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Produção Textual - Aula 2

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PRODUÇÃO TEXTUAL 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Eugênio Vinci de Moraes 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Olá, seja bem-vindo à aula a de Produção Textual. Nosso objetivo é levar 
o aluno a identificar os aspectos macro e microestruturais que envolvem a 
escrita. Para tanto, vamos: 
 Refletir sobre a concepção de texto jornalístico, pensando nos seus 
contextos de produção e recepção 
 Refletir sobre a noção de pragmática enquanto elemento 
fundamental da prática jornalística 
 Desenvolver a noção prática de objetividade na escrita 
 Compreender os diferentes estágios de desenvolvimento do texto 
 Compreender a noção de parágrafo como unidade de sentido 
dentro de um texto 
CONTEXTUALIZANDO 
Para entendermos o contexto de cada tema de estudo desta aula, vamos 
explicar data um em detalhes. Acompanhe a seguir! 
No tema 1, tratar abordar a leitura como pilar central do jornalismo. Como 
lidar com os textos jornalísticos, do ponto de vista da leitura e da escrita, 
pensada, por sua vez, para um determinado público leitor. No tema 2 vamos 
responder à pergunta: O que é a pragmática e como sua fundamentação teórica 
pode ajudar na prática jornalística? Essa é a questão central na aula, 
fundamental para que possamos desenvolver os textos como parte de um 
processo muito maior. 
No tema 3 questionaremos se a objetividade é uma amarra ou uma meta 
a ser alcançada? Você acha possível escrever um texto completamente 
objetivo? Se sim, como fazer para conciliar as diferentes subjetividades 
envolvidas na reconstrução jornalística de um relato? Levantaremos questões 
que deverão acompanhar o jornalista profissional por toda sua carreira. No tema 
4, depois de refletir sobre os pressupostos fundamentais da prática textual, 
vamos ver como estruturar um relato jornalístico e discutir a conceituação de lide 
e pirâmide invertida. 
 
 
3 
Por fim, no tema 5, vamos observar o parágrafo, que é a medida central 
na articulação de ideias, para o jornalista. Um texto é uma coleção de parágrafos, 
mas como eles se constituem e se organizam? Vamos entender, então, esta 
lógica própria de cada bloco de palavras. 
TEMA 1: LEITURA E INTERPRETAÇÃO DO TEXTO JORNALÍSTICO 
Neste tema vamos discutir um dos fundamentos do jornalismo: a leitura. 
Afinal, o jornalista não pode se dar ao luxo de escrever apenas para si, ou mesmo 
para seus colegas de profissão, somente. Um dos critérios mais básicos da 
escrita jornalística envolve sua acessibilidade para qualquer tipo de leitor, que 
deverá encontrar as informações elementares mesmo em uma passada de olho 
rápida e superficial do texto. 
Para começar, indico a leitura do Capítulo 7, páginas 137 a 156, do livro 
Técnicas de Codificação em Jornalismo. Para tanto, acesse a Biblioteca Virtual, 
pelo UNICO, e pesquise. 
É preciso levar em conta que o leitor de um jornal não pretende, 
geralmente, fazer um mergulho profundo no texto, como é de se esperar com a 
literatura, por exemplo. Cada reportagem compete pela atenção do leitor com 
diversos outros componentes externos. Por isso, o texto jornalístico precisa 
sempre ser leve e direto, de forma que as informações básicas possam ser 
encontradas e reencontradas em caso de distração. Ao mesmo tempo, é preciso 
que a escrita seja elegante o suficiente para que a atenção seja capturada. 
Afinal, o objetivo de todo jornal é que os artigos sejam lidos na íntegra. 
Um projeto gráfico atraente e o uso de imagens (como discutiremos mais 
à frente) são muito importantes. Mas prender o leitor implica, em primeiro lugar, 
na escolha dos temas que serão abordados em cada edição. Claro, é preciso 
que se equilibrem pautas de interesse do público, aquelas que atraem leitores 
pelo apelo intrínseco ao tema (temas da moda, celebridades, etc.), e pautas de 
interesse público, aquelas que abordam questões sensíveis para o estado de 
direito democrático. 
 
 
4 
O jornal ideal é o que consegue fazer com que todos os artigos combinem 
estes dois aspectos. Mas, não custa lembrar, isso também exige leitores ideais, 
e, portanto, está mais próximo da utopia do que da realidade. 
Atividade 
Acesse o site da Gazeta do Povo (gazetadopovo.com.br) e discuta com 
seus colegas sobre a inclinação de cada matéria em relação a serem de 
interesse público ou atenderem ao interesse do público. A apresentação visual 
e o tema são responsáveis por atrair o leitor para a matéria, mas é a articulação 
do texto que irá garantir sua permanência na página, questão ainda mais 
importante na era do jornalismo digital. 
A quantidade de cliques segue como a questão central para definir o 
sucesso de um site, mas apenas se vier associada a uma taxa de rejeição baixa, 
o que se define pela qualidade do texto. A escrita jornalística precisa ser simples 
e direta, sem ser simplista, evitando o didatismo, que pode infantilizar o leitor. 
Ninguém gosta de se sentir menosprezado, afinal. Isso não quer dizer que o 
texto deverá ter apenas frases curtas em ordem direta >>> sujeito-verbo-
predicado. Significa que, ao se optar por uma construção mais complexa, deve-
se considerar, primeiro, se esta é a melhor forma de se expressar determinada 
ideia, e, segundo, se a pontuação está bem colocada, evitando sentidos 
diferentes dos pretendidos originalmente. 
Erbolato nos mostra uma mesma frase pontuada de duas formas 
diferentes: 
"Maria, tomando banho na água quente, sua mãe, por obséquio diz: 
traz água fria". 
"Maria, tomando banho na água quente, sua. Mãe! Por obséquio - diz 
- traz água fria". 
As frases, mesmo tendo as mesmas palavras, na mesma ordem, são 
completamente diferentes em seus sentidos, o que é alcançado pelo 
deslocamento do sujeito ("mãe", na primeira, e "Maria", na segunda), e de uma 
relação de duplo-sentido com a palavra "sua", que se alterna entre pronome 
 
