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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância Biotecnologia Biotecnologia Aplicada à Saúde Autor: Cristiano Marcelo Espinola Carvalho EAD – Educação a Distância Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação 2 www.eunapos.com.br SUMÁRIO UNIDADE 1 – BIOTECNOLOGIA APLICADA A PROBLEMAS DE SAÚDE ......... 03 1.1 Conceitos fundamentais .................................................................................... 03 UNIDADE 2 – ANTICORPOS MONOCLONAIS ..................................................... 11 2.1 Histórico ............................................................................................................ 11 2.2 Imunoglobulinas como Medicamentos .............................................................. 14 UNIDADE 3 – VACINAS DE DNA .......................................................................... 25 3.1 Tipos de vacinas ............................................................................................... 25 3.2 Produção de vacinas ......................................................................................... 30 3.3 Aspectos tecnológicos ....................................................................................... 31 UNIDADE 4 – ENGENHARIA DE TECIDOS E ÓRGÃOS ...................................... 36 4.1 Histórico ............................................................................................................ 36 4.2 Engenharia de tecidos ....................................................................................... 38 UNIDADE 5 – TERAPIA GÊNICA .......................................................................... 48 5.1 Princípio ............................................................................................................ 48 REERÊNCIAS ......................................................................................................... 54 3 www.eunapos.com.br UNIDADE 1 – BIOTECNOLOGIA APLICADA A PROBLEMAS DE SAÚDE O objetivo dessa unidade é apresentar o conceito de biotecnologia, bem como o histórico de suas aplicações em saúde. 1.1 Conceitos Fundamentais Biotecnologia pode ser definida como a aplicação prática do conhecimento através do uso de organismos vivos. Em seu sentido mais amplo compreende a manipulação de microrganismos, plantas e animais, objetivando a obtenção de processos e produtos de interesse. Desta forma, podemos assumir que vem sendo praticada desde os tempos que remontam à origem da nossa civilização, quando o homem começou a utilizar a atividade microbiana para produzir alimentos fermentados. Os sumérios e babilônios - 6000 a.C. já produziam bebidas alcoólicas por fermentação de grãos de cereais. Fonte: http://migre.me/iSUz7 Por outro lado, como a definição de um setor de atividades depende dos interesses dos grupos envolvidos, muitas vezes reflete a visão dos setores 4 www.eunapos.com.br profissionais predominantes. Por isso, encontramos mais de uma dúzia de definições diferentes do termo, que de acordo com a FATEC (s/d), são: Organization for Economic Co-Operation and Development (OECD): A aplicação dos princípios da ciência e da engenharia no tratamento de matérias por agentes biológicos na produção de bens e serviços (1982). Office of Technology Assessment (OTA): Biotecnologia, de uma forma abrangente, inclui qualquer técnica que utiliza organismos vivos (ou partes deles) para obter ou modificar produtos, melhorar plantas e animais, ou desenvolver microrganismos para usos específicos (1984). European Federation of Biotechnology (EFB): Uso integrado da bioquímica, da microbiologia e da engenharia para conseguir aplicar as capacidades de microrganismos, células cultivadas animais ou vegetais ou parte dos mesmos na indústria, na saúde e nos processos relativos ao meio ambiente (1988). E.H. Houwink: o uso controlado da informação biológica (1989). Biotechnology Industry Organization (BIO): em sentido amplo, Biotecnologia é "bio" + "tecnologia", isto é o uso de processos biológicos para resolver problemas ou fazer produtos úteis (2003). Fonte: http://migre.me/iSUDk A Biotecnologia abrange diferentes áreas do conhecimento que incluem a ciência básica (Biologia Molecular, Microbiologia, Biologia celular, Genética, Genômica, Embriologia, etc.), a ciência aplicada (Técnicas imunológicas, químicas e bioquímicas) e outras tecnologias (Informática, Robótica e Controle de processos). 5 www.eunapos.com.br Historicamente, a proposta de dois cientistas da Universidade de Cambridge, Inglaterra, o americano James D. Watson e o inglês Francis Crick (1953), de um modelo helicoidal para a molécula de DNA representa, um marco fundamental para a Biologia Molecular e, consequentemente para a Biotecnologia. Fonte: http://migre.me/iSUIn Mas a divisória entre a Biotecnologia clássica e a Biotecnologia moderna é uma série de experiências realizadas por Herbert Boyer e Stanley N. Cohen que culmina em 1973 com a construção de um gene com parte do DNA bacteriano e parte do DNA de sapo (Xenopus laevis). Seus experimentos permitiram a criação de células artificialmente construídas para produzir proteínas encontradas na natureza ou novas proteínas, demonstrando assim o potencial impacto da engenharia genética na medicina e farmacologia, indústria e agricultura. A Engenharia Genética ocupa um lugar de destaque como tecnologia inovadora, seja porque permite substituir métodos tradicionais de produção (Hormônio de crescimento, Insulina), seja porque permite obter produtos inteiramente novos (Organismos transgênicos). Fonte: http://migre.me/iSUUf 6 www.eunapos.com.br A biotecnologia moderna trabalha com partes de organismos (células e moléculas), frequentemente modificando-as com técnicas de engenharia genética, em contraposição à biotecnologia clássica, que utiliza organismos vivos em sua forma original e melhoramento genético tradicional (SILVEIRA; BORGES, 2004). No entanto, a manipulação gênica não é a única ferramenta disponível na biotecnologia. Segundo Malajovich (2012), a biotecnologia abrange hoje uma área ampla do conhecimento que provém da ciência básica (biologia molecular, microbiologia, biologia celular e genética, entre outras), da ciência aplicada (técnicas imunológicas e bioquímicas, assim como técnicas decorrentes da física e da eletrônica), e de outras tecnologias (fermentações, separações, purificações, informática, robótica e controle de processos). As potencialidades de aplicação da biotecnologia são muitas. Trata-se de uma rede complexa de conhecimentos que geram produtos e processos biotecnológicos que fazem parte do nosso dia a dia, conforme quadro abaixo. Quadro 1 – Aplicações da biotecnologia Setores Tipos de produtos ou serviços Energia Etanol, biogás e outros combustíveis (a partir da Biomassa) Indústria Butanol, acetona, glicerol, ácidos, vitaminas, etc. Numerosas enzimas para outras indústrias (têxtil, de detergentes, etc.). Meio ambiente Recuperação de petróleo, tratamento de águas servidas e de lixo, eliminação de poluentes. Agricultura Adubo, silagem, biopesticidas, biofertilizantes, mudas de plantas livres de doenças, mudas de árvores para reflorestamento. Plantas com características novas incorporadas (transgênicas): maior valor nutritivo, resistência a pragas e condições de cultivo adversas (seca, salinidade, etc.). Pecuária Embriões, animais com características novas (transgênicos), vacinas e medicamentos para uso veterinário. Alimentação Panificação (pães e biscoitos), laticínios (queijos, iogurtes e outras bebidas lácteas), bebidas (cervejas, vinhos e bebidas destiladas) e aditivos diversos (shoyu, monoglutamato de sódio, adoçantes,etc.); proteína de célula única (PUC) para rações, alimentos de origem transgênica com propriedades novas. Saúde Antibióticos e medicamentos para diversas doenças, hormônios, vacinas, reagentes e testes para diagnóstico, tratamentos novos, etc. Fonte: Malajovich, 2012. 7 www.eunapos.com.br Por ser uma atividade baseada em conhecimentos multidisciplinares, que utiliza agentes biológicos para fazer produtos úteis ou resolver problemas, podemos considerá-la suficientemente abrangente, para englobar atividades tão variadas, como as de engenheiros, químicos, agrônomos, veterinários, microbiologistas, biólogos, médicos, advogados, empresários, economistas, etc. Em laboratório, ela estuda o melhoramento genético, a criação e o gerenciamento de novos produtos, que podem ser medicamentos, ingredientes para alimentos industriais ou até mesmo uma planta. Na área da microbiologia, estudam- se fungos, bactérias, vírus e protozoários e as patologias que eles causam em plantas e no organismo do homem e de animais, além de pesquisar métodos de utilização desses microrganismos na produção de alimentos e bebidas, como laticínios, cerveja e vinho. Na imunologia se emprega os microrganismos na produção de vacinas e medicamentos. A biotecnologia aplicada à saúde caracteriza-se por alta interdisciplinaridade e grande complexidade dos conhecimentos envolvidos, sendo difícil a diferenciação entre pesquisa básica e aplicada (REIS et al, 2009). O foco desta disciplina é a biotecnologia aplicada à saúde. Para esse propósito, as próximas unidades deste material didático incluem aspectos biotecnológicos de forte impacto tanto na economia nacional como internacional, tais como desenvolvimento e produção de biofármacos, de vacinas, além de novas formas terapêuticas, como a terapia gênica. Para concluir esta unidade, sugiro a leitura do artigo, a seguir. Brasil e Cuba firmam parceria para pesquisa e produção de biofármacos Em Havana, ministro da