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APOSTILA DE CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA - 2012

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Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA DE CORPOREIDADE 
E 
MOTRICIDADE HUMANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E FISIOTERAPIA 
UNIVERSIDADE UNIP 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROFª MARIA LUIZA PEREIRA SÔLHA 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 2 
 
INTRODUÇÃO 
 
Apresentamos nesta apostila um estudo decorrente de um processo histórico, no qual a 
nossa vida é vivida dia a dia, construindo e reconstruindo nossa identidade, no encontro (ou 
desencontro) com os outros, em um mundo que também está em acelerada transformação. 
A busca de compreender o mundo, refletindo sobre a existência – sobre o nosso próprio destino, 
sobre o homem em sua humanidade, sobre os acontecimentos culturais, sociais e políticos do 
mundo em geral e da realidade brasileira, e sobre o sentido da educação – buscamos atingir uma 
maior compreensão do real, que nos sirva de apoio e orientação para as nossas atividades 
cotidianas. As nossas reflexões, como parte de nós mesmos, transformam-se à medida que nos 
transformamos. 
Todo estudo que pretende abranger o fenômeno educativo movimenta-se, necessariamente, 
em dois níveis: o Filosófico e o Científico. 
A educação, de maneira geral, pode ser definida como a prática dos meios adequados para 
desenvolver as possibilidades humanas. A questão “quais as possibilidades humanas?” Só pode ser 
respondida a partir de um posicionamento filosófico que busque uma compreensão da realidade 
humana e social. A questão “para que se educa?”, fundamental em qualquer reflexão sobre 
Educação em Geral e à Educação Física. 
 
POR QUE FILOSOFIA? 
 
Por ser muito importante para a formação integral de todos. Porque ao estimular a elaboração do 
pensamento abstrato (diz-se dos seres ou fatos imaginários), a filosofia ajuda a promover a 
passagem do mundo infantil ao mundo adulto. Se a condição do amadurecimento está na conquista 
da autonomia no pensar e no agir, muitos adultos permanecem infantilizados quando não 
exercitam desde cedo o olhar crítico sobre si mesmo e sobre o mundo. 
O estudo de filosofia é essencial porque não se pode pensar em nenhum homem que não 
seja solicitado a refletir e agir. Isso significa que todo homem tem (ou deveria ter) uma 
concepção de mundo, uma linha de conduta moral e política, e deveria atuar no sentido de 
manter ou modificar as maneiras de pensar e agir do seu tempo. 
E a Educação Física, nossa velha conhecida, tatuada ao longo de sua história como 
um estigma (que deixa uma marca) de DUALISTA e MECANICISTA, influenciada pelo 
paradigma cartesiano, que domina tanto a ciência como a educação nestes últimos 
séculos, teve e tem em sua caminhada, especialmente nas duas últimas décadas, movimentos 
e momentos que caracterizam sua evolução. Surgiram neste período, renomados teóricos, 
divulgando seus trabalhos, que, com certeza trouxeram contribuições para esta área e outras, como 
a fisioterapia por exemplo. 
Iremos desvendar um mundo de conhecimentos que nos levará a reflexão sobre a 
problemática do homem moderno e de sua corporeidade na sociedade desde a Antiguidade Grega 
até os dias de hoje. O homem que cultua o corpo que já se transforma em cibernético, e as doenças 
modernas causadas pelo excesso de individualismo, egocentrismo, e má alimentação, prejudicando 
a nossa qualidade de vida e o nosso futuro. E viver com qualidade de vida é o grande desafio para o 
século XXI, pois vivemos em um mundo intensamente ativo, com mudanças constantes e de forma 
rápida. 
A abordagem filosófica, nesta apostila, propicia a compreensão da problemática do 
homem, que sempre foi alvo do pensamento de filósofos de diferentes épocas, e suas 
reflexões auxiliam-nos a compreender nós mesmos e o mundo. 
A partir desta leitura iremos perceber a complexidade deste tema, Consciência 
Corporal, que não se resume em conhecer, ou mesmo “dominar” o próprio corpo, mas em 
ter a consciência de que “somos um corpo” e que toda a atitude do ser humano é 
corporal. Somos um ser que pensa, sente e age, com certeza entenderemos que, somos 
livres. 
 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 3 
 
VAMOS COMEÇAR CONCEITUANDO: 
 
O que é Filosofia? 
A palavra “Filosofia” aparece na Grécia do século VI a.C. nos escritos de Pitágoras, que não 
querendo definir-se como “sábio” – em grego “SOPHOS” – prefere autodenominar-se “Filos-sophos” 
– ou seja - “ amigo do saber”, aquele que busca a sabedoria, “amante da sabedoria”, para ele esta 
denominação seria mais humilde e fiel “uma postura de tentar compreender a realidade total”. 
No seu começo, a ciência estava ligada à Filosofia, sendo o filósofo o sábio que refletia sobre 
todos os setores da indagação humana. 
A partir do século XVII, a revolução metodológica iniciada por Galileu promove a autonomia 
da ciência e o seu desligamento da filosofia. Pouco á pouco, desse período até o século XX, 
aparecem às chamadas ciências particulares: física, astronomia, química, biologia, psicologia, 
sociologia, etc. - delimitando um campo específico de pesquisa. 
 
Conceito de Filosofia. 
Filosofia é o estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, 
verdade, dos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem. 
 
 O que a Filosofia produz? 
Ela produz conceitos, uma forma racional de equacionamento dos problemas vividos no 
mundo. 
 
No que consiste a Filosofia? 
Um conhecimento sistematizado sobre o mundo da natureza, sobre a condição humana 
pessoal e social, sobre a sociedade, sobre a cultura. Em termos gerais é uma ciência humana. 
 
O que é ciência? 
Ciência é o conjunto organizado de conhecimentos fundados em princípios certos. 
O que a ciência produz? 
Produz funções, que organizam os fatos observados através de relações de causa e efeito 
(coisas que produzem uma reação). 
 
O que é Filosofia da Educação? 
Investigação sobre os ideais que dominam a teoria e políticas educacionais. As questões 
centrais são: o que é útil ou necessário para ensinar e, quais são as melhores maneiras de fazê-lo. 
 
O que é Fisioterapia? 
Sistema terapêutico que emprega recursos da natureza (água, sol, calor, gelo, etc.), 
massagens e exercícios físicos. 
 
O que é Educação Física? 
A Educação Física é uma das áreas do conhecimento humano ligada ao estudo e 
atividades de aperfeiçoamento, manutenção ou reabilitação da saúde do corpo e mente do 
ser humano, além de ser fundamental no desenvolvimento do ser como um todo. Ela 
trabalha, num sentido amplo, com prevenção e cura de determinadas doenças humanas 
num contexto terapêutico e também é fundamental na formação básica do ser humano, 
devido a sua atuação no contexto psicossocial (aspecto comunicativo do ser humano para 
a vida social e cultural), no conhecimento corporal (conhecimento do próprio corpo) suas 
possibilidades de ação e suas limitações. 
É um processo educativo que se relaciona diretamente com o corpo e com os movimentos do 
ser humano na sua articulação com os fenômenos sociais. Assumindo historicamente uma relação 
dialética com a sociedade em que se constitui recebendo, assim, o seu verdadeiro sentido. Ao longo 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 4 
 
da história, o corpo representou diferentes papéis, adquiriu significados diversos e foi utilizado, 
muitas vezes como instrumento de poder e de veiculação de ideologias dominantes. 
Na Educação Física ainda hoje se encontra a concepção dualista do homem. 
Concepção esta marcada por uma profunda DICOTOMIA (divisão de dois ramos)entre 
corpo e alma, ignorando a globalidade do ser humano, ao visualizar o corpo como algo 
independente, dissociado do sujeito como um todo, que tem com a alma uma relação 
completamente distinta. 
 
Concepções Filosóficas que influenciaram a Educação e a Ciência. 
1. Filosofia Cartesiana (é utilizada para designar coisas aparentadas mais distintas) 
2. Filosofia Bergsoniana (positivista-espiritualista) 
 
I - INTRODUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITUAL SOBRE O FENÔMENO DA CORPOREIDADE E 
MOTRICIDADE HUMANA 
 
A História destas Filosofias 
No século XVI surgiu René Descartes (1596-1650), cujo nome latino era Cartesius. Filósofo e 
matemático, criou a Filosofia Cartesiana. Queria disciplinar a ciência e isso só seria possível com 
um bom método. Esse método seria universal, inspirado no rigor matemático e racionalista. È 
considerado o “pai da filosofia moderna”. 
 
O MÉTODO 
Seria um instrumento, que bem manejado levara o homem à verdade, esse método consiste em 
aceitar apenas aquilo que é certo e evidente e conseqüentemente eliminar todo o conhecimento 
inseguro ou sujeito a controvérsias (que não cause polêmicas). O fundamento principal da Filosofia 
Cartesiana consiste em pesquisas da verdade, com relação à existência dos “objetos”, dentro de um 
universo de coisas reais. 
O método está fundamentado no princípio de jamais acreditar em nada que não 
tivesse fundamento para provar a verdade. Com essa regra nunca aceitara o falso pelo 
verdadeiro conhecimento de tudo. Descartes, assim instituiu a DÚVIDA; só pode dizer que 
existe aquilo que possa ser provado, (converteu a dúvida em método). 
DEUS – é a idéia de um ser perfeito: se um ser é perfeito, deve ter a perfeição da existência, 
senão lhe faltaria algo para ser perfeito. Portanto, ele existe. 
 
