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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
1ª TURMA RECURSAL - DM92 - PROJUDI
Rua Mauá, 920 - 28º Andar - Alto da Glória - Curitiba/PR - CEP: 80.030-200 - Fone:
3017-2568
Autos nº. 0069976-12.2015.8.16.0014
 
Recurso: 0069976-12.2015.8.16.0014
Classe Processual: Recurso Inominado
Assunto Principal: Indenização por Dano Moral
Recorrente(s): LUIZ ABI ANTOUN
Recorrido(s): ESMAEL ALVES DE MORAIS
RECURSO INOMINADO. MATÉRIA JORNALÍSTICA SUPOSTA
DIFAMAÇÃO. COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. AUSÊNCIA
DE PROVAS QUANTO AO EXCESSO OU ABUSO DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS. TÉCNICA DA PONDERAÇÃO. PESSOAS
PÚBLICAS SUJEITAS A CRÍTICAS E OPINIÕES NEGATIVAS. DANO
MORAL NÃO EVIDENCIADO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
1. RELATÓRIO
Trata-se de ação de indenização por danos morais cumulada com obrigação de fazer proposta
por LUIZ ABI ANTOUN em face de ESMAEL ALVES DE MORAIS. Alegou que sofreu ataques
pessoais em virtude de duas matérias jornalísticas de autoria do requerido. Sustentou haverem
excessos nos relatos do requerido, configurando assim excesso do direito de manifestação e
liberdade de pensamento. Relatou que teve a sua honra e imagem violadas. Requereu a
condenação do requerido na obrigação de fazer consistente na remoção da matéria jornalística
e na retratação, bem como, indenização por danos morais.
Sobreveio a sentença julgando improcedentes os pedidos iniciais em virtude da inexistência a
violação aos direitos fundamentais da personalidade.
Irresignado com a decisão, o autor interpôs recurso inominado alegando que a requerida
extrapolou o direito de liberdade de expressão, acarretando prejuízos, configurando-se assim o
dever de indenizar. Nesses termos, requereu a reforma da sentença.
O recorrido apresentou contrarrazões.
Em síntese, é o relatório.
2. VOTO
Satisfeitos estão os pressupostos processuais viabilizadores da admissibilidade deste recurso,
tanto os objetivos quanto os subjetivos, razão pela qual deve ser ele conhecido.
Cuida-se de ação indenizatória proposta pelo ora recorrente em face de suposta difamação
propagada pelo recorrido através de matéria jornalística.
Entendo que não lhe assiste razão, isso porque as insurgências recursais não merecem
prosperar eis que da análise dos autos, tenho que a sentença deve ser mantida por seus
, com base no permissivo do artigo 46, da Lei nº. 9.099/95.próprios fundamentos
Ao contrário do afirmado, não há nas matérias trazidas aos autos qualquer afronta à sua
dignidade apta a ensejar a condenação em indenização por danos morais.
A despeito das alegações autorais, entendo que as matérias veiculadas no blog de autoria do
recorrido possuem cunho meramente informativo, crítico e opinativo, não maculando a
dignidade do recorrente, em que pese a insatisfação e acidez nelas contida.
Nesta senda, não restou comprovada a conduta ilícita imputada ao recorrido, já que estamos
diante, em verdade, do regular exercício do direito de informar, expressão da própria liberdade
de imprensa.
A conclusão a que se chega é a de que a matéria reproduzida pelo recorrido não alcançou
dimensão suficiente para denegrir a honra do recorrente, mormente quando comparada ao
número de reportagens já veiculadas sobre a pessoa do recorrente.
Nesse sentido é o entendimento jurisprudencial formado pelo Tribunal de Justiça do Estado do
Paraná. Confira-se:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS
MORAIS. OFENSA PUBLICADA EM JORNAL DE GRANDE
CIRCULAÇÃO. PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA INDEFERIDO.
