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UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO HOSPITAL VETERINÁRIO JOCKEY CLUB DE SÃO PAULO RAQUEL DOTTO DE FIGUEIREDO LESÕES GÁSTRICAS ULCERATIVAS EM DECORRÊNCIA DO USO DE ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS SÃO PAULO 2006 ii RAQUEL DOTTO DE FIGUEIREDO LESÕES GÁSTRICAS ULCERATIVAS EM DECORRÊNCIA DO USO DE ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Latu Sensu em Diagnóstico e Cirurgia de Eqüinos da Universidade de Santo Amaro em convênio com o Hospital Veterinário Jockey Club de São Paulo, sob orientação do Prof. Ms. Silvio Batista Piotto Júnior SÃO PAULO 2006 iii LESÕES GÁSTRICAS ULCERATIVAS EM DECORRÊNCIA DO USO DE ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS RAQUEL DOTTO DE FIGUEIREDO Monografia apresentada para a obtenção do título de Especialista Lato Sensu pela Universidade de Santo Amaro em convênio com o Hospital Veterinário Jockey Club de São Paulo. Área de concentração: Diagnóstico e Cirurgia de Eqüinos. BANCA EXAMINADORA Silvio Batista Piotto Junior Mestre / UNISA / HVJCSP Edson Lara Rodrigues Doutor / UNISA Silvia Cristina Oliveira Doutora / UNISA CONCEITO FINAL: ____________ DATA: _____ / _____ / __________ iv SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS 5 RESUMO 6 ABSTRACT 7 1. INTRODUÇÃO 8 2. OBJETIVO 8 3. REVISÃO DE LITERATURA 9 3.1. Anatomia e Fisiologia Gástrica dos Cavalos 9 3.2. Fisiopatologia das Úlceras Gástricas 14 3.3. Principais Situações Desencadeantes à Formação das Úlceras 15 3.3.1. Estresse 15 3.3.2. Habronemose 17 3.3.3. Presença da Bactéria Helicobacter sp. 18 3.3.4. Uso de AINEs 20 4. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO 27 BIBLIOGRAFIA 29 5 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Região pilórica normal com presença de muco protetor 11 Figura 2 - Anatomia do estômago 12 Figura 3 - Mucosa aglandular (Epitélio escamoso estratificado) 12 Figura 4 - Mucosa glandular 12 Figura 5 - Região divisória entre mucosa glandular e aglandular 13 Figura 6 - Região pilórica com mucosa normal 13 Figura 7 - Ulcerações aglandulares (setas) numerosas e extensas em animal assintomático criado em regime de estabulação 17 Figura 8 - Úlcera na região do piloro causada por estresse 19 Figura 9 - Úlcera causada pelo uso de Fenilbutazona 25 Figura 10 - Úlcera gástrica causada pelo uso de Flunixin meglumine 25 Figura 11 - Múltiplas úlceras na região aglandular 26 6 RESUMO Figueiredo, R.D. LESÕES ULCERATIVAS EM DECORRÊNCIA DO USO DE DROGAS ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS. Monografia apresentada para obtenção do título de especialista Lato Sensu em Diagnóstico e Cirurgia de Eqüinos da Universidade de Santo Amaro em convênio com o Hospital Veterinário Jockey Club de São Paulo, sob orientação do Professor Silvio Batista Piotto Júnior, São Paulo, 2006. O presente estudo procurou relacionar o aparecimento de úlceras gástricas e o uso de antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) em eqüinos. Visto a grande incidência desta afecção em animais mantidos em hípicas, jockey clubs e centros de treinamento, concomitante ao uso indiscriminado destas drogas, mostra ser este um dos fatores determinantes para o aparecimento de lesões gástricas ulcerativas. O surgimento destas erosões de mucosa está relacionado às alterações na proteção da mucosa estomacal, associados à falhas da produção de muco protetor e bicarbonato de sódio pelas células da região glandular, ou ainda, devido ao aumento da secreção de ácido clorídrico (HCl) e pepsinogênio no estômago, substâncias estas corrosivas à mucosa gástrica. Como estes fatores não estão exclusivamente associados somente ao uso de drogas antiinflamatórias, outras situações que desencadeiem esta patologia foram avaliadas por este estudo, com o intuito de mostrar as reais ocorrências das úlceras gástricas decorrentes do uso de AINEs. Palavras-chave: antiinflamatórios, úlcera gástrica, helicobacter, prostaglandina, eqüino. 7 ABSTRACT Figueiredo, R.D. ULCERATIVE LESIONS IN RESULT OF NONSTEROIDAL ANTI- INFLAMMATORY DRUGS. Monograph presented for attainment of the heading of specialist Latu Sensu in Diagnosis and Surgery of Equines of the University of Santo Amaro in accord with the Hospital Jockey Veterinarian Club of São Paulo, under orientation of Ms. Silvio Piotto Baptist Júnior, São Paulo, 2006. The present research shows the relationship between the gastric ulcers appearances and the use of non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs) in horses. There is a the great incidence of this pathology among animals established in Jockey Clubs and training centers, associated with the indiscriminate use of these drugs. This factor is believed to be one of many causes of the gastric ulcerative lesions. These mucosal injuries are believed to be related to the production of protector mucus and bicarbonate, or else, the increase of the HCl and pepsinogens secretion, corrosive