O MUNDO 
Se Deus existe e é infinitamente perfeito, não me engana. A existência de Deus é garantia 
de que os objetos pensados por idéias claras e distintas são reais. Portanto, o mundo tem realidade. 
E dentre as coisas do mundo, o meu próprio corpo existe. 
Podemos perceber, nesse rápido relato, uma tendência forte e absoluta de 
valorização da razão, do entendimento, do intelecto. (baseado na ordem e na medida, 
permitindo estabelecer cadeias de razões). 
Coloca em dúvida sua própria existência, para chegar a uma certeza sobre a concepção de 
homem, o qual faz um novo pensar sobre a problemática (homem), considerando duas principais 
substâncias existentes, que são o CORPO e a ALMA, que se unem em uma união 
fundamental, porém distintas entre si (DUALISMO CARTESIANO). 
O homem é um ser duplo, composto por substância pensante e uma substância 
extensa. O corpo é uma realidade física e fisiológica e, como tal, possui massa, extensão 
no espaço e movimento, bem como desenvolve atividades de alimentação, digestão, etc., 
estando, portanto, sujeito às leis deterministas da natureza. Por outro lado, os fenômenos 
mentais não apresentam, extensão no espaço nem localização. As principais atividades da 
mente são recordar, raciocinar, conhecer e querer; portanto, não se submetem às leis 
físicas, mas são o lugar da liberdade. 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 5 
 
Estabelecem-se, então, dois domínios diferentes: o corpo, objeto de estudo da ciência, e a 
mente, objeto apenas da reflexão filosófica. 
Noção cartesiana de corpo-máquina ou corpo-objeto. A Filosofia cartesiana é marcada, de um 
modo geral, pelo MECANICISMO (o mecanicismo é defendido pelo DEÍSMO, que sustenta que o 
universo é um mecanismo, o qual pressupõe a existência de um ser não mecânico (DEUS), assim 
como o relógio pressupõe a existência do relojoeiro que o construiu). 
 
CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DE BERGSON 
Bergson foi o Filósofo da intuição – Positivismo no século XIX recebeu o prêmio 
Nobel de Literatura por ser o pioneiro do espírito novo do nosso tempo. 
A abordagem filosófica faz fundamentar sua METAFÍSICA (ciência ou conjunto das ciências 
que estudam a essência das coisas, os primeiros princípios e causa do que existe), Filosofia 
Positivista – espiritualista, que se constitui de quatro elementos: Impulso vital, evolução 
criadora, duração e intuição. 
Bergson criticou a inteligência como a única mantenedora da verdade e percebendo a INTUIÇÃO 
(percepção clara e pronta sem auxílio do raciocínio), entendendo esta como a solução para esta 
limitação do Dualismo (corpo e alma), “somente a intuição reencontrando a vida e os 
aspectos dinâmicos da realidade, permite-nos ultrapassar a inteligência”. 
Nesse contexto filosófico, Bérgson inaugura de forma espetacular as noções de: orgânica, 
holística e ecologia. O Universo deixa de ser visto como uma máquina e passa a ser descrito como 
um todo dinâmico, que não pode ser dividido e, que está tudo interligado, sendo visto como 
modelos de um processo cósmico. 
Sintetizando seu pensamento filosófico pode-se dizer que há um impulso de vida 
que cria e se desenrola num tempo real, culminando no aparecimento do ser humano 
constituído de: consciência, memória e liberdade. 
Bergson entende que a realidade dura, ou seja, existe um movimento dinâmico de 
ininterrupta criação. Essa duração percebe-se, intuitivamente, em primeiro lugar, em nós mesmos 
como um “Eu” por isso, ela é essencialmente consciência, memória e liberdade. 
Bergson repudia o MATERIALISMO ( concepção que considera a matéria como única realidade 
e que nega a existência da alma, de outra vida e de DEUS). 
 
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA. 
A corporeidade é a compreensão do nosso corpo além do físico, pois a dimensão 
corpórea se faz tanto em valores estéticos, como ético, espiritual e físico/social. E a 
motricidade está ligada ao movimento do corpo e sua conduta motora (conjunto de 
funções que permitem o movimento e deslocamento do corpo). 
A forma de o homem lidar com sua corporeidade, os regulamentos e o controle do 
comportamento corporal não são universais e constantes, mas, sim, uma construção social, 
resultante de um processo histórico. O homem vive em um determinado contexto social com o qual 
interage de forma dinâmica, pois, ao mesmo tempo em que atua na realidade, modificando-a, esta 
atua sobre ele, influenciando e, até podemos dizer, direcionando suas formas de pensar, sentir e 
agir. 
Assim, as concepções que o homem desenvolve a respeito de sua corporeidade, e as suas 
formas de comportar-se corporalmente estão ligadas a condicionamentos sociais e culturais. A 
cultura imprime suas marcas no indivíduo, ditando normas e fixando ideais nas 
dimensões: intelectual, afetiva, moral e física, ideais esses que indicam à Educação o que 
deve ser alcançado no processo de socialização. A cultura se caracteriza por conhecimentos 
básicos adquiridos, indispensáveis para o entendimento de qualquer ramo do saber 
humano. 
O corpo de cada indivíduo de um grupo cultural revela, assim, não somente sua singularidade 
pessoal, mas também tudo aquilo que caracteriza esse grupo como uma unidade. Cada corpo 
expressa a história acumulada de uma sociedade que nele marca seus valores, suas leis, suas 
crenças e seus sentimentos, que estão na base da vida social. 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 6 
 
Ao longo da história humana, o homem apresenta inúmeras variações na concepção 
e no tratamento de seu corpo, bem como nas formas de comportar-se corporalmente, que 
revelam as relações do corpo com um determinado contexto social. Desse modo, variam 
as técnicas corporais relativas: 
a) Aos movimentos como andar, pular, correr, nadar, escalar, subir, etc.: 
b) Os movimentos corporais expressivos (posturas, gestos, expressões faciais), que são formas 
simbólicas de expressão não verbal; 
c) A ética corporal, que abrange idéias e sentimentos sobre a aparência do próprio corpo(pudor, vergonha, idéias de beleza, etc.); 
d) O controle de estrutura dos impulsos e das necessidades. 
 Esses quatro aspectos não só diferem, em sua ordenação e em sua coordenação, de 
sociedade para sociedade, como também, dentro da mesma sociedade, conforme o sexo, a 
idade, a religião, a ocupação, a classe social e outros fatores socioculturais. 
A partir da compreensão da relação social do ser humano com o seu corpo, ao longo da 
história, e do papel da Educação Física nesse processo, percebemos que parte do que se vive hoje 
pode ser considerado reflexo de algo que já foi vivido no passado. Torna-se necessário este resgate 
histórico, porque segundo Bruhn (1994), “o corpo aprende e é cada sociedade específica, 
em seus diferentes momentos históricos e com sua experiência acumulada que o ensina”. 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 
Tudo começou quando o homem primitivo sentiu a necessidade de lutar, fugir ou caçar para 
sobreviver. Assim o homem à luz da ciência executa os seus movimentos corporais mais básicos e 
naturais desde que se colocou de pé: corre, salta, arremessa, trepa, empurra, puxa e etc. 
A prática de atividades físico-desportivas foi e continua a ser uma das constantes do 
comportamento humano. A manifestação cultural da atividade física produziu-se de formas 
diferentes, em função das necessidades sociais e dos objetivos estabelecidos em cada período 
histórico e civilização: assim, tem sido vista como atividade utilitária que possibilita a sobrevivência; 
como preparação para a guerra; como meio de invocação religiosa; como jogo ou atividade 
recreativa e de ócio; como método de educação física para a saúde; ou então como desporto 
espetáculo e de competição. Hoje em dia, para poder entender o conceito de educação física é 
conveniente conhecer a influência que as distintas civilizações exerceram sobre ela ao longo dos 
séculos. Dependendo do seu objetivo, cada cultura estabeleceu um modelo de educação física 
diferenciado, que em muitas ocasiões ainda perdura. 
 
UM BREVE RESGATE HISTÓRICO PARA ENTENDIMENTO 
 
O valor da educação física na Grécia Antiga 
Os gregos da Antiguidade conferiram ao exercício físico um papel de grande destaque nos 
vários âmbitos da vida social, como a educação, na qual a atividade física se complementava com a 
aquisição de conhecimentos, e a celebração das festas, nas quais os jogos atléticos, Helênicos 
(cultura helênica – resultou da fusão da cultura grega com a cultura oriental) fundamentalmente 
os Jogos Olímpicos tiveram especial qualidade. Tanto através da leitura dos grandes clássicos 
da poesia e da filosofia (Homero, Píndaro, Platão, Aristóteles, etc.) como através dos achados 
arqueológicos é possível perceber a importância que tiveram a educação física e a prática do 
desporto numa das grandes civilizações do Mundo Antigo. 
A Ilíada, a primeira obra-prima da literatura grega, e a Odisséia (ambas compostas por 
Homero provavelmente cerca do ano 800 a.C.) contêm inúmeras referências desportivas, 
como, por exemplo, a realização de jogos fúnebres em honra de personagens ilustres. É 
muito provável que exista uma relação entre as duas grandes obras homéricas e os Jogos Olímpicos, 
já que nas suas páginas aparecem quase todas as categorias olímpicas: corridas de carros (as 
designadas bigas), corridas, saltos, lançamentos do disco e do dardo, luta e pugilato; também 
existe uma intenção educativa, ao visar à honra e a perfeição ou, em suma, o Areté 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 7 
 
(virtude e moral como expressão do mais alto ideal cavalheiresco unido a uma conduta 
cortês e distinta e ao heroísmo guerreiro ), o ideal humano da virtude. 
Quanto ao poeta Píndaro (518-43 a.C.) a sua mensagem educativa baseia-se no 
engrandecimento do vencedor desportivo, o qual é tomado como exemplo da perfeição; daí que as 
suas Odes triunfais (Olímpicas, Píticas, Nemeias e Istimicas) sejam dedicadas precisamente aos 
vencedores dos vários Jogos. 
 
