo de hoje como desumanização, superpopulação, 
poluição, totalitarismo, epidemias ou a questão nuclear, entre outros.
Desde a sua origem, o Cinema demonstrou especial interesse na ficção científica 
como, por exemplo, em Viagem à Lua (1902), de Georges Méliès, no qual o 
professor Barbenfouillis (interpretado pelo próprio Méliès) propõe uma viagem ao 
satélite natural como forma de escapar da fumaça das fábricas que começavam a 
se proliferar na Terra.
Em O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939) há uma clara distinção entre fantasia 
e realidade com a vida de Dorothy (Judy Garland), no Kansas, apresentada em 
sépia e a Terra de Oz em um colorido espetacular.
Não causa estranheza que, atualmente, em uma sociedade altamente tecnológica 
a ficção científica e a fantasia mantenham grande interesse do público a partir de 
temas como o ciberespaço e a exploração espacial.
A ficção científica busca projetar o futuro da Humanidade por meio de cenários 
cibernéticos, metropolitanos, espaciais ou apocalípticos, de objetos (design 
futurista?) e de personagens como aliens, robôs e androides.
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
Várias dessas projeções realizadas pelo Cinema acabaram se tornando realidade, 
como a própria viagem à lua.
As formas de organização social ou política também são temas recorrentes no 
gênero, retratadas muitas vezes com visão pessimista. A ligação entre a ficção 
científica e o fantástico nos leva a perceber a proximidade do gênero com o terror 
e a ação.
Alien, o 8º Passageiro (Ridley Scott, 
1979) é um bom exemplo. Mais do que 
qualquer outro, o gênero, hoje, depende 
muito de efeitos especiais. Guerra nas Es-
trelas (George Lucas), em 1977, iniciou 
uma nova era no cinema com a utilização 
de 40 segundos de imagens geradas por 
computador. Já Matrix (1999), dos irmãos 
Andy (1967-) e Larry Wachowski (1965-), 
é totalmente dependente da ferramenta.
Na ficção científica, há noção de lógica 
relacionada à teoria científica; na fantasia, 
elementos do absurdo, sobrenatural e místico 
são naturalmente aceitos, com o tempo e o 
espaço flexíveis e a tecnologia desnecessária.
Na realidade, a fantasia está além de 
qualquer conexão com a realidade. Asas do 
Desejo (Wim Wenders, 1988) e O Labirinto 
do Fauno (Guillermo del Toro, 2006) mos-
tram, de forma competente, outras vidas.
Figura 22 – Alien, o 8º Passageiro (1979), de 
Ridley Scott, reúne ficção científica e terror
Fonte: Wikimedia Commons
Também recorrente nos filmes de fantasia é a responsabilidade por meio das 
escolhas e dos poderes. Exemplos: a trilogia Senhor dos Anéis (Peter Jackson, 
2001, 2002 e 2003) e a série Harry Potter (diversos diretores, 2001-2011). Mas, 
há alguns pontos nos quais essas duas vertentes se encontram: a lógica e o mundo 
devem ser coerentes.
Thriller (Suspense e Terror) – O Exercício do Medo
No gênero thriller, cujas principais vertentes sãoo suspense e o terror/
horror, o espectador sofre de forma delegada, compartilhando as dificuldades dos 
personagens, mas se eximindo de seus sofrimentos.
O thriller lida com estados emocionais básicos como medo, terror, repulsa, 
choque, horror. Não são poucas as histórias de pessoas que, ao assistirem filmes 
de suspense ou terror, desviam o olhar em algumas cenas, sentem náuseas, gritam, 
suam compulsivamente ou abandonam a sala de cinema ou desligam sua TV, DVD 
player ou computador.
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Em um bom thriller, os sofrimentos, reais ou psicológicos, dos personagens 
despertam a nossa simpatia e a nossa revolta com os nossos medos emergindo na 
pele do sofredor. Entretanto, em um filme que explora a dor e a violência sem fim 
e sem propósitos como a tortura, o massacre e o barbarismo é apenas diversão.
São muitos os agentes do mal representados no gênero: lobisomens, vampiros, 
zumbis, aliens, demônios, fantasmas, monstros e serial killers, entre tantos outros. 
É o gênero no qual a perspicácia, a crença, a ingenuidade ou a afetividade do 
espectador são mais postos à prova.
A incerteza e a dúvida têm no thriller um papel fundamental, principalmente, 
nos filmes de suspense. O espectador precisa sentir dúvidas em relação ao destino 
dos personagens, partilhando medo e vulnerabilidade, que lhe provocam ansiedade 
e angústia. No thriller, sabemos muito desde o início e, no filme de suspense, 
descobrimos tudo no final.
Vejamos algumas questões básicas que normalmente são abordadas em um thriller:
• O importante é como as histórias são contadas. É preciso ampliar as sensações 
ao máximo, muitas vezes a partir de histórias comuns. Em O Bebê de Rosemary 
(1968), Roman Polansky (1933-) mostra a história de um casal que quer ter 
seu primeiro filho;
• Instalação e perpetuação constante da dúvida sobre o desfecho dos 
acontecimentos e sobre o destino dos personagens. O constante questionamento 
da dúvida faz com que o espectador reveja permanentemente suas hipóteses;
• Sugestão semelhante à verdade, mas enganosa, de expectativas. O espectador 
é convidado a entrar em um jogo de permanente inquietação, incerteza, 
ansiedade ou angústia;
• Intenção de criar no espectador grande excitação e nervosismo, como se, 
nos momentos decisivos, tudo se tornasse urgente e perturbador. Se um filme 
excita pelo medo é um thriller;
• O herói deve vencer o mal e destruir o seu antagonista. O sacrifício do herói é 
aceito. O final não precisa ser feliz.
