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Aula 1 Aula 8 | Nanometrologia Sumário Apresentação Objetivos da aula Tópico 1 | Nanotecnologia e Metrologia Tópico 2 | Nanopartículas Tópico 3 | Nanotoxicologia e Ambiente Tópico 4 | Nanotoxicologia em Saúde Síntese Referências Aula 8 p. 4 p. 11 p. 17 p. 20 p. 25 p. 26 Olá, cursista! Na aula 1, você aprendeu o que é a metrologia e a sua importância para o desenvolvimento tecnológico e industrial em nossa sociedade, além da aplicabilidade desta ciência em nosso dia a dia. Agora, veremos como a metrologia tem um importante papel na área da nanotecnologia e entender os principais aspectos para se trabalhar com nanotecnologia. Objetivos da aula: • Conhecer a interface Metrologia e nanotecnologia • Identificar os aspectos físico-químicos das partículas em escala nano • Conhecer os possíveis efeitos toxicológicos das nanopartículas • Compreender o papel das nanopartículas na análise ambiental Página 3 Tópico 1 Nanoctecnologia e Metrologia A Nanotecnologia é a aplicação de conhecimento científico para... .... “compreensão e controle da matéria e dos processos à escala nano, tipicamente, mas não exclusivamente, abaixo de 100 nanômetros de uma ou mais dimensões, onde o aparecimento de fenômenos que dependem do tamanho normalmente permite novas aplicações; e, que utilizam as propriedades dos materiais em nanoescala que diferem das propriedades dos átomos individuais, moléculas, e a matéria a granel, para criar materiais melhoradas, dispositivos e sistemas que exploram essas novas propriedades” (ISO, 2005). ?????Este é um tema extremamente importante e o Inmetro está fortemente comprometido com esta área da ciência, sendo um dos Laboratório Estratégico de Nanometrologia do Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologias (SisNANO), apoiados pelo MCTI. Página 4 Saiba Mais: Assista ao vídeo “Laboratório Estratégico de Nanometrologia - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia” Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=hTY- StKnYIQ https://www.youtube.com/watch?v=hTY-StKnYIQ https://www.youtube.com/watch?v=hTY-StKnYIQ Embora a nanotecnologia seja um campo relativamente novo, a produção e o uso de nanopartículas são bastante antigos. Uma prova disto é o famoso Cálice de Lycurgus, (atualmente no Museu Britânico, em Londres) que foi feito pelos romanos no século IV e contém nanopartículas de ouro e prata na sua composição produzindo o efeito óptico que o fez famoso: ele é verde opaco quando iluminado de fora e vermelho translúcido quando iluminado por dentro. Na Idade Média, os fabricantes de vidro usavam ouro coloidal para produzir o vidro vermelho característico visto em catedrais e igrejas. Atualmente, a nanotecnologia é considerada pela OECD uma das tecnologias-chave responsável por moldar a próxima revolução industrial, trazendo impactos positivos para o desenvolvimento social e econômico mundial. Figura 1 – Ciclos de desenvolvimento industrial de Kondratiev Fonte: Norman Poire, Merrill Lynch, 2006. Adaptação: MCTI A nanotecnologia não é uma indústria em seu próprio direito, mas sim uma tecnologia transversal, disruptiva e pervasiva que requer trabalhos transdisciplinares, envolvendo a química, a física, a engenharia e a biologia introduzindo novos processos, assim como a produção de novos materiais com propriedades singulares devido ao seu tamanho nanométrico. Desta forma, está presente em inúmeras áreas de negócio, tais como médico-hospitalar, biotecnológico, alimentício, farmacêutico e agrícola. A nanotecnologia proporcionou a introdução de nanomateriais no mercado que revolucionam não somente os produtos, mas também os bens de capital – as máquinas para produção – e a prestação de serviços, com inovações constantes e surpreendentes. Página 5 Figura 2 – Presença da nanotecnologia no dia a dia Fonte: Autor Desconhecido, está licenciado em CC BY-NC-ND Segundo a Comunidade Europeia, nanomaterial é definido como: À medida que produtos nanoengenheirados entram cada vez mais no mercado, como os