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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CAMPUS MINISTRO PETRÔNIO PORTELLA CURSO MEDICINA VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE CLÍNICA E CIRURGIA VETERINÁRIA/CCA DISCENTE: SABRINA BRITO SILVA BRUCELOSE EQUINA: REVISÃO DE LITERATURA TERESINA 2024 SABRINA BRITO SILVA Brucelose equina: revisão de literatura Trabalho de Conclusão da Disciplina Clínica Médica De Equídeos apresentado como requisito complementar para finalização, pelo Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Piauí. Orientador (a): Prof. Dra. Mônica Arrivabene TERESINA 2024 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………………….… 4 2 REVISÃO DE LITERATURA………………………………………………………………..... 4 2.1 Fisiopatogenia da Doença …………….……………………………………………….………... 4 2.2 Epidemiologia ……………………………………………...…………………………...….…… 5 2.3 Sinais Clínicos …………………………………………………………………………………...6 2.4 Diagnóstico ……………..……….……………………………………………………………….6 2.5 Abordagem Terapêutica ……………………………………………………………………….…8 2.6 Controle e Profilaxia ……………………………………………………………………………..8 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………………….……….…. 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………………………….…………..…9 4 1 INTRODUÇÃO No Brasil, estima-se que a população de eqüinos seja em torno de 10 milhões de animais, localizados principalmente na região Nordeste do país, seguido das regiões Sul e Sudeste. Diversas enfermidades infecciosas acometem a espécie eqüina causando transtornos à sua saúde, entre as quais, a brucelose. Nesta espécie, a brucelose é uma doença infecciosa, de evolução crônica, de fácil contágio e com potencial zoonótico, que afeta outras espécies de animais, como os bovinos, bubalinos, suínos e inclusive o homem, sendo causada predominantemente pela Brucella abortus . Os sinais clínicos concentram-se na maior parte dos casos no sistema locomotor. Em contrapartida, nos ruminantes domésticos, em suínos e em cães, a brucelose afeta principalmente o trato reprodutivo. Na espécie eqüina, os prejuízos econômicos decorrentes da brucelose são considerados inferiores quando comparados às outras espécies de interesse zootécnico, em decorrência de ser raros os transtornos reprodutivos. Os programas de controle e erradicação da brucelose em ruminantes domésticos têm obtido êxito em vários países, reduzindo, significativamente, a prevalência da enfermidade. Porém, a presença dos reservatórios silvestres, a coabitação de espécies animais, a resistência do microrganismo em condições adversas no ambiente e a ausência de protocolos efetivos no tratamento da doença em animais são fatores que favorecem a manutenção do microrganismo no ambiente e em criatórios de animais domésticos, inviabilizando, por vezes, sua erradicação nos animais em determinadas regiões ou países. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Epidemiologia A Brucella abortus possui distribuição mundial com maior prevalência nas regiões tropicais e em países em desenvolvimento, apresenta elevada resistência e patogenicidade. Além disso, pode permanecer viável por vários meses em fetos, pastos e água contaminada, favorecendo a manutenção do patógeno no ambiente e a endemicidade nos plantéis, que resulta em infecção dos equinos e, diferentemente de outras espécies, uma elevada ocorrência de desordens articulares, podendo também atingir o sistema reprodutor. A infecção pelo agente etiológico da doença nos animais domésticos pode ocorrer pela via oral, mucosas, conjuntivas, venérea e, ocasionalmente, pela formação de aerossóis e via transcutânea. Sua transmissão ocorre através de contato direto dos equinos com membranas fetais, descargas vaginais e fetos abortados de outros cavalos e/ou bovinos infectados, ou por contato indireto, através da ingestão de alimentos ou água contaminada com Brucella abortus , fômites e infecções transplacentárias. Além disso, a infecção também pode ocorrer por meio de inseminação artificial, e considera-se, que a infecção seja 5 resultado do convívio dos eqüinos com outras espécies domésticas, em especial bovinos, bubalinos e suínos, em decorrência de que os eqüinos compartilham da infecção preferencialmente por B. abortus e, secundariamente, por B. suis (OLIVEIRA, M. S. C., et al. 2022). No Brasil, a brucelose é uma doença endêmica, considerada reemergente e uma das