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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância Biotecnologia Nanobiotecnologia Autor: Marco Hiroshi Naka EAD – Educação a Distância Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação 2 www.eunapos.com.br SUMÁRIO UNIDADE 1 - CONCEITO E FUNDAMENTOS DA NANOTECNOLOGIA ............. 03 1.1 Definição e Conceitos Fundamentais ................................................................ 03 1.2 História .............................................................................................................. 07 UNIDADE 2 - EFEITO DE CONFINAMENTO QUÂNTICO, VARIAÇÃO DE PROPRIEDADES EM FUNÇÃO DO TAMANHO DAS NANOESTRUTURAS ....... 12 2.1 Confinamento Quântico ..................................................................................... 12 2.2 Efeito de escalas nas propriedades de nanoestruturas ..................................... 15 UNIDADE 3 - PROPRIEDADES DE NANOMATERIAIS ........................................ 19 3.1 Hidrofilia e Hidrofobia ........................................................................................ 19 3.2 Propriedades de Nanomateriais ........................................................................ 20 3.3 Aplicações em Nanobiotecnologia .................................................................... 22 UNIDADE 4 - CARACTERIZAÇÃO E PRODUÇÃO DE MATERIAIS NANOESTRUTURADOS ........................................................................................ 28 4.1 Evolução das técnicas de microscopia .............................................................. 31 4.2 Microscópio Eletrônico de Transmissão (TEM – Transmission Electron Microscopy) e Microscópio Eletrônico de Varredura (SEM – Scanning Electron Microscopy) ............................................................................................................. 32 4.3 Microscópio de Força Atômica (AFM – Atomic Force Microscopy) ................... 36 4.4 Processo de fabricação de nanomateriais......................................................... 41 UNIDADE 5 - ATIVIDADE ATUAL EM NANOTECNOLOGIA: UNIVERSIDADES, INDÚSTRIAS E ÓRGÃOS REGULADORES ......................................................... 52 5.1 No Brasil ............................................................................................................ 52 5.2 No mundo .......................................................................................................... 59 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 64 3 www.eunapos.com.br UNIDADE 1 - CONCEITO E FUNDAMENTOS DA NANOTECNOLOGIA O objetivo dessa unidade é apresentar o conceito de nanotecnologia, bem como o histórico básico do seu desenvolvimento e suas relações com a bionanotecnologia. 1.1 Definição e Conceitos Fundamentais A definição do termo nanotecnologia vem da combinação de duas palavras, onde a última é ainda uma combinação de mais duas palavras: nano e tecnologia (tecno + logia). O primeiro termo, nano, é um dos prefixos utilizados para as potências de 10, também conhecidas como padrões de notação científica. Tais potências são muito úteis, quando se trabalha com dimensões muito grandes ou muito reduzidas. Logo, o termo nano em nanotecnologia refere-se à tecnologia que se desenvolve na escala nanométrica, ou a 10-9 metros. Para se ter uma ideia do valor de 1 nanometro, ele seria escrito como: 0,000000001 m. Uma célula cartilaginosa, conforme pode ser observada na Figura 1 (NAKA et al., 2005), tem um diâmetro médio de 20 micrômetros, ou 20m (20 x 10-6 m), o que equivaleria a 20000 nm. Figura 1 - Tecido cartilaginoso tratado com Safranin-O Fonte: Naka et al., 2005 4 www.eunapos.com.br O tecido cartilaginoso tratado com Safranin-O permite a visualização da distribuição de proteoglicanas (em coloração rosa). Em a), observa-se uma camada superficial de proteoglicanas, a qual foi removida em uma outra amostra, conforme se observa em b). Já o termo nanobiotecnologia, nada mais é do que a aplicação de conceitos biológicos em nanotecnologia ou o sentido inverso, ou seja, a aplicação da nanotecnologia em sistemas biológicos. Ambos os conceitos se complementam, pois tanto a biologia pode afetar a nanotecnologia como a nanotecnologia pode afetar sistemas biológicos. Ou seja, a biologia, por meio de complexos mecanismos de síntese de proteínas em escala nanométrica, pode dar importantes subsídios no desenvolvimento de formas de fabricação de elementos a serem usados em nanotecnologia, conforme menciona Lowe (2000). Figura 2 - A escala das coisas – nanometros Fonte: http://www.circuitstoday.com/wp-content/uploads/2011/03/Nanotechnology.jpg A Figura 2, extraída da revista Circuit Today, de Março de 2011, no mesmo artigo que menciona a primeira palestra sobre nanotecnologia, conforme citado 5 www.eunapos.com.br anteriormente, traz uma imagem que reforça a importância da nanobiotecnologia e mostra a diferença das escalas, por meio de exemplos. Acessando o site da revista, pode-se observar com melhor clareza e qualidade os detalhes desta imagem. Um ponto importante a ser observado nesta mesma Figura 2 é a comparação dos exemplos de estruturas em escalas nanométricas encontradas na natureza (things natural – coisas naturais) e feitas pelo homem (things manmade). Nas coisas naturais, percebe-se que a formação de tais estruturas ocorrem devido a interações físico-químicas entre diferentes elementos, como moléculas e átomos. Tais interações, de natureza atrativa ou repulsiva, são responsáveis por esta estruturação “espontânea”. Quando se menciona “espontânea”, quer se dizer da não necessidade de um “instrumento físico externo” para a fabricação de tal estrutura. Por um outro lado, observa-se que para as estruturas originadas pela mão do homem, que, segundo Aristóteles, é a mais importante ferramenta que o homem pode usar, dependem de equipamentos e instrumentos para a sua fabricação. Ainda que o homem possa fabricar em laboratórios, estruturas do tipo self-assembled monolayer – SAM, que na tradução literal significa automontagem de monocamadas, que são caracterizadas pela automontagem de estruturas moleculares por meio de processos químicos e físicos em laboratórios, não se pode descartar que o próprio processo preparatório na formação das monocamadas exige o uso de equipamentos e instrumentos. A Figura 3 apresenta o mecanismo de automontagem de uma camada de nanopartículas suspensas em uma solução. A forma como essa camada é montada dependerá da superfície que será imersa nessa solução. Ou seja, em uma solução contendo tais nanopartículas ou moléculas de alguma substância, deve se mergulhar uma superfície que irá interagir com tais elementos. Essa interação deverá ser direcionada de acordo com o objetivo da automontagem, ou seja, a forma como tais elementos irão se ligar à superfície. Percebe-se que, embora teoricamente se possa prever que a automontagem ocorrerá, é preciso realizar experimentos para caracterizar a superfície após a automontagem. E esta caracterização será melhor discutida na unidade 4 deste material. 6 www.eunapos.com.br Figura 3 - Processo de automontagem de monocamadas moleculares Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Self- Assembly_of_Nanoparticles.jpg?uselang=pt-br Percebe-se que embora o termo automontagem denote espontaneidade na montagem, o mesmo requer o preparo de algumas condições para que a automontagem ocorra de forma eficiente. E é nesse preparo que se percebe claramente o emprego da nanotecnologia. Atentando-se à Figura 3, nota-se que as nanopartículas que foram utilizadas precisam, de certa forma, serem fabricadas ou sintetizadasa partir de algum elemento. Isso requer técnicas de fabricação e instrumentação microscópica, podendo chegar até a escala nano. Além disto, a superfície na qual serão montadas as nanopartículas precisa também ser trabalhada química ou fisicamente para favorecer a automontagem desejada. Percebe-se nesse ponto, que a interação entre as superfícies possui um papel muito importante dentro da nanotecnologia. Tal afirmação tem como base os efeitos de escala, ou seja, a redução de um universo macroscópico para um microscópico ou nano. Torna-se necessário, com isso, uma nova forma de estudo, a qual é baseada em novos conceitos e fundamentos, os quais são embasados pela Mecânica Quântica. Tais conceitos serão abordados na Unidade 3. Em suma, pode-se perceber uma clara dependência da evolução de técnicas de microscopia com o avanço da nanotecnologia. Isso fica mais evidente, quando se observa a evolução histórica, que será descrita na próxima subseção 7 www.eunapos.com.br dessa unidade. Ou seja, a nanotecnologia depende essencialmente da evolução dos instrumentos de medição microscópica e equipamentos que permitem a fabricação e manipulação de elementos em ordem microscópica. Logo, isso também requer o uso de sensores de escala micro a nano, para que se possa monitorar de forma adequada todo o processo de fabricação e manipulação. 