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Folha 227 - Ferrugem, seca e preços baixos afetaram safras de café na América Central

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Alameda do Café, 1000 – Varginha, MG – CEP: 37026-400 
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FERRUGEM, SECA E PREÇOS BAIXOS AFETARAM SAFRAS DE CAFÉ NA 
AMÉRICA CENTRAL 
J.B. Matiello, Eng Agr Mapa e Fundação Procafé 
 
 Na 2ª semana de abril corrente estive em visita aos 5 principais países cafeeiros da 
América Central, para transmitir, através de palestras, a experiência brasileira no controle da 
ferrugem do cafeeiro. Aproveitei, também, para observar as condições em que se encontram os 
cafezais e a sua produção, diante do ataque dessa doença e de outros problemas pelos quais a 
cafeicultura regional tem passado nos 2 últimos anos. 
 Verifiquei que, no geral, a cafeicultura vem enfrentando dificuldades. Primeiro foi a seca, 
em 2012, depois muita chuva e depois a ferrugem. Isso tudo e, com certeza, também o mal trato 
que vinha sendo dispensado às lavouras, em função dos preços baixos, provocou perdas 
significativas na safra de 2013. Para 2014, agora está iniciando o período de chuvas e de floração, 
prevendo-se uma pequena recuperação das safras. No entanto, as lavouras estão, em sua maioria, 
bastante desfolhadas. 
Vamos aos números que apurei com os técnicos em cada país. 
Costa Rica – Possui cerca de 93 mil ha de cafezais, que produzem, anualmente, cerca de 2 
milhões de sacas, portanto, com produtividade de cerca de 21 scs/ha. Em 2013, em função dos 
problemas, houve uma redução de cerca de 15% na safra. A ferrugem passou a ser grave também 
em áreas de altitude acima de 1200m, onde antes não era. Houve constatação de mais 2 raças 
novas do fungo, sendo que a raça 34 tem capacidade de atacar também os catimores(fatores 
v6...v8). 
Guatemala – a cafeicultura ocupa cerca de 276 mil ha, produzindo 3 – 3,5 milhões de sacas/ano, 
portanto com produtividade de 13 scs/ha. Em 2013 a perda de safra foi estimada em 500 mil 
sacas, ou cerca de 14%. Neste país sobressai a participação maior de médios e grandes produtores, 
com melhor nível, sendo responsáveis por cerca de 60% da área de café. 
El Salvador – a área cafeeira é de cerca de 150 mil ha e as safras normais tem variado de 1,1 a 
1,3 milhão de sacas/ano. Assim, a produtividade média tem sido muito baixa, na faixa de 8 scs/ha. 
A área, em sua maioria(70%), está em pequenas propriedades. A perda de safra em 2013 foi de 
cerca de 60% e em 2014 pode haver uma recuperação, com perda ainda de 25% sobre a safra 
normal. 
Honduras – possui uma área cafeeira de cerca de 280 mil ha e produz safra de cerca de 4,6 
milhões de sacas/ano, assim com produtividade de 16 scs/ha. Em 2013 a safra caiu cerca de 17% e 
está prevista recuperação em 2014. 
Nicarágua – a área cafeeira no país é estimada em 110 mil ha e as safras normais tem sido de 
cerca de 1,5 milhão de sacas/ano. A produtividade das lavouras é de cerca de 13 scs/ha. Em 2013 
a perda foi estimada em 25-30%. Para 2014 não deve haver boa recuperação produtiva devido à 
permanência do ataque de ferrugem e pela grande área recepada em 2013. 
 As condições de ambiente e de manejo observadas nas lavouras indicam que ocorrem, em 
todos os países visitados, situações favoráveis à evolução da ferrugem, destacando-se – 
a)Variedades cultivadas muito susceptíveis à doença, sendo a maioria de Caturra e Bourbon, 
apenas na Costa Rica e Honduras, havendo, já, uma boa participação do Catuai. Têm havido 
introduções de seleções de Catimores, como Cuscatleo, Lempira e CR 95, no entanto relatam sua 
bebida inferior e, já, ocorrência de infecções nas plantas. No aspecto de variedade, destacaram a 
boa qualidade e preço alto nos cafés da var Pacamara. Alguns países como a CR e Honduras estão 
distribuindo novas variedades para plantio, como o Obatã e outros. 
 
