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Estudo de caso Gestalt terapia

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BERNARDO DE GOUVEIA SANTA BÁRBARA nº 10911 ENITA LEITE DE LIZ nº 10008
GIOVANA VELOSOMUNHOZ DA ROCHA nº 10491 GISELLE VON EYE nº 10494
LUCIANA DE VIVO RIBEIRO nº 10551 MARIA CRISTINA BONATTO TREVISAN nº 10555
MARY TAKEMORI nº 784
ESTUDO DE CASO C1ÍNICO EM GESTALT-TERAPIA
Monografia de Estudo de Caso Clínico apresentada ao Curso de Formação de Psicólogos, do Departamento de Psicologia da Universidade Tuiutl do Paraná pelos discentes do grupo "I", supervisionados pelo professor e psicólogo Francisco Mârio Pereira Mendes CRP 08-1774, em cumprimento as determinações legais.
CURITIBA 1997
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	01
JUSTIFICATIVAS LEGAIS	02
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.	03
Conceitos Fundamentais.	15
O todo e a parte.	15
Relação figura e fundo	15
Aqui-e-agora.	16
Self	17
Self-suppot	19
Homeostase	19
Fronteira de Contato	19
Ciclo de Contato.	29
Awareness, conscientização ou tomada de contato	21
Experiência	22
Responsabilidade	23
Espontaneidade	23
O Paradoxo da Mudança.	24
Conceito de Doença	25
As Camadas da Neurose	26
Mecanismos de Defesa	27
Quem é o Gestalt-terapeuta e Como Trabalha Em Sua Arte	31
vii
A Relação Terapêutica na Gesta!t-terapia.. Recursos Gestálticos..
Presentíficação. um exercício de awareness..
Identificação..
Troca de Papéis ou Monodrama..
Dramatização.. Viagem Fantasia.. Amplificação..
Cadeira Vazia.. Expressão Metafórica.. Desenho..
Traço a Completar.. Massa de Modelar... Colagem..
Bonecos... Sonhos.. Feedback..
IDENTIFICAÇÃO DO CLIENTE.. HISTÓRICO PESSOAL..
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA PADRONIZAÇÃO DO CASO..
DISCUSSÃO ETIOLÓGICA . SUGESTÕES DE MANEJO.. AVALIAÇÃO TERAPÊUTICA.. CONCL USÃO..
viii
.... .... 34
.. 36
...... . .. 37
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......... 39
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.... 44
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.. 66
.................. ........ 70
. ··········· 73
ANEXOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ix
1J'.qi:06Jgia1'fi'nica 1 /J'B tuáo rfc Caso cm f._jcJtaft-tcrapia
INTRODUÇÃO
O presente trabalho relata uma experiência clinica sob enfoque da Gestalt-terapia.
O atendimento foi realizado por um acadêmico do quinto ano de Psicologia, supervisionado por um Gestalt-terapeuta e observado em sala de espelho pelos demais integrantes do grupo.
O processo psicoterápico baseou-se na premissa gestáltica de que todo ser-humano possui em si instrumental para sobrepor-se às dificuldades emergentes no decorrer de sua existência. Quando o individuobusca recursos para enfrent ar obstáculos apenas no meio externo está ilustrada a falta de suporte interno.
Todo trabalho realizadocom a cliente objetivou a (re-)descoberta deste instrumen ta l nela mesma, para que pudesse reconhecer sua existência como uma experiência singular.
PsicoWgin Cl'inica 4 f'Estuáo áe Caso em ;w a ft-u rapin
JUSTIFICATIVAS LEGAIS
Com a finalidade de atender ãs exigências legais , realizou-se o estágio supervisionado para a obtenção do titulo de psicólogo pela Universidade Tuiuti do Paraná
Exigências que constam de :
a) Lei 4.119 de 25 de agosto de 1.962, que dispõe sobre cursos de formação de Psicologia e regulamenta a profissão de Psicólogo;
b) O Decreto 53.464 de 21 de outubro de 1.964, que regulamenta a Lei supra citada;
e) O parecer do Conselho Federal de Educação nº29.262, no parágrafo único que diz:• ... é também obrigatório sob forma de estágio supervisionadoa prática das matérias que sejam objeto de habilitação profissional.·
1''.>ico of gia Ciuiica l.fl'B tuáo 1/e Ca.w l!m ;estalt-tera pia
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
" Ser livre não é ter o poder de fazer não importa o qué, é poder ultrapassar o dado para um futuro aberto."	(Simone de Beauv oi;) '/
Muito mais do que uma abordagem a Gestalt-terapia representa um estilo de vida, que tem sua ontogênese em pontos comuns com as escolas fenomenológica, existencialista e humanista.
A fenomenologia postula a noção de intencionalidade, na qual toda consciência é intencional e tende para algo fora de si, sendo sempre a consciência de alguma coisa. Consciência e fenômeno não podem ser pensados isoladamente. Segundo este pensar não existe objeto em si, este é sempre para um sujeito que lhe dá significado. Preocupa-se com a descrição da realidade, tendo como princípio da reflexão o homem e sua experiência. Aranha e Martins escrevem : "Nesse sentido a fenomenologia é uma filosofia da vivência.n l
Questões levantadas pelos pensadores fenomenológicos, tais como a importância da vivência imediata, a supremacia da descrição sobre a explicação, o fato de que a percepção é submetida a fatores subjetivos irracionais, e a urgência de conscientizar-sedo próprio corpo e da experiência, culminam nos seguintes conceitos gestâlticos: o como precede o porquê, o processo no aqui-e­ agora, o sentido único que cada indivíduo confere ao mundo e a experiência ímpar de cada ser humano.
1 Arnnha e 1'1a m n.s. Filosofando, introdução à filosofia. São Paulo. 1993 . P.304 .
1'.çicotOgia ('lÍJlica 'f' 'Estuáo leC asot mtJ1:staít-terapia
A mâxima A existência precede a essência" reflete o pensamento no qual a essência é o que faz com que uma coisa seja o que é. O homem, portanto, primeiro existe, para então definir-se. Os existencialistas incluem-se neste
pensar. que até então havia sido objetivo e distante do vivido.
Stõrig2 resume os sete princípios básicos do existencialismo:
1. A existência é a do ser humano, sendo assim esta constitui-se numa filosofia humanística.
2. Existência é sempre existência individual. A ênfase é na existência individual concreta.
3.0 ser humano não pode ser medido em categorias materiais. Ele é sua própria medida. Não possui, como por exemplo os objetos, características definidas, ele é que se faz (princípio da auto-responsabilidade).
4. O método dos existencialistas é o fenomenológico.
5. A filosofia existencialista é dinâmica, a existência é compreendida não como ser imutável e sim como ser no tempo.
6. A existência humana é sempre um "ser(estar)-no-mundo " e é sempre um "ser(estar)-com-os-outros ". Os existencialistas não são individualistas. Tomam a existência humana como unidade com dois pólos: Me xistência humana como existência individual" e existência humana como ser(estar)-com-os-outros"
7.0 pensamento da psicologia existencialista reveste-se de um cunho muito pessoal e determinado pela vivência. O que é também característica da psicologia humanística.
1 Stõrig , 1974. vol.2. p.293
2'.sicofogia Clínica lf''Estuflo fel Casoem{jestalt-terapia
Sartre. expoente existencialista, demonstra muitos dos principias acima citados em sua conhecida premissa: ·o importante não é o que fazem do homem. mas o que ele faz do que fizeram dele."
Do existencialismo a Gestalt apreende: a originalidade da experiência individual, a noção de responsabilidade que cada um deveria ter sobre seu projeto existencial e a relativa liberdade para realizá-lo, a vivência concreta que possibilita ao homem experimentar, assumir, orientar e dirigir sua existência em busca da auto-compreensão.
Outra grande influência sofrida pela Gestalt vem da psicologia humanistica, que surgiu como uma reação à desumanização e massificação dos individuas no século XX.
Este movimento prega a vivência como fenômeno primário no estudo do ser humano. Há valorização da capacidade de escolher, da criatividade, da avaliação e da auto-realização. A objetividade é substituída pelo sentido dos fatos.
O pensamento central dos humanistas é de que deve-se subsidiar o valor e a dignidade do ser humano, instrumentalizando-o para o desenvolvimento de suas forças e capacidades.
Heidegger3 pronunciou: MEstamosainda longe de pensar. com suficiente
radicalidade. a essência do ser. Conhecemos o agir apenas como produzir um efeito. Sua realidade efetiva é avaliada segundo a utilidade que oferece. Mas a essência do agir é o con sumar. Consumar
significa: desdobrar alguma coisa até a plenitude ae sua essência; levá-la à plenitude: producere. Por isto, apenas pode ser consumado, em sentido próprio, aquilo que já é. O que todavia, já é.
J Ko ff'ka. Ku n. 1s-s. P 9
'l'sicofogia L'linir.a VJ•fatuáo 1íe Caso em i1:stalt-te rapia
antes de tudo. é o ser.w E é este ser que consuma a própria existência. ou seja, utiliza sua potencialidade, o objetivo da Gestalt-terapia.
Friedrich Salomon Perls, o pai da Gestalt-terapia. por alguns considerado louco e por outros, gênio, foi dono de inegâvel criatividade. Junto com seus colaboradores, Laura Perls e Paul Goodman, produziu e disseminou princípios de uma terapia do contato. Terapia na qual o individuo é respeitado como ser único, dono de incomparável capacidade para ser espontâneo e feliz.
Ponciano fala de Fritz Perls e da importância de suas experiências na formulação da teoria: "...a Gestalt-terapia é uma Gestalt do homem. Ela não é um ecletismo vazio ou ilógico, mas uma síntese pensada e refletida do homem, assim como ele é visto, sentido e cerno foi visto pelo fundador da Gestalt-terapia. Ela é uma configuração do ser. Ela procura consumar a essência. "
Já o próprio Friedrich Salomon Perls descreve sua evolução partindo de "um obscuro menino judeu classe média, passando por um psicanalista medíocre até chegar ao passivei criador de um "novo" método de tratamento e expoente de uma filosofia viável que poderia fazer algo pela humanidade."5
A vivência de Perls proporcionou-lhe amar e odiar a psicanálise,
identificar-se com a anãlise de caráter, e finalmente, fluir com o Zen-budismo.
