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91 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 10 Direito contratual Contrato é um acordo de vontades em que cada uma das partes se obriga mediante a manifestação livre da vontade. Podem ser escritos ou até mesmo verbais. Todavia, a forma escrita sempre deve ser priorizada. Inegavelmente, os contratos possuem uma função econômica de grande relevância, basta lembrarmos que na história da evolução dos modelos econômicos o apoio do Estado no cumprimento dos contratos foi fundamental para o desenvolvimento inicialmente do mercantilismo e depois do capitalismo. Nesse sentido, os contratos permitem a circulação de riquezas, como um contrato de compra e venda, por exemplo. 92 Introdução ao direito Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Na prática empresarial, diversos contratos são celebrados. Neste es- tudo, traremos uma síntese sobre os princípios que norteiam o direito contratual, bem como algumas características dos contratos mercan- tis. Por fim, destacaremos alguns dos contratos de maior relevância na prática comercial. 1 Princípios contratuais Na celebração de um contrato, as partes devem observar alguns princípios. Esses princípios devem estar presentes em qualquer espécie contratual, inclusive nos contratos verbais. Sempre que pretender celebrar um negócio jurídico com outra pes- soa, antes mesmo da formalização do negócio, ou seja, antes de assi- nado o contrato, os contratantes devem agir com boa-fé, ou seja, sem intenção de lesar o outro ou obter vantagem indevida. Os contratantes devem estipular livremente as condições da contra- tação com relação ao preço, ao prazo, à forma de pagamento, às garan- tias ou qualquer outra condição. Coação, simulação ou qualquer fraude são capazes de anular todo o contrato. Embora as partes tenham liberdade a respeito das condições do contrato, este não pode ter por objeto bens ou atividades ilícitas. As par- tes também não podem fixar cláusulas que afrontem a lei e a ordem moral ou pública. Respeitadas essas condições, o contrato vira lei entre as partes. Esses princípios são fundamentais para o desenvolvimento da econo- mia de mercado. Qual seria a segurança de qualquer das partes ao ce- lebrar negócios com o receio de que as condições de contratação pu- dessem facilmente ser modificadas ou desrespeitadas pela outra parte sem a devida reparação? Nenhuma. Sem a garantia de que o contrato será cumprido, negócios não podem ser realizados. 93Direito contratual M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Quadro 1 – Princípios contratuais PRINCÍPIO DESCRIÇÃO Autonomia da vontade Refere-se à liberdade das partes estipularem o que desejarem na celebração do contrato, desde que não haja nenhum impedimento da lei. Supremacia da ordem pública Apesar de as partes terem a liberdade de contratar, essa liberdade encontra limites nos princípios morais e da ordem pública. Obrigatoriedade do contrato É o princípio segundo o qual o contrato faz lei entre as partes. Boa-fé É princípio considerado por alguns renomados doutrinadores, tais como Orlando Gomes (Contratos) e Arnoldo Wald (Obrigações e contratos). O princípio, de acordo com o artigo 422 do Código Civil (BRASIL, 2002), possui dois sentidos: Boa-fé objetiva: refere-se à conduta ética e moral do contratante antes, durante e depois da celebração do contrato. Boa-fé subjetiva: refere-se à intenção, a um estado de consciência do contratante que se manifesta na divergência entre essa intenção e o conteúdo do contrato. Fonte: adaptado de Nery Jr. e Nery (2006). O artigo 421 do Código Civil (BRASIL, 2002) estabelece a função so- cial do contrato. Vimos que a função primeira do contrato é promover a circulação de riquezas. Todavia, esse aspecto econômico não pode prevalecer sobre a função social. A lei não estabelece qual é essa fun- ção social, mas trata-se de uma visão que expressa os valores jurídicos, sociais, econômicos e morais dessa relação. Nery Jr. e Nery (2006, p. 411) esclarecem que o contrato estará de acordo com sua função social quando contiver valores de solidariedade, da justiça social, da livre iniciativa, quando for respeitada a dignidade humana e os valores ambientais. 2 Contratos mercantis No direito empresarial, os contratos celebrados entre empresários em razão de suas atividades empresariais são considerados contratos empresariais ou mercantis. 