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APOSTILA DE CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA - 2012

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Apostila de Corporeidade 
e 
Motricidade humana
Cursos de Educação Física e Fisioterapia
Universidade UNIP
Profª Maria Luiza Pereira Sôlha
INTRODUÇÃO
Apresentamos nesta apostila um estudo decorrente de um processo histórico, no qual a nossa vida é vivida dia a dia, construindo e reconstruindo nossa identidade, no encontro (ou desencontro) com os outros, em um mundo que também está em acelerada transformação.
A busca de compreender o mundo, refletindo sobre a existência – sobre o nosso próprio destino, sobre o homem em sua humanidade, sobre os acontecimentos culturais, sociais e políticos do mundo em geral e da realidade brasileira, e sobre o sentido da educação – buscamos atingir uma maior compreensão do real, que nos sirva de apoio e orientação para as nossas atividades cotidianas. As nossas reflexões, como parte de nós mesmos, transformam-se à medida que nos transformamos.
Todo estudo que pretende abranger o fenômeno educativo movimenta-se, necessariamente, em dois níveis: o Filosófico e o Científico.
A educação, de maneira geral, pode ser definida como a prática dos meios adequados para desenvolver as possibilidades humanas. A questão “quais as possibilidades humanas?” Só pode ser respondida a partir de um posicionamento filosófico que busque uma compreensão da realidade humana e social. A questão “para que se educa?”, fundamental em qualquer reflexão sobre Educação em Geral e à Educação Física.
POR QUE FILOSOFIA?
Por ser muito importante para a formação integral de todos. Porque ao estimular a elaboração do pensamento abstrato (diz-se dos seres ou fatos imaginários), a filosofia ajuda a promover a passagem do mundo infantil ao mundo adulto. Se a condição do amadurecimento está na conquista da autonomia no pensar e no agir, muitos adultos permanecem infantilizados quando não exercitam desde cedo o olhar crítico sobre si mesmo e sobre o mundo.
O estudo de filosofia é essencial porque não se pode pensar em nenhum homem que não seja solicitado a refletir e agir. Isso significa que todo homem tem (ou deveria ter) uma concepção de mundo, uma linha de conduta moral e política, e deveria atuar no sentido de manter ou modificar as maneiras de pensar e agir do seu tempo.
E a Educação Física, nossa velha conhecida, tatuada ao longo de sua história como um estigma (que deixa uma marca) de DUALISTA e MECANICISTA, influenciada pelo paradigma cartesiano, que domina tanto a ciência como a educação nestes últimos séculos, teve e tem em sua caminhada, especialmente nas duas últimas décadas, movimentos e momentos que caracterizam sua evolução. Surgiram neste período, renomados teóricos, divulgando seus trabalhos, que, com certeza trouxeram contribuições para esta área e outras, como a fisioterapia por exemplo.
Iremos desvendar um mundo de conhecimentos que nos levará a reflexão sobre a problemática do homem moderno e de sua corporeidade na sociedade desde a Antiguidade Grega até os dias de hoje. O homem que cultua o corpo que já se transforma em cibernético, e as doenças modernas causadas pelo excesso de individualismo, egocentrismo, e má alimentação, prejudicando a nossa qualidade de vida e o nosso futuro. E viver com qualidade de vida é o grande desafio para o século XXI, pois vivemos em um mundo intensamente ativo, com mudanças constantes e de forma rápida.
A abordagem filosófica, nesta apostila, propicia a compreensão da problemática do homem, que sempre foi alvo do pensamento de filósofos de diferentes épocas, e suas reflexões auxiliam-nos a compreender nós mesmos e o mundo.
A partir desta leitura iremos perceber a complexidade deste tema, Consciência Corporal, que não se resume em conhecer, ou mesmo “dominar” o próprio corpo, mas em ter a consciência de que “somos um corpo” e que toda a atitude do ser humano é corporal. Somos um ser que pensa, sente e age, com certeza entenderemos que, somos livres.
VAMOS COMEÇAR CONCEITUANDO:
O que é Filosofia?
A palavra “Filosofia” aparece na Grécia do século VI a.C. nos escritos de Pitágoras, que não querendo definir-se como “sábio” – em grego “SOPHOS” – prefere autodenominar-se “Filos-sophos” – ou seja - “ amigo do saber”, aquele que busca a sabedoria, “amante da sabedoria”, para ele esta denominação seria mais humilde e fiel “uma postura de tentar compreender a realidade total”.
No seu começo, a ciência estava ligada à Filosofia, sendo o filósofo o sábio que refletia sobre todos os setores da indagação humana.
A partir do século XVII, a revolução metodológica iniciada por Galileu promove a autonomia da ciência e o seu desligamento da filosofia. Pouco á pouco, desse período até o século XX, aparecem às chamadas ciências particulares: física, astronomia, química, biologia, psicologia, sociologia, etc. - delimitando um campo específico de pesquisa.
Conceito de Filosofia.
Filosofia é o estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, verdade, dos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem.
 O que a Filosofia produz?
Ela produz conceitos, uma forma racional de equacionamento dos problemas vividos no mundo. 
No que consiste a Filosofia?
Um conhecimento sistematizado sobre o mundo da natureza, sobre a condição humana pessoal e social, sobre a sociedade, sobre a cultura. Em termos gerais é uma ciência humana.
O que é ciência?
Ciência é o conjunto organizado de conhecimentos fundados em princípios certos.
O que a ciência produz?
Produz funções, que organizam os fatos observados através de relações de causa e efeito (coisas que produzem uma reação).
O que é Filosofia da Educação?
Investigação sobre os ideais que dominam a teoria e políticas educacionais. As questões centrais são: o que é útil ou necessário para ensinar e, quais são as melhores maneiras de fazê-lo.
O que é Fisioterapia?
Sistema terapêutico que emprega recursos da natureza (água, sol, calor, gelo, etc.), massagens e exercícios físicos.
O que é Educação Física?
A Educação Física é uma das áreas do conhecimento humano ligada ao estudo e atividades de aperfeiçoamento, manutenção ou reabilitação da saúde do corpo e mente do ser humano, além de ser fundamental no desenvolvimento do ser como um todo. Ela trabalha, num sentido amplo, com prevenção e cura de determinadas doenças humanas num contexto terapêutico e também é fundamental na formação básica do ser humano, devido a sua atuação no contexto psicossocial (aspecto comunicativo do ser humano para a vida social e cultural), no conhecimento corporal (conhecimento do próprio corpo) suas possibilidades de ação e suas limitações.
É um processo educativo que se relaciona diretamente com o corpo e com os movimentos do ser humano na sua articulação com os fenômenos sociais. Assumindo historicamente uma relação dialética com a sociedade em que se constitui recebendo, assim, o seu verdadeiro sentido. Ao longo da história, o corpo representou diferentes papéis, adquiriu significados diversos e foi utilizado, muitas vezes como instrumento de poder e de veiculação de ideologias dominantes.
Na Educação Física ainda hoje se encontra a concepção dualista do homem. Concepção esta marcada por uma profunda DICOTOMIA (divisão de dois ramos) entre corpo e alma, ignorando a globalidade do ser humano, ao visualizar o corpo como algo independente, dissociado do sujeito como um todo, que tem com a alma uma relação completamente distinta.
Concepções Filosóficas que influenciaram a Educação e a Ciência.
1. Filosofia Cartesiana (é utilizada para designar coisas aparentadas mais distintas)
2. Filosofia Bergsoniana (positivista-espiritualista)
I - INTRODUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITUAL SOBRE O FENÔMENO DA CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
A História destas Filosofias
No século XVI surgiu René Descartes (1596-1650), cujo nome latino era Cartesius. Filósofo e matemático, criou a Filosofia Cartesiana. Queria disciplinar a ciência e isso só seria possível com um bom método. Esse método seria universal, inspirado no rigor matemático e racionalista. È considerado o “pai da filosofia moderna”.
O MÉTODO
Seria um instrumento,que bem manejado levara o homem à verdade, esse método consiste em aceitar apenas aquilo que é certo e evidente e conseqüentemente eliminar todo o conhecimento inseguro ou sujeito a controvérsias (que não cause polêmicas). O fundamento principal da Filosofia Cartesiana consiste em pesquisas da verdade, com relação à existência dos “objetos”, dentro de um universo de coisas reais.
O método está fundamentado no princípio de jamais acreditar em nada que não tivesse fundamento para provar a verdade. Com essa regra nunca aceitara o falso pelo verdadeiro conhecimento de tudo. Descartes, assim instituiu a DÚVIDA; só pode dizer que existe aquilo que possa ser provado, (converteu a dúvida em método).
DEUS – é a idéia de um ser perfeito: se um ser é perfeito, deve ter a perfeição da existência, senão lhe faltaria algo para ser perfeito. Portanto, ele existe. 
O MUNDO
Se Deus existe e é infinitamente perfeito, não me engana. A existência de Deus é garantia de que os objetos pensados por idéias claras e distintas são reais. Portanto, o mundo tem realidade. E dentre as coisas do mundo, o meu próprio corpo existe.
Podemos perceber, nesse rápido relato, uma tendência forte e absoluta de valorização da razão, do entendimento, do intelecto. (baseado na ordem e na medida, permitindo estabelecer cadeias de razões).
Coloca em dúvida sua própria existência, para chegar a uma certeza sobre a concepção de homem, o qual faz um novo pensar sobre a problemática (homem), considerando duas principais substâncias existentes, que são o CORPO e a ALMA, que se unem em uma união fundamental, porém distintas entre si (DUALISMO CARTESIANO).
O homem é um ser duplo, composto por substância pensante e uma substância extensa. O corpo é uma realidade física e fisiológica e, como tal, possui massa, extensão no espaço e movimento, bem como desenvolve atividades de alimentação, digestão, etc., estando, portanto, sujeito às leis deterministas da natureza. Por outro lado, os fenômenos mentais não apresentam, extensão no espaço nem localização. As principais atividades da mente são recordar, raciocinar, conhecer e querer; portanto, não se submetem às leis físicas, mas são o lugar da liberdade.