1.2 História Historicamente, a primeira palestra sobre nanotecnologia foi dada pelo físico Richard Feynman, em 1959 (http://www.circuitstoday.com/nanotechnology). A sua fala concentrou-se basicamente no processo de manipulação de átomos e moléculas por meio de ferramentas adequadas, que ainda estavam para ser desenvolvidas. De acordo com essas duas revistas, Circuit Today e Ciência Hoje, embora a palestra de Richard Feynman tenha sido o primeiro esboço do que seria a nanotecnologia, foi apenas em 1974, que o termo foi utilizado e pronunciado pela primeira vez, pelo Professor em Ciências, Norio Taniguchi, da Universidade de Ciências de Tóquio. Todavia, a utilização da nanotecnologia pode ter ocorrido bem antes do que foi relatado no Século XX. Há uma interessante linha do tempo apresentada no site da National Technology Initiativie (www.nano.gov/timeline), onde se faz um relato de como a nanotecnologia se desenvolveu ao longo do tempo. A seguir, apresentam-se alguns importantes pontos na história da nanotecnologia, extraídas dessa interessante linha do tempo. Um interessante relato de tal palestra pode ser encontrado no site da revista Ciência Hoje, disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2013/308/nanotecnologia-uma- historia-um-pouco-diferente>. Acesso em: 13 fev. 3014. http://www.circuitstoday.com/nanotechnology http://www.nano.gov/timeline http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2013/308/nanotecnologia-uma-historia-um-pouco-diferente http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2013/308/nanotecnologia-uma-historia-um-pouco-diferente 8 www.eunapos.com.br O primeiro indício do emprego de técnicas que envolve elementos da nanotecnologia, seria o copo de Licurgo, fabricado por volta do Século IV. Na Figura 4, observa-se o efeito de nanopartículas de ouro e prata misturados ao vidro, que muda de coloração dependendo da direção de incidência da luz. Figura 4 - Copo de Licurgus iluminado interiormente (esquerda) e exteriormente (direita) Fonte: British Museum (<http://migre.me/hQxeC> Acesso em 13 fev. 2014.) Ou seja, quando o copo é iluminado por dentro, ele adquire uma coloração avermelhada, conforme a figura à esquerda. Já na direita, o copo é iluminado pelo lado de fora e tem uma coloração esverdeada. Este efeito é conhecido como dicroísmo e um material dicroico faz com que a luz visível seja dividida em feixes com diferentes comprimentos de onda, o que gera o efeito de diferentes cores, dependendo de como a luz incide sobre o material. Este efeito ocorre no copo de Licurgo, conforme mencionado anteriormente, por causa das nanopartículas de ouro e prata misturadas ao vidro. É de consenso que tal efeito não foi projetado de forma proposital, ou seja, é bem provável que tenha ocorrido uma contaminação do vidro por partículas coloidais de ouro e prata, ou realizada uma simples mistura que ocasionou no efeito de dicroísmo. Em outras palavras, não havia o conhecimento científico que guiasse os artesãos para buscar este efeito. 9 www.eunapos.com.br Outro exemplo de uso de nanotecnologia em tempos antigos, sem perceber os fundamentos científicos da mesma, está nos sabres produzidos em Damasco, entre os séculos XIII e XVIII. Um exemplo desse sabre é mostrado na Figura 5. Figura 5 - Espada de Damascus Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Damascus_Blade_2.JPG?uselang=pt-br No trabalho de Reibold et al. (2006), utilizando-se de um Microscópio Eletrônico de Transmissão (conhecido como TEM, do inglês: Transmission Electron Microscopy) de Alta Resolução, observou-se a presença de nanotubos de carbono, o que conferia excelentes propriedades a esses sabres. Detectou-se também a presença de nanofios de cementita, que poderiam ser oriundos de uma técnica peculiar de forja e tratamento térmico, cuja técnica se perdeu de alguma forma no Século XVIII. Esses dois últimos exemplos refletem bem como tais técnicas do passado baseavam-se em estruturas e elementos que são usados atualmente em nanotecnologia, mas que naquele momento, não se tinham os conhecimentos científicos para entender o que estava ocorrendo. 10 www.eunapos.com.br Apesar de modelos teóricos terem sido desenvolvidos com o tempo, foi com o advento de novas tecnologias, tanto para visualização de microestruturas como fabricação das mesmas, que teve um grande impulso a nanotecnologia. Um dos marcos desse avanço foi a criação do microscópio por emissão de campo, em 1936, por Erwin Müller (nano.gov/timeline), que permitiu a visualização de imagens com resolução atômica. Este microscópio, que será descrito mais adiante, na unidade 4, tem como princípio o fenômeno físico denominado emissão de campo, que consiste na emissão de elétrons de uma superfície metálica devido à presença de um campo elétrico (ANDRADE-NETO et al., 2009). A partir do microscópio por emissão de campo, foram desenvolvidos outros equipamentos que se baseiam nos mesmos princípios, tais como o Microscópio de Varredura Eletrônica (conhecido como SEM, do Inglês: Scanning Electron Microscopy) e o próprio TEM, mencionado anteriormente. Vale a pena destacar o desenvolvimento de um outro equipamento que auxiliou no progresso da nanotecnologia: o Microscópio de Força Atômica (conhecido como AFM, do Inglês: Atomic Force Microscopy). Maiores detalhes sobre este equipamento serão dados também na unidade 4. Este equipamento foi criado em 1986, por Gerd Binnig, Calvin Quate e Christoph Gerber (SANTOS et al., 2004). O microscópio de força atômica representou um grande avanço na área de nanotecnologia, pois o mesmo permitiu que medidas e visualizações em escalas nanométricas fossem possíveis. Outros fatos e acontecimentos marcantes que envolvem a nanotecnologia também impactaram o mundo e a forma de viver, tais como o surgimento de circuitos integrados de dimensões cada vez mais reduzidos, permitindo a melhora de performance e redução de tamanho de computadores, laptops, celulares, câmeras e outros. Não menos importante, até por se tratar do escopo principal deste material, estão os avanços relacionados com a nanobiotecnologia, os quais serão relatados ao longo desta apostila. http://www.nano.gov/timeline 11 www.eunapos.com.br Exercício 1 1. Assinale a alternativa correta com relação aos fundamentos básicos da nanotecnologia. A nanotecnologia trata de técnicas que envolvem elementos em escala microscópica. Os elementosnanoscópicos encontrados na natureza são gerados por processos físicos e/ou químicos de forma espontânea. Um nanômetro equivale a 0,001 m. No processo de automontagem de camadas moleculares, a superfície onde será feita a automontagem não influencia no processo. A nanotecnologia não depende das técnicas de microscopia. 2. Assinale a alternativa correta com relação à história da nanotecnologia. O uso da nanotecnologia, mesmo sem o conhecimento dos seus princípios, teve início no século passado, por volta de 1959, com a palestra de Richard Feyman. O copo de Licurgo é um exemplo de uso da nanotecnologia, por meio de nanopartículas magnéticas misturadas ao vidro. Nas espadas de Damasco, detectou-se a presença de nanotubos de carbono, exemplo de aplicação nanotecnológica sem domínio do conhecimento. A partir do microscópio de emissão de campo, criou-se o microscópio de força atômica. O dicroísmo é um fenômeno magnético que ocorre em materiais submetidos à análise do microscópio de força atômica. 12 www.eunapos.com.br UNIDADE 2 - EFEITO DE CONFINAMENTO QUÂNTICO, VARIAÇÃO DE PROPRIEDADES EM FUNÇÃO DO TAMANHO DAS NANOESTRUTURAS O objetivo desta unidade é apresentar os efeitos de mudança da escala macro para nano. O entendimento de tais diferenças é fundamental na compreensão da nanotecnologia. 2.1 Confinamento Quântico Para melhor entender o confinamento quântico, é preciso compreender alguns conceitos relacionados à Mecânica Quântica. A Mecânica ou Física Quântica difere da Clássica por causa das dimensões dos elementos que ela trata. Ou seja, a Física Quântica trata de sistemas físicos cujas dimensões são próximas ou menores que os átomos ou moléculas. Isto já é um indicativo claro de que as dimensões na escala nanométrica implicam em uma nova forma de lidar com a matéria, diferente da forma clássica. Para uma melhor noção, o diâmetro dos átomos varia entre 0,1 a 0,5 nm. Ou seja, numa escala desse porte, algumas grandezas físicas perdem significâncias enquanto outras começam a se tornar mais dominantes. É válido ressaltar que essa forma diferenciada de tratar a matéria não implica necessariamente em uma separação total entre o mundo macro e o nano. Por exemplo: o fenômeno da supercondutividade é algo perceptível de forma macro, mas que depende de fenômenos associados à Física Quântica. Na realidade, tudo é composto por átomos, ou seja, elementos que se encontram na escala nano. A Física Quântica emerge da necessidade de explicar-se fenômenos que não podem ser mais explicados pela Física Clássica, justamente devido ao comportamento diferenciado da matéria, quando as escalas dimensionais são extremamente diferentes, em termos de magnitude. O limite dimensional entre essas duas físicas situa-se em torno de 100 nm (DUARTE, 2008). Um exemplo clássico é o 13 www.eunapos.com.br ouro. Na Figura 6, tem-se soluções com nanopartículas de ouro, sendo que tais partículas possuem diferentes diâmetros. Figura 6 - Visualização de soluções contendo nanopartículas de ouro com diferentes diâmetros Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gold255.jpg?uselang=pt-br A nível macroscópico, é claro e perceptível que a coloração do ouro é amarela. Mas quando reduz-se o ouro a uma dimensão nano, a sua coloração é alterada. O fato da coloração ser alterada está relacionada com o comportamento físico da matéria, visto que há uma alteração em suas propriedades óticas. Logo, percebe-se por meio deste exemplo, que as dimensões em nível nano é que determinam o tratamento da matéria pela Física Quântica. Com isso, podem-se observar 4 situações da matéria que auxiliam no entendimento do confinamento quântico. Tais situações estão ilustradas na Figura 7. 