agents to the gastric mucosa. As these factors are not exclusively associated only to the NSAIDs, other situations that are able to cause this pathology were studied in this research. The purpose of this, it is to show the real occurrences of NSAIDs ulcers related cases. Key words: anti-inflammatory, gastric ulcer, helicobacter, prostaglandin, equine 8 1. INTRODUÇÃO: Os antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) são drogas frequentemente utilizadas em medicina veterinária com o intuito de minimizar as respostas inflamatórias indesejáveis, bloqueando a enzima cicloxigenase, interrompendo a formação de tromboxanos, prostaciclina e prostaglandina, o que leva ao bloqueio dos efeitos inflamatórios (DOWLING, 1997). Porém, o uso destas drogas bloqueadoras da prostaglandina além de bloquear os efeitos que são considerados maléficos, inibirá as funções fisiológicas, exercidas pela prostaglandina, que poderá ocasionar problemas maiores posteriormente. Na função renal, a prostaglandina mantém o fluxo sanguíneo e produção de urina normal. Tem grande contribuição na formação óssea normal, portanto o uso de AINEs pode atrasar o processo de consolidação óssea das fraturas. No trato gastrintestinal, é responsável pela motilidade, inibição da secreção de ácido gástrico e aumenta a secreção de muco estomacal de proteção da mucosa. A perda destas funções, juntamente com outras causas, pode ser um forte fator desencadeante a formação de úlceras gástricas nos eqüinos. (MESCHTER et al., 1990). Devido à alta ocorrência de úlceras gástricas em eqüinos e ser este um dos efeitos tóxicos muito comuns em decorrência do uso de AINEs, este estudo vem reportar as relações e incidências destas úlceras com o uso destas drogas. 2. OBJETIVO A presente monografia é um estudo que tem por intuito elucidar as relações entre os efeitos do uso de drogas antiinflamatórias não esteroidais (bloqueadoras da cicloxigenase) e o aparecimento de lesões gástricas ulcerativas. O presente estudo destina-se ainda a esclarecer de maneira mais profunda os efeitos causados pela administração dos antiinflamatórios. 9 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA GÁSTRICA DOS CAVALOS O estômago dos cavalos é pequeno (8 – 15 litros) em relação ao resto do sistema gastrintestinal. A cárdia (entrada do estômago) e o piloro (saída do estômago) se localizampróximos devido ao formato em U do estômago. O estômago pode ser diferenciado em algumas regiões. No corpo do estômago (Corpus ventriculi) , encontra-se dorsalmente o fundo gástrico (Fundus ventriculi) . Ele se sobrepõe à cárdia no eqüino, sendo preenchido por gases, e denomina-se saco cego (Saccus caecus) (KÖNIG, 2004). A primeira porção do estômago do cavalo é o saco cego, separado pelo margo plicatus do corpo ventricular que termina no antrum pilórico (HAMMOND et al., 1986). O compartimento superior é composto por mucosa aglandular que é similar à mucosa esofágica. Este epitélio escamoso estratificado (aglandular) se estende até o margos plicatus e não possui presença de estruturas glandulares ou mecanismos de proteção de mucosa. Ainda não se sabe a função da área aglandular, mas acredita-se ser um local onde pequenas quantidades de digestão fermentativa (semelhante ao rúmen) possam ocorrer (CUNNINGHAM, 1993). Esta é uma região em que tem menor contato com a ingesta e ainda é considerada a área de maior incidência de formação de úlceras gástricas, primariamente por possuir pouca resistência à ação do ácido clorídrico e pepsina. O margo plicatus é a linha de divisão entre o epitélio escamoso (aglandular) e o glandular. O compartimento inferior é determinado por tecido glandular e secreção de muco. Esta região é a menos acometida pela formação de lesões, devido às propriedades protetoras da presença de muco e bicarbonato. A mucosa glandular do estômago é dividida em três regiões com diferentes tipos celulares: 10 a. Região de mucosa cárdica (glândulas cárdicas) Esta estreita parte da mucosa localizada adjacente ao margos plicatus, ao redor da abertura gástrica do esôfago, acredita-se ser responsável pela secreção de bicarbonato de sódio e muco protetor. b. Região de mucosa parietal (glândulas fúndicas ou próprias) Esta região é composta pela maior parte da mucosa glandular e ocupa a parte ventral do estômago (curvatura maior). A região de mucosa parietal é aonde se localizam as glândulas gástricas com presença de células parietais, responsáveis pela secreção de ácido clorídrico (HEPBURN, 2004). Distribuídas entre as células Esôfago Margo plicatus Região Glandular (Epitélio Glandular) Região Aglandular (Epitélio Escamoso) Duodeno 11 parietais no colo da glândula, há um outro tipo de células, as células mucosas do colo. Estas células secretam um muco fino, menos viscoso do que o das células da mucosa superficial. Além desta função secretora, são as únicas células do revestimento gástrico capazes de divisão e servem como células de substituição para o epitélio