Estabelecem-se, então, dois domínios diferentes: o corpo, objeto de estudo da ciência, e a mente, objeto apenas da reflexão filosófica.
Noção cartesiana de corpo-máquina ou corpo-objeto. A Filosofia cartesiana é marcada, de um modo geral, pelo MECANICISMO (o mecanicismo é defendido pelo DEÍSMO, que sustenta que o universo é um mecanismo, o qual pressupõe a existência de um ser não mecânico (DEUS), assim como o relógio pressupõe a existência do relojoeiro que o construiu).
CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DE BERGSON
Bergson foi o Filósofo da intuição – Positivismo no século XIX recebeu o prêmio Nobel de Literatura por ser o pioneiro do espírito novo do nosso tempo.
A abordagem filosófica faz fundamentar sua METAFÍSICA (ciência ou conjunto das ciências que estudam a essência das coisas, os primeiros princípios e causa do que existe), Filosofia Positivista – espiritualista, que se constitui de quatro elementos: Impulso vital, evolução criadora, duração e intuição.
Bergson criticou a inteligência como a única mantenedora da verdade e percebendo a INTUIÇÃO (percepção clara e pronta sem auxílio do raciocínio), entendendo esta como a solução para esta limitação do Dualismo (corpo e alma), “somente a intuição reencontrando a vida e os aspectos dinâmicos da realidade, permite-nos ultrapassar a inteligência”. 
Nesse contexto filosófico, Bérgson inaugura de forma espetacular as noções de: orgânica, holística e ecologia. O Universo deixa de ser visto como uma máquina e passa a ser descrito como um todo dinâmico, que não pode ser dividido e, que está tudo interligado, sendo visto como modelos de um processo cósmico.
Sintetizando seu pensamento filosófico pode-se dizer que há um impulso de vida que cria e se desenrola num tempo real, culminando no aparecimento do ser humano constituído de: consciência, memória e liberdade.
Bergson entende que a realidade dura, ou seja, existe um movimento dinâmico de ininterrupta criação. Essa duração percebe-se, intuitivamente, em primeiro lugar, em nós mesmos como um “Eu” por isso, ela é essencialmente consciência, memória e liberdade.
Bergson repudia o MATERIALISMO ( concepção que considera a matéria como única realidade e que nega a existência da alma, de outra vida e de DEUS).
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA.
A corporeidade é a compreensão do nosso corpo além do físico, pois a dimensão corpórea se faz tanto em valores estéticos, como ético, espiritual e físico/social. E a motricidade está ligada ao movimento do corpo e sua conduta motora (conjunto de funções que permitem o movimento e deslocamento do corpo).
A forma de o homem lidar com sua corporeidade, os regulamentos e o controle do comportamento corporal não são universais e constantes, mas, sim, uma construção social, resultante de um processo histórico. O homem vive em um determinado contexto social com o qual interage de forma dinâmica, pois, ao mesmo tempo em que atua na realidade, modificando-a, esta atua sobre ele, influenciando e, até podemos dizer, direcionando suas formas de pensar, sentir e agir.
Assim, as concepções que o homem desenvolve a respeito de sua corporeidade, e as suas formas de comportar-se corporalmente estão ligadas a condicionamentos sociais e culturais. A cultura imprime suas marcas no indivíduo, ditando normas e fixando ideais nas dimensões: intelectual, afetiva, moral e física, ideais esses que indicam à Educação o que deve ser alcançado no processo de socialização. A cultura se caracteriza por conhecimentos básicos adquiridos, indispensáveis para o entendimento de qualquer ramo do saber humano.
O corpo de cada indivíduo de um grupo cultural revela, assim, não somente sua singularidade pessoal, mas também tudo aquilo que caracteriza esse grupo como uma unidade. Cada corpo expressa a história acumulada de uma sociedade que nele marca seus valores, suas leis, suas crenças e seus sentimentos, que estão na base da vida social.
Ao longo da história humana, o homem apresenta inúmeras variações na concepção e no tratamento de seu corpo, bem como nas formas de comportar-se corporalmente, que revelam as relações do corpo com um determinado contexto social. Desse modo, variam as técnicas corporais relativas:
a) Aos movimentos como andar, pular, correr, nadar, escalar, subir, etc.:
b) Os movimentos corporais expressivos (posturas, gestos, expressões faciais), que são formas simbólicas de expressão não verbal;
c) A ética corporal, que abrange idéias e sentimentos sobre a aparência do próprio corpo (pudor, vergonha, idéias de beleza, etc.);
d) O controle de estrutura dos impulsos e das necessidades.
 Esses quatro aspectos não só diferem, em sua ordenação e em sua coordenação, de sociedade para sociedade, como também, dentro da mesma sociedade, conforme o sexo, a idade, a religião, a ocupação, a classe social e outros fatores socioculturais.
A partir da compreensão da relação social do ser humano com o seu corpo, ao longo da história, e do papel da Educação Física nesse processo, percebemos que parte do que se vive hoje pode ser considerado reflexo de algo que já foi vivido no passado. Torna-se necessário este resgate histórico, porque segundo Bruhn (1994), “o corpo aprende e é cada sociedade específica, em seus diferentes momentos históricos e com sua experiência acumulada que o ensina”.
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Tudo começou quando o homem primitivo sentiu a necessidade de lutar, fugir ou caçar para sobreviver. Assim o homem à luz da ciência executa os seus movimentos corporais mais básicos e naturais desde que se colocou de pé: corre, salta, arremessa, trepa, empurra, puxa e etc.
A prática de atividades físico-desportivas foi  e continua a ser uma das constantes do comportamento humano. A manifestação cultural da atividade física produziu-se de formas diferentes, em função das necessidades sociais e dos objetivos estabelecidos em cada período histórico ecivilização: assim, tem sido vista como atividade utilitária que possibilita a sobrevivência; como preparação para a guerra; como meio de invocação religiosa; como jogo ou atividade recreativa e de ócio; como método de educação física para a saúde; ou então como desporto espetáculo e de competição. Hoje em dia, para poder entender o conceito de educação física é conveniente conhecer a influência que as distintas civilizações exerceram sobre ela ao longo dos séculos. Dependendo do seu objetivo, cada cultura estabeleceu um modelo de educação física diferenciado, que em muitas ocasiões ainda perdura.
UM BREVE RESGATE HISTÓRICO PARA ENTENDIMENTO
O valor da educação física na Grécia Antiga
Os gregos da Antiguidade conferiram ao exercício físico um papel de grande destaque nos vários âmbitos da vida social, como a educação, na qual a atividade física se complementava com a aquisição de conhecimentos, e a celebração das festas, nas quais os jogos atléticos, Helênicos (cultura helênica – resultou da fusão da cultura grega com a cultura oriental) fundamentalmente os Jogos Olímpicos tiveram especial qualidade. Tanto através da leitura dos grandes clássicos da poesia e da filosofia (Homero, Píndaro, Platão, Aristóteles, etc.) como através dos achados arqueológicos é possível perceber a importância que tiveram a educação física e a prática do desporto numa das grandes civilizações do Mundo Antigo. 
A Ilíada, a primeira obra-prima da literatura grega, e a Odisséia (ambas compostas por Homero provavelmente cerca do ano 800 a.C.) contêm inúmeras referências desportivas, como, por exemplo, a realização de jogos fúnebres em honra de personagens ilustres. É muito provável que exista uma relação entre as duas grandes obras homéricas e os Jogos Olímpicos, já que nas suas páginas aparecem quase todas as categorias olímpicas: corridas de carros (as designadas bigas), corridas, saltos, lançamentos do disco e do dardo, luta e pugilato; também existe uma intenção educativa, ao visar à honra e a perfeição ou, em suma, o Areté (virtude e moral como expressão do mais alto ideal cavalheiresco unido a uma conduta cortês e distinta e ao heroísmo guerreiro ), o ideal humano da virtude.
Quanto ao poeta Píndaro (518-43 a.C.) a sua mensagem educativa baseia-se no engrandecimento do vencedor desportivo, o qual é tomado como exemplo da perfeição; daí que as suas Odes triunfais (Olímpicas, Píticas, Nemeias e Istimicas) sejam dedicadas precisamente aos vencedores dos vários Jogos.
 EXERCÍCIO FÍSICO PARA OS GRANDES FILÓSOFOS
Por outro lado, Platão (427-347 a.C.), que tinha sido um lutador notável, deu grande importância ao desporto na educação dos jovens helenos. Na sua obra República defende que a música e a ginástica harmoniosa e simples - por esta ordem - são as duas disciplinas educativas que devem se combinar para alcançar a perfeição da alma. Desta forma é visível formar jovens equilibrados, que não serão nem brandos nem brutos. Neste caso, trata-se de uma ginástica com objetivos filosóficos e, como tal, oposta ao culto do corpo (de Aristóteles) O objetivo é impelir a alma para o bem através de um conceito estético e higiênico.
 	Aristóteles (384-322 a.C.) considerava como disciplinas educativas à escrita, a leitura, a ginástica, a música e, por vezes, o desenho. Acreditava que a ginástica era útil porque fomentava o valor, pela sua vertente competitiva, melhorava a saúde (idéia que o afastava do seu mestre Platão) e aumentava a força, protótipo das qualidades físicas. É curioso constatar como o grande filósofo de Estagira já alertava na sua época contra o perigo da especialização precoce e da busca prematura de campeões a qualquer preço (um tema tão em voga atualmente). Segundo ele, as crianças não deviam realizar treinos duros antes da puberdade, nem nos três anos seguintes, uma vez que isso prejudicava o seu desenvolvimento biológico; e lembrava que eram muito poucos os desportistas que, tendo sido destacados na idade juvenil, conseguiram serem depois campeões olímpicos. 
Pelo contrário, os Espartanos (Lacedemónios ou Lacónios) eram a favor de submeter às crianças a intensivos treinos.