14 www.eunapos.com.br Figura 7 - Confinamento Quântico exemplificado num cubo de aresta de 100 nm: a) Volume Macro/Microscópico; b) Poço Quântico; c) Fio Quântico e d) Ponto Quântico. Fonte: Elaboração própria O volume macro da matéria é considerado quando a dimensão está acima de 100 nm em todas as três direções do espaço, conforme mencionado anteriormente em referência a Duarte (2008). Todavia, quando a dimensão em uma das direções é reduzida à escala nanométrica, tem-se o que é chamado de “Poço Quântico”. Quando se amplia para duas dimensões em uma escala nanométrica, tem-se então, o que é conhecido como “Fio Quântico”. E por fim, quando todas as dimensões estão reduzidas à escala nano, tem-se o “Ponto Quântico”, muito conhecido em Inglês como “Quantum Dots”. Basicamente, os efeitos devido ao confinamento quântico ocorrem quando as dimensões da matéria são de tal forma reduzida, que o diâmetro da matéria é da mesma ordem de grandeza da função de ondas dos elétrons. Ou seja, quando uma partícula compõe uma matéria com a dimensão do tipo volume macro, conforme observado na Figura 7, ela tem um comportamento livre. Conforme se reduzem as dimensões, tem-se o confinamento quântico, onde as partículas já não possuem mais o mesmo comportamento, pois a partícula assume níveis de energia discretos e não mais contínuos, como é típico da matéria em escala macroscópica. Observa-se que o confinamento nas três dimensões do espaço, é o que ocorre nos pontos quânticos. Nessa situação, os elétrons e seus vazios (tipicamente chamados de buracos, do Inglês: holes) são espremidos em uma dimensão quântica, que acaba por alterar o comportamento físico da matéria. Por exemplo, devido à restrição do movimento dos elétrons do ouro, exemplificado na Figura 7, as 15 www.eunapos.com.br nanopartículas de ouro reagem de forma diferente quando expostas a uma luz. Alterando-se o tamanho das nanopartículas, as restrições se alteram e o seu comportamento ótico, por consequência, também sofre alterações. 2.2 Efeito de escalas nas propriedades de nanoestruturas O exemplo da Figura 6 demonstra claramente o efeito do confinamento quântico e a mudança nas propriedades da matéria quando reduzida à escala nano. Contudo, um olhar mais cuidadoso revela outro fator interessante e relevante: a dependência da escala nas propriedades de nanoestruturas. Ou seja, as nanopartículas de ouro são constituídas de um mesmo elemento químico e formam pontos quânticos, mas possuem propriedades óticas diferentes que estão correlacionadas com o diâmetro delas. Figura 8 - Visualização de soluções contendo nanopartículas de CdSe com diferentes diâmetros. Da esquerda para direita, o tamanho das nanopartículas vão aumentando Fonte: http://www.nano.ugent.be/ E este fenômeno ótico dos pontos quânticos não está restrito apenas ao ouro, mas nanopartículas de CdSe (Cádmio e Selênio) também apresentam uma coloração que varia de acordo com o tamanho das nanopartículas. Na abertura do website do grupo de pesquisa Physics and Chemistry of Nanostructure (Do Inglês: 16 www.eunapos.com.br Física e Química de Nanoestruturas) da Universidade de Gent, Bélgica, tem-se uma bela imagem do efeito do tamanho de nanopartículas de CdSe expostas a uma luz do tipo ultravioleta (Figura 8). Os efeitos relacionados à superfície também sofrem considerável mudança quando a escala nano é dominante. Um exemplo clássico para entender a predominância do efeito de superfície é mostrada numa bela ilustração extraída do website da NNI (http://nano.gov/nanotech-101/special), conforme pode ser observado na Figura 9. Figura 9 - Aumento da área superficial para um mesmo volume, devido à quantização das partículas que compõe o elemento Fonte: http://nano.gov/nanotech-101/special Observando a Figura 9, percebe-se que ao se reduzir o tamanho dos elementos que compõem o volume inicial, que permanece constante, tem-se um significante aumento da área superficial. Nota-se que ao reduzir um cubo único de aresta de 1 cm paraum conjunto de cubos com arestas de 1 mm, tem-se um aumento de área superficial de 6 cm2 para 60 cm2, ou seja, 10 vezes mais. E no sentido extremo, onde todo volume é dividido em cubos, ou melhor, em nanocubos de 1 nm de aresta, tem-se uma área superficial de 60.000.000 cm2. Ou seja, apesar das dimensões globais serem preservadas (arestas de 1 cm), a área superficial de todos os elementos que o compõem, teve um aumento da ordem de 10 milhões de vezes. http://nano.gov/nanotech-101/special 17 www.eunapos.com.br É por esta razão que as superfícies de contato são de extrema importância quando se trabalha com nanopartículas ou nanomateriais. Um dos exemplos citados na unidade 1 tratava-se do processo de automontagem molecular (Figura 3). Nesse processo, o papel da superfície onde será feita a automontagem molecular é de fundamental importância. Um dos parâmetros de caracterização, inclusive em aplicações de nanobiotecnologia, é a classificação das superfícies em hidrofílicas e hidrofóbicas. Na unidade 3, que trata sobre as propriedades de nanomateriais, será feita uma abordagem mais detalhada sobre hidrofilia e hidrofobia. É válido mencionar um aspecto importante do efeito do aumento da área superficial, que está relacionado com as possíveis aplicações da nanobiotecnologia. Uma delas seria a aplicação em sistemas de filtragem e outra, em processos de combate a bactérias. Visto que a área superficial é muito grande para uma mesma quantidade de material (vide Figura 9), a ação de filtragem e combate a bactérias é otimizada quando se usam nanopartículas, pois há um maior contato entre as nanopartículas e as bactérias e impurezas, por exemplo. No trabalho de Xu et al. (2012), há uma revisão sobre o uso de nanopartículas de óxido de ferro em tratamento de água, onde destaca-se a importância da nanotecnologia, uma vez que o consumo, e, por consequência, descarte de água, tem aumentado conforme aumenta a população mundial. Há, também, exemplos de fabricantes que utilizam nanopartículas de prata em meias, visto que a prata atua como bactericida e fungicida, eliminando maus odores nas meias (http://www.nanosilver.eu/Tema/Why-Nanosilver/Magical-Socks- Nanosilver-with-Silver-Nanoparticles, acessado em 27 de Janeiro de 2014). No artigo de revisão de Dastjerdi et al. (2010), há uma relação de nanopartículas usadas como agentes antimicrobianos para materiais de uso na indústria têxtil, onde se cita também o uso de nanopartículas de óxido de titânio e óxido de zircônia, bem como outros. Em suma, observou-se nesta unidade, que os efeitos do confinamento quântico, quando a matéria na forma de partículas passa a comportar-se de forma discreta e não mais contínua, são responsáveis pelas alterações nas propriedades da matéria. Tais propriedades estão mais relacionadas às propriedades óticas, http://www.nanosilver.eu/Tema/Why-Nanosilver/Magical-Socks-Nanosilver-with-Silver-Nanoparticles http://www.nanosilver.eu/Tema/Why-Nanosilver/Magical-Socks-Nanosilver-with-Silver-Nanoparticles 18 www.eunapos.com.br elétricas e magnéticas, bem como àquelas associadas à superfície, como energia superficial que governa a hidrofilia ou hidrofobicidade superficiais. Exercício 2 1. Assinale a alternativa correta com relação aos efeitos de escala em nanomateriais. A definição de ponto quântico é quando um elemento tem dimensões nanométricas em duas direções do espaço. Partículas de CdSe possuem coloração diferente devido ao formato das partículas. À medida que a matéria é tratada em termos de dimensões reduzidas, as propriedades relacionadas à superfície das partículas tornam-se irrelevantes. Confinamento quântico ocorre quando a matéria reduzida a partículas começa a comportar-se de forma discreta e não contínua. Nanopartículas de ouro tem a coloração amarelada, semelhante à matéria macroscópica. 19 www.eunapos.com.br UNIDADE 3 - PROPRIEDADES DE NANOMATERIAIS O objetivo desta unidade é apresentar as propriedades de nanomateriais e, principalmente, a funcionalização dos mesmos para aplicações em nanobiotecnologia. 3.1 Hidrofilia e Hidrofobia Conforme observado na unidade anterior, percebe-se que o comportamento dos materiais em uma escala nanométrica é significantemente diferenciado em relação aos materiais em dimensões maiores. Isto implica também em propriedades diferenciadas para os nanomateriais, com atenção especial para aquelas relacionadas à superfície dos nanomateriais. Dentre as características superficiais, destacam-se a hidrofilia e a hidrofobia. Para entender o significado de hidrofilia é importante entender também o significado do seu parâmetro antagônico: hidrofobia. Ambas as palavras têm sua origem no grego e enquanto a primeira, hidrofilia, significa literalmente afeição (filia – ) à água (hydros - ), a segunda, hidrofobia, significa medo (phobos – à água (hydros – ). Ou seja, uma superfície que tem afinidade com água é hidrofílica. A natureza da superfície, em termos de hidrofilia, é um importante componente para definir o comportamento de uma nanopartícula em um meio aquoso por exemplo. Nanomateriais usados como carreadores de fármacos que possuem superfície hidrofílica, não são dissolvidos com facilidade em contato com as células do fígado, o que permite um efeito mais duradouro dos fármacos no organismo. 