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Madame Bovary
Considerada originária do realismo e um dos melhores romances escritos até hoje, essa obra narra, em prosa esmerada, a história de Emma Bovary. Entediada com a sua vida pacata e o casamento sem graça, Emma comete infidelidades que a conduzem a um triste final.
Entre os muitos méritos de Madame Bovary, cabe destacar a finura psicológica com que a protagonista é descrita.
Resumo do livro
O casamento de Charles e Emma
O médico rural Charles Bovary conhece Emma, uma jovem formosa da cidade, que está com o pai Rouault, paciente de Charles. Quando Charles fica viúvo, pede ao senhor Rouault a mão de Emma, que concede, e os dois se casam. Charles se sente muito satisfeito, mas Emma não se considera feliz.
As leituras de Emma
A primeira parte do romance conta com nove capítulos, que transcorrem em um ritmo lento e descrevem minuciosamente a psicologia de Emma. Assim, o leitor logo descobre a fixação de Emma pela leitura desde a adolescência, já que ela a ajuda a imaginar uma vida mais apaixonada, agitada e exótica que a sua.
A tranquila vida rural de Emma não satisfaz de maneira nenhuma suas expectativas. Cada vez ela se irrita mais com a simplicidade de Charles, sua falta de ambição e inquietude e seus costumes ordinários.
Além disso, Emma se sente muito sozinha, porque não encontra ninguém para dividir seus pensamentos e sentimentos. O tédio e a monotonia desesperam a protagonista.
O primeiro amante
Na segunda parte, a ação do romance se acelera. Emma fica grávida e tem uma filha. Apesar de conhecer algumas pessoas do povoado onde vive, como o farmacêutico Homais, continua entediada e cansada do marido.
Em uma ocasião, Rodolphe Boulander, jovem latifundiário e conquistador, tem a oportunidade de vê-la ao visitar o médico e decide seduzi-la. Quando consegue, Emma sente que finalmente algo emocionante pode romper o tédio de sua vida.
O segundo amante
Emma e Rodolphe planejam ficar juntos, mas ele na verdade não quer se comprometer, por isso abandona o plano e foge sem Emma. A protagonista cai doente com a notícia.
A terceira parte da novela retoma o ritmo pausado da primeira. Emma se apaixona por Leon, um jovem romântico, e com ele mantém uma idílica relação durante a temporada em que os dois se sentem felizes.
A decepção
Apesar do romantismo da relação com Leon, Emma se dá conta de que esse amor também não aplaca suas necessidades. Ela se decepciona.
As dívidas
A situação de Emma é cada vez pior: à insatisfação que Leon lhe causa, somam-se dívidas cada vez maiores, motivadas pelo enorme gasto que sua infidelidade gera.
Chega um momento em que os credores encontram Emma desesperada, já que ela tem de esconder as dívidas de seu marido.
O suicídio
As dívidas fazem com que Emma sofra a ameaça de um bloqueio de bens. Inutilmente, ela pede ajuda a Leon, que é incapaz de proporcionar o dinheiro de que ela necessita. Pede dinheiro a Rodolphe, seu antigo amante, que nega.
Desesperada, ela se envenena e morre. Charles Bovary cai na miséria por causa das dívidas da mulher e em pouco tempo morre também.
Dom Quixote de La Mancha
Em Dom Quixote de La Mancha, Miguel de Cervantes se propõe fazer uma paródia dos livros de cavalaria, mas o resultado ultrapassa esse propósito. A obra entrou para a história como a fundadora do romance moderno.
A estrutura de Dom Quixote
A primeira parte da obra foi publicada em 1605 e teve êxito imediato. Em 1615 Cervantes imprimiu a segunda parte.
A ação da primeira parte (1605), composta de 52 capítulos, começa com a adesão de Alonso Quijano à cavalaria andante. Com isso, Cervantes emula as aventuras dos livros de cavalaria. Desde esse momento até duas excursões – primeiro sozinho e depois com o escudeiro Sancho Pança —, o protagonista transforma a realidade com sua imaginação: vê castelos onde apenas há estrebarias, gigantes no lugar de moinhos e exércitos poderosos diante de rebanhos de ovelhas.
Na segunda parte (1615), composta por 74 capítulos, são relatadas as aventuras de Dom Quixote e Sancho em sua terceira saída da aldeia. Ambos agora são enganados, às vezes de um jeito cômico, por outras pessoas. A obra termina com o regresso do cavaleiro e do escudeiro à aldeia, onde Dom Quixote recupera o bom senso e morre.
Na primeira parte do romance, as aventuras de Dom Quixote são motivadas por sua própria imaginação, enquanto na segunda normalmente são provocadas por golpes das personagens.
Resumo da obra
Primeira parte
Alonso Quijano é um fidalgo modesto e já maduro que enlouquece por ler livros de cavalaria e decide emular os cavaleiros andantes. Ele adota o nome de Dom Quixote de La Mancha e sai em busca de aventura.
Como o herói que imita, ele oferecerá todos os triunfos àquela que acredita ser a sua dama, Dulcineia dei Toboso, que na realidade é a camponesa Aldonza Lorenzo.
Desde a sua primeira saída, Dom Quixote dá mostras de loucura. Em um moinho, que a ele parece ser um castelo, é armado cavaleiro em uma cerimônia ridícula e, depois de algumas aventuras sozinho, volta à sua aldeia. Ali convence Sancho Pança, um lavrador vizinho, a ser seu escudeiro, e em troca lhe promete como pagamento o governo de uma ilha.
Cavaleiro e escudeiro se colocam em uma série de aventuras em que Dom Quixote confunde a realidade com a ficção. Assim, por exemplo, Dom Quixote e Sancho encontram pelo caminho dois frades de São Benedito que acompanham uma mulher. Dom Quixote acredita que se trata de feiticeiros que raptaram uma princesa. Para salvá-la, o cavaleiro enfrenta o escudeiro da dama.
Em outro trecho do livro, Dom Quixote confunde alguns rebanhos de ovelhas com dois exércitos dispostos a entrar em guerra. Essa passagem, uma das mais conhecidas da primeira parte, é uma paródia das complexas descrições épicas dos livros de cavalaria:
A primeira parte da obra termina com Dom Quixote preso e entregue a sua casa, graças a uma armadilha que o padre e o barbeiro de seu povoado armaram.
Segunda parte
Mas o cavaleiro e seu escudeiro empreendem uma terceira saída. Nessa viagem, que chega até Aragão e Catalunha, serão vítimas de diversas trapaças.
Assim, na corte de alguns duques, Sancho é enganado ao ganhar a falsa ilha de Barataria; vendando-lhe os olhos, fazem com que ele acredite que está viajando com Dom Quixote e montado em Clavilenho, um fabuloso cavalo voador.
Enquanto na primeira parte, as aventuras do romance são motivadas pela fantasia de Dom Quixote, que com sua imaginação transforma a realidade. Na segunda, essa transformação é levada a cabo sobretudo pelas demais personagens, que inventam histórias fantásticas para enganar o cavaleiro.
Dom Quixote, que não deixa de acreditar em suas fantasias, já não é vítima do engano de seus sentidos e percebe a realidade como ela é, ainda que não dê crédito a essas percepções. Quando vê a triste e rotineira realidade, pensa que feiticeiros o encantaram.
O bacharel Sansão Carrasco, amigo da família de Dom Quixote, propõe-se a difícil tarefa de fazer o fidalgo retornar à sua aldeia. Disfarçado de Cavaleiro da Lua Branca, vence-o em Barcelona e o impõe a pena de fazê-lo retornar ao seu povoado. Ali, Dom Quixote sente que sua morte está próxima e faz um testamento. Antes de morrer, recupera o juízo.
Personagens principais
Dom Quixote
Desde as primeiras páginas, o leitor de Dom Quixote recebe uma descrição das características de seu protagonista. Esses dados são apenas o ponto de partida de uma evolução psicológica genialmente traçada que se desenvolverá ao longo da novela.
Dom Quixote é um fidalgo pobre da região espanhola de La Mancha, que tem recursos apenas para viver. Seu tipo físico esquálido era associado, na época, a personalidades coléricas e melancólicas.
A situação econômica e a natureza de seu caráter podem ter colaborado para seu refúgio na leitura desmedida dos livros de cavalaria, que causou sua loucura.
Sua fixação por esses livros é tão grande que ele chega a vender parte de suas posses para poder comprar mais exemplares. No entanto, trata-se de uma personagem de grande capacidade de raciocínio e bom juízo crítico em algumas questõesque não afetam parte de sua demência.
Sua Idade, levando em conta a época, é avançada: por volta dos 50 anos, o que torna ridícula (segundo os padrões da época) sua fixação pela cavalaria e seu amor idealizado por D.ulcineia,
Assim, a personagem decide fazer a cavalaria renascer e sai de sua aldeia vestido com as roupas de seus antepassados em busca de aventura.
Dom Quixote adota uma linguagem refinada, extraída de suas leituras, e leva consigo a vontade de plasmar na Mancha todos os ideais heroicos aprendidos nos livros de cavalaria.
Dom Quixote apresenta clara evolução psicológica, que se manifesta intensamente nos últimos episódios do romance. E assim se revelam o desencanto e a melancolia em que a personagem desemboca: quando Dom Quixote enfrenta uma realidade que exige verdadeiro heroísmo, não é capaz de suportá-la. A personagem diminui progressivamente até se apagar no leito de morte.
Sancho Pança
Sancho é um vizinho que decide acompanhar Dom Quixote em suas aventuras de cavalaria. Seu pragmatismo e seu gosto pelas posses se opõem às qualidades do patrão, mas sua ingenuidade e sua bondade permitem que ele conviva perfeitamente com Dom Quixote. É um personagem que representa a fidelidade: em Sancho, o amor sempre surge acima da trapaça e dos golpes que, às vezes, ele aplica.
Esses contrastes de seu caráter explicam que a personagem oscile em sua atitude: às vezes, guiado por sua credulidade e por seus desejos de vantagens materiais, participa das loucuras de Dom Quixote; e outras, por causa do pragmatismo, mostra-se apegado à realidade. Essa personagem não apresenta uma visão da vida oposta à de seu patrão; na realidade, é um elemento de ligação entre o mundo de Dom Quixote e a realidade puramente materialista de personagens como os duques, o bacharel e o barbeiro.
Como outras personagens da obra, Sancho também evolui ao longo do romance; seus processos e contrastes psicológicos proporcionam verossimilhança. Falando dele, Dom Quixote diz que “quando penso que vai fazer papel de bobo, aparece com umas atitudes que o levam ao céu”.
Outras personagens de destaque na novela são:
· Aldonza Lorenzo, uma lavradora que vive em El Toboso e que a imaginação de Dom Quixote converte na idealizada Dulcineia, uma dama refinada.
· Ginés de Pasamonte, um escravo que o Quixote liberta;
· o cura e o barbeiro, que conseguem prender o protagonista e devolvê-lo à sua aldeia mediante o engano da princesa Mícomicona;
· os duques, que acolhem Dom Quixote e seu escudeiro em sua terceira saída;
· o bandoleiro Roque Guinart;
· Dom Antônio Moreno, anfitrião dos protagonistas em Barcelona,
· o bacharel Sansão Carrasco, que disfarçado de cavaleiro da Lua Branca consegue que Dom Quixote volte definitivamente para casa.
