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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Educação
Curso de Pedagogia
Antropologia da Educação 
Profº.: Edgar Rodrigues Barbosa Neto
Aluna: Beatriz Engler Barbosa
Turma C - Manhã
Data: 31/01/2017
RESENHA
No ano de 2006, Eduardo Viveiro dos Santos, a pedido da ISA-SP, realiza uma entrevista abordando o tema Os povos Indígenas no Brasil, a fim de responder algumas questões sobre quem são os índios e o que define o pertencimento a uma comunidade indígena. Tal entrevista foi redigida e intitulada de “No Brasil todo mundo é Índio, exceto quem não é”. Três anos depois, abordando o mesmo tema, é publicada uma última versão, já reparada e com acréscimos, da palestra proferida pelo professor José Ribamar Bessa Freire, intitulada Cinco ideias Equivocadas sobre os Índios. 
Eduardo Viveiro dos Santos é professor de Antropologia no Museu Nacional, situado no estado do Rio de Janeiro e especialista em Etnologia brasileira. É um dos antropólogos, em ação, mais importantes, que dedica seus estudos, pesquisas, textos e falas, para apresentar questões sobre os indígenas. Em seu texto No Brasil todo mundo é Índio, exceto quem não é, que é de uma natureza mais política, aborda questões que buscam não só responder a pergunta “Quem é índio”, mas como escapar dela.
José Ribamar Bessa Freire também é professor universitário e dedica seus estudos ao Programa de Estudos dos Povos Indígenas. Em sua palestra ele discorre sobre ideias errôneas que temos sobre os índios. Seu texto utiliza linguagem simples e fácil de ser compreendida, o que facilita a leitura, a torna prazerosa e de reflexão direta para os leigos no assunto. 
Castro afirma que o objetivo dos antropólogos que estudam questões indígenas é de mostrar que ser índio não é utilizar cocar, arco e flecha, ter o corpo pintado, mas sim uma questão de “estado de espírito. Um modo de ser e não de aparecer” (2006, p. 3). Freire, ao apresentar o terceiro equívoco: “culturas congeladas”, diz que nós, brasileiros, ainda temos a mesma visão de índios daquela descrita por Pero Vaz de Caminha na época da colonização, que não avançamos nossa visão e que ficamos com uma imagem congelada. 
Diz ainda que, quando nos deparamos um indígena de blusa e calça, mexendo em um smartphone, nos causa um estranhamento, a ponto de dizermos que esse indivíduo não é mais índio, pois não tem as características de um. Em resposta a essa mudança, Freire fala sobre a interculturalidade, o que é um ponto interessante de ser tocado, pois nos faz refletir que, os brancos, por exemplo, se deixaram levar por outras culturas, modificaram seu modo de vestir com o passar dos anos e, mesmo assim, não deixaram de ser brancos. No entanto, se um índio muda seu modo de vestir, porquê, para nós, ele deixa de ser índio?
No Brasil, cerca de apenas 900 mil habitantes se declararam indígenas (IBGE, 2010), 0,47% da população. No entanto, essa questão proposta por Freitas é digna de ser refletida, uma vez que preferimos estereotipar determinada sociedade e situação a reflexionar sobre suas mudanças e características. E, buscar compreender os indígenas e “seu modo de vida não é apenas procurar conhecer “o outro”, “o diferente”, mas implica conduzir as indagações e reflexões sobre a própria sociedade em que vivemos” (FREITAS, 2009, p. 2).
O quinto e último equívoco apresentado por Freitas (2009), diz respeito a não consideração do brasileiro como índio. Fato este também comentado por Castro (2006), ao afirmar que o contexto que estamos vivendo é importante, uma vez que transformamos o dispositivo de sujeição da colonização, em posição de autônoma e diferenciada em todas as questões. Pois, apesar de sermos colonizados por europeus temos raízes africanas e indígenas, no entanto tendemos a nos identificar sempre com os europeus, esquecendo e deixando de lado nossas outras raízes.
Estão em consonância, ainda, quando refletem que, o caboclo é índio, o gaúcho é índio, a loira é índia, o camponês nordestino é índio, pois com isso entendemos que “a negritude e a indianidade não é marcada pela cor da pele, pelo tipo de cabelo, pela forma do nariz. Não é uma questão genética, é uma questão cultural, histórica” (FREITAS, 2009, p. 21).
Ambos os textos são de extrema relevância para entendermos melhor a situação indígena no Brasil. O tom irônico que há na escrita de Castro nos faz pensar como temos realizado perguntas mal feitas e supérfluas. Temos ignorado o que realmente importante e o que tem que ser questionado. Freitas, apesar de ter uma linguagem menos rebuscada, apresenta pontos importantes; ideias que estão incrustadas em nosso ser, que nos fazem estereotipar e nos deixam ingênuos ou até mesmo ignorantes. 
Castro, ao desenvolver seu texto demonstrando que o que o antropólogo quer é garantir a identidade indígena, nos deixa claro que ser índio não para quem quer ou simplesmente para quem se diz ser: é para quem se garante. 
Freitas, nos apresenta outro três equívocos que tomamos ao afirmar que inferiorizamos a cultura indígena, ao dizer que ela é atrasada; que pensamos que todos os índios constituem-se em uma coisa só, são apenas um bloco, homogêneo e sem diferenças e que os índios só pertencem ao passado e que não fazem mais parte de nossa sociedade.
Ambos os textos nos propõe reflexões importantes acerca das questões indígenas, visto que não podemos viver achando sempre que ser índio é ter cocar e pele pintada de urucum e não reconhecê-los quando estão vestidos de calça e blusa e frequentando uma Universidade. Ser índio vai além disso, é muito mais, ou menos (como diz Castro,2006) do que aparência. É se garantir, ter estado de espírito. É acreditar na interculturalidade e aceitá-la, pois o mundo todo e todas as sociedades mudaram, assim acontece, também, com os indígenas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTRO, Eduardo Viveiros. No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/No_Brasil_todo_mundo_%C3%A9_%C3%ADndio.pdf>. Acesso em: 26 out. 2017
FREIRE, José Ribamar Bessa. Cinco ideias equivocadas sobre os índios. Disponível em: <https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Rox3yfiGzREJ:https://xa.yimg.com/kq/groups/24109395/1317956017/name/Cinco%2Bid%25C3%25A9ias%2Bequivocadas%2Bsobre%2Bindios%2Bpalestra%2BCENESCH.pdf+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 26 out. 2017
Portal Brasil. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/governo/2012/08/brasil-tem-quase-900-mil-indios-de-305-etnias-e-274-idiomas>. Acesso em: 29 jan 2017.