A psicanálise trata o psiquismo como algo isolado do organismo e a associação psicolôgica segue de maneira linear. Fritz pensa o organismo holístico e a associação livre através da teoria do campo de Kurt Lewin.6
" Ribeiro, Jorge Ponciano. Gesrnlt-ter:ipia. refazendo um caminho. São Paulo. 198 5. P.114 .
j Perls. Frit2.. Esca raíunch:mdo Fritz. São Paulo. 1979 . P.11.
'' Kun Lew in (1890-1947) foi além da teori a da Gestalt para uma teo ria geral do campo psíquico. que postulou n int erdependên cia entre o individuo e seu meio social. e culminou na criação da dinàmica de grupos. Lcwin paniu da teoria do campo eletromagnético de Maxwell, correlacionando-a aos trabalhos de M inkowski relativos ao espaço-tempo psicológico , e fin al mente , intcgrnndo estas aos conceitos psic:mnlitico s . Generalizou hipóteses do campo individu al para o psicossocial. Atua lmen te inte gra-se a teoria de campo â teoria geral dos sistem as
Tsicatogia ClimCa lf'Estuáo ,íe Caso emÇesla ft-terapia
Os psicanalistasconsideram o sujeito partindo de causas passadas e seus porquês, a Gestalt vê e sente a pessoa na realidade presente e visa compreender o como.
A despeito da repulsa que Perls desenvolveu por Freud, a Gestalt não é aquele, e nem a psicanálise é este. Portanto, há inegáveis contribuições psicanalíticas incidindo sobre a Gestalt-terapia, tais como: encorajar a transferência, a regressão, a compulsão à repetição, a catexia, a libido, a associação livre, a consciência, e o enfoque sobre a resistência. (vide anexo 1)
Os gestalt-terapeutasacreditam que a resistência nada mais é do que a fuga da conscientização. Conscientização que também se faz necessária em relação ao corpo. E para que se fale da importância do corpo na Gestalt-terapia é preciso descrever a influência exercida pela teoria de Wilhelm Reich.
Segundo Reich o caráter é composto das atitudes rotineiras e do padrão de respostas de uma pessoa, logo inclui atitudes e valores conscientes, estilo de comportamento e atitudes físicas. Estas atitudes físicas são observadas na postura e nos hábitos de movimentação e manifestação do corpo.
"Ou como", isto é, a forma do comportamento e das comunicações era muito mais importante do que o paciente dizia ao analista. As palavras podem mentir. A expressão nunca mente." 7
O corpo humano foi descrito por Reich como o retrato físico da psique e o caminho através do qual o terapeuta pode alcançar o psiquice. Seu método consistia em procurar afastar os mecanismos de defesa corporais para então buscar o total desenvolvimento da potência orgástica.
7 Reic:h. Wi!l'. lm. An:ilisc do Car:ítcr. flonugal. 1972. Pp.428-429.
 (
/
)'l.'sir.ologioClinica 1 1' fatuáo ife Caso cm Çe5taú-terapia
Perls e Reich concordavam na visão que tinham do homem, na questão
do corpo e na atitude existe ncial.(vide anexo 2)
O criador da Gestalt-terapia escreveu: • Wilhelm Reich foi o primeiro a chamar minha atenção para um aspecto extremamente importante da medicina psicossomâtica: a função da musculatura como couraça: ª
Fritz já havia fechado muitas gestalts quando reconheceu que a teoria da Gestalt-terapia tinha muitas coisas em comum com filosofias orientais tais como o Taoísmo e o Zen-budismo. Estudou, então, o Zen, que completou o sistema gestáltico proporcionando o fechamento-abertura de mais uma gestalt.
O Zen não incidiu na terapia gestáltica como uma religião, mas sim como
uma maneira de estar na realidade e a ela reagir. Influenciou no sentido de abertura, de abandono a si próprio, de não ser dominado pelo pensamen to (racionalização) e da fuga dos rituais, do re-descobrir o corpo e as emoções, da
não antecipação dos fatos e de não permitir a auto-interrupção.
É do contato com o Zen que Perls proferiu: "Consentira própria morte e
renascer, não é fácil.n 90 que quer dizer que ambos os processos faze m com que o indivíduo reconheça-se como uma nova pessoa, percebendo suas potencialidades e limitações e podendo responsabilizar-se por isto; é a tomada
de posse do indivíduo por si mesmo.
A Gestalt não trabalha com o problema em si, mas com a energia nele
presente; não extirpa um sentimento, mas ensina a lidar com ele, com o que representa este sentimento, com a energia que oculta e revela ao mesmo tempo .
·o Zen insiste constantemente acerca da importância da arte de viver
integralmente, presentes no presente, despojados das lições e tensões do
x Fndimnn. fame s & Frager, Roben. Teorias da Pe.rs onalidndc, São Pnulo, 1986. p . 129 .
Psico fogia t' línica 'l'lfstuáo 1(e Caso em iestaü-terapia
e goísmo: sempre disponíveis para a linguagem incessantemente nova dos
fatos."1º
Tanto pensadores Zen, como gestálticos, acreditam que a frustração é necessária ao crescimento, assim como é preciso sentir mais e pensar menos. Divulgam o continuo crescimento, o contínuo desenvolvimento da liberdade pessoal. da criatividade e do sentido do poder e dos limites.
Para Perls o homem somente transcende a si mesmo através de sua real natureza. Não pode ser diferente daquilo que é sua natureza, pois isto seria condenar-se ao fracasso existencial. Deve sim, conhecer sua natureza e permitir que ela fiua. O homem é o que é, e o melhor que pode fazer a si próprio é ser plenamente ele mesmo.
Apesar de todos os antecedentes e influências sofridas por Fritz Perls. a criação sistematizada da Gestalt-terapia deu-se a partir de princípios e fundamentos da Psicologia da Gestalt. Importante ressaltar que a cronologia da criação da Gestalt-terapia é circular, eventos simultâneos influenciaram-na e
contribuíram para sua composição.
Gestalt é uma palavra alemã para a qual não há equivalente na língua portuguesa, ela quer dizer: disposição ou configuração, uma organização específica de partes que constitui um todo distinto, forma.
A Gestalt Psicologia configura-se no início do século XIX, na Alemanha e na Áustria como uma reação aos pontos de vista atomísticos da psicologia estrutural e da psicologia associacionista. Seu precursor foi Max Wertheimer, que em 1912 publica o experimento no qual trabalhou com Wolfang Kohler e Kurt Kafka . Através deste experimento concluiu-se que a percepção do movimento
'> Perls. Gest:dt-tcrapia explicada. São Paulo. 1977 .p.7 .
Psicologia Cfinúa 1 f''Estuáo ife Caso em
;estaú -terapia	10
depende das caracte rísticas relacionadas aos estimulas e da sua organização
neural e perceptiva num único campo.
Nas décadas de vinte e trinta a Gestalt Psicologia foi aplicada ao estudo da aprendizagem, resolução de problemas, motivação, psicologia social e á teoria da personalidade. Para tais estudos postularam-se as leis gestálticas, que mais tarde serviriam de base para os conceitos da Gestalt-terapia.
A lei gestáltica da dinâmica entre figura e fundo, explica que os organismos adaptam-se para alcançar sua organização e equilíbrio ótimos, e que um dos aspectos desta adaptação envolve a forma pela qual um organismo, num dado campo, torna suas percepções significativas, ou seja, a maneira como distinguefigura e fundo. O organismo seleciona o que é de seu interesse (figura) num dado momento. Ora o que é figura no campo de percepção do individuo torna-se, em outro momento, fundo e vice-versa.
A figura não é uma parte isolada do fundo, ela existe no fundo, e este
revela-a e permite-a surgir.
A lei gestáltica da semelhança relaciona-se á tendência de se perceber coisas que de alguma forma se assemelham como padrão, e a lei da proximidade aplica a esta mesma razão em relação aos objetos que encontram­ se mais próximos uns dos outros.
A lei da pregnáncia ou boa forma diz que percebemos um padrão de maneira a emprestrar-lhe a melhor gesta/! passivei. O fato de que linhas totalmente fechadas de uma figura, sob circunstâncias idênticas, são mais facilmente tomadas como unidade do que se não estivessem fechadas, define a lei gestáltica do fechamento.
10 Benavides. 1977 . p. \ 56.
1PsicotopW ('[ínica lf'l mu(oáe Caso em it.Staú-teraoiJJ	l i
Outro conceito de suma importância para a explicação desta teoria é o de campo. Campo é um todo de fatos simultâneos que podem ser compreendidos ao mesmo tempo e de maneira exclusiva. Os Gestalt Psicólogos acreditavam que o comportamento individual era resultante do campo que o indivíduo podia perceber. Os erros ou enganos eram considerados consequências da percepção
defeituosa do campo.
O conceito gestáltico de homeostase fala que este equilíbrio é inerente ao organismo humano. O desequilibrio é ocasionado por várias influências da sociedade ou do próprio organismo.
A Psicologia da Gestalt defende a ênfase no presente pressupondo que todos os fatores que infiuenciam a dinâmica dos campos de percepção e de atuação relacionam-se com a atuação presente do homem em seu campo.
Segundo a Gestalt o aqui e agora contém e explica a relação do indivíduo com a realidade como um todo. O que é percebido no agora pode ser explicado pelo próprio agora, sem recorrer a experiências passadas de percepção. A realidade difere das expectativas que a precedem.
"Embora, por vol/a de 1940, a teoria da Gesta!/ já tivesse sido aplicada em muitas áreas da Psicologia, foi em grande parte ignorada no exame da dinâmica da estrutura da personalidade e do crescimento pessoal. Além do mais, ainda não havia nenhuma formulação de principias da Gesta// especificas para a psicoterapia. Assim, é a partir desse ponto que podemos começar a ver o papel
de Fritz Perfs, responsávelpela ampliação da teoria da Gestalt a fim de incluir a
psicoterapia a uma teoria de mudança psicológica."11
11 Fadiman. fomes & Fragcr, Robcn, Teorias dn Personalidade . São Paulo, 1986. p. JJ 1.
Psicologia L'li'nica 1 f'Est11áo áe Caso e.m t_ic!Jta ft-terapia	12
Ê uma afirmativa da Gestalt-terapia que o indivíduo deve ser visto como um todo e que a compreensão de seu comportamento é possibilitada se o mesmo for visto dentro de um determinado campo, com o qual relaciona-se no
contexto total. O campo psíquico descrito por Kurt Lewin é formado pela interdependência entre a pessoa e seu meio social.