 
5 
possessivo e verbo conjugado. Palavras com sentidos diferentes, mas escritas 
da mesma forma, são sempre problemáticas. Erbolato lembra a seguinte: 
"Um navio brasileiro entrava no porto um navio português". 
Você conseguiu entender? "Entrava" pode ser lido como a conjugação do 
verbo "entrar" ou como a do verbo "entravar", esta última, a pretendida por quem 
escreveu. Nesses casos, a leitura fica prejudicada, mas é possível encontrar o 
sentido pretendido. O problema é que há uma interrupção no fluxo de leitura, o 
que é um pecado grave no texto jornalístico. 
Na Prática 
Tente reescrever as seguintes frases de forma a resolver o duplo sentido: 
“A mãe encontrou o filho em seu quarto.” >>> O quarto era da mãe ou 
do filho? 
“Este líder dirigiu bem sua nação.” >>> Minha nação ou a nação dele? 
“A mãe pediu para o filho dirigir seu carro.” >>> Carro da mãe ou do 
filho? 
“Nós vimos o incêndio do prédio.” >>> Estávamos no prédio ou o 
prédio pegou fogo? 
Respostas possíveis 
"A mãe entrou em seu quarto e lá encontrou o filho." 
"A nação deste líder foi por ele bem dirigida." 
"A mãe pediu que seu carro fosse dirigido pelo filho." 
"Do prédio nós vimos o incêndio." 
Outra questão a ser evitada: a cacofonia. Trata-se da tendência de que o 
final de uma palavra se junte com o começo de outra gerando uma terceira 
palavra, em geral, criando um sentido engraçado. Um dos mais famosos entre 
 
 
6 
estudantes é "o bum da comunicação", que cria, quando lida, o sinônimo chulo 
de "glúteos". Para não cair nesta armadilha, recomenda-se reler os textos em 
voz alta, buscando encontrar o efeito cacofônico. Mais exemplos: 
ela tinha >>> é latinha 
vez passada >>> vespa assada 
Cada um desses casos abordados implica em uma espécie de quebra-
molas metafórico para o percurso da leitura. O que deveria fluir segue sendo 
interrompido por forçar que o leitor decodifique ativamente o texto. Mas, evitar 
esses erros, é apenas o começo. 
A convenção jornalística prega algumas regras gerais para facilitar a 
leitura do texto jornalístico. Todo jornalistadeve ter estas questões em mente 
quando for redigir uma matéria: 
 Dividir bem os assuntos em parágrafos 
 Evitar frases na voz passiva, o abuso de adjetivos e as repetições 
de palavras 
 Quando necessário usar palavras técnicas ou em outras línguas, 
elas deverão vir seguidas de sua explicação 
Por fim, gostaríamos de mencionar um aspecto importante relacionado ao 
processo de leitura de uma forma geral. Do ponto de vista cognitivo, a leitura se 
dá a partir de um processo de encaixe entre o texto e a mente do leitor. Ou seja, 
deve haver pontos de contato entre o que o leitor sabe sobre o mundo e o 
conteúdo do texto para que ele possa ser compreendido. 
Imagine um leitor que não sabe absolutamente nada sobre política 
brasileira – alguém que morava em outro país e não tinha internet, por exemplo. 
Esse leitor, ao se deparar com a manchete “O que esperar da Lava-Jato em 
2016” saberá do que se trata? Certamente não, pois não é possível inferir o 
significado da expressão “lava-jato” apenas a partir do título. 
Imagine, por exemplo, que você recebesse um texto com o seguinte título: 
“Aspectos práticos das descobertas de drogas para moléculas pequenas 
 
 
7 
– a interface entre biologia, química e farmacologia”. Será que seria uma 
leitura fácil para você? Haveria muitos pontos de contato entre seu conhecimento 
de mundo e as informações que o texto traz? 
Isso quer dizer que o jornalista, quando escreve um texto, deve ter em 
mente o volume de “novidade” que ele colocará diante do leitor. As informações 
apresentadas são suficientes para a compreensão do texto? O vocabulário exige 
conhecimento contextual que não está explícito na matéria? 
Naturalmente, os textos já partem do princípio de que os leitores sabem 
alguma coisa sobre o assunto. Quem escreve sobre o campeonato brasileiro de 
futebol não precisará explicar ao leitor o que é “Flamengo”, certo? Mas, ainda 
assim, é importante ter em mente essa característica fundamental do processo 
de leitura, pois, do contrário, você poderá escrever textos que deixarão lacunas 
de compreensão. 
Para saber mais 
Acesse Comunicação e análise do discurso, de Roseli Figaro. Para 
tanto, acesse a Biblioteca Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
Acesse A Coerência Textual, Ingedore G. Villaça Koch e Luiz Carlos 
Travaglia. Para tanto, acesse a Biblioteca Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
 