Esparta versus Atenas, dois Conceitos de Educação Física 
 A Educação Física desempenhava um papel fundamental no sistema educativo grego, pois fazia parte do ansiado equilíbrio- harmônico entre as aptidões físicas e intelectuais. No entanto, convém estabelecer uma distinção entre dois conceitos opostos da educação física: a arcaico-aristocrática de Esparta e a clássico-democrática de Atenas.
ESPARTA 
A mentalidade espartana, fundamentalmente guerreira, orientava a educação física das crianças para o combate. Assim desde muito pequenos, tanto meninos como meninas recebiam em Esparta uma dura preparação física, na qual até se utilizava a crueldade. Já aos sete anos de idade eram separados dos seus pais e passavam a depender exclusivamente do Estado. Só as crianças de compleição forte eram consideradas dignas de receber educação; as débeis eram excluídas ou mesmo assassinadas. Os jovens exercitavam-se fora da cidade, no Dromos (lugar para correr), ou, dentro dos seus limites, na Palestra (recinto para a luta). Esparta foi a grande dominadora nas primeiras edições dos Jogos Olímpicos (sendo os velocistas especialmente admirados), mas com o passar do tempo a participação foi diminuindo, já que praticamente o seu único interesse radicava em preparar-se para a guerra.
ATENAS 
Pelo contrário, em Atenas, o conceito Educação Física era muito diferente. Desde os 14 anos, os rapazes exercitavam-se num recinto privado, a citada palestra, onde, sob os sábios conselhos do Pedótriba, praticavam salto, disco, dardo, solos (espécie de lançamento de peso), acrobacias, danças, etc.; inclusive existia uma teoria do treino, na qual se aplicavam os princípios da especificidade e individualização. Não são poucos os exercícios praticados naquela época que coincidem ainda com os da educação física escolar atual. Também existiam diversos sistemas de treino, cada vez mais especializados, bem como uma parte destinada ao aquecimento no início de cada sessão. 
O Pedótriba dirigia a instrução na palestra e era ajudado pelos alunos mais velhos. Utilizava sistemas de ensino autoritários baseados no «certo-errado». Cumpridos os 18 anos, o jovem passava para o colégio dos efebos e, a partir de então, o Estado encarregava-se da sua educação. Após a sua passagem pela palestra, os jovens atenienses dirigiam-se aos Ginásios, que viveram uma época de esplendor a partir do século IV a C.
O papel complementar dos Jogos Tradicionais 
Além do desporto e da educação física; os Gregos desfrutavam também dos jogos, não incluídos nos festivais de atletismo, que serviam para ocupar as horas de descanso e de ócio. Entre eles encontram-se inúmeros jogos tradicionais que, de uma forma ou de outra, perduraram até aos nossos dias; por exemplo: berlinde, aro, pião, macaca, balouço, tabas, saltar ao eixo, andar «a cavalo" com o colega, o ioiô, jogos de azar com dados, jogos de bola chamada EPISKIROS (era o futebol na Grécia antiga, século I a.C). A progressiva decadência da educação física na Grécia antiga surgiu a partir da crescente influência exercida pelos filósofos sofistas (distorciam o assunto, davam aparência de verdade), que se centravam exclusivamente na educação intelectual, em detrimento da cultura física.
O homem e sua corporeidade na História da Filosofia (O pensamento filosófico em diferentes épocas)
A história do pensamento filosófico, a problemática do homem e do seu mundo oscilou sempre entre dois pólos: o corpo e a alma, o conhecimento sensível e o conhecimento inteligível, o mundo da matéria e o mundo do espírito, a vida terrena e a vida ultraterrena.
A cisão entre esses mundos surgiu quando o pensamento filosófico, na Antiguidade Grega, atingiu sua maturidade, isto é, quando o homem deixou de preocupar-se primordialmente com o universo físico para problematizar sua própria realidade.
Com Sócrates (470-399, séc. V a.C.), o homem com suas qualidades, seus anseios, seus valorese suas crenças tornou-se alvo de questionamentos filosóficos. Sócrates proclama a razão do homem, para transcender (ir além, elevar-se acima do vulgar) às condições exteriores e encontrar o verdadeiro sentido das coisas, orientando sua ação moral. Nada deixou escrito, e teve suas idéias divulgadas por dois de seus discípulos, Xenofonte e Platão.
Sócrates se indispôs com os poderosos do seu tempo, sendo acusado de não crer nos deuses da cidade e corromper a mocidade. Por isso foi condenado e morto.
Costumava conversar com todos, fossem velhos ou moços, nobres ou escravos, preocupado com o método do conhecimento. Sócrates parte do pressuposto: “só sei que nada sei”, que consiste justamente na sabedoria de reconhecer a própria ignorância, ponto de partida para a procura do saber.
Seu método começa pela parte considerada “destrutiva”, chamada “ironia” (em grego, “perguntar”). Com hábeis perguntas, desmonta as certezas até o outro reconhecer a ignorância.
Por meio de perguntas, destrói o saber constituído para reconstruí-lo na procura da definição do conceito. Nem sempre Sócrates tem a resposta: ele também se põe em busca do conceito e às vezes as discussões não chegam a conclusões definitivas.
As questões que Sócrates privilegia são as referentes à moral, a coragem, a covardia, a piedade, a justiça e assim por diante.
Platão (428-347, V e IV a.C.), instala no pensamento filosófico uma profunda ruptura entre o mundo sensível e o mundo inteligível. De um lado, o mundo concreto, finito e transitório; do outro, o mundo ideal, eterno e imutável. Viveu em Atenas, onde fundou uma escola denominada Academia.
O mundo concreto torna-se mera aparência, cópia imperfeita do mundo inteligível (que só existe na idéia). Os acontecimentos humanos perdem sua consistência de ser, pois se torna puro vir-a-ser, aspirando a realizar a perfeição das idéias, paradigmas (exemplos) para os quais tenderia toda a cultura humana.
A sua idéia de natureza humana carrega em si a cisão desses dois mundos, separando o corpo da alma. O corpo, com suas inclinações e paixões, contamina a pureza da alma racional, impedindo-a de contemplar as idéias perfeitas e eternas. O corpo torna-se, assim, a prisão da alma, um obstáculo à realização do ideal de Bem e Verdade a que ela aspira. Em seus últimos escritos, entretanto, Platão já não atribui um papel tão negativo ao corpo, admitindo que o exercício possa ser benéfico para a alma, proporcionando o equilíbrio entre seus elementos, o corajoso e o filósofo.
Aristóteles (384-322 a.C, séc. IV), Nasceu em Estagia, na Calcídia (Macedônia). Freqüentou a Academia de Platão e a fidelidade ao mestre foi entremeada por críticas que mais tarde justificaria dizendo: “Sou amigo de Platão, mas mais amigo da verdade”. Os objetos concretos e os conceitos universais não constituem mundos separados como no pensamento platônico, mas, sim,” uma continuidade ininterrupta”. A forma, a idéia universal, não constitui um mundo à parte, mas está presente nos seres concretos, em estreita união com a matéria. 
Na constituição da natureza humana, a alma está presente como a forma, e o corpo, como a matéria. A alma é a forma do corpo, a causa final de sua conformação orgânica e o princípio do seu movimento, constituindo-se em sua força diretriz e motora.
Aristóteles reconhece o papel do corpo e dos sentidos no conhecimento, e o corpo não é considerado, como em Platão, o cárcere da alma. Não obstante, para ele, o homem é sobretudo um ser pensante e político, que deve dirigir sua vida pela razão. A educação moral é o objetivo prioritário de seu plano educativo. A educação dos impulsos pelo exercício é importante para a aquisição de virtudes, cuja formação é assegurada quando asa disposições naturais orientam-se em direção do BEM, isto é, tornam-se um hábito, constituindo uma segunda natureza.
Vendo o homem como um ser essencialmente contemplativo, Aristóteles, do mesmo modo que Platão manifesta um grande menosprezo pelo trabalho, principalmente pelo trabalho físico, que envolve o homem em sua corporeidade, por ser atividade ligada a matéria e pelo seu aspecto servil, constituindo-se em uma negação da própria natureza humana.
Toda a estrutura teórica da filosofia aristotélica desemboca na teologia ( estudo das religiões e das coisas divinas). A descrição das relações entre as coisas leva ao reconhecimento da existência de um ser superior e necessário, ou seja, DEUS. Aristóteles na busca dos conceitos que explicassem o ser em geral e que hoje reconhecemos como sendo assunto tratado pela filosofia denominada metafísica ( conhecimento das causas primárias). Continua no livro sentir, pensar, agir, pag.44
Platão na sua filosofia aponta para o mundo das idéias, enquanto dele discorda o discípulo Aristóteles, que “traz as idéias do céu à terra”. 
Aristóteles, funda em Atenas a Escola Liceu em 340 a.C, 
II - REFLEXÕES À RESPEITO DO CORPO GREGO
A beleza para o Grego consiste em uma amplitude muito maior do que hoje podemos supor. Ela é apenas um dos componentes do conceito ARETÉ – “virtude e moral como expressão do mais alto ideal cavalheiresco unido a uma conduta cortês distinta a ao heroísmo guerreiro”. (Jaeger, 1979). 
Em outros termos, a beleza não está restrita ao âmbito do corpo, mas se torna uma composição de atributos que sugere nobreza, força, amor-próprio, defesa dos amigos, da pátria, ou seja, de alguém que é capaz de compor-se como obra-de-arte (um ser perfeito).
Entenda-se bem que o “EU” não é o sujeito físico, mas o mais alto ideal de homem que o nosso espírito consegue forjar e que todo nobre aspira realizar em si próprio.
Só o mais alto amor deste “EU”, em que está implícito a mais elevada ARETÉ, é capaz de fazer sua beleza, (Jaeger, 1979).