Saúde se reuniu com médicos que participarão do terceiro ciclo do Programa Mais Médicos e assinou parcerias na área da saúde. Acompanham o ministro nas agendas em Cuba os secretários de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mozart Sales, da Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Carlos Gadelha, e de Gestão Estratégica e Participativa, Odorico Andrade e Dirceu Barbano, diretor da Anvisa. Durante o evento, foi assinada uma carta de intenções que estabelece parceria bilateral para o desenvolvimento de medicamentos inovadores. A cooperação permitirá que 8 www.eunapos.com.br empresas brasileiras e cubanas desenvolvam conjuntamente processos para novos medicamentos contra o câncer e enfermidades autoimunes. A iniciativa permitirá a redução no custo desses medicamentos e produtos e o estímulo à inovação tecnológica no Brasil. A assinatura do documento entre os ministérios da Saúde dos dois países e o Grupo das Indústrias Biotecnológica e Farmacêutica (BioCubaFarma) se dá no âmbito do Comitê Gestor Binacional (CGB), criado em 2011. Ele é responsável por coordenar, monitorar e priorizar os projetos de desenvolvimento conjunto, desde as etapas iniciais de pesquisa até a possibilidade de produção em ambos os países. Também foi assinado um Termo de Compromisso para a criação de uma empresa mista entre a BioCubaFarma e a Odebrecht para constituição de planta produtiva de biofármacos na Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel (ZEDM). Esse projeto, de empreendimento privado, vai utilizar capacidades tecnológicas tanto do Brasil quanto de Cuba, focando na produção de medicamentos para testes clínicos. A parte cubana contribuirá com produtos, conhecimento tecnológico, recursos humanos qualificados, experiência na condução de ensaios clínicos e certificação da instalação produtiva. Já a empresa brasileira contribuirá com o financiamento para o desenvolvimento da infraestrutura, com a construção da planta produtiva, e realizará os esforços para o acesso de produtos ao mercado brasileiro. A planta será utilizada para o fornecimento de produtos necessários à realização de estudos clínicos no Brasil e em Cuba. A Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel (ZEDM) permitirá que empresas estrangeiras e brasileiras tenham incentivos legais, tributários e fiscais para produzir, inclusive medicamentos, em território cubano. O objetivo é aumentar as exportações e promover a substituição de importações, facilitar a transferência de tecnologia e de conhecimento para o território cubano, além de gerar novos empregos e desenvolver a infraestrutura do país. As obras foram iniciadas em 2008 e estão sendo realizadas pela Odebrecht, contando com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A previsão é de que a construção seja finalizada em 2014. Cooperação entre os dois países já gerou produtos de alta tecnologia Durante a atividade, o ministro Alexandre Padilha destacou o aprofundamento da cooperação entre os dois países, nos últimos anos, com foco no desenvolvimento e utilização de medicamentos biológicos de alta tecnologia. Entre eles está a parceria que envolve 21 produtos e projetos de pesquisa e desenvolvimento em sete temas diferentes: terapia e controle de câncer; estratégias público-público e público-privadas; formação de recursos humanos em pesquisa clínica e avaliação de tecnologias; terapia celular; 9 www.eunapos.com.br neurociência; nanobiotecnologia; e genética populacional. O investimento do Ministério da Saúde nesses projetos é de cerca de R$ 200 milhões. Entre os produtos, está o anticorpo monoclonal Nimotuzumab, indicado para o tratamento de tumores cerebrais, vacinas para a prevenção de câncer de pulmão, e anticorpos para leucemia e câncer de mama, cujos estudos são realizados por pesquisadores brasileiros e cubanos. O desenvolvimento dos produtos e as transferências de tecnologias estão sendo conduzidas por instituições públicas e privadas brasileiras e por instituições cubanas. Com isto, o Brasil, em parceria com Cuba, entra na fronteira tecnológica mundial, associando inovação e ampliação do acesso aos serviços de saúde. Para fortalecer o complexo industrial da saúde no Brasil, o Ministério da Saúde está investindo R$ 1 bilhão, com a expectativa de dobrar o valor em cinco anos. Para isso, está desenvolvendo mais de 104 Parcerias para Desenvolvimento Produtivo (PDPs). A cooperação com Cuba se insere no contexto da política da pasta para o desenvolvimento tecnológico e industrial do setor da saúde. Atualmente estão em vigor 39 parcerias entre laboratórios públicos e privados articuladas pelo Ministério da Saúde para a produção de 26 medicamentos biológicos no país. O governo federal representa 60% das compras desse tipo de produto. Apesar de equivalerem a cerca de 5% dos medicamentos comprados pelo Ministério da Saúde, os biofármacos representam 43% dos gastos. Este percentual equivale a quase R$ 5 bilhões por ano, dentro dos R$ 11 bilhões gastos na compra de medicamentos. Com a produção de biossimilares nacionais, o Ministério da Saúde estima uma economia de R$ 1,5 bilhão por ano. Considerando os biológicos e demais medicamentos e produtos de saúde, são, ao todo, 104 parcerias formalizadas, 72 parceiros envolvidos, sendo 19 laboratórios públicos e 60 privados, totalizando 97 produtos. A economia média estimada por ano com a produção nacional deles é de R$ 4,1 bilhões por ano. A cooperação entre Brasil e Cuba na área de saúde contempla, além de projetos específicos em pesquisa, desenvolvimento e controle de qualidade de medicamentos, vigilância sanitária, saúde bucal e bancos de leite humano, ações para ampliar o acesso da população brasileira à Atenção Básica, através do intercâmbio de médicos por meio do Programa Mais Médicos, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Fonte:Ministério da Saúde (28 de janeiro de 2014). Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/saude/2014/01/brasil-e-cuba-firmam-parceria-para- pesquisa-e-producao-de-biofarmacos>. Acesso em: ab. 2014. 10 www.eunapos.com.br Exercício 1 Assinale a alternativa correta em relação à enzima de restrição. Por meio da tecnologia do DNA recombinante, é possível, por exemplo, transferir genes de mamíferos para bactérias e torná-las produtoras. Para tanto, são utilizados vetores, sendo que a moléstia oriunda fusão de dois fragmentos de DNA é conhecida como molécula de DNA recombinante. São produzidas por células de mamíferos e utilizadas para a regulação gênica de genes bacterianos a partir da transferência de genes de mamíferos para as bactérias. São produtos de genes eucariontes relacionados com a regulação gênica, acionando a transcrição nos momentos corretos durante o desenvolvimento. São enzimas bacterianas utilizadas para a ligação química e, portanto, para a fusão entre genes bacterianos e genes eucariontes. São produtos gênicos bacterianos, cuja função celular é a ligação do DNA viral oriundo de infecções ao DNA bacteriano. São produtos de genes bacterianos, cuja função natural é proteger a bactéria pela queda ou rompimento de cadeias de duplas de DNA exógeno. 11 www.eunapos.com.br UNIDADE 2 – ANTICORPOS MONOCLONAIS O desenvolvimento dos anticorpos monoclonais pela engenharia genética tem oferecido novas esperanças para o tratamento de várias doenças. Nos últimos anos anticorpos monoclonais passaram a ser uma terapia de primeira linha para uma variedade de patologias que incluem infecções virais, distúrbios inflamatórios e neoplasias. Fonte: http://migre.me/iSVIf 2.1 Histórico A era moderna da Imunologia teve início em 1890 com a descoberta dos anticorpos como componentes principais da imunidade protetora (BRAUN et al, 1992). O sistema imune dos vertebrados é especializado no reconhecimento de substâncias e organismos estranhos e na sua posterior eliminação. Para tanto, há o envolvimento de diversos tipos celulares e moléculas, destacando-se os anticorpos ou imunoglobulinas, principais protagonistas da resposta imune humoral. As de imunoglobulinas em resposta a um patógeno ou a uma toxina são moléculas de alta afinidade, com grande capacidade de distinção entre espécies moleculares semelhantes. Essas moléculas são responsáveis pelo reconhecimento de determinantes antigênicos das substâncias/invasores exógenos e também pela ativação de sistemas efetores celulares, que, em última instância, os eliminam. Devido às 12 www.eunapos.com.br funções que desempenham, essas moléculas apresentam uma ambiguidade estrutural: por um lado, sua extremidade N-terminal (Fab – fração ligante ao antígeno) apresenta uma variabilidade superficial capaz de interagir com moléculas dos mais variados tipos, enquanto que a porção carboxiterminal (Fc-fração cristalizável) deve ser reconhecida por células efetoras do sistema imune, o que pressupõe uma certa constância estrutural (GOLDSBY et al, 2000). Fonte: http://migre.me/iSVM7 É essa região (Fc) que se liga aos receptores de membrana citoplasmática de macrófagos, linfócitos e outras células efetoras, invocando a resposta imune a partir do reconhecimento do antígeno, o “corpo estranho”. Fonte: http://migre.me/iSVNN 13 www.eunapos.com.br No nosso organismo, os anticorpos produzidos derivam de diferentes linhagens de linfócitos B e correspondem a moléculas secretadas contra um antígeno específico, cada uma reconhecendo uma região diferente do antígeno, e assim são denominados anticorpos policlonais. A descoberta da vacina, por Edward Jenner, em 1796, estimulou muito as pesquisas acerca dos anticorpos policlonais. Edward Jenner observou que ordenhadeiras que adquiriam a vaccínia, uma forma de varíola bovina, ficavam