TEMA 2: TEXTO E PRAGMÁTICA 
Agora, vamos discutir a questão da pragmática e como ela se articula com 
o relato jornalístico. Por isso, antes de qualquer coisa, vamos tentar entender o 
que significa pragmática, o que já é um desafio em si. Afinal, como nos lembra o 
linguista José Borges Neto, no texto De que trata a pragmática?, um dos 
poucos consensos entre pragmaticistas é que "a pragmática é uma área de 
estudos de limites indefinidos". 
Leia o capítulo 4, A gramática da notícia, da obra Estrutura da Notícia, 
de Nilson Lage. Para tanto, acesse a Biblioteca Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
 
 
8 
Na linguagem coloquial, quando dizemos que uma pessoa é pragmática, 
estamos, na verdade, a chamando de prática. O problema é que isso não nos 
ajuda muito a entender o significado da palavra, do ponto de vista linguístico, 
que é, em parte, o ponto de vista do fazer científico. O texto de Borges Neto 
(você pode pesquisa-lo na internet) é bastante interessante para nos ajudar a 
entender o que é a pragmática. Para o autor, esse conceito se refere a uma 
forma particular de olhar para o que ele chama de "enunciado linguístico real". 
Grosso modo, se a semântica vai se deter sobre as significações de um 
texto por si só, a pragmática se interessa por todo o processo que circunda esse 
mesmo texto, determinante para sua compreensão. Nesse sentido, a pragmática 
está ligada ao “processo de encaixe” do qual falamos na aula passada: o 
conteúdo de um texto deve ter pontos de contato com o conhecimento de mundo 
do leitor. 
Isso quer dizer que a pragmática considera não apenas o texto em si, mas 
também seu contexto e as intenções do enunciador. Um texto é colocado em 
perspectiva, como parte de um processo sócio-político-cultural, e não fechado 
em si mesmo, como seria a lógica da semântica. Importante, também, repetir a 
ressalva que Borges Neto faz com tanto cuidado. A pragmática não se opõe à 
semântica, uma começando do ponto em que a outra se encerra. 
 
Ao contrário, já há uma série de sobreposições resultantes ao se pensar 
um texto de forma pragmática ou semântica. 
Ao mesmo tempo, esta é uma forma de enxergar a pragmática, como 
deixa clara a outra ressalva de Borges Neto. Um mesmo objeto pode ser visto 
por diferentes ângulos e luzes, revelando diversas possibilidades. A ideia de 
colocar o texto como parte de um processo maior, que envolve seu contexto de 
produção e recepção, é a que nos interessa quando estudamos o jornalismo. 
Mas está longe de ser a única possível. 
Jornalismo e pragmática 
 
 
9 
O tema do jornalismo é a vida. O relato jornalístico busca se aproximar do 
real ao se apresentar como representação. O paradoxo está no fato de que a 
vida é muito maior e mais dinâmica do que o jornalismo jamais conseguirá 
abarcar. Por isso, todo texto jornalístico nunca encerrará em si mesmo toda a 
realidade objetiva de um fato, que será sempre colocado em perspectiva. O texto 
é apenas um fragmento de um processo que segue em andamento. 
Tomemos como exemplo uma cobertura longa de algum tema, como uma 
eleição presidencial. Para contar a história de como cada candidato decidiu 
concorrer e convenceu seus respectivos partidos, de como todos eles se 
enfrentaram e do resultado decorrente dessa disputa, seria necessário um livro 
bastante extenso. Por mais completa que fosse a pesquisa para este livro, no 
momento de sua publicação ele já poderia estar defasado, pois acontecimentos 
posteriores poderiam mudar a perspectiva de como foi a eleição. O fato é que a 
cobertura jornalística acompanha o "tempo real", publicando desenvolvimentos 
na medida em que os fatos acontecem. 
Não há espaço, também, para recapitular toda a história a cada novo 
desenvolvimento. Por isso, cada texto depende de que o leitor tenha um mínimo 
de conhecimento sobre o assunto, já que precisa de contexto para ser lido. 
 
O que torna o relato jornalístico um prato cheio para a análise da 
pragmática. É o caso da “Lava-jato” que mencionamos anteriormente: os 
jornalistas que cobrem o desenvolvimento da investigação não podem, a cada 
novo texto, explicar o que é a “Lava-jato” partindo do pressuposto de que o leitor 
nunca ouviu falar nisso. Eles simplesmente seguem o desenrolar dos fatos a 
partir do presente, e pressupõem que o leitor conheça os fatos anteriores que 
são necessários para a interpretação do novo texto. 
Mas isso não quer dizer que o texto jornalístico prescinda de qualquer 
contextualização, podendo confiar cegamente na capacidade do leitor de colocar 
as informações em perspectiva. No seu "Páginas Ampliadas", Edvaldo Pereira 
Lima retoma a hipótese para o surgimento da reportagem como pensaram 
Cremilda Medina e Paulo Roberto Leandro nos anos 1970. 
 