descamado (KÖNIG, 2004). Na base das glândulas gástricas, ainda existe um terceiro tipo de célula, as células principais. Estas secretam pepsinogênio, precursor da enzima digestiva pepsina. Após a secreção, os pepsinogênios são expostos ao conteúdo ácido do estômago, resultando em ativação das enzimas (CUNNINGHAM, 1993) (estimulada pela histamina via receptores de H2). c. Região de mucosa pilórica Esta região é localizada próxima ao piloro (esfíncter presente na área de transição entre estômago e intestino delgado). A maior parte das células presentes dentro destas glândulas (glândulas pilóricas) secreta (assim como na região cárdica) muco diretamente no lúmen gástrico, formando uma cortina de muco protetor (HEPBURN, 2004) (Fig.1). Este muco funciona como uma barreira alcalina e tamponam o valor do pH ácido do suco gástrico (KÖNIG. 2004). Fig.1 Região pilórica normal, com presença de muco protetor. (HEPBURN, 2004). 12 As maiores áreas superficiais do estômago estão cobertas por células mucosas superficiais. Estas células elaboram um muco persistente e espesso, característica especial do revestimento do estômago. A presença destas células mucosas e sua secreção são importantes para a proteção do epitélio gástrico das condições ácidas e a atividade trituradora presente no lúmen (CUNNINGHAM, 1993). A secreção das glândulas gástricas é estimulada pela expectativa de comer e pela presença de alimento não digerido no estômago, através de estímulo das células do sistema nervoso intrínseco gastrintestinal (GI), o qual, por sua vez, libera acetilcolina na vizinhança das células parietais. Estas células secretoras possuem receptores para acetilcolina em suas superfícies e respondem secretando HCl. A histamina desempenha um papel importante na secreção de HCl, mas não é completamente compreendido. Há receptores de histamina nas células parietais e parece que a secreção máxima por estas células é estimulada na presença de todos os três mediadores: acetilcolina, gastrina e histamina. A presença do HCl no lúmen estomacal estabelece o pH ácido, que tem importante função bactericida, inibindo o processo fermentativo da ingesta. À medida que a secreção e a digestão gástrica prosseguem, o pH do estômago diminui. Quando o pH gástrico cai para menos de 2, a secreção de gastrina fica deprimida e, em pH 1, esta secreção é abolida; portanto, o estímulo às células parietais é removido e a produção de HCl diminui (CUNNINGHAM, 1993). Em potros, a secreção de HCl começa ao segundo dia de vida. O pH estomacal pode variar entre 1.5 – 7 dependendo da região. A parte dorsal do estômago, (saccus caecus) tem o pH próximo ao neutro, acidificando ao se aproximar da região do margo plicatus (3.0 – 6.0) e na parte glandular (1.5 – 4.0). 13 Fig.3 Mucosa aglandular Fig.4 Mucosa glandular (Epitélio escamoso estratificado) (HEPBURN, 2004). (HEPBURN, 2004) Fig.5 Região divisória entre mucosa glandular e aglandular (HEPBURN, 2004) 14 Fig.6 Região pilórica com mucosa normal (Dep. de Cirurgia de Grandes Animais - FMVZ-USP) 3.2. Fisiopatologia das úlceras gástricas A úlcera gastrintestinal é uma das mais importantes causas de desconfortos abdominais em cavalos. Esta é uma complexa doença que acomete cavalos adultos e potros que associa lesões da mucosa do esôfago, estômago e duodeno. Conceitualmente, a gastrite é definida como inflamação superficial da mucosa, enquanto que as úlceras gastrintestinais são definidas como alterações da mucosa que destroem elementos celulares, resultando em falhas que podem se estender até a lâmina própria. As lesões menos severas são referidas como erosões e, frequentemente, são precursoras das úlceras (ANDREWS et al., 1999). Distúrbios gastrintestinais dentro do termo úlcera gástrica, muitas vezes ocorrem com sintomatologia (bruxismo, salivação excessiva, anorexia, etc.), ou ainda, como concluiu DEADO et. al. (1995), ser somente diagnosticado através de exames endoscópicos, já que muitas vezes não se observa presença de sinais clínicos que evidencie esta patologia. SILVA et al. (2002), em um estudo analisando gastroscopicamente animais submetidos ao tratamento com antiinflamatórios, não se obteve presença de sintomatologia característica às ulceras gástricas, mesmo nos casos onde se observou extensas ulcerações acompanhadas de sangramento, demonstrando que ausência de dor não estabelece parâmetro na síndrome de úlcera gástrica. 