20 www.eunapos.com.br Figura 10 - Ângulo de contato para uma superfície hidrofóbica (esquerda – non-wetting, do Inglês: não “molhável”) e hidrofílica (direita – wetting, do Inglês: “molhável”) Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f9/Surface_tension_and_angles.jpg?uselang=pt-br Uma forma de distinguir de forma experimental se uma superfície é hidrofílica ou não, é pela medição do ângulo de contato, conforme pode se observar na Figura 10. Visto que água tende a ser “repelida” quando em contato com uma superfície hidrofóbica, ela tenderá a formar uma configuração esférica, reduzindo a área de contato com a superfície. Com isso, o ângulo de contato será menor que 90º. Por outro lado, em superfície hidrofílica, a água tenderá a aumentar a área de contato, logo, ela “esparramará” sobre a superfície. Consequentemente, o ângulo de contato será maior que 90º. Outro aspecto importante da hidrofilia ou não da superfície é com relação à forma como a mesma irá interagir com outros nanomateriais. Um exemplo de material nanoestruturado, mencionado na Unidade 1 e Figura 3, são as monocamadas formadas por automontagem. Esse processo de automontagem depende essencialmente da natureza das superfícies. Daí a importância de avaliar as superfícies em termos de hidrofilia ou hidrofobia, por exemplo. 3.2 Propriedades de Nanomateriais Os nanomateriais têm ganho um destaque cada vez maior devido às suas propriedades, que diferem em muito dos materiais convencionais de engenharia. Dentre as propriedades que se destacam, estão as elétricas, térmicas, ópticas e 21 www.eunapos.com.br magnéticas. Todavia, as propriedades mecânicas também se destacam, apesar de não ser uma regra geral para todo material nanoestruturado. Dentre os materiais nanoestruturados, em termos de propriedade mecânica, chama a atenção os nanotubos de carbono, cujas propriedades são extremamente diferentes de outros materiais convencionais de Engenharia. Obviamente, quando se fala de propriedades mecânicas de nanotubos, a principal dificuldade é a medição de tais estruturas nanométricas. Em Callister Jr. (2008), menciona-se que para nanotubos de carbono de parede única, que será melhor detalhado no subseção 3.3.1., o limite de resistência à tração pode variar de 50 a 200 GPa. Tabela 1 - Limite de Resistência à Tração (MPa) Nanotubos de Carbono (parede única) 50000 Aço 1020 420 Aço Inoxidável304 515 Liga de Titânio Ti-6Al-4V 790 Fonte: dados extraídos de Callister Jr. (2008) Para efeitos comparativos e com base nas tabelas de propriedades mecânicas dos materiais do livro de Callister Jr. (2008), montou-se a Tabela 1, com limites de resistência à tração de alguns materiais convencionais de engenharia. Tabela 2 - Módulo de Elasticidade (GPa) Nanotubos de Carbono (parede única) 1000 Aço 1020 207 Aço Inoxidável 304 193 Liga de Titânio Ti-6Al-4V 114 Fonte: dados extraídos de Callister Jr. (2008) Percebe-se nitidamente, que o limite de resistência à tração é notavelmente diferente, variando cerca de 100 vezes mais que os das típicas ligas metálicas. Já na Tabela 2, são apresentados valores para o módulo de elasticidade. 22 www.eunapos.com.br Novamente, observa-se que os nanotubos de carbonos possuem módulos de elasticidade superiores às das ligas metálicas convencionais. Outra grande vantagem dos nanotubos de carbonos em relação aos demais materiais está relacionada à sua densidade, que é baixa em comparação às demais ligas, vide o peso atômico reduzido do carbono em relação aos demais metais. Uma outra vantagem dos nanomateriais, de maneira geral, é que suas propriedades podem ser adicionadas a outros materiais pelo processo de formação de compósitos, ou seja, a combinação de dois materiais distintos para a formação de um. Os compósitos, por definição, são caracterizados pela combinação de dois materiais, sendo que um é denominado reforço e o outro, matriz (SHACKELFORD, 2008). A matriz é o material base, que preenche os espaços dos reforços, que são inseridos na matriz, para alterar as suas propriedades. Com isso, nanopartículas podem ser inseridas em matrizes poliméricas, por exemplo, para melhorar as propriedades das mesmas. 3.3 Aplicações em Nanobiotecnologia 3.3.1 Nanotubos de Carbono Os nanotubos de carbono, cuja estrutura é exemplificada na Figura 11, são produtos secundários do fulereno e formados por átomos de carbono. Os nanotubos de carbono são divididos em dois tipos básicos: Nanotubos de paredes únicas, que são conhecidos como SWNT (Do Inglês: Single-Walled Nanotubes) e de múltiplas paredes, MWNT (Do Inglês: Multi-Walled Nanotubes). A descoberta dos nanotubos é atribuída a Ijima (1991), embora haja contradições quanto a isso, conforme artigo editorial de Monthioux et al. (2006). 23 www.eunapos.com.br Figura 11 - Nanotubo de carbono Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/53/Contub_v1_0_08_2.png Sua estrutura peculiar gera propriedades únicas quando comparadas a outros materiais. Embora o foco do uso de nanotubos de carbono seja mais na área da mecânica e eletrônica, o mesmo tem sido usado também em nanobiotecnologia, principalmente como carreadores de fármacos. Ou seja, o fármaco é inserido no interior do tubo ou então, ligado em suas paredes. A parte externa pode ser funcionalizada para biocompatibilização e outros. Devido ao seu tamanho reduzido, onde o diâmetro de um SWNT pode variar de 1 a 20 nm (QIAN et al., 2002), ele permite que os nanotubos penetrem em células e até em seu núcleo, sendo mais eficaz. Logo, pela mesma razão, o uso de nanotubos em terapias gênicas apresentam resultados mais promissores (BATES et al., 2013). Há também o uso de nanotubos de carbono como carreadores de fármacos com direcionamento ativo, ou seja, eles levam os fármacos para as regiões de interesse (WONG et al., 2013). Alguns trabalhos têm reportado o uso de nanotubos associados ao tratamento de hipertermia em pacientes com câncer (JI et al., 2010). Nessa situação, os nanotubos de carbono são direcionados nas regiões com tumor por meio de direcionamento ativo e por meio de radiação, eles são aquecidos em tais regiões. 24 www.eunapos.com.br 3.3.2 Lipossomas Os lipossomas são estruturas esféricas formadas por uma bicamada lipídica, conforme observado na Figura 12. Uma importante característica das bicamadas lipídicas, tipicamente formadas por fosfolipídios, são as suas extremidades hidrofílicas (“cabeças”) e ramificações hidrofóbicas (“caudas”), que formam uma estrutura do tipo anfipática (domínios hidrofílicos e hidrofóbicos em uma mesma estrutura). São usados como carreadores de fármacos, que podem ter um direcionamento ativo e também uma liberação mais controlada dos fármacos dentro do organismos, o que diminui o tempo de treinamento e otimiza a administração do medicamento. Figura 12 - Estrutura de um lipossoma Fonte: Adaptado de http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Phospholipids_aqueous_solution_structures_pt.svg Dependendo de sua configuração, eles podem ter diferentes funções. Por exemplo, quando há um revestimento hidrofílico no lipossoma, ele passa a ser um lipossoma de longa duração, que circulará por mais tempo na corrente sanguínea (BATISTA et al., 2007). O aumento de tempo em circulação acarreta em uma diminuição no tempo de administração do fármaco. Já para as aplicações de direcionamento ativo, os lipossomas podem possuir nas suas superfícies, ligantes de 25 www.eunapos.com.br lipídio, proteína ou anticorpos, que serão escolhidos de acordo com sua afinidade em relação ao seu alvo. Os lipossomas também são utilizados no tratamento de câncer (KIM et al., 2014), desenvolvimento de vacinas, terapia gênica e também no tratamento de doenças parasitárias e infecciosas. Além da área farmacêutica, os lipossomas também são usados com grande frequência pela indústria de cosméticos, com aplicações mais voltadas para a pele, onde há várias pesquisas sendo realizadas (BETZ et al., 2005). 3.3.3 Nanopartículas Semelhante aos nanotubos de carbonos e lipossomas, as nanopartículas também podem ser usadas como carreadores de fármacos. Alguns autores, inclusive, classificam os lipossomas como um tipo de nanopartícula. As nanopartículas de óxido de ferro superparamagnéticas, conhecidas como SPIONs (Do Inglês: Super Paramagnetic Iron Oxide Nanoparticles), destacam-se em aplicações clínicas devido às suas propriedades magnéticas, pois podem ser usadas em tratamento de câncer por hipertermia (HUANG et al., 2011). Além disto, as nanopartículas podem ser direcionadas por campos magnéticos até o local onde o tumor se encontra, promovendo uma ação mais específica de hipertemia. Outra classe interessante de nanopartículas com aplicações em nanobiotecnologia são as de ouro. O ouro na verdade, já era usado com propósitos medicinais há muito tempo atrás, conforme mencionado por Dykman et al. (2011). De forma semelhante às SPIONs, as nanopartículas de ouro são usadas como tratamento de câncer por meio de hipertermia localizada. Além disto, devido às propriedades óticas peculiares do ouro, conforme observado na Figura 6, da unidade 2, as nanopartículas de ouro são usadas como uma forma de diferenciar células cancerígenas das saudáveis (NAZIR et al., 2014). 3.3.4 Dendrímeros Os dendrímeros possuem uma característica bem peculiar em comparação com os demais nanomateriais. Eles possuem uma semelhança com as nanopartículas no sua forma esférica e lembram também os lipossomas. Mas os 26 www.eunapos.com.br lipossomas possuem a peculiaridade de serem formados por bicamadas lipídicas. No caso dos dendrímeros, eles são formados por camadas radiais de moléculas, conforme pode ser observado na Figura 13. Figura 13 - Estrutura de um dendrímero Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/64/Dendrimer_81_allyl.jpg Os dendrímeros, devido a sua alta ramificação tridimensional, permitem a adição de ligantes e agentes dentro dessa ramificação e também nas extremidades, ou seja, na superfície deles. Com isso, tem-se uma grande versatilidade no aspecto de funcionalização. Por exemplo, podem se adicionar agentes de envio ativo na superfície do dendrímero, enquantoque na sua parte interior, podem-se adicionar os fármacos. Dentre as aplicações de dendrímeros em nanobiotecnologia, destaca-se o seu uso como carreadores de fármacos (JEDRYCH et al., 2014), terapias contra câncer (WANG et al., 2011) e terapia genética (GUERRA et al., 2012). 