 
10 
Leia o capítulo 4 (pag. 18 a 25) do livro Páginas ampliadas: o livro-
reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. Para tanto, acesse 
a Biblioteca Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
O dilema do jornalismo nas primeiras décadas do século XX foi o seguinte: 
leitores simplesmente não conseguiram conectar fatos noticiados 
separadamente (disputa territorial da Alsácia-Lorena; assassinato do Príncipe 
Francisco Ferdinando; etc.) com a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Era 
preciso que surgisse uma nova forma de trabalhar a informação em perspectiva, 
reunindo diferentes fatos. Surge, então, a reportagem, já bastante próxima do 
que se pratica hoje, que busca relatar os fatos fazendo conexões entre eles, 
oferecendo uma clara perspectiva de interpretação ao leitor.Mesmo a reportagem mais completa, mesmo um livro-reportagem (como 
pensa Pereira de Lima), não terá como ser um relato total de algum fato. Sempre 
é exigido do leitor algum conhecimento prévio que preencha lacunas e amplie os 
sentidos do texto. Cabe, portanto, ao jornalista calcular o ponto exato desse 
equilíbrio entre informações novas e conhecimento de contexto necessário ao 
entendimento do texto. 
TEMA 3: TEXTO E OBJETIVIDADE 
Agora, vamos discutir uma das questões mais centrais do jornalismo 
contemporâneo: a objetividade. A questão já foi abordada de forma tangencial 
na aula passada, quando discutimos a pragmática aplicada ao jornalismo e sua 
relação com a construção do relato da realidade. 
Leia o capítulo “O texto jornalístico” do livro A arte de escrever bem – 
um guia para jornalistas e profissionais do texto, de Dad Squarisi e Arlete 
Salvador. Para tanto, acesse a Biblioteca Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
Podemos pensar na noção de objetividade sob dois aspectos: o linguístico 
e o conceitual. Vamos ver em detalhes cada um deles. Acompanhe! 
a) Aspecto linguístico da subjetividade 
 
 
11 
O texto objetivo depende de um estilo de escrita que preza pela clareza, 
por ser direto e relatar os fatos sem emitir opinião sobre eles. Veja a seguir duas 
formas de se relatar uma mesma notícia. Qual delas é objetiva? 
1. A Secretaria da Fazenda do Paraná informa que o pagamento do IPVA, 
relativo ao exercício de 2016, começa nesta quinta-feira (21) para os veículos 
com os finais de placas 1 e 2. A data é a mesma para quem vai pagar o imposto 
à vista e para os proprietários que vão parcelar em três vezes. 
O Estado concede desconto de 3% aos contribuintes que optarem pela 
quitação em parcela única. Os donos de veículos com outros finais de placas 
devem ficar atentos ao calendário de pagamentos. A Secretaria da Fazenda 
informa que quem que não pagar o imposto nos prazos definidos pela legislação 
terá multa de 10% e os valores sofrerão acréscimo de juros e atualização pela 
variação da taxa Selic. 
2. Foi informado pela Secretaria da Fazenda do Paraná que o pagamento 
do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), relativo ao 
exercício de 2016, começa nesta quinta-feira (21) para os veículos com os finais 
de placas 1 e 2. Independentemente do fato de o contribuinte decidir pagar à 
vista ou não, a data de início do pagamento é a mesma. 
O desconto concedido para quem optar pelo pagamento à vista será de 
míseros 3%, o que não chega a ser nem um pouco atraente. Os donos de 
veículos com outros finais de placas devem ficar atentos ao calendário de 
pagamentos. A Secretaria da Fazenda informa ainda que quem que não pagar 
o imposto nos prazos definidos pela legislação terá multa de 10%. Além disso, 
os valores sofrerão acréscimo de juros e atualização pela variação da taxa Selic 
- portanto, não adianta chorar, pode preparar o bolso já em janeiro. 
b) Aspecto conceitual da subjetividade 
Representa a objetividade enquanto abordagem do assunto a partir de um 
ponto de vista equilibrado, sem tendências ou paixões. Aqui, estamos falando 
mais das decisões do jornalista antes mesmo de escrever o texto do que do 
próprio texto em si, ainda que, naturalmente, a questão da postura se reflita 
diretamente no texto. 
 
 
12 
Há uma clara diferença de tom entre as duas opções, não é mesmo? 
Enquanto na opção A as informações estão todas escritas em frases curtas, em 
ordem direta, e sem o uso de adjetivos que emitem um julgamento sobre elas, 
na opção B o que acontece é o oposto. A comparação entre essas duas versões 
do mesmo texto deixa muito claro o que significa ser objetivo do ponto de vista 
linguístico. O conceito de objetividade jornalística surge a partir da compreensão 
de que seria possível fazer a apreensão “dos fatos do mundo” por meio de um 
relato narrativo preciso. De certa forma, é uma herança do positivismo de 
Auguste Comte, que pregava a observação de fenômenos socais e a produção 
de verdades científicas. 
Nesta perspectiva, o jornalismo seria capaz de produzir um relato que não 
sofresse qualquer tipo de interferência cultural, simbólica ou ideológica de quem 
o produz. Como se fosse possível atingir a "verdade" por meio de um método de 
observação testado e aprovado. Hoje sabemos que não é bem assim. Todos nós 
falamos a partir de um ponto de vista pessoal que carrega nossas crenças, 
nossos desejos e nossa história particular, e que qualquer apreensão da 
“realidade” é, ao menos de certa forma, parcial. 
O princípio da objetividade impacta desde a escolha do que será noticiado 
até a noção de hierarquização das informações dentro de uma matéria (pirâmide 
invertida, noção que será abordada mais adiante, nas próximas aulas), passando 
pelas relações de poder entre jornalistas e fontes. Há uma confusão natural no 
jornalismo que coloca a objetividade em pé de igualdade com a imparcialidade. 
Ou ainda, o entendimento de que uma decorre da outra, diretamente. O conceito 
surgiria, então, como um pacto entre o jornalista e o leitor, que pode acreditar no 
que está publicado em um jornal por que o jornalista não tem interesse no 
assunto, sendo imparcial, portanto. Isso, em tese, gera um relato objetivo da 
realidade. 
Mas esse “pacto da objetividade” pode, na verdade, ser usado para 
enganar o leitor. Os jornalistas podem empregar recursos e estratégias 
linguísticas com o objetivo de dar a impressão de que o texto foi escrito de forma 
isenta, quando, na verdade, fizeram escolhas claramente tendenciosas. O leitor 
estaria, então, sendo levado a acreditar que a "verdade dos fatos" estaria 
representada nas publicações. A objetividade seria, dessa forma, um 
 