A Teoria do Campo revela que o mesmo possui regiões diversas, tais como: perceptiva, motora e intrapessoal. Estas comunicam-se entre si, e a comunicação, por sua vez pode produzir: alterações nas regiões, diferenciação de limites entre zonas, maior ou menor enrijecimento de uma região e reestruturação do espaço vital.12
O campo lewiniano revela a pessoa como um universo fechado, que por sua vez encontra-se obrigatoriamente dentro de um universo mais amplo, e ambos universos se inter-relacionam ininterruptamente. E é dai que se distinguemduas propriedades: diferenciação e relação parte-todo.
A diferenciação é a separação do resto do mundo por meio de um limite continuo. A relação parte-todo é a inclusão da pessoa num universo maior. Ao mesmo tempo que o homem individualiza-se, ele inclui-se num universo mais amplo.
O princípio fiuidez-rigidez descrito por Lewin diz que o meio fiuido é aquele que responde prontamentea qualquer infiuência que recaia sobre ele, logo, o é flexível é influenciãvel, e o rígido é resistente à mudança.
A locomoção, conceito próprio da Teoria do Campo, ocorre no meio psicológico. e é uma relação dinâmica entre dois fatos ou acontecimentos em
12 Esta reestrrnunção sign ifica um novo campo em relação a um foto, ou acontec imento. o u novo modo de lida r consigo proprio
Pi.;ico fogin ('finita lf''Estuáo áe Caso em(jestaú-terapia	13
in teração. Para que exista um acontecimento é preciso que haja interação dos fatos.
Há três princípios que caracterizam o campo: o da conexão. o da concreção e o da contemporaneidade. O primeiro fala que a conexão acontece
pela interação de dois fatos. o segundo afirma que só fatos concretos no espaço
vital podem produzir efeitos. E o terceiro diz que só os fatos presentes podem criar um comportamento atual.
Além dos conceitos estruturais acima citados existem os dinâmicos, que também influenciaram a Gestalt-terapia: energia, tensão, necessidade, valência, força ou vetor.
A energia pode ser, por exemplo, psíquica como a emoção. Trabalhar uma energia significa atingir um campo. Tensão é um estado alterado de uma região em relação a outra região. Se uma tensão ou uma energia diferencia-se em uma determinada região é porque surgiu uma necessidade, que se satisfeita faz com que o campo recupere o equilíbrio. O conceito de valência está ligado ao valor que se dá a uma determinada necessidade. As forças psicológicas do meio que atuam sobre a pessoa, neste caso, são os vetores; a força está ligada á necessidade que existe por trás de uma tensão, ocorrendo no meio psicológico, enquanto a tensão está no sistema intrapessoal.
A Psicologia da Gestalt absorveu muitos conceitos da Teoria Organismica de Kurt Goldstein, que tenta reduzir a divisão cartesiana do indivíduo em mente e corpo e a atomização da mente proposta por Wundt propondo um modelo no qual o homem é um todo unificado, um campo integrado e não uma cisão de sentimentos. sensações e imagens.
Psico fogia C[inica 1/l'Estuáo áe Caso em cjw aú-rerapill	14
Goldstein concluiu que um sintoma não poderia ser compreendido apenas através de uma lesão orgànica, mas propunha pensar o organismo como um todo.
Segundo uma visão organismica o individuo é uno, integrado e consistente, auto-regula a si mesmo em busca da atualização, embora peça e receba influências positivas do meio externo; o organismo é um sistema organizado, com o todo diferenciado em suas partes.
u o organismo é uma só unidade; o que ocorre em uma parte, afeta o
todo."13
Paul Goodman, o primeiro teórico da Gestalt-terapia, ao formular sua teoria do se /f, pensa um ser/estar holístico, no qual as função fisiológicas , psíquicas, afetivas e o próprio corpo dependem mutuamente uns dos outros.
Considerado um dos mais criativos pensadores americanos deste século, diretor dos dois primeiros institutos gestálticos (o de Nova Iorque, fundado em 1952, e o de Cleveland , em 1954), principal teórico do "Grupo dos Sete", Paul Goodman escreveu que a psicopatologia estuda a interrupção da inibição ou outras "falhas" na criatividade e espontaneidade.
Participou, junto a Fritz e Ralph Hefferline, na elaboração do que culminou como a "bíblia" da Gestalt-terapia. "Gesta ft-te rapia",
o livro , foi publicado pela primeira vez em 1951, trazendo além de conceitos, relatos e comentários de experimentos gestálticos. É nesta obra que Goodman expõe a teoria do self.
O seif é descrito como o processo permanente de adaptação criadora do homem ao seu meio interno e externo. Reflete-se na maneira particular que cada pessoa utiliza para expressar-se em seu contato com o meio.
13 Hall & Lindzey. 1971.p. 332.
Psi.coúg, ia ( :(íni.ca IJl'f.stwfo áe Caso em tjestaú-tcrapin 	15
Depois da obra acima citada muitas outras obras vieram, na tentativa de explicar algo que só ê compreensível pela própria vivência. Pode-se então, dizer que GestaU-terapia é uma terapia do contato, da experiência, das percepções, do auto-conhecimento, da auto-satisfaçãoe da vida.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA O EXERCÍCIODA GESTALT-TERAPIA
O Todo e a Parte
Uma gestalt é um todo, e na percepção o todo precede a parte. Isoladamentecada parte tem suas propriedades, mas na soma das partes há uma característica mor, própria desta adição: "O todo é diferente da soma de suas partes".
O individuo não é apenas um produto proteico somado a descargas elétricas e meio ambiente. Ele é a interação de seu organismo, seus pensamentos, sensações, emoções, linguagem e ações e como estes interagem com o mundo.
A própria Gestalt-terapia não é uma soma de seus conceitos, há um campo no qual se desenvolve e configura-se como tal. Procura trabalhar com o cliente e a relação terapêutica como um todo.
Relação Figura e Fundo
Um fenômeno observado nunca é uma realidade per se, mas sim uma inter-relação entre o fenômeno e seu observador. O fenômeno observado é a figura, que não existe isolada, mas surge de um fundo.
Psicohgia Cl"ínica lfl'Bt wfo ife Ca.so em ;esta fi:-terapia 	16
Figura e fundo alternam-se no campo perceptual do cliente; o que em alguns momentos é fundo, em outros é figura. Uma figura pode tornar-se fundo porque fechou-se uma gestalt consequentemente à resolução de algo, ou não tendo suporte para completar uma configuração, o indivíduo nomeia uma nova figura e torna fundo aquilo que não pode ser trabalhado no momento.
Parafraseando Ponciano Ribeiro: u Em Gestalt se afirma que o cliente é sempre figura e o psicoterapeuta, fundo. O cliente é figura porque é ele que deve surgir como diferenciado na configuração e porque é sua comunicação que vai apontar o caminho de uma procura mais ampla.(...)na relação psicoterapêutica é a relação entre figura e fundo que cria organização."
Aqui-e-agora
Estar no aqui-e-agora significa que este momento contém e explica a relação com a realidade como um todo. Passadoe futuro são examinados tendo­ se em vista seu significado para o agora. Experiências opressoras que dificultaram a auto-realização atuam sobre o presente.
"Somos simplesmente campeões mundiais em fazer recriminações atrasadas a nós mesmos porque deveríamos, em determinada situação, ter agido de forma diferente, pelas possibilidades que tivemos, pela nossa educação que transcorreu de forma restrita etc. Também, por esbravejarmos contra o nosso destino ou contra nossos erros no passado, deixamos de dar atenção e realmenteviver e vivenciar aquilo que existe agora, no momento."' 4
1 Frcch e1 ai. l 9 78c
Tsico ofgia Clinica tff'Estuáo ác Casocm(jestaú-terapia 	17
A pessoa evita entrar em contato com acontecimentos e percepções atuais quando fica presa àquilo que fez ou deixou de fazer, bem como quando apega-se âs coisas que poderão vir a acontecer.
O passado e o futuro encontram-se como sentimentos e percepções no presente e sobre ele incidem. O campo do cliente apresenta-se na relação entre o organismo, o passado e o futuro, que configuram um dinamismo no aqui-e­ agora. e este sistema dinâmico basta para que o terapeuta possa compreender seu cliente tal como ele se mostra.
Sei!
Goodman definiu o se/f como um processo, e não como uma estrutura fixa do meio psíquico. "Um processo especificamente pessoal e característico de sua maneira própria de reagir, num dado momento e num dado campo, em função de seu "estilo " pessoal. Não é um "ser': mas um "ser no mundo", variável conforme
as situações." 15
O self pode ser considerado como estando na fronteira do organismo, mas a própria fronteira não está isolada do ambiente; entra em contato com este e pertence a ambos, ao ambiente e ao organismo. O contato é o tato tocando em alguma coisa. Não se deve pensar o se!f como uma entidade fixa, ele existe onde quer que haja de fato uma interação de fronteira e sempre que ela existir.
Esta visão aqui descrita do sei! não é a clâssica, na qual ele é um centro, um processo que existe por si só. Para a Gestalt o self é o contato e dele depende para existir.
O se!f tem três funções nas quais aparece com intensidade e precisão variáveis dependendodos momentos em que se estabelecem. A função "id" está
P.çicoíogia t.1inica ' f''B tuáo áe Caso cm ;estaá-tcrapia	18
relacionada à energia vital, às necessidades vitais e sua tradução corporal; age involuntariamenterefletindo atos automáticos. O "id" surgecomo sendo passivo, disperso e irracional, seus conteúdos são alucinatórios( imagens e fantasias aue surgem espontaneamente) e o corpo agiganta-se. O corpo parece enorme porque com o sentido e o movimento suspensos, as sensações sobressaem-se no campo.
A função "eu" ou "Ego" é ativa, manifestando escolha ou rejeição voluntârias; acusa a responsabilidade do individuo de aumentar ou limitar o contato. Possibilita a manipulação do meio partindo da conscientização das próprias necessidades e desejos.
A função "personalidade" é a representação que a pessoa faz dela própria, é a auto-imagem que instrumentaliza-a a reconhecer a função "Ego ; permite a construção da identidade. É o sistema de atitudes adotado nas relações interpessoais. Ê a admissão do que se é que serve de fundamento pelo qual pode-se explicar o próprio comportamento. Quando o comportamento interpessoal é neurótico a personalidade é formada por alguns conceitos errôneos acerca do campo. Mas no decorrer da terapia a personalidade torna-se uma espécie de estruturade atitudes compreensíveis pelo outro e por si mesmo.