94 Introdução ao direito Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Diante disso, é certo que os contratos mercantis são dinâmicos, pois têm por objeto as relações de produção, industrialização, comércio e serviços. Outra característica dos contratos mercantis refere-se ao fato de que os contratantes encontram-se em posição de equilíbrio, não há hipossuficiência de um em relação ao outro, ou seja, não há parte mais fraca. Por isso, os contratos mercantis diferem-se dos contratos de con- sumo, conforme estudado em capítulos anteriores. Além disso, o contrato comercial sempre terá como objetivo o lucro de todas as partes contratantes. Para que seja devidamente constituí- do, o contrato mercantil precisa observar alguns requisitos. O primeiro deles é a capacidade das partes. Estão as partes devi- damente constituídas? Estão em situação regular? Há necessidade de autorização especial da diretoria ou de assembleia para a contratação? Aqueles que assinam o contrato têm poderes para isso? O segundo é o objeto do contrato. Como em qualquer negócio jurídi- co, esse objeto deve ser lícito, possível e determinado ou determinável. IMPORTANTE O objeto deve ser determinado ou determinável. Sempre que celebro contrato de compra e venda de veículo devo especificá-lo: marca, ano, modelo, cor, dentre outras características. Isso torna o objeto determi- nado. Todavia, o direito permite que eu celebre negócios jurídicos sobre um objeto determinável. Isso é frequente no agronegócio. Ao celebrar um contrato para comprar determinada safra de um produto, ainda não sei ao certo a quantidade, por isso meu objeto é determinável. Ainda com relação à forma, deve-se observar a forma prescrita na lei ou que não esteja proibida pela lei. Assim, se a lei determina que um contrato deve obrigatoriamente observar a forma escrita, ele não pode ser verbal. Se a lei não especifica que o contrato deve obedecer a forma escrita, ele poderá ser verbal ou escrito. 95Direito contratual M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 3 Espécies de contratos empresariais Existem espécies de contratos que são reguladas por lei, outras não. Esses contratos não regulados por lei são denominados contratos ino- minados ou atípicos. Contratos atípicos decorrem da necessidade dos dias atuais, da existência de novas formas do desenvolvimentodo co- mércio, bem como de novos produtos e tecnologias. Por isso, são co- muns na prática empresarial. Há contratos que são regulados pela lei e são denominados típicos ou nominados. Desses contratos típicos alguns são amplamente utilizados na prá- tica empresarial. Dentre eles, destacam-se: compra e venda mercantil, distribuição, franquia, factoring, representação comercial, transporte, le- asing, dentre outros. Quadro 2 – Contratos típicos utilizados na prática empresarial TIPO DE CONTRATO DESCRIÇÃO Compra e venda É o contrato pelo qual uma das partes (vendedor) se obriga a transferir para outra (comprador) a propriedade de um bem em troca de determinado preço em dinheiro. Cabem às partes acordarem a respeito do preço, prazo de entrega e quais são os bens objeto do contrato. É a espécie de contrato mais comum e, em razão da dinâmica empresarial, é muito comum sua celebração verbal. O vendedor comumente envia a proposta ao comprador com as condições da venda (preço, prazo e forma de entrega) e com o aceite do comprador, entende-se como celebrado o contrato. (cont.) 96 Introdução ao direito Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . TIPO DE CONTRATO DESCRIÇÃO Contrato de distribuição É o contrato pelo qual uma pessoa assume a obrigação de promover negócios (venda de produtos por exemplo) para outra, mediante uma retribuição (comissão), numa área específica (denominada zona de atuação). O distribuidor tem à sua disposição a mercadoria. Se não tiver, trata-se de um contrato de agência, e o distribuidor passa a ser denominado agente. O contrato de distribuição ou de agência é bastante comum, em especial pela redução de custos e esforços. Grandes marcas têm aderido à distribuição de produtos. Contratam o fabricante e imprimem a marca de sucesso. Por outro lado, aquele que fabrica o produto não precisa se preocupar em vendê-lo. O fabricante pode se especializar e se concentrar tão somente na produção, na medida em que o distribuidor ou o agente se preocupará com a realização dos negócios. Contrato de franquia É o contrato pelo qual um comerciante (franqueador) permite o uso de seu nome, marca e produto por outro (franqueado), eventualmente ainda pode lhe prestar serviços de organização empresarial, sempre mediante remuneração, sem qualquer vínculo empregatício. Essa espécie de contrato tem permitido aos pequenos empreendedores realizarem negócios. O contrato de franquia não garante o sucesso do empreendedor, mas a marca do franqueador e toda a assessoria na organização empresarial trazem maior segurança para o empreendimento. Grandes marcas também têm aderido à franquia na medida em que permitem a expansão dos