 
13 
instrumento de manipulação dos veículos que empurrariam quase que 
subliminarmente a sua própria interpretação dos fatos para os leitores. 
Esse pensamento levou a uma certa crise da objetividade em decorrência 
da constatação de que o relato jornalístico: 
 não dá conta da realidade 
 dificilmente é totalmente desprovido de paixões 
 fica patente, pela comparação entre diversos veículos, que 
há a defesa de interesses corporativistas por trás dos textos 
Com a crise da objetividade, cabe questionar: sem objetividade, é possível 
fazer jornalismo? Não há resposta simples para esta questão. Simplesmente 
abraçar a subjetividade intrínseca de cada jornalista e redação de jornal, 
deixando claro ao leitor com uma série de ressalvas que o texto pode conter 
algum tipo de interferência, não resolve a questão. A outra possibilidade é 
demolir a fronteira entre o jornalismo objetivo e o jornalismo de opinião. Os 
jornais e revistas se tornariam uma coleção de artigos em que os pensamentos 
de cada autor, articulados ou não com outros textos ou depoimentos de pessoas, 
estariam à frente de qualquer conjunto de normas e práticas de redação. 
Muitos jornais vêm adotando essa postura, mesclando artigos escritos 
com “objetividade”, como pregam os manuais de jornalismo, com textos de 
opinião. Alguns desses até escritos por jornalistas cujo nome e conhecimento 
em uma determinada área tenha se tornado notório de alguma forma. 
Dois veículos relativamente jovens em nosso país, o El País Brasil e o 
Huffpost Brasil, usam essa técnica. Curiosamente, ambos são veículos 
estrangeiros que vieram ao Brasil montar novas redações. 
Um bom exemplo desse balanço é a coluna de Eliane Brum para o El País 
Brasil. A jornalista se tornou notória ao escrever uma série de livros de não-
ficção, o que gerou convites para assumir a coluna semanal em que debate 
questões ligadas à política e à sociedade brasileira. Seus textos longos misturam 
a opinião da autora, embasada pela experiência e pela articulação com 
pensamentos de cientistas sociais, com dados estatísticos e depoimentos. Se 
essa postura ajuda os veículos como um todo, oferecendo ao leitor diversos 
 
 
14 
pontos de vista articulados,ainda resta ao jornalista a solução de seu dilema. 
Sem um valor como o a objetividade a própria prática jornalística corre o risco de 
perder sua função social. 
Para muitos pesquisadores, a saída está em abraçar a lógica da 
intersubjetividade. A função do jornalista seria, então, buscar conciliar diferentes 
pontos de vista - diferentes subjetividades - de forma a criar um relato que irá se 
aproximar ao máximo de uma realidade objetiva. O foco na objetividade como 
um ideal final a ser alcançado se desloca para o processo de apuração e 
redação. Um dos pontos de vista que deverá invariavelmente ser articulado é o 
do próprio jornalista, que deverá se mostrar consciente de seu papel no processo 
de mediação destes diferentes relatos colhidos. 
TEMA 4: A ORDEM DO TEXTO: INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO E 
CONCLUSÃO 
Agora, faremos um mergulho na estrutura de um texto jornalístico. Como 
o título diz, iremos compreender que tipo de informação está em sua introdução, 
desenvolvimento e conclusão. Como vimos nas últimas aulas, o texto jornalístico 
é fruto de um processo técnico que envolve a captação de informações brutas e 
sua articulação de forma que o leitor melhor as compreenda. Exploramos 
também as questões da pragmática e da objetividade como possibilidades de 
pressupostos conceituais para o jornalista durante seu processo de apuração e 
redação. Chega, agora, a hora de colocar a mão na massa. Como ordenar as 
ideias? 
Leia Como Ordenar as Ideias, Edivaldo Boaventura. Para tanto, acesse 
a Biblioteca Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
O livro de Boaventura já abre com uma lição exemplar: é preciso planejar 
o texto. Define-se o ponto de partida e o de chegada para, depois, se considerar 
o que é necessário para ir de um ao outro. Ou seja, o desenvolvimento é a ponte 
entre a introdução e a conclusão. Então, vamos por partes. A introdução de um 
texto funciona como um convite à leitura. Já adianta, em si, boa parte do que 
será exposto ao longo da escrita, mas não tudo. É uma apresentação do objeto 
que será examinado, já considerando algumas abordagens que deverão ser 
ampliadas adiante. É, também, onde deverá vir boa parte da contextualização, 
 