protetores solares e os equipamentos esportivos, o controle de qualidade do processo de fabricação é necessário, principalmente onde as características do produto em nanoescala são preocupantes, como por exemplo, potenciais riscos à saúde, ao ambiente, além de requisitos de desempenho. Por esses motivos, tornou-se essencial o uso da metrologia na nanotecnologia. O desenvolvimento da nanometrologia visa abordar as questões relacionadas à confiabilidade, veracidade e comparabilidade das medidas em nanomateriais. Nesse contexto, a nanometrologia é imprescindível ao desenvolvimento da nanotecnologia, visto que a padronização e validação de métodos analíticos são passos necessários à regulamentação dos nanomateriais (DAMASCENO et al., 2013; FELTIN et al., 2017). Página 6 “um material natural, incidental ou manufaturado contendo partículas, em um estado não ligado ou como um agregado ou aglomerado e onde, para 50% ou mais das partículas na distribuição de tamanho do número, uma ou mais dimensões externas variam de 1 a 100 nm”. Como vimos na Aula 1, a metrologia é a ciência que abrange todos os aspectos teóricos e práticos relativos às medições, qualquer que seja a incerteza em qualquer campo da ciência ou tecnologia. (INMETRO, 2012). Desta forma, temos a metrologia como uma ciência estratégica para o desenvolvimento tecnológico e comercial das nações. Contudo, assim como os produtos e processos convencionais estão ganhando qualidade e comparabilidade por meio da metrologia, a nanotecnologia também requer esses meios para que seus produtos se tornem igualmente competitivos e confiáveis. A nanometrologia originou-se dessa necessidade. Coordenação Europeia de Nanometrologia subdivide esta ciência em 6 diferentes áreas de acordo com suas especificidades: Várias aplicações em nanotecnologia requerem controles finos de dimensões durante a fabricação. Portanto, técnicas de medição capazes de fornecer valores confiáveis para propriedades dimensionais de nanomateriais são cada vez mais necessárias. Atualmente, as principais técnicas envolvidas na nanotecnologia dimensional são a microscopia de força atômica, o interferômetro óptico, a microscopia eletrônica de varredura e a microscopia eletrônica de transmissão. Página 7 A nanometrologia discute medições de espécies ou eventos em nanoescala, como nanodimensões ou interações entre moléculas ou biomoléculas. Nanometrologia Dimensional 1 Saiba Mais: O que é nanometrologia, sua importância e desafios pode ser conferido no vídeo a seguir. Ao iniciar, ative a legenda em portugês. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=a0vr3pW0f Fo&feature=emb_logo https://www.youtube.com/watch?v=a0vr3pW0fFo&feature=emb_logo https://www.youtube.com/watch?v=a0vr3pW0fFo&feature=emb_logo A composição química das espécies, estados químicos ou propriedades estruturais de materiais em nanoescala, são medições que concernem à nanometrologia química. A caracterização química dos nanomateriais é gerada por informações complementares dadas por análises feitas com diferentes técnicas. São ferramentas comuns as técnicas espectroscópicas, como a de fotoelétrons excitados por raios X (XPS), a de elétrons Auger (AES), a de massa de íons secundários, a de perda de energia de elétrons (EELS) e a de energia dispersiva (EDS).Além das recentes técnicas de espectrometria de massa com fonte de plasma (ICP-MS) e Single-cell-ICP-MS (SC-ICP-MS). Esta última, por exemplo, permite, por meio da rápida detecção e análise de partículas baseadas em metal feita pelo ICP-MS, responder sobre como os organismos unicelulares interagem com NP fornecendo um meio de monitorar, de forma simples e rápida, a captação de NP pelas células. Desta forma, as NP poderão ser adicionadas à cultura celular e sua absorção pela célula poderá ser monitorada. Esta área é definida como a transversalidade entre as ciências da vida, saúde e nanotecnologia. Em outras palavras, é a nanotecnologia sendo usada para compreender e desenvolver as ciências biológicas e biotecnologia, e vice- versa. A bionanotecnologia, como