negócios. Contrato de factoring É o contrato segundo o qual um comerciante vende parte ou o todo de seus créditos decorrentes de sua venda a um terceiro. O comerciante recebe o valor dos créditos e paga ao terceiro (empresa de factoring) uma remuneração. A vantagem desse contrato para o comerciante é que ele recebe de imediato um valor que receberia do cliente a prazo. As empresas de factoring devem ter autorização específica para realizar essas operações de crédito, e as instituições financeiras também estão autorizadas a realizá-las. Contrato de representação comercial É o contrato pelo qual uma pessoa (representante comercial) se obriga a realizar negócios em favor de outro (representado), em determinada área e com habitualidade. O representante deve ter independência na realização dos negócios, sem subordinação ao representado, sob pena de caracterizar um contrato de trabalho. Assemelha-se ao contrato de agência, mas há quem os distinga dizendo que o representante tem mais poderes e pode concluir o negócio; já o agente não o conclui, apenas prepara o negócio (a venda, por exemplo). Infelizmente é um contrato que tem sido utilizado pelas empresas para fraudar uma relação de trabalho. No entanto, nesses casos de fraude, a Justiça do Trabalho tem anulado os contratos e restabelecido as relações de emprego com o pagamento de todos os direitos ao trabalhador. (cont.) 97Direito contratual M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. TIPO DE CONTRATO DESCRIÇÃO Contrato de transporte É aquele contrato em que uma pessoa ou empresa se obriga a transportar, de um local para outro, pessoas, bens ou mercadorias mediante remuneração. Bastante comum na prática empresarial, o transportador é responsável por perda, furto ou avarias na mercadoria. Em razão dessa regra, é comum o transportador vincular o contrato de transporte a um contrato de seguro. Contrato de leasing É o contrato pelo qual uma pessoa cede a posse de determinado bem, que pode ser móvel (veículo, por exemplo) ou imóvel, por determinado prazo. Após o término do prazo, o arrendatário poderá adquirir o bem ou renovar o contrato. É um contrato complexo, uma vez que envolve uma locação com a opção de compra ao término do contrato. No agronegócio, essa espécie contratual é bastante usual, principalmente no arrendamento de fazendas. É uma espécie contratual bastante celebrada com instituições financeiras. Todavia, quando celebrada com as instituições financeiras, estas adquirem o bem para locar para o arrendatário. Entre os mais comuns na prática empresarial estão os contratos ban- cários. Nessa categoria se incluem os contratos de empréstimo (ou mú- tuo), financiamento, arrendamento mercantil, cédulas de crédito, dentre outros. PARA SABER MAIS As possibilidades de contratação na prática comercial são inúmeras. Diante disso, recomendamos a leitura da obra de Milhomens e Alves (2006). Considerações finais Este capítulo destacou a importância dos contratos nas relações ju- rídicas empresariais. Vimos o conceito, os princípios e algumas espé- cies de contratos mercantis. 98 Introdução ao direito Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .O assunto não se esgota com o presente estudo. A dinâmica do mer- cado traz novos modelos contratuais, insere novidades nos modelos tra- dicionais e, com isso, exige uma constante atualização do profissional. Destaca-se do estudo a função social do contrato. Ainda que o pacto tenha como função primeira a circulação de riquezas, a legislação bra- sileira estabeleceu certos limites. O limite é a função social do contrato. Qualquer contrato que venha a priorizar interesses individuais em de- trimento da dignidade humana, da solidariedade, da justiça social, etc. prejudica essa função social e deve, portanto, ser revisto, reequilibrado. Referências BRANCHIER, Alex S.; TESOLIN, Juliana D. D. Direito e legislação aplicada. 3. ed. Curitiba: IBPEX, 2006. BRASIL. Casa Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406. htm>. Acesso em: 7 nov. 2016. COELHO, Fábio U. Curso de direito comercial. v. 1, 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. DOWER, Nelson G. B. Instituições de direito público e privado. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. GOMES, Orlando. Contratos. 26ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2007. MILHOMENS,Jonatas; ALVES, Geraldo M. Manual prático dos contratos. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. NERY JR., Nelson; NERY, Rosa M. de A. Código civil comentado. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. WALD, Arnoldo. Obrigações e contratos. 14ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.
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