 
15 
situando o tema do ponto de vista temporal e espacial, apontando para a 
abordagem que virá a seguir. 
A partir de agora, incluiremos trechos do texto Ministro da justiça liga 
videogames à violência. Pesquisas parecem sugerir outra coisa, publicado 
no jornal online “nexo”. 
Observe o exemplo a seguir: 
Na quinta-feira (14), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou 
em conferência na OEA (Organização dos Estados Americanos) em Washington 
que a "exaltação da violência" em esportes e videogames incentiva a violência 
no Brasil. Em entrevista à BBC, o ministro alegou que videogames e esportes 
estariam banalizando a violência. 
O desenvolvimento deverá ser dividido em partes. Parágrafos em um 
texto curto, subtítulos em um texto longo, capítulos em um livro. Cada uma 
dessas partes deverá ser pensada como uma forma de se aproximar mais e mais 
do objeto que está no centro da análise. Cada momento enfoca um ponto de 
vista ou um passo do caminho que deverá levar à conclusão. 
A relação estabelecida por Cardozo não é nova. Na verdade, ela foi 
estabelecida em pesquisas há quase três décadas. O “Massacre de Columbine” 
em 1999 serviu como exemplo para diversas correlações entre videogames e 
violência. Na época, as investigações sobre o ataque levantaram a possibilidade 
de que os atiradores teriam agido também inspirados pelo game “Doom”. Esse 
foi um argumento que fez com que pais das vítimas entrassem com uma ação 
contra as empresas de games. (...) O psicólogo Christopher J. Ferguson, doutor 
em psicologia clínica e professor de ciências aplicadas e comportamentais da 
Texas A&M International University, fez uma científica sobre o tema. Ao analisar 
não apenas a violência, mas agressão e redes de sociabilidade, o pesquisador 
reconhece que a agressividade é um comportamento aprendido, mas conclui 
que os videogames podem ter impactos positivos e negativos e que o efeito que 
pode ser, efetivamente, medido é muito baixo: ele é observado em menos de 
2,5% dos casos. Para o psicólogo, há uma desproporção entre como o tema 
reverbera no debate público e sua relevância estatística. 
 
 
16 
Segundo Boaventura, a conclusão é um resumo marcante. Os temas da 
introdução deverão ser retomados à luz do que foi exposto ao longo do 
desenvolvimento fazendo as amarrações finais. Se ainda há questões a serem 
respondidas, elas deverão ser feitas (ou refeitas) neste momento, apontando 
caminhos para outros textos no futuro. 
O Brasil é um país violento. Em 2014, morreram, em média, 154 pessoas 
por dia. Ao todo, foram 56.337 pessoas que perderam a vida assassinadas, 7% 
a mais do que em 2011, segundo o Mapa da Violência. O número coloca o país 
como o sétimo lugar no ranking de nações com maior número de homicídios. No 
Brasil, esse tipo de violência está ligado à chamada criminalidade urbana, e se 
explica mais em função dos dados de contexto socioeconômico, cultural e 
histórico do país do que por traços individuais de comportamento. 
Em um relatório global de 2011, o Banco Mundial reitera essa 
interpretação apontando como causas da violência um conjunto de fatores. Entre 
eles estão a pobreza e desigualdade, a urbanização rápida e não planejada, o 
desemprego, o fácil acesso a armas de fogo, tráfico de drogas e a própria cultura 
da violência entre outros. 
O texto jornalístico possui algumas especificidades pelo seu modo 
industrial de produção. As regras gerais de Boaventura se aplicam, claro, mas 
com algumas ressalvas, começando pela noção de "lide". A definição do que 
seja uma lide varia de autor para autor. Para alguns é a primeira frase, para 
outros é o primeiro parágrafo. Há alguns que pensam nele mais ou menos como 
Boaventura pensa a introdução. Ou seja, o começo de um texto. 
Leia o capítulo 5, páginas 28 a 42, do livro Estrutura da Notícia, de Nilson 
Lage. Para tanto, acesse a Biblioteca Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
Independente de qual seja o recorte que defina uma lide, todos os 
pesquisadores concordam que ele deverá obrigatoriamente responder às 
seguintes questões: 
 Quem fez o que 
 A quem 
 Quando 
 
 
17 
 Onde 
 Como 
 Por que 
 Para quê 
Ou seja, todas as questões centrais abordadas no texto deverão vir 
respondidas já nas primeiras frases. Depois da lide, o texto deverá trabalhar no 
sentido de explicar e contextualizar essas questões iniciais. Então, diferente da 
proposição de Boaventura, o texto jornalístico não caminha para uma conclusão, 
mas, ao contrário, se desenvolve a partir de um postulado. Isso envolve uma 
questão prática de outra ordem: a relação com o espaço da página, uma herança 
do jornalismo impresso. 
Dessa forma, uma matéria que precisasse ceder espaço para outra mais 
urgente e importante deveria ser cortada. Mas onde cortar? O clichê jornalístico 
prega que sempre se deve "cortar pelo pé". Ou seja, os últimos parágrafos são 
progressivamente menos importantes. Ou, pelo menos, devem ser. É quando 
entra em cena uma outra técnica clássica do jornalismo. A pirâmide invertida. 
Leia "A Pirâmide Invertida", páginas 15 a 19, do livro A Arte de Escrever 
Bem, de Dad Squarisi e Arlete Salvador. Para tanto, acesse a Biblioteca Virtual, 
pelo UNICO, e pesquise. 
A pirâmide invertida é uma imagem mental que ajuda a visualizar como o 
texto será organizado. No topo, ou seja, na lide, as informações mais importantes 
e centrais. A partir dele vão sendo trabalhadas questões que vão reduzindo em 
importância até chegar ao fim. Por isso, se necessitar cortar, os últimos 
parágrafos serão os sacrificados. A lógica da lide e da pirâmide invertida são 
pontos de partida para a construção de um texto. Mas não devem ser amarras. 
Diversos modelos surgiram para questionaresses formatos e apresentar outras 
possibilidades. Entre elas estão o jornalismo literário e o new-journalism, que 
incorporam elementos da literatura no texto jornalístico. 
A aproximação ou rejeição com a literatura dependem da inclinação de 
cada jornal e de um certo contexto cultural. No final dos anos 90 os editores não 
pensariam duas vezes para cortar uma abertura mais literária em uma matéria 
(nariz de cera, no jargão). 
 