15 As lesões podem ser focais ou multifocais, afetar a região glandular ou aglandular do estômago, podem ainda ser duodenites ou úlceras duodenais (MURRAY, 1990 apud SMITH; MURRAY, 1991; MURRAY, 1992 apud ROBINSON). As esofagites erosivas em eqüinos podem ser induzidas pela presença de HCl e pepsina e ser agravadas pela presença de refluxo biliar (HEPBURN, 2004). A região do estômago dos cavalos mais frequentemente acometida é a mucosa aglandular ao longo do margoplicatus (SILVA et al., 2002). Esta determinação acredita-se estar relacionada à não tolerância desta mucosa em suportar os efeitos corrosivos do HCl e pepsina. Já a região glandular possui secreção de muco protetor e bicarbonato sendo estes, efetivos protetores contra as ações corrosivas do HCl e pepsina, o que seria a principal explicação à baixa incidência de lesões neste local. Outro fator a ser analisado é falta de diagnóstico de muitas lesões ulcerativas, que possivelmente poderiam estar presentes na mucosa aglandular, mas que devido à presença de muco e a deficiência no esvaziamento gástrico, não são observadas pelo exame endoscópico (HEPBURN, 2004). MURRAY (1989) estudando 183 potros de diversas idades confirmou a presença de úlceras gástricas em 94 animais. As lesões eram mais freqüentes no epitélio estratificado, adjacente ao “margo plicatus”, ao longo da curvatura maior do estômago, porém, também foram observadas algumas lesões na porção glandular do estômago e curvatura menor. Este estudo demonstrou haver correlação entre a descamação do epitélio estratificado e a formação de úlceras gástricas. A esôfago-gastroscopia é o método diagnóstico definitivo para identificar anormalidades esofágicas e gástricas em animais da espécie eqüina (KEIRN et al., 1982 apud SILVA; BROWN et al., 1985). BROWN et al., (1985) realizaram estudos, no qual, testaram o uso do gastroscópio de 275 cm de comprimento, podendo analisar facilmente estruturas gástricas e duodenais, sendo a presença de ingesta, em animais em que o jejum não havia sido corretamente conduzido, o único fator limitante. Estes autores confirmam que a gastroscopia é um método diagnóstico essencial para a determinação precoce de afecções do estômago de eqüinos. 16 3.3. Principais situações desencadeantes à formação das úlceras 3.3.1. Estresse Como observaram vários pesquisadores, o desenvolvimento de ulcerações gástricas pode estar associado não somente a predisposição individual, como também devido ao estresse em que são submetidos os cavalos atletas. Transporte, confinamento em baias, manejo inadequado, longos períodos em jejum alimentar, treinamento diário e competições são alguns dos exemplos de estresse presentes na rotina dos cavalos. As principais barreiras protetoras da mucosa estomacal são secreções de bicarbonato e muco pela região glandular, regulação da produção de HCl pelas prostaglandinas e restituição celular. O manejo alimentar dos cavalos pode influenciar na acidez gástrica e conseqüentemente, injúria da mucosa estomacal. Prolongados períodos experimentais de grande acidificação gástrica pode ser produzido alternando períodos de 24hs de falta de alimentação e livre acesso ao feno de boa qualidade, observando, após 96hs de supressão alimentar, o aparecimento de úlceras nas áreas da região aglandular (HEPBURN, 2004). Animais com acesso livre a pastagem possuem o pH próximo a 6. Isto acontece devido à neutralização do HCl pelo bicarbonato presente na salivação e também pela absorção da secreção de ácido na ingestão do alimento. Mudando cavalos mantidos em pastagem para o confinamento de baias, com feno a disposição por 7 dias resultou no desenvolvimento de erosões e ulcerações da mucosa aglandular (MURRAY, 1996). Estudos desenvolvidos com cavalos de corrida identificaram que 66% a 93% dos cavalos em treinamento apresentavam úlceras gástricas (HAMMOND et al., 1986; BORROW, 1993). Esta mesma observação foi feita por MCCLURE (2005), e ainda, concluiu que as úlceras são desenvolvidas após apenas 5 dias de início dos exercícios. Estas lesões, segundo o mesmo autor, se dão devido à exposição excessiva da mucosa estomacal ao acido clorídrico produzido no estômago. Esta porcentagem pode chegar a 93% na raça Puro Sangue Inglês em treinamento de corrida (MURRAY et al., 1996; MURRAY, 1997 apud ROBINSON). Recente trabalho apontou que o exercício aumenta a pressão intra-abdominal, produzindo uma compressão gástrica. Este fator promove a movimentação do líquido gástrico para a 17 área dorsal do estômago (epitélio aglandular), levando à exposição desta mucosa ao HCl (LORENZO, 2002 apud HEPBURN). Portanto, uma rotina de treinamento prolongado irá, obviamente, resultar e um aumento ainda maior desta exposição. Outro ponto a ser analisado como é o possível aumento na produção de HCl devido ao aumento na concentração de gastrina, observado em animais em exercício (FURR, 1994 apud HEPBURN). No entanto, em muitos dos estudos analisados, não havia presença de sinais clínicos associados às ulcerações. Ressaltando a grande probabilidade da presença desta afecção mesmo sem sintomatologia clínica em muitos cavalos mantidos em jóqueis, hípicas e centros de treinamento. Em eqüinos da raça puro sangue inglês submetidos à necropsia, HAMMOND et al. (1986), encontraram prevalência de 80% de úlceras nos animais em treinamento e de 52% nos não em treinamento para competições. Avaliando gastroscopicamente 60 cavalos quarto de milha assintomáticos, DEADO (1995) diagnosticou úlceras em 43,3% , principalmente na região aglandular, próxima ao margo