INCONFORMISMO FORMALIZADO. ABALO MORAL NÃO
CONFIGURADO. INEXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO. ANIMUS NARRANDI.
OFENSA À HONRA NÃO CARACTERIZADA. IMAGEM DO AUTOR QUE,
COMO PESSOA PÚBLICA, ESTÁ SUJEITA A SOFRER EXPOSIÇÕES.
COMENTÁRIOS A FATOS PÚBLICOS. PREPONDERÂNCIA AO
PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE OPINIÃO POLÍTICA.
RECURSO DESPROVIDO”. (TJPR – 8ª C.Cível, AI 1017962-7, Rel. Des.
Sérgio Roberto N Rolanski, Unânime, DJe 18.09.2013).
“APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. CIVIL. RESPONSABILIDADE
CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS.INEXISTÊNCIA.
OFENSA À HONRA NÃO CARACTERIZADA. O ATUAR DO AUTOR
COMO PESSOA PÚBLICA, SUJEITO A SOFRER MAIORES
EXPOSIÇÕES. PONDERAÇÃO DE DIREITOS - PREVALÊNCIA DA
LIBERDADE DE EXPRESSÃO DO PENSAMENTO EM FACE DOS
DIREITOS DA PERSONALIDADE. AUSÊNCIA DE EXCESSO OU
ABUSO. DANO INEXISTENTE.PRECEDENTE DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTES DESTE TRIBUNAL.SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 10ª C.Cível - AC -
1083855-2 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central de Maringá -
Rel.: Roberto Portugal Bacellar - Unânime - - J. 29.10.2015)
APELAÇÃO CÍVEL. TUTELA INIBITÓRIA. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. ALEGAÇÃO DE OFENSA A HONRA EM RAZÃO DE
UTILIZAÇÃO DE FAIXA EM ESTÁDIO. INOCORRÊNCIA. ANÁLISE DA
QUESTÃO QUE LEVA EM CONTA A PONDERAÇÃO DOS DIREITOS
INVOCADOS. PREVALÊNCIA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO DO
PENSAMENTO EM FACE DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE.
CONDUTA QUE NÃO TRANSBORDOU OS LIMITES DO DIREITO DE
MANIFESTAÇÃO. PESSOA PÚBLICA QUE ESTÁ SUJEITA A MAIOR
EXPOSIÇÃO. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.” (TJPR – 6ª
C.Cível, AC 1177077-3, Rel. Des. Sérgio Arenhart, Unânime, DJe
01.07.2014).
Em relação ao juízo de ponderação e os limites existentes entre os direitos fundamentais,
destaca-se o entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre o assunto em questão,
observe-se:
“ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL-
(...) MANIFESTAÇÃO LEGÍTIMA, POR CIDADÃOS DA REPÚBLICA, DE
DUAS LIBERDADES INDIVIDUAIS REVESTIDAS DE CARÁTER
FUNDAMENTAL: O DIREITO DE REUNIÃO (LIBERDADE-MEIO) E O
DIREITO À LIVRE EXPRESSÃO DO PENSAMENTO (LIBERDADE-FIM) –
(...) - CONSEQUENTE LEGITIMIDADE, SOB PERSPECTIVA
ESTRITAMENTE CONSTITUCIONAL, DE ASSEMBLEIAS, REUNIÕES,
MARCHAS, PASSEATAS OU ENCONTROS COLETIVOS REALIZADOS
EM ESPAÇOS PÚBLICOS (OU PRIVADOS) COM O OBJETIVO DE
OBTER APOIO PARA OFERECIMENTO DE PROJETOS DE LEI, DE
INICIATIVA POPULAR, DE CRITICAR MODELOS NORMATIVOS EM
VIGOR, DE EXERCER O DIREITO DE PETIÇÃO E DE PROMOVER
ATOS DE PROSELITISMO EM FAVOR DAS POSIÇÕES SUSTENTADAS
PELOS MANIFESTANTES E PARTICIPANTES DA REUNIÃO (...)-