Os gregos já davam maior importância à elaboração mental do que ao trabalho braçal – o que diferenciava, inclusive, a classe nobre, dos cidadãos, ociosa, e a massa escrava, a qual era considerada algo muito distante do homem ideal. Se as atividades físicas – na ginástica e nos jogos olímpicos – se desenvolveram, foi antes como apêndice instrumental ao crescimento do espírito, das idéias (no sentido platônico de um mundo abstrato perfeito, do qual a realidade seria apenas um reflexo mal-acabado). Com feito, naquelas atividades não estava implícita nenhuma relação com as atividades do mundo real, do cotidiano; eram mais um fator de distinção entre os que cultivavam o “mens sana in corpore sano” e os que exerciam as necessárias atividades produtivas da sociedade.
Os escravos cujo número não para de crescer assegurava o essencial do trabalho manual e a classe dos homens livres tende a separar-se de todo o trabalho diretamente produtivo. Atividades das classes dirigentes têm diversas formas desde um rico trabalho intelectual e de organização até atividades que poderemos reagrupar, por comunidade, sob o termo de repouso. Para os homens livres que desprezavam o trabalho manual, apenas estas atividades têm valor: a atividade física, a ginástica. É um verdadeiro modo de vida que permite a liberdade e a riqueza dos aristocratas.
Platão e Aristóteles, com suas concepções filosóficas sobre a alma, ambos compreendiam que o corpo não deveria ser desprezado. Ao contrário, ambos por vias distintas, afirmavam a importância da saúde do corpo para o bom pensamento. Assim surgiu um paralelo entre a filosofia e a medicina nascente. Afirmando a importância do corpo, os filósofos não se limitavam a pensá-lo conceitualmente, mas se dedicavam a discutir quais as melhores ações para a saúde, como regimes alimentícios e exercícios ginásticos.
O cuidado do corpo se traduziu na prescrição de dietas alimentares, atividade física, uma espécie de medicina preventiva, fica claro então que existia o “cuidado de si”, uma forma de articular e gerir a própria vida, preocupados com a saúde e a atividade corporal.
DECADÊNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA EM ROMA
Em Roma, tanto na época Republicana como na Imperial, quebrou-se o conceito integral da educação física, que se limitou a uma ginástica higiênica (voltada para a práticado exercício apenas direcionada para a manutenção da saúde do indivíduo – habilidades de montar e desmontar um cavalo e habilidades semelhantes às executadas em um circo pelos acrobatas) e de saúde em termas e palestras. A preparação física só fazia parte da instrução dos soldados a partir dos 14 anos. Cultivava-se o pragmatismo (doutrina segundo a qual o verdadeiro é o útil, ou seja, o critério da verdade é retirado da utilidade prática de uma idéia), e desejava-se a beleza, a técnica e o prazer desportivo. Ao contrário do que tinha sucedido na Grécia, no mundo romano primava o jovem como espectador dos grandes espetáculos do Circo (Iudi) e do Anfiteatro (munera), cada vez mais populares e numerosos. Desvinculados do caráter religioso que tiveram na civilização Helênica (grega).
Estes espetáculos adquiriram uma função política, sobretudo sob o Império. De fato, já no ano 105 a.C., durante a República, o Senado instituiu oficialmente o combate de gladiadores como espetáculo nacional. No cenário do anfiteatro os gladiadores profissionais enfrentavam-se entre si (mirmilões, reciários, trácios, samnitas), ou então contra as feras, embora também houvesse lutas entre animais. Tudo isto com uma crueldade extrema e com um final que normalmente significaria a morte de um dos combatentes. Existiam escolas de treino de gladiadores, que freqüentemente eram presos, cristãos, ou escravos, mas também homens livres em busca de fama. Estas lutas terminaram no século IV d.C. com o Edito de Milão (documento que confirma a tolerância religiosa no Império Romano). Entre o público romano, também tiveram grande continuidade as corridas de carros (sobretudo, as quadrigas, puxadas por quatro cavalos e conduzidas pelos aurigas) que se realizavam nos circos (como o Máximo, cuja etapa de esplendor se situa entre os séculos I a.C. e I d. C.), num percurso aproximado de quatro quilômetros. 
A Antiga Roma segue o modelo grego do ócio, não trabalho, o qual, na verdade, vai permanecer durante muitos séculos. Somente com o capitalismo, o valor social do trabalho passará a ser enaltecido. A Antiguidade, nas palavras de Paul Veyne, “ foi a época da ociosidade tida como mérito”. O mesmo afirma que: “o desdém pelo trabalho era desdém social pelos trabalhadores”.
 Assim, o corpo na Antiguidade Clássica não é só diminuído ante a mente que formula idéias, mas o é ainda mais ante a sua práxis (ação ordenada para um certo fim, um negócio, uma transação), a sua atividade engajada no mundo. Se o corpo do escravo ou trabalhador era um corpo socialmente inexistente, enquanto objeto de preocupações.
A IDEOLOGIA CRISTÃ
Surge então o Cristianismo, pregando, a partir da periferia do mundo de então, uma nova ideologia, uma “Boa-Nova” (em grego “evangélion), que tinha muita atração sobre as massas sobretudo as mais pobres. Pregando a língua grega em todos os grandes centros o Apóstolo Paulo consolida um novo modelo de Cristianismo que difere do Cristianismo ortodoxo e original circunscrito a Jerusalém e aos Judeus. A grande aceitação do Cristianismo será entre os gregos e romanos, os gentios, e não os “depositários e filhos da Promessa”.
Em Roma o Cristianismo emancipa-se depois de três séculos de contradições e perseguições. Qual seria o perigo que ele representava? Dois pontos se destacam: a pregação cristã e o culto a “Cristós”.
A pregação cristã era dirigida, sobretudo à periferia de Roma. A estes povos dominados, massacrados, tidos como “não-gente” pela ideologia da superioridade romana; explorados, escravizados e constantemente ameaçados, o Cristianismo prega: a igualdade de todos os homens, a filiação divina de todos, a Criação e a Paterna providência de Deus, a Salvação de todos e a Ressurreição, uma outra vida para os sofridos e Pobres, a Caridade para com o próximo e, sobretudo a repartição das Riquezas.
Os Cristãos afirmavam que o Imperador não é Deus, destruíam assim, o culto aos Césares, e destruíam também todo o culto aos deuses gregos e romanos. Deram o título divino à Jesus de Nazaré, o “Cristós do Universo”. Por isso foram considerados subversivos e foram perseguidos, pois com estas pregações mostravam a todos que nada temiam e em comunidades se fortaleciam.
Pregavam uma ordem religiosa que tinha repercussões políticas muito fortes; o culto a cristo como senhor, opunha-se ao culto ao imperador; de certa maneira deslegitimava o poder do imperador. Às crenças cristãs deixavam as pessoas livres das obrigações políticas e religiosas para com os deuses romanos e isso causava sérias preocupações.
Estes ensinamentos pregados com a tenacidade e o testemunho da morte de Pedro e Paulo, que foram crucificados e decapitados, têm arrasador e explosivo efeito. As perseguições aos cristãos são sobretudo pelo perigo que a sua pregação acarretava na decadente Roma dos séculos I e II d.C. Outro ponto importante é que representavam uma comunidade, uma identidade religiosa onde todos “tinham tudo em comum e dividiam, seus bens com alegria de modo que não havia necessitados entre eles”. O cristianismo trazia a novidade de pregar a igualdade dos homens que para estes era o ideal, era um valor de vinha de acordo com os seus interesses. Para os pobres miseráveis, da periferia de Roma, o cristianismo pregava a repartição das riquezas como condição para o reino acontecer, isto é, para uma nova sociedade. Isto era altamente apelativo, chamativo, para as camadas pobres, também as camadas médias e até elementos das classes abastadas de Roma aderem ao cristianismo.
RELIGIÃO CRISTÃ
Em 313 d.C., o Imperador Constantino proclama o Cristianismo como: “religião oficial do Estado”. Começa uma nova época para o Cristianismo, a simbiose (vida em comum) entre o poder político e religioso que vai gerar a Cristandade Medieval, que se opunha aos cultos pagãos (gregos e romanos). Proclama o “Edito de Milão” que concedia liberdade religiosa aos cristãos, e claro que em troca disso ele teve grande apoio popular. Foi uma opção política e ao mesmo tempo teve o apoio dos cristãos para que continuasse no poder.
 A partir daí começa uma nova época para a Igreja, pois esta de dominada passa a ser dominadora, passando aos poucos a ser a religião do Estado.
O CLERO 
Dois séculos seguintes IV e V, um outro fenômeno acontece ao nível da religião (comunidade) e do Império. Na Comunidade surge uma crescente categoria que usurpa cada vez mais os poderes religiosos comunitários e concentra os ministérios e funções em suas mãos: o Clero: significando “os escolhidos”, aqueles que praticamente dirigiam as comunidades.
Desenvolvem uma ideologia (teologia) de justificação de sua função (o Cristo e a figura do Pastor) e aliam-se cada vez mais aos grupos dominantes. A nobreza romana, por uma série de privilégios, traz para o seu lado, para o lugar social, o Clero, o grupo de dirigentes da Igreja.
 Santo Agostinho é um dos teóricos deste movimento, propondo a divisão do poder em seu livro “Cidade de Deus e Cidade dos Homens”, duas figuras básicas para explicar o poder da Igreja e do Imperador. O Papa (bispo de Roma) com a justificativa ideológica do Primado de Pedro toma o poder sobre os demais bispos e se configura em um novo “imperador” com vestes, títulos, tiara e cetro (báculo).
(Primado quer dizer: superioridade, ter vantagens sobre os outros, etc.).
Surge então, duas escolas filosóficas, a Patrística e a Escolástica. Patrística, de acordo com o pensamento de Agostinho, o qual acreditava que a história humana é toda controlada pela vontade de Deus; que já determinou tudo o que faremos e seremos. Estabelece assim, os princípios do bem e do mal, seguindo Platão, e cria a teoria da iluminação, o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas: tal como o sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto.