é chamada, tem dois lados a serem considerados: os benefícios e os riscos. Os benefícios são amplos como desenvolvimento de dispositivos médicos e implantes, nanomedicina e medicina personalizada, além de superestruturas biológicas e nanobiomateriais. Contudo, o risco incutido nessas tecnologias ainda é desconhecido e vem sendo estudado pela nanotoxicologia, como veremos mais para frente. Não existe uma única técnica aplicada para a bionanometrologia. Geralmente, é utilizado um conjunto de técnicas para se alcançar uma mensuração confiável. Página 8 Nanometrologia Química Nanometrologia Biológica 2 3 A nanometrologia mecânica é uma área chave para o setor industrial ligado a filmes finos e revestimentos para aplicações industriais. Também está relacionada com o desenvolvimento de dispositivos e componentes micro e nanotecnológicos. As áreas mais avançadas são a nanoindentação e a microscopia de força atômica para medição de indentação. Materiais nanoestruturados possuem estrutura interna ou superficial na escala aproximada de 1 – 100nm. São materiais, geralmente, produzidos para dois fins: (i) como nanocomponentes de uma estrutura final, como nanopartículas e nanotubos; (ii) ou são produzidos in situ, como por exemplo na litografia. É importante caracterizar totalmente esses nanomateriais, pois as propriedades de partículas em escala nano são fortemente dependentes de seu tamanho. Existem várias técnicas para determinas as propriedades dimensionais de nanopartículas, dentre elas podemos citar: espalhamento dinâmico de luz, espalhamento de Raio X a baixo ângulo, microscopia de varredura por sonda e microscopia eletrônica. Poucos institutos trabalham significativamente no campo da nanometrologia elétrica. As atividades na nanometrologia elétrica podem ser divididas em: (i) suporte metrológico à indústria de semicondutores; (ii) triângulo quântico metrológico para medições ou melhorias em mensurandos baseados em quantum; (iii) investigação de novos métodos ou melhorias para reduzir a incerteza de medição e melhorar a rastreabilidade apoiando medições elétricas de nanopartículas e aerossóis; (iv) uso de nanotecnologia para configurar dispositivos aprimorados para o efeito Hall quântico ou transistores elétricos; (v) Uso do microscópio de força atômica para medir as propriedades magnéticas de nanoestruturas; e (vi) spintrônica. Página 9 Nanometrologia Mecânica 4 Nanometrologia de Estrutura de Materiais 5 Nanometrologia Elétrica 6 Página 10 Saiba Mais: Aprenda mais sobre a nanotecnologia e as suas áreas: Conheça o relatório final da Coordenação de Nanometrologia na Europa: https://cordis.europa.eu/project/id/218764/reporting Iniciativas Norte Americana de Nanotecnologia: https://www.nano.gov/ https://cordis.europa.eu/project/id/218764/reporting https://www.nano.gov/ A International Organization for Standardization (ISO) definiu a nanopartícula como um nano-objeto que possui três dimensões externas na faixa de 1 a 100 nm (ISO 19430, 2016). Tópico 2 Nanopartículas Ao falarmos de nanotecnologia, obviamente estamos falando de uma tecnologia que desenvolve produtos constituídos, em alguma proporção, de partículas em escala nano, ou seja, nanopartículas (NP) e de materiais nonoengenheirados, os nanomateriais (NM). A nanoescala proporciona aos diferentes materiais, a obtenção de propriedades físico-químicas diversas das que possuem em escalas maiores (ENGELMANN, 2011). As interações das nanopartículas com outros materiais e ambientes biológicos, além de dependerem de seu tamanho, também são afetadas por características como área de superfície, composição, estrutura cristalina, porosidade, labilidade, carga de superfície, dentre outros aspectos. Todas essas propriedades não só são influenciadas pelo tamanho da partícula, como também se modulam entre si, de maneira a determinar, inclusive, a toxicidade da nanopartícula (RIBEIRO et al., 2017). Figura 3 – Características físico-químicas da nanopartícula Fonte: Sanches et al., 2020 Página 11 Características físico-químicas que