plicatus. No Brasil foram avaliados os achados necroscópicos de 250 eqüinos, observando-se a presença de úlceras gástricas em aproximadamente 59% dos animais alojados em jóqueis clubes e de 20% em animais de outras procedências, com localização mais freqüente na mucosa aglandular (KLEMM, 2000). Fig. 7 Úlcera na região do piloro causada por estresse. (Dep. de cirurgia de grandes animais – FMVZ – USP 18 3.3.2. Habronemose A habronemose cutânea (feridas de verão) é uma moléstia resultante da migração intradérmica das larvas dos nematódeos adultos Habronema muscae, Draschia megastoma, e Habronema micróstoma. Os adultos residem no estômago, onde causam pouca reação tecidual, com exceção de Draschia megastoma, que produz nódulos gástricos de dimensões variáveis, próxima ao margo plicatus. As larvas são eliminadas nas fezes, onde então são ingeridas pelas larvas das moscas que atuam como hospedeiros intermediários. Habronema muscae e Draschia megastoma desenvolvem-se na mosca doméstica (Musca domestica); e Habronema micróstoma desenvolve-se na mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans). Em seguida, as larvas de terceiro estágio são depositadas em torno da boca do cavalo e são deglutidas, indo até o estômago, onde maturam até a fase adulta (SMITH, 1994). O parasitismo gástrico pelo Habronema sp., responsável por parasitar a porção glandular do estômago dos eqüinos, raramente leva a manifestações clínicas, mas pode causar gastrite catarral com excesso de produção de muco (THOMASSIAN, 1997; URQUHART et al, 1990 apud SILVA). Outro fator importante observado por SILVA et al. (2002), foi a correlação entre desenvolvimento de lesão e parasitismo gástrico ou estresse, que pode ser evidenciado pelo fato de que para os animais tratados com Cetoprofeno só houve surgimento de lesão naqueles que apresentavam o Habronema sp parasitando a região glandular, principalmente próximo ao margo plicatus, sendo que nesses casos, a gastrite causada pela verminose foi fator predisponente para a ocorrência de lesão descamativa ou ulcerativa. 3.3.3. Presença da bactéria Helicobacter sp. Helicobacter sp. são bactérias gram negativas capazes de se multiplicar no estômago mesmo com a presença de secreção gástrica, graças à atividade da enzima urease Esta enzima produz amônia, a partir da hidrólise da uréia, neutralizando a acidez do meio (BELLI, 2003). Em humanos, inúmeros trabalhos ilustram sua importância entre as causas de gastrite crônica, úlceras gástricas e duodenais. A presença do Helicobacter pylori 19 no homem é considerada a causa predominante de erosões e úlceras glandulares (MERTZ, 1991 apud HEPBURN) (Fig. 8). Em veterinária várias espécies desta bactéria têm sidorelacionadas com inflamação e ulceração gastrintestinal em diferentes espécies (JENKINS; BASSET, 1997 apud BELLI). No entanto, faltam trabalhos conclusivos que relacionem a presença de Helicobacter sp com a formação de úlceras em cavalos. Há relato de apenas um potro positivo para a presença desta bactéria, porém sem apresentar úlceras gástricas (COLLIER & STONEHAN, 1997 apud BELLI). BELLI (2003) em seus estudos identificou um animal positivo para o teste rápido de urease em eqüinos adultos. Este teste determina a produção da enzima urease pela bactéria, porém, este estudo não foi conclusivo devido à falta de meios de cultura específicos para Helicobacter sp no momento do exame deste animal. HEPBURN (2004) em seus estudos também conseguiu identificar a presença de Helicobacter sp em vários animais, porém faltam estudos que identifiquem quais são as espécies desta bactéria presentes no estômago dos eqüinos, e ainda, sua patogenicidade. Por fim, embora não haja estudos conclusivos sobre a relação entre o Helicobacter sp. e as úlceras, pode-se concluir que esta bactéria, também presente no lúmen estomacal dos eqüinos, constitui uma provável causa desta patologia, pelo que se faz necessário a realização de pesquisas que determinem esta relação. Fig. 8 Helicobacter Pylori. M.E. 10.000X Fonte: www.cellsalive.com http://www.cellsalive.com 20 3.3.4. Uso de antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) Modo de ação dos AINEs A inflamação é a resposta celular primária contra qualquer injúria realizada no organismo. Quando a membrana celular é lesionada, há a liberação das enzimas cicloxigenase e lipoxigenase que resulta na liberação de mediadores químicos fundamentais para o desenvolvimento do processo inflamatório. A quebra do ácido araquidônico pelas cicloxigenases origina as prostraglandinas (PGs) e tromboxanas (TXs) e prostaciclinas. Por sua vez, as lipoxigenases dão origem aos leucotrienos (LTs). Após a liberação dos mediadores químicos, inicia-se o processo inflamatório, primeiramente ocorre a vasodilatação (que confere o aspecto avermelhado ao tecido inflamado e promove calor na região) e aumento da permeabilidade vascular; estes eventos facilitam a passagem de proteínas plasmáticas para o tecido, carreando, consequentemente, uma