imunes à varíola humana. A partir de então, diversos avanços ocorreram nesta área, principalmente na produção de vacinas que induzem a produção de anticorpos policlonais após a inoculação de um antígeno que induza a resposta imunológica, conferindo proteção ao indivíduo vacinado. Após esses anticorpos serem produzidos, permanecem circulantes no organismo do indivíduo e podem ser utilizados como ferramentas de diagnóstico das doenças contra os quais foram especificamente produzidos. Fonte: http://migre.me/iSVOG Hoje existe comercialmente disponíveis, uma série de anticorpos policlonais, produzidos contra as mais diversas doenças infecciosas, como a raiva, intoxicações e contra venenos de animais peçonhentos, além daqueles utilizados como reagentes em testes diagnósticos. Já os anticorpos monoclonais são produzidos a partir de um único clone de linfócito B imortalizado. Durante a resposta imune humoral, cada clone de linfócito B 14 www.eunapos.com.br produz um único tipo de molécula reativa a uma única estrutura química. Devido a isso, cada anticorpo apresenta uma única especificidade, ou seja, reage com um único tipo de molécula (antígeno). Essa característica das imunoglobulinas e a possibilidade de produzi-las especificamente contra antígenos humanos em animais imunizados, levou à proposição de que essas moléculas poderiam ser utilizadas como fármacos, ou ainda para dirigir fármacos a locais específicos do corpo de pacientes. Tal proposição ganhou força com a descoberta de Milstein e Köhler acerca do processo de produção de anticorpos monoclonais (WINTER; MILSTEIN, 1991). Esse processo envolve a imortalização de células produtoras de anticorpos (oriundas do animal imunizado) por fusão com células tumorais. Com essa tecnologia, surgiu a ideia de que os anticorpos monoclonais poderiam funcionar como balas mágicas, devido à sua especificidade por um dado antígeno, podendo alcançar específica e eficientemente um único tecido ou tipo celular. 2.2 Imunoglobulinas como Medicamentos O interesse biotecnológico pelas imunoglobulinas é secular. A utilização de anticorpos para neutralizar toxinas, gerou uma grande revolução no pensamento científico no final do século XIX. No Brasil, o pioneiro na utilização de soros foi Vital Brasil. Com ele surgiram fazendas para produção de soro antiofídico e contra outros venenos de animais peçonhentos, o que fez do Brasil uma referência nessa área. Paul Ehrlich, no início do século XX, quando mecanismos de especificidade como a ligação entre antígeno e anticorpo já eram conhecidos, propôs um modelo no qual o fármaco é ligado a um transportador específico exibindo sua atividade farmacológica apenas no tecido alvo. Assim, os efeitos indesejáveis resultantes da sua ação em outros tecidos seriam largamente diminuídos, enquanto o aumento da eficiência permitiria o decréscimo da dose administrada. Esse modelo ficou conhecido por “Bala Mágica de Ehrlich” (SANTOS; CASTANHO, 2002). 15 www.eunapos.com.br Fonte: http://migre.me/iSVTA A segunda geração de anticorpos veio com o advento dos anticorpos monoclonais, o que gerou uma grande perspectiva na comunidade científica devido à possibilidade de criação de reagentes específicos, reativos a diferentes antígenos e com possibilidade, portanto, de resolver problemas, antes de difícil solução, como o ataque a células cancerígenas, a minimização da rejeição a enxertos, entre outros (MARANHÃO; BRIGIDO, 2001). Diferentemente do soro imune, o anticorpo monoclonal consiste em uma preparação homogênea, monoespecífica, que pode reconhecer um único e específico alvo dentro do organismo do paciente. Os anticorpos monoclonais são hoje uma realidade sendo utilizados para diversos fins, tais como moduladores da rejeição em pacientes transplantados, para o mapeamento de tumores, desintoxicação por drogas ou mesmo na imunização preventiva. “Épossível hibridizar células produtoras de anticorpos de origens diversas. Esses híbridos podem ser cultivados in vitro, em grandes quantidades, e fornecer anticorpos específicos, o que poderia ter importância na medicina e na indústria” (KÖHLER; MILSTEIN, 1975). O trabalho no qual foram baseadas essas palavras deram a seus autores o Prêmio Nobel de Medicina, em 1984, e significou um salto no desenvolvimento das mais diversas áreas das ciências biológicas. Esta técnica baseava-se na produção de anticorpos monoclonais por uma linhagem de células denominada hibridoma. Na descrição da técnica, a obtenção das células produtoras de anticorpos monoclonais anti-hemácias de carneiro, deu-se por meio da fusão de células mielômicas e linfócitos B de camundongos imunizados 16 www.eunapos.com.br com hemácias de carneiro, utilizando o vírus Sendai inativado como agente indutor da fusão. A partir de então, qualquer estrutura molecular capaz de ativar linfócitos B pode ser usada para a geração de hibridomas, por uma metodologia original básica muito simples na sua concepção, ainda que laboriosa. Brevemente, animais (principalmente camundongos) são imunizados com a molécula ou célula ou microrganismo de interesse. Quando o teste específico do soro do animal imunizado torna-se positivo, as células do baço são retiradas e fusionadas com células de mieloma, o que lhes confere imortalidade. Cultivados em meio de cultura seletivo em clonagens subsequentes os hibridomas são analisados em relação ao anticorpo que produzem, garantindo especificidade. A metodologia dos anticorpos monoclonais (geralmente denominados MAb, monoclonal antibody), inicialmente praticada por imunologistas, tornou-se rapidamente um instrumento essencial para pesquisadores de várias áreas. Além do impacto óbvio que o uso de anticorpos monoclonais exerce na geração de conhecimento, a obtenção de hibridomas secretando anticorpos monoclonais com alta especificidade e afinidade revolucionou a área de diagnóstico, ao permitir a diferenciação entre patógenos, tarefa impossível para os soros policlonais, em função da reatividade cruzada causada por antígenos comuns dominantes. O uso de padrões conhecidos possibilita a quantificação, importante no caso da dosagem de hormônios e marcadores celulares, cuja frequência delimita o estado patológico, por exemplo, câncer (MARANHÃO; BRIGIDO, 2001). Na década de 1980, vislumbrou-se o potencial de ferramenta única dos anticorpos monoclonais (MAb) como imunobiológicos (reagentes que interferem no sistema imune) para uso terapêutico. Logo após, o FDA aprovou o MAb OKT3 (anti- CD3) para reversão de rejeição de transplante (COSIMI et al, 1981), tendo o seu uso, ao longo do tempo, comprovado a eficácia do produto. A aprovação do OKT3 deu início a uma grande expectativa para o uso clínico de MAb, com potencial de utilização in vivo - mapeamento de tumores, tratamento de câncer, doenças infecciosas, doenças autoimunes, inflamação, “overdose” de medicamentos, vacinas, seguindo-se o modelo dos MAb murinos. 17 www.eunapos.com.br Fonte: http://migre.me/iSVV2 Apesar do amplo potencial de aplicação dos anticorpos monoclonais, a utilização extensiva é limitada pela sua alta toxicidade. Os anticorpos monoclonais são proteínas normalmente produzidas em laboratório a partir de células de camundongos ou ratos, e quando injetados em pacientes humanos acaba gerando uma resposta imune contra a proteína estranha ao organismo. Os anticorpos são reconhecidos como corpos estranhos e podem gerar uma forte reação imune adversa. Esse problema inviabiliza a utilização dos anticorpos de uma forma repetitiva. A produção de anticorpos pelo paciente contra a preparação de anticorpos monoclonais, conhecida como resposta HAMA (do inglês, human anti- murine antibodies), normalmente provoca a neutralização da ação do anticorpo, fazendo com que o paciente fique resistente ao medicamento (MCCANN; BOYD, 1992). Fonte: http://migre.me/iSVWF 18 www.eunapos.com.br Em casos mais severos, a administração desses anticorpos pode resultar em febre, urticárias e, em uma forma extrema, pode redundar em comprometimento renal, devido a uma deposição glomerular de imunocomplexos. Esse efeito é bem conhecido, pois também representa um entrave à utilização repetitiva de soro contra peçonhas, como o antiofídico. O soro imune pode ser utilizado com segurança no primeiro acidente, mas pode provocar febre e outras sequelas mais profundas a partir da segunda utilização. Essa resposta do indivíduo contra a administração de proteína heteróloga acaba por limitar o uso desses medicamentos e vem impedindo a sua popularização na terapia. A melhor maneira de ampliar a utilização dos anticorpos monoclonais na clínica médica é fazer uso de anticorpos humanos em substituição aos derivados de roedores. Em princípio, anticorpos humanos não devem induzir resposta imune significativa por serem reconhecidos pelo sistema imune como uma proteína própria do organismo humano. O grande inconveniente é que a produção de anticorpos monoclonais a partir de células humanas é metodologicamente mais complexa que a produção a partir de roedores. Além de mais laboriosa, a imortalização de células humanas produtoras de imunoglobulinas, normalmente implica numa manipulação com vírus, o que dificulta e até inviabiliza a utilização do produto na clínica médica. Outro problema observado foi a baixa afinidade dos anticorpos gerados, além de as linhagens celulares produtoras serem muito instáveis geneticamente. Somente a partir da década de 1990, com o progresso da pesquisa em engenharia genética, que se tornou possível a síntese de anticorpos por meio de recombinação gênica in vitro. 