Conclusão
O livro de Miguel de Cervantes retoma a história do povo espanhol e da Europa, retratando as aventuras de seus inúmeros cavaleiros, sendo por isso considerado a última novela de cavalaria. Critica também as atitudes da sociedade e como alguns componentes desta alertaram para o problema de Dom Quixote e se esforçaram para tentar solucioná-lo.
Os Maias, de Eça de Queirós
Eça de Queirós (1845-1900) levou dez anos para escrever esse romance. Composto de dois volumes, Os Maias é o mais extenso de todos os romances que escreveu.
A obra é composta de dois planos narrativos: o primeiro abrange as três gerações da família Maia, centrado em suas tragédias particulares que culminam no processo do amor incestuoso entre Carlos da Maia e Maria Eduarda; o segundo é uma crônica crítica da alta sociedade lisboeta de 1880.
Resumo do livro
Afonso da Maia, um nobre e rico proprietário, vive em Lisboa em uma casa denominada Ramalhete. É lá que se desenvolve grande parte da ação do romance.
Pedro da Maia, seu filho, casa-se contra a vontade do pai com Maria Monforte, filha de um traficante de escravos, um negreiro, como se dizia. Com ela, Pedro da Maia tem um casal de filhos. Porém, apaixonada por um napolitano, Maria Monforte abandona o marido e foge, levando a filha. Pedro da Maia se suicida e o filho – Carlos da Mala – é entregue aos cuidados do avô.
Afonso da Maia cria o neto e o encaminha para cursar medicina em Coimbra. Após formar-se, Carlos retorna ao Ramalhete e cerca-se de amigos intelectuais e da burguesia lisboeta.
Carlos vem a conhecer Maria Eduarda, esposa de Castro Gomes, um brasileiro. A pretexto de atender clinicamente a governanta inglesa de Maria Eduarda, miss Sarah, Carlos passa a frequentar a casa diariamente. Os dois tomam-se amantes, e Carlos compra uma quinta nos Olivais para seus encontros com Maria Eduarda. Assim, divide o tempo entre o Ramalhete e a Quinta dos Olivais, que procura esconder do avô.
Certo dia, Carlos da Maia recebe a visita de Castro Gomes que vem lhe contar que, embora em Lisboa todos dessem Maria Eduarda como sua esposa, ela, na verdade, era apenas sua amante. Embora livre para se casar com Maria Eduarda, outra tragédia irá se abater na família dos Maias.
Chega de viagem o senhor Guimarães, trazendo consigo um pequeno cofre que havia recebido de Maria Monforte, que morrera em Paris. No cofre, a revelação: Maria Monforte havia sido a esposa que levara o marido, Pedro da Maia, pai de Carlos, ao suicídio. Descobre-se, assim, que os dois amantes – Carlos e Maria Eduarda — eram irmãos.
O velho Afonso da Maia, vendo novamente a tragédia rondar sua família, morre. Maria Eduarda vai para Paris e lá se casa. Carlos parte para uma longa viagem. Dez anos depois volta para Portugal e reencontra os amigos, particularmente João da Ega, seu grande amigo desde os tempos de Coimbra. Juntos recordam o passado, com ironia e desesperança.
Utopia, de Thomas Morus
Utopia foi publicada em 1516 e alcançou êxito imediato. No livro primeiro dessa obra, Thomas Morus (1478-1535) critica a sociedade europeia da época, em especial a inglesa denunciando a depauperação de amplas camadas da população, originada no processo de acumulação de capital, na sede pelo poder e no expansionismo estatal que multiplicava as guerras.
No livro segundo, ele oferece uma alternativa radical para esse cenário. Apoiado nos relatos das viagens transoceânicas e dos grupos humanos encontrados pelos europeus nas Américas, descreve uma sociedade organizada de acordo com a razão – que, no livro, vive em uma ilha do Novo Mundo.
É interessante notar que o nome da obra, Utopia (palavra de origem grega que significa “lugar nenhum”), aponta para a impossibilidade da existência real dessa sociedade.
Morus acreditava na bondade humana, que considerava natural. Por isso, teoricamente, os homens poderiam formar sociedades justas e igualitárias. Por outro lado, julgava que as paixões tornavam as pessoas surdas à voz da razão, fato que as impediria de agir racionalmente. Essa ambiguidade está presente em Utopia.
Resumo e características de Utopia
O argumento de Thomas Morus em Utopia (1516) era uma manifestação do programa e das exigências do humanismo cristão. Para a realização empírica do ideal racional de justiça e fraternidade, a sociedade de Utopia é fechada, rigorosamente regulamentada.
Para Morus, a comunicação com o exterior, a improvisação e a espontaneidade poderiam gerar uma dinâmica de transformação que levaria à injustiça, a um distanciamento da razão.
A descrição da sociedade de Utopia revela tanto a influência dos modelos clássicos, especialmente da República de Platão ou da primitiva Igreja apostólica, como as aspirações do humanismo cristão de Erasmo de Roterdã, de quem Morus era amigo.
Assim, a sociedade utópica é fundamentalmente igualitária, não existindo nela a propriedade privada nem o dinheiro, e caracteriza-se por uma vida simples e sem luxos.
O trabalho é obrigatório nas atividades produtivas (agricultura e ofícios), que constituem a estrutura econômica da sociedade. Isso permite que, com uma moderna jornada de trabalho de seis horas, todos os cidadãos vivam num ambiente de bem-estar, satisfazendo necessidades naturais e racionais, quase sem desigualdade entre os sexos. No âmbito da política, os cargos são eletivose a educação é universal.
Sobre o autor
Thomas Morus estudou em Oxford e em Londres. Participou da vida pública de seu país, da qual foi um dos principais representantes, até entrar em desavença com o rei Henrique VII.
Teve de abandonar a vida pública até a subida ao poder de Henrique VIII (1509), em cujo reinado fez fortuna e ocupou importantes cargos políticos e diplomáticos. Apesar disso, opôs-se firmemente à Reforma anglicana e não aprovou o divórcio do rei.
A Hora da Estrela – Clarice Lispector
Publicado em 1977, ano da morte da autora, A hora da estrela é um romance que apresenta três histórias superpostas dialogando por toda a narrativa. De cara o romance já surpreende, por apresentar 13 títulos possíveis.
Resumo do livro:
Primeira narrativa
A obra de Clarice Lispector apresenta três histórias. A narrativa central é a história de Macabéa contada pelo narrador Rodrigo.
O narrador apresenta Macabéa de forma demorada e descontínua. Ao sintetizar que “o seu viver é ralo” e afirmar que ela era “incompetente para a vida”, relata suas origens: nascera raquítica, no sertão de Alagoas. Ficara órfã aos dois anos, fora viver em Maceió com uma tia beata, que lhe dava cascudos no alto da cabeça e a privava da goiabada com queijo, a única paixão de sua vida.
Vou agora começar pelo meio dizendo que – que ela era incompetente. Incompetente para a vida. Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma.
Depois vieram para o Rio de Janeiro, a tia conseguiu um emprego para ela e veio a falecer posteriormente, Macabéa então foi morar com mais quatro colegas de quarto.
Tudo na pensão era muito sujo e triste e combinava com Macabéa, cuja única diversão era ouvir a Rádio Relógio, que dava “hora certa e cultura”, mas ela não sabia direito o que fazer com as informações.
Segunda narrativa
A segunda narrativa se desenvolve paralelamente, mas encaixada na narrativa principal. Conta a história do narrador, que se apresenta como Rodrigo S. M. e se coloca ao mesmo tempo como autor da primeira narrativa. Dessa forma, fala o tempo todo sobre ele mesmo, e sobre a elaboração da obra.
Terceira Narrativa
A terceira narrativa é metalinguística e, portanto, encaixada na narrativa paralela. Seria, pois, a história de se escrever uma história (dificuldades da criação, da estruturação, da escolha das palavras).
A vertente metalinguística promove o grande elo entre as duas linhas narrativas: escrever o livro é, para Rodrigo, escrever Macabéa e escrever a si mesmo.
A história de Macabéa
Certo dia, Macabéa resolve mentir ao chefe que precisa ir ao dentista e tira um dia só para si, No dia seguinte, caminhando pelas ruas, conhece um nordestino como ela.
Olímpico é tão insignificante quanto Macabéa, mas era orgulhoso, vaidoso. Dizia-se metalúrgico, pois achava mais importante do que “operário”,
O casal passeava e aproveitava o que era de graça: banco de praça pública, ruas e avenidas, e, às vezes, paravam para um café. O diálogo entre os dois era quase impossível.
Olímpico, pela falta de atração física pela namorada e mesmo de diálogo com ela, rompe o namoro ao conhecer Glória, colega de trabalho de Macabéa. Olímpico e Glória começam a namorar e esta, sentindo-se culpada, aconselha à Macabéa que procure uma cartomante, para que ela desfaça sua má sorte.
Madama Carlota, ex-prostituta, põe as cartas à nordestina e espanta-se com a vida horrível de Macabéa. Carlota, porém, diz que tudo iria mudar a partir do momento em que Macabéa saísse de sua casa. Conheceria um estrangeiro rico chamado Hans, que lhe daria muito amor; ela iria engordar e até teria mais cabelo. Macabéa sai de lá desorientada e feliz.
Quando sai da casa da cartomante, é atropelada por Hans, que dirigia um automóvel Mercedes-Benz, momento em que a vida se torna “um soco no estômago”.
Macabéa ao cair ainda teve tempo de ver, antes que o carro fugisse, que já começavam a ser cumpridas as predições de madama Carlota, pois o carro era de alto luxo. Sua queda não era nada, pensou ela, apenas um empurrão. Batera com a cabeça na quina da calçada e ficara caída, a cara mansamente voltada para a sarjeta. (…)
A morte dela é o momento em que Eros (Amor) se une a Tanatos (Morte), vida e morte, num momento doce, e sensual.
Chegamos, afinal, ao momento da epifania do narrador fundido à Macabéa: é a vida que grita por si mesma, independente da opressão e da marginalização social. O momento, entremeado com silêncio, da consciência a que se chega pelo ato de escrever.
O Demônio Familiar
Em O demônio familiar, José de Alencar trata de alguns hábitos e valores da sociedade brasileira de seu tempo, principalmente o casamento por interesse. O autor enaltece também a família como grande célula social a ser defendida.
Com essa peça, José de Alencar provou que é possível fazer crítica social sem abrir mão da leveza da comédia, gênero tão apreciado pela burguesia da época.
Resumo do livro
Eduardo é um jovem médico, órfão de pai, que exerce o papel de chefe de família. Responsável pela mãe e pelos irmãos, opõe-se ao casamento por interesse.
Carlotinha, sua irmã, procura ajudar a amiga Henriqueta, pois sabe que ela e Eduardo se amam. Henriqueta, porém, foi prometida pelo pai em casamento a Azevedo, em troca do perdão de dívidas da família.
Azevedo, homem rico e pedante, valoriza somente o que é estrangeiro. Deseja casar-se apenas para desfilar com uma mulher bonita nos salões e, assim, angariar prestígio.
Por sua vez, Alfredo, amigo de Eduardo, jovem modesto, sincero e de bons princípios, está apaixonado por Carlotinha e por ela é correspondido.
Além desses personagens, há o escravo da família, Pedro, que tudo faz para realizar seu desejo: tomar-se cocheiro a fim de ascender socialmente, revelando, assim, a postura política do autor.