São Tomás de Aquino faz uma conciliação entre a Fé e a Razão, na Escolástica, segue o pensamento de Aristóles, com base na lógica, na teoria do conhecimento, na moral e na física. Neste sistema filosófico suas principais idéias eram “a razão deve servir a fé”. Nos devemosbuscar entender a razão dos mistérios, mas nunca opor “razão e fé”, pois a Fé ainda suplanta a razão. A filosofia escolástica tornou-se eminentemente católica e religiosa reforçando cada vez mais os dogmas (pontos fundamentais de uma crença) de fé vigente que a Idade Média realizou. A afirmação “EXTRA ECLESIA NULLA SALUS” – “Fora da Igreja não há salvação” – era uma realidade em todos os momentos da vida.
COMO ERA O CORPO NA IDADE MÉDIA
O corpo, ao lado dos escravos, da plebe e das mulheres, era algo a ser sutilmente disciplinado pelo cidadão. O olhar que a sociedade voltava para ele (o corpo), estabelecia normas reguladores da convivência entre o mundo socialmente organizado (representada pela cidade). Existia um dualismo benevolente, não condenava, por exemplo, a homossexualidade – mas condenava nela a atitude feminina, indigna do cidadão romano. 
Tal como a sociedade, o corpo existia para ser administrado, e não modificado.
Com o advento do Cristianismo, a alma passou a ocupar o lugar do espírito em sua oposição ao corpo. Os antigos romanos não acreditavam numa alma mortal, que sobreviveria ao corpo após a morte, embora algumas pequenas seitas sustentassem essa idéia.
A concepção judaico-cristã trouxe não apenas a noção de uma alma que continua no além, mas de uma alma que, para se purificar e levar-se até Deus, exige o sofrimento do corpo. O corpo carrega em si a marca do pecado original: a mulher foi condenada aos sofrimentos do parto, e o homem a retirar da terra, com trabalhos penosos, o seu sustento. A religião Cristã é a religião do corpo sofredor – de todas as passagens da vida de Cristo, a que é enfatizada é a que diz respeito a sua crucificação, à agonia do corpo para a salvação das almas humanas.
O CORPO NA IDADE MÉDIA ERA SEDE DO PECADO
A Idade Média foi marcada pela opacidade (sombra) da carne pecadora e pelo peso esmagador do espírito de Deus habitando o corpo humano. O corpo medieval é um campo em que se digladiam as forças antagônicas (contrárias) do cristianismo, e ainda as concepções pagãs, que nunca foram eficazmente reprimidas. É um corpo mortificado pelos longos jejuns dos dias santificados e empanturrado de comilança e bebedeira nos demais.
 A Idade Média foi considerada a Idade das Sombras e durou três séculos.
 As doenças que atingiam o corpo e as grandes epidemias eram consideradas expiação dos pecados cometidos ou, ainda, imputadas a possessões diabólicas. O corpo era o verdadeiro local de confronto entre o bem e o mal, entre o milagre e o pecado, o desejo e o castigo.
Não era tanto sobre o corpo que pousava o olhar vigilante da Igreja, ele dirigia-se antes para o interior do coração humano. Pois se a carne era fraca e conduzida ao pecado, isto se devia apenas ao fato de que a vontade humana era renitente (teimosa) à Deus. Os fiéis eram convidados à introspecção (exame do interior), a vasculhar, em seus corações, quando havia pecado – por atos ou por vontade.
Apesar do grande poder que a Igreja detinha durante o período medieval, ela nunca alcançou uma vitória definitiva sobre o paganismo europeu. Datas de antigas festas pagãs (como, por exemplo, a noite de 25 de dezembro) foram apropriadas pelo calendário cristão. Sendo uma religião monoteísta (que acredita em só Deus), o cristianismo precisou preencher o panteão (templo consagrado pelos gregos e romanos a todos os deuses) de divindades gregas, já fortemente enraizado na cultura européia, com um número cada vez mais crescente de Santos.
IDADE MÉDIA
Quando o império romano cai sob os ataques dos povos Bárbaros, a Igreja já tem poder suficiente para empreender a catequese destes povos e conservar, ainda que de maneira transfigurada, (transformou, fez uma mudança) nas principais instituições do império romano. Faz do chefe bárbaro um imperador e impõe sobre ele a doutrina cristã, erigindo-se (levantar, construir – dar um direito que não possui) como a nova realidade do mundo que ela mesma erigia: A Idade Média.
Os povos Bárbaros 
Praticavam a religião politeísta, pois adoravam deuses representantes das forças da natureza. Odin era a principal divindade e representava a força do vento e da guerra. Para estes povos havia uma vida após a morte, onde bravos guerreiros mortos em batalhas poderiam desfrutar o paraíso. A mistura da cultura Germânica com a Romana formou grande parte da cultura medieval, pois muitos hábitos e aspectos políticos, artísticos e econômicos permaneceram durante toda a Idade Média.
Quem foram os Bárbaros?
Anglos Saxões – (Escócia, Inglaterra, Irlanda);
Saxões – (Alemanha, Holanda, Austria);
Francos – (França);
Lombardos – (norte da Itália);
Visigodos –(Itália- região de Gália);
Ostrogodos –(região atual da Itália);
Vândalos – (África);
Sarracenos – (Espanha e Portugal, vieram do norte da África)
(Os Sarracenos vieram do Norte da África, atravessando o estreito de Gilbratar, a Península era formada por Portugal e Espanha, anos 711 e governaram por oitocentos anos). No Sul de Portugal o Islã deixou marcas profundas. Os árabes introduziram obras científicas, como a química, a medicina e a matemática. O sistema de numeração ocidental é de origem Árabe. A influência no meio rural foi muito importante introduzindo técnicas de como regar, mudas de novas plantas como limoeiro, laranja, amendoeira, arroz, cultura da oliva – o azeite – grandes pomares de frutas: uva, figo, maçã, tudo na Região Mediterrânea. Muitos instrumentos científicos, utensílios diversos. Foram derrotados por lutas internas e pelas cruzadas que lutavam em nome de Deus para recuperarem as terras e destruir os hereges. O avanço dos cristãos, comandados pelo Clero (Roma) , durou seis séculos.). 
IDADE MÉDIA: A CRISE DO EXERCÍCIO FÍSICO
Uma vez desaparecida a ginástica higiênica, o único vislumbre de preparação física intensa durante o período medieval foi à levada a cabo pelo Cavaleiro Feudal, orientada para a guerra, torneios e justas. A crise que a educação física atravessou durante o longo período que vai do século VI ao século XIV deveu-se fundamentalmente ao espiritualismo imposto pela Igreja, que procurava prioritariamente a saúde (ou salvação) da alma, condenava o orgulho da vida terrena e menosprezava toda a atividade físico-desportiva. O fato de o cristianismo associar, em geral, a barbárie dos espetáculos romanos, onde os crentes tinham sido objeto de inúmeros sacrifícios sob o Império Romano, à atividade física de caráter lúdico influenciou de forma negativa a imagem do desporto. Assim, o atletismo, por exemplo, que tinha sido à base da educação física na Grécia antiga, praticamente desapareceu na Idade Média. 
Por isso, como expoente quase único da educação física pode citar-se o treino que os jovens recebiam para se tornarem cavaleiros, depois de passarem, desde crianças, pelas categorias de pajem e escudeiro. Na sua preparação aprendiam esgrima, equitação, tiro, luta, natação e outras habilidades físicas. A concreção dos ideais de cavalaria tinha como marco as justas (confrontos entre dois cavaleiros) e torneios (verdadeiras batalhas que dois grupos de cavaleiros enfrentavam). Também adquiriram grande importância os jogos de bola, sobretudo a Palma (tênis) e a SOULE (futebol).
III - 	O CONFLITO ENTRE O SAGRADO E O MUNDANO: O CORPO QUE ORA, O CORPO QUE TRABALHA, O CORPO QUE VAI PARA A GUERRA
A visão grega sobre o corpo humano muda na Europa da Idade Média. A partir do Século X quando as invasões bárbaras terminaram, a Europa começou a se reorganizar politicamente e o cristianismo se tornou um dos elementos importantes dessa cultura. O corpo humano nesse período é associado ao mundo material, aos valores terrenos e é desprezado em relação aos valores espirituais. A força dos valores morais propagados pelo cristianismo, via igreja católica principalmente, privilegiam a Fé, a religiosidade e a espiritualidade.
O corpo é visto como o oposto da busca do divino, do eterno uma vez que ele se torna símbolo do pecado, da tentação e do erro. Ainda desse período, e como exemplo desse privilegio espiritual sobre o físico, pode-senotar a valorização do sofrimento, do martírio, do sacrifício do corpo, como forma de elevação espiritual.
Os religiosos que professavam o cristianismo, desprezavam a filosofia grega, sobretudo porque viam nessa a forma pagã de pensamento, uma porta aberta para o pecado, a dúvida, o descaminho e a heresia (doutrina contrária ao estabelecido pela igreja em termos de fé).
A CONCEPÇÃO CRISTÃ DE CORPO
No cristianismo o homem aparece com um ser conduzido pala providência divina. Nele se revela uma profunda dependência de Deus, numa relação de intimidade que difere muito em relação à concepção Platônica e, da de Aristóteles.
Platão falava sobre uma vida futura, havia céu e inferno, castigos e recompensas. Basta saber o que é o bem para praticá-lo, basta saber o que é bondade para ser bom ( uma pessoa que conhece a essência da bondade sabe que só pode ser feliz se agir corretamente). O princípio da ÉTICA.
Aristóteles semeia a concepção de alma como forma do corpo. O bem equivale à moderação das paixões estabelecendo como fonte ética à noção de que a felicidade era recompensa dos virtuosos. E estas paixões seriam submetidas a um julgamento pela lei, para compreender as limitações do ser humano. Surge então “o Caminho do meio”, o equilíbrio. 
Ambos influenciaram a religião cristã e, por muito tempo estes ensinamentos formaram a base da filosofia e antropologia cristã (estudo do homem como ser moral).
O CRISTIANISMO tem por finalidade a salvação individual do homem concreto (que tem um sentido real), e seu papel no universo. O CRISTO veio salvar o homem e não somente a alma. O homem é então um ser racional composto de alma e corpo.