19 www.eunapos.com.br Fonte: http://migre.me/iSVXT A tecnologia de DNA recombinante foi uma alternativa válida para a geração de MAb com boa especificidade para uso clínico e passível de produção em larga escala, gerando anticorpos humanizados (CO; QUEEN 1991; HOOLIGER; HOOGENBOOM, 1998). Através dessa metodologia, o DNA de anticorpos, originalmente murinos gerados pela tecnologia de hibridomas, é reconstruído geneticamente pela substituição das regiões constantes e do arcabouço dos sítios CDR por correspondentes de origem humana. Somente os sítios CDR (complementary determing region), responsáveis pela ligação são mantidos na sua origem murina, selecionados pela sua especificidade de ligação com determinado epítopo (MORO; RODRIGUES, 2001). 20 www.eunapos.com.br Fonte: http://migre.me/iSVZs Isso permitiu a modificação proposital de suas características imunoquímicas. Através da manipulação dos genes codificadores para cada uma das cadeias do anticorpo, é possível alterar a estrutura e a função, e, inclusive, incluir um caráter humano no anticorpo murino. A última geração de fármacos inclui moléculas de anticorpos recombinantes (WINTER; MILSTEIN, 1991). Uma grande variedade de moléculas pode ser obtida por esse processo, que permite atender a diferentes funções. Fragmentos reduzidos, contendo apenas a porção da molécula responsável pelo reconhecimento ao antígeno, têm sido utilizados principalmente para o mapeamento de tumores ou para a desintoxicação de fármacos, quando se desejam moléculas menores, com um melhor desempenho farmacodinâmico. Esse procedimento permite ainda que anticorpos de interesse terapêutico, obtidos normalmente de camundongos, tornem-se menos imunogênicos em humanos. O processo consiste em manipulação genética para tornar a estrutura de aminoácidos mais próxima da estrutura encontrada em anticorpos humanos, reduzindo a possibilidade de reações adversas no paciente, ao mesmo tempo em que mantém a especificidade do anticorpo murino original (CO; QUEEN, 1991). 21 www.eunapos.com.br A manipulaçãoresolve outro grande problema com os anticorpos monoclonais murinos: a atividade efetora necessária à atividade biológica do anticorpo. Essa atividade efetora é exercida pela porção constante da molécula, e depende do seu isotipo, ou seja, do tipo de cadeia pesada que se associa à região ligante ao antígeno. Alguns anticorpos de camundongo exercem atividade efetora em humanos, mas, em muitos casos, a atividade pretendida depende de cadeias constantes humanas específicas (Fc), como a cadeia g1, para induzir a lise da célula alvo, ou g4, para bloquear ou reduzir uma resposta imune exacerbada ou alérgica. Fonte: http://migre.me/iGSIX Portanto, torna-se importante a possibilidade de redefinição da Fc de um anticorpo, a fim de torná-lo atraente para sua utilização clínica. Além disso, é possível alterar deliberadamente a atividade efetora como, por exemplo, pela alteração de resíduos no Fc responsáveis pela reciclagem (“turn-over”) da molécula. Essa mudança não natural permite que o anticorpo mutante tenha uma maior permanência no sangue aumentando a eficácia do tratamento. A utilização de fármacos à base de anticorpos recombinantes vem se tornando uma realidade. Os produtos humanizados também já ganham volume no mercado. Nos EUA vários anticorpos humanizados já foram liberados pelo FDA (Food and Drug Administration) ou outras organizações equivalentes de outros países e um grande número se encontra em fase de testes clínicos (a grande maioria humanizados). 22 www.eunapos.com.br A perspectiva é de que a tecnologia de anticorpos recombinantes venha a fornecer insumos para diversas áreas da medicina, desde agentes imunomoduladores até vacinas recombinantes. Essa tecnologia tem sido utilizada, inclusive, com vistas ao tratamento de doenças como o câncer, a AIDS, e na prevenção de infecções bacterianas (BENINATTI ET AL., 2000). Devemos também acentuar que os biológicos não são usados apenas para fins terapêuticos de doenças graves ou complexas. A biotecnologia dos monoclonais é extensamente utilizada na medicina diagnóstica. Para concluir esta unidade, sugiro a leitura do artigo, a seguir, sobre a produção de anticorpos monoclonais. Em 1975, Georges J. F. Köhler e César Milstein descreveram os primeiros anticorpos monoclonais com a descoberta da técnica de hibridização celular somática, tendo como resultado os hibridomas ou híbridos de células formadoras de anticorpo e linhagens celulares de replicação contínua. Esta técnica consiste na fusão de esplenócitos de camundongos, imunizados a determinado antígeno, com células do mieloma. É utilizado um agente para facilitar a fusão das membranas plasmáticas adjacentes. A linhagem celular de replicação é selecionada pela ausência de atividade de hipoxantina-fosforribosil transferase (HPRT) e ausência de produção ou secreção de imunoglobulinas. A partir da fusão celular, três populações de células permanecem em cultura: esplenócitos, células do mieloma e os híbridos. No meio de cultura HAT (hipoxantina, aminopterina e timidina), as células HPRT não podem produzir hipoxantina exógena para produzir purinas. Quando expostas a aminopterina, elas são incapazes de utilizar a via endógena de purinas e pirimidinas e ficam completamente dependentes da HPRT para sobrevivência, ocasionando a morte da linhagem de células do mieloma. Aguarda- se a morte natural dos esplenócitos, já que eles não podem crescer indefinidamente pelo tempo médio de vida limitado. Os híbridos são capazes de crescer indefinidamente e começam a se multiplicar, com formação rápida de colônias. As células do hibridoma são clonadas, e os sobrenadantes são testados quanto à produção de anticorpos. São realizados extensos testes para garantir a 23 www.eunapos.com.br especificidade dos anticorpos. Podem ser produzidas grandes quantidades de anticorpo in vitro (em meios de cultura) ou in vivo (no líquido ascítico de camundongos). Essa descoberta lhes rendeu o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia (COLCHER et al., 1999). Apesar de a técnica ter sido descrita em 1975, seu uso clínico, diagnóstico e terapêutico iniciou-se após a associação com a engenharia genética, já que os anticorpos de camundongos (também chamados de anticorpos murinos) são “vistos” pelo sistema imune como estranho e o organismo humano pode produzir HAMA (anticorpos humanos antianticorpos de camundongos), o que causa não só a rápida eliminação destes anticorpos pelo hospedeiro como também a formação de complexos imunes, que causam lesão aos rins (NAKAMURA, 1983). Usando a engenharia genética, foi possível produzir anticorpos humano- camundongo híbridos, na tentativa de reduzir o problema do HAMA, e são chamados de anticorpos quiméricos ou humanizados. O anticorpo quimérico é o anticorpo que apresenta a combinação da região variável do anticorpo de camundongo com a região constante do anticorpo humano. O anticorpo humanizado apresenta somente as regiões hipervariáveis do anticorpo de camundongo, e o restante de moléculas de anticorpo humano. Isto permite a construção de anticorpos monoclonais sob medida para o sítio de ligação, mas com possíveis variações no tamanho, configuração, valência e funções de ação (LIMA, 2004). 24 www.eunapos.com.br - Figura: Técnica de hibridização celular somática: 1. Células tumorais são injetadas no camundongo para estimular a produção de linfócitos B, que produzem diferentes tipos de anticorpos antitumorais. 2. Células do mieloma são coletadas. 3. Linfócitos B são fundidos com as células do mieloma para produzir células híbridas produtoras de anticorpos imortalizadas. 4. Híbridos que produzem o anticorpo necessário são selecionados e clonados para produzir quantidades ilimitadas de anticorpo monoclonal. Fonte: Santos et al, 2006 Exercício 2 Os anticorpos monoclonais são produzidos a partir de quais células? Células de hibridomas, formados a partir de esplenócitos de camundongos e células de mieloma. Esplenócitos de camundongos previamente imunizados. Esplenócitos de camundongos imunizados in vitro e em meio de cultura HAT. Células de mieloma incapazes de utilizar a via endógena de purinas e pirimidinas. 25 www.eunapos.com.br UNIDADE 3 – VACINAS DE DNA Um dos impactos significantes da biotecnologia moderna tem sido a mudança na maneira como pensamos e desenvolvemos novas vacinas. A história das vacinas e sua aplicação na prevenção de doenças infecciosas se estendem por mais de 200 anos de dedicação e trabalho duro, tendo Edward Jenner e Louis Pasteur como seus precursores. Fonte: http://migre.me/iGToV 3.1 Tipos de Vacinas Todo patógeno ou antígeno estranho que penetre no organismo é detectado pelo sistema imune. A resposta ao antígeno envolve uma ação humoral e uma ação mediada por células, ambas coordenadas por diversos componentes do sistema imunológico. No caso de uma bactéria ou de uma toxina, os anticorpos específicos produzidos pelos linfócitos B reconhecem os microrganismos ou toxinas circulantes, dando início a sua eliminação. Os vírus e algumas bactérias demandam ações adicionais, porque, ao invadir as células, ficam protegidos dos anticorpos. Ao expor na superfície celular uma combinação de suas proteínas com algumas proteínas do 26 www.eunapos.com.br invasor, a célula infectada será reconhecida e destruída pelos linfócitos T citotóxicos (também chamados Tc, do inglês T citotoxic). Tanto a ação humoral como a ação mediada por células dependem da participação dos linfócitos T auxiliares (Ta), também chamados Th (do inglês, T helper), capazes de produzir moléculas que estimulem a proliferação das células B e T, sob o estímulo de um antígeno específico. Uma vez finalizada a resposta primária, algumas células de memória (B, T) permanecerão no sistema. Deve-se à memória imunológicaa aceleração dos mecanismos de defesa em ocasião de um segundo contato com o antígeno. Uma vacina é um produto destinado a “treinar” o sistema imune no reconhecimento de determinado patógeno, de maneira tal que este não possa desencadear uma doença. As vacinas estimulam a imunidade humoral, a imunidade mediada por células ou, de preferência, ambas ao mesmo tempo. A vacinação estabelece o primeiro contato do organismo com um patógeno que está incapacitado para causar a doença, conservando sua identidade molecular e a capacidade de induzir uma resposta imune. Ativam-se assim os mecanismos de defesa, em previsão de um segundo contato, desta vez com o patógeno original. Fonte: http://migre.me/iSWm6 As vacinas podem ser classificadas em três grandes grupos (ou gerações), de acordo com as estratégias ou conceitos utilizados na preparação do antígeno da vacina. - Vacina de Primeira Geração A primeira geração de vacinas são aquelas que incluem patógenos vivos atenuados, patógenos mortos ou antígenos celulares. Nas vacinas de patógenos vivos, os microrganismos são atenuados mediante passagens sucessivas em diversos meios de cultivo e/ou por tratamentos físicos em diferentes condições de temperatura, pressão e pH. O procedimento 27 www.eunapos.com.br permite selecionar mutantes que conservem a capacidade de induzir uma resposta imune, apesar de ter perdido a patogenicidade. Fonte: http://migre.me/iSWmR Estas vacinas induzem uma resposta imune intensa e duradoura que envolve ambas as vias, a humoral e a celular. Apesar de mais eficientes, as vacinas de patógenos vivos atenuados apresentam alguns inconvenientes. Além de serem inadequadas para as pessoas imunodeprimidas, existe o risco de uma forma atenuada reverter para uma forma ativa. Outra desvantagem é a necessidade de manter uma cadeia de frio para conservá-las refrigeradas. Nas vacinas de patógenos mortos ou toxinas inativadas, procedimentos físicos ou químicos são utilizados. Elas conferem uma resposta imune de tipo humoral pouco intensa ou duradoura, motivo pelo qual se devem administrar várias doses e, mais tarde, manter a imunidade com doses de reforço. Requerem, também, a introdução de substâncias coadjuvantes para estimular a resposta imune. Apesar de serem estáveis e não dependerem da cadeia do frio, estas vacinas devem ser modificadas frequentemente para se adaptarem aos sorotipos microbianos patogênicos que são muito variáveis. Já as vacinas de subunidades de antígenos, são utilizadas em vez do microrganismo todo, só as frações da superfície celular capazes de induzir a resposta imune. Demandam um longo trabalho de pesquisa prévia para determinar quais os melhores antígenos (subunidades) que deverão ser incluídos na vacina e precisam de substâncias coadjuvantes para estimular a imunidade. Por não levar 28 www.eunapos.com.br mais que fragmentos do microrganismo, estas vacinas não apresentam os riscos das vacinas de microrganismos vivos e independem da cadeia do frio. - Vacina de Segunda Geração A segunda geração de vacinas surgiu com base na revolução causada pela engenharia genética, substituindo muitas vacinas de primeira geração por outras que envolviam modificações do genoma. A inativação dos microrganismos por deleção de genes relacionados com determinados processos metabólicos básicos, por exemplo, é uma forma mais segura de impedir a reversão a uma forma ativa. A tecnologia do DNA-recombinante deu também um grande impulso à produção de vacinas de subunidades ao possibilitar a produção do antígeno por um microrganismo transformado que possa ser cultivado sem riscos em um fermentador (Escherichia coli, Saccharomyces cerevisiae, Picchia pastoris). O primeiro êxito alcançado foi com a vacina contra a hepatite B. Contudo, as vacinas de subunidades recombinantes estão limitadas à produção de antígenos de tipo proteico. Alguns microrganismos (pneumococos, meningococos) se protegem com uma cápsula de polissacarídeos que dificulta sua identificação pelo sistema imune ainda imaturo de uma criança. As novas tecnologias possibilitaram a associação de um toxoide às subunidades de polissacarídeo, de maneira a estimular a resposta imune e o reconhecimento dos antígenos capsulares. Estas vacinas de antígenos conjugados são utilizadas na imunização contra o Haemophilus influenzae B (meningite) e o Streptococcus pneumoniae ou pneumococo. Fonte: http://migre.me/iGTUc Outro tipo interessante de vacinas são as vetorizadas, em que o gene codificador do antígeno é transferido a um microrganismo inócuo (bactéria ou vírus). Ao infetar o hospedeiro, o vetor se multiplica e começa a produzir o antígeno, 29 www.eunapos.com.br induzindo a resposta imune contra o patógeno. Em um segundo tipo de vacinas vetorizadas, o vetor não se multiplica no hospedeiro, agindo como seringa molecular para introduzir, na célula, o gene codificador do antígeno (MALAJOVICH, 2012). - Vacina de Terceira Geração Finalmente, a terceira e mais nova geração de vacinas baseia-se em um inovador conceito que se distingue radicalmente das gerações de vacinas anteriores. Estas vacinas de terceira geração utilizam a informação genética do patógeno responsável pela codificação de antígenos relevantes para a proteção. Geralmente chamada DNA ou vacinas genéticas. As vacinas de terceira geração foram descobertas empiricamente no início dos anos de 1990 em ensaios inicialmente focados na busca de terapias genéticas em que genes são empregados para substituir informação genética defeituosa originalmente presentes no indivíduo afetados por certos defeitos genéticos. Esta tecnologia consiste de um vetor de expressão com uma construção gênica que inclui o gene codificador do antígeno. Injetado diretamente no músculo, o DNA irá penetrar nas células apresentadoras de antígeno (células dendríticas). Estas migrarão até os órgãos linfoides, onde sintetizarão o antígeno, estimulando uma resposta imune de tipo celular que permitirá imunizar o organismo hospedeiro. Fonte: http://migre.me/iSWpI Esta tecnologia deve resolver vários problemas adicionais, como, por exemplo, como proteger o DNA, para que não seja degradado ao ser fagocitado pela célula apresentadora do antígeno? Como aplicar a vacina, por biolística ou eletroporação? Como limitar a expressão do gene transfectado às células apresentadoras do antígeno dos tecidos? Persistem ainda algumas dúvidas em 30 www.eunapos.com.br relação ao risco do DNA se integrar no genoma da célula transfectada, ativando oncogenes ou desativando genes supressores de tumor (MALAJOVICH, 2012). As vacinas de DNA apresentam vantagens econômicas, técnicas e logísticas. Têm custo de produção em larga escala reduzido, controle de qualidade mais simples e não precisam ser mantidas em ambiente refrigerado. Contudo, há desvantagens associadas principalmente à possibilidade de efeitos negativos de uma integração do DNA injetado ao genoma hospedeiro. Essas tecnologias podem ser usadas também para o desenvolvimento das chamadas vacinas terapêuticas, que visam a controlar doenças já existentes. A lógica dessas vacinas é acionar o sistema imunológico para que ele mesmo seja capaz de combater e eliminar o patógeno causador da doença. No caso das vacinas contra o câncer, por exemplo, a ideia é que elas estimulem o sistema imunológico a detectar e atacar as células tumorais sem afetar as demais. 3.2 Produção de vacinas Antes de comercializar uma vacina, existem certas etapas que devem ser cumpridas. A primeira, exploratória e pré-clínica, tem uma duração de 3 a 6 anos e se inicia nas bancadas de laboratório com experimentos que utilizam cultivos de células ou de tecidos. Estes estudos permitem selecionar o melhor candidato vacinal. Sua capacidadede imunizar um ser vivo é comprovada em diversos testes com animais de laboratório (camundongos, cobaias ou macacos). Se os resultados forem satisfatórios, o candidato vacinal poderá passar a uma etapa clínica e ser testado em seres humanos (MALAJOVICH, 2012). Fonte: http://migre.me/iGUn6 Os estudos clínicos se iniciam em um grupo de 10 a 100 voluntários adultos, monitorados bem de perto, a fim de verificar a ausência de toxicidade do candidato vacinal e sua capacidade de imunizar um ser humano. Na segunda fase, que inclui de 100 a 3.000 pessoas da população-alvo, os testes focalizam as dosagens 31 www.eunapos.com.br necessárias para a imunização. A terceira fase, que envolve de 3.000 a 40.000 pessoas, visa comprovar a eficiência do candidato vacinal em proteger os indivíduos vacinados contra a doença. Nesta fase, compara-se a redução da incidência da doença em uma população vacinada em relação a uma população não vacinada. Também são identificados os efeitos adversos. A duração total dos estudos clínicos é de 6 a 8 anos para as vacinas humanas (MALAJOVICH, 2012). As pesquisas com seres humanos e, por conseguinte, todos os testes clínicos, devem ser desenvolvidos dentro do marco ético elaborado pelo tribunal de Nuremberg. Segundo o Código de Nuremberg (1949), os experimentos em seres humanos devem visar o bem da sociedade e serem levados a cabo por pessoas cientificamente qualificadas. Os participantes receberão todas as explicações necessárias antes de dar livremente o seu consentimento. As experiências serão a continuação de outras que, realizadas em modelos animais, permitam prever um resultado tal que justifique a inclusão de testes em seres humanos. O sofrimento mental e físico será evitado, e as pessoas receberão proteção em caso de ocorrer algum efeito adverso. Uma vez comprovado que a vacina é segura e eficiente, a indústria farmacêutica poderá solicitar aos órgãos competentes a licença para comercializar o produto. Esta etapa dura de 12 a 18 meses. A liberação da vacina marca o início do processo de manufatura e da fase de vigilância farmacológica, um monitoramento amplo e rigoroso que coleta toda informação sobre algum efeito adverso que possa ocorrer (MALAJOVICH, 2012). 