Para Ginger & Ginger em suas três funções o self aparece com uma intensidade ou uma precisão variável conforme os momentos: assim, às vezes, o indivíduo não se reconhece em uma reação que não é habitual nele, como quando um momento de afeto "invade-o". Em outros momentos, seu self "se dissolve numa intensa "confluência" ou ao contrário, num estado de "férias"
1' Gingcr & Ginger, Gu 1a lt. uma te rapia do contato. São Paulo. !995.p.126.
P.sico!Ogia Clínica ' P'Btmfo ác Caso em(;t!staft-terapúi	19
Int erior, de vazio fértil", antes da emergência de uma nova figura que mobilizará sua atenção. 16
Self-suportt
O reencontro do self-support ou suporte interno pelo próprio indivíduo, é uma das máximas da Gestalt-terapia.
Cada pessoa possui em si mesma o instrumental para enfrentar as adversidades do meio. Este instrumental compõe o suporte interno, que fica disponivel à medida que toma-se consciência de sua existência.
Homeostase
A homeostase é um processo de auto-satisfação das necessidades do organismo para a manutenção de seu equilíbrio e saúde; é auto-regulador. Quando o processo homeostático não funciona harmoniosamente permanecendo em desequilíbrio e sendo incapaz de satisfazer suas necessidades, diz-se que o organismo está doente.
A auto-regulação é um processo pelo qual o organismo interage com o meio em busca de equilíbrio, é, portanto, a própria homeostase
Fronteira de Contato
É uma fronteira entre eu mesmo e o mundo, que protege e delimita, possibilita trocas com o meio.
;/O 'entre' não é um constructo secundário, mas o verdadeiro lugar e o
berço do que acontece entre os homens; não tem recebido atenção particular. porque, distintamente da alma individual e de seu contexto, não exibe uma
16 lbdem p.1'.;S
Psicologia C{úrica 1/J'E.duáo ife ('aso em(je.staú-terapia
20
continuidade uniforme, mas está sendo renovadamente reconstituído de acordo com os encontros dos homens entre si. "17
Não é um limite no sentido restrito, não é algo que afasta. A fronteira é continente, possibilitando o contato, a união e a distinção, o crescimento.
"Quando nos referimos a 'fronteira' pensamos em uma 'fronteira entre', mas a fronteira de contato, em que a experiência ocorre, não separa o organismo e seu ambiente; em vez disso, limita o organismo, o contem e o protege, tocando ao mesmo tempo o ambiente."18
É na fronteira entre o meio e o organismo que ocorre a experiência que leva ao crescimento. É nela que os perigos são rejeitados, os obstáculos superados e o assimilâvel é selecionado e englobado.
Ciclo de Contato
O Ciclo de Contato também é conhecido como ciclo de contato-retração, ciclo de satisfação das necessidades, ciclo de auto-regulação organismica, ciclo de experiência e ciclo da Gestalt.
Em pessoas saudâveis o ciclo pode ser resumido da seguinte forma: identificação da necessidade dominante, satisfação da necessidade e identificação de novas necessidades emergentes. Este é um movimento permanente de formações e dissoluçõesde gestalts, segundo uma hierarquia de prevalências que se tomam figuras.
Segundo Goodman o ciclo divide-se em quatro fases: pré-contato, tomar contato (contacting), contato pleno ou "final" e pós-contato ou retração; a cada
17 Buber. 196 5. p.:!.03.
1 Goodman. Hcfferline & Pcrls, 195 l .p. 229 .
P.;ilofogUJ ( · fní ica lfhfatuáo rfe Caso em ljestaft-terapill	21
 (
fase 
o 
self 
funciona 
de uma 
maneira 
e 
uma 
nova figura emerge do mobilizando 
a atenção.
O 
pré-contato 
é uma fase de sensações durante a qual a percepção
)
excitação, que aparece no corpo do indivíduo gerada por estímulos externos. tornar-se-á a figura que solicita o interesse do sujeito. O self funciona no modo "id•. pois são relevantes a energia e necessidadesvitais e sua tradução corporal.
No momento em que o self funciona do modo "eu", possibilitando o livre arbítrio e a ação responsável sobre o meio. acontece a fase de tomar contato ou contacting . É uma fase na qual ocorre o enfrentamento do meio pelo organismo. Fica estabelecido o processo de contato.
O contato pleno é uma fase na qual o organismo não se diferencia do meio, é uma confluência saudável que possibilita a abolição momentânea da fronteira de contato. A ação é no aqui-e-agora, unindo percepção, emoção e movimento. O selfé passivo e ativo ao mesmo tempo, ainda na função MeuB , mas com intensidade reduzida.
Na fase de retração ou pós-contato as experiências são assimiladas, o que leva o individuo ao crescimento. O self funciona como "personalidade.
integrando a experiência à vivência da pessoa. Fecha-se uma gestalt para a abertura de outra; é o fim de um ciclo e o início de outro.
Awareness , Consc ientização ou Tomada de Consci ência
A conscientização é um estado de consciência atento aos acontecimentos presentes(outros estados de consciência seriam por exemplo: vigília, sonho, devaneio). É a tomada de consciência global no aqui-e-agora, voltada ao conjunto de percepção pessoal, corporal e emotiva, interior e do meio ambiente.
T.•icotogia Ctíllica 1P'Es1111fo tfe Casoem C.;'e.stall -tera pia 	22
Existe em três níveis: interno, externo e de mediação.
O nível interno refere-se à auto-percepção. auto-conscientização através do contato consigo mesmo.
O nível externo relaciona-se à tomada de consciência direcionada às outras pessoas e ao meio.
O nivel de mediação está ligado ás fantasias, projeções e mecanismos de defesa que impedem o contato com a realidade.
"A conscientização é um processo continuo de percepção daquilo que ocorre no aqui-e-agora."19
Segundo Pelrs o crescimento é um processo de expansão das áreas de autoconsciência, a fuga da conscientização inibe o crescimento psicológico.
A autoconscientização é impulsionada pelo continuum de consciência, que é um fluxo permanente de sensações, sentimentos e idéias que constituem o fundo sobre o qual se destacam figuras emergentes. O continuum é estar consciente do que experienciamos a todo instante.
Experiência
A experiência é o único caminho para o verdadeiro conhecer. Ao mesmo tempo que é preciso tomar contato, conscientizar-se e responsabilizar-se para experienciar, esta é quem permite o contato, a conscientização e a responsabliidade.
As experiências passadas somente são levadas em conta se perturbam a vivência de acontecimentos atuais.
l? French, 19 77.p. ó.
'.l'sicvfôgia Clinica 1/l'Estuáv de Ctuo em ;estalt-terapin
Responsabilidade
Para Perls: "A responsabilidade é a habilidade em responder, em ser o que se é, . ,2o
Quando o sujeito responsabiliza-se por suas ações retoma a capacidade de comunicar-se diretamente, criando condições de externar sua parcela participativa nos acontecimentos.
Onde começa a responsabilidade termina a projeção. Deixa-se de culpar o
meio, para assumir-se como determinante das próprias dificuldades.
Espontaneidade
Ao invés de tentar explicar a espontaneidade através de conceitos, rememoremos um bebê que chora quando tem fome independentemente de que horas são, e dorme quando tem sono, mesmo com o sol a pino. Ele é espontâneo, não está condicionado a auto-interromper-se em busca da aceitação do meio externo.
 (
1
)À medida em que cresce, toma-se uma necessidade adaptativa que comporte-se de acordo com padrões pré-estabelecidos. e não espontaneamente. Segundo Perls: " Muitas das necessidades individuais se opõe à sociedade. Competição, necessidade de controle, exigências de perfeição e maturidade, são características de nossa cultura atual. Oeste fundo surge a
praga e a causa de nosso comportamento social neurótico,. ,2
A espontaneidade possibilita ao sujeito ser como é , tomando decisões a partir de suas sensações, assim ele não se submete a novas introjeções.
:o Perls. Fritz. Gestalt-t erap ia explicada. São Paulo. 1977.p.75.
1 Perls in Isto l' Ge,stah . São Paulo. 197 5. p. 19 .
•Psicofógía cfinica 1/l'Ew ufo ác Caso em cjestaft-terapia	24
Pode-se dizer que a espontaneidade leva à criatividade, pois ao não mais submeter-se às introjeções, o indivíduo é levado a criar seus próprios meios de responder às situações.
Sendo espontâneo, o sujeito é capaz de reconhecer suas necessidades e assumir suas responsabilidades.
O Paradoxo da Mudança
O paradoxo da mudança" consiste no funcionamento da alteração, pois "a mudança ocorre quando uma pessoa toma-se o que é, não quando tenta converter-se no que não é " 22
Frente a esta questão de mudança o terapeuta deve comportar-se segundo uma atitude fenomenológica de aceitação incondicional, permanecendo com o cliente onde quer que este esteja.
O terape uta deve expressar a crença de que se a pessoa investir em si mesma plenamente na forma em que estiver, então ela poderá mudar porque todo o viver é um processo.
O trabalho baseado na perspectiva dialógica Eu-Tu não objetiva "mudar" o cliente, mas apenas compreender sua existência e encontrá-lo. Aquele que procura a psicoterapia é uma pessoa em conflito que só estará pronto para qualquer tipo de alteração de padrões a partir de uma awareness suportiva.
Esta awareness desenvolve-se quando a pessoa investe na experiência atual, sem exigências para mudá-la e sem julgamentosde que não deveria ser o que é.
1 Bcisscr. Arnold. Ges1alt-1cra pia. teoria, técnicas e ap licaçõc . Rio de Jane iro, 1997 . ca p.6.
PsicoÚJgia C f'inic.a 1l''B ttuÍo áe Caso em ljestaft-terapia	15
Conceito de Doença
"Cada um de nós é, em maior ou menor escala, neurótico, ou seja, as possibilidades de crescimento pessoal só podem ser utilizadas de modo extremamente escasso. ''23
As condições sociais dificultam o desenvolvimento pessoal satisfatório, promovendo o aparecimento da neurose. Esta ocorre sempre que o contato consigo e com o meio é perturbado, o que caracteriza uma percepção errônea do campo.