grande quantidade de água, o que por sua vez, origina o edema (SPINOSA, 1999). O efeito da prostaciclina causa aumento do fluxo sanguíneo no local da inflamação, para assim aumentar o aporte de nutrientes, como oxigênio, leucócitos além de outras substâncias de defesa essenciais para o processo de regeneração tecidual (DOWLING, 1997). Porém, muitas vezes esse processo é exacerbado e, portanto, indesejável e passa a ser maléfico, tanto para o bem estar do animal, como para o processo regenerativo, já que o aumento de aporte sanguíneo levará a uma edemaciação e aumento de temperatura local e posteriormente, com a atividade da prostaglandina e tromboxano, resultará em vasoconstrição, dor, febre, agregação plaquetária e formação de trombos, reduzindo assim o nível de oxigênio, células de defesa e nutrientes recebidos pelo tecido (DOWLING, 1997). Os Antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) são drogas frequentemente utilizadas em medicina veterinária com o intuito de minimizar as respostas inflamatórias indesejáveis, onde a maioria dessas drogas age bloqueando a enzima cicloxigenase, interrompendo a formação de tromboxanos, prostaciclina e prostaglandinas (PGs). Isto resulta em um bloqueio dos efeitos inflamatórios anteriormente citados (MACKAY et al., 1983). Deve-se salientar que a prostaglandina também tem efeitos benéficos na função renal, sistema gástrico e reprodutivo e crescimento ósseo normal. 21 Existem dois tipos de cicloxigenases, que determinam no organismo diferentes funções fisiológicas: a cicloxigenase 1 (COX-1) e a cicloxigenase 2 (COX- 2). Os produtos da quebra do ácido araquidônico pela COX-1 levam à formação de PGs relacionadas com reações fisiológicas renais, gastrintestinais e vasculares; enquanto os produtos originados pela cisão através da COX-2 levam à formação de PGs que participam dos efeitos inflamatórios (SPINOSA, 1999). No rim, a prostaglandina mantém o fluxo sanguíneo renal e produção de urina normal. Em reprodução, a prostaglandina tem efeito luteinizante e gera contração uterina. A ação secretória de ácido gástrico é inibida pela ação da prostaglandina, aumenta a produção de muco de proteção gástrica e regula a motilidade do sistema gastrintestinal, além de promover a migração de leucócitos necessários para a reparação tecidual da mucosa quando lesada (DOWLING, 1997). Sabe-se que a maioria dos medicamentos antiinflamatórios atualmente utilizados na terapêutica bloqueia tanto a COX-1 como a COX-2, ocorrendo esta inibição em graus diferentes; os principais e mais utilizados AINEs atuam através da inibição preferencial da COX-1 em detrimento a COX-2. Este fato faz com que muitos efeitos colaterais estejam relacionados com o uso destas substâncias, como as gastrites difusas, erosões gástricas, ulcerações, gastroenterite hemorrágica, falhas renais agudas e crônicas, síndromes necróticas e nefrites (SPINOSA, 1999). Compostos estão sendo desenvolvidos com ação mais seletiva COX-2, na medicina humana, como Meloxican e o Celecoxib. Na medicina veterinária o Carprofeno tem demonstrado ser um importante inibidor seletivo COX-2. Portanto, hoje, há uma tendência mundial em se utilizar os AINEs com maior seletividade de COX-2 e menor possível COX-1 (ANDRADE, 2002). Fenilbutazona, Flunixin meglumine e Cetoprofeno são classificados no grupo de drogas antiinflamatórias não esteroidais inibidores de cicloxigenase mais amplamente utilizadas em medicina veterinária eqüina (MacALLISTER et al., 1993). ß Fenilbutazona A Fenilbutazona foi introduzida em veterinária em 1950, como principal indicativo ao tratamento de diversos distúrbios músculo-esqueléticos. A dose recomendada pelo fabricante é de 2,2 a 4,4 mg/kg a cada 24hs, via intravenosa (IV) 22 e 4,4 a 8,8 mg/kg a cada 8 ou 12hs por via oral (VO). Em 1979, foram relatados substanciais efeitos adversos em pôneis tratados com 10mg/kg de fenilbutazona por 7 a 14 dias (SNOW et al., 1979). Após este primeiro relato, muitos autores confirmaram o potencial desta droga em causar reações adversas tanto em potros como em cavalos adultos (MacALLISTER, 1983). MESCHTER et al. (1990) estudou a área pilórica de cavalos tratados com 13,46 mg/kg IV por 4 dias. Após 24 e 48hs, erosões superficiais da mucosa pilórica de 0,2 a 0,5 cm de diâmetro foram encontradas. Após 72hs, havia grandes áreas de congestão na região pilórica. Com 96hs, múltiplas áreas de erosão profunda (0,2 a 1,5 cm de largura e 1 a 3 cm de comprimento) foram notadas em todos os animais submetidos ao tratamento. ß Flunixin meglumine É uma potente droga antiinflamatória não esteroidal, recomendada para o uso em eqüinos. (SILVA et al., 2002). O uso deste medicamento, com efeito bloqueador da cicloxigenase, foi iniciado no final de 1970, e sua eficiência em problemas músculo-esqueléticos e cólica em cavalos e ainda sua atuação contra anti-endotoxêmica (MOORE et al., 1986 apud MacALLISTER, 1993). A dose antiinflamatória recomendada pelo fabricante