Dessa forma, ora favorece os amores de Carlotinha e Alfredo, ora de Eduardo e uma viúva rica, pois vê no casamento dos casais a concretização de seu objetivo.
As confusões que Pedro provoca entre os personagens são tantas que Eduardo lhe dá uma carta de alforria, dizendo:
Toma: é a tua carta de liberdade, ela será a tua punição de hoje em diante, porque as tuas faltas recairão unicamente sobre ti; porque a moral e a lei te pedirão uma conta severa de tuas ações. Livre, sentirás a necessidade do trabalho honesto e apreciarás os nobres sentimentos que hoje não compreendes.
O teatro de José de Alencar
José de Alencar (1829-1877) dedicou-se ao teatro com o objetivo de renová-lo. A estreia do autor no teatro ocorreu em 1857, com a peça Verso e reverso. Além de O demônio familiar (1857), escreveu ainda As asas de um anjo (1858) e O jesuíta (1861).
Senhora – José de Alencar
O romance “Senhora” de José de Alencar foi publicado pela primeira vez em 1875 e é organizado em quatro partes que definem uma transação comercial, simbolizando metaforicamente o casamento por interesse.
Resumo
Senhora faz uma crítica à união matrimonial por interesses financeiros. O casamento é descrito como uma transação comercial, o que fica explícito nos títulos das quatro partes que compõem a obra: “O preço”, “Quitação“, “Posse” e “Resgate”.
O preço
Na primeira parte, Aurélia, rica frequentadora da corte, é disputada pelos jovens da sociedade, em razão de seus dotes físicos e financeiros. Ela envia seu tio e tutor para negociar seu casamento com Fernando Seixas — rapaz de origem simples, mas que mantinha hábitos de moço rico – oferecendo a ele um dote para que ele se case com ela. No entanto, há uma condição: ele não saberia a identidade da noiva antes de aceitar o acordo. A princípio relutante, Seixas aceita.
Quitação
Na segunda parte, por meio de um fashback, revela-se a origem humilde de Aurélia e o início de sua relação com Fernando, que a abandonou por outra mulher. Também é esclarecido o motivo da ascensão social de Aurélia, que herdara a fortuna do avô que fora, antes, indiferente a ela.
Posse
Na terceira parte, Fernando está casado com Aurélia. Um casamento, porém, de aparências, em que ela o humilha por tê-lo “comprado”.Revelam-se, portanto, as contradições entre o falso comportamento do casal, em sociedade, e a real hostilidade que alimentam, na intimidade.
Resgate
Na quarta parte, a paixão que Aurélia ainda nutre por Fernando começa a suplantar o desejo de vingança. Ele também muda de comportamento: deseja devolver o dinheiro do dote e se ver livre. Mas, ao se despedir da jovem esposa, esta lhe faz uma grande declaração de amor. A partir de então, apaixonados, vivem um final feliz.
Análise do livro
Alencar ambienta Senhora na cidade do Rio de Janeiro. A obra enquadra-se nos chamados romances urbanos, em que o autor representa a capital do império de forma idealizada; ou seja, as tramas desenrolam-se num espaço que se assemelha a Paris ou qualquer outra capital europeia, e são omitidos problemas advindos de uma estrutura precária (se comparada a tais cidades estrangeiras).
Outro aspecto interessante é que os protagonistas dessas tramas (a maioria, de temática sentimental) pertencem à elite e retratam aspectos do modo de vida dessa classe no Brasil do século XIX: a maioria dos personagens não trabalha, segue a moda francesa e tenta reproduzir os divertimentos europeus (o teatro lírico, bailes e saraus).
Senhora narra a história de uma jovem, Aurélia Camargo, que, juntamente com as protagonistas de Lucíola e Diva, apresenta-se como um dos perfis femininos mais fortes dentro da obra do autor. Os três romances, ambientados no Rio de Janeiro (portanto, de temática urbana), formam o ciclo subintitulado “Perfil de Mulher”.
O Seminarista
O seminarista é um típico romance de tese, o que significa que o autor tem uma determinada ideia e deseja prová-la por meio de uma narrativa. A tese em questão é a de que o celibato clerical e a vocação forçada provocam a infelicidade e, possivelmente, tragédias pessoais.
Sobre o autor
Bernardo Guimarães nasceu em Ouro Preto, a 15 de agosto de 1825, e lá morreu no dia 10 de março de 1884. Notabilizou-se como romancista, embora tenha escrito versos líricos e humorísticos. As duas obras mais conhecidas do autor são O seminarista e A escrava Isaura, obras em que aborda o tema do celibato clerical e da escravidão, respectivamente.
Resumo de O Seminarista
Os pais de Eugênio, capitão Antunes e sua mulher, fazendeiros em Minas, obrigam o filho a ser padre. Eugênio passou a infância ao lado de Margarida, filha de uma agregada da fazenda. Dessa convivência nasceu o amor, e os pais do menino, para impedir o avanço dessa paixão, colocaram o filho num seminário, obrigando-o a seguir a carreira eclesiástica.
Mesmo no seminário, Eugênio não esquece Margarida. Seus pais, então, juntamente com os sacerdotes do Seminário de Congonhas do Campo, inventam a notícia do casamento da moça, o que desilude o rapaz e o faz aceitar a carreira que lhe fora imposta.
Quando retorna à vila natal, já como padre, é chamado para assistir uma doente, que era a própria Margarida. A moça lhe conta toda a verdade: fora expulsa da fazenda com a mãe, passara necessidade e jamais casara, porque ainda o amava. Eugênio sente renascer o amor por Margarida e, no dia seguinte, ambos se entregam à paixão. O padre sabe que cometeu grave pecado, pois traiu os votos de castidade, o que lhe causa grande remorso.
No dia em que se preparava para rezar sua primeira missa, é chamado para encomendar um cadáver que acabara de chegar à igreja. O corpo era o de Margarida. Eugênio não suporta o impacto da morte da amada e, na hora de sua primeira missa, acaba endoidecendo.
I-Juca Pirama – Gonçalves Dias
O longo poema I-Juca Pirama (aquele que há de morrer), é considerado por muitos o melhor poema indianista brasileiro (apresenta índios como personagens).
Gonçalves Dias, o autor, é o primeiro grande poeta do Romantismo brasileiro, sua poesia caracteriza-se pelo equilíbrio e pela harmonia.
O sentimento religioso, o patriotismo, o gosto pela natureza e a simpatia pela raça indígena dizimada são, no plano estilístico, resultante de uma longa vivência com a tradição poética em língua portuguesa, o que confere aos seus versos o equilíbrio adequado entre a intenção e a expressão, isto é, entre o que o poeta deseja escrever e o que efetivamente escreve.
Resumo
I-Juca Pirama narra a história de um guerreiro tupi que conduz o pai cego pela floresta. Quando este lhe pede comida e bebida, o filho, à procura de alimentos, cai prisioneiro dos timbiras.
Os guerreiros timbiras, num ritual antropofágico, devoravam os inimigos, desde que ele não manifestasse covardia.
Durante o ritual, num determinado momento, chamado de Canto de Morte, o prisioneiro deveria dizer quem era e se era um bravo. Foi nesse momento que o guerreiro tupi pediu que não fosse devorado, dizendo ser apoio de um pai cego.
Se fosse considerado bravo, ele seria devorado, porque os timbiras acreditavam que se fortaleceriam com a ingestão da carne do inimigo. Se fosse considerado covarde, seria libertado, porque temiam ingerir a fraqueza de um covarde.
Os timbiras entendem tratar-se de um covarde e o libertam, pois um guerreiro bravo não poderia chorar e pedir por piedade na hora da morte.
Libertado, o filho retorna ao pai. Este, ao saber que o filho chorara em presença da morte, maldiz o filho e o leva de volta à aldeia timbira para que seja devorado. Sozinho, o guerreiro tupi desafia todos os guerreiros timbiras, demonstrando, assim, sua coragem.
A história é narrada por um “velho timbira”.
Análise
A primeira geração poética do Romantismo brasileiro tem como tema principal o indianismo. A ideia da bondade natural dos primitivos tem sua origem nos Ensaios de Montaigne e, posteriormente, no “mito do bom selvagem” de Rousseau.
O índio brasileiro, visto pelos primeiros viajantes que aportaram nas terras brasileiras ora como um ser dócil, ora como um selvagem canibal, transformou-se, para a primeira geração romântica, em elemento de simplicidade que contrasta com a malícia e a hipocrisia do europeu.
Como ocorre em I-Juca Pirama, o índio será o símbolo do espírito livre, da coragem e da integridade de caráter, dotado de princípios morais rígidos, capaz de comparar-se ao mais nobre dos cavaleiros medievais europeus.
Dom Casmurro – Resumo e Análise
Publicado em 1899 por Machado de Assis, Dom Casmurro é um dos maiores clássicos da literatura brasileira. Narrado em primeira pessoa, faz paralelo com grandes obras da literatura universal.
Resumo da obra
Bentinho (Bento Santiago) e Capitu (Maria Capitolina) são vizinhos desde crianças. Na adolescência, percebem que há entre os dois um sentimento diferente da simples amizade.
Capitu tem personalidade forte, além de ser muito inteligente, enquanto Bentinho, mais frágil, muitas vezes mostra-se indeciso e dependente da vontade materna, tanto que, destinado a ser interno em um seminário, para posteriormente seguir a carreira de padre, por força de uma promessa de sua mãe (Dona Glória), é Capitu quem, sutilmente, age no sentido de anular essa obrigação.
Adultos, casam-se. Escobar, casado com Sancha, é personagem também importante na história. Maior amigo de Bento, amizade que vem da época adolescente dos dois, frequenta cotidianamente a casa de Bentinho e Capitu.
Escobar morre no mar, nadando, e, pela reação de dor manifestada por Capitu, durante o velório, considerada exagerada por Bento, este passa a desconfiar de que Capitu e Escobar poderiam ter tido um “caso”. Bentinho começa, inclusive, a achar que Ezequiel, seu filho, é parecido com Escobar. Essas suspeitas quase o leva ao suicídio.
O casamento chega ao fim. Capitu e o filho passam a viver na Europa, onde Capitu vem a falecer. Bentinho, sem êxito, tenta fugir da solidão, mantendo relações furtivas com outras mulheres mas se transforma em autêntico solitário, fechado em si e, na medida do possível, ignorando o mundo.
Deste comportamento lhe vem o apelido de Casmurro, sugerido por um rapaz que, tendo em vista a reconhecida cultura de Bento Santiago, lê para ele poemas de sua lavra, a fim de que Bento lhe dê opinião crítica a respeito, mas Bento Santiago, desinteressado por tudo e por todos, ignora-o.
Anosmais tarde, Ezequiel volta ao Brasil para visitar Bentinho, com quem trava diálogo amigável, porém distante.
Análise de Dom Casmurro
A obra consiste fundamentalmente na história de um jovem que busca unir as duas metades de sua vida: a primeira, marcada pela busca de um ideal de felicidade (um casamento feliz), e a segunda, marcada pela luta para recuperar essa felicidade por suas dúvidas e suspeitas.
Além disso, a obra celebrizou-se pelo fato de não apresentar um desfecho definitivo: o leitor não sabe se, de fato, Capitu veio a trair o marido, ou se o ciúme exagerado de Bentinho (demonstrado em tantos momentos da narrativa) faz com que ele fique obcecado pela ideia que está sendo traído.