3.3 Aspectos tecnológicos A produção de vacinas é uma tarefa delicada, e todos os cuidados devem ser extremados. Cada lote da vacina deve passar por controles estritos a fim de garantir a qualidade e manter a credibilidade não só da indústria, mas da própria vacinação. Uma vacina deve reunir várias qualidades, principalmente eficiência, pureza, segurança e baixo custo. O processo industrial varia em função do microrganismo utilizado para a produção de uma vacina, e responde a critérios estritos de qualidade (BPL ou Boas Práticas de Laboratório; BPF ou Boas Práticas de Fabricação). 32 www.eunapos.com.br Atualmente, o controle de qualidade ocupa 70% do tempo dedicado à produção de uma vacina (MALAJOVICH, 2012). As bactérias se multiplicam em biorreatores, cujo volume dependerá da produtividade do próprio processo fermentativo e das concentrações obtidas (bactérias, antígenos ou toxinas), assim como do tratamento posterior para a obtenção de antígenos ou de toxoides. Os vírus, parasitas obrigatórios, precisam de células para se multiplicarem. Tradicionalmente, utilizam-se a pele de bezerro e os ovos de galinha, mas a tendência é serem substituídos por culturas celulares, possibilitando o desenvolvimento de vacinas virais para uso humano (poliomielite, sarampo, rubeola, influenza, caxumba, raiva) e veterinário (febre aftosa, raiva, encefalite equina, doença de Mareck e de Newcastle, etc.). Do ponto de vista tecnológico, as mais complicadas são as vacinas combinadas. Vacinas antibacterianas podem ser preparadas em grandes quantidades, com equipamento relativamente simples, enquanto as virais precisam de aparelhos sofisticados e, em muitos casos, de um laboratório de cultura de tecidos. As proteínas recombinantes de vírus ou bactérias são produzidas em biorreatores (leveduras) ou em cultivos celulares. Ao processo de extração seguem-se várias operações de purificação por técnicas complexas (ultrafiltração, cromatografia em coluna). Além do antígeno, na formulação de uma vacina incluem-se outras substâncias, tais como, os adjuvantes, que permitem dosagens menores por serem capazes de estimular a resposta imune; os estabilizantes, que impedem as alterações devidas ao calor, à luz ou à umidade; os preservantes, que conservam os frascos com múltiplas doses. Uma das tendências atuais na administração de vacinas é reduzir o número de doses mediante a imunização simultânea para várias doenças em uma mesma injeção (tríplice viral ou tríplice bacteriana). Também se dá preferência a sistemas que diminuam a necessidade de refrigeração, já que esta contribui com 15% dos custos dos programas de vacinação. Outras novidades virão da procura de novas formas de aplicação que substituam o uso de seringas, tais como pistolas, géis, adesivos cutâneos, cápsulas, tabletes, inaladores e sprays nasais. Estes últimos começaram a ser utilizados na 33 www.eunapos.com.br aplicação de vacinas contra a gripe (FluMist, nos Estados Unidos; NasVax, em Israel). As vacinas orais têm importantes aplicações na área veterinária. Plantas e animais transgênicos produtores de antígenos poderão revolucionar alguns aspectos da produção de vacinas. A ideia de ter vacinas “comestíveis” e de poder vacinar as crianças com uma banana em vez de uma injeção é muito sedutora. Contudo, alguns problemas de segurança exigem atenção, como, por exemplo, o risco de se misturar bananas-vacina e bananas-alimento, contaminando os alimentos ou dificultando o reconhecimento de um medicamento como tal (MALAJOVICH, 2012). Sugiro a leitura do artigo, a seguir. Vacina de DNA: uma nova geração de imunobiológico. Quando nossos netos e bisnetos forem vacinados com DNA, certamente estarão sendo tratados melhores do que nós vacinados com as vacinas tradicionais. Vacinas são antígenos produzidos por micro-organismos mortos ou atenuados ou por subunidades vacinais, antes de serem inoculados nas pessoas para protegê-las da infecção. As subunidades vacinais são produzidas por componentes estruturais dos agentes (vírus ou bactéria) infecciosos. Essas subunidades são proteínas ou polissacarídeos obtidos dos micro-organismos causadores das doenças e reconhecidos pelo sistema imune produzindo anticorpos. Por exemplo, pode-se usar como subunidade vacinal um antígeno proteico encontrado na superfície do vírus da hepatite B. Ou seja, o sistema imune responde a esta proteína vacinal de maneira semelhante a que responderia ao vírus completo da hepatite B. As vacinas mortas ou as subunidades vacinais têm a vantagem de evitar a reversão da atenuação do microrganismo, o que pode tornar o agente vacinal em causador da doença. As subunidades vacinais ainda têm a vantagem de causar menor efeito colateral se comparadas às duas outras formas de vacinas. A reação do sistema imune a uma infecção depende de resposta humoral e celular. A primeira envolve a produção de anticorpos, que como mísseis biológicos, atacam o agente infeccioso. Quando o sistema imune reconhece o microrganismo 34 www.eunapos.com.br morto ou alguma molécula do agente infeccioso, a resposta humoral é desencadeada. As doenças virais ativam a resposta celular e estão como a infantaria, age e envolve o microrganismo para combatê-lo. As vacinas virais atenuadas induzem a resposta celular porque os vírus chegam a infectar células, e estas passam a produzir proteínas virais que ativam a produção de anticorpos. O que são vacinas de DNA? São moléculas de DNA, que combinam o que háde melhor nos imunobiológicos tradicionais. Ou seja, são vacinas menos complexas em termos estruturais e que produzem melhor imunidade nos indivíduos. As vacinas de DNA agem como subunidades vacinais, e desde que codifiquem somente proteínas imunizantes específicas, são mais seguras e possui efeito colateral mínimo. Entretanto, diferentemente das subunidades vacinais, a vacina age como uma vacina atenuada devido ao DNA penetrar nas células e produzir proteína imunizante específica. A vacina de DNA mimetiza uma infecção viral, sendo que a proteína viral imunizante é induzida pelo DNA vacinal. Além de serem mais efetivas do que as vacinas mortas e subunidades vacinais e mais seguras do que as vacinas atenuadas, as vacinas de DNA são baratas, rápidas de produzir e estáveis. Em um país tropical como o nosso, as vacinas tradicionais são transportadas para mais de 5.000 municípios e mantidas em recipientes refrigerados dispendiosos. As vacinas de DNA são resistentes à temperatura ambiente, e podem ser transportadas para qualquer canto do país de modo mais prático e mais barato. A vacina de DNA é produzida em laboratório básico de biologia molecular, onde é desenvolvida em cultura de bactéria. Posteriormente, extrai-se e purifica-se o DNA infectante da bactéria, podendo assim o DNA ser inoculado no paciente. Devido à complexidade estrutural dos microrganismos torna-se difícil o desenvolvimento de vacinas tradicionais. Utilizando-se a tecnologia do DNA podem tornar-se mais fácil conseguir vacinas contra malária, doença de Chagas, esquistossomose, Leishmaniose e dengue. A utilização comercial das vacinas de DNA para combater as nossas endemias deve demorar de cinco a dez anos. No entanto, quando nossos netos e bisnetos forem vacinados com DNA, certamente estarão sendo tratados melhor do que nós vacinados com as vacinas tradicionais. 35 www.eunapos.com.br Eloi S. Garcia - Jornal da Ciência. 07 de abril de 2014. Disponível em: < Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=29694>. Acesso em: ab. 2014. Exercício 3 O processo da vacina de DNA envolve a inoculação direta do DNA plasmidial, que tem o gene codificador da proteína antigênica e fornece para o hospedeiro a informação genética necessária para que ele fabrique o antígeno preservando todas as características na indução da resposta imune eficiente. A imunidade desenvolvida pela vacina de DNA é imediata e de longa duração. Patógenos vivos não podem ser usados como vacina, pois não determinam imunidade e sim doenças. O indivíduo geneticamente vacinado passa a produzir tanto os antígenos quanto os anticorpos. Os antígenos produzidos pelo DNA plasmidial são capazes de combater patógenos que infectam o hospedeiro. 36 www.eunapos.com.br UNIDADE 4 – ENGENHARIA DE TECIDOS E ÓRGÃOS Terapia celular consiste em tratamento de pacientes com transplante de células ou tecidos para recuperação de tecidos danificados por doenças ou traumas. A terapia celular torna-se uma possibilidade a partir dos desenvolvimentos das tecnologias de clonagem e do conhecimento das células-tronco. A produção em laboratório de células ou tecidos específicos voltados para reposição deverá ser baseada em células-tronco. No caso da utilização de células- tronco embrionárias, uma dificuldade apontada deve ser a compatibilidade, tal qual ocorre nos transplantes heterólogos de órgãos. Fonte: http://migre.me/iSWxv 4.1Histórico Durante séculos, grandes lesões teciduais, originadas normalmente de traumas mecânicos ou de doenças degenerativas, trouxeram problemas em função dos poucos recursos terapêuticos disponíveis. Com o aumento da expectativa de vida humana, obtida com o descobrimento dos antibióticos e dos quimioterápicos, além da melhoria das condições sanitárias e de higiene, a busca por metodologias para a substituição de tecidos lesados tornou-se uma necessidade (HENCH, 1998). Existem dois procedimentos que visam suprir a falta dos tecidos e órgãos danificados ou comprometidos: os transplantes e os implantes. 