A neurose está a seiviço da auto-defesa do individuo, que se fixa a padrões rígidos de comportamento
perdendo assim sua espontaneidade e auto­ confiança.
Quando os limites do meio social invadem os do indivíduo, este sente-se incapaz de encontrar e manter equilíbrio adequado entre ele e o resto do mundo, instalou-se aí a neurose.
Os problemas não são causados apenas pelo que é reprimido, mas pelas auto-interrupções que impedem a aprendizagem. Dificuldades neuróticas relacionam-se com a impossibilidade de perceber pontos cegos e a que estes estão ligados.
O estado saudãvel caracteriza-se por um processo permanente de homeostase que ocorre na fronteira de contato e na qual o sujeito está preparado para o contato com o meio e consigo próprio.
D Pcrls in Gcsiallp«iagogin. 198 5.p.70
Psico fogin ( (ínica 'l-''Estutfo rfc Coso cm{ ;csta/Hcrapia	26
As Camadas da Neurose
Fritz fala da neurose constituída de cinco camadas: camada dos clichês, camada dos papeis, camada do impasse. camada implosiva e camada explosiva.
A primeira ê representada por símbolos sem significado usados num "encontro". Por exemplo: o hábito de dizer "Bomdia ' sem percebe-lo como tal.
A camada dos papéis denota jogos e desempenho de papéis sociais.
Ambas camadas acima descritas são superficiais e sociais. São camadas nas quais o individuo finge ser melhor, ou mais educado, ou mais fraco, etc, do que realmente é.
A camada do impasse dá ao individuo a sensação de estar preso ou perdido. Visa evitar o sofrimento de ir adiante buscando o que realmente é. Este sofrer está intimamente ligado ao crescimento.
A quarta camada, a implosiva ou da morte, pode permanecer encoberta pelo impasse. Mostra-se como medo da morte, devido à paralisia causada por forças em oposição, ê como uma catatonia, nos agregamos, contraímos e
reprimimos, nos implodimos" 24
O medo da morte aparece com a possibilidade da explosão e o receio que isto gera. O temor de ser perseguido, punido, não ser amado e assim por diante.
A implosão resulta na explosão, fato que culmina na quinta camada. Esta explosão é o elo com a pessoa autentica, capaz de vivenciar e expressar suas emoções.
14 Perls. Fritz. Ges1:i.lt-1crap ia explicada. São Pnulo, 19 77. p.85.
Tsicofoj!il C[inica lfl'E.,1-uáo le ( aso em Cjt'staú-terapia	17
Há quatro tipos de explosão: explosão em pesar genuíno, onde trabalha­ se com a perda não assimilada; explosão em orgasmo, em pessoas sexualmente bloqueadas; explosão em raiva e explosão em alegria.
A explosão não deve ser vista como um ruido passageiro, acontecimento constante e muitas vezes silencioso. Não é uma regra que esta explosão, como as demais que conhecemos, produza ferimentos, estilhaços e mobilização de várias pessoas. Pode ser um acontecimento introspectivo que leva ao auto-conhecimento.
A partir do momento no qual a pessoa sai do papel, entra no impasse e vislumbra a possibilidade de ampliar seu campo de percepção, vivenciando então o que as camadas subsequentes proporcionam.
Mecanismos de Defesa
Mecanismos de defesa, mecanismos neuróticos ou resistências são perturbações na fronteira de contato que impedem o individuo de experienciar os acontecimentos em sua totalidade.
Estas resistências podem ser saudáveis ou patológicas conforme sua intensidade.flexibilidade e o momento em que ocorrem (vide anexo 3)
lntroiecão
Para Perls25 a introjeção ê o mecanismo neurótico pelo qual fixamos em nós regras, atitudes. modos de agir e de pensar, que não são nossos próprios. A introjeção significa que se coloca a fronteira de contato dentro de si mesmo e quase nada sobra da própria pessoa.
" Pcrls, 19 76 . p.53
Psicofog,a Clinica 1/ül
tutfo tfe Caso em (jestafHuapia	28
O individuo tende a responsabilizar-se por coisas que cabem ao meio externo.
Segundo Ponciano: "A introjeção é o processo pelo qual obedeço e aceito opiniões arbitrárias, normas e valores que pertencem a outros, engolindo coisas dos outros sem querer, sem conseguir defender meus direitos por medo da minha própria agressividade e da dos outros. Desejo mudar, mas temo minha própria mudança, preferindo a rotina, simplificações e situações facilmente controláveis. Penso que as pessoas sabem melhor do que eu o que é bom para
mim. ..26
A medida que o sujeito tenha um sentimento que possibilite escolhas e
desenvolva suas habilidades em diferenciar eu· e Mtu·, diminui-se o uso da introjeção como resistência ao contato consigo mesmo ou com o mundo.
Projeção
A projeção é o mecanismo oposto à introjeção. É a tendência de fazer o
meio responsâvel pelo que se origina na própria pessoa.
Neste mecanismo a fronteira é deslocada exageradamente para além de
si mesmo em direção ao mundo.
Diz Ponciano: "A projeção é o processo pelo qual tenho dificuldade de identificar o que é meu, atribuo ao outro, ao mau tempo , coisas que não gosto em mim, bem como a responsabilidade pelos meus fracassos, desconfiando de todo mundo, como prováveis inimigos. Sinto-me ameaçado pelo mundo em geral, pensando demais antes de agir e identificando facilmente nos outros dificuldades e defeitos semelhantes aos meus e tendo dificuldade de assumir
16 Ribeiro . Jorg e. O Ciclo de Contato. São Pau lo , 1997 . p. 46 .
PsiCo fogiJJ Clínica 1 f''Estuá o áe CaJo cm cjeJta ft-tcrapia 	29
responsabilidade pelo que faço, gosto que os outros façam as coisas no meu lugar."27
Um caso extremo deste mecanismo é a paranóia, na qual acusa-se todo o ambiente pela agressividade que pertence ao projetor.
A projeção faz com que se atribua a outra pessoa aspectos desagradáveis da própria personalidade, fazendo-se vitima das circunstâncias ambientais. Há um tipo de projeção chamada de "projeção em parte de si mesmo", na qual uma parte do próprio corpo recebe a projeção e destoa das demais. Pode ser um órgão doente ou algo que se estima demasiadamente no corpo.
Confluência
Na confluência não se percebe nenhuma diferença entre si mesmo e o meio, sente-se que ambos são um só.
O confluente não consegue vivenciar as próprias sensações, tem necessidade da semelhança e recusa tolerar quaisquer diferenças.
"O ser humano patologicamente confluente vai dando nôs em suas necessidades, emoções e atividades, transformando-as num novelo irremediavelmente emaranhado, até ele mesmo não estar consciente daquilo que quer fazer e de como esta se impedindo de fazê-l,o. a,2
A psicoterapia como alternativa ã confluência visa desenvolver o sentido de limite e a capacidade de diferenciar as próprias necessidades das dos outros.
ORAÇÃO DA GESTALT
Por Fritz Perls Eu faço minhas coisas, e você faz as suas
Não estou neste mundo para viver de acordo com suas expectativas E você não está neste mundo para viver segundo as minhas
?7 Ribeiro. Jorge, O Ciclo de Contato. São Paulo , 1997. p. 44.
Psicologia Cli'nir.a 1 f''Bt uáo l c Caso t mtJcsta ft-terapia	30
Eu sou eu, e vocé é você
E se por acaso nos encontrarmos, é lindo.
Se não, nada há a fazer.
Deflexão ou desvio
É um mecanismo que evita o contato direto e que permite à pessoa esquivar-se de um compromisso.
Segundo Polster: "A deflexão é um método de se evitar um contato direto com outro ser humano. É um método de enfraquecer o contato atual. O que é
alcançado através da prolixidade, de um modo exagerado de expressão. em se
falando continuamente num tom jocoso, não encarando o parceiro de conversa diretamente, não se chegando nunca à questão... ,g.z
A deflexão pode, em casos extremos, evocar a psicose: a pessoa nunca adere à situação, fala paralelamente de outra coisa ou age independentemente do meio exterior.
Na retroflexão o sujeito faz a si mesmo aquilo que gostaria de fazer aos outros, ou ainda, faz a si próprio o que gostaria que outros fizessem.
O retrofletor cinde sua personalidade em agente e paciente da ação, observador e observado, tornando-se seu pior inimigo.
Não dirige suas energias para fora e não tenta manipular o meio para promover mudanças que satisfaçam suas necessidades particulares. Coloca-se no lugar do mundo como alvo de seu próprio comportamento.
Proflexão ( Si/via
Crocker)
É uma combinação de projeção e retroflexão. Consiste em fazer ao outro o que gostaria que este fizesse. "Eu existo nele."
s:i Pcrls. 1976b . p.56-58
'l'sico fiigiaClii1ú.a 1//'Estmf o áe Caso em cjestali --terapia	} 1
Há um desejo de que o mundo seja como a pessoa quer. Manipula-se o meio a fim de obter o que precisa. seja fazendo o que o outro gosta ou submetendo-se passivamente.
' Tenho dificuldade de me reconhecer como minha própria fonte de nutrição e lamento profundamente a ausência do contato externo e a dificuldade do outro em satisfazer minhas necessidades.""'
É através da interação com o ambiente que o proftetor pode experienciar
um contato saudável.
Eqotismo
É um reforço supremo da fronteira de contato. que se caracteriza pelo grande interesse da pessoa por ela mesma e seus problemas.
Nesta situação a pessoa permite-se a satisfações antes inibidas e sente que conquistou autonomia tendo poder de escolha.
O egotismo, mesmo parecendo um momento de egoísmo, é um elemento motor essencial para que o cliente em psicoterapiaencarregue-se de si mesmo e conquiste se /f-support.
Quem é o Gestalt-terapeuta e como trabalha em sua arte
O gestalt-terapeuta aponta o conteúdo que está sendo trazido como mais importante em determinado momento psicoterápico,a figura é ditada pelo ímpeto de autro-preservação do cliente, que geralmente chega ao consultório com o pedido de segurança e aprovação.
29 Jlolster & Polster . 1 9 77 p.93.
lo Ribeiro. Jorg.e.. O Ciclo de Contato. São Paulo, 1 99 7. p. 42 .
'i'sicofogia e'fo1ica 'l' 'E.stulo ,fo Caso em iestall-terapia	32
Faltando apoio interno (self-suppo rl), é assim que o cliente surge pedindo ajuda, sem habilidade para abstrair e integrar as abstrações, sente-se confuso e incapaz de enfrentar os acontecimentos.