O romance é narrado em primeira pessoa por Bento. Esta opção permite ao autor manter no espírito do leitor a dúvida quanto a fidelidade de Capitu. Porém, é preciso acentuar que o tema principal de Dom Casmurro não é o adultério. Este, se aconteceu, é de importância secundária, inclusive para o próprio Machado de Assis. A traição ou a não-traição de Capitu funciona como meio para as observações do autor, ao menos em parte, sobre as razões pessoais ou íntimas da conduta do homem.
Muito mais interessante e inteligente do que o eventual adultério nesta narrativa é a construção, lenta e gradativa, na mente de Bentinho, da possibilidade de ter havido adultério.
Capitu é uma das mais bem construídas personagens da literatura mundial, tendo em vista sua extraordinária complexidade psicológica. Além dela, merece ser citado o personagem José Dias, agregado da casa de Dona Glória – mãe de Bentinho –, por ser personagem de estruturação interessante. Enfim, Dom Casmurro é uma das melhores obras da literatura brasileira e universal; é um romance original, até mesmo no fato de que ele todo constitui-se em um flashback. Nele, o talento de Machado de Assis alcançou o ponto mais alto de sua capacidade técnica e inventiva.
Eneida, de Virgílio – Resumo
A Eneida narra a viagem que o herói troiano Eneias leva a cabo desde sua cidade, destruída pelos gregos, até a Itália e a posterior luta e vitória sobre os povos itálicos, o que supõe o estabelecimento na Itália de Eneias e de seus descendentes, que serão os fundadores de Roma.
Narrativa
Depois de seis anos de viagem, a deusa Juno perturba com uma tormenta a navegação dos troianos, que a duras penas conseguem desembarcar na Líbia. Ali Eneias se dirige à cidade de Cartago, e Dido, a rainha cartaginense, convida o herói a um banquete.
Dido, apaixonada por causa de um arranjo de Cupido, pede que Eneias trame a queda de Troia e a sua posterior vida errante. Depois da narração da Guerra de Troia de Eneias, os amantes se entregam à paixão, mas o deus Mercúrio recorda a Eneias a necessidade de partir em direção à Itália, já que os deuses esperam que sua descendência seja a fundadora do grande império que Roma deverá ser.
Eneias prepara a frota e abandona Dido, que se suicida depois de amaldiçoar os troianos e anunciar-lhes a eterna inimizade de Cartago. Dessa maneira, Virgílio explica, por meio da lenda, a origem da fundação histórica de Roma, as guerras que aconteceram entre cartagineses e romanos no século III a.C.
O mundo dos mortos
Eneias visita o mundo dos mortos e fala com alguns defuntos, que lhe narram o episódio da queda de Troia; também vê a rainha Dido e Ascânio, seu pai, que diz o futuro.
As armas divinas de Eneias
Eneias retoma e junto com seus companheiros se aproxima do rio Tíber, no centro da Itália, futuro berço de Roma. Ali, o rei Latino os acolhe benevolamente, pois reconhece em Eneias o genro estrangeiro que os dados haviam previsto.
Mas sua mulher, a rainha Amata, se opõe que sua filha Lavínia se case com um forasteiro, pois ela já está prometida a Tumo, rei dos rútulos, uma das tribos que habitam a região.
Tumo reúne seus homens e sai em combate contra os forasteiros. Eneias volta então ao Tiber e chega a Palanteia, pequeno povoado de pastores estabelecido no ponto exato em que mais tarde Roma será erguida.
Acompanhado por Evandro, rei de Palanteia, visita lugares que se tomarão famosos e faz com Evandro uma aliança para lutar contra Tumo e os rútulos. A deusa Vénus, mãe de Eneias, passa a Vulcano, deus do fogo e da forja, as armas que ele devera entregar a seu filho para enfrentar os inimigos.
Niso e Euríalo
O exército dos rútulos cerca o acampamento dos troianos, que esperam o retomo de Eneias. Dois jovens amigos, Niso e Euríalo, partem valentemente para avisar Eneias, mas são surpreendidos pelo inimigo e, depois de massacrar muitos deles, morrem por causa da superioridade numérica dos rútulos, o que deixa o acampamento troiano desesperado.
No final, Eneias chega com os seus aliados e a batalha acontece. Ao amanhecer, celebra-se uma trégua para que os mortos sejam enterrados. Para evitar que haja mais mortos e feridos, Tumo propõe um duelo final com Eneias; quem vencer se casará com Lavínia.
O poema termina com a narração do duelo: nele, Eneias derruba seu adversário, que suplica piedade, mas Eneias, ao lembrar os desmandos de Tumo, acaba com ele.
O Segundo Sexo
Escrita em 1949, O segundo sexo é a obra mais conhecida de Simone de Beauvoir. Sua publicação gerou um escândalo em diversos âmbitos como o da Igreja católica (foi incluída na lista de publicações proibidas) e o do governo da União Soviética.
Quando o livro apareceu, já estavam superadas – por ter alcançado seus objetivos — as reivindicações sufragistas. Simone de Beauvoir expõe o desenvolvimento da opressão masculina por meio da análise da história, da literatura e dos mitos, atribuindo os efeitos contemporâneos dessa opressão ao fato de ter-se estabelecido o masculino como norma positiva.
O mundo masculino apropriou-se do positivo (ser homem) e do neutro (ser humano) e considerou o feminino como uma particularidade negativa, a fêmea. Em consequência, a mulher foi identificada como “o outro”, o que levou a uma perda de sua identidade social e pessoal. O sexo feminino é limitado pelo conjunto inteiro do patriarcado.
A obra tem dois volumes. No primeiro, Simone apresenta fatos e mitos sobre as mulheres, analisando múltiplas perspectivas, incluindo a biológica, a psicanalítica, a materialista, a histórica, a literária e a antropológica. A autora esclarece que nenhuma delas é suficiente para definir a mulher, mas cada uma delas contribui para dar uma definição da mulher como a “outridade”, “o outro” diante do masculino.
O segundo volume começa com a famosa afirmação: “Não se nasce mulher, toma-se mulher“. Simone de Beauvoir procura mostrar o absurdo da afirmação de que as mulheres nascem “femininas” e devem ajustar-se ao que esse conceito supõe, em seu tempo e sua cultura.
Por meio da análise dos papéis de esposa, mãe e prostituta, ela mostra como as mulheres, em vez de realizar-se por meio do trabalho e da criatividade, são obrigadas a seguir vidas monótonas, tendo filhos, cuidando da casa ou sendo meros receptáculos da libido do homem.
A pensadora propõe uma série de demandas para conseguir a emancipação feminina. A mais importante é que se permita, à mulher, realizar-se por meio de projetos próprios, com todos os perigos e incertezas que eles possam acarretar. É inegável a influência de Simone de Beauvoir como precursora do feminismo na filosofia política.
O Crime do Padre Amaro
O livro O Crime do Padre Amaro tem como tema a influência do clero católico na vida provinciana, típica do interior de Portugal do século XIX. O cenário é a sociedade leiriense (Leiria), da qual a senhora Joane ira, conhecida por San Joaneira, pelo grau de devoção pelos santos e pela igreja, é uma espécie de líder religiosa, com seus regulares serões.
Joaneira tem uma filha, Amélia, jovem bonita, de pouco mais de vinte anos, a qual se envolve amorosamente com o jovem padre Amaro, vindo de Lisboa para exercer as funções próprias de um sacerdote na pequena província de Leiria. Desse relacionamento resulta Amélia grávida que, sozinha, passa a sofrer as humilhações oriundas do rude preconceito que lhe são impostas pela sociedade local,extremamente conservadora e provinciana de Leiria.
Amélia e a criança morrem como consequência do parto, enquanto padre Amaro, protegido pelos interesses da Igreja Católica, muda-se para Lisboa, onde continuará seu trabalho, tranquilo, como quem nada teve a ver com o ocorrido.
Amélia fora criada pela mãe, Joaneira, nos conformes de formação muita católica, da qual vinham o respeito e a admiração pelos padres e, por extensão, a total confiança neles, além de se tratar de moça dócil. Tudo isso concorreu para Amélia facilmente apaixonar-se por Amaro. Esse cenário fortalece um dos temas do autor que é a denúncia do oportunismo do clero, diante da crença e da falta de senso crítico dos fiéis, relativamente às práticas cotidianas da Igreja.
O abandono de Amélia à sua própria sorte e a isenção de Amaro aos olhos da instituição religiosa da qual fazia parte estruturam outra crítica de Eça de Queirós: o corporativismo do clero católico na defesa de seus membros, mesmo em detrimento da felicidade ou da dignidade de seus próprios fiéis.
Outras denúncias feitas pelo autor são o provincianismo da sociedade, seu conservadorismo hipócrita e a ignorância da elite política portuguesa considerando a realidade decadente da pátria, mediante as mudanças modernizadoras que vinham acontecendo em países como França e Inglaterra.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) é o romance inaugural do Realismo no Brasil e uma das obras-primas de Machado de Assis, pertencendo à fase realista deste autor, quando ele atingiu o ponto mais alto de sua carreira literária.
Resumo
O livro é narrado em primeira pessoa por Brás Cubas, protagonista do romance. Ele narra a história de sua vida após sua própria morte, por isso é identificado nos meios literários como defunto-narrador ou defunto-autor. Por ele, ficamos conhecendo fragmentos das várias etapas de sua vida: infância, juventude e vida adulta.
Na infância fora uma criança perspicaz, irreverente e, muitas vezes, desrespeitosa; na adolescência preocupara o pai quando se apaixonou por Marcela, prostituta esperta e interesseira que tira proveito do sentimento nutrido pelo jovem e da inexperiência dele, para explorá-lo, levando-o, inclusive, a furtar joias da mãe, para presenteá-la.
Em sua trajetória de adulto, Brás Cubas faz muitos planos, tanto pessoais como comerciais, mas, no geral, fica apenas nos planos, já que acaba por não dar sequência a nenhum deles, de maneira a conseguir o sucesso que a si mesmo prometia. Outros fragmentos dessa trajetória registram os amores de Brás Cubas, particularmente o vivido com Virgília, bela figura de mulher casada, com quem manteve relacionamento amoroso e íntimo por alguns anos.
Brás Cubas morreu como sempre vivera: confortavelmente, sob o ponto de vista econômico, mas termina seus dias de forma melancólica, tendo apenas Virgília ao seu lado que, piedosamente, vem estar com ele em seus últimos momentos de vida.
Análise do livro
Fica implícito que Machado de Assis utiliza-se de um narrador já morto como forma de passar o recado de que só depois da morte alguém pode se desvestir totalmente de qualquer interesse, preconceito ou compromisso e dizer, com toda sinceridade, o que pensa não só da sociedade, mas também das pessoas com quem convivera, às vezes por muitos anos, porque é exatamente isso que Brás Cubas faz na sua narração: comentários mordazes e irônicos sobre todos. É, portanto, por meio desse protagonista que Machado de Assis expõe seu pensamento sobre a sociedade hipócrita da corte, o Rio de Janeiro.
