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Dignidade da Pessoa Humana

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MÓDULO 1: PRINCÍPIOS DAS CIÊNCIAS 
CRIMINAIS 
 
TEMA 1 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
EXPLÍCITOS I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Conceito 
 
Com previsão expressa no art. 1º, III, da Constituição Federal, a Dignidade da Pessoa Humana 
é um princípio regente, de valor pré-constituinte e hierarquia supraconstitucional, sustentáculo 
da efetividade das propostas do Estado Democrático de Direito, cuja missão é a preservação do 
ser humano, garantindo-lhe não só o mínimo existencial, mas conferindo-lhe autoestima. 
 
Possui duas dimensões: 
 
a) Objetiva = referente ao mínimo existencial, indispensável para atender as necessidades 
básicas (saúde, segurança, educação, alimentação, transporte, moradia...) 
b) Subjetiva = relativa a liberdade individual de formação da personalidade, garantindo o 
respeito de suas escolhas e convicções particulares, inerentes a autoestima do sujeito. 
Se por um lado o Estado deve garantir o mínimo necessário para a sobrevivência do indivíduo, 
de outro, deve assegurar o livre desenvolvimento das atividades e vontades pelo cidadão. 
 
Aspectos criminais 
 
É certo que a prática de qualquer infração penal sempre ofende, de algum modo, a dignidade 
humana, uma vez afetados direitos e garantias fundamentais (como vida, integridade física, 
honra, intimidade, liberdade...). 
 
Certas infrações, contudo, evidenciam com maior profundidade o mandamento de respeito ao 
ser humano como tal, primando pela sensibilidade, humanidade e bondade. É o caso do crime 
de tortura, que trata de um constrangimento específico, em face da dignidade da pessoa humana, 
delito intolerável, cuja gravidade tem reflexo nas particulares sanções cominadas. 
 
No mesmo bojo está inserido o crime de racismo, em vista da discriminação de determinados 
grupos sociais e sua consequente segregação, em detrimento de valores fraternos, éticos e 
altruístas. 
 
 
 Aula I - Dignidade da Pessoa Humana 
 
Denota-se que, em verdade, o objetivo perseguido pelo Direito é a convivência harmônica entre 
os seres humanos, primando-se pela manutenção da paz pública. 
 
Incidência quanto ao infrator 
 
Nem se olvide que, não só a vítima, mas também o autor de determinada infração penal goza 
dos direitos indispensáveis à preservação da dignidade da pessoa humana, uma vez inerente à 
sua própria natureza de ser humano. 
 
Com efeito, não se pode admitir que a sociedade excomungue seus próprios membros, ainda 
quando autores de erros trágicos, pois, nestes casos, há regulamentação específica, prevendo 
a imposição de sanção adequada, proporcional ao mal causado e justaposta ao transgressor. 
 
Destarte, resta indefensável admitir o recolhimento de seres humanos em ambientes inóspitos, 
insalubres, promíscuos e indignos, sob o pálido pretexto de que tal medida seja razoável à 
punição do infrator, quando escorada em nítido intento vingativa. 
 
Enquanto titular exclusivo do ius puniendi, deve o Estado garantir condições dignas para que o 
sentenciado arque com seu castigo, à luz do disposto pelo art. 5º, XLVII, da Constituição Federal. 
De certo, não cabe ao Estado inverter os papéis e passar a infringir as normas, imprimindo 
demasiado e desnecessário sofrimento àqueles que estiverem sob sua tutela, mesmo quando 
autores de infrações penais. 
 
Em síntese, em nenhum cenário admite-se o abuso, o exagero e a desumanidade, pois sendo 
agressores ou agredidos, todos os seres humanos merecem tratamento digno. 
 
Aspectos do processo e a dignidade da pessoa humana 
 
A presunção de inocência é corolário da dignidade da pessoa humana, impondo que não se pode 
considerar culpado alguém desprovido de condenação definitiva. 
 
As garantias de defesa constitucionalmente asseguradas têm como fundamento a preservação 
da dignidade daquele que responde à uma ação penal, permitindo-lhe produzir todas as provas 
que entender necessárias para refutar as acusações formuladas que, de per si, não o tornam, 
automaticamente, um criminoso. 
 
 
 
Como cediço, ao Estado incumbe o ônus de provar a culpa do acusado, cuja inocência é 
preservada até a superveniência de édito condenatório definitivo. 
 
Por outro lado, a depender da situação concreta, pode o acusado sofrer a coerção de sua 
liberdade, quando assim respaldada em elementos concretos e idôneos ao preenchimento 
dos requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal. 
 
Nenhum direito é absoluto, comportando tolhimento, ainda que parcial, quando em conflito com 
outros. Portanto, se o fato de ser processado não faz do acusado culpado, também não o permite 
fugir e frustrar a aplicação da lei penal. 
 
Destarte, no processo penal busca-se enaltecer o ser humano, resguardando a segurança 
pública na exata proporção da necessidade. 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4. ed. Rio 
de janeiro: Forense, 2015 – págs. 39 a 50 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 
– nota 1G do art. 1º 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Vol. 1, 
págs. 66 a 68. 
 
NUCCI, Guilherme de Souza, Direitos Humanos Versus Segurança Pública. Rio de Janeiro: 
Forense, 2016 – págs. 29 a 38.

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