 EXERCÍCIO FÍSICO PARA OS GRANDES FILÓSOFOS 
Por outro lado, Platão (427-347 a.C.), que tinha sido um lutador notável, deu grande 
importância ao desporto na educação dos jovens helenos. Na sua obra República defende que a 
música e a ginástica harmoniosa e simples - por esta ordem - são as duas disciplinas 
educativas que devem se combinar para alcançar a perfeição da alma. Desta forma é 
visível formar jovens equilibrados, que não serão nem brandos nem brutos. Neste caso, 
trata-se de uma ginástica com objetivos filosóficos e, como tal, oposta ao culto do corpo 
(de Aristóteles) O objetivo é impelir a alma para o bem através de um conceito estético e 
higiênico. 
 Aristóteles (384-322 a.C.) considerava como disciplinas educativas à escrita, a leitura, a 
ginástica, a música e, por vezes, o desenho. Acreditava que a ginástica era útil porque fomentava o 
valor, pela sua vertente competitiva, melhorava a saúde (idéia que o afastava do seu mestre Platão) 
e aumentava a força, protótipo das qualidades físicas. É curioso constatar como o grande 
filósofo de Estagira já alertava na sua época contra o perigo da especialização precoce e 
da busca prematura de campeões a qualquer preço (um tema tão em voga atualmente). 
Segundo ele, as crianças não deviam realizar treinos duros antes da puberdade, nem nos 
três anos seguintes, uma vez que isso prejudicava o seu desenvolvimento biológico; e 
lembrava que eram muito poucos os desportistas que, tendo sido destacados na idade 
juvenil, conseguiram serem depois campeões olímpicos. 
Pelo contrário, os Espartanos (Lacedemónios ou Lacónios) eram a favor de submeter às 
crianças a intensivos treinos. 
Esparta versus Atenas, dois Conceitos de Educação Física 
 A Educação Física desempenhava um papel fundamental no sistema educativo grego, pois 
fazia parte do ansiado equilíbrio- harmônico entre as aptidões físicas e intelectuais. No entanto, 
convém estabelecer uma distinção entre dois conceitos opostos da educação física: a arcaico-
aristocrática de Esparta e a clássico-democrática de Atenas. 
 
ESPARTA 
A mentalidade espartana, fundamentalmente guerreira, orientava a educação física 
das crianças para o combate. Assim desde muito pequenos, tanto meninos como meninas 
recebiam em Esparta uma dura preparação física, na qual até se utilizava a crueldade. Já 
aos sete anos de idade eram separados dos seus pais e passavam a depender exclusivamente do 
Estado. Só as crianças de compleição forte eram consideradas dignas de receber educação; as 
débeis eram excluídas ou mesmo assassinadas. Os jovens exercitavam-se fora da cidade, no 
Dromos (lugar para correr), ou, dentro dos seus limites, na Palestra (recinto para a luta). Esparta 
foi a grande dominadora nas primeiras edições dos Jogos Olímpicos (sendo os velocistas 
especialmente admirados), mas com o passar do tempo a participação foi diminuindo, já que 
praticamente o seu único interesse radicava em preparar-se para a guerra. 
 
ATENAS 
Pelo contrário, em Atenas, o conceito Educação Física era muito diferente. Desde os 
14 anos, os rapazes exercitavam-se num recinto privado, a citada palestra, onde, sob os 
sábios conselhos do Pedótriba, praticavam salto, disco, dardo, solos (espécie de 
lançamento de peso), acrobacias, danças, etc.; inclusive existia uma teoria do treino, na 
qual se aplicavam os princípios da especificidade e individualização. Não são poucos os 
exercícios praticados naquela época que coincidem ainda com os da educação física 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 8 
 
escolar atual. Também existiam diversos sistemas de treino, cada vez mais 
especializados, bem como uma parte destinada ao aquecimento no início de cada sessão. 
O Pedótriba dirigia a instrução na palestra e era ajudado pelos alunos maisvelhos. 
Utilizava sistemas de ensino autoritários baseados no «certo-errado». Cumpridos os 18 anos, o 
jovem passava para o colégio dos efebos e, a partir de então, o Estado encarregava-se da sua 
educação. Após a sua passagem pela palestra, os jovens atenienses dirigiam-se aos Ginásios, que 
viveram uma época de esplendor a partir do século IV a C. 
O papel complementar dos Jogos Tradicionais 
Além do desporto e da educação física; os Gregos desfrutavam também dos jogos, 
não incluídos nos festivais de atletismo, que serviam para ocupar as horas de descanso e 
de ócio. Entre eles encontram-se inúmeros jogos tradicionais que, de uma forma ou de outra, 
perduraram até aos nossos dias; por exemplo: berlinde, aro, pião, macaca, balouço, tabas, saltar ao 
eixo, andar «a cavalo" com o colega, o ioiô, jogos de azar com dados, jogos de bola chamada 
EPISKIROS (era o futebol na Grécia antiga, século I a.C). A progressiva decadência da educação 
física na Grécia antiga surgiu a partir da crescente influência exercida pelos filósofos sofistas 
(distorciam o assunto, davam aparência de verdade), que se centravam exclusivamente na 
educação intelectual, em detrimento da cultura física. 
O homem e sua corporeidade na História da Filosofia (O pensamento filosófico em 
diferentes épocas) 
A história do pensamento filosófico, a problemática do homem e do seu mundo oscilou 
sempre entre dois pólos: o corpo e a alma, o conhecimento sensível e o conhecimento inteligível, o 
mundo da matéria e o mundo do espírito, a vida terrena e a vida ultraterrena. 
A cisão entre esses mundos surgiu quando o pensamento filosófico, na Antiguidade Grega, 
atingiu sua maturidade, isto é, quando o homem deixou de preocupar-se primordialmente 
com o universo físico para problematizar sua própria realidade. 
Com Sócrates (470-399, séc. V a.C.), o homem com suas qualidades, seus anseios, seus 
valores e suas crenças tornou-se alvo de questionamentos filosóficos. Sócrates proclama a razão do 
homem, para transcender (ir além, elevar-se acima do vulgar) às condições exteriores e encontrar o 
verdadeiro sentido das coisas, orientando sua ação moral. Nada deixou escrito, e teve suas idéias 
divulgadas por dois de seus discípulos, Xenofonte e Platão. 
Sócrates se indispôs com os poderosos do seu tempo, sendo acusado de não crer nos deuses 
da cidade e corromper a mocidade. Por isso foi condenado e morto. 
Costumava conversar com todos, fossem velhos ou moços, nobres ou escravos, preocupado 
com o método do conhecimento. Sócrates parte do pressuposto: “só sei que nada sei”, que consiste 
justamente na sabedoria de reconhecer a própria ignorância, ponto de partida para a procura do 
saber. 
Seu método começa pela parte considerada “destrutiva”, chamada “ironia” (em 
grego, “perguntar”). Com hábeis perguntas, desmonta as certezas até o outro reconhecer 
a ignorância. 
Por meio de perguntas, destrói o saber constituído para reconstruí-lo na procura da definição 
do conceito. Nem sempre Sócrates tem a resposta: ele também se põe em busca do conceito e às 
vezes as discussões não chegam a conclusões definitivas. 
As questões que Sócrates privilegia são as referentes à moral, a coragem, a covardia, a 
piedade, a justiça e assim por diante. 
Platão (428-347, V e IV a.C.), instala no pensamento filosófico uma profunda ruptura 
entre o mundo sensível e o mundo inteligível. De um lado, o mundo concreto, finito e transitório; do 
outro, o mundo ideal, eterno e imutável. Viveu em Atenas, onde fundou uma escola denominada 
Academia. 
O mundo concreto torna-se mera aparência, cópia imperfeita do mundo inteligível (que só 
existe na idéia). Os acontecimentos humanos perdem sua consistência de ser, pois se torna puro 
vir-a-ser, aspirando a realizar a perfeição das idéias, paradigmas (exemplos) para os quais tenderia 
toda a cultura humana. 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 9 
 
A sua idéia de natureza humana carrega em si a cisão desses dois mundos, separando o 
corpo da alma. O corpo, com suas inclinações e paixões, contamina a pureza da alma racional, 
impedindo-a de contemplar as idéias perfeitas e eternas. O corpo torna-se, assim, a prisão da alma, 
um obstáculo à realização do ideal de Bem e Verdade a que ela aspira. Em seus últimos escritos, 
entretanto, Platão já não atribui um papel tão negativo ao corpo, admitindo que o exercício possa 
ser benéfico para a alma, proporcionando o equilíbrio entre seus elementos, o corajoso e o filósofo. 
Aristóteles (384-322 a.C, séc. IV), Nasceu em Estagia, na Calcídia (Macedônia). 
Freqüentou a Academia de Platão e a fidelidade ao mestre foi entremeada por críticas que mais 
tarde justificaria dizendo: “Sou amigo de Platão, mas mais amigo da verdade”. Os objetos 
concretos e os conceitos universais não constituem mundos separados como no 
pensamento platônico, mas, sim,” uma continuidade ininterrupta”. A forma, a idéia 
universal, não constitui um mundo à parte, mas está presente nos seres concretos, em 
estreita união com a matéria. 
Na constituição da natureza humana, a alma está presente como a forma, e o corpo, 
como a matéria. A alma é a forma do corpo, a causa final de sua conformação orgânica e o 
princípio do seu movimento, constituindo-se em sua força diretriz e motora. 
Aristóteles reconhece o papel do corpo e dos sentidos no conhecimento, e o corpo não é 
considerado, como em Platão, o cárcere da alma. Não obstante, para ele, o homem é sobretudo um 
ser pensante e político, que deve dirigir sua vida pela razão. A educação moral é o objetivo 
prioritário de seu plano educativo. A educação dos impulsos pelo exercício é importante para a 
aquisição de virtudes, cuja formação é assegurada quando asa disposições naturais orientam-se em 
direção do BEM, isto é, tornam-se um hábito, constituindo uma segunda natureza. 
Vendo o homem como um ser essencialmente contemplativo, Aristóteles, do mesmo modo 
que Platão manifesta um grande menosprezo pelo trabalho, principalmente pelo trabalho físico, que 
envolve o homem em sua corporeidade, por ser atividade ligada a matéria e pelo seu aspecto servil, 
constituindo-se em uma negação da própria natureza humana. 
Toda a estrutura teórica da filosofia aristotélica desemboca na teologia ( estudo das religiões 
e das coisas divinas). A descrição das relações entre as coisas leva ao reconhecimento da existência 
de um ser superior e necessário, ou seja, DEUS. Aristóteles na busca dos conceitos que explicassem 
o ser em geral e que hoje reconhecemos como sendo assunto tratado pela filosofia denominada 
metafísica ( conhecimento das causas primárias). Continua no livro sentir, pensar, agir, pag.44 
Platão na sua filosofia aponta para o mundo das idéias, enquanto dele discorda o discípulo 
Aristóteles, que “traz as idéias do céu à terra”. 
Aristóteles, funda em Atenas a Escola Liceu em 340 a.C, 
 