VINCULAÇÃO DE CARÁTER INSTRUMENTAL ENTRE A LIBERDADE
DE REUNIÃO E A LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO
- DOIS IMPORTANTES PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL SOBRE A ÍNTIMA CORRELAÇÃO ENTRE REFERIDAS
LIBERDADES FUNDAMENTAIS: HC 4.781/BA, REL. MIN. EDMUNDO
LINS, E ADI 1.969/DF, REL. MIN. RICARDO LEWANDOWSKI - A
LIBERDADE DE EXPRESSÃO COMO UM DOS MAIS PRECIOSOS
PRIVILÉGIOS DOS CIDADÃOS EM UMA REPÚBLICA FUNDADA EM
BASES DEMOCRÁTICAS - O DIREITO À LIVRE MANIFESTAÇÃO DO
PENSAMENTO: NÚCLEO DE QUE SE IRRADIAM OS DIREITOS DE
CRÍTICA, DE PROTESTO, DE DISCORDÂNCIA E DE LIVRE
CIRCULAÇÃO DE IDEIAS (...) - O SENTIDO DE ALTERIDADE DO
DIREITO À LIVRE EXPRESSÃO E O RESPEITO ÀS IDEIAS QUE
CONFLITEM COM O PENSAMENTO E OS VALORES DOMINANTES NO
MEIO SOCIAL - CARÁTER NÃO ABSOLUTO DE REFERIDA
LIBERDADE FUNDAMENTAL (CF, art. 5º, incisos IV, V e X;
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, Art. 13, § 5º) - A
PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL À LIBERDADE DE PENSAMENTO
COMO SALVAGUARDA NÃO APENAS DAS IDEIAS E PROPOSTAS
PREVALECENTES NO ÂMBITO SOCIAL, MAS, SOBRETUDO, COMO
AMPARO EFICIENTE ÀS POSIÇÕES QUE DIVERGEM, AINDA QUE
RADICALMENTE, DAS CONCEPÇÕES PREDOMINANTES EM DADO
MOMENTO HISTÓRICO-CULTURAL, NO ÂMBITO DAS FORMAÇÕES
SOCIAIS - O PRINCÍPIO MAJORITÁRIO, QUE DESEMPENHA
IMPORTANTE PAPEL NO PROCESSO DECISÓRIO, NÃO PODE
LEGITIMAR A SUPRESSÃO, A FRUSTRAÇÃO OU A ANIQUILAÇÃO DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS, COMO O LIVRE EXERCÍCIO DO DIREITO
DE REUNIÃO E A PRÁTICA LEGÍTIMA DA LIBERDADE DE
EXPRESSÃO, SOB PENA DE COMPROMETIMENTO DA CONCEPÇÃO
MATERIAL DE DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL (...) (AC
2.695-MC/RS, REL. MIN. CELSO DE MELLO) (...) ARGUIÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL JULGADA
PROCEDENTE.” (STF, Relator Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,
Dje 29.05.2014, ADPF 187/ DF).
Por tais razões, nego provimento ao recurso apresentado, mantendo-se a improcedência da
pretensão inicial externada pela recorrente em sua petição inicial.
Não lograndoêxito, a parte recorrente deve arcar com as despesas do processo e verba
honorária, arbitrada em 20% sobre o valor da causa, com fulcro no artigo 55 da Lei 9099/95.
3. DISPOSITIVO
Ante o exposto, esta 1ª Turma Recursal - DM92 resolve, por unanimidade dos votos, em
relação ao recurso de LUIZ ABI ANTOUN, julgar pelo (a) Com Resolução do Mérito -
Não-Provimento nos exatos termos do voto.
O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz (a) Fernanda Bernert Michelin (relator), com voto, e dele
participaram os Juízes Fernando Augusto Fabrício De Melo e Daniel Tempski Ferreira Da
Costa.
 
Curitiba, 02 de Março de 2017
Fernanda Bernert Michielin
Juíza Relatora