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Uma historia Social do Conhecimento de Peter Burke Classificação do Conhecimento resenha

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Resenha
BURKE, Peter. A classificação do conhecimento: currísulos, bibliotecas e enciclopédias. In. Uma história social do conhecimento: de Gutemberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 241 p.
No capítulo "A classificação do conhecimento: currículos, bibliotecas e enciclopédias", Peter Burke mostra a evolução da organização e da classificação do conhecimento a partir da contextualização histórica entre a Idade Média e as mudanças sofridas durante a Era Moderna. Inicia pela abordagem sobre a distinção tradicional entre os conhecimentos realizada na Idade Média, destacando que, dentro dessa percepção, um conhecimento era categorizado em oposição ao outro, por exemplo: a ciência oposta a arte, o conhecimento liberal oposto ao útil, o conhecimento público oposto ao privado e o conhecimento universal oposto ao especializado. Essa distinção entre os conhecimentos era representada pela elaboração de "árvores do conhecimento" que ilustravam a subordinação de um conhecimento em relação ao outro, constituindo um caráter arbitrário porque resultava de um pensamento fortemente hierárquico e autoritário da época que foi naturalizado pela sociedade.
No início da Era Moderna, os currículos, as bibliotecas e as enciclopedias, denominados pelo autor como um "tripé intelectual", ainda refletiam a classificação hierarquizada da Idade Média, sendo que a forma como as bibliotecas eram organizadas e a forma como eram compostos os conteúdos das enciclopédias relacionavam-se com a hierarquia entre as disciplinas vista na organização dos currículos universitários.
O currículo dividia as áreas do saber pelo prestígio de aparência natural que cada conhecimento trazia consigo. O primeiro grau consistia no aprendizado das sete artes liberais (o trivium do conhecimento que era constituído pela gramática, lógica e a retórica, e o quadrivium do conhecimento que era constituído pela aritmética, geometria e a música) e das três filosofias (ética, metafísica e filosofia natural). No ensino superior, os estudantes poderiam escolher entre os cursos de teologia, direito e medicina. Para perpetuar esse modelo nas bibliotecas mantivera-se a "ordem dos livros", o primeiro catálogo da Biblioteca de Bodleian, por exemplo era classificado em artes, teologia, direito e medicina.
Da mesma forma, as enciclopédias medievais estavam associadas ao currículo, uma vez que os assuntos de seus textos aproximavam-se dos conteúdos ministrados no primeiro e no segundo grau, e, ainda, podiam remeter ao ideal de alcançar o conhecimento universal que perdurou até meados da modernidade.
A percepção tradicional da organização do conhecimento começa a ser confrontada no século XVI a partir da substituição do modelo representado pelas árvores do conhecimento pelo uso de sistemas do conhecimento, o qual era mais flexível às novas representações. Nessa época, vários modelos de classificação foram propostos, porém, o modelo que, além de representar uma conjuntura com a tradição, conseguiu maior sucesso nas universidades foi o modelo de Francis Bacon baseado nas três faculdades da mente (a memória, a razão e a imaginação). 
Essas novas perspectivas sobre a classificação do conhecimento ocasionaram a reestruturação dos currículos em direção a uma maior especialização. As disciplinas já canonizadas que faziam parte do trivium, do quadrivium e do currículo superior foram fragmentadas, o que possibilitou a autonomia de novas disciplinas e o seu ingresso no conhecimento acadêmico, entre as quais: a ciência da natureza, a história, a política, a economia, a astronomia, a botânica e a química, estas três ultimas destacaram-se do conhecimento alternativo dos alquimistas para o ensino formal. 
A reclassificação do conhecimento nas bibliotecas foi um processo menos relacionado com as mudanças nos currículos que com a evolução da indústria dos livros. O aumento nas publicações impressas foi de tal forma alarmante pela ideia do caos e da desordem que o arranjo dos livros nas estantes e os catálogos tornaram-se um problema principal de adaptação ao volume informacional que deveriam organizar. A preocupação com o desenvolvimento dos catálogos surtiu na tentativa do naturalista Conrad Gessner (1516-1565) de desenvolver uma bibliografia completa publicada com o título “Bibliotheca Universalis”. A nova organização dos livros foi tratada no manual "Como organizar uma biblioteca" (1631) de Francisco Aráoz, o qual propôs a divisão dos livros em 15 categorias. Mais tarde, a Biblioteca da Universidade de Leiden em 1610 distribuiu seus livros em sete categorias (teologia, direito, medicina, matemática, filosofia, literatura e história). Em 1627, Gabriel Naudé (1600-1653) publica “O Advis pour dresser une Bibliotheque” com orientações para desenvolver uma biblioteca, algumas décadas depois, Leibniz (1646-1716) publica um plano para organizar uma biblioteca chamado “Ideia bibliothecae ordinandae” , isso mostra que, no decorrer da segunda metade do século XVII, estudiosos envolvidos com atividades em bibliotecas particulares também foram protagonistas de uma nova forma de pensar as bibliotecas. 
Esse contexto de grandes mudanças é chamado por Burke de “crise do conhecimento” porque, não apenas as bibliotecas, mas todos os espaços que utilizavam algum sistema de classificação para se organizar sofreram transformações, por exemplo, os museus preocuparam-se com métodos para organizar os seus diferentes acervos e as enciclopédias a medida que tornaram-se um importante guia entre os leitores e o conhecimento e assumiram a organização alfabética no final do século. 
O final do capítulo mostra a nova realidade da organização do conhecimento no século XVIII, em que, nas universidades, o conhecimento útil assume um maior valor em detrimento do conhecimento liberal consolidando a ênfase nas ciências aplicadas, como a estatística, a aritmética a engenharia e a agricultura. As inovações do período moderno desenvolveram, portanto, uma percepção da organização do conhecimento menos hierarquizada.

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