II - REFLEXÕES À RESPEITO DO CORPO GREGO 
 
A beleza para o Grego consiste em uma amplitude muito maior do que hoje podemos supor. 
Ela é apenas um dos componentes do conceito ARETÉ – “virtude e moral como expressão do 
mais alto ideal cavalheiresco unido a uma conduta cortês distinta a ao heroísmo 
guerreiro”. (Jaeger, 1979). 
Em outros termos, a beleza não está restrita ao âmbito do corpo, mas se torna uma 
composição de atributos que sugere nobreza, força, amor-próprio, defesa dos amigos, da pátria, ou 
seja, de alguém que é capaz de compor-se como obra-de-arte (um ser perfeito). 
Entenda-se bem que o “EU” não é o sujeito físico, mas o mais alto ideal de homem que o 
nosso espírito consegue forjar e que todo nobre aspira realizar em si próprio. 
Só o mais alto amor deste “EU”, em que está implícito a mais elevada ARETÉ, é capaz de 
fazer sua beleza, (Jaeger, 1979). 
Os gregos já davam maior importância à elaboração mental do que ao trabalho 
braçal – o que diferenciava,inclusive, a classe nobre, dos cidadãos, ociosa, e a massa escrava, a 
qual era considerada algo muito distante do homem ideal. Se as atividades físicas – na ginástica e 
nos jogos olímpicos – se desenvolveram, foi antes como apêndice instrumental ao crescimento do 
espírito, das idéias (no sentido platônico de um mundo abstrato perfeito, do qual a realidade seria 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 10 
 
apenas um reflexo mal-acabado). Com feito, naquelas atividades não estava implícita nenhuma 
relação com as atividades do mundo real, do cotidiano; eram mais um fator de distinção entre os 
que cultivavam o “mens sana in corpore sano” e os que exerciam as necessárias atividades 
produtivas da sociedade. 
Os escravos cujo número não para de crescer assegurava o essencial do trabalho manual e a 
classe dos homens livres tende a separar-se de todo o trabalho diretamente produtivo. Atividades 
das classes dirigentes têm diversas formas desde um rico trabalho intelectual e de organização até 
atividades que poderemos reagrupar, por comunidade, sob o termo de repouso. Para os homens 
livres que desprezavam o trabalho manual, apenas estas atividades têm valor: a atividade física, a 
ginástica. É um verdadeiro modo de vida que permite a liberdade e a riqueza dos aristocratas. 
Platão e Aristóteles, com suas concepções filosóficas sobre a alma, ambos compreendiam que 
o corpo não deveria ser desprezado. Ao contrário, ambos por vias distintas, afirmavam a 
importância da saúde do corpo para o bom pensamento. Assim surgiu um paralelo entre a filosofia e 
a medicina nascente. Afirmando a importância do corpo, os filósofos não se limitavam a pensá-lo 
conceitualmente, mas se dedicavam a discutir quais as melhores ações para a saúde, como regimes 
alimentícios e exercícios ginásticos. 
O cuidado do corpo se traduziu na prescrição de dietas alimentares, atividade física, uma 
espécie de medicina preventiva, fica claro então que existia o “cuidado de si”, uma forma de 
articular e gerir a própria vida, preocupados com a saúde e a atividade corporal. 
 
DECADÊNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA EM ROMA 
Em Roma, tanto na época Republicana como na Imperial, quebrou-se o conceito integral da 
educação física, que se limitou a uma ginástica higiênica (voltada para a prática do exercício 
apenas direcionada para a manutenção da saúde do indivíduo – habilidades de montar e desmontar 
um cavalo e habilidades semelhantes às executadas em um circo pelos acrobatas) e de saúde em 
termas e palestras. A preparação física só fazia parte da instrução dos soldados a partir dos 14 
anos. Cultivava-se o pragmatismo (doutrina segundo a qual o verdadeiro é o útil, ou seja, o 
critério da verdade é retirado da utilidade prática de uma idéia), e desejava-se a beleza, a 
técnica e o prazer desportivo. Ao contrário do que tinha sucedido na Grécia, no mundo romano 
primava o jovem como espectador dos grandes espetáculos do Circo (Iudi) e do Anfiteatro 
(munera), cada vez mais populares e numerosos. Desvinculados do caráter religioso que tiveram na 
civilização Helênica (grega). 
Estes espetáculos adquiriram uma função política, sobretudo sob o Império. De fato, já no 
ano 105 a.C., durante a República, o Senado instituiu oficialmente o combate de gladiadores como 
espetáculo nacional. No cenário do anfiteatro os gladiadores profissionais enfrentavam-se entre si 
(mirmilões, reciários, trácios, samnitas), ou então contra as feras, embora também houvesse lutas 
entre animais. Tudo isto com uma crueldade extrema e com um final que normalmente significaria a 
morte de um dos combatentes. Existiam escolas de treino de gladiadores, que freqüentemente eram 
presos, cristãos, ou escravos, mas também homens livres em busca de fama. Estas lutas 
terminaram no século IV d.C. com o Edito de Milão (documento que confirma a tolerância religiosa 
no Império Romano). Entre o público romano, também tiveram grande continuidade as corridas de 
carros (sobretudo, as quadrigas, puxadas por quatro cavalos e conduzidas pelos aurigas) que se 
realizavam nos circos (como o Máximo, cuja etapa de esplendor se situa entre os séculos I a.C. e I 
d. C.), num percurso aproximado de quatro quilômetros. 
 
A Antiga Roma segue o modelo grego do ócio, não trabalho, o qual, na verdade, vai 
permanecer durante muitos séculos. Somente com o capitalismo, o valor social do trabalho passará 
a ser enaltecido. A Antiguidade, nas palavras de Paul Veyne, “ foi a época da ociosidade tida 
como mérito”. O mesmo afirma que: “o desdém pelo trabalho era desdém social pelos 
trabalhadores”. 
 Assim, o corpo na Antiguidade Clássica não é só diminuído ante a mente que 
formula idéias, mas o é ainda mais ante a sua práxis (ação ordenada para um certo fim, um 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 11 
 
negócio, uma transação), a sua atividade engajada no mundo. Se o corpo do escravo ou trabalhador 
era um corpo socialmente inexistente, enquanto objeto de preocupações. 
 
A IDEOLOGIA CRISTÃ 
 
Surge então o Cristianismo, pregando, a partir da periferia do mundo de então, uma 
nova ideologia, uma “Boa-Nova” (em grego “evangélion), que tinha muita atração sobre 
as massas sobretudo as mais pobres. Pregando a língua grega em todos os grandes centros o 
Apóstolo Paulo consolida um novo modelo de Cristianismo que difere do Cristianismo ortodoxo e 
original circunscrito a Jerusalém e aos Judeus. A grande aceitação do Cristianismo será entre os 
gregos e romanos, os gentios, e não os “depositários e filhos da Promessa”. 
Em Roma o Cristianismo emancipa-se depois de três séculos de contradições e 
perseguições. Qual seria o perigo que ele representava? Dois pontos se destacam: a 
pregação cristã e o culto a “Cristós”. 
A pregação cristã era dirigida, sobretudo à periferia de Roma. A estes povos dominados, 
massacrados, tidos como “não-gente” pela ideologia da superioridade romana; explorados, 
escravizados e constantemente ameaçados, o Cristianismo prega: a igualdade de todos os 
homens, a filiação divina de todos, a Criação e a Paterna providência de Deus, a Salvação 
de todos e a Ressurreição, uma outra vida para os sofridos e Pobres, a Caridade para com 
o próximo e, sobretudo a repartição das Riquezas. 
Os Cristãos afirmavam que o Imperador não é Deus, destruíam assim, o culto aos Césares, e 
destruíam também todo o culto aos deuses gregos e romanos. Deram o título divino à Jesus de 
Nazaré, o “Cristós do Universo”. Por isso foram considerados subversivos e foram 
perseguidos, pois com estas pregações mostravam a todos que nada temiam e em comunidades 
se fortaleciam. 
Pregavam uma ordem religiosa que tinha repercussões políticas muito fortes; o culto a 
cristo como senhor, opunha-se ao culto ao imperador; de certa maneira deslegitimava o poder do 
imperador. Às crenças cristãs deixavam as pessoas livres das obrigações políticas e 
religiosas para com os deuses romanos e isso causava sérias preocupações. 
Estes ensinamentos pregados com a tenacidade e o testemunho da morte de Pedro e Paulo, 
que foram crucificados e decapitados, têm arrasador e explosivo efeito. As perseguições aos cristãos 
são sobretudo pelo perigo que a sua pregação acarretava na decadente Roma dos séculos I e II 
d.C. Outro ponto importante é que representavam uma comunidade, uma identidade religiosa onde 
todos “tinham tudo em comum e dividiam, seus bens com alegria de modo que não havia 
necessitados entre eles”. O cristianismo trazia a novidade de pregar a igualdade dos homens que 
para estes era o ideal, era um valor de vinha de acordo com os seus interesses. Para os pobres 
miseráveis, da periferia de Roma, o cristianismo pregava a repartição das riquezas como 
condição para o reino acontecer, isto é, para uma nova sociedade. Isto eraaltamente 
apelativo, chamativo, para as camadas pobres, também as camadas médias e até elementos das 
classes abastadas de Roma aderem ao cristianismo. 
 