O terapeuta gestaltista deve olhar para aquilo que é trazido e não imaginar o que pode estar por trás; deverã utilizar todo seu potencial para transcender-se e viver o novo. O ideal condutor não existe, mas o bom esvazia-se para poder ser preenchido.
Cliente e terapeuta não são diferentes qualitativamente, diferem apenas quanto â maior e menor independência da neurose.
Facilitar o desenvolvimento, fracassar as tentativas do cliente que busca apoio ambienta,l trabalhar com a fusão de simpatia e frustração como um instrumento efetivo, perceber situações de forma abrangente, ter contato com o campo total, conscientizar-se das próprias necessidades e reações às manipulações do cliente e das necessidades e reações do cliente ao terapeuta. liberdade para expressar estas necessidades e reações, são alguns norteadores da postura do psicoterapeuta da Gestalt.
A Gestalt-terapia pressupõe que falta ao cliente auto-apoio , e o terapeuta simboliza o si-mesmo incompleto do cliente. Quando se desvendam as necessidades do cliente abre-se a oportunidade para que o mesmo entregue-se a elas. expressando suas exigências , ordens e pedidos. Define-se então o si­ mesmo e o apoio (terapeuta) , e neste ponto o cliente pode encarar seu problema.
O terapeuta frustrador age sobre as expressões do cliente que refletem autoconceito, manipulações e padrões neuróticos. Gratifica expressões verdadeiras do si-mesmo do cliente. Desencorajando padrões que impedem a
Psicofogia C[inica l./1 'B tu.áo ,reCaso em{jesta fHerapUJ 	33
auto-realização e encorajando a descoberta do se/f essencial. O terapeuta
contribui com a auto-realização do indivíduo.
Além do que já foi citado na tentativa de descrever a postura do gestalt­ terapeuta é importante reforçar as cinco tarefas básicas do mesmo, teorizadas por Joen Fagan . 31
São os requisitos básicos da empreitada terapêutica: padronização, controle, potência, humanidade e comprometimento.
A padronização acontece na escuta de um pedido de mudança ou de um sintoma. O terapeuta procura compreender a ligação entre os acontecimentos e sistemas que culminaram num padrão de sintomas ou em gestalts inacabadas. Após profunda refiexão acerca do problema pode-se inteivir em um ou mais níveis, dependendo do estilo de atuação. Depois avalia-se com que rapidez o sintoma foi removido, que comportamento positivo o substituiu e qual o grau de perturbação criado nos sistemas interligados.
"A ênfase da padronização, na Gestalt-terapia, incide sobre o próprio
processo de interação, incluindo a capacidade do paciente para fomentar ou pôr
em risco a interação, ou para bloquear a conscientização e a mudança."
O controle define-se como a capacidade do terapeuta para persuadir ou compelir o cliente a seguir os procedimentos psicoterápicos. Não é uma atitude de obstrução, mas de continente das urgências do processo. O sintoma é um tipo de controle rejeitado pelo terapeuta, que incita a motivação para o cliente trabalhar na terapia e persuade o cliente para que confie no controle da situação pelo terapeuta.
31 Fagan. J oc n. Gestalt- ter.,pia. teoria, técnicas e aplicações. Rio de Janeiro. 1 9 77 . c ap.7.
 (
/
)Tsico!OgiQ. Clinica 1 1 tuáo áe Caso em y·estalt-terapia	34
A Potência está relacionada á capacidade do terapeuta em ajudar o cliente a caminhar na direção que deseja, acelerando e provocando a mudança numa direção positiva. Para tanto utilizam-se técnicas, procedimentos, exper imentos e sugestões que superam a inércia e promovem o movimento. É uma contribuição da Gestalt-terapia as técnicas eficazes que possibilitam mudanças rápidas de níveis emocionais profundos.
No contexto de tarefa a humanidade engloba: a preocupação e solicitude do terapeuta a respeito do cliente em um nível pessoal e emocional; disposição para participar, para dar-se e dar ao cliente suas prõprias respostas emocionais diretas e/ou explicações pertinentes de suas próprias experiências; capacidade para reconhecer as tentativas do cliente na direção de uma autenticidade mais profunda, que necessitam de apoio e reconhecimento; contínua receptividade ao
próprio desenvolvimento que serve de modelo ao cliente. Muitas vezes a presença do terapeutaé mais importante do que o trabalho terapêutico.
O terapeuta compromete-se com uma vocação profissional e exigências para o desenvolvimento da própria compreensão e aptidões. Compromete-se com cada cliente. Propõe-se a contribuir para o campo como um todo,
pesquisando, redigindo artigos, participando da formação dos futuros
profissionais. O comprometimento é o envolvimento e aceitação das responsabilidades assumidas e exige alto nível de interesse e energia.
A Relação Terapêutica na Gestalt-terapia
A relação terapêutica na Gestalt-terapia é, sobretudo, de respeito ao cliente a ao prõprio terapeuta, pois ambos têm as mesmas caracteristicas humanas que permitem a interação com o meio.
Tsicoló.!JUl Cti'nica 1 f' 1Estudo ife Casoem Çt'staft -tuapia 	35
Por basear-se nas abordagens existencial e fenomenológicaa Gestalt vê o homem como ser único e incomparáve,l que tem liberdade para escolher o que ê e onde quer estar. O profissional deve ser capaz de manifestar-se
amorosamente no sentido do respeito à individualidade.
"O gesta/1-terapeuta não procura compreender o sintoma e, assim procedendo, não procura sustentá-lo, justificando-o. Nem procura eliminar o sintoma ou ignorá-lo. Ele se dispõe a explora -to com seu cliente, compartilhando essa aventura a dois, . i32
Alguns gestaltistas discutiram o termo que melhor representaria o cliente da Gestalt e concluíram que parceiro seria o mais adequado. Parc iro é uma pessoa com quem se pode associar, conversar e estabelecer uma relação.
O envolvimento, contudo, é controlado, não existe uma exposição do terapeuta acerca de seus próprios conteúdos já trabalhados em seu processo terapêutico.
"Acreditamos(terapeutas) que o homem seja capaz de crescer e se auto­ realizar. Procuramos aprender, conhecer e criar instrumentos e atitudes capazes de amenizar os conflitos humanos e acompanhamos o outro na sua busca de um
sentido
para a vida. Confiamos nas potencialidades de cada um mesmo que estejam ocultas sob o desespero. as dificuldades e a dor.'" 3
O encontro EU-TU é uma experiência bastante rara, não pode ser conduzida ou forçada. Mesmo estando o terapeuta disposto a encontrar o cliente, o encontro pode não acontecer.
Para Polster a cada sessão o terapeuta transforma-se, tornando-se mais aberto às experiências imediatas que pode ter, descobrindo juntamente com o
32 Gingcr & Ginger. Gestalt. umn ternpia do contalo. São Paulo , 199 5.p.145.
Psiwfogia C{inica Y''Btuáo de Caso eml_jestaú-terapia	36
cliente como eles podem se engajar nos muitos caminhos que se abrem para ambos.34
O cliente/parceiro da gestalt tem oportunidades para que ative seu potencial criativo, afetivo, perceptivo, entre outros, que lhe permitirão ser uma pessoa mais feliz e realizada.
Recursos Gestálticos
"Quandoo homem errado usa os meios certos, os meios certos funcionam de forma
errada."(Barry Stevens)
Inspirados pela fenomenologia os gestaltistas desenvolveram uma série de recursos chamados de jogos, exercícios ou experimentos.
Têm sentido no contexto total desta abordagem e integrados à postura do gestalt-terapeuta concretizam-se num poderoso instrumento terapêutico. O recurso não existe por si só e sua aplicação constitui uma arte.
Há um cuidado do profissional em não •pré-parar" sessões. A preparação pode dificultar a relação espontânea no contexto psicoterápico. Trabalha-se com o conteúdo presente e utiliza-se o recurso se assim o momento pedir.
O recurso pelo recurso, como a técnica pela técnica. não existe; seu uso é proveitoso quando se vê o momento terapêutico como campo que urge à uma alternativa.
A seguir citaremos alguns experimentos, que entre os inúmeros descritos por representantes da Gestalt-terapia, melhor espelham a prática gestáltica deste grupo de estagiários.
n Cardclla. Beatri7- O amor na relaç:\o terapêutica. São Paulo. 1994. p.57.
3 Polster e Polster. Gestalt-terap ia in tegrada. Belo Horizon,te 1979. p.37.
Psicologia C(inica 1 f" Est-wfo dé e.aso em cjestal/.lerapia	37
Presentificação I um exercício de awareness
Nesta técnica o indivíduodeve concentrar-se no fluxo permanente de suas sensações físicas e seus sentimentos. Tomar consciência da sucessão de figuras que surgem sobre o fundo formado pelo conjunto da situação que está experienciando, pois esta mostra o que ele mesmo é no plano corporal , emocional, imaginário, racional e comportamental.
Favorece a emergência de situações inacabadas a partir de quatro
questões básicas preconizadaspor Perls:
•·o que você está fazendo agora?"
•·o que você sente neste momento?"
· a que estâ evitandoT
· a que você quer, o que você espera de mim?"
Portando, a presentificação nada mais é do que trazer para o aqui-e­
agora, tornar presente, emoções, sentimentos e pensamentos.
Identificação
Na experiência o cliente é convidado a identificar-se com algo. Deve imaginar e narrar sentimentosque possui tornando-se este algo.
Por exemplo, o cliente imagina uma situação na qual existia uma pedra e
um sapo. O terapeutapode dizer. "Imagine que você é a pedra(ou o sapo). Como
você estâ se sentindo sendo... É possível ser... r
Psico óf gia Clinica 1/l'EstU1Ío áe CaJo cm qcst a ft-terapia 	38
O objeto com o qual houve identificação faz com que o individuo veja aspectos da sua existência e possa assumi-los primeiro no outro, para então reconhecê-los como seus.
Troca de Papéis ou Monodrama
A troca de papéis é uma forma especial de identificação que pode ser aliada a várias outra técnicas. Nela o protagonista (cliente) desempenha, alternadamente, os diferentes papéis da situação por ele evocada.
Poderão ser representados, por exemplo, o diâlogo entre ele e uma outra pessoa; entre duas partes de seu corpo ou entre sentimentos contraditôrios.