Figura 23 – O Bebê de Rosemary (1968), de Roman Polansky, com Mia Farrow, 
é um dos mais importantes fi lmes de terror de todos os tempos
Fonte: imdb.com
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
Alfred Hitchcock (1899-1980), o “mestre do suspense”, aperfeiçoou, em Intriga 
Internacional (1959), a perseguição como um dos componentes básicos dessa 
vertente de thriller.
Normalmente, o mistério costuma envolver espiões ou terroristas que perseguem 
o protagonista (ou são perseguidos por ele), sempre na busca da solução de um 
crime ou para evitar um desastre. Outro tema recorrente na obra de Hitchcock é o 
da mulher em perigo como, por exemplo, em Psicose (1960).
A partir da década de 1970, come-
çaram a aparecer vários thrillers de sus-
pense tendo como base a conspiração, 
como, A Trama (Alan Paluka, 1974); Jo-
gos Patrióticos (1992) e Perigo Real e 
Imediato (1994), ambos de Phillip Noyce 
(1950-), protagonizados por Harrison 
Ford, como um agente da CIA; e A Iden-
tidade Bourne (2002), de Doug Liman 
(1965-), entre outros.
Outras referências de thrillers são o 
clássico Nosferatu, uma Sinfonia do 
Horror, de F. W. Murnau (1888-1031), 
realizado em 1922; A Noite dos Mortos-
-Vivos (George Romero, 1968), O Exor-
cista (William Friedkin, 1973), A Bruxa 
de Blair (Eduardo Sánchez e Daniel Myri-
ck, 1999) e a franquia Jogos Mortais (di-
versos diretores, 2004-2010).
Figura 24 – A Bruxa de Blair (1999), 
de Eduardo Sánchez e Daniel Myrick: 
orçamento baixo e faturamento alto
Fonte: Wikimedia Commons
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
300 Filmes para ver Antes de Morrer
MARON, Alexandre (ed.). 300 Filmes para ver antes de morrer. Rio de Janeiro: 
Globo, 2008.
Gramática do Cinema
BRISELANCE, M. F.; MORIN, J. C. Gramática do cinema. Lisboa: Texto & Grafia, 2011.
 Sites
Como Fazer o Seu Próprio Filme
Conheça os passos para uma produção simples.
https://goo.gl/wp03er
 Filmes
Saneamento Básico, o Filme
Direção: Jorge Furtado. 2007, cor, 112 min, Brasil. A comédia mostra moradores 
de uma pequena vila, na Serra gaúcha, que se reúnem para elaborar um filme barato, 
contando a história de um monstro que vive nas obras de construção de uma fossa. Uma 
pequena e engraçada aula sobre a produção de um filme. Com Fernanda Torres, Wagner 
Moura e Camila Pitanga.
 Visite
Cinédia Estúdios Cinematográficos
Rua Santa Cristina, nº 5, Santa Tereza, Rio de Janeiro. Contato: (21)2222.2430; 
<cinedia@domain.com.br>.
www.cinedia.com.br
Universal Studios/Hollywood
Único parque temático situado no centro de um estúdio de cinema real em funcionamento. 
Visitas aos bastidores.
http://www.universalstudioshollywood.com/
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UNIDADE Cinema e Produção Cinematográfica
Referências
BAHIANA, A. M. Como ver um filme. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
BARNWELL, J. Fundamentos de produção cinematográfica. Porto Alegre: 
BOOKMAN, 2013.
BERGAN, R. ...Ismos: para entender o cinema. São Paulo: Globo, 2010.
BERGAN, R. Guia ilustrado Zahar – Cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
EISENSTEIN, S. O sentido do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
RODRIGUES, C. O cinema e a produção. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
TURNER, G. Cinema como prática social. São Paulo: Summus, 1997.
Sites consultados
OCA/Ancine. Disponível em: <http://oca.ancine.gov.br/filmes_bilheterias.htm>. 
Acesso em: 23 nov. 2015.
CANALTECH. Computação gráfica. <http://canaltech.com.br/o-que-e/software/ 
O-que-e-CGI-e-computacao-grafica/>.
NOGUEIRA, L. Géneros cinematográficos – Manual de Cinema II. Universidade 
da Beira Interior. Covilhã/Portugal: Labcom, 2010. Disponível em: <http://www.
livroslabcom.ubi.pt/pdfs/nogueira-manual_II_generos_cinematograficos.pdf>. 
Acesso em: 2 dez 2015.
PASTORE, J. O Oscar, o cinema e os empregos. Disponível em: <http://www.
josepastore.com.br/artigos/ac/ac_099.htm>. Acesso em: 3 dez 2015.
PEREIRA, R. S.; AQUINO, K. A. da S. Pós-produção. Disponível em: <https://
www.ufpe.br/cap/images/quimica/katiaaquino/Quimicurta/pos-producao.pdf>. 
Acesso em: 4 dez 2015.
SALLES, F. Manual Básico de Fotografia e Cinematografia. Disponível em: 
<http://www.mnemocine.com.br/index.php/downloads/cat_view/52-parte-2-
manual-de-cinematografia>. Acesso em: 30 nov. 2015.
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