27 www.eunapos.com.br Exercício 3 1. Assinale a alternativa correta com relação à propriedade de nanomateriais. Superfície hidrofílica gera ângulos de contato com a água menores que 90º. Os materiais nanoestruturados possuem, por causa de sua dimensão reduzida, propriedades mecânicas piores, como por exemplo, o nanotubo de carbono comparado com o aço 1020. Nanotubos de carbonos podem ser usados como uma matriz de um compósito. Hidrofilia e hidrofobia são características de superfícies que implicam em afinidade e aversão à água, respectivamente. Uma das desvantagens dos nanotubos de carbono é sua altíssima densidade em comparação a ligas metálicas. 2. Assinale as alternativas que são Verdadeiras e as que são Falsas, com relação à aplicação de nanomateriais em nanobiotecnologia: Em nanobiotecnologia, nanotubos de carbonos só são empregados como carreadores de fármacos, pois a sua aplicação em terapias de hipertermia é inviável. Lipossomas que possuem superfícies hidrofílicas são usados como carreadores de fármacos que precisam circular por mais tempo na corrente sanguínea. Nanopartículas de ouro podem ser usadas para diferenciar células cancerígenas das saudáveis. Dendrímeros são usados apenas em terapia de hipertermia em casos de câncer. Os lipossomas, devido a sua bicamada lipídica, não podem ser usados em produtos cosméticos. 28 www.eunapos.com.br UNIDADE 4 - CARACTERIZAÇÃO E PRODUÇÃO DE MATERIAIS NANOESTRUTURADOS O objetivo desta unidade é apresentar as principais técnicas de caracterização de estruturas derivadas da nanobiotecnologia e os processos de fabricação dos mesmos. No que se refere às técnicas, serão apresentados princípios básicos de utilização dos instrumentos de medição usados para caracterização de superfícies nanoestruturadas. Na unidade 1, foi discutida a importância das técnicas de microscopia para o avanço da nanotecnologia como um todo. Ou seja, graças aos avanços da microscopia, a nanotecnologia tem avançado, pois é somente com ela que é possível fazer o estudo de nanoestruturas, por meio de uma caracterização visual, bem como avaliar se a construção de uma nanoestrutura foi adequada ou não. A contribuição de técnicas de caracterização para a nanotecnologia não se restringe apenas à caracterização de materiais ou tecnologias já desenvolvidas pelo homem. Mas também, contribui para estudar e compreender estruturas biológicas, por exemplo. Ou seja, o processo de entender como uma dada superfície biológica interage de forma peculiar com um dado meio pode ser facilitado com o uso de tais técnicas de caracterização. Com isso, a partir deste conhecimento, pode se evoluir para o desenvolvimento de novos materiais ou estruturas. Um exemplo clássico é o estudo da estrutura da flor de lótus, que possui uma característica extremamente hidrofóbica, tal como pode ser observado na Figura 14. Uma das peculiaridades das folhas de Lótus é que são extremamente limpas por causa da sua hidrofobicidade, o que impedem que se acumule água sobre as suas superfícies. Com isso, as gotículas de água “rolam” sobre a superfície, levando consigo toda as impurezas superficiais. Tal mecanismo autolimpante é conhecido como Efeito Lótus (CHENG et al., 2006). 29 www.eunapos.com.br Figura 14 - Folha de Lótus com gotículas de água é caracterizada por possuir uma superfície hidrofóbica Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lotus_leaf_with_waterdrops.jpg?uselang=pt-br Figura 15 - Simulação do Efeito Lótus por meio de computação gráfica Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/13/Lotus3.jpg?uselang=pt-br O uso de técnicas de microscopia permite verificar que tal repelência da água ocorre devido a uma estrutura formada por rugosidades e ceras hidrofóbicas (NEINHUIS et al., 1997). Na Figura 15, é mostrada uma imagem a partir de computação gráfica, revelando o mecanismo do Efeito Lótus. Na Figura 16, é mostrado, de forma mais clara, o mecanismo autolimpante devido à superfície peculiar do Efeito Lótus. Do lado esquerdo, tem-se o exemplo de uma superfície que não imita a estrutura da folha de Lótus. Nessa situação, a água 30 www.eunapos.com.br tende a “escorregar sobre a superfície”, desviando inclusive de possíveis obstáculos, como as sujidades e impurezas. Já no caso da figura do lado direito, devido à estrutura rugosa da folha de Lótus, a gotícula de água tende a “rolar” sobre a superfície, realizando uma limpeza automática da mesma. Figura 16 - Mecanismo do Efeito Lótus – Efeito autolimpante Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Self_cleaning_picture.jpg?uselang=pt-br A partir desse tipo de conhecimento, várias tecnologias podem ser desenvolvidas e aplicadas em diferentes áreas. Na Figura 17, é apresentado o Efeito Lótus aplicado em um componente eletrônico, o que evitaria problemas devido ao contato com a água. Figura 17 - Revestimento de superhidrofobicidade em circuitos eletrônicos Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/50/Super- hydrophobic_Coating.jpg?uselang=pt-br http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/50/Super-hydrophobic_Coating.jpg?uselang=pt-br http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/50/Super-hydrophobic_Coating.jpg?uselang=pt-br 31 www.eunapos.com.br 4.1 Evolução das técnicas de microscopia Na unidade 1, foi discutida a importância das técnicas de microscopia para o avanço da nanotecnologia como um todo. Ou seja, graças aos avanços da microscopia, a nanotecnologia tem avançado, pois é somente com ela que é possível fazer o estudo de nanoestruturas, por meio de uma caracterização visual. Na Figura 18, é apresentada de forma geral, a evolução destes equipamentos com um esquema bem simplificado. Percebe-se que não há apenas uma evolução do conhecimento, mas principalmente da tecnologia, como o desenvolvimento de sensores, por exemplo, que será melhor detalhado nas próximas seções desta unidade. Figura 18 - Evolução dos microscópios que auxiliaram no avanço da nanotecnologia a partir do microscópio ótico Da esquerda para direita: Optical (Microscópio ótico), TEM (Transmission Electron Microscopy), SEM (Scanning Electron Microscopy), SPM (Scanning Probe Microscopy), que são divididos em AFM (Atomic Force Miscroscopy), STM (Scanning Tunneling Microscopy) e SNOM (Scanning Near Field Optical Microscopy). Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/MicroscopesOverview.jpg?uselang=pt-br http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/MicroscopesOverview.jpg?uselang=pt-br 32 www.eunapos.com.br Ao longo desta unidade, será feito um maior detalhamento do funcionamento dos principais equipamentos utilizados em nanobiotecnologia e as principais aplicações dos mesmos, em termos de caracterização de nanomateriais. Todavia, nem todos os aparelhos serão detalhados nesta apostila, mas apenas os que se destacam nas pesquisas relacionadas com nanobiotecnologia. 4.2 Microscópio Eletrônico de Transmissão (TEM – Transmission Electron Microscopy) e Microscópio Eletrônico de Varredura (SEM – Scanning Electron Microscopy) O princípio de funcionamento dos microscópios eletrônicos de transmissão (TEM) e varredura (SEM) é praticamente o mesmo, daí a razão de englobar ambos numa mesma seção desta apostila. Ambos, utilizam-se de um emissor de feixe de elétrons para visualização de superfícies, onde o grande diferencial é que o feixe de elétrons pode atravessar a amostra, no caso do TEM, ou refletir a partirda superfície da amostra, que é o caso do SEM. Na Figura 18, esta diferença fica clara quando comparamos os feixes de elétrons (cor roxa) do TEM e SEM. Ou seja, a forma com que esse feixe de elétrons interage com a amostra, é detectada por meio de um detector de elétrons, que irá então formar a imagem da amostra. Logo, o feixe de elétrons a ser detectado passará através da amostra (TEM) ou refletirá sobre a superfície da amostra (SEM). Observa-se que no microscópio de transmissão, alguns requisitos são necessários para a amostra a ser observada. Um dos requisitos é que a espessura da amostra seja extremamente fina, de tal modo que permita que o feixe de elétrons atravesse a amostra. Portanto, a imagem da amostra é fruto das interações entre este feixe de elétrons e a amostra, à medida que ele atravessa a mesma. Por outro lado, embora o SEM não tenha essa limitação com relação à espessura de amostra, dependendo da configuração do SEM, algumas condições das amostras são requeridas. Por exemplo, o SEM convencional, que é caracterizado por usar um ambiente próximo ao vácuo, não permite o uso de 33 www.eunapos.com.br amostras úmidas e requer o revestimento metálico ultrafino sobre amostras não metálicas. No caso de amostras úmidas, recomenda-se a desidratação por meio do uso de solventes diluídos em concentrações cada vez mais crescentes. Um protocolo sobre esse processo pode ser encontrado em uma publicação do autor desta apostila (NAKA et al., 2005). Na Figura 19, é apresentada uma imagem de cartilagem articular desidratada pelo processo descrito em Naka et al (2005). Observa-se uma camada que recobre (proteoglicanas desidratadas) sobre corpos circulares, que seriam as células cartilaginosas, os condrócitos. Figura 19 - Imagem de uma cartilagem articular desidratada obtida com um SEM em ambiente a vácuo Fonte: Elaboração própria Quando se usa um SEM com Ambiente de Vácuo Variável, conhecido pela sigla em Inglês ESEM (Environmental Scanning Electron Microscopy), a