principais zoonoses. Apesar de haver o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT), criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que consiste em um conjunto de medidas sanitárias estratégicas buscando redução da prevalência e incidência da brucelose em bovinos e bubalinos, não há um detalhamento específico sobre as estratégias de controle da doença nos equinos, impossibilitando o conhecimento da situação epidemiológica atual dessa enfermidade no país (PINTO, L. H. G. et al, 2021). Dessa forma, a brucelose equina não possui medidas intrínsecas de controle e profilaxia. Além disso, os estudos direcionados à brucelose eqüina são escassos e usualmente descritos sob a forma de relatos de caso ou estudos soroepidemiológicos regionais, colaborando também para a dificuldade do esclarecimento da prevalência, dos mecanismos de transmissão, da predominância dos biotipos e suas inter-relações com a virulência na brucelose eqüina, bem como a relevância da co-habitação de espécies na ocorrência da doença, que permitiriam esclarecer a epidemiologia e o real impacto da enfermidade na espécie (PINTO, L. H. G. et al, 2021). Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) e OIE (Organização Internacional de Epizootia), a doença em equinos tem baixa importância econômica, entretanto, é preocupante, pois podem tornar-se potenciais hospedeiros e propiciar o desenvolvimento da doença em locais livres (PINTO, L. H. G. et al, 2021). A OIE classifica a brucelose como uma doença da Lista B, onde estão incluídas doenças que possuem importância socioeconômica e/ou para saúde pública, porém, a doença merece preocupação em virtude da debilidade orgânica que ela provoca nos animais, pelos prejuízos decorrentes da eutanásia dos infectados, além de constituírem uma fonte de infecção. 2.2 Fisiopatogenia da Doença A brucelose trata-se de uma enfermidade crônica infecto-contagiosa e de caráter zoonótico que acomete seres humanos, animais domésticos e silvestres. Nos equinos, é causada comumente pela Brucella abortus e, eventualmente, pela Brucella Suis . As bactérias do gênero Brucella são intracelulares facultativas, Gram-negativas, imóveis e não esporuladas, além de serem resistentes a diversas condições ambientais, incluindo extremos de pH, luz solar, temperatura e poderem resistir por até mais de seis meses na água, em pastos contaminados, em fetos abortados, fezes, restos de placentas, no solo e no feno. Após a contaminação, que pode ocorrer por via oral, mucosas, conjuntivas, venérea, aerossóis e solução de continuidade na pele, a bactéria se instala preferencialmente namucosa oro-nasal, mucosa do 6 trato gastrointestinal e linfonodos regionais, no qual multiplica-se e pode causar linfadenopatia, onde pode permanecer por semanas ou meses. Em seguida, dissemina-se através da corrente sanguínea para bolsas sinoviais, bainhas de tendões, ligamentos e articulações, causando distúrbios no sistema locomotor e reprodutor. A localização da bactéria do gênero Brucella nos órgãos está relacionada à concentração de eritritol, encontrado no útero gravídico, tecidos mamários, ósteoarticulares e órgãos do sistema reprodutor masculino. Os equinos, humanos, coelhos e roedores possuem baixa produção desse hormônio, justificando a menor frequência de impactos dessa doença no sistema reprodutor de tais espécies. 2.3 Sinais clínicos Nos equinos, a doença apresenta evolução crônica e se manifesta de forma distinta às outras espécies, pois transtornos reprodutivos são incomuns, embora possam ocorrer. As lesões são caracterizadas por inflamações em forma de abscessos de aspecto purulento em bursas, ligamentos, tendões, sinoviais e articulações, instalado preferencialmente na região da cernelha e/ou espinha da escápula (bursite supra-espinhal), que pode ter ou não fistulação, sendo, portanto, conhecida como de “Mal de Cernelha”, “Bursite Cervical” ou “Abscesso de Cernelha”. Quando fistulam, há a drenagem de secreção mucopurulenta, de cor turva e flocumento, onde está incluído o agente infeccioso da Brucelose. O período de incubação varia de uma semana até quatro meses, e na fase de bacteremia é extremamente fugaz na primoinfecção, e os animais tornam-se assintomáticos por meses, manifestando tardiamente os processos lesionais. À palpação, a região apresenta-se aumentada, endurecida, hiperêmica, quente, sensível e flutuante em um ou mais pontos, que tendem à abscedação de material purulento com infecção mista. Quando a infecção torna-se mais profunda pode ocorrer o comprometimento das apófises espinhosas das primeiras vértebras cervicais e torácicas. Os quadros de infecção generalizada, se manifestam por febre intermitente, rigidez, letargia, inapetência e dificuldade de locomoção, geralmente secundário ao desenvolvimento de sinovites em quase todas as sinovias das articulações e bainhas dos tendões dos membros. Raramente, em garanhões pode causar orquite, e as éguas podem mostrar irregularidade no cio, retenção de placenta e abortos. 