Brás Cubas é indivíduo oportunista, egocêntrico, indolente e improdutivo. Não são raras as vezes em que age de forma irresponsável ou comete erros, como o ocorrido em relação a Virgília: ela fora declarada sua noiva, oficialmente. Brás Cubas não leva o noivado à frente e nem consuma o casamento. Tempos depois, revela interesse por ela e, como Virgília ainda nutria algum amor pelo ex-noivo, não foi difícil a ele torná-la sua amante, só que, nessa época, Virgília já era casada.
Apesar das falhas de caráter de Brás Cubas e apesar dos comportamentos pouco recomendáveis, a sociedade o trata com deferência, distinção e respeito, afinal, Brás Cubas era companhia agradável, de boa cultura e, sobretudo, tinha posses materiais bastante razoáveis. É na soma de toda essa amálgama social que reside outra crítica de Machado de Assis. Fica claro, então, que os critérios sociais não estão sempre, necessariamente, em sintonia com valores como honestidade, dignidade, justiça e respeito.
Mito da Caverna
A dualidade ontológica é metaforicamente retratada por Platão em seu Mito da Caverna, contida no livro VII de um de seus principais diálogos, talvez o mais conhecido, A república.
Resumo
Também conhecido como Alegoria da Caverna esse mito relata, inicialmente, a condição em que os seres humanos estão, desde o início de vida, acorrentados no fundo de uma gruta subterrânea, completamente imobilizados e com seu campo visual restrito às imagens projetadas na parede natural que têm diante de si, onde sombras de seres humanos e de objetos movem-se com certa regularidade.
Seu horizonte perceptivo, portanto, limita-se a essa realidade, tida por esses seres humanos como o conjunto de tudo o que existe. Atrás desses prisioneiros, há uma realidade absolutamente desconhecida, um caminho elevado para o exterior da caverna, que consiste na abertura pela qual penetram réstias de luz, impedindo a total escuridão no interior da gruta.
Um muro separa a caverna da amplitude de seu ambiente exterior e, por trás dele, transitam frequentemente seres humanos carregando estatuetas que reproduzem formas humanas e animais. Uma parte desses homens transita em silêncio, enquanto outros conversam entre si.
Os seres humanos presos na caverna, convém destacar, ignoram essa realidade mais complexa e as causas profundas das imagens que visualizam na parede da gruta, isto é, acreditam que nada existe além daquelas sombras que se oferecem à sua visão e as recepcionam, equivocadamente, como a realidade completa, que seria formada, então, por contornos de animais e de seres humanos, circulando e conversando no espaço restrito do fundo da caverna.
Desconhecem o fato de que, atrás de si, há uma via que conduz a uma realidade externa à caverna, ignoram a existência de seres humanos que transportam objetos, ignoram os próprios objetos, ignoram a paisagem natural além da gruta, ignoram, enfim, a existência de um mundo amplo e complexo, a verdadeira origem das sombras por eles assumidas como a totalidade do real. Confundem, dessa forma, a aparência com o ser.
O Mito da Caverna contempla, metaforicamente, o conjunto conceitual da filosofia platônica.
Na sequência da narrativa alegórica, um dos prisioneiros consegue se desfazer de suas correntes. Nos primeiros momentos, é arrebatado por um severo desconforto, dores decorrentes de um corpo acostumado à imobilidade e, subitamente, exposto à liberdade.
A ampliação de seu campo visual igualmente incomoda seus olhos. Em seguida, arrisca alguns movimentos e, em meio à alternância de hesitações e avanços, percorre receosamente o caminho que o conduz à saída da caverna, orientando-se pelos fachos de luz. Surpreende-se ao atingir o exterior da caverna e seus olhos, habituados a visualizar unicamente as sombras na parede da gruta, são incapazes de acolher de imediato a vastidão do mundo desconhecido. Inicialmente, o antigo prisioneiro observa somente as sombras de seres humanos, objetos e vegetações que se espalham pelo chão.
Aos poucos, expande seu olhar. Contempla as imagens refletidas sobre a superfície das águas, dirige gradualmente seu olhar aos próprios elementos ao seu redor – seres vivos, natureza, construções humanas.
Acostumando-se devagar à complexidade do mundo descoberto, atinge o momento em que consegue elevar seus olhos na observação do céu. Por fim, torna-se capaz de atingir o princípio supremo, fonte de iluminação de todas as coisas que podem ser vistas, ou seja, olha diretamente para o sol.
Esse ex-prisioneiro, então,conhece profundamente a realidade e percebe as sombras do fundo da caverna, antes confundida com a realidade plena, como uma reprodução consideravelmente distorcida de um mundo complexo e superior.
Para esse ser humano, que agora conhece efetivamente os seres, decerto não é agradável retornar ao subterrâneo da gruta. Mesmo assim, ele retorna com o propósito de comunicar suas descobertas aos seus companheiros de prisão, para que estes possam realizar o percurso ascensional de conhecimento do mundo.
O retorno ao fundo da caverna seguramente ofenderia sua visão, perturbada pela escuridão predominante no ambiente, o que seria percebido pelos seus habitantes como um mal irreparável que atingiria todos os seres humanos que se projetassem além de sua condição primitiva. Possivelmente, prefeririam todos permanecer na situação em que se encontravam e talvez até matassem aquele que tentasse convencê-los a romper suas correntes.
Conclusões sobre o Mito da Caverna
O Mito da Caverna de Platão remete à teoria das ideias, ao dualismo ontológico, à diversidade temática e ao conjunto conceitual da filosofia platônica.
O interior de sombras da caverna representa a existência no plano sensível, o mundo em que vivemos com nossas paixões, com nossos hábitos e com nossa racionalidade, em que tudo se transforma sob o devir.
O exterior da caverna nos conduz ao plano das ideias, aos seres puros, que são acessíveis unicamente pelo pensamento. O mundo das sombras é real? Possui, sim, realidade, à medida que se fundamenta no plano superior, existente além dos limites da caverna. Trata-se, porém, de um nível inferior de realidade, que apenas é compreendido no conhecimento de suas causas, na ascensão para a realidade superior, na exterioridade da caverna.
O deslocamento do prisioneiro, com sua gradual descoberta do mundo do qual derivam as sombras, indica o processo de conhecimento, de ultrapassagem dos sentidos pela razão que se encontra com as ideias. Não por acaso, o olhar direcionado ao sol corresponde ao ato final no reconhecimento do mundo.
O sol simboliza, no Mito da Caverna, a condição de possibilidade da visão de todas as coisas, aludindo metaforicamente ao bem, que é a ideia suprema da filosofia de Platão, conferindo completa inteligibilidade e ordem ao todo.
Mas o conhecimento, afinal, tem sua origem nas sombras ou no exterior da caverna? Transferindo a linguagem alegórica para a dimensão conceitual do sistema filosófico de Platão, a questão assim se coloca: o conhecimento inicia-se com os sentidos ou tem sua fonte na razão?
Casa de Pensão
Casa de Pensão, narrativa cujo autor é Aluísio Azevedo, foi publicada em 1884 e é bem ao gosto naturalista, a exemplo de O cortiço, tanto que se fundamenta em um caso verídico (Questão Capistrano).
Tem como foco a trajetória de Amâncio, jovem provinciano do Maranhão, mandado pelo pai rico para a corte, onde poderia fazer um bom curso de medicina, à altura da capacidade do filho.
Amâncio era um jovem com algum talento, mas estava mais interessado em “curtir” o Rio de Janeiro do que se esforçar para exercer a profissão de médico, afinal não precisava do diploma, dada a riqueza do pai.
Morando em pensões de má qualidade, envolveu-se em situações não desejadas porque se julgava suficientemente esperto para viver levando vantagens e aproveitando-se de certas oportunidades.
Depois de um julgamento no qual fora acusado de sedutor, foi inocentado, mas acabou morto pelo irmão da mulher que seduzira.
Uma das últimas cenas da narrativa mostra a mãe de Amâncio chegando ao Rio para visitar o filho, assustada com o movimento da cidade. Acreditava que encontraria o filho cumprindo tudo o que a família e a província esperavam dele, até que viu uma foto estampada em uma vitrine de um estabelecimento comercial, que retratava o filho morto, com o dorso nu, deitado em uma mesa de necrotério.
O Naturalismo, presente na obra Casa de Pensão, é uma vertente literária dentro do Realismo. Suas características específicas são: o determinismo, sendo as personagens modificadas pelo ambiente em que vivem, pelo momento histórico e pela herança genética; a animalização e sexualização das personagens; e a inclinação ao pensamento socialista em detrimento do pensamento burguês.
O Mulato
O Mulato, de Aluísio Azevedo, é obra inaugural do Naturalismo brasileiro (1881), rica em temas e subtemas, como a crítica ao provincianismo, ao preconceito racial, à escravidão e, sobretudo, à ação nefasta do clero na sociedade. Narra a história de Raimundo, o mulato que dá nome ao livro.
Resumo
Raimundo era filho bastardo de José, um fazendeiro de São Luís do Maranhão, com uma de suas escravas. José procurou viver dupla vida matrimonial, já que a escrava Domingas não fora apenas uma aventura para ele; por esse motivo, tentou também criar o filho com o respeito e dignidade devidos.
Domingas, depois de sofrer violenta agressão a mando de Quitéria, esposa oficial de José, ficou traumatizada e passou a viver vagando pelo mato.
Quitéria foi flagrada em adultério com o padre Diogo por seu marido, José, que a matou na frente do padre e, com este, fez um pacto de silêncio: ambos alegariam que a morte de Quitéria tivera causa natural.
Tempos depois, José foi morto em uma emboscada, provavelmente a mando do padre Diogo, interessado em sua morte pelo segredo que havia entre os dois, o que incomodava o religioso. O menino Raimundo foi, então, enviado pelo tio Manuel Pescada para ser educado em Portugal, ficando sua herança aos cuidados do tio.
Anos depois, formado em direito, Raimundo, um belo homem, moreno, alto, de compleição física forte, de olhos grandes e azuis, elegante nos trajes, fino e gentil nas maneiras, retornou e se hospedou na casa do tio Manuel. Sua intenção era vender as propriedades e se estabelecer no Rio de Janeiro.
Raimundo foi com o tio à antiga fazenda em que nascera e acabou por descobrir as passagens desconhecidas de sua vida, até mesmo que era bastardo e quem era sua mãe. Passou a desconfiar de que o padre, agora cônego, teria sido o mentor da morte de seu pai.
Raimundo acabou sendo seduzido pela prima Ana Rosa, filha de Manuel Pescada, bonita, sensual e atrevida. Tendo engravidado a apaixonada prima, pretendia casar-se com ela, mas foi assassinado por Luís Dias (empregado de Manuel Pescada), a quem Ana Rosa fora prometida em casamento.
O assassino fora levado a esse ato por influência do cônego Diogo, que desconfiava de que Raimundo já tivesse descoberto seus crimes e ações interesseiras. Com o impacto da morte de Raimundo, Ana Rosa aborta.
Na última cena da narrativa, ela aparece casada com Luís Dias e mãe feliz de três crianças.
Análise
Percebem-se, em O Mulato, a preocupação com as classes marginalizadas na sociedade e a crítica ao clero, na figura do cônego Diogo, que faz parte da elite.
Há ainda a reflexão quanto ao preconceito racial, gerada em torno de Raimundo. Mesmo sendo um advogado estudado na Europa, ele é “rejeitado” como pretendente de Ana Rosa pelo fato de ser mulato.