Relata Alfredo Bosi, a mensagem cristã não implica na oposição entre corpo e alma, mas em sua unidade. Pois Cristo, o filho de Deus, o Verbo divino, o princípio espiritual da criação, tomou para si o corpo humano e seus sofrimentos. Cristo religa o que o platonismo havia separado: o corpo ao espírito, o divino ao humano, fazendo-se visível diante dos nossos olhos carnais por meio de um corpo que logrará vencer mesmo a morte.
A doutrina da ressurreição dos corpos no fim dos tempos, que sentido tem? Um sentido fundamental: o corpo não é um instrumento passageiro para o caminhar das almas de encarnação em encarnação, como acreditavam os seguidores de Platão; ao contrário, corpo e alma são indissociáveis, e é a sua separação que deve ser considerada um momento de agonia e passageiro.
IV - 	O PENSAMENTO FILOSÓFICO RENASCENTISTA, O CORPO E O HOMEM COMO CENTRO DO DISCURSO (como tema principal);
 
Período da história da Europa, aproximadamente entre os fins do Século XIII e meados do Século XVII (entre 1330 e 1650). Este período foi marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, que assinalam o final da Idade Média e início da Moderna.
O Renascimento é um dos sinais importantes de que a corrente pagã corria sob o caudaloso leito do cristianismo, mas não estava sufocada. O homem voltou a ser o centro das atenções, sua curiosidade intelectual levou-o a novos inventos, sua avidez por descobertas levou-o a novas terras, A sua alegria pela vida levou-o a construir castelos amplos e luminosos, a apreciar as artes com refinamento e a cuidar do corpo com dietas e exercícios.
O Homem do Renascimento confiava no progresso e nas ciências de seu tempo. A religião foi revista e surgiram movimentos de contestação em seu próprio interior. A educação não se baseava mais na escolástica, mas foi buscar seus princípios nos autores clássicos, cujas obras são traduzidas. 
A invenção de Gutemberg (inventor da imprensa) propiciou a difusão das novas descobertas. A Terra perdeu seu status de centro de interesses da esfera divina, quando se verificou que ela girava humildemente ao redor do Sol. Assim como a natureza não era mais o sagrado intocável, não mais se concebia o corpo humano como moradora do Espírito de Deus – ambos podiam, portanto, ser investigados.
Chamou-se “Renascimento” em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da ANTIGUIDADE CLÁSSICA (Grega e Romana), que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal HUMANISTA e NATURALISTA.
HUMANISMO – è a filosofia moral que coloca os humanos como primordiais, numa escala de importância. É uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas que atribuem a maior importância à dignidade, aspirações e capacidades, humanas, particularmente a Racionalidade (capacidade da mente humana que permite chegar a conclusões a partir de suposições). O Humanismo caracteriza-se por uma nova visão do homem em relação à Deus e, em relação a si mesmo. 
A “Revolução Humanista” ocorreu no meio social que tinha acesso às novas descobertas, às viagens e aos prazeres artísticos: o corpo que: exercitava-se galantemente, como a alma havia se exercitado antes era o corpo dos senhores, não o corpo dos camponeses, nem dos servos. Neste sentido, retoma-se o exemplo do ócio grego. Para a grande maioria da população, o domínio do cristianismo fazia-se sentir fortemente – fosse através do catolicismo, fosse através das novas vertentes “protestantes”. (o protestantismo foi fundado por Martinho Lutero, e são chamados também por evangélicos – Justificação pela Fé – contrariando assim a Igreja Católica, que defendia que a Fé se devia acrescentar as boas obras a fim de poder alcançar a salvação).
Entretanto, é no decorrer do Renascimento que o corpo humano começa a se descolar da carne; passa-se progressivamente do corpo exercitado (alegria de viver) ao corpo-dissecado (possibilidade de viver, pois a doença não era mais vista como manifestação da vontade divina – ou, antes, como complacência em relação aos desejos da carne – mas como um sintoma cuja causa e, logo, a cura, era orgânica).
Este corpo dissecado, descrito em sua anatomia interna, é cada vez mais comparado a um mecanismo.
No século XVII, Descartes reafirma a analogia (relação de semelhança entre objetos diferentes) entre o homem e a máquina. O método cartesiano, baseado na razão, influenciou todo o desenvolvimento científico posterior e estabeleceu as cisões tão bem conhecidas entre mente e corpo e entre teoria e prática. Dele vêm as noções difundidas de que “a inteligência se encontra no cérebro” e de que este é o órgão mais importante do corpo humano”, bem como a valorização do trabalho mental sobre o trabalho braçal, as distinções sociais entre o cientista/filósofo e o operário.
RENASCIMENTO E HUMANISMO NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Após a Idade Média, o interesse que despertou a Cultura Clássica ( legado cultural greco-romano), fez com que a educação física voltasse a ser apreciada no Renascimento e, sobretudo, pelo Humanismo a partir do século XVI . Influenciado por Petrarca e Rabelais, o médico humanista Jeronimus Mercurialis publicou em 1569 Arte Ginástica, obra na qual recuperou a teoria da ginástica greco-romana, sobretudo no sentido do exercício físico para a saúde. A atividade física orientou-se basicamente para a vertente Higiênica (ginástica higiênica, voltada para a prática do exercício apenas direcionada para a manutenção da saúde do indivíduo onde se desenvolviam habilidades para montar e desmontar um cavalo e habilidades semelhantes as executadas em circo pelos acrobatas) em detrimento da formação de atletas (aspecto que não se recuperaria até finais do século XIX). Baltasar de Castiglione, na sua obra O Cortesão, traçou a imagem do perfeito cavalheiro renascentista, incluindo inúmeras referências à educação física, que estava incluída no conceito de educação integral e servia para a expressão da personalidade do indivíduo.
Com o avanço da medicina, voltou-se ao princípio grego do mens sana in corpore sano. Se recomendava os banhos, as dietas, os exercícios ao ar livre. O corpo tornou-se um objeto de estudo: a mente cartesiana dele toma distância e o analisa (decompõe-no em partes), disseca-o, esquematiza-o, separou o corpo de seu contexto pragmático e, se encontra os mesmos princípios morfológicos e funcionais, os cuidados do corpo generalizam-se. Sendo todosos corpos basicamente iguais, obviamente o que caracteriza a individualidade era a mente pensante. Mais uma vez o cartesianismo triunfava.
V - 	CONCEPÇÕES A RESPEITO DA CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA E SEUS PRINCIPAIS PENSADORES
A partir do século XVIII, o Século das Luzes (doutrina filosófica, religiosa e movimento cultural que se espalhou pela Europa durante o século XVIII e, que tinha a razão e a liberdade de pensamento como valores supremos). Apareceram inúmeros filósofos, pedagogos e pensadores que fixaram as bases da educação física moderna e influenciaram as escolas e sistemas posteriores. Assim, Jean Jacques Rousseau (1712-1778), influenciado por John Locke, é o precursor da pedagogia contemporânea. Na sua obra Emílio expôs as suas teorias, baseadas na educação da criança em contacto com a natureza, espontânea e autodidata. A educação física adquiriu grande relevância através de um método de aprendizagem indutivo («quanto mais fosse a atividade física, maior seria a aprendizagem»); também prestou grande atenção à psicologia evolutiva e ao respeito pelas leis naturais de desenvolvimento da criança, princípios muito valorizados atualmente. Segundo Rousseau, a criança, até aos 12 anos, devia realizar exercícios de educação sensorial: equilíbrios, habilidades manuais, orientação, etc. Este grande pensador de origem suíça influenciou decisivamente uma série de filósofos e pedagogos, tanto contemporâneos como posteriores, entre os quais cabe destacar Bassedow, Kant, Pestalozzi e Amorós. 
Bassedow (1723-1790) foi um destacado representante da pedagogia da ilustração e do racionalismo e precursor da educação física alemã, influênciou Muths e Jahn. Defendeu a importância da educação física e levou as suas teorias à prática na Escola Philantropinum (criada em 1774), primeira escola na Alemanha onde os exercícios físicos fizeram parte do programa escolar. A sua didática estabeleceu a progressão do simples ao complexo e do parcial ao total. 
O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) dividiu a educação em física e prática. Mas o seu conceito da primeira incluía não só o desenvolvimento das qualidades físicas, como também componentes psíquicos, o desenvolvimento da inteligência, da memória, do caráter, da atenção, etc. O seu rigor pedagógico favoreceu o jogo com finalidade educativa, para fortalecer a criança e, educar os seus sentidos. 
O suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746- 1827), autor de inúmeras obras, matizou muitas idéias de Rousseau. Defendia a figura do mestre e a educação da criança na família e na sociedade (sem isolá-la na natureza, como aquele propunha). Visto que procurava o desenvolvimento harmônico dos diferentes âmbitos do ser humano, concedeu muita importância à educação física (duas horas por dia), tanto à natural e instintiva como à planificada e sistemática, ginástica elementar dada pelo educador. O cuidado da higiene, os passeios nas horas das aulas, os jogos desportivos e a atenção às necessidades de cada criança também fazem parte das suas teorias. É o precursor da ginástica analítica. 
O alemão Guts Muths (1750 -1839), influenciado por BasedoW, desenvolveu um método sistemático de Educação Física, reunido na sua obra “A ginástica da juventude” Dividiu o seu sistema de exercícios em fundamentos de força( saltos, corridas, luta), de agilidade ( natação, lançamentos, escalada, balanços, equilíbrio) e para a harmonia ( dança, marcha, ginástica).Os seus objetivos didáticos, era conseguir uma educação integral. Nas suas teorias a prioridade era o individualismo, a falta de livre iniciativa do aluno, a competitividade, a obsessão pelas marcas e pelos resultados. Muths influenciou o desporto moderno e a exaltação de sentimentos patrióticos através do exercício físico.