podem interferir no comportamento da nanopartícula dependendo do meio onde se encontra. As nanopartículas são distribuídas em diferentes grupos de acordo com suas propriedades, formas e tamanhos. Baseado nas características físico-químicas, temos algumas das mais bem conhecidas classes de nanopartículas: Fulerenos e nanotubos de carbono (CNT) representam duas principais classes de NPs baseados em carbono. Fonte: Khan; Saeed; Khan, 2019 As nanopartículas metálicas são constituídas puramente de precursores de metais, possuem propriedades optoelétricas únicas. Fonte: Johnston, 2012 Página 12 Baseadas em carbono Metálica Saiba Mais: Aprofunde o seu conhecimento, lendo o artigo "Challenges on the toxicological predictions of engineered”. Link de acesso: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S24 52074817300113 https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2452074817300113 https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2452074817300113 São sólidos inorgânicos não metálicos, sintetizados por calor e sucessivo resfriamento. Podem ser encontrados em diferentes formas. Fonte: Selvarajan; Obuobi; Ee, 2020 c. Monitoramento ambiental Possuem propriedades entre os metais e os não metais, desta forma, são utilizadas em várias aplicações. Fonte: http://nanoall.blogspot.com/ São geralmente de base orgânica possuindo, na maioria das vezes, formato de nanoesfera ou nanocápsula. Fonte: Calzoni et al., 2019 Página 13 Cerâmicas Semicondutores Polímeros São geralmente de base orgânica possuindo, na maioria das vezes, formato de nanoesfera ou nanocápsula. Fonte: Leaver, 2017 As nanopartículas podem ser sintetizadas de duas distintas maneiras: Bottom-up: É uma abordagem usualmente mais complexa, uma vez que as nanopartículas são formadas a partir de substâncias relativamente mais simples, também é conhecida como building up, porém com melhor controle do processo e do produto. Top-down: Possui abordagem destrutiva, ou seja, o nanomaterial é produzido a partir do material em micro ou macro escala (micro ou macro), que é então reduzido fisicamente ou quimicamente até chegar ao tamanho nano adequado. Figura 4 – Síntese de Nanopartículas Fonte: Modificado de: Wang; Xia, 2004 Página 14 Lipídicas As propriedades das nanopartículas dependem, não somente do tipo de partícula, mas também do meio em que encontramos essa partícula. As propriedades físico-químicas das nanopartículas podem ser caracterizadas por diversas técnicas, comodifração de Raio X, infravermelho, microscopia eletrônica de varredura e transmissão, microscopia e lasers, dentre outras. As técnicas usadas para medir o tamanho dos nano-objetos são frequentemente baseadas em princípios diferentes e medem propriedades diferentes - ou mensurandos, em linguagem metrológica. Também dependem do tipo de nanomaterial e da aplicação do mesmo. Algumas das técnicas de medição mais comuns são: microscopia eletrônica (tanto transmissão como varredura), microscopias de sonda (como microscopia de força atômica), difração de raio X, DLS (espalhamento dinâmico de luz) no caso de coloides, adsorção de gases (BET) para medir área superficial específica e tamanho de poros. Além de determinar o tamanho médio dos nanomateriais deve-se determinar a sua distribuição. A distribuição do tamanho das nanopartículas, por exemplo, é importante para o desempenho do produto em aplicações, no meio ambiente e para questões de saúde, segurança e regulamentação. Página Saiba Mais: Para entender melhor como se determina o tamanho das nanopartículas, assista ao vídeo sobre o assunto. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=g4jiwyiochc&feature= youtu.be 15 https://www.youtube.com/watch?v=g4jiwyiochc&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=g4jiwyiochc&feature=youtu.be A formação e composição da CP influenciam a agregação, biodistribuição e reatividade das NP, acabando por mediar a interação entre elas e as células (RIBEIRO et al., 2016). Um exemplo de como o meio pode influenciar o destino e até a toxicidade de NPs é a formação da corona proteica (CP). A CP é composta por diversas proteínas que são adsorvidas por ligações físico-químicas, que dependem da composição biológica do meio de cultivo das células e das características das NP (DENG et al., 2014). Figura 5 – Corona Proteica (CP) Fonte: Corbo et al., 2016 Hard corona: As proteínas estão adsorvidas à nanopartícula por grande afinidade permanecendo ligadas por mais tempo. Soft corona: As proteínas estão ligadas às proteínas da hard corona por baixa afinidade e por isso são encontradas em menor quantidade (CORBO et al., 2016). Página 16 Saiba Mais: Aprofunde o seu conhecimento, lendo o artigo "The impact of nanoparticle protein corona”. Link de acesso: https://www.futuremedicine.com/doi/full/10.221 7/nnm.15.188 https://www.futuremedicine.com/doi/full/10.2217/nnm.15.188 https://www.futuremedicine.com/doi/full/10.2217/nnm.15.188 Uma vez no ambiente, esse material em nanoescala pode entrar em contato com as diferentes matrizes ambientais (ar, água e solo) (Kabir et al., 2018). Tópico 3 Nanotoxicologia e Ambiente Como já mencionado no tópico 2, as propriedades físico- químicas das nanopartículas (NP) e, indiretamente, dos nanomateriais (NM) fabricados com elas, bem como sua interação entre si e com o meio, influenciam seu destino e toxicidade no ambiente natural e em organismos. Tendo isso em mente, este tópico é dedicado à interação das NP com o ambiente, bem como a importância de se continuar aprimorando técnicas e desenvolvendo estudos sobre nanopartículas, nanomateriais e nanometrologia no ambiente. As NP e os NMs encontrados no ambiente podem ser provenientes de duas fontes, são elas: as atividades naturais e as atividades antropogênicas, intencionais ou não. Atividades naturais: Atividades vulcânicas, incêndios florestais, erosão do solo, intemperismo, minerais de argila e tempestades de poeira. Atividades antropogênias: Queima de combustíveis fósseis, mineração/demolição, tráfego de automóveis, produção de NM e fluxo de resíduos, por exemplo. Página 17 Nessas diferentes matrizes as partículas sofrem, basicamente, três tipos de transformação: física, química e biologicamente mediadas (Lead et al., 2018). Processos físicos: Agregação, aglomeração, sedimentação e deposição (em meios porosos). Processos químicos: Dissolução e alterações de especiação subsequentes, reações redox (oxidação e sulfidação), reações fotoquímica e formação de corona. Processos biologicamente mediado: Biodegradação e biomodificação, geralmente mediada por microrganismos. Essas modificações sofridas pelos materiais estão presentes em um conceito de modelo de fluxo de materiais que parte do princípio da rastreabilidade dos NM engenheirados ao longo de todo o ciclo de vida. Da produção de NM engenheirados, passando pela incorporação em produtos, liberação de NP de produtos nanoengenheirados durante o uso; transporte e destino do NM entre e dentro das estações de tratamento de esgoto, usinas de incineração de resíduos, aterros e processos de reciclagem (tecnosfera), até a transferência da tecnosfera para ar, solo, água e sedimentos (ecosfera), e transporte em compartimentos ambientais. As quantidades de NM nos compartimentos fornecem a base para o cálculo das concentrações ambientais gerais de NM (Sun et al. 2014). Figura 6 – Produção de NM Fonte: Sun et al. 2014 Página 18 Apesar de sabermos que o destino e a modificação das NP estão intimamente ligados à sua natureza e às condições ambientais, esses dois fatores são extremamente complexos e variáveis, tornando o seu entendimento e previsão extremamente desafiadores (Lead et al., 2018). Os estudos sobre os impactos das NP no ambiente ainda são insipientes. De fato, o que sabemos é que muitos avanços são atingidos devido a utilização de nanopartículas, porém, muitos estudos apontam o possível risco do uso desses materiais dependendo de seu tipo, dose, e lugar no ambiente, que vão influenciar sua agregação/desagregação, dissolução e transformação. Portanto, o destino e a toxicidade das NP são difíceis de acessar