Embora a obra apresente aspectos naturalistas, há nela ainda nítidos traços românticos, como o amor impossível entre Raimundo e Ana Rosa e a idealização em torno da figura de Raimundo, o qual é levado quase a um posto de herói, o que é reforçado por sua morte.
Eurico, o presbítero
O romance Eurico, o presbítero (1844), de Alexandre Herculano, é ambientado no século VIII e se inicia com a narração da luta entre godos e mouros na península Ibérica.
Sobre o autor
Nascido em Lisboa, em 1810, Alexandre Herculano é considerado, ao lado de Almeida Garrett (1799-1854), o iniciador do Romantismo em Portugal. Faleceu em sua quinta do Vale de Lobos (Santarém), em 1877.
Poeta, romancista, historiador, produziu uma obra extensa e variada. Como historiador, destacou-se em História de Portugal (publicada em quatro temas entre 1846 e 1853) e a História e origem da Inquisição em Portugal (1859).
Escreveu ainda contos e novelas que foram reunidos na obra Lendas e narrativas (1851). Como romancista ficou mais conhecido por suas narrativas históricas, dentreas quais destacam-se O monge de Cister (publicada em dois volumes em 1848), O bobo (1843) e Eurico, o presbítero (1844), considerada sua obra-prima.
Resumo de Eurico, o presbítero
Nesse romance, são contadas as aventuras e desventuras do jovem Eurico, um valente cavaleiro, e de Hermengarda, filha do duque de Fávila. Apaixonado por Hermengarda, Eurico pede sua mão ao duque, que lhe nega, por saber de sua origem humilde.
Tendo seu pedido recusado e supondo que sua amada também o rejeitava, Eurico decide tomar-se religioso. Ordena-se sacerdote, com o título de Presbítero de Carteia. Porém, o espírito de cavaleiro fala mais alto. Assim, disfarçado de Cavaleiro Negro, luta ao lado de seus antigos companheiros, durante a batalha contra os mouros.
Unindo-se ao grupo de Pelágio, irmão de Hermengarda, assume a responsabilidade de resgatar sua amada, que se encontrava em poder dos inimigos.
No reencontro, ambos confessam seu amor, mas Eurico revela sua condição religiosa: o Cavaleiro Negro e o Presbítero de Carteia eram uma só pessoa. Diante dessa revelação e do amor impossível, Hermengarda adoece e enlouquece, e Eurico parte para um combate suicida contra os mouros.
As Pupilas do Senhor Reitor
A trama de As pupilas do senhor reitor, de Júlio Diniz, é simples e bem ao gosto romântico. É a história amorosa de duas jovens órfãs, Margarida e Clara, com dois rapazes, Daniel e Pedro.
Sobre o autor
Joaquim Guilherme Gomes Coelho nasceu no Porto, em 1838. Na mesma cidade, falece em 1871, com apenas 39 anos, vítima de tuberculose, tal como sua mãe e seus dois irmãos. Considerado pela crítica como escritor de transição entre o Romantismo e o Realismo, escreveu também poesia, teatro, mas notabilizou-se como romancista.
Em sua produção literária, utilizou vários pseudônimos. Júlio Diniz foi o que o tomou mais conhecido. Sua obra mais famosa, As pupilas do senhor reitor, foi publicada em folhetim em 1866.
Resumo de As pupilas do senhor reitor
As moças Margarida e Clara têm como tutor o reitor da aldeia, e os dois rapazes são filhos do fazendeiro José das Domas. Clara é expansiva e alegre, feliz, às vezes, leviana.
Margarida é reservada, introspectiva. Pedro é forte, rude, ajustado aos trabalhos agrícolas. Daniel é delicado, sentimental.
Quando crianças, Margarida e Daniel se afeiçoam, mas o pai do jovem, ao descobrir o namoro, manda-o estudar medicina no Porto.
O jovem parte para a cidade grande, levando na memória a imagem de Margarida.
Anos depois, Clara e Pedro apaixonam-se e ficam noivos. Daniel termina o curso e volta à aldeia, esquecido de seu amor por Margarida.
Aquarela do artista português Alfredo Gameiro (1864-1935) para o romance As pupilas do senhor reitor, de Júlio Diniz, publicado em 1866.
Ela, por sua vez, agora uma professora de crianças, ainda alimenta a paixão por Daniel.
Daniel provoca alvoroço entre as jovens da aldeia, agitando inclusive o coração de Clara, sua futura cunhada. Clara incentiva o interesse de Daniel por ela, e o caso começa a tomar outras proporções. Um dia, os dois são surpreendidos por Pedro. Diante da tragédia iminente,
Margarida assume o lugar da irmã, mesmo correndo o risco de ser malfalada pelos moradores da aldeia. Daniel, admirado da coragem de Margarida, acaba por lembrar-se do namoro de infância, das recordações que levou consigo para o Porto, e volta a apaixonar- se por Margarida.
Graças à atuação de Clara, de José das Domas e do reitor, Margarida, a muito custo, acaba por aceitar o pedido de casamento de Daniel, para a felicidade de todos.
Frei Luís de Sousa
O drama Frei Luís de Sousa (1844), em três atos, é considerado a principal obra de Almeida Garrett. Sua primeira representação deu-se em 1843. A peça apresenta basicamente duas características românticas: a recuperação do passado histórico e um caso de amor trágico, protagonizado por portugueses ilustres.
A obra relembra o clima sebastianista e recupera a vida do escritor barroco Frei Luís de Sousa (1556-1632), que antes de sua ordenação ao sacerdócio tinha o nome de Manuel de Sousa Coutinho.
Resumo de “Frei Luís de Souza”
O drama conta a história da fidalga Madalena de Vilhena, casada com dom João de Portugal, dado como morto na batalha de Alcácer-Quibir, assim como o rei Dom Sebastião (1554-1578). Diante disso, Madalena casa-se com Manuel de Sousa Coutinho, nobre português, por quem se apaixonara quando ainda estava casada. Dessa união nasce uma filha, Maria de Noronha.
Madalena atormentava-se constantemente com a possibilidade de o primeiro marido ainda estar vivo e retomar da guerra. Teimo Paes, o escudeiro de dom João, alimentava nela esse temor. De fato, depois de vinte anos, dom João volta a Portugal.
O ponto culminante da peça é a revelação da identidade do nobre português e o desespero que toma conta dos personagens. No desenlace trágico, Manuel Coutinho e Madalena resolvem, para expiação de sua culpa, tomar o hábito religioso.
Durante a cerimônia em que Manuel Coutinho torna-se Frei Luís de Sousa, Maria de Noronha, filha do casal, tomada pela vergonha e pelo desespero, morre aos pés de seus pais.
Páginas do primeiro manuscrito com o texto da peça Frei Luís de Sousa, de Garrett.
Lucíola – José de Alencar
Lucíola, livro de José de Alencar, foi publicado em 1862 e encaixa-se como romance romântico urbano. No Brasil a sociedade burguesa dessa época primava as aparências e os costumes, tinha a visão de que a mulher teria que ser pura e o homem cavalheiro.
Resumo
O romance Lucíola conta a história de Lúcia, uma cortesã. Paulo é o narrador e narra sua chegada ao Rio de Janeiro em 1855, onde vê Lúcia a primeira vez. Sem saber que ela era cortesã, ele se apaixona por ela nesse primeiro momento, porque a vê como uma menina encantadora, meiga e angelical.
A primeira impressão que Paulo tem de Lúcia acaba quando ele a vê na Festa da Glória, onde ela é apresentada como mulher bonita e não como uma “dama”. Mesmo assim Paulo prefere guardar para si a primeira impressão que teve dela.
Paulo descobre onde Lúcia mora e vai visitá-la frequentemente. Ela se entrega a ele e após isso passa a desprezar o amor de Paulo. Essa relação é embasada no amor carnal, fato que se tornará um empecilho para a união dos dois.
Após consumado o amor entre eles, Paulo perde um pouco da inocência enquanto Lúcia será “purificada”, abandonando a cortesã e revivendo a virgem pura que foi.
Lúcia decidir vender sua casa luxuosa para morar numa mais simples. Então relata toda sua história para Paulo: sua família sofreu com um surto de febre amarela em 1850, para comprar os medicamentos Lúcia se entregou a Couto aos 14 anos, mas quando o pai descobriu a expulsou de casa. Assim, Maria da Glória finge sua própria morte quando sua amiga faleceu e assumiu o nome dela.
Com o tempo, Lúcia passa a rejeitar outros homens, ficando apenas com Paulo. Ela engravida dele, mas fica doente, acreditava que estava assim porque seu corpo não era puro.
Lúcia confessa todo seu amor por Paulo, mas deseja que ele se case com a irmã dela, Ana, que agora mora com os dois. Ele se recusa. Lúcia rejeita fazer o aborto e acaba morrendo grávida.
Paulo cria Ana como filha e após 6 anos ela se casa e Paulo permanece triste com a morte de Lúcia, seu único amor.
Análise de Lucíola
Em Lucíola, a cortesã é transformada em heroína, purificada pelo amor de Paulo. É possível perceber as seguintes características do Romantismo: submissão do amor romântico (valorização da virgindade), crítica social e crítica moral (Lúcia deixa de ser cortesã para si mesma, mas não para a sociedade que a vê com preconceito).
A Escrava Isaura – Bernardo Guimarães
A Escrava Isaura é um dos romances românticos mais famosos de Bernardo Guimarães e foi adaptado diversas vezes para a televisão. O livro foi publicado em 1875, período em que a escravidão era questionada no Brasil, pois a abolição só ocorreu em 1888 com a Lei Áurea.
Resumo
A obra narra a história de Isaura, uma escrava branca que foi criada como filha pela família que a possuía. Assim, ela é protegida pela matriarca, que prometeu libertar a escravaapós sua morte, porém não é isso que ocorre.
Isaura torna-se propriedade de Leôncio após a morte dos pais dele. Leôncio é sem caráter e, mesmo casado com Malvina, deseja possuir Isaura, por quem alimenta uma paixão.
Malvina tinha certa simpatia por Isaura, mas quando descobre as intenções do marido passa a desprezá-la.
A beleza de Isaura instigava a paixão de vários personagens: Leôncio, Belchior (jardineiro), o feitor da fazenda e o irmão de Malvina. Ambos se declaram para a escrava.
Miguel é pai de Isaura e consegue juntar uma alta quantia exigida por Leôncio para libertar a filha, mas Leôncio descumpre o combinado. Assim, deixa Malvina desolada retorna à casa dos pais, deixando o vilão livre para incomodar a escrava.
Com tudo isso, Miguel foge com a filha para o nordeste e se fixam com outros nomes em Recife. Nesse lugar Isaura se apaixona por Álvaro e é correspondida, porém, ao irem a um baile Isaura é denunciada por um estudante como escrava fugida e ela volta a ser propriedade de Leôncio. Mesmo assim, Álvaro defende a moça.
Como saída Isaura é persuadida a se casar com Belchior, mas antes da cerimônia Álvaro aparece e revela que com a falência de Leôncio havia adquirido as dívidas e as propriedades do vilão, incluindo a escrava Isaura.
Leôncio se suicida e a história tem final feliz.
Análise da obra
A Escrava Isaura é uma obra pertencente ao romantismo brasileiro, seguindo todos os preceitos dessa escola literária.
Isaura é a protagonista idealizada por sua beleza e qualidades, junto com sua nobreza e caráter, defendendo ferrenhamente sua honra, que reserva para o homem que amar: Álvaro.