 
18 
Hoje, é possível que um texto que comece direto na lide seja devolvido ao 
jornalista para que ele dê uma trabalhada na apresentação, deixando as 
informações para o segundo ou terceiro parágrafo, buscando fisgar o leitor pelo 
clima de mistério de uma abertura mais policialesca, por exemplo. 
Leia o capítulo 4, " Ganchos para agarrar o leitor ", do livro Técnicas de 
comunicação escrita, de Izidoro Blikstein. Para tanto, acesse a Biblioteca 
Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
TEMA 5: O PARÁGRAFO 
Agora, vamos discutir como se estrutura um parágrafo. Como vimos 
anteriormente, se o desenvolvimento de um texto é a ligação entre a introdução 
e a conclusão, e se esse mesmo desenvolvimento é composto por partes, cada 
parte é um parágrafo, ou é integrada por parágrafos. Mas como cada uma 
dessas unidades essenciais pode ser mais bem estruturada? 
Leia o capítulo “Tópico e parágrafo”, pag. 68, do livro É possível facilitar 
a leitura – um guia para escrever claro, de Yara Liberato e Lúcia Fulgêncio. 
Para tanto, acesse a Biblioteca Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
Um parágrafo começa com um tópico frasal, que é a oração que introduz 
a ideia central que será trabalhada ao longo das próximas linhas. Dessa forma, 
cada parágrafo se comporta como um mini texto fechado em si mesmo, com 
introdução, desenvolvimento e conclusão, que pode ou não dar abertura para o 
próximo tópico frasal do próximo parágrafo. 
O tópico frasal é construído a partir de uma ideia-núcleo, que é a parte do 
objeto de análise do texto como um todo que será examinada naquele parágrafo 
de maneira particular. Essa ideia-núcleo é seguida de ideias secundárias, que 
desenvolvem o conceito original, e de uma conclusão, reafirmando a ideia 
básica. Não custa notar, porém, que em um parágrafo curto, a conclusão não é 
exatamente obrigatória. 
Um bom parágrafo é, essencialmente, monotemático e com início, meio e 
fim. Se duas abordagens diferentes do mesmo tema estiverem em um mesmo 
parágrafo, o resultado é pura confusão, o que é o contrário do que pretende um 
 
 
19 
texto jornalístico. Novamente, o conceito de ideia-núcleo, ideias secundárias e 
conclusão é apenas um norteador. 
Observe como o repórter da Vice, revista conhecida pelos textos 
descontraídos sobre comportamento moderno, articula um parágrafo: 
Porém, para mim, a estatística mais reveladora surgiu algum tempo atrás, 
quando uma pesquisa sugeriu que 72% dos trabalhadores britânicos acumulam 
dez horas extras de trabalho não remunerado por semana. Se eu acredito nos 
resultados desse estudo? Não, ele foi realizado pela Travelodge. Mas aí vi outro 
estudo realizado pelo ligeiramente mais confiável Trade Union Congress, 
segundo o qual o trabalhador britânico médio – tenha isso em mente, o 
trabalhador britânico médio – faz sete horas e 18 minutos extras de trabalho não 
remunerado toda semana. Essa sim é uma estatística aterrorizante, que sugere 
que aceitamos um código secreto de conduta para o trabalho diário: trabalhar 
por muito mais tempo do que se deveria, por muito menos, com menos 
vantagens – e sendo obrigado a repetir o mantra da empresa. 
Este é um parágrafo bem pouco convencional dentro do que vimos 
exposto nesta aula. Mas, ainda assim, respeita parte das prerrogativas. Fica 
claro que é um texto sobre as relações de trabalho e que os dados de duas 
pesquisas diferentes irão ser articuladas para corroborar a mesma ideia-núcleo: 
a maioria dos britânicos trabalham quase 10 horas a mais por semana. Note 
ainda como a última frase busca resumir e contextualizar as informações 
expostas. 
Essas sete horas e 18 minutos são uma coisa se você é empreendedor, 
advogado de direitos humanos ou fotógrafo freelance de street style. Quem entra 
para uma dessas profissões sabe que não vai poder (não todos os dias) ir para 
casa ou para o bar assim que der seis da tarde. No entanto, considerando que a 
maioria das pessoas na Inglaterra pós-Thatcher trabalha na indústria de serviços 
ou em escritórios de administração, o que diabos estamos fazendo? Terminando 
tabelas na nossa própria cozinha? Fazendo "pub office"? Cobrando dos filhos a 
fatura pelos serviços prestados? 
A ideia-núcleo já não é a mesma. O autor reflete que há casos em que é 
possível trabalhar horas-extras e se sentir recompensado não-materialmente, 
 