2.4 Diagnóstico O diagnóstico de rotina da brucelose eqüina é baseado nos achados clínico-epidemiológicos e exames laboratoriais. Diante disto, faz-se necessário questionar a procedência do animal com a finalidade de reconhecer se advém de áreas endêmicas para brucelose, bem como se co-habita com outras espécies 7 domésticas, especialmente bovinos, bubalinos e suínos. Soma-se a esta conduta o exame físico com a observação da presença de aumento de volume e/ou fístulas em região de cernelha e espinha da escápula. A doença pode ser diagnosticada por métodos diretos ou indiretos. O isolamento e identificação da bactéria é realizado a partir de material coletado do conteúdo de abscessos de cernelha, ligamentos, articulações e, excepcionalmente, abortamentos. No entanto, devido a dificuldade de isolamento de Brucella spp em determinadas lesões, a contaminação por microrganismos oportunistas e o uso empírico de antibióticos na terapia de animais infectados, pode haver uma limitação do diagnóstico direto da brucelose equina. Sendo assim, o diagnóstico sorológico tem sido recomendado, pois apresentam simplicidade de execução, interpretação, custo acessível, uso massal, boa sensibilidade e especificidade, apesar da possibilidade de ocorrência de reações inespecíficas. Dentre os exames sorológicos mais utilizados atualmente para diagnóstico da brucelose eqüina no Brasil compreendem a prova de Wright/prova de “Bang” ou soroaglutinação lenta, prova de Huddleson ou soroaglutinação rápida e Teste de Aglutinação Sérica (TAS). A prova de Wright permite efetuar o diagnóstico das formas agudas de brucelose, pois identifica IgM, que aparece poucos dias após a exposição, aumentando rapidamente, atingindo valor máximo ao redor da segunda semana. Em seguida, seus níveis no sangue declinam, não permitindo, portanto, o diagnóstico de doença crônica. O teste baseia-se em uma reação de aglutinação que utiliza, como antígeno, uma suspensão de Brucella , inativadas por formol e pelo calor. Título superior ou igual a 1/80 indica uma brucelose ativa. A pesquisa de anticorpos anti-Brucella em animais domésticos pode utilizar, como material o soro sanguíneo. Já a prova de Huddleson é uma reação antígeno-anticorpo em placa, que detecta imunoglobulinas da classe IgM e IgG. Os testes empregados no diagnóstico da brucelose foram desenvolvidos com base no processo de formação de anticorpos, em resposta ao estímulo antigênico, resultando no processo de aglutinação. A produção de imunoglobulinas em animais de produção, após infecção por brucelas patogênicas, caracteriza-se pelo aparecimento de quatro isotipos: IgM, IgG1, IgG2, IgA. As Ig são dirigidas em sua grande maioria contra o lipopolisacarídeo (LPS) de membrana de Brucella spp . O isotipo IgG1 segue padrão semelhante ao IgM com picos mais tardios, tendendo a permanecer detectável por longos períodos. A classe IgG é a mais importante do ponto de vista diagnóstico em virtude de sua especificidade de ligação com os epítopos do gênero Brucella (RIBEIRO, G. M. et al., 2008). 2.5 Abordagem terapêutica O tratamento de animais com brucelose não é recomendado, pois há um grande risco de falha no procedimento, devido à bactéria ser intracelular e induzir lesões piogranulomatosas, que, portanto, limita a ação dos antimicrobianos de chegarem nas concentrações adequadas dentro dos fagócitos para eliminá-las, 8 além da resistência e manutenção do agente etiológico no ambiente, que acaba levando a prejudicar o controle e erradicação da doença no local. Nas espécies de alto valor zootécnico ou econômico, pode-se tentar o tratamento com estreptomicina e terramicina por várias semanas, apesar dos resultados serem ainda inconsistentes em alguns