por possuir características multifatoriais. Saiba mais sobre os estudos das NPs: Ar: Acesso o artigo “Emissions and Possible Environmental Implication of Engineered Nanomaterials (ENMs) in the Atmosphere”. Link de acesso: https://www.mdpi.com/2073-4433/8/5/84 Água: Acesso o artigo “Fate of Silver Nanoparticles in Constructed Wetlands—a Microcosm Study”. Link de acesso: https://link.springer.com/article/10.1007/s11270- 017-3285-9 Solo: Acesso o artigo “Searching for relevant criteria to distinguishnaturalvs.anthropogenic TiO2nanoparticles insoils”. Link de acesso: https://pubs.rsc.org/fi/content/articlepdf/2018/en/c8en00386f Desta forma, caímos novamente na necessidade de desenvolver ainda mais a nanometrologia. Uma ciência necessária para refinar nossa compreensão de concentrações ambientais e as formas de NM, bem como para permitir dosimetria mais precisa em testes ecotoxicológicos que permitam definição mais precisa da relação dose-resposta. Página 19 https://www.mdpi.com/2073-4433/8/5/84 https://link.springer.com/article/10.1007/s11270-017-3285-9 https://link.springer.com/article/10.1007/s11270-017-3285-9 https://pubs.rsc.org/fi/content/articlepdf/2018/en/c8en00386f A absorção das NP pelas células geralmente ocorre por endocitose ou fagocitose. Esta absorção está intimamente ligada às características da partícula, como tamanho, agregação e sedimentação. Tópico 4 Nanotoxicoloia em Saúde Uma vez que as nanopartículas (NP) estão presentes em diversos produtos nanoengenheirados em nosso dia a dia, e são também encontradas dispersas no ambiente, seja na água, ar ou solo, o impacto dessas NPs sobre os organismos se torna importante objeto de estudo. Portanto, neste quarto tópico, trataremos dos estudos sobre a toxicidade das NP na saúde. As vias de entradade NP no organismo são variadas, tendo como as principais: a via aérea, dérmica, gastrointestinal e ocular, como pode ser observado na figura 7. Figura 7 – Vias de Entrada de NP no organismo Fonte: Beddoes; Case; Briscoe, 2015 Página 20 Muitos trabalhos científicos apontam para a toxicidade das NP e MN. Contudo, a variedade de NP existentes, as diferentes técnicas de análise toxicológica empregadas nos estudos, os múltiplos modelos (in vivo, in vitro e in sílico) existentes e as diferentes doses testadas (muitas vezes bem acima do que as células seriam normalmente expostas no ambiente), levam à falta de consistência nos resultados. Figura 8 – Múltiplos modelos de análise toxicológica Fonte: Beddoes; Case; Briscoe, 2015 Página 21 Saiba Mais: Aprofunde o seu conhecimento, lendo o artigo "The Use of In Vivo, Ex Vivo, In Vitro , Computational Models and Volunteer Studies in Vision Research and Therapy, and Their Contribution to the Three Rs”. Link de acesso: https://www.researchgate.net/publication/30 5983110_The_Use_of_In_Vivo_Ex_Vivo_In _Vitro_Computational_Models_and_Volunte er_Studies_in_Vision_Research_and_Ther apy_and_Their_Contribution_to_the_Three _Rs https://www.researchgate.net/publication/305983110_The_Use_of_In_Vivo_Ex_Vivo_In_Vitro_Computational_Models_and_Volunteer_Studies_in_Vision_Research_and_Therapy_and_Their_Contribution_to_the_Three_Rs https://www.researchgate.net/publication/305983110_The_Use_of_In_Vivo_Ex_Vivo_In_Vitro_Computational_Models_and_Volunteer_Studies_in_Vision_Research_and_Therapy_and_Their_Contribution_to_the_Three_Rs https://www.researchgate.net/publication/305983110_The_Use_of_In_Vivo_Ex_Vivo_In_Vitro_Computational_Models_and_Volunteer_Studies_in_Vision_Research_and_Therapy_and_Their_Contribution_to_the_Three_Rs https://www.researchgate.net/publication/305983110_The_Use_of_In_Vivo_Ex_Vivo_In_Vitro_Computational_Models_and_Volunteer_Studies_in_Vision_Research_and_Therapy_and_Their_Contribution_to_the_Three_Rs https://www.researchgate.net/publication/305983110_The_Use_of_In_Vivo_Ex_Vivo_In_Vitro_Computational_Models_and_Volunteer_Studies_in_Vision_Research_and_Therapy_and_Their_Contribution_to_the_Three_Rs