37 www.eunapos.com.br Em relação aos transplantes, os tecidos ou órgãos podem ser obtidos de doadores vivos, como no caso do coração ou rins, ou de cadáveres, como no caso, de ossos liofilizados e congelados. Em alguns casos, para a utilização dos mesmos, torna-se necessária a utilização de drogas imunossupressoras, com o intuito de evitar a rejeição dos órgãos, e de outros medicamentos que neutralizem a possível contaminação microbiana. Além disso, os transplantes têm a desvantagem de trazer uma série de questões éticas e até mesmo religiosas. Por outro lado, dispositivos desenvolvidos para servirem como implantes, além de não apresentarem vários dos problemas referidos acima, são criados para atuarem na interface com os tecidos receptores no organismo, interagindo com eles (HUBBELL, 1995; HENCH, 1998). Fonte: http://migre.me/iGVLs A primeira tentativa data de 1899, com o transplante de rim de um cachorro a outro. Desde então ficou óbvio que o fenômeno de rejeição era principal obstáculo aos transplantes de órgãos. Na década de 1980, além da melhoria das técnicas cirúrgicas e da caracterização dos antígenos dos tecidos, aparecem os primeiros medicamentos imunossupressores (ciclosporinas), e os transplantes se tornam rotineiros. Em centros médicos de todos os países são substituídos, com sucesso, diversos órgãos e tecidos: coração, rim, fígado, pulmão, intestino, timo, córneas, medula óssea, pele, pâncreas, válvulas cardíacas, veias, etc. Alguns procedimentos são relativamente simples. No isotransplante, a transferência de um ovário ou de um rim é feita de um indivíduo a seu gêmeo idêntico. No autotransplante, substitui-se uma artéria coronária por uma safena do mesmo indivíduo, ou um fragmento de pele danificado por outro. Contudo, no alotransplante, em que um órgão é transferido a outro indivíduo, requer-se a supressão do sistema imune, para que o organismo possa aceitar uma parte “non- 38 www.eunapos.com.br self”. Caso contrário o órgão será rejeitado e, também, o órgão poderá rejeitar o hospedeiro. 4.2 Engenharia de tecidos A engenharia tecidual pode ser compreendida como a aplicação de princípios das ciências exatas à criação e/ou regeneração tecidual. Três estratégicas gerais têm sido adotadas para a obtenção de novos tecidos (LANGER; VACANTI, 1993), que são: 1. Utilização de células autógenas (ou autólogas, isso é, isoladas do próprio indivíduo), de células isógenas (ou isólogas, células de indivíduos diferentes, porém geneticamente iguais e de mesma espécie), de células alógenas (ou alólogas, de indivíduos diferentes, mas de mesma espécie) ou de células xenógenas (ou xenólogas, de indivíduos de espécies diferentes) (ATALA; LANZA, 2002). Essas células são expandidas em cultura e implantadas ao corpo por métodos de infusão. No entanto, suas limitações incluem a capacidade das células em manterem suas características diferenciadas in vitro; a dificuldade de expandir suficientemente algumas células em cultura, uma vez que alguns tipos celulares como células hepáticas e neurais não apresentam possibilidade de expansão em número adequado para uso clínico; além da rejeição imunológica, quando células alogênicas e xenogênicas são utilizadas. 2. Cultura de tecidos para posterior implantação e substituição de tecidos doentes ou danificados. O exemplo mais comum é o enxerto de pele (SUZUKI ET AL, 2000), para uso clínico. Essa estratégia tem como principal vantagem a alta biocompatibilidade e biofuncionalidade. No entanto, apresenta as mesmas desvantagens citadas acima. Fonte: http://migre.me/iGWr8 3. Utilização de substâncias que induzem a regeneração do tecido danificado. O sucesso dessa estratégia depende da purificação e produção emlarga 39 www.eunapos.com.br escala de moléculas sinais apropriadas, como os fatores de crescimento e os fatores de adesão. Para a proliferação de muitos tipos celulares (o que pode induzir a formação de um novo tecido), existe a dependência de uma combinação de vários fatores de crescimento que são proteínas altamente específicas. Alguns fatores de crescimento podem ser liberados lentamente através de cápsulas poliméricas e podem estimular o crescimento do tecido danificado (LIEBERMAN et al, 2002). Já os fatores de adesão são componentes proteicos dos fluidos biológicos e/ou da matriz extracelular adsorvidos na superfície do material, como a fibronectina, vitronectina e a laminina as quais são reconhecidas por integrinas (receptores na membrana celular associados ao citoesqueleto) (ALBERTS et al 2002). Na interface da biologia celular, da medicina, da bioquímica e da bioengenharia, a engenharia de tecidos visa a substituição de órgãos e tecidos. Faz anos que o cultivo de pele in vitro é utilizado para reparar as lesões causadas por queimaduras. Um pequeno fragmento de pele, isolado do próprio paciente, é o bastante para formar em três semanas uma superfície 50 vezes maior. O procedimento se adapta ao tratamento de queimaduras e de lesões de difícil cicatrização. A “biomimética” consegue reparar in vivo o tecido ósseo, utilizando como molde um polímero, onde migram e se expandem as células regenerativas internas. A tecnologia se aplica na reparação de fraturas e de lesões causadas por doença periodontal, assim como a reconstrução da cartilagem das articulações. Recentemente, transplantou-se com sucesso uma traqueia, que fora construída com células- tronco do próprio paciente, cultivadas sobre um molde poroso. Este é o primeiro passo na construção in vitro de estruturas tridimensionais análogas aos órgãos. No momento, as estruturas mecânicas parecem mais fáceis de construir que órgãos complexos, como um rim ou um pulmão. Fonte: http://migre.me/iGX12 40 www.eunapos.com.br - As células-tronco multipotentes Células-tronco multipotentes são encontradas em tecidos adultos, onde proliferam por longos períodos de tempo, conservando a capacidade de se diferenciar em diferentes tipos celulares, em resposta a estímulos adequados. São responsáveis pelo crescimento e a reparação dos tecidos. Sua presença em tecidos e órgãos explica o sucesso alcançado pelos transplantes de pele, de córnea e de medula óssea. Este último possibilita a regeneração dos elementos sanguíneos no tratamento de leucemias e de linfomas, de doenças hereditárias hematológicas e na recuperação dos pacientes que receberam quimioterapia. As células-tronco hematopoiéticas são encontradas em frequências baixíssimas na medula óssea e no sangue periférico. Embora não apresentem características morfológicas que as distingam das outras células, a presença de marcadores moleculares específicos na membrana permite separá-las e infundi-las mais tarde na mesma pessoa ou em outra que for compatível. Fonte: http://migre.me/iGX8g Pesquisas em andamento investigam a capacidade regenerativa das células-tronco adultas na cicatrização de queimaduras, na substituição de células da córnea, na regeneração de osso e cartilagem, no tratamento da artrite e na 41 www.eunapos.com.br reparação de fraturas. Embora alguns aspectos relativos ao seu modo de ação não estejam totalmente esclarecidos, os primeiros ensaios clínicos são promissores. Com a possibilidade de as células-tronco utilizadas na terapia serem do próprio paciente, espera-se solucionar a questão da rejeição. Com esse propósito, estão sendo desenvolvidas técnicas para a produção de células-tronco pluripotentes induzidas por reprogramação celular de células adultas. Essa tecnologia promete eliminar o problema da compatibilidade doador-receptor, pois permite utilização de células-tronco produzidas de material genético do próprio paciente. Fonte: http://migre.me/iGXic As células-tronco pluripotentes Devido às limitações na capacidade de diferenciação das células-tronco presentes nos tecidos adultos, muitos pesquisadores se interessaram pelas células- tronco embrionárias, capazes de se diferenciarem em qualquer tipo de célula e muito mais fáceis de cultivar no laboratório. Entender os mecanismos que controlam o crescimento e a diferenciação celular é um dos maiores desafios atuais, porque as células-tronco embrionárias 42 www.eunapos.com.br representam a possibilidade de novos tratamentos de regeneração celular para doenças cardíacas, diabetes, lesões da medula espinhal, cegueira, surdez e doença de Parkinson. Houve um grande entusiasmo pelas células-tronco embrionárias porque se esperava que permitissem criar linhagens celulares personalizadas, por transferência nuclear. Células-tronco embrionárias com a informação genética de um paciente regenerariam os órgãos lesionados, sem causar problemas de rejeição. As células também poderiam ser objeto de uma terapia gênica. O procedimento, denominado clonagem terapêutica, abriria possibilidades para o tratamento de doenças para as quais os recursos terapêuticos são escassos (Parkinson, Alzheimer, etc.). Contudo, até serem estabelecidas as regulamentações pertinentes, a clonagem terapêutica ainda permanece no terreno experimental do laboratório. Fonte: http://migre.me/iSWDu Em 2007, a controversa filosófica e moral sobre a clonagem terapêutica e o uso de embriões pareceram definitivamente superadas. A inserção de alguns genes em células diferenciadas gerou as células-tronco iPSC (do inglês, induced 43 www.eunapos.com.br pluripotent stem cells), com propriedades equivalentes às das células-tronco embrionárias. Com elas, desenvolve-se rapidamente a tecnologia de reprogramação celular, aumentando nosso conhecimento sobre o controle genético da diferenciação e