RELIGIÃO CRISTÃ 
 
Em 313 d.C., o Imperador Constantino proclama o Cristianismo como: “religião 
oficial do Estado”. Começa uma nova época para o Cristianismo, a simbiose (vida em 
comum) entre o poder político e religioso que vai gerar a Cristandade Medieval, que se 
opunha aos cultos pagãos (gregos e romanos). Proclama o “Edito de Milão” que concedia 
liberdade religiosa aos cristãos, e claro que em troca disso ele teve grande apoio popular. 
Foi uma opção política e ao mesmo tempo teve o apoio dos cristãos para que continuasse 
no poder. 
 A partir daí começa uma nova época para a Igreja, pois esta de dominada passa a ser 
dominadora, passando aos poucos a ser a religião do Estado. 
 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
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O CLERO 
Dois séculos seguintes IV e V, um outro fenômeno acontece ao nível da religião 
(comunidade) e do Império. Na Comunidade surge uma crescente categoria que usurpa cada 
vez mais os poderes religiosos comunitários e concentra os ministérios e funções em suas 
mãos: o Clero: significando “os escolhidos”, aqueles que praticamente dirigiam as 
comunidades. 
Desenvolvem uma ideologia (teologia) de justificação de sua função (o Cristo e a figura do 
Pastor) e aliam-se cada vez mais aos grupos dominantes. A nobreza romana, por uma série de 
privilégios, traz para o seu lado, para o lugar social, o Clero, o grupo de dirigentes da Igreja. 
 Santo Agostinho é um dos teóricos deste movimento, propondo a divisão do poder em seu 
livro “Cidade de Deus e Cidade dos Homens”, duas figuras básicas para explicar o poder da 
Igreja e do Imperador. O Papa (bispo de Roma) com a justificativa ideológica do Primado 
de Pedro toma o poder sobre os demais bispos e se configura em um novo “imperador” com 
vestes, títulos, tiara e cetro (báculo). 
(Primado quer dizer: superioridade, ter vantagens sobre os outros, etc.). 
Surge então, duas escolas filosóficas, a Patrística e a Escolástica. Patrística, de 
acordo com o pensamento de Agostinho, o qual acreditava que a história humana é toda controlada 
pela vontade de Deus; que já determinou tudo o que faremos e seremos. Estabelece assim, os 
princípios do bem e do mal, seguindo Platão, e cria a teoria da iluminação, o homem recebe de 
Deus o conhecimento das verdades eternas: tal como o sol, Deus ilumina a razão e torna possível o 
pensar correto. 
São Tomás de Aquino faz uma conciliação entre a Fé e a Razão, na Escolástica, 
segue o pensamento de Aristóles, com base na lógica, na teoria do conhecimento, na moral e na 
física. Neste sistema filosófico suas principais idéias eram “a razão deve servir a fé”. Nos 
devemos buscar entender a razão dos mistérios, mas nunca opor “razão e fé”, pois a Fé ainda 
suplanta a razão. A filosofia escolástica tornou-se eminentemente católica e religiosa reforçando 
cada vez mais os dogmas (pontos fundamentais de uma crença) de fé vigente que a Idade 
Média realizou. A afirmação “EXTRA ECLESIA NULLA SALUS” – “Fora da Igreja não há salvação” – 
era uma realidade em todos os momentos da vida. 
 
COMO ERA O CORPO NA IDADE MÉDIA 
O corpo, ao lado dos escravos, da plebe e das mulheres, era algo a ser sutilmente 
disciplinado pelo cidadão. O olhar que a sociedade voltava para ele (o corpo), estabelecia normas 
reguladores da convivência entre o mundo socialmente organizado (representada pela cidade). 
Existia um dualismo benevolente, não condenava, por exemplo, a homossexualidade – mas 
condenava nela a atitude feminina, indigna do cidadão romano. 
Tal como a sociedade, o corpo existia para ser administrado, e não modificado. 
Com o advento do Cristianismo, a alma passou a ocupar o lugar do espírito em sua 
oposição ao corpo. Os antigos romanos não acreditavam numa alma mortal, que sobreviveria ao 
corpo após a morte, embora algumas pequenas seitas sustentassem essa idéia. 
A concepção judaico-cristã trouxe não apenas a noção de uma alma que continua 
no além, mas de uma alma que, para se purificar e levar-se até Deus, exige o sofrimento 
do corpo. O corpo carrega em si a marca do pecado original: a mulher foi condenada aos 
sofrimentos do parto, e o homem a retirar da terra, com trabalhos penosos, o seu sustento. A 
religião Cristã é a religião do corpo sofredor – de todas as passagens da vida de Cristo, a que é 
enfatizada é a que diz respeito a sua crucificação, à agonia do corpo para a salvação das almas 
humanas. 
 
O CORPO NA IDADE MÉDIA ERA SEDE DO PECADO 
A Idade Média foi marcada pela opacidade (sombra) da carne pecadora e pelo peso 
esmagador do espírito de Deus habitando o corpo humano. O corpo medieval é um campo em 
que se digladiam as forças antagônicas (contrárias) do cristianismo, e ainda as 
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concepções pagãs, que nunca foram eficazmente reprimidas. É um corpo mortificado pelos 
longos jejuns dos dias santificados e empanturrado de comilança e bebedeira nos demais. 
 A Idade Média foi considerada a Idade das Sombras e durou três séculos. 
 As doenças que atingiam o corpo e as grandes epidemias eram consideradas expiação dos 
pecados cometidos ou, ainda, imputadas a possessões diabólicas. O corpo era o verdadeiro local de 
confronto entre o bem e o mal, entre o milagre e o pecado, o desejo e o castigo. 
Não era tanto sobre o corpo que pousava o olhar vigilante da Igreja, ele dirigia-se antes para 
o interior do coração humano. Pois se a carne era fraca e conduzida ao pecado, isto se devia apenas 
ao fato de que a vontade humana era renitente (teimosa) à Deus. Os fiéis eram convidados à 
introspecção (exame do interior), a vasculhar, em seus corações, quando havia pecado – por atos 
ou por vontade. 
Apesar do grande poder que a Igreja detinha durante o período medieval, ela nunca alcançou 
uma vitória definitiva sobre o paganismo europeu. Datas de antigas festas pagãs (como, por 
exemplo, a noite de 25 de dezembro) foram apropriadas pelo calendário cristão. Sendo uma religião 
monoteísta (que acredita em só Deus), o cristianismo precisou preencher o panteão (templo 
consagrado pelos gregos e romanos a todos os deuses) de divindades gregas, já fortemente 
enraizado na cultura européia, com um número cada vez mais crescente de Santos. 
 
IDADE MÉDIA 
Quando o império romano cai sob os ataques dos povos Bárbaros, a Igreja já tem 
poder suficiente para empreender a catequese destes povos e conservar, ainda que de 
maneira transfigurada, (transformou, fez uma mudança) nas principais instituições do império 
romano. Faz do chefe bárbaro um imperador e impõe sobre ele a doutrina cristã, erigindo-se 
(levantar, construir – dar um direito que não possui) como a nova realidade do mundo que ela 
mesma erigia: A Idade Média. 
 
Os povos Bárbaros 
Praticavam a religião politeísta, pois adoravam deuses representantes das forças da 
natureza. Odin era a principal divindade e representava a força do vento e da guerra. Para estes 
povos havia uma vida após a morte, onde bravos guerreiros mortos em batalhas poderiam desfrutar 
o paraíso. A mistura da cultura Germânica com a Romana formou grande parte da cultura 
medieval, pois muitos hábitos e aspectos políticos, artísticos e econômicos permaneceram durante 
toda a Idade Média. 
 
Quem foram os Bárbaros? 
Anglos Saxões – (Escócia, Inglaterra, Irlanda); 
Saxões – (Alemanha, Holanda, Austria); 
Francos – (França); 
Lombardos – (norte da Itália); 
Visigodos –(Itália- região de Gália); 
Ostrogodos –(região atual da Itália); 
Vândalos – (África); 
Sarracenos – (Espanha e Portugal, vieram do norte da África) 
 
(Os Sarracenos vieram do Norte da África, atravessando oestreito de Gilbratar, a Península 
era formada por Portugal e Espanha, anos 711 e governaram por oitocentos anos). No Sul de 
Portugal o Islã deixou marcas profundas. Os árabes introduziram obras científicas, como a química, 
a medicina e a matemática. O sistema de numeração ocidental é de origem Árabe. A influência no 
meio rural foi muito importante introduzindo técnicas de como regar, mudas de novas plantas como 
limoeiro, laranja, amendoeira, arroz, cultura da oliva – o azeite – grandes pomares de frutas: uva, 
figo, maçã, tudo na Região Mediterrânea. Muitos instrumentos científicos, utensílios diversos. Foram 
derrotados por lutas internas e pelas cruzadas que lutavam em nome de Deus para recuperarem as 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 14 
 
terras e destruir os hereges. O avanço dos cristãos, comandados pelo Clero (Roma) , durou seis 
séculos.). 
 
IDADE MÉDIA: A CRISE DO EXERCÍCIO FÍSICO 
Uma vez desaparecida a ginástica higiênica, o único vislumbre de preparação física intensa 
durante o período medieval foi à levada a cabo pelo Cavaleiro Feudal, orientada para a guerra, 
torneios e justas. A crise que a educação física atravessou durante o longo período que vai do 
século VI ao século XIV deveu-se fundamentalmente ao espiritualismo imposto pela 
Igreja, que procurava prioritariamente a saúde (ou salvação) da alma, condenava o 
orgulho da vida terrena e menosprezava toda a atividade físico-desportiva. O fato de o 
cristianismo associar, em geral, a barbárie dos espetáculos romanos, onde os crentes tinham sido 
objeto de inúmeros sacrifícios sob o Império Romano, à atividade física de caráter lúdico influenciou 
de forma negativa a imagem do desporto. Assim, o atletismo, por exemplo, que tinha sido à 
base da educação física na Grécia antiga, praticamente desapareceu na Idade Média. 
Por isso, como expoente quase único da educação física pode citar-se o treino que os jovens 
recebiam para se tornarem cavaleiros, depois de passarem, desde crianças, pelas categorias de 
pajem e escudeiro. Na sua preparação aprendiam esgrima, equitação, tiro, luta, natação e outras 
habilidades físicas. A concreção dos ideais de cavalaria tinha como marco as justas (confrontos entre 
dois cavaleiros) e torneios (verdadeiras batalhas que dois grupos de cavaleiros enfrentavam). 
Também adquiriram grande importância os jogos de bola, sobretudo a Palma (tênis) e a SOULE 
(futebol). 
 