https://www.researchgate.net/publication/305983110_The_Use_of_In_Vivo_Ex_Vivo_In_Vitro_Computational_Models_and_Volunteer_Studies_in_Vision_Research_and_Therapy_and_Their_Contribution_to_the_Three_Rs Idealmente, os estudos de toxicidade caminham para o desenvolvimento de modelos in vitro mais complexos, com maior proximidade possível das condições encontradas in vivo. Leia sobre um estudo desse, clicando no link: https://visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/ view/1047 22 Portanto, a toxicidade efetiva de muitos NM e NP permanece desconhecida. Fato é que estudos vem avançando sobre a utilização de modelos in vitro, que comparados com a abordagem in vivo, tem a vantagem de poderem ser mais simples, baratos, rápidos e utilizarem células humanas. Desta forma, são excelentes plataformas para estudos high throughput. Saiba Mais Aprofunde o seu conhecimento, lendo o artigo “High throughput toxicity screening and intracellular detection of nanomaterials”. Link de acesso: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/wnan. 1413 Contudo, dados toxicológicos vindos apenas de ensaios in vitro podem ser limitantes uma vez que o comportamento das NP in vitro difere do comportamento encontrado no sistema biológico complexo. Página High throughput é definido como o uso de ferramentas automatizadas para facilitar a execução rápida de um grande número e variedade de ensaios biológicos que podem incluir várias substâncias em cada ensaio (Collins et al., 2017). https://visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/view/1047 https://visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/view/1047 https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/wnan.1413 https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/wnan.1413 Portanto, as fronteiras do conhecimento tendem a expandir mais e mais no que tange a nanotoxicologia, pois, como já admitido pela OECD, os NM são difíceis de regular, devido à sua complexidade e conhecimento ainda em desenvolvimento (OECD, 2016). 23 Figura 9 – Modelos de cultura de células e culturas organotípicas. (A) Modelo de cultura sobre biopolímero. (B) Modelo de cultura em molde de biopolímero natural ou sintético. (E-F) Cultura sobre suporte mecânico Fonte: Beddoes; Case; Briscoe, 2015 Os estudos in vitro são usualmente a fase inicial do processo de avaliação de toxicidade de muitos compostos, químicos por exemplo. Contudo, tratando-se de nanotoxicologia, a falta de harmonização internacional de protocolos para acessar a toxicidade de NM e NP preocupa a comunidade científica e nos direciona, mais uma vez, para a necessidade de se expandir as diversas áreas da nanometrologia, principalmente a nanometrologia biológica. . Página 24 Nanomedicina Na área da Saúde as nanopartículas e nanomateriais não representam apenas preocupações. O uso de nanopartículas e nanomateriais na medicina definem um novo e excitante campo de pesquisa: a Nanomedicina que utiliza as ferramentas da nanotecnologia para diagnosticar, prevenir ou curar doenças. Página Saiba Mais: Para aprofundar neste tema, assista à aula do Professor Zucolotto do Instituto de Física de São Carlos. Link de acesso: https://youtu.be/j79ls0vfhos https://youtu.be/j79ls0vfhos Síntese Chegamos ao final de nossa aula! Nela, vimos que a metrologia tem um importante papel na área da nanotecnologia. A nanometrologia originou-se da necessidade de discute medições de espécies ou eventos em nanoescala, como nanodimensões ou interações entre moléculas ou biomoléculas. As nanopartículas são distribuídas em diferentes grupos de acordo com suas propriedades, formas e tamanhos. As nanopartículas podem ser sintetizadas de duas distintas maneiras bottom-up e top-down. Página 25 • • 26 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO/IEC 17025: Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração. Rio de Janeiro; 2005. ASTEFANEI, Alina; NÚÑEZ, Oscar; GALCERAN, Maria Teresa. Characterisation and determination of fullerenes: a critical review. Analytica chimica acta, v. 882, p. 1- 21, 2015. AUFFAN, Mélanie et al. 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