Francisco de Paula Amorós y Ondeano, marquês de Sotelo (1770-1848), instruído e afrancesado, foi um dos precursores da Educação Física em Espanha, ao criar e dirigir o Instituto Pestalozziano de Madrid; perseguido durante a repressão o absolutista que teve lugar após a Guerra Peninsular, teve de exilar-se em França. Em Paris dirigiu o Ginásio Normal Militar, instituição a partir da qual difundiu as suas teorias inclusive no âmbito civil. Influenciado pelas idéias de Rousseau, Muths e dos Círculos Militares, estabeleceu um programa de Educação Física Militarista, pouco pedagógico e de difícil execução, com inúmeros exercícios acrobáticos. Os seus objetivos eram a saúde, o prolongamento da vida, o aperfeiçoamento das faculdades físicas, a melhoria da espécie e virtudes raciais e concedeu muita importância à concorrência de todos os sentidos. 
Merleau – Ponty ( Rochefort – sur – mer, 14 de março de 1906 – 1961)
O pensador do século XX, sua filosofia nos faz compreender os estudos do corpo e sua relação com a ciência, com a arte e com a Educação Física.
O corpo não é coisa, nem idéia, o corpo é movimento, sensibilidade e expressão criadora. Esta é, de um modo geral a concepção de corpo de Merleau Ponty, opondo-se à perspectiva mecanicista da filosofia e da ciência tradicionais e alinhando-se a uma nova compreensão do corpo e do movimento humano, baseando-se na compreensão das relações corpo-mente como unidade e não como integração de partes distintas (separadas).
Para Merleau-Ponty, o ser humano é o centro da discussão sobre o conhecimento. O conhecimento nasce e faz-se sensível em sua corporeidade
VI - A REVOLUÇÃO INFORMÁTICA E O ESTABELECIMENTO DO CORPO VIRTUAL
REVOLUÇÃO INFORMÁTICA
A interação homem-computador e a emergência de novas tecnologias da informação, que criam a sensação de virtualidade e de experiências à distância, em meio ao frenesi dos apelos simbólicos da indústria cultural vão constituindo formas de apreensão dos sentidos e relações nas quais e modificam radicalmente a condição humana e sua forma de constituir necessidades e valores que condicionem a condutas morais e éticas na sociedade.
SEVCENKO (2002) diz: “Esse controle tecnológico pleno do ambiente em que vivem as pessoas acaba, por conseqüência, alterando seus comportamentos. Nessa sociedade altamente mecanizada, são os homens e mulheres que devem se adaptar ao rítimo e à aceleração das máquinas, e não o contrário.A nova civilização tecnológica deforma os corpos e o comportamento das pessoas, sujeitas a movimentos reflexos incontroláveis e a impulsos neuróticos, como modo pelo qual suas relações sociais, seus afetos e sua vida emocional são considerados por uma lógica que extrapola as fragilidades e a sensibilidade que constituem o limite e a graça da nossa espécie”.
O desenvolvimento mais recente da Internet e a configuração da escrita, da imagem e de outros suportes em informação digitalizada, históricamente, representam uma mutação antropológica (uma mudança de comportamento da história natural dos homens), ficam modificadas, portanto, as estruturas relacionadas à produção de conhecimento que movem sentido de experiência, memória e condições de interação humana.
CORPO VIRTUAL
O corpo efetivo individual inscrito naturalmente na finitude do tempo e da morte vem sendo substituído cada vez mais pelo corpo virtual, acelerando ou eternizando, mutável ao menos, mutante, plástico até não poder mais.
A exemplo disto temos: cirurgia estética, próteses, dopagem, manipulação genética, etc.
Chega-se a uma nova etapa quando o corpo real se vê efetivamente transformado para assemelhar-se a um corpo previamente imaginado.
As transformações do corpo, destinadas a substituir o corpo herdado da natureza por um corpo desejado e planejado pela mente, estiveram muito tempo limitadas por causa de meios técnicos rudimentares. Mas sob a pressão da pesquisa médica, as sua experimentação mesmo, pode-se, desde então, substituir órgãos do corpo por aparelhos mecânicos ou eletrônicos, próteses que remodelam o corpo e melhoram suas performances naturais. Diversas técnicas e injeção hormonal e de cirurgia acarretam até modificações biológicas do corpo, dos órgãos sexuais, de suas performances atléticas, etc.
O corpo se torna, pois, um objeto vivo instrumentalizável quese pode dividir em pedaços, consertar, recriar, se desconsiderando um modelo absoluto. Assim têm-se assistido a um novo questionamento de um corpo perfeito definido por uma essência em benefício de um puro corpo do desejo; trabalhável ao infinito, disponível para as mais variadas fantasias.
O virtual se refere a um imaginário que pode materializar-se no corpo de carne; no entanto, a imagem informatizada toma o lugar do corpo de carne.
O conceito de virtual é que não se opõe ao real, mas, sim, a outro processo denominado atualização.
CONSCIÊNCIA DE CORPO
Todo conhecimento – inclusive o de si mesmo – passa pelo corpo. É o corpo que está envolvido no processo de compreender, de recordar, de se individuar. O corpo traz as marcas de sua história; sonhamos com corpos, projetamos em corpos, os arquétipos manifestam-se como corpos. Os deuses têm corpos, e ainda hoje imaginamos um Cristo cabeludo e um Deus de barbas brancas; foi preciso que o fizéssemos à nossa imagem, para que pudéssemos concebê-lo.
A consciência de corpo é definida como a maneira pela qual a atenção sobre o corpo é distribuída e as pessoas diferem no quanto elas estão conscientes de seus corpos – algumas têm elevada consciência do corpo e outras nem tanto. Além disso, algumas áreas do corpo recebem consistentemente maior atenção do que outras e tal diferenciação parece ter um sentido psicológico.
A consciência do corpo também está profundamente enraizada na história, recebe as determinações ideológicas através de modelos corporais definidos como “belos”, “fortes”, “saudáveis”, “desejáveis”. Vimos como o corpo foi e continua sendo manipulado pelo modo de produção capitalista e como o corpo produtivo se tornou também corpo consumível e consumidor. Os corpos “feios”, muito gordos, muito magros, sujos, deficientes, desajustados, são os corpos que não contribuem para a reprodução das relações de produção – e por isso são questionados, marginalizados. Não vendem, não dão lucro.
Castellani conceitua: Consciência Corporal do Homem é a sua compreensão a respeito dos signos tatuados em seu corpo pelos aspectos sócio-culturais de momentos históricos determinados.
É fazê-lo sabedor de que seu corpo sempre estará expressando o discurso hegemônico de uma época e que a compreensão do significado desse “discurso”, bem como de seus determinantes, é condição para que ele possa vir a participar do processo de construção do seu tempo e, por conseguinte, da elaboração dos signos a serem gravados em seu corpo.
VII -	CONCEPÇÕES A RESPEITO DA CORPOREIDADE E MOTRICIDADE CONTEPORÂNEA, MÍDIA, PADRÕES DE BELEZA E CORPOLATRIA
A história nos mostra que o corpo sempre esteve em evidência, tanto para o homem como para a mulher, sempre de acordo com a época, e hoje ambos os sexos continuam a dar valor à cultura do corpo, a valorizá-lo pelo fator estético ou usá-lo como objetivo estético, mas, além disso, principalmente como meio de manter uma boa saúde.
De acordo com as leituras realizadas, percebe-se que, até hoje o corpo foi reduzido a interesses diversos, esquecendo-se de seu significado próprio de ser humano, pois isto não tem importância enquanto o corpo for apenas um mero produto.
O QUE É CORPOREIDADE?
 Sempre se atribui pouco valor á corporeidade e isso ficou, mais evidente a partir do pensamento cristão e do pensamento intelectualizado dos filósofos e pensadores da história. O homem espiritualizado e intelectualizado pouco valor atribui aos princípios da corporeidade. Com o passar do tempo, os interesses econômicos, políticos e sociais, fizeram com que o corpo se tornasse uma ferramenta de produção, que traria lucro e crescimento econômico ao meio no qual está inserido.
A imagem da corporeidade de nossa cultura racionalizada, cientifizada e industrializada, reduz o corpo a um objeto de uso em conformidade com os interesses econômicos, políticos e ideológicos de outros grupos, não garantindo em modo a cultura do corpo.
TENTATIVA DE DEFINIÇÃO
Está associada ao corpo humano e ao comportamento motor ou ato motor.
Segundo Feijó (1998) o corpo é a expressão da unidade da pessoa, o limite físico da personalidade, o território da liberdade subjetiva (o que se passa exclusivamente no íntimo da pessoa), a estruturação da autenticidade e da criatividade, bem como, a manifestação da presença e da influência da pessoa.
Através de suas manifestações corporais o ser humano se comunica e se expressa, deixando transparecer suas carências, privações, necessidades, dificuldades existenciais e emocionais. Em cada palavra da linguagem corporal, cresce o diálogo entre os homens e o corpo proporciona diversas e sucessivas leituras. (Cunha, 1994).
Falar de corporeidade é falar do ser humano, da vida, falar do que sou e da minha relação com os outros e com o mundo.
 Cada corpo tem sua corporeidade que, no fundo, corresponde á sua arquitetura. A corporeidade é o que faz com que um corpo seja tal corpo. O organismo humano, como uma espécie viva, tem sua própria corporeidade. Mas cada indivíduo, segundo a engenharia genética revela, possui uma corporeidade própria.
 O conceito de corporeidade situa o homem como um corpo no mundo, uma totalidade que age movida por intenções. É só através do corpo que a manifestação se dá, e esse corpo, aliado a essa manifestação no mundo, é o significado da corporeidade.
É pela corporeidade que o homem diz que é carne e osso. Ela é a testemunha carnal de nossa existência. A corporeidade integra tudo o que o homem é e pode manifestar neste mundo: espírito, alma, sangue, ossos, nervos, cérebro.
CORPOREIDADE – também entendida como corpo ativo neste novo século.
De acôrdo com Merleau-Ponty “O mundo é não aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável”.