Proporciona aceitação de partes da personalidade que parecem opostas e materializa simbolicamente aspectos da personalidade. Facilita a encenação do prôprio sentimento do indivíduo, pois o que importa não é a representação da verdadeira pessoa escolhida para a conversação, mas sim as representações internas, subjetivase por vezes contraditórias a seu respeito.
Dramatização
Representação de situações vividas ou fantasiadas na qual o cliente experimenta e explora sentimentos mal identificados, esquecidos ou até desconhecidos.
Esta técnica favorece a conscientização, pois permite uma ação visivel que mobiliza o corpo e a emoção através da presentificação de uma emoção.
P.sicoiõgia C fú,ica 1/''Es tuáo 1/c Caso cm Çjl!Sta{H erapia 	39
Viagem-fantasia
A Viagem-fantasiapode ser dirigida ou não. Após realizado o relaxamento solicita-se que o indivíduo imagine uma tela em branco(na versão não dirigida do experimento) e se nela surgirem imagens deve-se deixá-las fluir. Então inicia-se
o momento verbal, quando o sujeito pode falar das imagens emergentes e dos
sentimentos que as mesmas suscitam.
Na proposta da viagem-fantasiadirigida o terapeuta entra como facilitador inserindo dados para a construção da fantasia, que pode ser uma paisagem, uma cena na qual pessoas conversam e muitas outras situações. A fantasia é importante elemento na conscientização das prioridades da pessoa.
Amplificação
Esta técnica trata de explicitar o que está implícito, permitindo que o indivíduo perceba seu comportamento aqui-e-agora e na fronteira de contato com seu meio.
Consiste em fazer o sujeito perceber suas reações emocionais subjacentes, tais como: mudanças no ritmo da respiração ou deglutição, mudanças bruscas no tom de voz, na direção do olhar e microgestos das mãos. pés ou dedos. Estes gestos são reveladores do processo em curso, imperceptíveis para o cliente e muitas vezes contraditórios ao que ele expressa verbalmente.
Cadeira Vazia (Empty Chair)
Desenvolvida por Fritz Perls, visa uma maior consciência e clareza para o
trabalho terapêutico. Traz para o aqui-e-agora situações inacabadas.
'] çiwfogia (Ú'nila •f/'E.ftuáo lc Caso cm (jcstaá-terapia	40
Se o individuotem sentimentos não expressos que o impedem de fechar uma gestalt, pode trazer para a cadeira vazia (via imaginação) aquele a quem este material se dirige.
Neste caso, falar o que deseja diretamente para quem está" na cadeira vazia, permite vivenciar e não apenas falar sobre a emoção, possibilitando a experiência daquilo que sente.
Quando o cliente consegue fluir na técnica, além de encerrar situações inacabadas, sente-se calmo e relaxado pois converteu situaçõespassadas, não resolvidas, em uma experiência presente e focalizada.
Expressão Metafórica
Em Gestalt é muito utilizada a linguagem simbólica ou metafórica, principalmente através de expressões artísticas (desenho, modelagem, colagem, dança e música).
As expressões metafóricas servirão como suporte pelo qual o indivíduo estabelecerá uma relação simbólica com seus conteúdos.
O momento da produção promove a demonstração das emoções ali presentes.
Desenho
O desenho mostra o mundo interior particular de cada um e facilita a expressão de alguns sentimentos.
Proporciona a visualização de si mesmo e de alguns conteúdos, abre caminho para a fala e para a auto-percepção dos sentimentos que a técnica gera.
'l'sicofogia Cliilica 'F'Estuáo áe Caso em(jesta ft-ttrapia	41
A Gestalt-terapia trabalha mais com a emoção oriunda do processo de desenhar e do vislumbre da produção do que com interpretações.
O Traço a Completar
O terapeuta faz um traço qualquer num papel e pede para que o cliente continue até que não haja mais espaço. Este pode fazer a partir daquilo um desenho ou apenas outros traços.
À medida que o procedimento evolui ambos conversam sobre as figuras
que se formam ou qualquer material que surja.
Segundo Winnicott esta técnica permite que o psicoterapeuta perceba qual é o padrão de comunicação e interação da pessoa.
Massa de Modelar
Manipular a massa de modelar proporciona uma boa experiênciatátil e sensorial.
A maleabilidade da massa facilita a construção de objetos que trazem situações para o momento terapêutico, possibilitando ao cliente lidar com a situação e não apenas falar sobre".
Observando a expressão corpora,l como a pessoa aperta, pega, torce a massa, pode-se divisar o nível de ansiedade, contenção de emoções e relaxamento.
Colagem
É um meio de expressão que pode ser usado como experiência sensorial e manifestação emocional. Pode utilizar papel, revistas. fotos, tecidos. sucata. areia , terra, tesoura e cola.
Tsicofogia C[inica 'f'BIIUÍo 1fe Caso em(jestaú -terapia	42
Simplesmente falando sobre o que foi colado ou contando uma história o individuo deixa emergir material a ser trabalhado utilizando a criatividade.
Bonecos
É mais fácil para alguns falar por intermédio de um boneco do que expressar diretamente o que acha difícil dizer. O boneco proporciona um certo distanciamento deixando a pessoa segura para revelar conteúdos mais íntimos.
Sonhos
O trabalho gestáltico com sonhos não é feito via associação livre ou interpretação. Após a descrição do sonho dramatizam-se os elementos do mesmo.
O cliente é convidado a identificar-se sucessivament,e em palavras e gestos, tornando-se cada elemento que é considerado uma gestalt inacabada ou uma expressão parcial de quem sonhou.
Feedback
É através deste que se conhece a percepção do outro sobre meu comportamento. É um instrumentodo psicoterapeutapara comunicar ao cliente o que observou, avaliou e concluiu. Também serve como um mecanismo de interação entre as duas partes.
Existem algumas regras para que seja válido: deve ser dado apenas quando o outro puder ouvir, expresso de forma direta e firme sem que o terapeuta coloque-se numa posição de superioridade, sendo um meio de expressãodos sentimentosde forma breve.
Psicofogia Cfínil.a 1/l'Bt uáo de Casocm Çesta ft-t erapia 	43
IDENTIFICAÇÃO DO CLIENTE
Nome: M. A. M. F.
Data de nascimento: 05/04/1.944 Idade: 53 anos
Sexo: feminino Estado Civil: solteira
Escolaridade: primeira sêrie do primeiro grau
Profissão: empregada doméstica Religião: católica
Filiação: Pai: L. A. F. (falecido) Mãe: L. M. F. (falecida)
1PJicologia Clinica tJ''Estuáo áe Càso em cjestau terapia	-14
HISTÓRICO PESSOAL
A cliente é a décima filha de uma prole de onze filhos, dos quais seis eram mulheres e cinco homens. Os pais faleceram hâ aproximadamente vinte anos, já idosos. Ela é a única que mora nesta cidade. Visita ocasionalmente três irmãos que moram na cidade de Curitibanos, mas com os demais perdeu contato.
É natural do interior de Santa Catarina e saiu de casa com vinte e dois anos, buscando emprego e tratamento médico para um problema de vista. Na adolescência sentia um ardor muito grande nos olhos, que inflamavam. Nenhum médico da região que residia pôde fazer um diagnóstico ou tratamento adequado. Estava quase cega quando encontrou tratamento eficiente nesta cidade, recuperou parcialmente a visão, sendo que com o olho direito só enxerga vultos.
Outro fator determinante para que deixasse sua casa foi a postura rígida e controladora de sua familia. Todos viviam do trabalho no campo, e a isto ela atribui a impossibilidade de ter estudado. A desavença que culminou com a decisão de ir embora deu-se entre a cliente, sua mãe, uma irmã e um irmão. Discutia com a irmã sobre a divisão das tarefas da casa quando a mãe interveio mandando que ela respeitasse a irmã que era mais velha. M.A. não obedeceu e continuou discutindo, a mãe então chamou D.(irmão da cliente) que segurou-a para que a mãe a castigasse com uma violenta surra.
A relação da cliente com seu irmão, O., é muito confusa. Quando jovens, ele controlava tudo o que ela fazia, impedindo-a de namorar e conhecer pessoas. Quando julgava que ela estava fazendo algo inadequado agredia-lhe fisicamente. "Ele sempre agiu como se fosse meu pai, mas meu pai era vivo!" (SIC) D. é um dos irmãos com os quais existe contato atualmente, ele mora com uma irmã, e
M.A. visita-os esporadicamente.
Durante estas visitas a cliente sente que incomoda os irmãos, pois fica criticando a maneira acomodada e precária em que vivem. " A casa está caindo aos pedaços e eles não ajeitam. Não vão ao médico, não se alimentam bem . (SIC) Não consegue evitar este comportamento, pois "apesar de tudo o que eu passei na mão dele, não guardo rancor e quero que vivam bem." (SIC)
Psú:o fogia C fúrita lfl'Dtuá o ác Caso em(iestali -terapill
"Cresci de um jeito muito sofrido, nunca pude escolher... apanhava mesmo! Era espancada."(SIC) Enfatiza as agressões do irmão e do pai, que surge como figura autoritãria e cruel. Este comportava-se de modo irresponsãvel em relação à familia, passava muitos dias fora de casa, e os próprios filhos sustentavam-se através do trabalho no campo. ' Ele fazia parte do grupo de pessoas que cuidava da segurança da cidade, pois na época não tinha delegado, andava armado, achava que era poderoso, as pessoas tinham medo dele."(SIC)
Tratava bem dos filhos preferidos, com estes relacionava-se melhor, conversava
dava atenção, "e até ensinou-os a atirar." (SIC)
Sente muita mágoa por ter descoberto que o pai tinha uma filha fora do casamento, "eu b·nncava com uma menina e bem que achava parecida com um primo meu... ai descobri que era filha do meu pai...foi um choque. "/SIC)
Hã , apesar de mãs lembranças sobre sua vida familiar, uma grande admiração pela coragem e força da mãe, que sempre suportou o casamento, trabalhava muito e exigia que os filhos respeitassem o pai, apesar de todas as situações desagradáveis.
Teve poucos namorados, com os quais não teve relações intimas " nem beijo s." (SIC) Os pretendentes eram desqualificados pela familia, principalmente pelo irmão, que "de tanto se preocupar comigo nunca cuidou da própria vida, e é solteirão que nem eu."(SIC)
Gosta muito da natureza, e relembra com alegria a proximidade que tinha com o campo, a terra, os animais e as plantas. Quando viaja para o interior de Santa Catarina, além de visitar parentes e conhecidos, explora ao máximo o contato com o meio ambiente.