O amor é apresentado de acordo com as concepções românticas. Assim, Álvaro e Isaura se apaixonam à primeira vista.
Mesmo apresentando uma escrava branca, a obra teve grande impacto sobre a sociedade na época, no que tange à abolição da escravidão.
O Navio Negreiro – Castro Alves
O Navio Negreiro foi escrito por Castro Alves em 1868, é um dos seus poemas mais prestigiados. O poema tem como subtítulo “Tragédia no Mar“, possui seis cantos que narram a trajetória marítima de uma embarcação que transporta escravos, apresentando a maneira brutal com que eles são tratados, assim como a privação de direitos e de liberdade que os mesmos sofrem.
Essa questão foi constantemente abordada pelos românticos brasileiros (Romantismo), pois ao buscar a identidade nacional (se desvencilhando de Portugal) ganhavam autonomia para escrever. Assim, O Navio Negreiro possui uma estrutura diferente da seguida pelos árcades (sonetos com versos decassílabos; tradição épica) quando apresenta uma liberdade formal.
Castro Alves é conhecido como o “poeta dos escravos” devido aos seus poemas sociais em que denunciava a escravidão com indignação e expressividade. Quando O Navio Negreiro foi escrito o tráfico de escravos já havia sido proibido no Brasil (Lei Eusébio de Queirós – 1831), porém ainda persistiam as consequências disso. Há uma forte denúncia da condição miserável e desumana e das dificuldades dos negros durante a travessia da África para o Brasil.
Resumo
O poema é dividido em seis partes. Na primeira parte é descrita a atmosfera tranquila. Na segunda, são descritos os marinheiros de distintas nacionalidades, que são nobres e corajosos. Na terceira, é apresentada a denúncia ao tráfico negreiro.
Na quarta, são descritos os castigos e crueldades de um navio negreiro. Na quinta, o eu lírico invoca a natureza para que destrua o navio e acabe com os horrores vividos naquele navio negreiro; ele argumenta com a liberdade que os negros tinham na África e a escravidão que agora estão expostos no navio.
Na sexta e última parte, o eu lírico revela sua nacionalidade (brasileira) e invoca os heróis do Novo Mundo para que eles acabem com a escravidão.
Assim como está no título, o poema se trata de uma tragédia, pois se caracteriza pelo inconformismo e conflito entre a escravidão e a lei vigente no país naquela época.
Conclusão
No poema O Navio Negreiro há a presença de características românticas (busca pela identidade nacional, subjetividade, idealização de um herói romântico – no caso o escravo, e idealização da natureza) e características pré-realistas (a crítica e a crença na ciência). Isso é reflexo do engajamento dos poetas românticos com as questões sociais que logo mais viriam a ser tratadas com fervor no Realismo.
Iracema – José de Alencar
Iracema, de José de Alencar, foi publicado em 1865 e é considerado um dos maiores romances românticos da literatura brasileira.
Iracema é um anagrama de América, simbolizando a fusão do Velho Mundo (representado por Martim/ Europa) com o Mundo Selvagem (representado por Iracema/ Indígena), que resulta no Novo Mundo (representado por Moacir/ América).
Iracema é uma obra pertencente ao romantismo brasileiro, pois tem as seguintes características desse estilo literário: nacionalismo; idealização do índio (herói); sentimentalismo; exagero; retorno ao passado; religiosidade cristã.
A obra tem como subtítulo “Lenda do Ceará”, portanto, trata-se de uma alegoria sobre a colonização do Ceará, podendo ser compreendida como a própria colonização do Brasil. Assim, temos Moacir não apenas como o primeiro cearense, mas também como primeiro brasileiro.
Resumo
O livro Iracema apresenta a história de amor da virgem dos lábios de mel, Iracema, e o primeiro colonizador português do Ceará, Martim, que é um guerreiro branco e amigo dos pitiguaras, índios do litoral.
Martim se perde na mata e é encontrado por Iracema, que o acolhe ao perceber que ele não é nenhum inimigo, assim ela o leva para sua tribo (tribo dos tabajaras), onde é tratado como hóspede. Surge então um amor repentino entre Iracema e Martim.
As tribos tabajaras e pitiguaras eram rivais: os pitiguaras eram amigos dos portugueses e os tabajaras aliados dos franceses. Os tabajaras habitavam o interior e estavam em celebração ao grande chefe Irapuã, que iria comandá-los no combate aos pitiguaras.
O romance se complica porque Martim e Irapuã estão apaixonados por Iracema, então Irapuã tenta matar Martim quando este tenta fugir da aldeia, após saber do combate que está por vir.
Iracema é filha do pajé, guardiã do segredo da jurema e não pode se casar, mas a união dela e de Martim se dá numa noite em que ela se entrega ao português. Assim, Martim decide fugir da fúria de Irapuã e dos tabajaras, mas Iracema se propõe a segui-lo ao encontro de Poti, chefe dos pitiguaras. Nessa fuga são seguidos por Irapuã e os tabajaras, resultando no confronto entre as duas tribos.
Iracema, mesmo abalada com a derrota de seu povo, decide viver com Martim na tribo dos pitiguaras, porém o tempo passa e Martim não demonstra mais tanto interesse por ela. O português sente falta dos seus, embora saiba que é conflitante, pois não pode levar Iracema junto com ele.
Martim, agora chamado pelo nome indígena Coatiabo, participa de vários combates, deixando a esposa muito sozinha. Enquanto isso ela engravida e tem sozinha o filho às margens do rio. Iracema sofre a ausência do esposo, assim definhando de tristeza. Após a morte dela, Martim, seu filho Moacir (nascido do sofrimento de Iracema), e o cão vão embora para Portugal, mas tempos depois voltam e colonizam o Ceará.
Dois Irmãos – Milton Hatoum
“Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, é narrado em 1ª pessoa por Nael, filho de Domingas, empregada e índia. Ele tenta descobrir quem dos gêmeos é seu pai, buscando sua própria identidade ao investigar suas raízes.
Zana e Halim se casam e dessa união nascem os gêmeos Omar e Yaqub (caçula dos gêmeos) e Rânia, a caçula dos filhos. Embora os gêmeos Omar e Yaqub fossem bem diferentes no que se refere ao temperamento e à personalidade, fisicamente eram idênticos, sendo confundidos até pela própria mãe.
Os dois se tornam rivais conforme crescem e isso fica notório quando se apaixonam pela mesma moça, Lívia, fato que provoca a agressão de Omar contra Yaqub, que é atingido com uma garrafa no rosto (gerando uma cicatriz) durante uma sessão de cinema em que beijava Lívia.
O pai decide mandar os dois para o Líbanopara amenizar essa rivalidade, mas a mãe intervém para que Omar fique justificando este ter saúde mais frágil. Então Yaqub vai com alguns amigos de Halim (um ano antes da Segunda Guerra Mundial) para uma aldeia no sul do Líbano e constata a preferência da mãe por Omar (o protegido). Cinco anos depois a família o traz de volta para o Brasil (Manaus) e Yaqub não consegue perdoar a mãe.
Omar é beberrão, não estuda e não trabalha. Ao contrário, Yaqub é estudioso, formou-se em engenharia em São Paulo, onde se casa com Lívia sem a família saber; após um tempo envia fotos para a família para mostrar que havia “vencido na vida”.
Omar enganava aos pais dizendo que o dinheiro que pedia era para os estudos, embora gastasse tudo na farra. Mesmo assim a mãe o defendia cegamente. Isso provocava ciúmes em Halim, porque Zana venerava o filho. Halim torcia para que o filho se casasse logo, mas Zana afastava todas as pretendentes de Omar.
Devido aos dissabores da vida, Halim saía às vezes para beber com os amigos e sumia por horas. Assim, Nael era incumbido de ir atrás dele e levá-lo para casa, a pedido de Zana. Desde o início do casamento, Halim não queria ter filhos, pois tinha medo do distanciamento da esposa… E foi o que aconteceu. Dessa maneira, desgostoso, Halim morre sentado no sofá. “Depois da morte de Halim, a casa começou a desmoronar”.
Yaqub retorna a Manaus com intuito de construir um hotel na cidade; o irmão o acusa de roubar seu projeto, o agride e vai preso. Ao sair da cadeia, Omar, já velho, se depara com a casa vendida, a mãe falecida, então desaparece sem deixar pistas.
Domingas fica doente e antes de morrer revela a Nael, narrador da história, que fora estuprada por Omar. Nael fica desconsolado porque era filho do gêmeo que não admirava. O narrador continua morando no quartinho dos fundos, agora independente, sua “herança”.
Conto de Escola
O conto “Conto de Escola”, de Machado de Assis, tem foco narrativo em primeira pessoa, e narra um fato que se passa numa escola do Rio de Janeiro, em 1840 (circunstâncias históricas: fim do Império, a Abolição dos Escravos e a Proclamação da República).
Pilar relembra um fato de sua infância: era chamado de Seu Pilar, e num sábado de manhã, na Rua da Princesa, decidia se iria brincar ou iria para a escola, ficava indeciso entre o morro ou o campo, por fim, lembrando da última “sova” que ganhara do pai, decidiu ir para a escola.
Pilar era um bom aluno, sempre o primeiro a terminar as atividades. Seu pai sonhava em vê-lo lendo, escrevendo, fazendo contas e sendo comerciante. Raimundo era colega de classe de Pilar, e filho do mestre – que era muito severo.
Por esse motivo Raimundo era muito cobrado, mas tinha dificuldades de aprendizagem, fato que o leva a mostrar para Pilar uma “pratinha” que trazia no bolso, em seguida propondo que ele lhe ensine a lição de sintaxe que não conseguia entender.
Seu Pilar pensou que fosse brincadeira, mas quando percebeu que Raimundo falava sério, decidiu aceitar. Com cautela fizeram a troca, afinal o mestre estava ali diante, e se os pegasse seriam castigados com a palmatória.
Para a surpresa de ambos, Curvelo, um colega mais velho e ardiloso, estava observando tudo.
A moeda estava no bolso de Pilar, que sonhava com a beleza da “pratinha”, até que foi interrompido pelo mestre que o chamou junto com Raimundo. Ao lado deles estava o delator: Curvelo. O fato de Pilar estar ensinando a lição para Raimundo em troca de uma “pratinha” foi considerado como suborno pelo mestre, que a solicitou, porém Pilar jogou a moeda pela janela. Então o mestre castigou os meninos com doze “bolos” diante de toda a turma, causando constrangimento e humilhação aos meninos.
Depois da aula Seu Pilar resolveu dar uma surra em Curvelo, que se escondeu e acabou se livrando de levar uns murros.
No dia seguinte, Pilar tinha sonhado que encontrara a moeda na rua e a pegava de volta, arrumou-se depressa para chegar à escola na esperança de recuperar a “pratinha”, porém no meio do caminho deparou-se com o batalhão de fuzileiros que tocavam tambores, assim, preferiu segui-los a ir à escola. Terminou a manhã na Praia da Gamboa e voltou para casa sem a moeda nem peso na consciência. Assim, aprendeu com Raimundo e Curvelo a corrupção e a delação.
Clara dos Anjos
No romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto, o autor denuncia os problemas cotidianos do início do século XX: preconceitos raciais, sociais e de gênero.