O corpo ativo é o da corporeidade vivida, em que o ser pensa o mundo, o outro e a si mesmo na tentativa de conceber essas relações, na tentativa de reaprender a ver a vida e o mundo.
ASSIM, ENTÃO QUE CORPO IREMOS QUERER TER ?
 Neste sentido, ao longo de sua existência o homem conseguiu muitos avanços, principalmente na área científica e tecnológica. Com isso conseguiu conquistar seu espaço enquanto ser, mas acabou por esquecer de apreciar sua condição corpórea, ou seja, não reconheceu seu corpo em sua totalidade.
Com a corporeidade sendo sufocada pelos inventos tecnológicos, científicos e pela indústria do lucro, o homem acabou assumindo, seu corpo segundo os moldes da ciência, da técnica e da sociedade. Com isso o movimento acabou tornando-se, na maioria das vezes, um gesto mecanizado e não um gesto de criação e expressão natural do homem enquanto ser, “tanto na escola quanto no meio em que estamos inseridos”.
Hoje o que vivenciamos tanto na sociedade quanto na escola é uma tentativa do ser humano definir o seu corpo, mas isso se dá principalmente em atividades que possam preparar somente o corpo humano para o mercado de trabalho, “sendo um equívoco”, pois estamos longe de reconhecer o corpo como totalidade, ou melhor, de aceitar a vivenciar a corporeidade em nosso dia-a-dia, tanto nas atividades profissionais como sociais e de lazer.
Somente através da corporeidade podemos dirigir nossa compreensão de corpo a além do físico, pois a dimensão corpórea se faz tanto em valores estéticos, como ético, espiritual e físico/social. E é desse corpo que o aluno e o cidadão precisam – o corpo vivido em sua corporeidade, ou melhor, sua totalidade enquanto ser – que se expressa de forma criativa natural e espontânea, tanto dentro como fora da sala de aula.
O corpo constrói seus valores a partir do que se experiência e vive, em suas relações com o outro, com a sociedade e os objetos de relação social, política e econômica. Tudo isso reverte ao corpo um saber próprio, de existência e de relação com o mundo. Infelizmente para a sociedade capitalista, o saber corporal não tem muita significação, pois prevalece o intelecto. Esse raciocínio leva a afirmar que, “o saber construtivo pelo corpo não merece confiança, somenteo saber que vem da razão”, (Santim, 1992).
O QUE É MOTRICIDADE?
A idéia de motricidade está ligada ao movimento do corpo e sua conduta motora que é o movimento intencional, com sentido, significado, temporalidade (que dura certo tempo) e espacialidade (o espaço que o corpo ocupa)
A motricidade emerge da corporeidade e a conduta motora pode ser considerada como comportamento motor enquanto portador de significação, de intencionalidade, de consciência clara, de vivência e “com-vivência”, numa dialética entre o intrapessoal (próprio de cada pessoa) e o interpessoal ( que se realiza entre duas pessoas).
Fonseca (1996) ressalta que “o essencial é a intencionalidade, a significação e a expressão do movimento, e desta forma o movimento põe em jogo toda a personalidade do indivíduo”. A motricidade é a projeção de um mundo (o próprio homem) em outro mundo (envolvimento), sendo, portanto inconcebível perceber o homem sem movimento e envolvimento.
A motricidade humana também é entendida como capacidade de movimento do ser humano para a transcendência (para o elevado, o sublime, fora do alcance da ação ou do conhecimento) e como agente e criadora de cultura (Sergio,1987).
O corpo é o princípio e a condição estruturante da existência humana e o veículo do ser no mundo. Dessa forma ele não pode ser encarado somente pelo ponto de vista físico ou “coisificado”, mas dentro de uma perspectiva mais ampla já que não estamos no mundo diante do nosso corpo, estamos no nosso corpo, ou melhor, nos somos o nosso corpo. (Merleau-Ponty, 1994).
O corpo é nosso referencial com o mundo. É por meio dele que existimos e nos relacionamos com os demais. Para que então dissociá-lo da mente, do intelecto, dos pensamentos, dos sentimentos? A mente não existe sem o corpo e este não existe sem a mente (alma) . Mente-corpo vivem juntos e, existem ao mesmo tempo num mesmo ser. O cérebro-mente que comanda os movimentos, as ações, os pensamentos, as emoções do ser humano, apesar de o homem ser essencialmente corporal. Pelo corpo, manifestamos aspectos de nossa existência, cultura e sociedade. Relacionar corporeidade, conhecimento e vivência do corpo à educação é um caminho necessário para articular conceitos centrais de uma nova visão pedagógica.
“O Homem é um ser em movimento que faz acontecer sua corporeidade, na arte, na linguagem, na fala, nos gestos e nas expressões da sua motricidade”.
O MOVIMENTO
O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana.
O movimento e, conseqüentemente o corpo, constituem por excelência, a matéria-prima da Educação Física. Lidar com o ser humano implica em considerá-lo sob variados aspectos, entendê-lo como um processo constante de construção sociocultural. Em outros termos, os conteúdos da Educação Física implicam em ideologias, valores e representações histórico-culturais que devem ser cuidadosamente considerados e discutidos. Por este motivo é fundamental que na área de Educação Física, os estudantes compreendam o corpo e entendam como lidam com o mesmo. 
Sabemos que a motricidade humana, da mesma forma que todas as outras capacidades, resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio. Nossas maneiras de andar, correr, arremessar e saltar, têm significados construídos em função de diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas, presentes na diferentes culturas, em todas as épocas da história.
MOTRICIDADE CONTEMPORÂNEA
O que caracteriza o nosso tempo é a falta de continuidade, em relação às épocas anteriores. As transformações na tecnologia e na ciência, na filosofia, nos modos de vida, nas mentalidades; a globalização da economia, bem expressa numa alta competição sem freios; confundir felicidade com a posse exclusiva de bens materiais: não deixam a este respeito um rastro de dúvida. (Anthony Giddens)
Para Medina (1990) “Toda manifestação humana é movida por valores que determinam certos ideais, certas finalidades e certos objetivos. Evidentemente, esses valores são culturamente moldados e se modificam com as variáveis que o momento histórico lhes impõe”.
Em recente pesquisa na área de Educação Física, Gaio (1996) aponta o corpo imposto culturalmente pela sociedade, em que o marketing instala um falso valor de uso das atividades físicas, conectando-as ao culto do corpo, “(...) corpo este exposto em vitrinas pelos meios de comunicação, como jornais, TV, revistas, etc....usado ilusoriamente para buscar o amor, o prazer, o corpo delineado como sinônimo de saúde e beleza; corpo objeto gerando um padrão ideal de Vida”.
À MODA DO CORPO
Medina (1990) – “De repente, curtir, moldar, cuidar do corpo passou a ser moda. E mil providencias foram tomadas e, claro, colocadas no mercado, para que estas mais recentes necessidades das pessoas fossem atendidas. Daí o surgimento de inúmeros suportes esportivos e de lazer, como agasalhos, camisetas, tênis, calçados especiais, quadras, raquetes, bolas e ainda: medicamentos energéticos, alimentos naturais, revistas especializadas, maiores espaços nos meios de comunicação, grupos de dança, academias de ginásticas, clínicas de emagrecimento, clínicas de fisioterapia, disseminação das atividades físicas mais exóticas e até dezenas de faculdades de Educação Física”.
Entretanto é possível diagnosticar a prática do “Culto ao Corpo” como um traço da sociedade contemporânea e afirmar que tal característica está alicerçada num duplo discurso, que ora lança-se a procura de um ideal físico, esteticamente esbelto e musculoso. 
“De repente é preciso cuidar do corpo. É preciso tirar o excesso de gorduras (...) é preciso melhorar o visual”. (Medina)
Os profissionais envolvidos com estas áreas precisam repensar a prática de atividades físicas para além da tentativa extrapolada de aquisição do corpo musculoso, bem como entender o uso de medicamentos somente em casos específicos e a favor da vida.
MÍDIA E O CULTO À BELEZA DO CORPO
Há nas sociedades contemporâneas uma intensificação do culto ao corpo, onde os indivíduos experimentam uma crescente preocupação com a imagem e a estética (ciência que trata do belo em geral).
Entendida como consumo cultural, a prática do culto ao corpo se coloca hoje como preocupação geral, que perpassa todas as classes sociais e faixas etárias, apoiadas num discurso que ora lança mão da questão estética, ora da preocupação com a saúde.
Nas sociedades modernas há uma crescente preocupação com o corpo, com a idéia alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados basicamente pelo processo de massificação das mídias a partir dos anos 1980, onde o corpo ganha mais espaço, principalmente nos meios de comunicação. Não por acaso que foi nesse período que surgiram as duas maiores revistas brasileiras voltadas para o tema: “Boa Forma” (1984) e “Corpo a Corpo” (1987).
Contudo, foi o cinema de Hollywood que ajudou a criar novos padrões de aparência e beleza, difundindo novos valores da cultura de consumo e projetando imagens de estilos de vida glamorosas para o mundo inteiro.
Da mesma forma, podemos pensar em relação à televisão, que veicula imagens de corpos perfeitos através dos mais variados formatos de programas, propaganda, novelas, filmes, etc. Isso nos leva a pensar que a imagem da “eterna” juventude, associada ao corpo perfeito e ideal, atravessa todas as faixas etárias e classes sociais, compondo de maneiras diferentes diversos estilos de vida. Nesse sentido, as fábricas de imagens como o cinema, televisão, publicidade, revista, etc., contribuem para isso.
A mídia promove a idéia de que cada indivíduo é único, especial e se diferencia dos demais (da massa) ao consumir tal ou qual produto. O que se observa, porém, é a padronização do consumo. O corpo não é administrado, mas modificado; tornou-se moldável pelas atividades físicas, pela cirurgia plástica e pela tecnologia da estética. (Freitas, 2004)
Crendo-se corpo singular, o indivíduo segue, na verdade, padrões impostos pela política da beleza e da moda – ele aspira a ter um corpo e só raramente percebe-se sendo um. O corpo consumidor

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