desidratação das amostras não é necessária, bem como o seu revestimento metálico. Todavia, é válido ressaltar que o uso de uma camada metálica ultrafina sobre a amostra auxilia na visualização das amostras, melhorando a qualidade dos 34 www.eunapos.com.br contrastes topográficos das amostras. Mas obviamente, tal revestimento é inviável em amostras úmidas. Embora a desidratação não seja necessária, nem sempre amostras biológicas podem ser visualizadas com o ESEM. Um exemplo é a cartilagem articular, que é composta por 80 % de água (NAKA, 2005). Logo, usando-se o ESEM, não se consegue visualizar a camada de proteoglicanas nem os condrócitos que foram visualizados com o SEM, de forma clara. Na Figura 20, é mostrada uma imagem de uma cartilagem articular obtida com o uso de um ESEM. Figura 20 - Imagem de uma cartilagem articular obtida com um ESEM Fonte: Elaboração própria Uma outra aplicação importante que é feita com ESEM é a imagem baseada na dispersão dos elétrons, conhecida como imagens do tipo Imaging with Back- scattered Electrons, do Inglês. Ou seja, átomos mais pesados (maior número atômico) são mais dispersos que os mais leves. Logo, a imagem fornece uma imagem que traz informações sobre a composição do material. Na Figura 21, é apresentada uma imagem obtida por dispersão de elétrons em uma amostra de alumina, usada como cabeça femoral protética. Devido à diferença de pesos atômicos, pode-se distinguir que esses traços representam a presença de um material aderido sobre a superfície. Tal visualização, dependendo 35 www.eunapos.com.br da espessura do material aderido, pode ser imperceptível ou confundido como uma trilha de desgaste. No caso da Figura 21, o material aderido sobre a alumina (Al2O3) era óxido de Titânio (TiO2). Figura 21 - Traços de óxido de titânio (TiO2) sobre a superfície de uma cabeça femoral protética de alumina (Al2O3) Fonte: Elaboração própria Obviamente, a indicação da formação do filme de óxido de titânio depende de outras informações e técnicas de caracterização. A informação necessária é o levantamento de materiais “suspeitos”. Ou seja, que tipo de material poderia estar aderido naquela superfície, considerando o meio onde ele estava inserido e os materiais que estão colocados na sua proximidade. No caso do óxido de titânio, o mesmo é encontrado na haste protética, que é inserida no interior do fêmur. Logo, a parte de suporte da cabeça femoral protética é constituída de óxido de titânio. A técnica de caracterização usada no caso da Figura 21 foi com o uso do próprio ESEM, e é conhecida como Espectroscopia de Raio X por Dispersão em Energia, EDAX (Do Inglês: Energy Dispersive X-Ray Analysis). O seu princípio de funcionamento baseia-se no fato de que quando um feixe de elétrons atinge a superfície de uma amostra, os átomos superficiais são excitados para retornarem ao seu estado fundamental, o que acaba liberando a emissão de fótons. Desta forma, 36 www.eunapos.com.br tais fótons são analisados em termos de seus níveis de energia e podem estar associados a um dado elemento químico. Figura 22 - Perfil obtido por meio de EDAX da superfície de uma cabeça femoral protética de alumina (Al2O3). Fonte: Elaboração própria A imagem da Figura 22 representa o resultado obtido para a superfície da Figura 21. Percebe-se a presença de Ti, O e Al, que estão relacionados a TiO2 e Al2O3. 4.3 Microscópio de Força Atômica (AFM – Atomic Force Microscopy) Embora a classe dos microscópios do tipo SPM (Microscópio de Varreruda de Ponta de Prova ou Microscópio de Varredura por Ponteira – Do Inglês: Scanning Probe Microscopy), englobe diferentes tipos (vide a Figura 18), nesta apostila, será dado destaque ao AFM, Microscópio de Força Atômico. A razão em focar no AFM é devido ao seu uso mais frequente em caracterização de materiais usados em nanobiotecnologia. Basicamente, o microscópio de força atômica consiste em uma ponta de prova que desliza sobre uma superfície. Uma luz laser incide sobre a superfície dessa ponta de prova, e essa luz é refletida sobre um sensor ótico. O monitoramento 37 www.eunapos.com.br do deslocamento da luz sobre o sensor ótico pode ser associado a movimentos na direção vertical da ponta de prova devido às rugosidades superficiais, ou a movimentos torcionais devido à força lateral exercida sobre a ponta de prova (força de atrito). Na Figura 23, é mostrado um esquema do funcionamento de um AFM. Figura 23 - Princípio de funcionamento de um AFM (Atomic Force Microscopy). Fonte: elaboração própria. Observa-se que para a obtenção de imagens em nível nanomicroscópico, a ponta de prova precisa ser de tamanho extremamente reduzido, sendo que a maioria delas possui um formato triangular e fica acoplado a um cantilever (mola plana) de geometria comumente triangular e dimensão em torno de 10 m, conforme pode ser observado na Figura 24. Ou seja, as pontas de provas são extremamente pequenas e frágeis, o que requer um cuidado especial por parte do operador. Por essa razão, os testes são geralmente lentos e áreas de 400 m2, por exemplo, são tipicamente escaneadas em questão de minutos. Pontas de provas tratadas quimicamente ou com a adesão de partículas coloidais são disponíveis comercialmente e permitem uma grande gama de experimentos. Ou seja, pontas tratadas de forma a estarem negativamente carregadas podem gerar respostas diferentes em testes de adesão, quando comparadas a pontas carregadas positivamente. O mesmo ocorre com o revestimento químico, que pode alterar a interação da ponta com a superfície a ser 38 www.eunapos.com.br avaliada. No geral, as pontas de provas são fabricadas com Silício (Si) e acopladas a molas planas de Nitreto de Silício (Si3N4). Percebe-seque as pontas são extremamente duras, pois as mesmas devem ser resistentes ao desgaste decorrente de seu deslizamento sobre as superfícies a serem investigadas. Um desgaste das pontas de prova poderia gerar resultados incorretos. Na Figura 24, é apresentada uma foto de uma ponta de prova usada no AFM. Figura 24 - Ponta de prova para uso em AFM, na forma de um cantilever triangular Fonte: Open University (http://openlearn.open.ac.uk/mod/oucontent/view.php?id=397865§ion=3.6) Outra técnica de extremo interesse são as imagens de fase ou de contraste. São feitas a partir do tapping mode, que na prática representa um modo onde a ponta de prova entra em ressonância (oscilações intermitentes na vertical contra o corpo de prova) durante a varredura sobre a amostra. Com isso, a imagem resultante desse processo representa um mapa, cujos contrastes estão relacionados com regiões de diferentes módulos de elasticidade. 39 www.eunapos.com.br a) b) Figura 25 - Amostra metálica de CoCrMo após teste de atrito contra um pino de polietileno: a) imagem de fase e, b) imagem da topografia superficial. A linha entre as duas marcações em vermelho correspondem a aproximadamente 5 m de distância. Fonte: Crockett et al., 2009. Na Figura 25.a, tem-se uma imagem obtida a partir deste modo de captura, onde as partes mais escuras representam regiões de baixo módulo de elasticidade. Esta imagem (CROCKETT et al., 2009), representa a identificação de nanopartículas de polietilenos aderidas (transferidas) sobre uma superfície metálica de CoCrMo. Já na Figura 25.b, tem-se a mesma amostra, mas com uma imagem obtida a partir da varredura normal sobre a superfície. Ou seja, representa a topografia superficial da amostra, onde as regiões mais escuras representam vales na topografia, semelhante ao que ocorre com as imagens obtidas por meio de microscópios. Neste caso, observa-se que as regiões de baixo módulo de elasticidade (escuras na imagem de fase) são regiões de pico (claras na imagem da topografia superficial), o que valida a conclusão de que se tratam de nanopartículas de polietilenos aderidas sobre a superfície metálica. Pode-se observar a multifuncionalidade e grande diversidade de aplicações e experimentos, que podem ser realizados com o uso de microscópio de força atômica. As aplicações podem abranger a área de biotecnologia, por meio da observação da adsorção de substâncias (proteínas, lipídios e outras macromoléculas) em superfícies, bem como da caracterização destas últimas. 40 www.eunapos.com.br Outra técnica interessante de caracterização usada com o AFM, é a medição de pontos isoelétricos de superfícies. Ou seja, permite verificar se a superfície é positiva ou negativamente carregada de acordo com o pH em que a superfície está imersa. O procedimento é descrito na Figura 26, onde uma amostra é mergulhada numa solução cujo pH faz com que a ponta de prova fique negativamente carregada. Figura 26 - Atração e repulsão da ponta de prova de um AFM, no processo de medição do ponto isoelétrico de uma superfície. Fonte: Elaboração própria Ao se alterar o pH da solução, tem-se que a superfície da amostra pode ficar positiva ou negativamente carregada. Sabendo-se o ponto isoelétrico (onde as cargas positivas e negativas se equilibram) da ponta de prova, pode-se determinar o ponto isoelétrico da superfície, conforme gráfico da Figura 27. Ou seja, devem-se fazer medições da força de repulsão (positiva) ou de atração (negativa) à medida que o pH da solução onde a amostra está imersa sofre variação. Na Figura 27, o ponto onde as forças são nulas é que define o ponto isoelétrico. Logo, sabendo-se o ponto isoelétrico da ponta de prova, pode-se saber se a superfície está carregada positiva ou negativamente a um dado pH. Essa informação é fundamental na fabricação de padrões superficiais ou até mesmo automontagem de camadas moleculares. 41 www.eunapos.com.br Figura 27 - Definição do ponto isoelétrico, quando não há repulsão e nem atração. Fonte: Elaboração própria. 