abrindo uma nova senda para a implementação de testes, medicamentos e tratamentos novos. - Aspectos polêmicos das células-tronco Na perspectiva de contar com células capazes de reconstruir qualquer tipo celular, nos últimos anos do século XX, vários núcleos de investigação tentaram obter linhagens de células-tronco embrionárias. As poucas existentes foram obtidas a partir de fetos abortados e de embriões supranumerários resultantes das fertilizações in vitro. Do ponto de vista técnico, essas linhagens eram cultivadas com soro bovino ou com fibroblastos de camundongo, portanto, não poderiam ter nenhuma aplicação clínica. Outro aspecto controverso é o uso dos embriões supranumerários das clínicas de fertilidade assistida, para a obtenção das linhagens de células-tronco embrionárias. Grupos de cientistas favoráveis a estes testes argumentam que a extração de células-tronco de embriões se realiza estritamente de 4 a 14 dias após a fecundação e que, depois de certo tempo de congelamento, os embriões não podem ser reimplantados com segurança. Em vez de eliminar esses embriões, seria melhor utilizá-los na pesquisa de novos tratamentos para doenças que, hoje, não têm cura. 44 www.eunapos.com.br Fonte: http://migre.me/iSWEh Em contraposição, outro setor considera que a vida começa com a fecundação e que as pesquisas desrespeitam o status legal e moral do embrião, considerando inadmissível que embriões sejam criados in vitro, com fins de pesquisa. Em uma terceira posição, encontram-se os que consideram as terapias celulares uma tecnologia promissora, mas que ainda precisa de muita pesquisa pré- clínica. Este grupo tende a postergar qualquer decisão até existirem mais evidências concretas sobre a tecnologia em si e os seus benefícios, pedindo mais tempo para reflexão. Em princípio, a descoberta das iPSC pareceria ter lhes dado razão. Para aprofundar sobre o tema, sugiro a leiturado artigo, a seguir. 45 www.eunapos.com.br Uma outra face das células-tronco O que é uma célula-tronco? Célula-tronco ou célula-mãe é uma célula indiferenciada, capaz de se transformar em todos os tipos de células que formam os diferentes tecidos do corpo humano. Por isso, elas são capazes também de regenerar órgãos e tecidos lesionados, promovendo a recuperação dos mesmos. Este tipo de tratamento chama-se TERAPIA CELULAR. Quando falamos em células-tronco as pessoas logo pensam no seu potencial em regenerar células e tecidos. Já falei várias vezes de um subgrupo muito especial de células-tronco adultas – chamadas de células-tronco mesenquimais (CTMs). As CTMs podem ser isoladas de vários tecidos tais como cordão umbilical, polpa dentária, tecido adiposo ou medula óssea, entre outros. Elas têm o potencial de se diferenciar em quatro tipos de células: músculo, gordura, cartilagem e osso. Mas, além disso, essas mesmas CTMs têm outra propriedade muito importante: um efeito imunomodulatório. Isto é, diminuir a reação imunológica do organismo, o que é fundamental em algumas situações como no caso de transplantes de órgãos ou doenças autoimunes. Três pesquisadoras britânicas (Karen English, Anna French e Kathryn Wood) acabam de publicar uma revisão muito interessante sobre o potencial imunológico de CTM na prestigiosa revista Cell Stem Cell. A publicação foca CTM obtidas de medula óssea (CTMO), que foram as primeiras a ser identificadas, mas estudos mais recentes com CTMs obtidas de outras fontes sugerem que elas podem ter propriedades semelhantes. O transplante de órgãos é ainda o método para salvar inúmeras vidas. Para muitos pacientes, substituir um órgão não funcional, como o coração ou o rim, pelo 46 www.eunapos.com.br de um doador saudável é a única terapia disponível para prolongar a vida. Entretanto, pessoas submetidas a transplantes têm que enfrentar um problema pelo resto da vida: a tentativa de rejeição pelo organismo, que trata o órgão transplantado como se fosse um “invasor”. Para controlar esse problema usam-se imunossupressores – drogas que controlam ou evitam a produção de anticorpos contra o órgão transplantado, o que previne ou retarda a rejeição. O lado negativo é que a administração dessas drogas em longo prazo pode aumentar o risco de outros efeitos colaterais, como a susceptibilidade a infecções, complicações cardiovasculares, diabetes e disfunção renal entre outras. Portanto, o desenvolvimento de terapias alternativas eficientes para evitar a rejeição e garantir o sucesso em longo prazo dos transplantes, sem efeitos tóxicos, é fundamental. E é aí que entram as células-tronco. Elas podem preencher essa lacuna. Quais são as possíveis funções das células-tronco mesenquimais (CTMs)? Vários estudos mostraram que quando um tecido é lesionado (por exemplo, um machucado na pele), as CTMS se dirigem ao local da injúria. O papel que desempenham quando chegam lá, entretanto, ainda é objeto de pesquisas. Alguns cientistas acreditam que elas estimulem o reparo do tecido através da produção de fatores tróficos, tais como fatores de crescimento, citocinas e antioxidantes. Nosso grupo no Centro do Genoma já mostrou que CTMs obtidas de polpa dentária, cordão umbilical, trompa de falópio e tecido adiposo têm o potencial de se diferenciar em músculo, osso, gordura e cartilagem, “in vitro”. Observamos também que as CTMs humanas isoladas de tecido adiposo conseguem formar células musculares humanas quando injetadas em modelos animais. Mas um número crescente de pesquisas tem demonstrado que as CTMO, além da qualidade de se diferenciar em diferentes tipos celulares, possuem efeitos anti-inflamatórios potentes, tanto “in vitro” como “in vivo”. Isto é, elas têm a capacidade de modular as respostas imunes. Isso se daria através de um mecanismo complexo de interação direta ou indireta entre vários tipos de células. Por exemplo, as CTMO poderiam inibir a proliferação de células T ou outros tipos de anticorpos, que funcionam como soldados para defender o organismo do ataque de agentes externos. Quais são as perspectivas futuras?Essa propriedade imunomodulatória das 47 www.eunapos.com.br CTMs abre novas perspectivas de tratamento não só para evitar a rejeição em transplantes de órgãos, mas em doenças autoimunes (como esclerose múltipla, por exemplo) onde o organismo não reconhece suas próprias células e as ataca como se fossem inimigas. Entretanto, é fundamental lembrar que elas também poderiam ter o potencial de acelerar a progressão de um tumor criando um ambiente favorável para o seu desenvolvimento. Portanto, todo cuidado é pouco. Mayana Zatz. Revista Veja. 29 de outubro de 2010. Disponível em: < http://tratamentocomcelulastronco.blogspot.com.br/2010/10/uma-outra-face-das-celulas- tronco.html>. Acesso em: abr. 2014. Exercício 4 As células-tronco são capazes de se diferenciar em vários tipos de tecido. Daí, seu grande interesse para a medicina atual. Assinale a alternativa correta que mostra as possíveis origens dessas células. Líquido amniótico, intestino e cordão umbilical. Células embrionárias, baço e coração. Sangue, fígado e pele. Medula óssea, cordão umbilical e células embrionárias. 48 www.eunapos.com.br UNIDADE 5 – TERAPIA GÊNICA A terapia gênica (TG) é a inserção de um tratamento para doenças hereditárias que se caracteriza pela inserção de um gene funcional dentro das células humanas, a fim de conferir uma nova função de melhorar o efeito de um gene anormal. Há dois tipos de técnicas gênicas: a GERMINATIVA que se caracteriza pela introdução do material genético nos espermatozoides de óvulos, e a SOMÁTICA, pela qual se introduz o material genético em quaisquer outras células. 5.1 Princípio A terapia gênica visa alterar o funcionamento de um gene, mediante a introdução de DNA nas células de um paciente. Se o gene se expressar, o objetivo da terapia será o seu desligamento ou a inativação do produto. Se o gene não se expressar, a finalidade da terapia gênica será sua substituição por uma cópia funcional que sintetize a proteína faltante. Esta última pode ser uma enzima normal, uma molécula que torne a célula vulnerável ao ataque pelo sistema imune ou uma substância tóxica que desencadeie a apoptose de uma célula cancerosa. Fonte: http://migre.me/iSWNz 49 www.eunapos.com.br Na maioria dos estudos a respeito de terapia genética, um gene "normal" é inserido no genoma para substituir um gene "anômalo" causador de doença. Uma molécula transportadora, chamada vetor, precisa ser usada para se enviar o gene terapêutico para as células-alvo do paciente. Atualmente, o vetor mais comum é um vírus que foi geneticamente alterado para transportar DNA humano normal. Os vírus evoluíram de forma a encapsular e transportar seus genes para células humanas, causando doenças. Cientistas tentaram aproveitar essa capacidade e manipular o genoma dos vírus, removendo os genes causadores de doença e inserindo genes terapêuticos. Células-alvo, tais como células do fígado ou dos pulmões do paciente, são infectadas com o vetor. O vetor, então, descarrega seu material genético, contendo o gene terapêutico humano, na célula-alvo. A produção de proteínas funcionais pelos genes terapêuticos restauram as células-alvo a um estado de normalidade. Fonte: http://terapiagenteica3.blogspot.com.br/ 50 www.eunapos.com.br As terapias gênicas visam modificar as células somáticas de um indivíduo, sem pretender que essa alteração seja transmitida à geração seguinte. Assim como em um transplante é transferido um órgão ou um tecido, na terapia somática é transferido um gene e o efeito está limitado ao indivíduo que o recebe. Diferente da terapia somática, a terapia de células germinais visa
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