é de 1,1 mg/kg, uma vez ao dia, durante 5 dias consecutivos, podendo ser administrada via parenteral ou oral. Os efeitos tóxicos desta droga em potros incluem diarréia e ulcerações gastrintestinais (MacALLISTER et al., 1993). Em experimento avaliando os efeitos adversos da administração de Flunixin meglumine em potros neonatos, CARRICK et al., (1989) apud SILVA, concluíram que esta droga, quando administrada na dosagem recomendada pelo fabricante, durante 5 dias consecutivos, não promoveu aumento significativo de lesões gastrintestinais. Entretanto, outros estudos,também realizados em potros, aos quais se administrou FM em dose de 1,1mg/kg durante 30 dias, demonstram que esta terapia resultou em ulceração gástrica e erosão da porção glandular do estômago, bem como estomatite (TRAUB-DARGATZ et al., 1988 apud SILVA). 23 ß Cetoprofeno Cetoprofeno é entre os três AINEs citados, a droga mais recentemente introduzida em medicina veterinária e foi aprovado o seu uso em cavalos em 1990. Este medicamento além de bloquear a cicloxigenase inibe, também, a lipoxigenase, levando ao bloqueio das respostas inflamatórias celulares e vasculares (SPINOSA, 1999). Devido a sua grande afinidade por tecidos sinoviais, o cetoprofeno é indicado no tratamento das afecções músculo-esqueléticas. Estudos realizados em eqüinos demonstram a eficácia do cetoprofeno no tratamento das afecções traumáticas, como artrites e sinovites traumáticas, tendinites, osteocondrites, edema de tecidos moles e edema pós-cirúrgico. Observou-se, também, que seus efeitos antiinflamatórios não diferem substancialmente em comparação ao flunixin meglumine, porém em alguns estudos observaram-se menos distúrbios gastro- intestinais em conseqüência de seu uso (DOWLING, 1997). Em estudo realizado por GREGORICA et al., (1991) apud SILVA, no qual foram utilizados 24 eqüinos, aos quais se administrou cetoprofeno em dose cinco vezes superior à indicada, por período de tempo três vezes maior que o recomendado, não foi possível observar efeitos tóxicos, demonstrando assim que esta droga tem ampla margem de segurança. A dose recomendada pelo fabricante é de 2,2 mg/kg aplicada um vez ao dia, durante 5 dias consecutivos, pela via intramuscular ou intravenosa (MacALLISTER, 1994). MacALLISTER (1993) promoveu um estudo comparativo entre fenilbutazona, flunixin meglumine e cetoprofeno durante 12 dias. Estes mesmos animais foram examinados em dias consecutivos, demonstrando progressiva manifestação de anorexia. Antes do início do uso dos medicamentos um exame gastroscópico mostrou que 15 dos 16 animais já apresentavam lesões na região aglandular do estômago, próximas ao margo plicatus. Segundo o autor, não se obteve alterações consideráveis nesta área aglandular após o uso dos AINEs, não possibilitando a avaliação comparativa dos efeitos causados pelo uso destes medicamentos. Histologicamente, erosões da mucosa glandular foram encontradas em todos os cavalos tratados com Cetoprofeno e Fenilbutazona, 4 dos 5 cavalos submeti dos ao uso de Flunixin meglumine. Já ulcerações na mesma região foram evidenciadas em todos os animais tratados com Fenilbutazona e Flunixin meglumine e apenas 2 dos 5 eqüinos tratados com Cetoprofeno. Necroses do córtex renal 24 foram identificadas em apenas animais tratados com Flunixin meglumine e Fenilbutazona. SILVA et al. (2002), em seus estudos, dos sete animais tratados com Cetoprofeno na dose recomendada pelo fabricante, três apresentaram pequenas lesões ulcerativas, em região de transição, durante a primeira avaliação, sendo que em dois animais essas mesmas lesões se expandiram e demonstraram sangramento após 5 dias. Já os cinco animais tratados com Flunixin meglumine que não tinham lesão prévia, três (N2, N6, N7) desenvolveram elevações e descamação em região aglandular após 48h, as quais se intensificaram após 5 dias, sendo que em dois (N2, N7) observou-se ulcerações agudas acompanhadas de sangramento. O animal quatro (N4) apresentou áreas de elevação e descamação em região aglandular após 5 dias, enquanto que apenas o animal um (N1) não desenvolveu lesões. Avaliando as erosões e úlceras orais, lesões e úlceras da região glandular do estômago e necrose do córtex renal, o potencial tóxico dos antiinflamatórios comparados no estudo mostrou ser maior para Fenilbutazona, menor para o Flunixin meglumine e o por último o Cetoprofeno. Uma possível explicação para o Cetoprofeno ser o menos ulcerogênico das três drogas avaliadas neste estudo é a habilidade deste antiinflamatório em, pelo menos, parcialmente bloquear a produção de alguns endo - produtos da lipoxigenase. Estes produtos vêm mostrando ser prejudiciais à mucosa gástrica (MacALLISTER et al, 1993). ß Monofenilbutazona A Monofenilbutazona é um agente antiinflamatório não esteróide derivado da Fenilbutazona que age como bloqueadora da cicloxigenase. Em um estudo de THUNE (1967), demonstrou-se a menor incidência de alterações renais, hematológicas e gastrintestinais