III - O CONFLITO ENTRE O SAGRADO E O MUNDANO: O CORPO QUE ORA, O CORPO QUE 
TRABALHA, O CORPO QUE VAI PARA A GUERRA 
 
A visão grega sobre o corpo humano muda na Europa da Idade Média. A partir do Século X 
quando as invasões bárbaras terminaram, a Europa começou a se reorganizar politicamente e o 
cristianismo se tornou um dos elementos importantes dessa cultura. O corpo humano nesse período 
é associado ao mundo material, aos valores terrenos e é desprezado em relação aos valores 
espirituais. A força dos valores morais propagados pelo cristianismo, via igreja católica 
principalmente, privilegiam a Fé, a religiosidade e a espiritualidade. 
O corpo é visto como o oposto da busca do divino, do eterno uma vez que ele se 
torna símbolo do pecado, da tentação e do erro. Ainda desse período, e como exemplo 
desse privilegio espiritual sobre o físico, pode-se notar a valorização do sofrimento, do 
martírio, do sacrifício do corpo, como forma de elevação espiritual. 
Os religiosos que professavam o cristianismo, desprezavam a filosofia grega, sobretudo 
porque viam nessa a forma pagã de pensamento, uma porta aberta para o pecado, a dúvida, o 
descaminho e a heresia (doutrina contrária ao estabelecido pela igreja em termos de fé). 
 
A CONCEPÇÃO CRISTÃ DE CORPO 
No cristianismo o homem aparece com um ser conduzido pala providência divina. Nele se 
revela uma profunda dependência de Deus, numa relação de intimidade que difere muito em relação 
à concepção Platônica e, da de Aristóteles. 
Platão falava sobre uma vida futura, havia céu e inferno, castigos e recompensas. Basta 
saber o que é o bem para praticá-lo, basta saber o que é bondade para ser bom ( uma pessoa que 
conhece a essência da bondade sabe que só pode ser feliz se agir corretamente). O princípio da 
ÉTICA. 
Aristóteles semeia a concepção de alma como forma do corpo. O bem equivale à moderação 
das paixões estabelecendo como fonte ética à noção de que a felicidade era recompensa dos 
virtuosos. E estas paixões seriam submetidas a um julgamento pela lei, para compreender as 
limitações do ser humano. Surge então “o Caminho do meio”, o equilíbrio. 
Ambos influenciaram a religião cristã e, por muito tempo estes ensinamentos formaram a 
base da filosofia e antropologia cristã (estudo do homem como ser moral). 
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O CRISTIANISMO tem por finalidade a salvação individual do homem concreto (que tem 
um sentido real), e seu papel no universo. O CRISTO veio salvar o homem e não somente a 
alma. O homem é então um ser racional composto de alma e corpo. 
Relata Alfredo Bosi, a mensagem cristã não implica na oposição entre corpo e alma, mas em 
sua unidade. Pois Cristo, o filho de Deus, o Verbo divino, o princípio espiritual da criação, tomou 
para si o corpo humano e seus sofrimentos. Cristo religa o que o platonismo havia separado: o 
corpo ao espírito, o divino ao humano, fazendo-se visível diante dos nossos olhos carnais por 
meio de um corpo que logrará vencer mesmo a morte. 
A doutrina da ressurreição dos corpos no fim dos tempos, que sentido tem? Um sentido 
fundamental: o corpo não é um instrumento passageiro para o caminhar das almas de encarnação 
em encarnação, como acreditavam os seguidores de Platão; ao contrário, corpo e alma são 
indissociáveis, e é a sua separação que deve ser considerada um momento de agonia e 
passageiro. 
 
IV - O PENSAMENTO FILOSÓFICO RENASCENTISTA, O CORPO E O HOMEM COMO CENTRO 
DO DISCURSO (como tema principal); 
 
Período da história da Europa, aproximadamente entre os fins do Século XIII e 
meados do Século XVII (entre 1330 e 1650). Este período foi marcado por transformações em 
muitas áreas da vida humana, que assinalam o final da Idade Média e início da Moderna. 
O Renascimento é um dos sinais importantes de que a corrente pagã corria sob o caudaloso 
leito do cristianismo, mas não estava sufocada. O homem voltou a ser o centro das atenções, 
sua curiosidade intelectual levou-o a novos inventos, sua avidez por descobertas levou-o 
a novas terras, A sua alegria pela vida levou-o a construir castelos amplos e luminosos, a apreciar 
as artes com refinamento e a cuidar do corpo com dietas e exercícios. 
O Homem do Renascimento confiava no progresso e nas ciências de seu tempo. A religião 
foi revista e surgiram movimentos de contestação em seu próprio interior. A educação não se 
baseava mais na escolástica, mas foi buscar seus princípios nos autores clássicos, cujas obras são 
traduzidas. 
A invenção de Gutemberg (inventor da imprensa) propiciou a difusão das novas descobertas. 
A Terra perdeu seu status de centro de interesses da esfera divina, quando se verificou que ela 
girava humildemente ao redor do Sol. Assim como a natureza não era mais o sagrado intocável, não 
mais se concebia o corpo humano como moradora do Espírito de Deus – ambos podiam, portanto, 
ser investigados. 
Chamou-se “Renascimento” em virtude da redescoberta e revalorização das referências 
culturais da ANTIGUIDADE CLÁSSICA (Grega e Romana), que nortearam as mudanças 
deste período em direção a um ideal HUMANISTA e NATURALISTA. 
HUMANISMO – è a filosofia moral que coloca os humanos como primordiais, numa escala de 
importância. É uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas que atribuem a 
maior importânciaà dignidade, aspirações e capacidades, humanas, particularmente a Racionalidade 
(capacidade da mente humana que permite chegar a conclusões a partir de suposições). O 
Humanismo caracteriza-se por uma nova visão do homem em relação à Deus e, em relação a si 
mesmo. 
A “Revolução Humanista” ocorreu no meio social que tinha acesso às novas 
descobertas, às viagens e aos prazeres artísticos: o corpo que: exercitava-se 
galantemente, como a alma havia se exercitado antes era o corpo dos senhores, não o 
corpo dos camponeses, nem dos servos. Neste sentido, retoma-se o exemplo do ócio grego. 
Para a grande maioria da população, o domínio do cristianismo fazia-se sentir fortemente – fosse 
através do catolicismo, fosse através das novas vertentes “protestantes”. (o protestantismo foi 
fundado por Martinho Lutero, e são chamados também por evangélicos – Justificação pela Fé – 
contrariando assim a Igreja Católica, que defendia que a Fé se devia acrescentar as boas obras a fim 
de poder alcançar a salvação). 
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Entretanto, é no decorrer do Renascimento que o corpo humano começa a se 
descolar da carne; passa-se progressivamente do corpo exercitado (alegria de viver) ao 
corpo-dissecado (possibilidade de viver, pois a doença não era mais vista como 
manifestação da vontade divina – ou, antes, como complacência em relação aos desejos 
da carne – mas como um sintoma cuja causa e, logo, a cura, era orgânica). 
Este corpo dissecado, descrito em sua anatomia interna, é cada vez mais comparado a um 
mecanismo. 
No século XVII, Descartes reafirma a analogia (relação de semelhança entre 
objetos diferentes) entre o homem e a máquina. O método cartesiano, baseado na razão, 
influenciou todo o desenvolvimento científico posterior e estabeleceu as cisões tão bem 
conhecidas entre mente e corpo e entre teoria e prática. Dele vêm as noções difundidas de 
que “a inteligência se encontra no cérebro” e de que este é o órgão mais importante do corpo 
humano”, bem como a valorização do trabalho mental sobre o trabalho braçal, as distinções sociais 
entre o cientista/filósofo e o operário. 
 
RENASCIMENTO E HUMANISMO NA EDUCAÇÃO FÍSICA 
Após a Idade Média, o interesse que despertou a Cultura Clássica ( legado cultural greco-
romano), fez com que a educação física voltasse a ser apreciada no Renascimento e, sobretudo, 
pelo Humanismo a partir do século XVI . Influenciado por Petrarca e Rabelais, o médico humanista 
Jeronimus Mercurialis publicou em 1569 Arte Ginástica, obra na qual recuperou a teoria da 
ginástica greco-romana, sobretudo no sentido do exercício físico para a saúde. A atividade física 
orientou-se basicamente para a vertente Higiênica (ginástica higiênica, voltada para a prática 
do exercício apenas direcionada para a manutenção da saúde do indivíduo onde se desenvolviam 
habilidades para montar e desmontar um cavalo e habilidades semelhantes as executadas em circo 
pelos acrobatas) em detrimento da formação de atletas (aspecto que não se recuperaria até finais 
do século XIX). Baltasar de Castiglione, na sua obra O Cortesão, traçou a imagem do perfeito 
cavalheiro renascentista, incluindo inúmeras referências à educação física, que estava incluída no 
conceito de educação integral e servia para a expressão da personalidade do indivíduo. 
Com o avanço da medicina, voltou-se ao princípio grego do mens sana in corpore sano. 
Se recomendava os banhos, as dietas, os exercícios ao ar livre. O corpo tornou-se um objeto 
de estudo: a mente cartesiana dele toma distância e o analisa (decompõe-no em partes), disseca-o, 
esquematiza-o, separou o corpo de seu contexto pragmático e, se encontra os mesmos princípios 
morfológicos e funcionais, os cuidados do corpo generalizam-se. Sendo todos os corpos basicamente 
iguais, obviamente o que caracteriza a individualidade era a mente pensante. Mais uma vez o 
cartesianismo triunfava. 
 