Pelo fato de não ter estudado escolheu a profissão de empregada doméstica. Seu primeiro emprego foi com conhecidos de sua familia (1.974), e desde então sempre tem trabalhado em casas de familia.
Nunca foi despedida, trocava de emprego quando estava insatisfeita. " Quando o salário é pouco e me dão indiretas sobre meu jeito, eu saio. "(SIC) MA tenta relacionar-se informalmente com as familias para as quais trabalha, gostaria de conversar sobre seus problemas e ser compreendida , porém sente­ se rejeitada, incompreendida e desvalorizada, atribui a isto a diferença sócio­ cultural. Mostra-se insatisfeita com a profissão. e relata que já procurou
Tsir.DlógúJ ( ;túiica lf-l'Btudo áe caso em cjesta ft-terapia	46
alternativas, tais como: doceira e salgadeira, cabelei reira e auxiliar de
enfermagem, mas a falta de estudo impediu-a de realizar estas atividades.
Tem poucas amigas, a maioria empregadas domésticas. Sente-se relutante em confiar nas pessoas, e a isto atribui a dificuldade de se relacionar com os outros. Com as amigas conversa normalmente, " ma s com gente estudada me sinto mal de falar."(SIC) Ê ativa junto à A E.D."defendendoas causas da classe. "(SIC)
Fala que não deve ser fácil conviver com uma pessoa como ela: muito critica, agressiva, desorganizada, e que não permite que as coisas fujam de seu controle. A desorganização acometeu-lhe desde que parou de trabalhar e percebeu que era mais simples arrumar as coisas dos outros do que as suas. Interrompeu suas atividades como empregada doméstica devido a problemas na coluna e um quadro depressivo, segundo a médica que a atendeu no Hospital Evangélico. "Não tinha vontade de fazer nada e sentia muita angústia no peito." (SIC)
Sente-se angustiada com as recordações do passado. As agressões físicas. não ter estudado, o controle por parte do irmão, a situação econômica da família, a impossibilidade de relacionar-se, o problema
de vista, a maneira como deixou a casa dos pais e a morte dos mesmos, são situações das quais sente-se prisioneira. "Não quero ficar lembrando destas coisas, mas não consigo esquecer."(SIC)
Reside em uma casa que construiu nos fundos do terreno de uma conhecida, e tem trabalhadocomo acompanhante de uma senhora nos fins-de­ semana. Pretende visitar os irmãos assim que melhorar da depressão, e depois quer voltar para um emprego fixo.
Psicologia C1i'nica 1//'Dtuáo 1(e Casoem(jestaú:-terapiJJ 	47
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
A cliente foi encaminhada à Clinica Escola da Universidade Tuiuti do Paraná pelo serviço de Psicologia do Hospital Evangélico de Curitiba com o diagnósitco de depressão. Apôs a entrevista de triagem ocorreu o encaminhamento para o grupo "I".
A queixa primeira é um estado depressivo , para o qual já tomou medicamentos (Aropax). Descreve seu estado:"u m desânimo, não faço nada, só quero ficar deitada."(SIC)
Percebeu este esmorecimento quando ainda estava empregada, e depois, mesmo tendo preferido afastar-se das atividades cotidianas, as sensações de desalento e incapacidade de reagir aumentaram. "Não lenho vontade nem de escutar um rádio..."(SIC)
Relaciona o estado depressivo â dificuldade de comunicar-se com as
pessoas. Conta que não tem ímpeto de ver pessoas, de conversar, de ter contato com o mundo. "Se eu estou no ponto de ônibus e quero saber que horas são, já penso que esta pergunta pode ser uma desculpa para um bate-papo, aí eu não pergunto para evitar a conversa."(SIC) Não demonstrou este receio com a atendente.
No decorrer das sessões passa à atribuir este impedimento de estabelecer contato com as pessoas ao fato de não ter freqüentado a escola. este fato por sua vez é imputado à própria família. A educação que recebeu foi repressora, nunca teve diálogo com seus pais, "era tudo na base da surra."(SIC)
A expectativa sobre o que o estudo poderia ter proporcionado é muito grande, impedindo-a, inicialmente, de perceber os sentimentos de mágoa, raiva e
1'sia,fogia CIUlia lf'EstllíÍo áe. üuo me {ji!Staft -t erapia 	48
culpa que permeiam sua relação familiar. Não estudei, por isso não me
comunico bem."(SIC)
Queixa-se da impossibilidade de esquecer fatos passados que fizeram-na sofrer e atualmente causam-lhe mal-estar. Eu quero esquecer , sei que é ruim para mim ficar lembrando, mas eu não consigo parar de lembrar."(SIC) A percepção que tem do mundo é influenciada pelas experiências passadas.
No decorrer do processo psicoterâpico o pai deixa de ser uma figura ausente e passiva, à medida que a cliente fala de seu passado, presentifica-o como uma pessoa violenta e opressora. Estava mentindo para mim mesma.. Fantasiava, queria que ele fosse um pai amigo, e ele foi um péssimo pai."(SIC) Aprendeu que sentimentos culturalmente considerados negativos não deveriam ser aceitos e expressos, portanto sente-se sufocada pelos mesmos.
Castigos eram impostos à qualquer manifestação de vontade e opinião próprias. Nunca pôde escolher as roupas que vestia e os rapazes que gostaria de namorar. Devia obedecer sem questionar.
Não suporta sentir-se controlada ou criticada, responde agressivamente às criticas e depois sente-se culpada pela maneira como responde para as pessoas. Quando era jovem meu temperamento jâ era assim meio estourado",(SIC) e este foi um dos motivos para que a repreendessem com violência.
Sente-se incapaz de confiar plenamente nas pessoas. Acaba procurando a verdadeira intenção daquele que deseja ajudar-lhe. Não acredita em atos sem propósitos quando ofertadosa ela, mas quando oferece, o propósito é veraz. "Da minha bondade eu sei .. gosto de ajudar as pessoas."(SIC)
'l'sicológia C(inic.a lf/'E.stuáo le Caso em Çestalt-terapia	49
Outra questão trazida por MA é sua falta de organização. Não consegue programar nenhuma atividade, pois até mesmo necessidades básicas de higiene e cuidados com a limpeza da casa tomam-lhe mais tempo do que é preciso.
O trabalhocomo empregada doméstica não a satisfaz. Algumas tentativas frustadas em outras ocupações fizeram com que sua auto-estima fosse abalada, restando-lhe a antiga profissão. Sente-se menosprezada, humilhada e limitada em seu oficio, " nada é do meu jeito, da minha experiência .. eles mandam e eu obedeço."(SIC) Atualmente está trabalhando. O novo emprego proporciona-lhe a oportunidade de vivenciar uma nova situação onde as coisas acontecem como sempre desejou. MA não suporta a experiência de ser tratada como um membro da familia, " eu acho muito estranho me chamarem para tomar café junto com e/es."(SIC) Não tem suporte interno para trabalhar a angústia que sente por ser aceita.
Utiliza seus problemas físicos, "doenças·, como desculpa para a impossibilidade de relacionar-se profundamente com as pessoas (além das questões da escolaridade e da repressão familiar). · Nunca me envolvi com ninguém porque imagine só: como é que eu podia casar com meu problema de vista .. Depois vem filho e como eu ia fazer para cuidar... "(SIC)
Durante as sessões, quando falava de seus sentimentos , freqüentemente chorava, dando vazão às suas emoções. Segundo Ponciano, quando o cliente chora, não são apenas os seus olhos, é todo o seu corpo que chora, ele mesmo é o choro, ou seja, ele vive o sentimento através de sua expressão . através de
suas lágrimas e sua respiração.
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Mostra-se confusa em relação aos sentimentos de raiva, culpa e exigência. Porque introjetou padrões rigidos de comportamento, exigências sócio-culturais, não se permite sentir raiva; como há raiva, sente-se culpada.
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PADRONIZAÇÃO DO CASO
Um diagnóstico preocupa-se em encontrar a causa do sintoma do individuo através de sua história pregressa, das forças ambientais atuantes, comporta mentos específicos e estilos de comunci ação.
Por ser a Gestalt-terapia uma abordagem existencial-fenome nológica que visa o "ser-estar-no-m undo-com-os-outrosn , não se limita a um diagnóstico reducionista do sintoma e, portanto, prioriza a padronização.
A padronização feita pelo gestalt-terapeuta inter-relaciona o cliente e seu corpo, suas palavras e seu tom de voz, sua postura e o campo formado por suas relaçõese no que todos estes fatores contribuem para a formação e manutenção de um campo "doente".
A neurose está instalada quando a percepção que o sujeito tem do campo é distorcida. Esta deturpação impede a tomada "efetiva" de consciência.
Goodman propõe uma psicoterapia que se concentra na estrutura e dinamismo da situação concreta; que preserva a integridade do momento encontrando a relação intrínseca entre fatores que formam o campo; que experimenta e promove o poder criativo do cliente de reintegrar partes dissociadas.
Neste processo enfatiza-se o como e não o porquê , trabalhando a unidade e a desunidade da forma dinâmica da experiência no aqui-e-agora, refazendo relações do movimento de alternânciaentre figura e fundo até que o contato intensifique-se , a awareness ilumine-se e o comportamento energize-se .
M.A. chega à terapia com aspecto cansado e sem energia, queixando-se de um estado depressivo e de fadiga física.
PsicoWgia Cfiíiica ' f'B tuáo i(e Ca.so em1.. i l!.Stafi -w apia 	52
Incapaz de realizar atividades cotidianas não sentia forças para reagir ao marasmo. Falava de sua incapacidade de comunicar-se como se fosse algo separado do estado depressivo. "Não tenho vontade de fazer nada. . "(SIC) "Não me comun ico bem porque não estudei. "(SIC)
"O homem é um todo eminentemente complexo. Seu todo chega até nós precedido de suas partes. Ele se lamenta, sente tensões, dores musculares, chora, etc. São as partes que nos são trazidas para serem 'curadas' Essas partes, no entanto, só têm significado a partir de seu todo. A pergunta é não apenas como este dado foi selecionado mas sobretudo como, finalmente, ele foi estruturado. A sua queixa,

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