A obra, Clara dos Anjos, expõe o papel feminino e os preconceitos que a mulher sofria naquela época, como a submissão, o abandono, a violência e o constrangimento público.
Lima Barreto retratou a mulher num momento em que casar era necessário e feito como moeda de troca para ela, portanto, percebe-se que a sociedade patriarcal retratada oprime a mulher, definindo o lugar que ela deve ocupar na sociedade fluminense no início do século XX.
O romance é narrado em 3ª pessoa, onisciente. O narrador às vezes é intruso, intervindo na narrativa confundindo-se em alguns momentos com a voz de Clara. Lima Barreto apropria-se de uma linguagem simples por meio da língua falada, empregando humor e ironia.
Resumo
Clara é mulata, tem dezessete anos, é filha de Joaquim dos Anjos, carteiro, flautista e casado com Engrácia, dona de casa. Eles moram em um casebre simples e humilde, que possui dois quartos, sala de jantar e de visitas, cozinha, despensa e quintal, situada no subúrbio do Rio de Janeiro.
A família possui alguns vizinhos, dentre eles alguns estrangeiros, e frequenta a casa de poucos, como Antônio da Silva Marramaque, padrinho de Clara.
Em seu aniversário Clara conhece Cassi Jones de Azevedo, violeiro convidado para tocar na festa. Cassi Jones é branco, de uma classe social um pouco melhor, tem vinte e poucos anos e possui fama de sedutor, portanto, envia a Clara cartas de amor para que ela se apaixone por ele.
Clara é ingênua, frágil, sem grandes ambições, acredita na pureza do amor, por tudo isso, o plano do rapaz dá certo e ela resolver se entregar a ele. O padrinho de Clara resolver interceder pela afilhada, mas é assassinado por Cassi e uns capangas.
Passa o tempo e descobre-se que a moça está grávida, então Cassi desaparece em fuga. Clara pensa em abortar, mas segue o conselho de sua mãe e vai à casa de Cassi esperando “reparação”, mas é maltratada pela mãe do rapaz, que a humilha por ser mulata e pobre. Então a moça se dá conta de sua posição na sociedade: mulher, pobre e negra.
Crônica do Viver Baiano Seiscentista – O Burgo
“O Burgo” integra a primeira parte da obra do poeta Gregório de Matos intitulada “Crônica do Viver Baiano Seiscentista”, dividida em quatro partes: “O Burgo”, “Os Homens Bons”, “A Cidade e Seus Pícaros” e “Armazém de Pena e Dor”.
Gregório de Matos e Guerra, o poeta “Boca do Inferno”, é considerado um dos grandes destaques da sátira no Brasil, pois critica os vícios da sociedade. Em seus versos expõe a hipocrisia da sociedade baiana do século XVII, sem poupar ninguém, nem clero, nem autoridades, nem rico, nem pobre, nem negro, nem branco; característica que o degredou para Angola.
“Meus males de quem procedem?
Não é de vós? claro é isso:
Que eu não faço mal a nada
por ser terra e mato arisco.  
Isto sois, minha Bahia,
Isto passa em vosso burgo”
No século XIV as relações comerciais na Europa Ocidental sofreram transformações e os “burgos” (cidades) desprendem-se da paisagem feudal, surgindo desordenadamente no século XV. Assim, o feudalismo tinha fim com o triunfo da burguesia.
A Bahia era o principal burgo da sociedade brasileira seiscentista e é esta cidade, no período barroco, berço da poesia de Gregório de Matos. Sendo o burgo que dá lugar ao burguês, ao clérigo, ao índio, ao negro escravo, aos novos ricos e judeus, aos mulatos alforriados e à prostituição.
“À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.”
É possível perceber em alguns sonetos traços característicos do diálogo, ambos formas de prestígio para o barroco. Essa mistura de formas pode ser entendida como retomada da decadênciade homem e lugar. Nos versos acima é possível perceber a personificação da Bahia, que torna-se submissa e impotente diante da mercantilização.
Em sua linguagem é possível encontrar impressões sensoriais, frases interrogativas, ordem inversa e seu gosto por hipérboles. Nota-se também a oposição entre corpo versus espírito; antropocentrismo versus teocentrismo (tensões do homem barroco); racional versus irracional.
No vocabulário utilizado, há predominância das rimas pobres, considerando a prevalência dos substantivos no final dos versos. Analisa-se que os versos na maioria do formam: soneto decassilábico, o verso heroico, rimas pobres e ritmo bem marcado.
Gregório de Matos faz um retrato das pessoas que vivem no burgo de forma que não prestigia o Brasil, sua obra é marcada pelo sarcasmo que se refere à maioria, tendo a intenção de satirizar todas as camadas sociais. “A Donzela embiocada mal trajada, e mal comida” / “mal Marido penteia monho de corno” / “Clérigo julgador, que as causas julga sem pejo” / “tal Paternidade rouba as rendas do Convento”.
Til – José de Alencar
Til, romance de José de Alencar, foi publicado pela primeira vez em 1872.
O título
Berta é apelidada de Til por Brás quando ela o ensinava as letras do alfabeto, assim, ele associa a delicadeza do acento gráfico til à Berta.
“Daí em diante aquele sinal, que para o idiota era o símbolo da graça, da gentileza e do prazer, tornou-se a imagem de Berta, e não se cansava Brás de o repetir, não por palavras, mas por acenos com os meneios mais extravagantes. Dias depois, chamando-a ele pelo nome, a menina respondeu-lhe: — Não me chamo mais Berta; meu nome agora é Til” (p. 148).
Til, de José de Alencar, é um romance regionalista (ou sertanejo), pois trata de temas como a cultura, o folclore e o linguajar de uma determinada região. O autor escreveu outras obras que também se encaixam nessa classificação: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); O sertanejo (1875).
Resumo do livro
Til é narrado em 3ª pessoa, se passa na região de Campinas (interior paulista) e tem como protagonista a personagem Berta, que vive nas proximidades da fazendo junto com nhá Tudinha e o filho dela Miguel, que é apaixonado por Linda, mas fica dividido entre a beleza de Berta e Linda.
Berta foi criada por nhá Tudinha e protegida por Jão Fera após a mãe, Besita, ter sido estrangulada pelo marido, Ribeiro, depois dele descobrir que ela engravidara de Luís Galvão. Feito isso, Ribeiro passa anos em Portugal, mas volta com o nome falso de Barroso para se vingar de Luís Galvão (dono da fazenda das Palmas), e contrata um matador de aluguel, Jão Fera, que resolve não matar Luís Galvão a pedido de Berta; com isso, o Bugre fica devendo cinquenta mil réis para Barroso, pois havia recebido antecipadamente pelo serviço.
Barroso decide matar Luís Galvão mesmo sem a ajuda de Jão Fera, assim provocando um incêndio no canavial da fazenda das Palmas, pois além de matar o fazendeiro, pretende casar-se com dona Ermelinda e tornar-se o senhor das Palmas. O plano é frustrado quando Jão Fera salva Luís Galvão das agressões de Gonçalo, capanga de Barroso, matando quem o agride. O Bugre o salvou, pois pretendia ele mesmo matar Luís Galvão para se vingar por ele ter abandonado Besita e Berta para se casar com d. Ermelinda; nisso tudo Barroso foge, Jão Fera se entrega e é preso.
Com a prisão de Jão Fera, Barroso (Ribeiro) resolve matar a filha de Besita e quando está prestes a executar seu plano, Bugre foge da cadeia e salva Berta, matando Barroso.
Luís Galvão conta à d. Ermelinda, sua esposa, que era pai de Berta. Sua filha o rejeita como pai e prefere Jão Fera, que sempre a protegeu desde a morte de sua mãe. Berta recusa seu lugar na família, e pede ao pai para que seu lugar possa ser ocupado por Miguel como futuro genro de Luís Galvão, assim, a família se muda para São Paulo. Berta, Til, fica com Jão Fera e seus protegidos.
“Como as flores que nascem nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os esplendores da natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria, que se cavam nas almas, subvertidas pela desgraça. Era a flor da caridade, alma sóror” (p. 349-350)
O Quinze – Raquel de Queiroz
O quinze (1930) foi o primeiro livro de Rachel de Queiroz e acabou se tornando sua obra mais conhecida pelo público. O romance apresenta a grande seca ocorrida em 1915, vivenciada pela escritora em sua infância.
De característica psicológica, a autora brilhantemente discorre uma análise exterior das personagens. E fica mesmo por aí, dissecando uma característica aqui, outra ali, já que seu propósito é o de não interromper a narrativa principal com pormenores.
Rachel também opta pela previsibilidade das narrativas, uma vez que, não havendo avanços nem recuos no tempo, a história é contada de maneira tida como tradicional, obedecendo à sequência de início, meio e fim.
Resumo do livro
A história de O quinze se dá em dois planos: a saga da amargurada e desgraçada família de Chico Bento e o romance não concretizado entre Vicente e Conceição.
A narrativa transcorre em uma região remota do Ceará, de nome Quixadá. Lá, estão as fazendas de Dona Inácia (avó de Conceição), do Major (pai de Vicente) e de Dona Maroca (patroa de Chico Bento).
Há também o cenário urbano, destacando Fortaleza, por onde passa a família de retirantes de Chico Bento e onde mora Conceição.
O quadro interior do sertanejo
Narrado em terceira pessoa, o romance foi escrito em linguagem simples e direta. O tempo é trabalhado de forma linear nessa obra, que apresenta a preocupação de contar uma história e penetrar na interioridade de seus personagens.
Fac-símile da capa do livro O quinze
O romance já revela a grande preocupação social da então jovem Rachel de Queiroz, sem, contudo, prescindir daquilo que a faz única: a abordagem mais psicológica que exterior de seus personagens. A autora tece um duro quadro interior do sertanejo que luta, como pode, para fugir de um destino que parece quase atávico.
Seca e fome
Não apenas a seca, mas também a fome que a acompanha, fazem parte do pano de fundo do romance que se tornou um dos grandes representantes da chamada literatura regionalista de temática social que caracterizou um período da literatura brasileira do século XX.
Paisagem que retrata a seca do Nordeste brasileiro.
O enredo trata dos dramas típicos do Nordeste brasileiro. Sua narrativa constrói-se a partir de dois planos que têm como ponto de interseção a personagem Conceição.
Os dois planos narrativos tratam, na verdade, de duas impossibilidades: o primeiro, da impossibilidade de continuar uma situação (de emprego); já o segundo, da impossibilidade de iniciar uma relação amorosa.
A saga de Chico Bento
O primeiro plano narrativo enfoca o drama do vaqueiro Chico Bento e de sua família que, por conta de uma grande seca, veem-se obrigados a abandonar sua terra em busca de trabalho.
No caminho até Fortaleza, um filho morre envenenado e outro se perde. Chegando em Fortaleza, a família de retirantes é auxiliada por Conceição. No final do romance, Chico Bento e o que restou da família vão tentar a vida em São Paulo.
Vicente e Conceição
O segundo plano narrativo apresenta a relação afetiva entre Vicente, criador de gado de hábitos rudes, e Conceição, moça culta, prima de Vicente.
Vicente e Conceição se amam, mas reconhecem que esse amor é impossível, uma vez que Vicente é o típico proprietário rural de hábitos grosseiros e pouca educação, e Conceição é a moça culta e letrada da cidade que gosta dos livros e, certamente, ambiciona mais do que arar um pedaço de terra

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