V - CONCEPÇÕES A RESPEITO DA CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA E SEUS 
PRINCIPAIS PENSADORES 
 
A partir do século XVIII, o Século das Luzes (doutrina filosófica, religiosa e movimento 
cultural que se espalhou pela Europa durante o século XVIII e, que tinha a razão e a liberdade de 
pensamento como valores supremos). Apareceram inúmeros filósofos, pedagogos e pensadores 
que fixaram as bases da educação física moderna e influenciaram as escolas e sistemas posteriores. 
Assim, Jean Jacques Rousseau (1712-1778), influenciado por John Locke, é o precursor da 
pedagogia contemporânea. Na sua obra Emílio expôs as suas teorias, baseadas na educação 
da criança em contacto com a natureza, espontânea e autodidata. A educação física adquiriu 
grande relevância através de um método de aprendizagem indutivo («quanto mais fosse a 
atividade física, maior seria a aprendizagem»); também prestou grande atenção à psicologia 
evolutiva e ao respeito pelas leis naturais de desenvolvimento da criança, princípios muito 
valorizados atualmente. Segundo Rousseau, a criança, até aos 12 anos, devia realizar 
exercícios de educação sensorial: equilíbrios, habilidades manuais, orientação, etc. Este grande 
pensador de origem suíça influenciou decisivamente uma série de filósofos e pedagogos, tanto 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 17 
 
contemporâneos como posteriores, entre os quais cabe destacar Bassedow, Kant, Pestalozzi e 
Amorós. 
Bassedow (1723-1790) foi um destacado representante da pedagogia da ilustração 
e do racionalismo e precursor da educação física alemã, influênciou Muths e Jahn. Defendeu a 
importância da educação física e levou as suas teorias à prática na Escola Philantropinum (criada em 
1774), primeira escola na Alemanha onde os exercícios físicos fizeram parte do programa escolar. A 
sua didática estabeleceu a progressão do simples ao complexo e do parcial ao total. 
O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) dividiu a educação em física e prática. Mas o seu 
conceito da primeira incluía não só o desenvolvimento das qualidades físicas, como também 
componentes psíquicos, o desenvolvimento da inteligência, da memória, do caráter, da atenção, etc. 
O seu rigor pedagógico favoreceu o jogo com finalidade educativa, para fortalecer a criança e, 
educar os seus sentidos. 
O suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746- 1827), autor de inúmeras obras, matizou 
muitas idéias de Rousseau. Defendia a figura do mestre e a educação da criança na família e na 
sociedade (sem isolá-la na natureza, como aquele propunha). Visto que procurava o 
desenvolvimento harmônico dos diferentes âmbitos do ser humano, concedeu muita importância à 
educação física (duas horas por dia), tanto à natural e instintiva como à planificada e sistemática, 
ginástica elementar dada pelo educador. O cuidado da higiene, os passeios nas horas das aulas, os 
jogos desportivos e a atenção às necessidades de cada criança também fazem parte das suas 
teorias. É o precursor da ginástica analítica. 
O alemão Guts Muths (1750 -1839), influenciado por BasedoW, desenvolveu um método 
sistemático de Educação Física, reunido na sua obra “A ginástica da juventude” Dividiu o seu 
sistema de exercícios em fundamentos de força( saltos, corridas, luta), de agilidade ( natação, 
lançamentos, escalada, balanços, equilíbrio) e para a harmonia ( dança, marcha, ginástica).Os seus 
objetivos didáticos, era conseguir uma educação integral. Nas suas teorias a prioridade era o 
individualismo, a falta de livre iniciativa do aluno, a competitividade, a obsessão pelas marcas e 
pelos resultados. Muths influenciou o desporto moderno e a exaltação de sentimentos patrióticos 
através do exercício físico. 
Francisco de Paula Amorós y Ondeano, marquês de Sotelo (1770-1848), instruído e 
afrancesado, foi um dos precursores da Educação Físicaem Espanha, ao criar e dirigir o Instituto 
Pestalozziano de Madrid; perseguido durante a repressão o absolutista que teve lugar após a Guerra 
Peninsular, teve de exilar-se em França. Em Paris dirigiu o Ginásio Normal Militar, instituição a partir 
da qual difundiu as suas teorias inclusive no âmbito civil. Influenciado pelas idéias de Rousseau, 
Muths e dos Círculos Militares, estabeleceu um programa de Educação Física Militarista, pouco 
pedagógico e de difícil execução, com inúmeros exercícios acrobáticos. Os seus objetivos 
eram a saúde, o prolongamento da vida, o aperfeiçoamento das faculdades físicas, a melhoria da 
espécie e virtudes raciais e concedeu muita importância à concorrência de todos os sentidos. 
Merleau – Ponty ( Rochefort – sur – mer, 14 de março de 1906 – 1961) 
O pensador do século XX, sua filosofia nos faz compreender os estudos do corpo e sua 
relação com a ciência, com a arte e com a Educação Física. 
O corpo não é coisa, nem idéia, o corpo é movimento, sensibilidade e expressão 
criadora. Esta é, de um modo geral a concepção de corpo de Merleau Ponty, opondo-se à 
perspectiva mecanicista da filosofia e da ciência tradicionais e alinhando-se a uma nova 
compreensão do corpo e do movimento humano, baseando-se na compreensão das relações corpo-
mente como unidade e não como integração de partes distintas (separadas). 
Para Merleau-Ponty, o ser humano é o centro da discussão sobre o conhecimento. O 
conhecimento nasce e faz-se sensível em sua corporeidade 
 
VI - A REVOLUÇÃO INFORMÁTICA E O ESTABELECIMENTO DO CORPO VIRTUAL 
 
REVOLUÇÃO INFORMÁTICA 
A interação homem-computador e a emergência de novas tecnologias da informação, que 
criam a sensação de virtualidade e de experiências à distância, em meio ao frenesi dos apelos 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conhecimento
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 18 
 
simbólicos da indústria cultural vão constituindo formas de apreensão dos sentidos e relações nas 
quais e modificam radicalmente a condição humana e sua forma de constituir necessidades e valores 
que condicionem a condutas morais e éticas na sociedade. 
SEVCENKO (2002) diz: “Esse controle tecnológico pleno do ambiente em que vivem 
as pessoas acaba, por conseqüência, alterando seus comportamentos. Nessa sociedade 
altamente mecanizada, são os homens e mulheres que devem se adaptar ao rítimo e à aceleração 
das máquinas, e não o contrário.A nova civilização tecnológica deforma os corpos e o 
comportamento das pessoas, sujeitas a movimentos reflexos incontroláveis e a impulsos neuróticos, 
como modo pelo qual suas relações sociais, seus afetos e sua vida emocional são considerados por 
uma lógica que extrapola as fragilidades e a sensibilidade que constituem o limite e a graça da 
nossa espécie”. 
O desenvolvimento mais recente da Internet e a configuração da escrita, da imagem e de 
outros suportes em informação digitalizada, históricamente, representam uma mutação 
antropológica (uma mudança de comportamento da história natural dos homens), ficam 
modificadas, portanto, as estruturas relacionadas à produção de conhecimento que movem sentido 
de experiência, memória e condições de interação humana. 
 
CORPO VIRTUAL 
O corpo efetivo individual inscrito naturalmente na finitude do tempo e da morte vem sendo 
substituído cada vez mais pelo corpo virtual, acelerando ou eternizando, mutável ao menos, 
mutante, plástico até não poder mais. 
A exemplo disto temos: cirurgia estética, próteses, dopagem, manipulação genética, etc. 
Chega-se a uma nova etapa quando o corpo real se vê efetivamente transformado 
para assemelhar-se a um corpo previamente imaginado. 
As transformações do corpo, destinadas a substituir o corpo herdado da natureza por um 
corpo desejado e planejado pela mente, estiveram muito tempo limitadas por causa de meios 
técnicos rudimentares. Mas sob a pressão da pesquisa médica, as sua experimentação mesmo, 
pode-se, desde então, substituir órgãos do corpo por aparelhos mecânicos ou eletrônicos, próteses 
que remodelam o corpo e melhoram suas performances naturais. Diversas técnicas e injeção 
hormonal e de cirurgia acarretam até modificações biológicas do corpo, dos órgãos sexuais, de suas 
performances atléticas, etc. 
O corpo se torna, pois, um objeto vivo instrumentalizável que se pode dividir em 
pedaços, consertar, recriar, se desconsiderando um modelo absoluto. Assim têm-se 
assistido a um novo questionamento de um corpo perfeito definido por uma essência em 
benefício de um puro corpo do desejo; trabalhável ao infinito, disponível para as mais 
variadas fantasias. 
O virtual se refere a um imaginário que pode materializar-se no corpo de carne; no entanto, 
a imagem informatizada toma o lugar do corpo de carne. 
O conceito de virtual é que não se opõe ao real, mas, sim, a outro processo denominado 
atualização. 
 
CONSCIÊNCIA DE CORPO 
Todo conhecimento – inclusive o de si mesmo – passa pelo corpo. É o corpo que 
está envolvido no processo de compreender, de recordar, de se individuar. O corpo traz as 
marcas de sua história; sonhamos com corpos, projetamos em corpos, os arquétipos manifestam-se 
como corpos. Os deuses têm corpos, e ainda hoje imaginamos um Cristo cabeludo e um Deus de 
barbas brancas; foi preciso que o fizéssemos à nossa imagem, para que pudéssemos concebê-lo. 
A consciência de corpo é definida como a maneira pela qual a atenção sobre o corpo 
é distribuída e as pessoas diferem no quanto elas estão conscientes de seus corpos – 
algumas têm elevada consciência do corpo e outras nem tanto. Além disso, algumas áreas 
do corpo recebem consistentemente maior atenção do que outras e tal diferenciação 
parece ter um sentido psicológico. 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 19 
 
A consciência do corpo também está profundamente enraizada na história, recebe 
as determinações ideológicas através de modelos corporais definidos como “belos”, 
“fortes”, “saudáveis”, “desejáveis”. Vimos como o corpo foi e continua sendo manipulado pelo 
modo de produção capitalista e como o corpo produtivo se tornou também corpo consumível e 
consumidor. Os corpos “feios”, muito gordos, muito magros, sujos, deficientes, desajustados, são os 
corpos que não contribuem para a reprodução das relações de produção – e por isso são 
questionados, marginalizados. Não vendem, não dão lucro. 
Castellani conceitua: Consciência Corporal do Homem é a sua compreensão a respeito dos 
signos tatuados em seu corpo pelos aspectos sócio-culturais de momentos históricos determinados. 
É fazê-lo sabedor de que seu corpo sempre estará expressando o discurso 
hegemônico de uma época e que a compreensão do significado desse “discurso”, bem 
como de seus determinantes, é condição para que ele possa vir a participar do processo 
de construção do seu tempo e, por conseguinte, da elaboração dos signos a serem 
gravados em seu corpo. 
 