casos. Simultaneamente, deve-se drenar e/ou realizar excisões dos abscessos, tratar as fístulas da cernelha com antissépticos, nitrofurasona ou através de procedimento cirúrgico, nos casos em que há comprometimento de tecidos mais profundos. O controle de cura da brucelose deve ser clínico e sorológico, por meio do teste soroaglutinação rápida realizado semestralmente, até que o título baixe a 25 UI e se mantenha em duas provas consecutivas ou desapareça. Caso o título permaneça em 50 UI ou mais, a eutanásia deve ser considerada. Além disso, durante o decorrer do tratamento, o equino deve ser mantido em isolamento e as pessoas que irão manipular o animal deverão estabelecer medidas de proteção para que não se contaminem, já que a Brucella abortus facilmente infecta o homem.A recomendação de tratamento, advém de ensaios terapêuticos experimentais. Contudo, estes ensaios foram conduzidos em situações controladas, com pequeno número de animais e não mostraram efetividade que justificasse a manutenção dos eqüinos tratados no plantel, ou mesmo os riscos para o homem no manejo dos animais tratados, permanecendo a recomendação de eutanásia para eqüinos com diagnóstico microbiológico e/ou sorológico de brucelose (RIBEIRO, G. M. et al., 2008). 2.6 Controle e Profilaxia Atualmente, não há medidas específicas para controle e/ou profilaxia da brucelose em equinos. Portanto, no Brasil as medidas para prevenção se dá através do controle da doença nos bovinos, bubalinos e suínos, já que os equinos se contaminam, na maior parte dos casos, através dos dejetos e secreções destes animais infectados. Sendo assim, a vacinação de bezerras entre três e oito meses de idade com vacina atenuada B19 auxilia no controle da brucelose em eqüinos, principalmente em propriedades nas quais ocorre a co-habitação entre bovinos, búfalos e eqüinos. Os equinos devem ser adquiridos de propriedades livres ou não-endêmicas para brucelose, e a adoção de quarentena para animais recém-adquiridos também são procedimentos indicados no controle e na profilaxia. Na suspeita de animais infectados, deve-se isolar o animal e coletar material para o diagnóstico microbiológico e exames sorológicos. Na presença de animais positivos com isolamento microbiano e/ou sorológico, recomenda-se a eutanásia dos animais em frigorífico ou abatedouro inspecionado, além de investigação soroepidemiológica de animais contactantes. 9 Além disso, nas áreas de criação de bovinos ou búfalos com abortamento recente pela Brucella , no qual os eqüinos possuem acesso, recomenda-se impedir o ingresso de eqüinos e ruminantes por no mínimo seis meses, cortar a pastagem, bem como o destinar corretamente as carcaças e os líquidos fetais, devido a B. abortus permanecer viável por seis meses ou mais em pastos contaminados por fetos e líquidos de placenta de fêmeas bovinas ou bubalinas que abortaram. Ademais, realizar a desinfecção com cal ou creolina de todo o material que teve contato com o feto, membranas fetais e líquidos fetais contaminados 3 Considerações finais A brucelose equina trata-se de uma doença com potencial zoonótico, de evolução crônica, sendo causada predominantemente por Brucella abortus . Em equinos, não é caracterizada por distúrbios reprodutivos, apresentando-se principalmente por abscessos em região cervical, bursas, tendões e articulações. A transmissão ocorre na maior parte dos casos pelo consumo de água e pastos contaminados, principalmente em propriedades endêmicas para brucelose bovina. Não se recomenda o tratamento, e os animais infectados devem ser encaminhados para abate sanitário. O diagnóstico microbiológico é definitivo, e o sorológico é realizado utilizando, basicamente, as mesmas provas recomendadas para bovinos, apesar de não haver padronização de interpretação para a espécie eqüina. Referências bibliográficas OLIVEIRA, M. S. C., et al. Prevalência De Brucelose Em Equídeos De Tração No Semiárido Do Nordeste Brasileiro, Revista de Agroecologia no Semiárido , v. 6, n.2, p. 07, 2022. PINTO, L. H. G. et al, Importância Da Notificação De Brucelose Equina, CISPVET , 2021. RIBEIRO, G. M. et al. Brucelose eqüina: aspectos da doença no Brasil, Rev Bras Reprod Anim , Belo Horizonte, v.32, n.2, p.83-92, 2008. THOMASSIAN, Armen. Enfermidades dos cavalos. 4. ed. Sao Paulo: Livraria Varela , p. 537, 2005.
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