 
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b)Sistemas de espaçamentos adensados, normalmente na faixa de 1,7-2,0 X 1,0-1,20m, 
facilitando a manutenção de sombra e umidade dentro da lavoura, favorecendo a ferrugem e 
dificultando as aplicações de controle. 
c)Uso de sombreamento, com sombra, no geral, muito fechada, à exceção de CR que usa pouca 
sombra. Essa prática facilita a nutrição das plantas e a sustentabilidade da plantação, suportando o 
cultivo de variedades conhecidamente de pouco vigor, como a Caturra. No entanto, reduz a 
produtividade e facilita a evolução da ferrugem. Nesse sentido, foi observada a manutenção do 
inoculo da ferrugem, pela permanência de mais folhas velhas do ciclo produtivo anterior, por 
efeito da sombra, o que dificulta o controle. 
d)Cultivo em áreas, no geral, bastante declivosas, com ausência de caminhos nas lavouras, 
agravado pelo adensamento dos plantios, tudo dificultando a operacionalização das aplicações 
para o controle químico. 
 
 As condições favoráveis aqui levantadas, e, mais, as observações de campo, onde, mesmo 
antes do período infectivo, estando agora no final do período seco, foi observada muita infecção 
pela ferrugem, indicam que o problema da doença tem tudo para persistir. Deste modo, como 
ocorreu, a partir de 1970, no Brasil, deve haver uma significativa transformação na cafeicultura da 
América Central, com recuperação e renovação de cafezais, com novas tecnologias, pois a 
produtividade, no geral, tem sido muito baixa. 
Como nem tudo são espinhos, observei duas condições favoráveis, sendo o baixo custo da 
mão de obra, na maioria das regiões pagando-se, apenas, de US$ 3.00 - 5.00 por dia de trabalho 
no campo e o grande cuidado dos cafeicultores com a qualidade dos cafés, representando 
melhores preços do produto. 
 
 
Cafezal da variedade Caturra em bom estado, com controle da ferrugem, em uma grande 
propriedade na Guatemala, sombreado por Grevilea, mantida podada e, nas margens dos 
caminhos, com plantio de macadâmia. Nesta plantação foi aplicada, faz 2 anos,poda de 
esqueletamento. 
 
 
 
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Inóculo residual, por pústulas da ferrugem, em folhas velhas, na variedade Bourbon, na 
Guatemala. 
 
 
Vista geral de uma lavoura de café sombreada com ingazeiras, em El 
Salvador 
 
 
 
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Com a aplicação de um fungicida triazol as pústulas da ferrugem bem abortadas, em cafezal em El Salvador, 
indicando que o fungo está muito sensível a este tipo de fungicida. 
 
 
 
Pequena renovação de 
cafezal, com o plantio 
de variedade Catimor, 
em El Salvador. 
Lavoura de caturra sombreada, incluindo bananeiras, em 
área bem declivosa em El Salvador e nela viu-se plantas 
com alta desfolha (ao lado) pela ferrugem. 
 
 
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Cafezal caturra, sombreado com árvores nativas e ingazeiras, na zona de Matagalpa, 
Nicarágua 
 
 
 
 
Folhas terminais dos ramos com total 
infecção pela ferrugem, provocando 
forte desfolha. Matagalpa, Nicarágua. 
 
 
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Na Nicarágua, devido ao forte ataque da ferrugem, cafeicultores, desorientados, praticaram recepa, neste 
caso seletiva, mesmo em plantas jovens de Caturra, ao invés de proteger, com fungicidas, a sua folhagem.

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