nos animais tratados com Monofenilbutazona quando comparados à Fenilbutazona. A dose recomendada pelo fabricante para eqüinos é de 6mg/kg uma vez ao dia, durante 5 dias consecutivos, pela via intravenosa. A Fenilbutazona vem mostrando ao longo dos anos ser uma eficiente droga antiinflamatória, porém como foi mencionado anteriormente, a ocorrência de efeitos 25 colaterais indesejáveis ocasionados pelo seu uso é de grande importância (GOODMAN & GILMAN, 1965 apud THUNE). O desenvolvimento de uma droga com efeito farmacológico similar, mas com menor incidência de efeitos colaterais seria um grande avanço da medicina. Os resultados da investigação farmacológica e toxicológica da Monofenilbutazona sugerem que esta seja a droga de menor toxicidade e efeitos colaterais, porém, seu efeito antiinflamatório é mais fraco em relação à Fenilbutazona. É possível, no entanto, aumentar a dose para alcançar bons resultados clínicos, mantendo seus efeitos maléficos em níveis baixos (THUNE, 1967). O mesmo autor observou o desenvolvimento de úlcera gástrica em dois animais dentro de um grupo de 10 animais tratados com 600mg de Fenilbutazona via oral, durante os dois primeiros dias e 400mg nos dias posteriores a completar seis semanas de tratamento, já o grupo que recebeu 750mg e 500mg de Monofenilbutazona seguindo o mesmo protocolo, não se evidenciou a presença de ulceração. No entanto, ainda faltam estudos específicos que evidenciem as incidências de lesões gastrintestinais causadas por cada uma destas drogas. Fig. 9 Úlcera gástrica causada pelo uso de Fenilbutazona (Departamento de Cirurgia - FMVZ-USP) 26 Fig. 10 Úlcera gástrica causada pelo uso de Flunixin meglumine Fig.11 Múltiplas úlceras na região aglandular do estômago. 27 4. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Percentualmente, a grande incidência destas lesões devido aos efeitos colaterais causados pelo uso dos antiinflamatórios bloqueadores da cicloxigenase mais comumente utilizados na medicina eqüina. Evidencia-se, também, o fato destas lesões, muitas vezes, não apresentarem sintomatologia clínica, podendo chegar a 93% na raça Puro Sangue Inglês em treinamento de corrida (MURRAY et al., 1996; MURRAY, 1997 apud ROBINSON), o que dificulta para o clínico o acompanhamento e intervenção adequada. Além disso, mostra também, a predominância do aparecimento destas lesões na região aglandular, próxima ao margo plicatus. Acredita-se este fato estar associado à não tolerância desta mucosa ao excessivo contato com o HCl. A análise dos resultados desse estudo nos permite concluir que o estresse e parasitismo gástrico são fatores determinantes no desencadeamento de descamações e úlceras gástricas, sendo que o processo de ulceração, que ocorre principalmente na região do margo plicatus, é precedido por intensa descamação do epitélio estratificado aglandular. Portanto, estes fatores predisponentes juntamente com o uso de AINEs, podem causar graves danos à mucosa gástrica, mesmo em doses terapêuticas por curto período de tempo. Nos estudos comparativos entre as principais AINEs usados em medicina eqüina não se obteve resultados significativos quando avaliado a capacidade ulcerativa destas drogas. Porém, MacALLISTER (1993) em seus estudos, evidenciou que em relação às erosões e úlceras orais, lesões e úlceras da região glandular do estômago e necrose do córtex renal, o potencialtóxico dos antiinflamatórios comparados no estudo mostrou ser maior para fenilbutazona, menor para o flunixin meglumine e o por último o cetoprofeno. No entanto, neste mesmo estudo, em relação às lesões aglandulares, não se obteve resultados significativos em relação ao uso das diferentes drogas. Já THUNE (1967), comparando os efeitos tóxicos da Monofenilbutazona e Fenilbutazona, observou uma maior toxicidade em relação à Fenilbutazona, porém faltam estudos que possam esclarecer melhor esta toxicidade em relação ao trato gastrintestinal. Conclui-se, então, ser de grande necessidade a ampliação dos estudos comparativos entre os efeitos ulcerativos dos mais utilizados AINEs na medicina eqüina, obtendo, com isso, a possibilidade de implantação de protocolos preventivos com relação ao uso destes medicamentos, possibilitando, dessa forma, a prescrição de drogas com menor efeito ulcerogênico. 28 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, S.F. Manual de Terapêutica Veterinária. 2 ed. São Paulo: Roca, p.99 – 112, 2002. ANDREWS, F.; BERNARD, W.; BYARS, D. Recommendations for the diagnosis and treatment of equine gastric ulcer syndrome (EGUS). The Equine Gastric Ulcer Council. Equine Veterinary Education, v.11, p.262-272, 1999. BELLI, C.B.; FERNANDES, W.R.; SILVA, L.C.L.C. Teste de urease positivo em eqüino adulto com úlcera gástrica – Helicobacter sp. Arquivos do Instituto Biológico. São Paulo, v.70, n.1, p.17-20, 2003. BERTONE, J. J. Prevalence of gastric ulcers in elite, heavy use western performance horses. 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