 
20 
mas só para depois reforçar que essa não é a maioria dos casos. Ele, por fim, 
retoma a questão com uma série de perguntas de ordem retórica, reforçando seu 
pensamento sobre o assunto. 
Estes dois parágrafos estão no meio do texto. Ambos falam sobre o 
mesmo assunto, emprego na contemporaneidade e a quebra do acordo entre 
empregadores e empregados. Mas cada um desenvolve o assunto sob um 
aspecto ligeiramente diferente que serão determinantes para a construção da 
argumentação que o autor propõe. 
Leia o capítulo 3 “O parágrafo padrão”, pag. 68, do livro Redação 
Acadêmica, de Daniela Duarte Illesca et al. Para tanto, acesse a Biblioteca 
Virtual, pelo UNICO, e pesquise. 
TROCANDO IDEIAS 
Que tal explorarmos um pouco mais a questão dos contextos envolvidos 
em matérias e reportagens? Formem grupos, você e seus colegas (4 a 6 
pessoas), escolham um texto de um assunto que lhes interessa – cada um deve 
escolher um assunto diferente (economia, esporte, cultura, política, mundo, 
tecnologia, cidades etc.). 
Depois, individualmente, publique seu texto no blog (link) e comente que 
tipo de conhecimento contextual é necessário ao leitor para que ele entenda o 
texto. Será que todas as pessoas do grupo são capazes de compreender todas 
as referências necessárias à compreensão do texto? Identifiquem problemas de 
compreensão e possíveis soluções para a redação dos textos. 
NA PRÁTICA 
Não tema 3 desta aula, vimos como a objetividade pode se manifestar 
enquanto construção estilística do texto – frases em ordem direta, fugir do uso 
da voz passiva, evitar comentários às informações, adjetivos etc. Além disso, 
discutimos a objetividade enquanto compromisso com a imparcialidade. Agora, 
faremos um exercício de escrita que pretende levar você a explorar esse 
aspecto. 
Acesse o Google e pesquise pela seguinte matéria: Amarrado em uma 
cruz, empresário protesta no centro de Curitiba. 
 
 
21 
Do ponto de vista linguístico, o texto segue os princípios da objetividade: 
frases curtas, ordem direta e imparcialidade. 
Produza duas novas versões para esse texto, uma que expresse uma 
visão positiva sobre a atitude do personagem, e outra em que se posiciona 
negativamente diante dela. Para isso, pode excluir informações ou alterar sua 
ordem no texto. Deve também inserir comentários próprios. Após escrever suas 
versões, compartilhe-as com colegas. 
SÍNTESE 
Nesta unidade fizemos um mergulho no texto jornalístico, do ponto de 
vista de sua técnica, ética e estética. A abordagem inicial foi em relação a uma 
questão que diferencia a escrita jornalística da maioria das outras: a 
preocupação com o leitor. O texto precisa ser compreendido mesmo na mais 
superficial das leituras. Em seguida, tivemos contato com duas abordagens 
possíveis para a escrita. Ou ainda, duas posturas a serem adotadas pelo 
jornalista diante da feitura de um texto: a pragmática e a objetividade. Nenhuma 
das duas pode ser tratada como uma diretriz totalizante e fechada em si mesma, 
mas antes como possibilidades durante a confecção de um texto. 
A pragmática nos leva a refletir sobre o texto como parte de um processosócio-político-cultural muito mais amplo do que a sintaxe, o que é determinante 
para um artigo publicado em um veículo. A objetividade, por outro lado, evoca a 
distância radical que há entre um fato e sua representação, e que o dever do 
jornalista é conciliar uma boa parte dessas subjetividades de forma a criar um 
relato que busque a aproximação. 
REFERÊNCIAS 
BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de Comunicação Escrita. São Paulo: 
Contexto, 2016. 
BOAVENTURA, Edvaldo. Como Ordenar as Ideias. Série Princípios. 9 
ed. 3ª imp. São Paulo: Ática, 2010. 
ERBOLATO, Mário L. Técnicas de Codificação em Jornalismo. Série 
Fundamentos. 5 ed. 8ª imp. São Paulo: Ática, 2008. 
 
 
22 
FIGARO, Roseli; et al. Comunicação e análise do discurso. São Paulo: 
Contexto, 2012. 
FULGÊNCIO, Lúcia e LIBERATO, Yara. É possível facilitar a leitura – 
um guia para escrever claro. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2009. 
KOCH, Ingedore G. V.; TRAVAGLIA, Luiz C. A Coerência Textual. 18 ed. 
São Paulo: Contexto, 2010. 
LAGE, Nilson. Estrutura da Notícia. 6 ed. São Paulo: Ática, 2006. 
LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como 
extensão do jornalismo e da literatura. 4 ed. Ver. e Ampl. São Paulo: Manole, 
2009. 
MIGUEL, Éverton. Observatório da Imprensa. Crítica ao 
desconstrucionismo da objetividade jornalística. 2016. Disponível em: 
<http://observatoriodaimprensa.com.br/diretorio-academico/critica-ao-
desconstrucionismo-da-objetividade-jornalistica/>. Acesso em: 09 maio 2016. 
MOTTA, Luiz Gonzaga. A Análise Pragmática da Narrativa 
Jornalística. Disponível em: 
<http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/105768052842738740828590501726
523142462.pdf>. Acesso em: 09 maio 2016. 
SALVADOR, Arlete; SQUARISI, Dad. A arte de escrever bem – um guia 
para jornalistas e profissionais do texto. 6 ed. São Paulo: Contexto, 2009.

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