4.4 Processo de fabricação de nanomateriais Nesta seção, serão apresentados os princípios básicos na fabricação de alguns materiais nanoestruturados, bem como a forma de obtenção de nanopartículas. Será dada uma atenção sobre a forma de funcionalização de tais materiais para aplicações em nanobiotecnologia. 4.4.1 Superfícies nanoestruturadas Um dos exemplos mais notórios de superfícies nanoestruturadas foi apresentado na introdução da Unidade 3, que é o efeito Lótus. O efeito hidrofóbico e hidrofílico também é importante para outras técnicas de fabricação de materiais nanoestruturados, como as monocamadas por automontagem. Uma das formas de criar superfícies nanoestruturadas é por meio da criação de micro ou nanopadrões usando-se litografia. O processo de litografia ótica é um dos mais comuns, onde se utiliza uma máscara e um material sensível à luz a um dado comprimento de onda. Na Figura 28, tem-se o esquema do procedimento para fabricação de micro ou nanopadrões superficiais usando litografia ótica. Inicialmente, reveste-se um 42 www.eunapos.com.br substrato com material fotorresistente, ou seja, sensível à luz. Esta sensibilidade do material dependerá do comprimento de onda específico da luz que incida sobre ele e de suas propriedades físicas. Ou seja, cada material tem uma sensibilidade para um dado comprimento de onda da luz. A altura dos padrões superficiais está atrelado à espessura de revestimento deste material fotorresistente. Sobre esse material fotorresistente é montada uma máscara, de forma a permitir que a luz atravesse apenas nas regiões onde se quer eliminar o material fotorresistente. Com isso, ao se incidir a luz com comprimento específico de onda para o material, tem-se uma mudança nas propriedades do mesmo. Após a retirada da máscara, basta o uso de um solvente adequado para o tipo do material fotorresistente que sofreu reação com a luz, para remover o material. Por fim, tem-se então o micro ou nanopadrão sobre a superfície do substrato. Figura 28 - Litografia ótica para criação de um material com nano ou micropadrão superficial. Fonte: Acervo do autor, 2014. Uma outra forma de litografia é por transferência de molde. Na Figura 29, tem-se o esquema de produção de uma superfície nanoestruturada usando essa técnica. Um molde negativo do padrão desejado é fabricado e o material a ser 43 www.eunapos.com.br depositado no substrato é colocado sob o molde. Faz-se então, a remoção do excesso de material. Com isso, aplica-se o molde com o material sobre o substrato e após a remoção do molde, apenas o material usado sobre o molde fica depositado no substrato. Em alguns casos, é necessária a aplicação de um reagente sobre o substrato, de tal forma que permita a aderência apenas do padrão sobre o substrato. Figura 29 - Litografia por molde para criação de um material com nano ou micropadrão superficial. Fonte: Elaboração própria Técnicas de litografia utilizando uma ponta de prova funcionalizada com um microscópio de força atômica (AFM), também tem sido usado. Outra técnica interessante é a microusinagem por CNC (Controle Numérico Computadorizado), onde um equipamento com precisão micrométrica realiza remoção de material sobre a superfície por meio do processo de fresa. Há também o uso de abrasão a laser, onde um laser controlado de forma micrométrica e com intensidade controlada, faz o desenho do padrão sobre a superfície do material. Esta técnica, bem como a do CNC, tem a limitação do tipo de material a ser usado. Por exemplo, não é possível fabricar padrões superficiais sobre 44 www.eunapos.com.br polímeros plásticos, pois eles derreteriam devido ao calor gerado pelo laser ou pela abrasão do CNC.Há outros métodos também usados na fabricação de padrões superficiais, como o uso de nanopartículas aderidas sobre a superfície, ou até mesmo o uso delas como um molde, onde as regiões de contato das nanopartículas não aderem ao substrato, conforme ilustrado na Figura 30. Figura 30 - Litografia com nanopartículas para criação de um material com nano ou micropadrão superficial. Fonte: Elaboração própria 4.4.2 Automontagem de monocamadas (SAM – Self Assembly Monolayer) O processo de automontagem de monocamadas é feito praticamente por processos químicos. O ponto mais relevante para uma eficiente automontagem são as características das superfícies onde ocorrerão o revestimento dessa monocamada. Ou seja, a adsorção das moléculas ocorre por interação eletrostática. Logo, o fato é que se as moléculas a serem adsorvidas formarem uma solução de policátions (positiva) ou poliânions (negativa), a carga elétrica da superfície faz toda a diferença. Daí, a importância da técnica de medição de pontos isoelétricos com AFM, para avaliar a carga superficial, cuja técnica foi apresentada anteriormente. Todavia, não é somente a carga superficial que irá definir a automontagem dessas monocamadas. A questão da natureza hidrofílica ou hidrofóbica da superfície também terá um papel importante nesse processo. Percebe-se, então, a importância 45 www.eunapos.com.br da caracterização dessas superfícies por meio da medição do ângulo de contato, mencionado também anteriormente. A forma de interação com o substrato (superfície onde ocorrerá a automontagem), é com a “cabeça” da molécula, conforme o esquema apresentado na Figura 31. Figura 31 - Desenho esquemático da automontagem de monocamadas. Fonte: Elaboração própria Na Figura 31, há a descrição de uma “cabeça” da molécula, geralmente chamada em Inglês de “Head Group”, e uma cauda, conhecida “tail”, que liga a cabeça à parte funcional (“Functional Group” em Inglês), onde este último é responsável pelas novas funcionalidades da superfície devido à formação da nanocamada. Devido à forma de interação entre a cabeça e os grupos funcionais, é possível a formação de novas camadas sobre os grupos funcionais, de forma a obter uma estrutura do tipo multicamada. Esta técnica de automontagem não é restrita a substratos planos, ou seja, pode se criar essas monocamadas em nanopartículas, por exemplo. A técnica percursora da automontagem é a Lagmuir-Blodgett (PATERNO et al., 2001), que consistia na imersão de moléculas com partes hidrofóbicas e hidrofílicas (anfipáticas) em um solvente. Se o solvente for água, por exemplo, as moléculas sofrerão uma orientação de tal forma que a parte hidrofílica ficará em contato com a água e a parte hidrofóbica exposta na superfície da água, conforme pode ser observado na Figura 32. 46 www.eunapos.com.br Figura 32 - Na parte superior, têm-se as moléculas na superfície da solução. Na parte inferior, a remoção de um substrato que fora mergulhado nessa solução. Fonte: Elaboração própria Com isso, mergulha-se na solução de água e moléculas anfipáticas, um substrato que irá interagir com a cabeça hidrofílica da molécula. Logo, tem-se a formação de uma monocamada dessas moléculas sobre o substrato. Dependendo das moléculas e da natureza da superfície do substrato, é possível fazer a montagem de camadas sobre camadas. 4.4.3 Lipossomas Lipossomas podem ser fabricados a partir da agitação ultrassônica de uma solução aquosa contendo fosfolipídios ou colesterol. Após a agitação dessa solução, são formados os lipossomas, que são esferas de bicamada de fosfolipídios, conforme observado na Figura 12. Devido a sua peculiar estrutura, os fármacos hidrossolúveis podem ser encapsulados no seu interior, enquanto que lipossolúveis ficam incorporados na bicamada lipídica (BERGMANN, 2008). Como essa bicamada pode se fundir com a membrana celular que também possui esse tipo de estrutura, ela pode liberar os fármacos no interior das células. 47 www.eunapos.com.br 4.4.4 Dendrímeros A síntese de dendrímeros é dividida em dois tipos básicos: divergente e convergente. Na síntese divergente, conforme observado na Figura 33, o dendrímero é formado a partir de um núcleo iniciador (na Figura, em Inglês: Initiator Core) em direção à parte externa do dendrímero, ou à sua periferia. Figura 33 - Síntese Divergente de Dendrímeros. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d3/538_Divergent_synthesis.png Figura 34 - Síntese Convergente de Dendrímeros. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2c/538_Convergent_synthesis.png Já no caso da síntese convergente, ocorre justamente o contrário, ou seja, o dendrímero é formado a partir de sua parte externa em direção ao núcleo, ou ponto focal (na Figura, em Inglês: Focal point), conforme pode ser observado na Figura 34. 48 www.eunapos.com.br Figura 35 - À esquerda: Dendrímeros com fármacos (esferas verdes) encapsulados no seu interior. À direita: Dendrímeros com fármacos ligados de forma covalente na sua parte externa. Fonte: Acervo do autor, 2014. Em nanobiotecnologia, conforme mencionado anteriormente, os dendrímeros podem ser usados como carreador de fármacos. Tal aplicação pode ocorrer de maneira que os fármacos sejam ligados de forma covalente na sua parte externa, ou então, encapsulados no meio das ramificações de sua estrutura, conforme pode ser observado na Figura 35. 4.4.5 Nanopartículas Basicamente, nanopartículas podem ser obtidas por meio de desgaste por atrito e por pirólise. A pirólise nada mais é do que a decomposição de um material a altas temperaturas. Já no sistema por desgaste, um equipamento muito usado é o moinho de bolas, conforme observado na Figura 36. Neste equipamento, o material do qual serão produzidas as nanopartículas é rotacionado no interior de uma câmara juntamente com esferas (bolas) extremamente duras. Figura 36 - Moinho de bolas. Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ball_mill.gif 49 www.eunapos.com.br No caso de nanopartículas de ouro, destaca-se o uso do laser ablativo para a síntese das mesmas. O procedimento é apresentado na Figura 37, onde o material (ouro) é imerso em uma solução e um laser é direcionado no material. O material é rotacionado enquanto o laser atinge o material, formando então, nanopartículas de ouro que ficam suspensas na água (XU et al., 2014). Figura 37 - Nanopartículas de ouro fabricadas por ablação a laser Fonte: Elaboração própria Para as SPIONs, mencionadas na unidade 3, o método mais comum é a adição de uma base numa solução aquosa de ferro (Fe2+) e íons de ferro (Fe3+) em uma proporção estequiométrica de 2:1, a qual produzirá nanopartículas esféricas de magnetita (MAHMOUDI, 2011). No caso de nanopartículas de prata, há diferentes métodos de obtenção, destacando o processo de redução de nitreto de prata com o uso de um agente redutor, como amônia (SONG et al., 2006). Outros métodos para a obtenção de nanopartículas de prata são usados, sendo de natureza física e não química, como a evaporação da prata e a sua condensação em nanopartículas. No trabalho de Tran et al. (2013), há uma bela revisão dos processos de síntese de nanopartículas de prata. Com relação às funcionalizações das nanopartículas, geralmente, elas são realizadas seguindo o princípio da automontagem molecular, o qual foi descrito no item 4.4.2. Ou seja, nanopartículas são imersas em soluções com moléculas que reagem com as superfícies das nanopartículas, por adsorção física ou ligação covalente, conferindo-lhes novas funcionalidades. 50 www.eunapos.com.br 4.4.6 Nanotubos de carbono Os nanotubos de carbono, conforme observado na Figura 11, possuem uma estrutura tubular formada por uma estrutura hexagonal de carbonos.A síntese pode ocorrer de forma natural, por meio do aquecimento de carbono negro e grafite, mas acabam gerando estrutura irregulares e não uniformes. Logo, a síntese por meios sintéticos gera tubos de carbonos com melhor qualidade, tanto em termos de homogeneidade estrutural como dimensional. Por meios sintéticos, destacam-se os processos de descarga por arco elétrico, ablação a laser e deposição química em fase de vapor. Para funcionalização como carreadores de fármacos, no geral, os fármacos podem ser ligados na superfície dos nanotubos ou então encapsulados no seu interior. Quando na superfície, eles são, em geral, ligados de forma covalente, por adsorção química ou por formação de um sistema conjugado quimicamente (Wong et al., 2013). Já no caso do encapsulamento, ele ocorre em geral por meio de encapsulamento físico, ou seja, a inserção do fármaco no interior do nanotubo é por meio físico e não químico. Exercício 4 1. Assinale as alternativas Verdadeiras e as Falsas, com relação aos instrumentos de caracterização e aspectos gerais da unidade 4: A característica autolimpante da folha de Lótus é devida à sua composição química superficial. O desenvolvimento do microscópio de força atômica antecede à do microscópio eletrônico de varredura. A diferença essencial entre TEM e SEM, é que no primeiro, um feixe de elétrons atravessa uma amostra e atinge um detector de elétrons, enquanto que no segundo, o feixe é refletido em direção a um detector de elétrons. A medição de pontos isoelétricos pode ser realizada pela técnica EDAX. Regiões nanométricas com diferentes módulos de elasticidade podem ser 51 www.eunapos.com.br visualizadas pela técnica Tapping Mode, usando um AFM. 2. Assinale as alternativas Verdadeiras e as Falsas, com relação à fabricação de materiais nanoestruturados. A litografia por molde, na criação de padrões superficiais, exige um controle adequado do comprimento de luz sobre a amostra. Nanopartículas coloidais (esféricas) podem ser usadas para a criação de padrões superficiais sobre uma amostra, num processo semelhante à litografia ótica. Nanopartículas só podem ser obtidas por meio de pirólise, visto que o desgaste por atrito pode gerar deformação nas mesmas. A síntese de dendrímeros pode ser divergente ou convergente. A síntese natural de nanotubos de carbono garante um produto final com melhor homogeneidade, quando comparado com a fabricação sintética. 52 www.eunapos.com.br UNIDADE 5 - ATIVIDADE ATUAL EM NANOTECNOLOGIA: UNIVERSIDADES, INDÚSTRIAS E ÓRGÃOS REGULADORES O objetivo desta unidade é apresentar os principais campos de atuação da nanotecnologia, com foco especial naqueles que estão relacionados à nanobiotecnologia. Ênfase especial será dada às ações no Brasil. 5.1 No Brasil O Brasil tem ocupado um lugar de destaque no que se refere a pesquisas associadas à nanotecnologia. Embora o trabalho de Kay et al. (2009), não seja tão recente, ele demonstra dados que sustentam a liderança do Brasil em pesquisas relacionadas à nanotecnologia na América Latina. De acordo com aquele artigo, entre 1990 e 2006, o Brasil publicou 5496 artigos relacionados à nanotecnologia. Essa quantidade representava praticamente o dobro de publicações do México (2487 artigos), o que mais publicou depois do Brasil, seguido então, pela Argentina com 1318 publicações. Em 2013, o governo brasileiro lançou um grupo de ações estratégicas sob o nome de Iniciativa Brasileira de Nanotecnologia (IBN). A Figura 38 traz uma visualização da página inicial de seu website. Essa iniciativa, de acordo com o próprio website, surgiu após mais de uma década de investimentos em nanotecnologia, sendo que algumas ações já se encontram bem fortalecidas, tais como as Redes de Pesquisa, os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), e os programas de pós-graduação. De acordo com o mesmo site, atualmente, têm-se 26 redes temáticas e 16 INCTs focados em nanotecnologia, o que totaliza mais de 250 grupos de pesquisa atuando em nanotecnologia. O IBN surgiu no meio das ações do CIN – Comitê Interministerial de Nanotecnologia, que é composto por representantes de 10 ministérios. O Comitê foi criado por meio da Portaria 510, de 10 de Julho de 2012. O MCTI é o ministério responsável por este Comitê. É nítido que com a implantação de tal comitê, as ações começaram a se destacar e as informações acerca das políticas de apoio à nanotecnologia passaram a ser divulgadas de uma forma mais ampla. 53 www.eunapos.com.br Figura 38 - Website da IBN – Iniciativa Brasileira de Nanotecnologia Fonte: <www.nano.mct.gov.br> Acesso em: 16 jan. 2014 No Caderno “Panorama Nanotecnologia” da série Cadernos da Indústria ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (2010), há um vasto relato da evolução da nanotecnologia no Brasil em suas diversas frentes. No que se refere aos campos relacionados à nanobiotecnologia, ou seja, medicina e biologia, observou-se um crescimento anual de 20,7 % entre o período de 1996 a 2006. Em outras palavras, a produção científica teria dobrado a 3,7 anos, demonstrando um forte viés de crescimento. Em meio a todo este desenvolvimento, emerge uma questão relevante: como é a regulação do setor no Brasil? A regulamentação ainda não foi realizada, mas é uma das atividades prioritárias do CIN. Conforme citado anteriormente, o CIN é composto por representantes de 10 ministérios, conforme a Figura 39, extraída do website da IBN. http://www.nano.mct.gov.br/ 54 www.eunapos.com.br Figura 39 - Composição do CIN de acordo com o website da Iniciativa Brasileira de Nanotecnologia Fonte: <http://nano.mct.gov.br/governanca/comite-interministerial/> Acesso em: 24 jan. 2014 A regulação da área de nanotecnologia está em discussão no legislativo federal pelo Projeto de Lei 6.741/13, que trata da Política Brasileira de Nanotecnologia, conforme informações do Portal Brasil (<http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2013/12/comite-de-nanotecnologia- discute-novo-marco-legal> Acesso em: 24 jan. 2014). Uma das pautas dominantes para a elaboração dessa Política Brasileira de Nanotecnologia, por meio deste Comitê, está ligada à nanobiotecnologia de certa forma, pois a questão toxicológica de produtos nanotecnológicos é a que mais tem causado preocupação. No meio dos debates acerca do tema, fica clara tal preocupação, como a que foi externada pelo coordenador-geral de Micro e Nanotecnologia do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Flávio Plentz, em entrevista ao website da Revista Exame, do dia 26 de Julho de 2013 (<http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/nanotecnologia-ainda-necessita-de- regulamentacao/>. Acesso em: 24 jan. 2014). Ou seja, os efeitos de nanopartículas que podem penetrar no interior das células humanas, ainda é uma preocupação relevante e que necessita de uma regulação embasada em pesquisas científicas. http://nano.mct.gov.br/governanca/comite-interministerial/ http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2013/12/comite-de-nanotecnologia-discute-novo-marco-legal http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2013/12/comite-de-nanotecnologia-discute-novo-marco-legal http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/nanotecnologia-ainda-necessita-de-regulamentacao/ http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/nanotecnologia-ainda-necessita-de-regulamentacao/ 55 www.eunapos.com.br 5.1.1 SisNANO Pouco antes da implantação da IBN, deve-se destacar também a criação do SisNANO, Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologia, pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) em 2012, por meio da Portaria nº 245, de 5 de Abril de 2012. O SisNANO consiste de 26 laboratórios que foram selecionados por meio de uma chamada pública e recebem investimento prioritário
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