VII - CONCEPÇÕES A RESPEITO DA CORPOREIDADE E MOTRICIDADE CONTEPORÂNEA, 
MÍDIA, PADRÕES DE BELEZA E CORPOLATRIA 
 
A história nos mostra que o corpo sempre esteve em evidência, tanto para o homem como 
para a mulher, sempre de acordo com a época, e hoje ambos os sexos continuam a dar valor à 
cultura do corpo, a valorizá-lo pelo fator estético ou usá-lo como objetivo estético, mas, além disso, 
principalmente como meio de manter uma boa saúde. 
De acordo com as leituras realizadas, percebe-se que, até hoje o corpo foi reduzido a 
interesses diversos, esquecendo-se de seu significado próprio de ser humano, pois isto não tem 
importância enquanto o corpo for apenas um mero produto. 
 
O QUE É CORPOREIDADE? 
 Sempre se atribui pouco valor á corporeidade e isso ficou, mais evidente a partir do 
pensamento cristão e do pensamento intelectualizado dos filósofos epensadores da história. O 
homem espiritualizado e intelectualizado pouco valor atribui aos princípios da corporeidade. Com o 
passar do tempo, os interesses econômicos, políticos e sociais, fizeram com que o corpo se tornasse 
uma ferramenta de produção, que traria lucro e crescimento econômico ao meio no qual está 
inserido. 
A imagem da corporeidade de nossa cultura racionalizada, cientifizada e industrializada, 
reduz o corpo a um objeto de uso em conformidade com os interesses econômicos, políticos e 
ideológicos de outros grupos, não garantindo em modo a cultura do corpo. 
 
TENTATIVA DE DEFINIÇÃO 
Está associada ao corpo humano e ao comportamento motor ou ato motor. 
Segundo Feijó (1998) o corpo é a expressão da unidade da pessoa, o limite físico da 
personalidade, o território da liberdade subjetiva (o que se passa exclusivamente no 
íntimo da pessoa), a estruturação da autenticidade e da criatividade, bem como, a 
manifestação da presença e da influência da pessoa. 
Através de suas manifestações corporais o ser humano se comunica e se expressa, deixando 
transparecer suas carências, privações, necessidades, dificuldades existenciais e emocionais. Em 
cada palavra da linguagem corporal, cresce o diálogo entre os homens e o corpo proporciona 
diversas e sucessivas leituras. (Cunha, 1994). 
Falar de corporeidade é falar do ser humano, da vida, falar do que sou e da minha relação com os 
outros e com o mundo. 
 Cada corpo tem sua corporeidade que, no fundo, corresponde á sua arquitetura. A 
corporeidade é o que faz com que um corpo seja tal corpo. O organismo humano, como uma espécie 
viva, tem sua própria corporeidade. Mas cada indivíduo, segundo a engenharia genética revela, 
possui uma corporeidade própria. 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 20 
 
 O conceito de corporeidade situa o homem como um corpo no mundo, uma totalidade que 
age movida por intenções. É só através do corpo que a manifestação se dá, e esse corpo, 
aliado a essa manifestação no mundo, é o significado da corporeidade. 
É pela corporeidade que o homem diz que é carne e osso. Ela é a testemunha carnal 
de nossa existência. A corporeidade integra tudo o que o homem é e pode manifestar 
neste mundo: espírito, alma, sangue, ossos, nervos, cérebro. 
 
CORPOREIDADE – também entendida como corpo ativo neste novo século. 
De acôrdo com Merleau-Ponty “O mundo é não aquilo que eu penso, mas aquilo que 
eu vivo; eu estou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o 
possuo, ele é inesgotável”. 
O corpo ativo é o da corporeidade vivida, em que o ser pensa o mundo, o outro e a si mesmo 
na tentativa de conceber essas relações, na tentativa de reaprender a ver a vida e o mundo. 
 
ASSIM, ENTÃO QUE CORPO IREMOS QUERER TER ? 
 Neste sentido, ao longo de sua existência o homem conseguiu muitos avanços, 
principalmente na área científica e tecnológica. Com isso conseguiu conquistar seu espaço enquanto 
ser, mas acabou por esquecer de apreciar sua condição corpórea, ou seja, não reconheceu seu 
corpo em sua totalidade. 
Com a corporeidade sendo sufocada pelos inventos tecnológicos, científicos e pela indústria 
do lucro, o homem acabou assumindo, seu corpo segundo os moldes da ciência, da técnica e da 
sociedade. Com isso o movimento acabou tornando-se, na maioria das vezes, um gesto mecanizado 
e não um gesto de criação e expressão natural do homem enquanto ser, “tanto na escola quanto no 
meio em que estamos inseridos”. 
Hoje o que vivenciamos tanto na sociedade quanto na escola é uma tentativa do ser humano 
definir o seu corpo, mas isso se dá principalmente em atividades que possam preparar somente o 
corpo humano para o mercado de trabalho, “sendo um equívoco”, pois estamos longe de reconhecer 
o corpo como totalidade, ou melhor, de aceitar a vivenciar a corporeidade em nosso dia-a-dia, tanto 
nas atividades profissionais como sociais e de lazer. 
Somente através da corporeidade podemos dirigir nossa compreensão de corpo a 
além do físico, pois a dimensão corpórea se faz tanto em valores estéticos, como ético, 
espiritual e físico/social. E é desse corpo que o aluno e o cidadão precisam – o corpo vivido em 
sua corporeidade, ou melhor, sua totalidade enquanto ser – que se expressa de forma criativa 
natural e espontânea, tanto dentro como fora da sala de aula. 
O corpo constrói seus valores a partir do que se experiência e vive, em suas 
relações com o outro, com a sociedade e os objetos de relação social, política e 
econômica. Tudo isso reverte ao corpo um saber próprio, de existência e de relação com o mundo. 
Infelizmente para a sociedade capitalista, o saber corporal não tem muita significação, pois 
prevalece o intelecto. Esse raciocínio leva a afirmar que, “o saber construtivo pelo corpo não merece 
confiança, somente o saber que vem da razão”, (Santim, 1992). 
 
O QUE É MOTRICIDADE? 
A idéia de motricidade está ligada ao movimento do corpo e sua conduta motora que é o 
movimento intencional, com sentido, significado, temporalidade (que dura certo tempo) e 
espacialidade (o espaço que o corpo ocupa) 
A motricidade emerge da corporeidade e a conduta motora pode ser considerada como 
comportamento motor enquanto portador de significação, de intencionalidade, de consciência clara, 
de vivência e “com-vivência”, numa dialética entre o intrapessoal (próprio de cada pessoa) e o 
interpessoal ( que se realiza entre duas pessoas). 
Fonseca (1996) ressalta que “o essencial é a intencionalidade, a significação e a 
expressão do movimento, e desta forma o movimento põe em jogo toda a personalidade 
do indivíduo”. A motricidade é a projeção de um mundo (o próprio homem) em outro 
Apostila de Corporeidade e Motricidade Humana 
Profª Maria Luiza Pereira Solha 21 
 
mundo (envolvimento), sendo, portanto inconcebível perceber o homem sem movimento 
e envolvimento. 
A motricidade humana também é entendida como capacidade de movimento do ser humano 
para a transcendência (para o elevado, o sublime, fora do alcance da ação ou do conhecimento) e 
como agente e criadora de cultura (Sergio,1987). 
O corpo é o princípio e a condição estruturante da existência humana e o veículo do 
ser no mundo. Dessa forma ele não pode ser encarado somente pelo ponto de vista físico ou 
“coisificado”, mas dentro de uma perspectiva mais ampla já que não estamos no mundo diante do 
nosso corpo, estamos no nosso corpo, ou melhor, nos somos o nosso corpo. (Merleau-Ponty, 1994). 
O corpo é nosso referencial com o mundo. É por meio dele que existimos e nos 
relacionamos com os demais. Para que então dissociá-lo da mente, do intelecto, dos 
pensamentos, dos sentimentos? A mente não existe sem o corpo e este não existe sem a mente 
(alma) . Mente-corpo vivem juntos e, existem ao mesmo tempo num mesmo ser. O cérebro-mente 
que comanda os movimentos, as ações, os pensamentos, as emoções do ser humano, apesar de o 
homem ser essencialmente corporal. Pelo corpo, manifestamos aspectos de nossa existência, cultura 
e sociedade. Relacionar corporeidade, conhecimento e vivência do corpo à educação é um caminho 
necessário para articular conceitos centrais de uma nova visão pedagógica. 
“O Homem é um ser em movimento que faz acontecer sua corporeidade, na arte, na 
linguagem, na fala, nos gestos e nas expressões da sua motricidade”. 
 
O MOVIMENTO 
O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. 
O movimento e, conseqüentemente o corpo, constituem por excelência, a matéria-prima da 
Educação Física. Lidar com o ser humano implica em considerá-lo sob variados aspectos, entendê-lo 
como um processo constante de construção sociocultural. Em outros termos, os conteúdos da 
Educação Física implicam em ideologias, valores e representações histórico-culturais que devem ser 
cuidadosamente

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